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A aplicação da Common Law no Brasil Guilherme Fortes Monteiro Ao se cravar um escrutínio sobre as diferenças da Civil Law e da Common Law no ordenamento jurídico brasileiro, constata-se, “ab initio”, que o valorizar das normas positivadas é um elemento diferenciador, mas que tem apresentado uma perca valorativa após a implementação do Neoconstitucionalismo como corrente de pensamento jurídico sob a qual se erige a hermenêutica legal, constitucional e principiológica. Outra disparidade constatada é o não obedecer aos precedentes instituídos pelos tribunais, como ocorre na Common Law. No Brasil observa-se que o vincular jurídico das decisões dos tribunais não é um elemento detentor de aplicabilidade plena e incontestável, sendo que apenas as súmulas portadoras da distinção de Súmula Vinculante têm uma aplicação direta e incontestável. Tal elemento, porém, a despeita das críticas que se instauram, alegando que o não vincular dos precedentes gera uma insegurança jurídica, é, de certa forma, positiva, por permitir uma melhor adequação da sentença e da lei ao caso que concretamente se apresenta ao Poder Judiciário, e detém estreita relação, ainda, com os direitos e garantias constitucionais dispostos no Art. 5º, LV da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a saber, a Ampla Defesa e o Contraditório. Mesmo o instituto da Súmula Vinculante é um elemento alvo de duras críticas, uma vez que é visto como um mecanismo que ‘engessa’ o Poder Judiciário, castrando a independência dos tribunais, fossilizando a jurisprudência, e constituindo um verdadeiro obstáculo ao progresso do Direito; o que vai de encontro à democracia e à descentralização, posto que configura um espectro de uma ditadura procedimental das cortes judiciais, que passam a obrigar os magistrados a julgar segundo as súmulas e não à lei; como trazido à baila por Melo Filho (1998). Tecem-se ainda críticas que pontuam que o juiz se vê desprovido de sua autonomia julgadora, estiolando o espírito da legislação, e desvirtuando o próprio Judiciário, ao tolher a interpretatividade e aplicabilidade da norma ao caso concreto que se apresenta ao escrutínio do Judiciário, posto que o solapar da liberdade de decisão do juiz inibe os influxos argumentativos imprescindíveis à Justiça, ao cercear os movimentos em direções a novas maneiras de entender o caso e as normas que sobre ele incidem, culminando com um “abastardamento da função jurisdicional”[4], e com um legislar por parte do Poder Judiciário. Frente ao exposto, observa-se que as diferenças existentes, sobretudo as que pertinem à observância aos precedentes, não configuram um desvirtuar, mas podem ser encaradas sob um prisma de aprimoramento do sistema jurídico; uma vez que o Neoconstitucionalismo rompe com a visão tradicional de ambos os sistemas jurídicos – Civil Law e Common Law – ao estabelecer a supremacia dos Direitos sobre as normas – positivadas ou não, legais ou jurisprudenciais – dotando as previsões legais ou jurisdicionais do escopo de mero início da solução, não sendo possível que na exterioração escrita das leis e nos entendimentos pretéritos dos julgados, sejam abarcados todos os elementos morais e individuais para a formação de toda a multiplicidade de sentidos que os casos podem deter. Em um pensar reflexivo, nota-se que a aplicação do sistema jurídico da Common Law no ordenamento jurídico brasileiro, em concomitância com a preservação de certas características do Civil Law, ambos complementando-se mutuamente, e se adequando às imposições do Neoconstitucionalismo, leva a um melhor e mais dinâmico atendimento aos anseios sociais, tutelando de forma mais efetiva os direitos inerentes aos cidadãos, e atentando a bagagem histórica e a herança cultural da nação. Da mesma forma, há certo respaldo e clareza advindos da presença de ditames escritos, que, por meio do positivismo fornecem certa ‘noção’ dos direitos e deveres da população e do Estado. Observa-se, daí, que esta é uma combinação dotada de alta dialeticidade que está constantemente se construindo e reconstruindo, em um giro hermenêutico sócio-interacionista, onde a vontade popular é preservada pelo Direito, e participa ativamente da confecção deste, não apenas por meio do voto que elege os representantes do povo nas Casas do Legislativo, mas através do próprio Processo Legal, onde os litigantes perdem seu caráter de meros espectadores, e passam a atuar de forma participativa na construção do Direito, ao levarem para a lide, não GuestUser Realce GuestUser Realce apenas o evocar de normas positivadas – como no sistema da Civil Law – mas também os usos e costumes que vigoram no tecido social, e as referências jurisprudenciais, que podem ser empregadas como um elemento subsidiário na exposição e justificação dos fatos. Assim sendo, perde-se o caráter aparentemente autômato, e passa-se a ter uma relação processual pautada pela hermenêutica constitucional e social, que visa, não o atender incondicional à letra da lei, e nem a observância absoluta dos precedentes fixados, mas sim o resguardar e efetivar de Direitos e Garantias Fundamentais, sobretudo as que se relacionam de forma prática e direta com os Direitos Humanos dos cidadãos; atendendo, de forma plena ao principal objetivo do Estado, que é servir ao povo que o compõe. A bem da verdade, possibilitar essa incursão social no processo judicial, mediante o atentar para os costumes vigentes nas relações sociais, marco da Common Law, resguarda de forma mais precisa os direitos das pessoas, e faz com que o Direito e a Justiça se tornem, com efeito, um fato social. GuestUser Realce GuestUser Realce GuestUser Realce GuestUser Realce GuestUser Realce
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