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Sociedade, Comunicação e Cultura (a5)

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Sociedade, Comunicação e Cultura 
Aula 05 
Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 05: Multiculturalismo e diversidade cultural 
 
Objetivo: Compreender e reconhecer as diferenças culturais e individuais presentes 
na sociedade globalizada movida pela Era da informação e as consequências do 
multiculturalismo na modernidade. 
 
 
Multiculturalismo 
 
 
 
Com a globalização, o contato e a convivência com outros povos e culturas se 
estreitaram. Nas cidades, convivemos com o turista estrangeiro, com comunidades 
de diversos países, com tribos urbanas com seus costumes, valores, modo de vida 
que nos desafia e convida a uma adaptação para que todos possam viver numa 
reciprocidade cultural. São grupos de indivíduos de etnias diferentes, que buscam 
uma convivência harmoniosa onde estão; que formam a matiz cultural das cidades 
globais e buscam uma individualidade dentro da multiplicidade. 
 
 
O multiculturalismo1 parte desse princípio do reconhecimento das diferenças 
individualidades de cada um, do direito de ser diferente e não uniforme como a 
cultura de massa impõe, pois ao entrar em contato com a cultura do outro, cada 
cidadão buscará, como ser cultural, adaptar-se às normas vigente a fim de 
sobreviver, de ser aceito, e dessa experiência tirará o que é bom, guardará o que lhe 
serve e eliminará ou driblará o que vai contra seus princípios, seus valores e normas 
culturais. 
Esse processo de inculturação2 vem ocorrendo historicamente ao longo dos 
tempos, a adaptação das culturas é própria de cada momento para que elas possam 
sobreviver, mesmo em meio aos confrontos. Nas sociedades modernas, as 
identidades são constantemente negociadas e desafiadas. Cabe a cada um buscar 
mecanismos de inserção e adaptação. 
 
O multiculturalismo no Brasil 
 
Para os brasileiros, o convívio multicultural não deveria representar um 
problema, pois o País é a síntese do multiculturalismo, sendo formado a partir de 
três matrizes diferentes: indígena brasileira, negra africana e branca europeia. Cada 
uma dessas matrizes carregou em si e se encarregou de preservar o máximo que 
pôde de seus usos, costumes, valores, modo de vida, tradições, crenças e num 
congraçamento, em grande parte forçado pela escravidão, uma se aproximou e se 
aculturou à outra, criando um novo povo, com uma nova cultura, conforme Darcy 
Ribeiro (1995), o povo brasileiro, o povo mais novo do continente, com 
características linguísticas e étnicas únicas. 
Conforme Cássio (2011): 
 
O Brasil já é, de berço, um país étnica e culturalmente plural. Ao 
longo de sua existência, a complexidade das relações culturais 
acabou por criar os chamados “Brasis”, que nada mais são do que 
diversas culturas similares em um mesmo Estado/Nação. O 
movimento antropofágico de Oswald de Andrade ajudou a acentuar 
essa troca, essa mescla internacional de culturas e criou uma 
identidade cultural brasileira: a da diversidade e pluralidade. O Brasil 
é um dos países mais heterogêneos, culturalmente falando. Tal 
complexidade se observa nas diversas manifestações folclóricas, 
artísticas e sociais que observamos país afora. E esse é o DNA 
brasileiro. 
 
