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1 Disciplinas a Distância para a Modalidade de Ensino Presencial Metodologia Científica 2 SISTEMA COC DE EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO Presidente Chaim Zaher Vice-Presidente Adriana Baptiston Cefali Zaher Diretor Superintendente Nilson Curti Diretor de Ensino Superior Luiz Roberto Liza Curi EDITORA COC Diretor-Geral José Romero Nobre de Carvalho Diretor Editorial Miguel Castro Cerezo Conselho Editorial José Romero Nobre de Carvalho José Tadeu Bichir Terra Mário Cícero Baldochi Miguel Castro Cerezo Mônica Valéria de Almeida Righi Rafael Perri Zelci Clasen de Oliveira FACULDADE INTERATIVA COC Diretor de EAD Jeferson Ferreira Fagundes Diretora Acadêmica Cláudia Regina de Brito Coordenador Administrativo de EAD Cesar Augusto Santiago Coordenação Pedagógica de EAD Gladis S. Linhares Toniazzo Kátia Cristina Nascimento Figueira Marina Caprio Apoio Técnico Pedagógico Carina Maria Terra Alves Autor Hélcio de Pádua Lanzoni Produção Editorial Editora COC Empreend. Culturais LTDA. CNPJ 50.492.271/0001-80 Rua General Celso de Mello Resende, 301 Lagoinha – Ribeirão Preto – SP CEP 14095-270 www.editora.coc.com.br Conselho Editorial S u m ár io METODOLOGIA CIENTÍFICA UNIDADE 1: O ENSINO SUPERIOR ...........9 1.1 Diferenças entre o 2º Grau e o 3º Grau ......... 10 1.2 Tipos de Imaturidade ....................................... 10 1.2.1 Imaturidade Cultural ..........................................11 1.2.2 Imaturidade Psicológica .........................................11 1.2.3 Imaturidade Lógica .................................................... 12 1.3 Decorar x Memorizar ......................................................... 12 1.4 Leitura ................................................................................... 13 1.5 Reflexão ..................................................................................... 16 1.6 Referências ................................................................................... 17 1.7 Na Próxima Unidade ....................................................................... 17 UNIDADE 2: CONHECIMENTO ......................................................... 18 2.1 Definição .............................................................................................. 19 2.2 Os Riscos do Conhecimento .................................................................. 19 2.3 Retórica ................................................................................................... 21 2.4 Tipos de Conhecimento ............................................................................ 21 2.4.1 Conhecimento Popular ............................................................................ 22 2.4.2 Conhecimento Filosófico ......................................................................... 22 2.4.3 Conhecimento Religioso .......................................................................... 24 2.4.4 Conhecimento Científico.......................................................................... 25 2.5 Reflexão ...................................................................................................... 29 2.6 Referências ................................................................................................. 29 2.7 Na Próxima Unidade ................................................................................. 30 UNIDADE 3: CIÊNCIA ............................................................................... 31 3.1 Definição de Ciência ............................................................................. 32 3.2 Fraudes na Ciência............................................................................. 34 3.3 Reflexão .......................................................................................... 36 3.4 Referências .................................................................................. 36 3.5 Na Próxima Unidade ............................................................... 37 UNIDADE 4: MÉTODO............................................................ 38 4.1 Definição de Método ........................................................ 39 4.2 Método Qualitativo ....................................................... 40 4.3 Método Quantitativo ................................................ 41 4.4 Qualitativo x Quantitativo ................................... 42 4.5 Método Científico ........................................... 44 S u m ár io 4.6 Reflexão ................................ 46 4.7 Referências ................................. 46 4.8 Na Próxima Unidade .......................... 47 UNIDADE 5: PESQUISA .............................. 48 5.1 Definição de Pesquisa ..................................... 49 5.2 Tipos de pesquisa ................................................. 49 5.3 Indução e Dedução ..................................................... 53 5.3.1 Indução ........................................................................ 54 5.3.2 Dedução ........................................................................... 55 5.4 Reflexão .................................................................................. 57 5.5 Referências ................................................................................ 58 5.6 Na Próxima Unidade .................................................................... 59 UNIDADE 6: ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ............................. 60 6.1 Trabalhos Acadêmicos ....................................................................... 61 6.2 Trabalhos Científicos ............................................................................ 63 6.2.1 Resumo ............................................................................................... 64 6.2.2 Resenha ................................................................................................ 64 6.2.3 Relatório de pesquisa ............................................................................. 65 6.2.4 Artigo Científico...................................................................................... 65 6.2.5 Monografia ............................................................................................... 66 6.3 Tema e Temática .......................................................................................... 66 6.4 Hipótese ...................................................................................................... 68 6.5 Problema de Pesquisa ................................................................................. 69 6.6 Fundamentação Teórica ............................................................................. 70 6.7 Projeto de pesquisa .................................................................................. 72 6.8 Plágio ..................................................................................................... 75 6.8.1 O que é Considerado Plágio ............................................................... 75 6.8.2 O que Não é Considerado Plágio .................................................... 75 6.9 Reflexão .......................................................................................... 77 6.10 Referências ................................................................................ 78 6.11 Na Próxima Unidade ............................................................. 78 UNIDADE 7: ESTRUTURA DOS TRABALHOS ACADÊMICOS ..79 7.1 Elementos Pré-Textuais .................................................... 80 7.1.1 Capa ........................................................................... 80 7.1.2 Folha de rosto ........................................................ 81 7.1.3 Errata ................................................................81 7.1.4 Folha de aprovação ...................................... 82 S u m ár io 7.1.5 Dedicatória, agradecimento, epígrafe ............................................. 82 7.1.6 Resumo ........................................... 83 7.1.7 Lista de ilustração, lista de tabelas, lista de abreviaturas e símbolos. ........................................ 83 7.1.8 Sumário ............................................................. 84 7.2 Elementos Textuais .................................................... 84 7.2.1 Introdução .................................................................... 84 7.2.2 Desenvolvimento ............................................................. 84 7.2.3 Conclusão ............................................................................ 85 7.2.4 Citações ................................................................................. 85 7.2.4.1 Sistema numérico ................................................................... 85 7.2.4.2 Sistema autor-data ..................................................................... 86 7.2.5 Notas de rodapé ............................................................................... 86 7.3 Elementos Pós-Textuais ....................................................................... 87 7.3.1 Glossário ............................................................................................. 87 7.3.2 Apêndice ............................................................................................... 87 7.3.3 Anexo ..................................................................................................... 88 7.3.4 Índice ....................................................................................................... 