 
Se pararmos para pensar, essas características, esse hibridismo cultural, 
deveria facilitar a convivência com o outro, com as diferenças, pois o outro não nos é 
estranho. No entanto, não é isso o que vemos no dia a dia, essa diversidade em 
muitos momentos tornou-se um problema devido às acentuadas diferenças sociais e 
passa a ser alvo de intensos debates na tentativa de elucidar papel e o lugar de 
cada um dos grupos historicamente constituídos aqui, explicitando assim conflitos 
inevitáveis e uma eterna indefinição de quem somos. De acordo com Ortiz (1994), 
toda identidade é uma construção simbólica e não existe uma identidade autêntica, 
mas uma pluralidade de identidades construídas por diferentes grupos sociais em 
diferentes momentos históricos. Esses conflitos são umas das principais 
características das sociedades contemporâneas. 
Outro fator importante que influencia e propicia o multiculturalismo é a 
globalização, pois a quebra das fronteiras pelas ondas dos satélites devido às 
exigências do mundo globalizado aproxima cada vez mais grupos e povos de 
culturas diferentes, provocando o necessário convívio com realidades mais diversas. 
No entanto, deve-se considerar, conforme Ortiz (1994, p. 17), que “a noção de povo 
se identifica à problemática étnica, isto é, ao problema da constituição de um povo 
no interior de fronteiras delimitadas pela geografia nacional”. Nessas circunstâncias, 
é preciso que se reconheça e, acima de tudo, se respeite as diferenças para que se 
possa ter uma convivência harmoniosa em prol de um ideal maior. 
 
Diversidade cultural e o choque das civilizações 
 
Segundo o historiador Edward Thompson (1998), a “Cultura é uma arena de 
elementos conflitivos, que somente sob uma pressão imperiosa assume a forma de 
um sistema”. Em meio a tanta diversidade, encontraremos vários elementos 
conflitivos, pois o olhar que lançaremos ao outro, parte dos nossos próprios hábitos 
e da necessidade da autopreservação da nossa cultura em sua totalidade. A 
diversidade cultural é o conjunto de diferenças que devem ser vivenciadas de forma 
integrada. Ela é percebida com frequência, conforme Kiyindou (2006): 
 
 
 
 
Como uma disparidade, uma variação, uma pluralidade, quer dizer, o 
contrário da uniformidade e da homogeneidade. Em seu sentido 
primeiro e literal, a diversidade cultural referia-se apenas e 
simplesmente, em consequência, à multiplicidade de culturas ou de 
identidades culturais. 
 
No entanto, essa multiplicidade de culturas ou de identidades culturais 
historicamente tem provocado conflitos entre nações que envolvem aspectos 
sociais, econômicos e políticos de proporções inimagináveis desde que o mundo 
alçou a corrida civilizatória, como alguns poucos citados a partir do século XX: 
 
 Atentado em Belfast – 21 de julho de 1972: a mais famosa ação terrorista 
do braço armado do IRA, o principal grupo radical do Ocidente. Dez bombas e 
oito carros-bomba foram detonados em Belfast. Resultado: 11 mortos e 130 
feridos. 
 Atentado em Munique – 5 de setembro de 1972: a maior tragédia da 
história das Olimpíadas e o maior atentado em defesa da causa palestina. 
Resultado: 11 inocentes, 5 terroristas e 1 policial mortos. Atentado atribuído a 
palestinos da facção Setembro Negro. 
 Guerra do Golfo – 1991: Iraque invade o vizinho Kwait, provocando reação 
militar dos Estados Unidos. 
 Tóquio – 20 de março de 1995: uma nuvem de gás Sarin invadiu o metrô 
lotado, lançada por membros de um culto apocalíptico – integrantes da seita 
Aum Shirinkyo. Saldo: 12 pessoas mortas e 5 700 pessoas feridas. 
 Oklahoma City (EUA) – 19 de abril de 1995: uma van cheia de explosivos 
caseiros atingiu um prédio do governo em Oklahoma City – cidade mais 
populosa do estado norte-americano de Oklahoma. As suspeitas recaíram 
sobre homens de barba e turbante e Corão na mão. Os assassinos eram 
brancos e americanos. Resultando em 166 pessoas e centenas de pessoas 
feridas. Ação atribuída a extremistasde direita ligados a milícias. 
 
 
 
 
 
 Nova York, Washington e sul da Pensilvânia – 11 de setembro de 2001: 
foi o maior atentado terrorista da história, no qual quatro boeings 
sequestrados foram lançados contra alvos em Nova York e Washington. 
Resultado: mais de 3 mil inocentes e 19 terroristas mortos e milhares de 
pessoas feridas. Culpados: radicais muçulmanos ligados à rede Al Qaeda de 
Osama Bin Laden. 
 Bali (Indonésia) – 12 de outubro de 2002: o terror islâmico atacou jovens 
turistas e surfistas estrangeiros, arrasando boates, lojas, cafés e bares na 
ilha. Entre os mortos, estavam cidadãos de vinte nacionalidades diferentes, 
totalizando cerca de 200 pessoas mortas e mais de 300 feridas. Ação 
atribuída a radicais muçulmanos ligados à rede Al Qaeda. 
 Moscou – 23 de outubro de 2002: no segundo ato de uma peça em cartaz 
no Palácio da Cultura, os fuzis dos chechenos renderam público e atores. 
Vladimir Putin ordenou a sangrenta invasão do teatro. Sua população o 
apoiou. A ação deixou 118 inocentes e 54 terroristas mortos e 146 pessoas 
feridas. Os culpados foram muçulmanos separatistas da Chechênia. 
 Guerra do Iraque – 2003: os Estados Unidos invadem o Iraque e derrubam o 
ditador Saddam Hussein, executando-o em dezembro de 2006. 
 Madri (Espanha) – 11 de março de 2004: uma série de bombas, escondidas 
em mochilas dentro de trens metropolitanos, explodiram num intervalo de 
cinco minutos, deixando 200 pessoas mortas e mais de 1,5 mil feridas. O 
atentado foi atribuído a terroristas islâmicos. 
 Beslan/Ossétia (Norte da Rússia) – 3 de setembro de 2004: três dezenas 
de terroristas sitiaram 1 200 pessoas durante três dias numa escola. Das 
vítimas, 70% eram crianças, professores e pais. As forças policiais russas 
invadiram a escola e a maioria dos terroristas foi morta. Resultado: mais de 
200 pessoas mortas, a maioria crianças, e 700 feridos. Culpados: terroristas 
islâmicos chechenos e árabes. 
 Londres/Inglaterra – 7 de julho de 2005: pouco antes das nove horas da 
manhã, quatro bombas explodiram com pequenos intervalos. Deixando o 
saldo de 50 mortos e mais de 700 feridos. O Grupo da Al Qaeda na 
Organização da Jihad na Europa reivindicou o ataque. 
 
 
 França – 19 de março de 2012: quatro pessoas, sendo três crianças e um 
professor, morreram depois que o argelino Mohammed Merah abriu fogo 
contra eles em uma escola judia em Toulouse. Esta pessoa matou, na mesma 
cidade, em 11 de março, um paraquedista e outras duas pessoas, em 15 de 
março em Montauban, na mesma região. 
 Líbia – 12 de setembro de 2012: um ataque contra o consulado dos EUA na 
cidade líbia de Benghazi causou a morte do embaixador americano, Chris 
Stevens, e outros três americanos. 
 Afeganistão – 15 de setembro de 2012: dois soldados da Otan no 
Afeganistão e 16 insurgentes morreram em ataque talibã contra a base Camp 
Bastion, onde se encontrava o príncipe Harry. 
 
Somente em 2012 foram registrados ao menos 39 atentados em todo o 
mundo, resultando em mais de 1 460 mortes e incontáveis feridos. Esse é um 
desafio que temos que enfrentar e que governos estão fazendo esforços comuns 
para isso. 
Em 2001, foi assinada por mais de 100 países a Declaração Universal sobre a 
Diversidade Cultural da UNESCO, que reconhece a diversidade cultural como 
patrimônio comum da humanidade, sendo dever de todos proteger a cidadania e 
garantir as culturas ameaçadas, reafirmando seu compromisso com a plena 
realização dos direitos humanos e das liberdades fundamentais proclamadas na 
Declaração Universal dos Direitos Humanos e em outros instrumentos 
universalmente reconhecidos, como os dois Pactos Internacionais de 1966, relativos, 
respectivamente, aos direitos civis e políticos e aos direitos econômicos, sociais e 
culturais. 
Um dos principais compromissos dessa declaração é: 
 