88 7.4 Formatação ................................................................................................. 88 7.5 Reflexão ...................................................................................................... 90 7.6 Na Próxima Unidade ................................................................................... 90 UNIDADE 8: ELABORAÇÃO DE REFERÊNCIAS .................................... 91 8.1 Categorias ................................................................................................. 92 8.1.1 Referências – regras gerais .................................................................... 93 8.2 Regras de Apresentação .......................................................................... 93 8.3 Referências por tipo de publicação ....................................................... 96 8.3.1 Monografia no todo (livros, dissertações, teses etc...) ................. 96 8.3.2 Partes de monografias (trabalho apresentado em congressos, capítulo de livro, etc...) ..................................................................... 96 8.3.3 Publicações Periódicas (revistas, boletins, etc...) coleção. ....97 8.3.4 Fascículos, suplementos, números especiais com título próprio. ....97 8.3.5 Partes de publicações periódicas (Artigos) ................... 97 8.3.6 Artigos em jornais ..................................................... 98 8.4 Ordenação das referências ...................................... 98 8.4.1 Autor repetido ................................................... 98 8.4.2 Localização ................................................. 99 S u m ár io 8.5 Aspectos Gráficos ................. 99 8.5.1 Espaçamento ............................ 99 8.5.2 Margem ........................................... 99 8.5.3 Pontuação ............................................... 99 8.5.4 Maiúsculas ................................................ 100 8.5.5 Grifo, itálico, negrito ....................................... 100 8.6 Autoria ...................................................................... 100 8.6.1 Autor Pessoal ............................................................ 100 8.6.2 Organizadores, compiladores, editores, adaptadores etc. ..... 102 8.6.3 Autor Entidade Coletiva (Associações, Empresas, Instituições). ................................................................................. 102 8.6.4 Órgãos governamentais ......................................................... 103 8.6.5 Tradutor, prefaciador, ilustrador, etc. ....................................... 103 8.7 Tipos Específicos de Publicações ..................................................... 104 8.7.1 Monografias consideradas no todo ................................................. 104 8.7.2 Livros .............................................................................................. 104 8.7.3 Dicionários ....................................................................................... 104 8.7.4 Atlas ................................................................................................... 104 8.7.5 Bibliografias ........................................................................................ 104 8.7.6 Biografias ............................................................................................. 104 8.7.7 Enciclopédias ........................................................................................ 105 8.7.8 Bíblias .................................................................................................... 105 8.7.9 Normas Técnicas ................................................................................. 105 8.7.10 Patentes ............................................................................................. 105 8.7.11 Dissertações e Teses .......................................................................... 106 8.7.12 Congressos, Conferências, Simpósios, Workshops, Jornadas e outros Eventos Científicos .................................................................................. 106 8.7.13 Jornadas ..................................................................................... 106 8.7.14 Reuniões ................................................................................. 106 8.7.15 Conferências ........................................................................ 107 8.7.16 Workshop ....................................................................... 107 8.7.17 Relatórios oficiais ........................................................ 107 8.7.18 Relatórios técnico-científicos ................................... 107 8.8 Referências Legislativas ........................................... 107 8.8.1 Constituições ..................................................... 107 8.8.2 Leis e Decretos ............................................. 108 8.8.3 Pareceres ................................................... 108 S u m ár io 8.8.4 Portarias .......................... 108 8.8.5 Resoluções ............................ 109 8.8.6 Acórdãos, Decisões, Deliberações e Sentenças das Cortes ou Tribunais ............... 109 8.9 Partes de Monografias ....................................110 8.9.1 Capítulos de livros ..........................................110 8.9.2 Verbetes de Enciclopédias ....................................110 8.9.3 Verbetes de Dicionários: ...........................................110 8.9.4 Partes isoladas ...............................................................110 8.9.5 Bíblia em parte ..................................................................111 8.10 Trabalhos Apresentados em Eventos Científicos ...................111 8.10.1 Encontros ...............................................................................111 8.10.2 Reuniões Anuais .......................................................................111 8.10.3 Conferências ...............................................................................1118.10.4 Workshop .....................................................................................112 8.11 Publicações Periódicas ........................................................................112 8.11.1 Consideradas no todo .......................................................................112 8.11.1.1 Coleções .........................................................................................112 8.11.1.2 Fascículos ........................................................................................112 8.11.1.3 Fascículos com título próprio ...........................................................112 8.11.2 Partes de publicações periódicas ..........................................................113 8.11.2.1 Artigo de Revista .............................................................................113 8.11.2.2 Artigo de jornal .................................................................................113 8.12 Documentos Eletrônicos .........................................................................113 8.12.1 Arquivo em Disquetes .......................................................................113 8.12.2 BBS .................................................................................................114 8.12.3 Base de Dados em Cd-Rom: no todo ..........................................114 8.12.4 Base de Dados em Cd-Rom: partes de documentos ..................114 8.12.5 E-mail .....................................................................................114 8.12.6 FTP ......................................................................................115 8.12.7 Monografias consideradas no todo (On-line) ..................115 8.12.8 Publicações Periódicas consideradas no todo (On-line) .... 115 8.12.9 Artigos de Periódicos (On-line) .................................116 8.12.10 Artigos de Jornais (On-line) ................................116 8.12.11 Homepage ........................................................116 8.13 Reflexão ............................................................117 8.14 Referências Gerais .......................................117 A p re se nt aç ão MEtoDologia CiEntífiCa O objetivo da Disciplina Metodologia Científica é oferecer ao aluno instrumentos para que possa desenvolver suas potencialidades, ampliando a eficiência e eficácia da sua aprendizagem. O a l u n o universitário precisa, muitas vezes, aprender a pensar e a aprender para tornar sua vivência universitária mais proveitosa, reduzindo drasticamente a possibilidade de fracasso. Para tanto, é necessário um maior entendimento sobre o conceito de Competência, que pode ser entendida como “domínio dos conteúdos, dos métodos, das técnicas das várias ciências, enfim, o domínio das habilidades específicas de cada área de formação e de cada forma de saber e de cultura” (Severino 1999, p. 16). A competência é, portanto, uma característica da qual o ensino superior não pode prescindir para não ter que compactuar com o superficialismo e a mediocridade tão comuns no âmbito educacional. O amadurecimento do jovem e do adulto em ambiente de ensino superior é crucial para a aquisição de competência técnica, científica ou profissional, sem a qual torna-se difícil dar sentido àquilo que se propuseram a estudar nos cursos que escolheram. Tal amadurecimento não pode ser obtido sem um esforço deliberado e persistente por parte do aluno. Nesta disciplina serão apresentados e discutidos aspectos relevantes para a compreensão de diversos fatores que podem contribuir para o crescimento acadêmico, profissional e pessoal do aluno de 3º Grau. U ni Ua Ue U o EnSino SUPERioR Uma dada estratégia de ensino, seja ela qual for, não pode assegurar, necessariamente, uma aprendizagem eficaz. Além de características específicas do estudante, a abordagem do ensino pode determinar a efetividade da estratégia empregada. Durante toda sua vivência escolar o aluno tem como objetivo a aprendizagem e, na maioria das vezes, quando a aprendizagem significativa ocorre, ela produz alterações na estrutura cognitiva do aluno. É por isso que a aprendizagem significativa é poderosa e fica registrada na memória de longo prazo, enquanto a aprendizagem superficial ou rotineira é facilmente esquecida fácil e, portanto, não é aplicada para a solução de problemas ou para novas situações de aprendizagem que o aluno irá encontrar no ensino superior. objetivos da sua aprendizagem Para uma aprendizagem significativa, é crucial que as informações a serem apresentadas ao aprendiz “façam sentido”, isto é, sejam relacionáveis com os conceitos preexistentes em sua estrutura cognitiva (KRASHEN, 1987; MOREIRA, 1982). Nesta unidade serão abordados conceitos que serão úteis para compreender as principais diferenças encontradas no Ensino Superior, além da otimização de uma importante ferramenta: a leitura. Você se lembra? Como seus professores ministravam as aulas no Ensino Fundamental e Médio? Como seus professores ministram a aula no Ensino Superior? Você é capaz de observar as diferenças? 10 Metodologia Científica O Ensino Superior – Unidade 1 1.1 Diferenças entre o 2º grau e o 3º grau Ao contrário do que muitos acreditam, o Ensino Superior não é um mero prolongamento do Ensino Médio. Na verdade, as diferenças são profundas e afetam principalmente questões relacionadas à autonomia dos alunos. Vamos ver algumas diferenças. No 2º Grau, tanto o professor quanto a instituição em si possuem um grande domínio sobre os alunos, a começar pelo controle de entrada e saída, ou seja, os estudantes não têm liberdade para chegar na segunda aula ou sair antes da última aula, por exemplo, como fazem os estudantes universitários, dos quais se espera maior disciplina e autonomia – estabelecem-se os horários e espera-se pontualidade e respeito a eles. Além disso, no Ensino Médio é clara a homogeneidade de faixa etária: salvo algumas poucas exceções, na sala de aula os alunos possuem aproximadamente a mesma idade, ao passo que em um curso superior o colega de curso pode ser um empresário ou uma aposentada. Assim, a exposição a diferentes idéias, vivências e graus de maturidade contribui para o processo de exposição social e crescimento. IMG129070_4.jpG - ID: 3906 Com relação ao ensino, no 2º Grau o foco está no professor, que é o detentor do saber e a ele cabe a responsabilidade pela aprendizagem dos alunos. Já no 3º Grau o programa é orientado pelo professor e deverá ser complementado com pesquisas por parte do aluno, o qual passa ter responsabilidade pela própria aprendizagem. Com base nas situações apontadas acima já é possível percebermos que a transição de um grau para o outro não é tão automático e natural como muitos imaginam. 1.2 tipos de imaturidade Na realidade observada nas salas de aula de cursos universitários, é possível apontarmos três tipos principais de imaturidade, de acordo com BASTOS e KELLER (2002): Imaturidade Cultural, Imaturidade Psicológica e imaturidade Lógica. 11 Metodologia Científica O Ensino Superior – Unidade 1 1.2.1 imaturidade Cultural No Ensino Médio o ensino não raro é focado no Vestibular ou em programas profissionalizantes, reduzindo-se ao máximo a atenção dispensada à educação geral. Circundados por um ambiente cultural restrito, aos alunos não é comum o hábito da leitura ou de discussões de tópicos que não estejam relacionados à realidade imediata. Podemos citar alguns exemplos: - O aluno já ouviu falar da Segunda Guerra Mundial, mas não sabe dizer quando, onde ou o motivo do conflito; - Se questionados sobre o nome do Reality Show anual da Rede Globo, afirmam que se chama Big Brother pois naqueleambiente cria-se uma ‘irmandade’ entre os participantes e cada um se torna um ‘grande irmão’ do outro. - Caso ouçam alguém fazer o seguinte comentário: “ele está com uma dúvida parecida com a do Bentinho em relação à Capitu”, não causaria espanto se perguntassem se o tal Bentinho é algum artista da Globo. 1.2.2 imaturidade Psicológica Muitos alunos entram na faculdade sem uma definição clara de seus objetivos e suas aspirações, ou seja, chegam ao Ensino Superior com a mesma mentalidade com que chegaram ao Ensino Médio. A postura vigente é a de que vai para a escola não para aprender (postura ativa), mas sim para ser ensinado (atitude passiva). Por não terem certeza se as escolhas feitas (o curso, a escola, o momento, etc.) corresponderão às suas expectativas, não é incomum um comportamento descompromissado, que beira a irresponsabilidade, no tocante às atitudes que demonstram no ambiente acadêmico. Alguns exemplos: - Preocupação exacerbada com as notas e a frequência em detrimento da aprendizagem; - Questões éticas: alunos que fazem plágio ou pagam para outras pessoas fazerem seus trabalhos; - Busca de subterfúgios para justificar a falta de interesse nas aulas: “não gosto deste professor”, “esta matéria não tem nada a ver”, “tenho coisas mais interessantes a fazer do que perder meu tempo aqui na aula”. 12 Metodologia Científica O Ensino Superior – Unidade 1 1.2.3 imaturidade lógica Independentemente de serem oriundos do Ensino Médio ou Superior, alunos em geral têm uma grande dificuldade de colocar no papel (ou na tela do computador) aquilo que eles pensaram. A falta de raciocínio lógico tem sua origem nos vícios adquiridos ao longo da vivência escolar, como a falta de leitura, a ‘decoreba’ como estratégia de preparação para as avaliações e a ausência de pensamento crítico. Alguns exemplos: alunos.jpG - ID: 2664 - Ao ser questionado sobre o que o autor quis dizer em determinado texto, o aluno se limita a compreender aquilo que está explícito no texto – ele não consegue apreender as nuances da intenção do autor. - As questões que instigam o raciocínio são justamente aquelas que os alunos mais temem, pois não adianta decorar as datas e os fatos ocorridos se a questão solicita que o aluno faça uma análise da relevância de determinado acontecimento em relação ao momento vigente. 1.3 Decorar x Memorizar DreaMstIMeMaxIMuM_2676756. - jpG - ID: 183099 Há uma diferença fundamental entre “decorar” um conteúdo e “memorizá- lo”. O aluno decora, antes de mais nada, por ele considerar isso mais fácil que efetivamente compreender o assunto. Decorar nada mais é do que reter na memória algo que, na maioria das vezes, não é efetivamente compreendido. Por não fazer sentido e ter finalidade imediata (uma prova, um trabalho...), o que é decorado normalmente não fica gravado na memória de longo prazo. 13 Metodologia Científica O Ensino Superior – Unidade 1 Memorizar, por outro lado, significa reter na memória um conteúdo inteligível, que faz sentido. Através da memorização é possível, por exemplo, parafrasear um conteúdo que foi compreendido, não se limitando à sua simples repetição. Quando algo faz sentido, as chances dele ser retido na memória de longo prazo são muito maiores. 1.4 leitura http://jae.aDventIst.orG/IMaGes/Man_reaDInG.jpG A leitura pode ser definida como um processo de construção de sentidos que parte de uma interação entre as estratégias cognitivas e de conhecimento de mundo existentes no texto e pistas linguísticas. O leitor tem um papel fundamental nessa interação, utilizando, ao mesmo tempo, conhecimentos estruturais e lexicais da língua, o contexto sócio-histórico em que vive e também a compreensão de como os textos se organizam e funcionam. A leitura é um processo complexo no qual o leitor interage com o texto numa dada situação ou contexto. Durante o processo de leitura, o leitor constrói uma representação significativa do texto através da interação de seu conhecimento conceitual e linguístico com pistas existentes no texto. No início da leitura de um texto, ou quando há pouco ou nenhum contexto, pode ser grande a dependência na decodificação de letras para a compreensão de palavras, e de palavras para a compreensão de frases e sentenças (Ur 1996). No entanto, assim que houver um contexto significativo, ocorrerá (idealmente) a tendência à inserção da Conexão: Cognição é a capacidade de processar informações; é a capacidade de adaptação a situações diferentes em um curto espaço de tempo. Leia mais sobre cognição: visite o site http://www. drauziovarella.com.br/entrevistas/ claudio_memoria_2.asp Quem lê, torna-se mais apto para enfrentar os problemas e situações que a vida social, profissional, política, cultural apresenta. Em se tratando do universitário, cujo conceito exige um saber globalizante, a leitura é imprescindível. 14 Metodologia Científica O Ensino Superior – Unidade 1 interpretação do leitor à palavra de acordo com o sentido do texto, ao invés da sua exata composição de letras. No quadro a seguir, desenvolvido por Salomon (1994), estão listadas, lado a lado, características de um bom leitor e de um mau leitor: BOM LEITOR MAU LEITOR O bom leitor lê rapidamente e entende bem o que lê. Tem habilidades e hábitos como: O mau leitor lê vagarosamente e entende mal o que lê. Tem hábitos como: 1. Lê com objetivo determinado. Ex.: aprender certo assunto, repassar detalhes, responder a questões. 1. Lê sem finalidade. Raramente saber por que lê. 2. Lê unidades de pensamento. Abarca, num relance, o sentido de um grupo de palavras. Relata rapidamente as idéias encontradas numa frase ou num parágrafo. 2. Lê palavra por palavra. Pega o sentido da palavra isoladamente. Esforça-se para juntar os termos para poder entender a frase. Frequentemente tem de reler as palavras. 3. Tem vários padrões de velocidade. Ajusta a velocidade de leitura com o assunto que lê. Se lê um romance, é rápido. Se lê um livro científico para guardar detalhes, lê mais devagar para entender bem. 3. Só tem um ritmo de leitura. Seja qual for o assunto, lê sempre vagarosamente. 4. Avalia o que lê. Pergunta-se frequentemente: Que sentido tem isso para mim? Está o autor qualificado para escrever sobre o assunto? Está ele apresentando apenas um ponto de vista do problema? Qual a idéia principal deste trecho? Quais seus fundamentos? 4. Acredita em tudo que lê. Para ele, tudo que é impresso é verdadeiro. Raramente confronta o que lê com suas próprias experiências ou com outras fontes. Nunca julga criticamente o escritor ou seu ponto de vista. 15 Metodologia Científica O Ensino Superior – Unidade 1 5. Possui bom vocabulário. Sabe o significado de muitas palavras. É capaz de perceber o significado das palavras novas pelo contexto. Sabe usar dicionários e o faz frequentemente para esclarecer os sentido de certos termos, no momento oportuno. 5. Possui vocabulário limitado. Sabe o sentido de poucas palavras. Nunca relê uma frase para pegar o sentido de uma palavra difícil ou nova. Raramente consulta o dicionário. Quando faz, atrapalha-se em achar a palavra. Tem dificuldade em entender a definição das palavras e em escolher o sentido exato. 6. Tem habilidades para conhecer o valor do livro. Sabe que a primeira coisa a fazer quando se toma um livro é indagar do que ele trata, através do título e subtítulos encontrados na página de rosto e não apenas na capa. Lê os títulos do autor, edição do livro, índice, prefácio, bibliografia citada. Só depois é que se vê em condições de decidir pela conveniência ou não da leitura. Sabe selecionar o quelê. Sabe quando consultar e quando ler. 6. Não possui nenhum critério técnico para conhecer o valor do livro. Nunca ou raramente lê a página de rosto do livro, o índice, o prefácio, a bibliografia, etc., antes de iniciar a leitura. Começa a ler a partir do primeiro capítulo. É comum até ignorar o autor, mesmo depois de terminada a leitura. Jamais seria capaz de decidir entre leitura e simples consulta. Não consegue selecionar o que vai ler. Deixa-se sugestionar pelo aspecto material do livro. 7. Sabe quando deve ler um livro até o fim, quando interromper a leitura definitivamente ou periodicamente. Sabe quando e como retomar a leitura, sem perda de tempo e sem perder a continuidade. 7. Não sabe decidir se é conveniente ou não interromper uma leitura. Ou lê todo o livro, ou o interrompe sem critério objetivo, apenas por questões subjetivas. 8. Discute o que lê frequentemente com colegas. Sabe distinguir entre impressões subjetivas e valor objetivo durante as discussões. 8. Raramente discute com colegas o que lê. Quando o faz, deixa-se levar por impressões subjetivas e emocionais para defender um ponto de vista. Seus argumento, geralmente, derivam da autoridade do autor, da moda, dos lugares comuns, das tiradas eloquentes, dos preconceitos. 16 Metodologia Científica O Ensino Superior – Unidade 1 9. Adquire livros com frequência e cuida de ter sua biblioteca particular. Quando é estudante procura os livros de textos indispensáveis e se esforça em possuir os chamados clássicos e fundamentais. Tem interesse de fazer assinatura de periódicos científicos. Formado, continua alimentando sua biblioteca e tem o hábito de ir direto às fontes. 9. Não possui biblioteca particular. às vezes é capaz de adquirir “metros de livros” para decorar a casa. É frequentemente levado a adquirir livros secundários em vez dos fundamentais. Quando estudante, só lê e adquire compêndios de aula. Formado, não sabe o que representa o hábito das “boas aquisições” de livro. 10. Lê assuntos variados. Lê livros, revistas, jornais. Em áreas diversas: ficção, ciência, história, etc. Habitualmente nas áreas de seu interesse ou especialização. 10. Está condicionado a ler sempre a mesma espécie de assunto. 11. Lê muito e gosta de ler. Acha que ler traz informações e causa prazer. Lê sempre que pode. 11. Lê pouco e não gosta de ler. Acha que ler é ao mesmo tempo um trabalho e um sofrimento. 12. O BOM LEITOR é aquele que não é só bom na hora de leitura. É bom leitor porque desenvolve uma atitude de vida: é constantemente bom leitor. Não só lê, mas sabe ler. 12. O MAU LEITOR não se revela apenas no ato da leitura, seja silenciosa ou oral É constantemente mau leitor, porque se trata de uma atitude de resistência ao hábito de saber ler. 1.5 Reflexão Não podemos esquecer que não falamos ou escrevemos para nós mesmos, mas sim para os outros, para a sociedade, e esperamos ser ouvidos. Não raro encontramos textos que são considerados quase ininteligíveis para os simples mortais. A impressão que temos é de que muitos cientistas e pesquisadores escrevem com a finalidade de não 17 Metodologia Científica O Ensino Superior – Unidade 1 serem mesmo entendidos, tamanha a distância que separa seu esforço argumentativo e a capacidade efetiva de comunicar-se. Isso é percebido principalmente quando o aluno ingressa no Ensino Superior, no qual de um momento para o outro passa-se a exigir uma autonomia, responsabilidade e maturidade que o aluno muitas vezes ainda não possui. Tal situação pode ocorrer não só com alunos recém egressos do Ensino Médio. De acordo com BASTOS e KELLER (2002, p. 33), adultos que retornam à escola para um curso superior depois de muitos anos da conclusão do Ensino Médio também podem apresentar as mesmas dificuldades dos mais jovens, uma vez que baseiam suas expectativas para o curso que vão iniciar na experiência que vivenciaram quando se encontravam pela última vez em um ambiente escolar. 1.6 Referências BASTOS, C.; KELLER, V. Introducão à metodologia científica. Petrópolis: Vozes, 2002. KRASHEN S. D. Principles and Practice in Second Language Acquisition. London: Prentice Hall International, 1987. MOREIRA, M. A.; MASINI, E. F. S. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982. SALOMON, D. V. Como fazer uma monografia. São Paulo: Martins Fontes, 1994. UR P. A Course in Language Teaching. Cambridge: Cambridge University Press, 1996. 1.7 na Próxima Unidade O que significa “conhecimento”? Ele é absoluto ou existem diferentes tipos? Por que Galileu Galilei foi julgado e condenado? Essas e outras questões serão respondidas na próxima unidade. U ni Ua Ue U ConHECiMEnto Podemos definir conhecimento como uma tomada de consciência do ato de conhecer. Desde seu nascimento o homem adapta-se progressivamente a um mundo pré- existente e, no processo de socialização, procura encontrar respostas para suas dúvidas e incertezas através do questionamento progressivo dos significados do mundo que o cerca. Assim, todo o desenvolvimento experimentado pela humanidade é fruto da incessante busca do homem pela compreensão do universo circundante e o desejo de aprimorá-lo. objetivos da sua aprendizagem Que você compreenda os diferentes conceitos de conhecimento e suas características. Você se lembra? Você dever ter aprendido algo ou pelo menos ouvido falar de Galileu Galilei. Lembra-se de que ele foi punido por deter um conhecimento considerado herético no seu tempo? 19 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 2.1 Definição O conhecimento deve ser compreendido como um processo dinâmico, inacabado e em constante transformação e adaptação. Ao relacionar-se com o meio, o homem faz uso de diversas formas de conhecimento e, através dessas formas, ele transforma o mundo ao mesmo tempo em que se transforma. Como veremos mais adiante, a ciência é uma das formas de conhecimento, com características próprias, como a possibilidade de ser verificado e comprovado por outros. 2.2 os Riscos do Conhecimento Dada a sua relevância, o conhecimento sempre guarda uma aura de “exclusividade”, de algo para poucos, sendo inclusive proibido em diversas culturas ou em certos momentos históricos. GalIleo.arp - ID: 909607 O conhecimento é algo tão importante que sempre corre o risco de ser proibido. Muitos mitos se fizeram em torno dessa legenda, a começar pelo relato bíblico que coloca a descoberta do conhecimento como transgressão de Adão e Eva, seguindo-se daí as misérias da vida do pecador, com consequente necessidade de salvação vinda de fora. O real “pecado original” foi menos ter caído em tentação do que ousar conhecer. Parece inegável a dinâmica reveladora do conhecimento, porque nada deixa de pé, para o bem e para o mal. Uma vez rompida a ingenuidade, não há mais volta, a não ser por auto-engano. Essa dinâmica reveladora, entretanto, estando sempre entranhada no contexto do poder, ofusca à medida que revela. Por isso, praticamente em todas as sociedades, as pessoas detentoras de conhecimento eram vistas como especiais, desde os pajés. E para se tornarem ainda mais especiais, envolviam o conhecimento em linguagem esotérica, para que só os iniciados a entendessem (DEMO 2000, p. 87). Conexão: Conhecimento é a explicação da realidade. Decorre de um esforço investigativo para descobrir aquilo que não está compreendido ainda, que está oculto. Leia o texto “Conhecimento x Informação: uma discussão necessária” visitando este site: http://www.espacoacademico.com. br/031/31cmatos.htm 20 Metodologia Científica Conhecimento– Unidade 2 O conhecimento pode, inclusive, ser ‘perigoso’ em determinados contextos. Na Idade Média, por exemplo, diversos detentores de “conhecimentos” não aceitos pelo status quo foram considerados hereges ou feiticeiros e pereceram em masmorras ou em fogueiras. Um caso clássico de interferência religiosa no desenvolvimento da ciência ocorreu com Galileu (Galileo Galilei), físico e astrônomo italiano (Pisa 1564 - Arcetri 1642), que foi preso, torturado e condenado pela Inquisição a negar suas descobertas científicas e a ler em voz alta (em público) e a assinar o manuscrito reproduzido abaixo: “Eu, Galileu Galilei, filho do falecido Vicente Galilei, de Florença, com 70 anos de idade, tendo sido trazido pessoalmente ao julgamento e ajoelhando-me diante de vós, eminentíssimos e reverendíssimos Cardeais Inquisitores-Gerais da Comunidade Cristã Universal contra a depravação herética, tendo frente a meus olhos os Santos Evangelhos, que toco com minhas próprias mãos; juro que sempre acreditei e, com o auxílio de Deus, acreditarei de futuro, em cada artigo que a sagrada Igreja Católica de Roma sustenta, ensina e prega. Mas porque este Sagrado Ofício ordenou-me que abandonasse completamente a falsa opinião, a qual sustenta que o Sol é o centro do mundo e imóvel, e proíbe abraçar, defender ou ensinar de qualquer modo a dita falsa doutrina [...] Eu desejo remover da mente de Vossas Eminências e da de cada cristão católico esta suspeita corretamente concebida contra mim; portanto, com sinceridade de coração e verdadeira fé, abjuro, maldigo e detesto os ditos erros e heresias, e em geral todos os outros erros e seitas contrários à dita Santa Igreja; e eu juro que nunca mais no futuro direi, ou afirmarei nada, verbalmente ou por escrito, que possa levantar semelhante suspeita contra mim; mas se eu vier a conhecer qualquer herege ou qualquer suspeito de heresia, eu o denunciarei a este Santo Ofício ou ao Inquisidor Ordinário do lugar onde eu estiver. Juro, além disso, e prometo que cumprirei e observarei todas as penitências que me foram ou sejam impostas por este Santo Ofício. Mas se por acaso eu vier a violar qualquer uma de minhas ditas promessas, juramentos e protestos (o que Deus não permitia), Galileu - Vida e Pensamento, Ed. Martin Claret, 1998). Disponível em: http://www.internext.com.br/valois/pena/1633.htm - Acesso em: 10/09/2009 21 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 sujeitar-me-ei a todas as penas e punições que forem decretadas e promulgadas pelos sagrados cânones e outras constituições gerais e particulares contra delinquentes assim descritos. Portanto, com a ajuda de Deus e de seus Santos Evangelhos, que eu toco com minhas mãos, eu, abaixo assinado, Galileu Galilei, abjurei, jurei, prometi e me obriguei moralmente ao que está acima citado; e, em fé de que, com minha própria mão, assinei este manuscrito de minha abjuração, o qual eu recitei palavra por palavra”. 2.3 Retórica Na retórica, que teve início na Grécia antiga, ao lado de argumentar, buscávamos também convencer. Infelizmente, abusamos tanto dela que temos hoje uma visão negativa da retórica – basta nos lembrarmos de diversos políticos, que possuem uma grande capacidade argumentativa para mentir para a população. Tal visão negativa é também reforçada pela idéia de que a retórica consiste na busca pelo convencimento a qualquer preço, sem argumentação real. Para tentarmos recuperar o conceito de retórica é necessária a compreensão da necessidade fundamental da capacidade de saber argumentar e convencer, ambos inseridos no mesmo processo. De acordo com Demo (2000, p. 39), “para que o discurso seja discutível, é imprescindível que seja lógico, quer dizer, bem feito, sistemático, claro, fundamentado. Não podemos discutir bem fala desconexa, mal inventada, contraditória.” 2.4 tipos de Conhecimento Há várias formas de se obter conhecimento, o qual apresenta em sua constituição níveis e estruturas diferentes. Cada um desses níveis de estrutura do conhecimento possui seu nível de complexidade e suas características específicas. São divididos em quatro categorias os tipos de conhecimento e de busca do sentido das coisas: 22 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 - Conhecimento Popular - Conhecimento Filosófico - Conhecimento Religioso - Conhecimento Científico http://Deoxy.orG/IMG/experIence-knowleDGe.jpG2.4.1 Conhecimento Popular Este tipo de conhecimento, também chamado de espontâneo, vulgar ou empírico, surge do viver cotidiano e geralmente se apresenta desprovido de método e sistematicidade e pautado unicamente pela prática e percepções cotidianas. Na tentativa de encontrar explicações para os acontecimentos cotidianos, consegue basicamente uma percepção do que o rodeia, sem se preocupar com relações de causa e efeito e sem uma postura racional. O conhecimento popular é prioritariamente intuitivo, imediato, concreto e não se pauta pela lógica. Por ser pouco racional, apresenta respostas ambíguas e nem sempre verdadeiras, que se pautam em aparências. Além disso, muitas vezes contribuem para superstições e discriminações, que com o tempo fixam-se em determinadas culturas. Podemos citar inúmeros exemplos de conhecimento popular nas explicações diárias de fenômenos do dia a dia que independem do nível cultural de quem as utiliza. Assim, muitas pessoas podem “prever” a proximidade de chuva por meio da percepção de alterações ambientais às vezes sutis, como a direção do vento, o tipo das nuvens ou o comportamento das aves. Da mesma forma, todos nós sabemos que se o leite for deixado fora da geladeira ele vai azedar. Estes são exemplos de conhecimento popular, uma vez que a maioria não saberia explicar tecnicamente o porquê da ocorrência dos fenômenos citados. 2.4.2 Conhecimento filosófico Antes de mais nada é importante definirmos a palavra ‘filosofia’, a qual foi criada por Pitágoras: philos significa ‘amigo’ e sophia significa ‘sabedoria’. 23 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 A idéia de conhecimento filosófico tem como base conceitos subjetivos, relacionados ao conhecimento especulativo, o qual busca constantemente o sentido do mundo e das coisas através de hipóteses que podem ou não ser submetidas à observação, ou seja, geralmente não são verificáveis e, portanto, não podem ser confirmadas ou refutadas. De acordo com Barros e Lehfeld (2007, p. 42), a filosofia “tem a finalidade de compreender a realidade e fornecer conteúdos reflexivos e lógicos de mudança e transformação dessa realidade. A filosofia cumpre a tarefa de elaborar pressupostos e princípios norteadores das ações humanas”. Assim, mesmo entre os grandes filósofos não há uniformidade de pensamento e de forma de reflexão, já que a filosofia consiste na observação, reflexão e interpretação do mundo sob pontos de vista diferentes e, às vezes, inconciliáveis. A filosofia não é um castelo abstrato, estéril e distante de idéias. Idéias difíceis e herméticas, como às vezes, de forma detratora, se diz. Ela é uma forma de conhecimento prático, orientadora do exercício de nossa sobrevivência em sociedade. Ela pode não garantir o “ganha-pão”, como se diz vulgarmente, mas certamente é com ela e com sua ajuda que conseguimos o pão nosso de cada dia, pois dela depende o encaminhamento de nossa ação (LUCKESI 1984, p. 67). http://www.pucsp.br/pos/cesIMa/schenberG/cIentIstas/platao2.jpG Assim, a filosofia cumpre a tarefa de compreender a realidade e contribuir com conteúdos reflexivos e lógicos para que essa realidade possa ser transformada. O Mito da Caverna, narrado por Platão no livro VII de A Republica (escrito entre 380- 370 a.C.) é, provavelmente, uma das mais poderosasmetáforas c r iadas pe la f i losof ia , em qualquer tempo, por descrever de forma atemporal a situação em que se encontra a humanidade, condenada a uma terrível condição. Imaginou toda uma população presa desde a infância no interior de uma caverna, 24 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 imobilizados e obrigados por correntes a olharem sempre a parede em frente. O que veriam então? Supondo que existissem algumas pessoas no exterior da caverna carregando para lá para cá, sobre suas cabeças, estatuetas de homens, de animais, vasos, bacias e outros vasilhames, e havendo ainda uma escassa iluminação, disse que os habitantes daquele lugar infeliz só poderiam enxergar o bruxuleio das sombras dos objetos sendo carregados, surgindo e se desfazendo diante deles. Era assim que viviam os homens, concluiu Platão: acreditavam que as imagens fantasmagóricas que apareciam (chamadas de ídolos por Platão) eram verdadeiras, considerando o espectro como realidade. Toda a existência era, portanto, inteiramente dominada pela ignorância. Para Platão todos nós estamos condenados a ver apenas sombras à nossa frente, tomando-as como verdadeiras. Esta crítica à condição dos homens, que foi escrita há quase 2500 anos, inspirou e ainda inspira incontáveis reflexões, sendo a mais recente delas no livro de José Saramago A Caverna. 2.4.3 Conhecimento Religioso O conhecimento religioso, também chamado de teológico, é aquele que se revela através da fé divina ou crença religiosa. Do ponto de vista religioso/teológico, a existência divina é evidente e inquestionável e, portanto, não necessita de demonstração ou experimentação, ou seja, dispensa qualquer procedimento experimental. No entanto, o conhecimento religioso se analisa, se interpreta e se explica (BARROS E LEHFELD, 2007). Este tipo de conhecimento depende da formação moral e crenças de indivíduos, grupos ou povos e requer a autoridade divina, seja de forma direta ou indireta. O conhecimento religioso não pode ser confirmado ou negado, ao contrário do que ocorre no conhecimento científico, uma vez que se baseia em proposições reveladas pelo sobrenatural e, portanto, sagradas e valorativas. As verdades oriundas do conhecimento religioso são tidas como infalíveis e inquestionáveis. A fonte do conhecimento geralmente está presente nos livros sagrados, independentemente da religião ou doutrina. 25 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 2.4.4 Conhecimento Científico http://www.nynas.coM/uploaD/IMaGes/news/naphthenIcslaboratory2.jpG O conhecimento científico se caracteriza pela busca da compreensão dos fenômenos existentes através da utilização de procedimentos metódicos em suas investigações. Galliano (1979, p. 21) define o conhecimento científico como “o aperfeiçoamento do conhecimento comum e ordinário obtido por meio de um procedimento metódico, o qual mobiliza explicações rigorosas e ou plausíveis sobre o que se afirma sobre um objeto da realidade”. A l é m d e f o c a r e m f a t o s e fenômenos verificáveis, o conhecimento científico é também objetivo, factual, racional, analítico, organizado, explicativo e sistemático; constrói e aplica leis através de investigações metódicas. Podemos afirmar sem receio que hoje conhecemos mais e melhor em comparação com o passado, mas não podemos chamar tal conhecimento de “conhecimento acumulado”, uma vez que tal processo está longe de ser meramente cumulativo. De acordo com Demo (2000, p. 74), “conhecimento novo não provém de mera soma. Vem da derrubada sistemática e por vezes impiedosa. Porquanto, seu método fundamental é o questionamento sistemático”. Assim, para o autor, uma teoria científica é aquela que se oferece ao debate e que se mantém necessariamente falível e não aquela que fica de pé a qualquer preço. Nesse sentido, pode- se afirmar que para algo ser científico é necessário que seja discutível, já que a ciência surgiu da recusa em aceitar o saber institucionalizado. O conhecimento científico tem uma vocação analítica e, assim, o método mais característico do procedimento científico é a análise. Na origem etimológica, analisar significa decompor um todo nas partes, desfiando uma a uma, em particular as tidas como mais importantes. Trata-se de atividade desconstrutiva que admite ser o todo apenas o ajuntamento das partes, tanto assim que, desfazendo 26 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 parte por parte, nada resta do todo, a não ser suas partes. Fazendo o caminho de volta, ao ajuntar as partes, obtemos de novo o todo, de maneira reversível. Assim é o relógio: é monte de partes concatenadas, desmontáveis uma a uma. O relojoeiro tem do relógio visão sintética, sem a qual não se saberia conceber as partes, mas o constrói por partes. O relógio não existe nas partes desmontadas, mas estas, uma vez montadas, são o relógio. (DEMO 2000, p. 15) Para melhor compreendermos o conceito de conhecimento científico, serão apresentados a seguir três etapas postuladas por Demo (2000, pp. 19-20). 1) A utilização frequente do termo conhecimento científico pelo fato dele implicar que é um dentre outros termos também possíveis, como sabedoria e bom-senso. Pode ser sinônimo de “ciência”, desde que não se afirma ser esta necessariamente superior e totalmente diversa diante de outros tipos. Ciência, quando relacionada a “tecnologia”, transmite sobretudo o pano de fundo ocidental, extremamente relacionado aos processos de colonização. “Ciência e Tecnologia” representam a vantagem comparativa decisiva em termos de crescimento econômico e domínio do mundo, da natureza, da sociedade e da economia. Na tradição ocidental, ciência é procedimento frontalmente diferente de outras formas de conhecer, universal, superior e definitivo, tendencialmente voltado para as “ciências exatas naturais”, donde também segue o desapreço por outras culturas e seus modos de conhecer. Embora mantenhamos o termo ciência nas áreas sociais e humanas, persiste a expectativa de que seu uso mais correto ocorre apenas nos ramos que possibilitam utilização concentrada de procedimentos matemáticos e empíricos, que seriam garantias de objetividade e neutralidade. Nesse caso, ciência e tecnologia formam dupla inseparável e imbatível, representando possivelmente a identidade cultural mais forte da história ocidental. Em seu extremo, substituem a religião, nos sentido de que apenas nelas se crê. Quanto ao conhecimento científico, a expressão envolve sua variabilidade natural no tempo e no espaço, aludindo menos a pretensões de universalidade que a diferenças específicas de método. É, 27 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 portanto, um tipo de conhecimento, a ponto de poder tornar-se “senso comum” com o passar do tempo. 2) É preferível “reconstruir” a “construir” conhecimento. Modernas teorias de aprendizagem apontam para o caráter construtivo do conhecimento, em contraposição ao instrucionismo que insiste na simples transmissão reprodutiva. No entanto, podem exagerar na dose, quando supõem excessiva criatividade, como se partíssemos do nada. Na prática, conhecemos com base no que já está conhecido, aprendemos do que outros já aprenderam. Sobretudo nos ambientes escolares e universitários, por mais que seja essencial praticar a pesquisa como estratégia central de aprendizagem, dificilmente construímos conhecimento tipicamente novo. O que mais fazemos é retomar o conhecimento disponível e refazê-lo com mão própria. Entretanto, não se trata de procedimento adequado, quando apenas reproduzimos conhecimento, como é o caso frequente do “fichamento de livros”, se por isso entendermos a simples compilação de idéias dos outros sem qualquer elaboração própria. Reconstruir conhecimento significa,portanto, pesquisar e elaborar, impreterivelmente. Pesquisa é entendida tanto como procedimento de fabricação de conhecimento, quanto como procedimento de aprendizagem (princípio científico e educativo), sendo parte integrante de todo processo reconstrutivo de conhecimento. 3) Demo (2000) considera pouco útil a distinção entre teoria e prática, pela razão de que o conhecimento científico é o que existe de mais prático em nossas sociedades, principalmente por conta das tecnologias. Por vezes, ainda identificamos a “academia” como mundo à parte, torre de marfim, em que figuras pouco práticas usam seu tempo para apenas pensar, elucubrar, especular. O termo filosofia é usado nesta acepção facilmente, insinuando que “não serve para nada”, mesmo que se admita inteligente. Também é imprópria a expectativa utilitária, porque imediatista. Fazer teoria pode, à primeira vista, parecer algo ocioso. tomando, porém, em conta que os dois termos necessitam um do outro, teoria que finalmente 28 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 nada tem a ver com a prática, também não é teoria de coisa nenhuma, a prática que não retorna à teoria jamais se renova. Por exemplo, defender tese sobre o conceito de maiêutica em Sócrates pareceria diletantismo acadêmico, mas pode servir como fundamento para inúmeras práticas pedagógicas atuais, sem falar em seu aspecto reconstrutivo que admitiria tratamento alternativo do que muitos outros já estudaram. Outra coisa é o “teoricismo”, algo que pode ser aplicado à maioria dos cursos acadêmicos, porque fazem com que os alunos engulam um monte de teorias – sem pesquisa e elaboração própria – destituídas de sentido prático. O campus universitário pode espraiar esta idéia vazia: fica no outro lado da cidade, em lugar fechado, tipo Mundo da Lua. Muitas vezes “estudar” também pode inspirar esta expectativa: é atividade especial, , em tempo especial, idade especial, lugar especial; é preciso “parar” para estudar, interromper o dia ou a juventude, sair da vida normal. Agregar sentido prático aos cursos, sem cair no ativismo, também poderia acrescentar-lhes qualidade. Embora cada termo tenha seu lugar, eles moram no mesmo lugar. BARROS E LEHFELD (2007, p. 46) afirmam que é do conhecimento científico que a ciência se constitui e resumem em seis tópicos suas principais características: Maiêutica: O momento do “parto” intelectual é chamado de Maiêutica Socrática. Esse “parto” é a busca da verdade no interior do homem. O processo era conduzido por Sócrates em dois momentos distintos: em primeiro lugar, ele levava seus interlocutores ou alunos a questionar seu próprio conhecimento sobre um dado assunto. Em seguida, Sócrates fazia com que concebessem uma nova idéia ou opinião sobre o mesmo assunto. Desse modo, por meio de questões simples e contextualizadas, a Maiêutica leva à elaboração de idéias complexas. Diletantismo: Modo amador de estudar ou fazer algo, geralmente de cunho artístico, por amor, sem se preocupar com a reflexão permanente ou o estudo, por considerar que a arte precisa permanecer uma forma de lazer puro. O diletante entende ou se dedica a algo por gosto. 29 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 - O conhecimento científico surgiu a partir das preocupações humanas cotidianas, e esse procedimento é conseqüência do bom senso organizado e sistemático; - O conhecimento científico transcende o imediatamente vivido e observado, buscando a formulação de paradigmas; - O conhecimento científico, além de ater-se aos fatos, é analítico, comunicável, verificável, organizado e sistemático – é também explicativo, constrói e aplica teorias; - O conhecimento científico, considerado um conhecimento superior, exige a utilização de métodos, processos, técnicas especiais para a análise, compreensão e intervenção na realidade; - A abstração e a prática devem ser dominadas por quem pretende trabalhar cientificamente. 2.5 Reflexão Durante toda a vida o ser humano tem que lidar com experiências relacionadas a dor, prazer, sede, saciedade, calor, frio e, portanto, o conhecimento se dá pela necessidade de adaptação, interpretação e assimilação às circunstâncias inerentes ao meio em que vive. Assim podemos afirmar que o conhecimento ou o ato de conhecer funcionam como um meio de solução dos problemas comuns à vida. Já o conhecimento científico é o que é produzido pela investigação científica. Além de suprir a necessidade de encontrar respostas e soluções para problemas de ordem prática da vida cotidiana, também se caracteriza por ser um conhecimento que possibilita explicações sistemáticas que podem ser testadas e aceitas ou refutadas através provas empíricas. 2.6 Referências DEMO, P. Metodologia do Conhecimento Científico. São Paulo: Editora Atlas, 2000. BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos da Metodologia Científica. São Paulo: Prentice Hall, 2007. 30 Metodologia Científica Conhecimento – Unidade 2 GALLIANO, A. G. (Org.). O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harper & Row, 1979. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1994. LUCKESI, C. et alii. Fazer universidade: uma proposta metodológica. São Paulo: Cortez, 1984. SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 1999. 2.7 na Próxima Unidade Por muito tempo o homem iniciou sua busca pelo conhecimento para encontrar respostas a certas questões referentes ao seu dia a dia. Algumas respostas tinham um cunho místico, o que levava à criação de mitologias. Quando o homem passou a questionar tais respostas e a procurar explicações mais plausíveis, através da razão, passou a obter respostas mais realistas que se aproximavam mais da realidade das pessoas. Tais respostas passaram a ser mais bem aceitas pela sociedade e podemos afirmar que essa nova forma de pensar criou a possibilidade da idéia de ciência para explicar os fenômenos por meio da razão. Os conceitos de ciência serão discutidos no próximo capítulo. U ni Ua Ue U CiÊnCia A partir do momento em que o homem passou utilizar a razão para questionar o modo como buscava suas respostas e para buscar formas mais plausíveis de obter explicações, passou a reduzir a importância de suas emoções e crenças religiosas e a obter respostas que fossem mais realistas e que se aproximassem de forma mais pungente da realidade das pessoas. As explicações resultantes passaram, assim, a ser mais bem aceitas na sociedade em que vivia. objetivos da sua aprendizagem É imprescindível que você compreenda o conceito de ciência e a forma como ela surgiu e evoluiu. Você se lembra? As aulas de Ciências na escola procuravam fornecer explicações a fenômenos muitas vezes cotidianos, como a eletricidade estática ou o magnetismo. 32 Metodologia Científica Ciência – Unidade 3 Ciência é sempre instável: não só cresce, mas também muda de direção; novos conhecimentos nem sempre confirmam os anteriores, e os paradigmas sucedem-se, por vezes em meio a polêmicas acirradas e irreconciliáveis. Todavia, a ciência futura é imprevisível, não nos cabendo pressupor limites, que bem podem ser devidos à limitação do nosso olhar atual (DEMO 2000, p. 46). 3.1 Definição de Ciência http://correIocIencIa.fIles.worDpress.coM/2009/10/cIencIa.jpG O termo ciência provém do verbo em latim Scire, que significa aprender, conhecer. Em toda sua história o homem engajou- se em uma jornada com o objetivo de buscar o conhecimento para chegar a respostas a certas questões relacionadas a problemas do seu cotidiano. Um dos meios mais utilizados para explicar sua realidade era a criação de mitos, ou seja, através da mitologia o homem tentava “explicar o inexplicável”. Sehoje é ‘óbvio’ que a Terra é redonda, até o início das grandes navegações no século XV era ‘óbvio’ que a Terra era plana. Se hoje é ‘óbvio’ que o homem pode voar em um equipamento mais pesado que o ar, há pouco mais de um século era ‘óbvio’ que o homem só poderia voar em equipamentos mais leves que o ar, como os balões. Assim, muitas coisas que eram óbvias no passado deixaram de sê-lo e, da mesma forma, o que é óbvio hoje pode não sê-lo em algum momento no futuro. Assim, nosso mundo e nossa sociedade pode sempre “contar com” um mundo pré-existente: “Nasce o homem num mundo , numa circunstância interpretada, e passar a contar com os objetos que encontra, segundo a interpretação vigente. Contamos com, e essa é uma das mais elementares relações que mantemos com as coisas. Contamos com a existência da rua, quando abrimos a porta de casa para irmos à escola ou ao trabalho. Contamos 33 Metodologia Científica Ciência – Unidade 3 com encontrar, no lugar em que as vimos ontem, as pedras, as casas e as árvores. Prova disso é a surpresa que provocaria a ausência de rua, o deslocamento das árvores, ou o desaparecimento das casas, no momento em que abríssemos a porta. (...) Contamos com certas coisas, acreditamos que se comportam dessa ou daquela maneira, segundo a interpretação em que nascemos.” (HEGENBERG, apud Bastos e Keller 2002, p. 81) Apresentamos aqui dois dos principais usos para a palavra ‘ciência’: 1) Atividade executada por cientistas, com matérias-primas, propósitos e metodologia específicas. 2) O resultado desta atividade, ou seja, um corpus bem estabelecido e bem testado de leis, modelos e fatos que conseguem descrever o mundo natural. Os resultados da ciência devem ser “objetivos”, ou seja, eles devem ser testáveis, repetíveis e passíveis de confirmação através de outros cientistas. Podemos classificar ss áreas da ciência em duas grandes dimensões: • Ciência Pura (o desenvolvimento de teorias) x Ciência Aplicada (a aplicação de teorias às necessidades humanas); • Ciência Natural (o estudo do mundo natural) x Ciência Social (o estudo do comportamento humano e da sociedade). Algumas definições de Ciência1: 1) “Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experimentação dos fatos e um método próprio.” 2) A ciência busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que 1 Disponível em: http://forum.braslink.com/forum/read.cfm?forum=679&id=112950&thr ead=18175 34 Metodologia Científica Ciência – Unidade 3 permite prever acontecimentos e, consequentemente, também agir sobre a natureza. Para tanto, a ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo. albert eInsteIn http://johnstoDDerInexIle.fIles.worDpress.coM/2006/04/eInsteIn.jpG 3) “Conjunto de conhecimentos e de pesquisas metódicas cujo fim é a descoberta das leis dos fenômenos: ‘A ciência encontrou na experiência um princípio próprio e imanente, donde tira, sem outro auxiliar além da atividade intelectual comum, os fatos materiais da sua obra, e as leis, com as quais coordena os fatos.’ “ 4) “Ciência: do latim scientia, “sabedoria, conhecimento”, é o conhecimento de caráter racional, sistemático e seguro dos fatos e fenômenos do mundo. Visão positiva: ‘o homem domina a natureza não pela força, mas pela compreensão’. Visão negativa: o controle da natureza pela ciência implica força e poder. ‘Toda a natureza começaria por se lastimar se lhe fosse dada a palavra.’” 3.2 fraudes na Ciência Nem só de flores vive a ciência. Na busca desenfreada por reconhecimento, poder ou dinheiro, alguns cientistas se veem tentados a burlar um procedimento ou dois, alterar este dado ou aquele, tudo para garantir que o resultado de sua pesquisa saia como ele quer que seja. Abaixo estão listados dez dos mais famosos casos de fraude científica2: 1- Em 1989, o norte americano Stanley Pons e o britânico, Martin Fleischmann divulgaram a existência de um aparelho capaz de fundir átomos a temperaturas muito mais baixas do que as usadas em reações termonucleares. O experimento nunca pôde ser reproduzido em outros laboratórios. 2- Em 1971, o governo filipino anunciou a descoberta da tribo tasaday, que falava uma língua estranha, comia animais selvagens 2 Disponível em: http://revistagalileu.globo.com/; Acessado em: 15/09/2009. 35 Metodologia Científica Ciência – Unidade 3 e usava artefatos de pedra. Jornalistas descobriram que os nativos viviam em casas, produziam carne seca e usavam calças Levi´s. 3- Em um artigo na revista Nature em 1988, o francês Jacques Benveniste propôs que a água tem memória, ou seja, guarda traços de elementos que por ela tenham passado. Os defensores da homeopatia festejaram, pois isso explicaria a eficácia do tratamento. As idéias de Benveniste nunca puderam ser confirmadas. 4- O arqueólogo inglês Charles Downson “encontrou” uma ossada de homem com crânio de formas humanas e queixo parecido com o de um macaco. Em 1953, 40 anos depois, os cientistas desmontaram o quebra- cabeça: uma junção de crânio de homem com queixo de orangotango. 5- A partir dos anos 1920, o biólogo soviético Trofim Denisovich Lysenko inventou fórmulas absurdas para aumentar a produção agrícola. Fazia coisas como misturar trigo de inverno com trigo de primavera numa mesma plantação. Com isso esperava desenvolver uma espécie que pudesse ser plantada e colhida em qualquer época do ano. Suas idéias nunca funcionaram. 6- Nos primeiros anos de século 20, o mundo celebrava a descoberta do raio X. Isso parece ter inspirado o físico francês René Blondlot. Na mesma época ele afirmou ter descoberto o raio N, e outros cientistas contemporâneos disseram ter produzido em seus laboratórios raios N. O citado raio nunca teve sua existência comprovada. 7- O físico Victor Ninov e sua equipe publicaram, em 1999, a descoberta do elemento químico 118 - o mais pesado que poderia existir. No ano seguinte, a equipe não conseguiu reproduzir a experiência. Investigações provaram que Ninov havia forjado os resultados. 8- Na década de 70, o psicólogo inglês Cyril Burt propôs que o quociente de inteligência seria determinado geneticamente. Para chegar a esse resultado, inventou personagens e falsificou dados. 9- O alemão Jan Hendril Schon foi demitido dos laboratórios Bell por alterar dados em experiências sobre luz e supercondutividade entre 36 Metodologia Científica Ciência – Unidade 3 1998 e 2001. Pesquisador conceituado, ele publicou suas farsas em revistas como Science e Nature. 10- Um professor da Universidade Tecnológica da Coréia do Sul reconheceu ter falsificado seus estudos publicados em revistas científicas internacionais. Segundo o jornal sul-coreano The Hankyoreh, Kim Tae- kook, professor de biotecnologia do Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coréia (Kaist), reconheceu ter usado dados falsos em seu experimento sobre tecnologia contra o envelhecimento, depois que uma comissão de investigação da universidade descobriu essa manipulação. O resultado dos estudos foram publicados em duas revistas científicas - a Science, em 2005, e a Nature Chemical Biology, em 2006 - por ter aberto supostamente uma porta para encontrar remédios contra o envelhecimento humano. Como conseqüência, o Kaist retirou Kim da docência e de suas condições de pesquisador, e a comissão de investigação indicou que esses estudos serão retirados das revistas. A notícia aconteceu dois anos depois que o professor sul-coreano Hwang Woo-souk, pioneiro da clonagem, admitiu ter falsificado seus estudos sobre células-tronco de embriões humanos clonadospublicados na revista Science. Hwang afirmou ter realizado a primeira clonagem de células-tronco de embrião humano em 2004, mas depois ficou demonstrado que era falsa. 3.3 Reflexão Tudo aquilo que a ciência constrói precisa ser representante de uma percepção “compartilhada”, ou seja, que pode ser verificada e observada por qualquer pessoa que esteja equipada com as ferramentas de medição e habilidades de observação apropriadas. Podemos afirmar, inclusive, que esse modo de pensar do homem foi que possibilitou o surgimento da idéia de ciência, uma vez que sua tentativa contínua de explicar fenômenos através da razão foi o primeiro passo na direção de se fazer ciência. Mas a ciência só é precisa, sistemática e confiável se os mesmos adjetivos puderem ser aplicados àqueles que a praticam, como pudemos verificar nos casos relatados nesta unidade. 3.4 Referências 37 Metodologia Científica Ciência – Unidade 3 DEMO, P. Metodologia do Conhecimento Científico. São Paulo: Editora Atlas, 2000. BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos da Metodologia Científica. São Paulo: Prentice Hall, 2007. BASTOS, C.; KELLER, V. Introducão à metodologia científica. Petrópolis: Vozes, 2002. 3.5 na Próxima Unidade O desenvolvimento da ciência levou à criação do método, através do qual experimentos podem ser reproduzidos por outros, em outros locais e em outros momentos. É através do método que torna-se possível a sistematização de procedimentos que, por sua vez, trazem credibilidade à ciência. Na Unidade 4 serão apresentados diferentes tipos de métodos. U ni Ua Ue U MÉtoDo O termo Método tem origem na palavra grega “methodos”, que significa “caminho para chegar a um fim”. Trata-se, portanto, de um conjunto de processos que devem ser executados para produzir e processar um sistema, definindo “o que” e “como” algo deve ser feito. objetivos da sua aprendizagem. Conhecer os diferentes tipos de métodos, os quais serão utilizados em toda a sua vida acadêmica e profissional. Você se lembra? Na escola você certamente já executou algum procedimento utilizando uma descrição detalhada daquilo que deve ser feito e como deve ser feito. 39 Metodologia Científica Método – Unidade 4 4.1 Definição de Método O termo método designa a ordem a ser seguida nos diferentes processos que são necessários para se chegar a determinado fim ou resultado. Em outras palavras, método pode ser entendido como um procedimento regular, explícito e que pode ser repetido a fim de se conseguir algo material ou conceitual. É importante ressaltar que o método é apenas um meio de acesso: são a inteligência e a reflexão que descobrem o que os fatos realmente são. Assim, o método científico tem a intenção de descobrir a realidade dos fatos, e esses, ao serem descobertos, devem guiar o uso do método. É oportuno, portanto, distinguir os conceitos de método e processo. Método pode ser entendido como o procedimento sistemático, o dispositivo ordenado, em plano geral. Por sua vez, o processo (a técnica) é a aplicação do plano metodológico e a forma específica de executá- lo. Pode-se afirmar que a relação existente entre método e processo é similar à que existe entre estratégia e tática. O processo está, portanto, subordinado ao método. http://www.IDGresearch.coM/wp-content/theMes/IDG-one/IMaGes/puzzle-lG.jpG 40 Metodologia Científica Método – Unidade 4 4.2 Método Qualitativo http://naturoloGIaMococa.fIles.worDpress.coM/2009/03/ Mrt20www_wIn2farsI_coM20107.jpG U m a p e s q u i s a qualitativa tem caráter exploratório, ou seja, e s t imula o su je i to a expressar-se livremente sobre um determinado tema, objeto ou conceito. E s t e t i p o d e pesquisa faz emergir aspectos subjetivos, uma vez que podem atingir motivações e pensamentos não conscientes ou não explícitos de uma forma mais espontânea. Como não há preocupação em projetar resultados para uma determinada população, na pesquisa qualitativa o número de sujeitos é relativamente pequeno, sendo que as opiniões são coletadas por meio de questionários ou entrevistas gravadas, as quais são posteriormente analisadas. Os principais tipos de dados qualitativos são: citações diretas de pessoas sobre suas experiências; trechos de correspondências, registros, documentos; gravações e/ou transcrições de entrevistas e discursos; descrições detalhadas de comportamentos ou outros fenômenos; dados coletados com maior profundidade e riqueza de detalhes. Este tipo de pesquisa é apropriado nos casos em que o fenômeno em questão é de natureza social e sua complexidade não permite sua quantificação. A utilização de métodos quantitativos pressupõe a habilidade de observar, analisar e registrar interações entre pessoas, ou entre pessoas e fenômenos. De modo geral, podemos afirmar que nas pesquisas quantitativas é relevante notar quantas vezes determinado fenômeno ocorre, ao passo que nas pesquisas qualitativas o importante é a compreensão detalhada de como o fenômeno ocorre. 41 Metodologia Científica Método – Unidade 4 4.3 Método Quantitativo https://cuportal.coventry.ac.uk/c13/Msc/IMaGe%20lIbrary/statIstIcs.GIf U m a p e s q u i s a quantitativa tem como base critérios estatísticos rígidos, o s q u a i s s e r v e m c o m o parâmetro para definição do universo da pesquisa em questão. A pesquisa estatística é muito utilizada p a r a l i d a r c o m d a d o s numéricos, opiniões sobre temas econômicos, sociais ou políticos, observação da preferência por produtos ou serviços em determinados segmentos populacionais, etc. A realização de uma pesquisa quantitativa passa pelas seguintes etapas: definição do objetivo da pesquisa; definição da população e da amostra; elaboração dos questionários; coleta de dados (campo); processamento dos dados (tabulação); análise dos resultados; apresentação e divulgacão dos resultados. Este tipo de pesquisa frequentemente utiliza questionários para inferir resultados a partir de uma amostra, sendo possível aplicar tais resultados a um universo maior. Como a pesquisa quantitativa aplica-se a uma dimensão mensurável da realidade, a partir dos resultados obtidos estatisticamente torna-se possível projetar uma verdade geral ao fenômeno que está sendo estudado. Assim, através da pesquisa quantitativa é possível o planejamento de ações coletivas que reproduzem resultados passíveis de generalização, desde que o grupo pesquisado seja uma amostra fidedigna da população em estudo. São testadas, portanto, de forma precisa, as hipóteses levantadas e fornecem índices que permitem comparação com outros. Na tabulação, os dados coletados são dispostos em tabelas, gráficos, quadros ou figuras, devidamente organizados de modo a facilitar a compreensão do pesquisador e a conseqüente análise e interpretação desses dados, os quais são classificados em grupos e subgrupos e reunidos de modo que as hipóteses referentes à pesquisa possam ser comprovadas ou refutadas. 42 Metodologia Científica Método – Unidade 4 Para garantir maior precisão, a pesquisa quantitativa requer um número maior de entrevistados para maior precisão nos resultados, já que os dados serão projetados para a população representada. Para tanto, as informações são coletadas através de questionários compostos por perguntas claras e objetivas, já que a má compreensão de um enunciado ou questão pode comprometer a veracidade dos dados colhidos. Pesquisas quantitativas são recomendadas quando o objetivo é obter informações sobre aspectos comuns em uma população investigada em grandes quantidades, ao contrário da investigação quantitativa, que busca aprofundar questões em amostragens reduzidas. 4.4 Qualitativo x Quantitativo A dicotomia quantitativo/qualitativo
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