Aprofundar o debate internacional sobre os problemas relativos à 
diversidade cultural, especialmente os que se referem a seus 
vínculos com o desenvolvimento e a sua influência na formulação de 
políticas, em escala tanto nacional como internacional; Aprofundar, 
em particular, a reflexão sobre a conveniência de elaborar um 
instrumento jurídico internacional sobre a diversidade cultural. 
(UNESCO, 2001) 
 
 
 
Considerações finais 
 
Como pudemos perceber, a diversidade cultural tem sua riqueza, mas 
também passa a ser alvo de intensos debates e desafios colocados por essa 
realidade globalizada na qual se pretende o igual, mas, ao mesmo tempo, exige-se o 
diferente. Garantir as identidades culturais é cada vez mais difícil, porém necessário, 
portanto resta-nos lutar cada vez mais pelo respeito e pela convivência harmoniosa 
com o outro e evitar os conflitos e guerras. 
 
Saiba mais 
 
Multiculturalismo1: (multicultural+ismo) prática de acomodar qualquer número de 
culturas distintas numa única sociedade, sem preconceito ou discriminação. 
 
Inculturação2: é um método de introduzir a cultura, aspectos culturais de um 
determinado povo à sua. 
 
Vale a pena conferir 
 
1. Para conhecer a íntegra da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural da 
UNESCO, é só acessar o site da UNESCO. Disponível em: 
<http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf>. Acesso em: 2 abr. 
2013. 
2. Portal Terra. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/principais-
atentados-no-mundo-em-
012,5bdc6d44edcbb310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html>. Acesso em: 2 abr. 
2013. 
3. Portal IG Últimos segundos – Principais atentados no mundo em 2012. Disponível 
em: 
<http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/veja+a+cronologia+de+alguns+dos+principai
s+atentados+que+atingiram+moscou/n1237967475722.html>. Acesso em: 2 abr. 
2013. 
 
 
4. Filmografia: são filmes que abordam o assunto abordado na aula: 
 
 Gran Torino (2008). EUA e Austrália: o filme mostra-nos que a convivência 
de diferentes etnias é sinônimo de conflito, ódio, preconceito e, em última 
análise, guerra. Paralelamente, ensina-nos a “olhar” para o outro como sendo 
mais um ser humano e que, apesar da diferença étnica, existem valores 
comuns, como paz, amizade e justiça que não se prende com a cor de pele 
ou os costumes. Walt, a personagem principal, é o exemplo de que nem 
sempre as pessoas da mesma etnia são aquelas com quem nos identificamos 
mais. A partilha de tradições, valores e ideias pode se tornar rica e vantajosa 
para a convivência mútua numa sociedade marcada eminentemente 
pela diferença. 
 
 Crash – No limite (2004). EUA: essa produção trabalha brilhantemente o 
racismo, a xenofobia e a segregação na sociedade contemporânea 
estadunidense. “Crash” se passa na cidade de Los Angeles nos Estados 
Unidos, pós 11 de setembro. Nessa cidade, a diversidade cultural é enorme, 
assim, as várias culturas e etnias convivem e se encontram, uma negando a 
outra. O filme gera a possibilidade de reflexão sobre os preconceitos contra 
os negros, os imigrantes e sobre nossas atitudes diante de estereótipos e 
ideias pré-formadas sobre o outro. 
 
Agora acesse o AVA e desenvolva os exercícios propostos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
CÁSSIO, Leonardo. Diversidade Cultural, 2011. Disponível em: 
<http://www.jornalirismo.com.br/cult-cultura/34-outros-autores/1308-a-diversidade-
cultural> Acesso em: 02 abr. 2013. 
KIYINDOU, Alain. Diversidade Cultural. In: Desafios de palavras: enfoques 
multiculturais. coord. Ambrosi, A.; Peugout, V. e Pimienta, D. C&F Editions, 2005. 
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. 
LARAIA, Roque de Barros. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar,1986. 
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 5. ed. São Paulo: 
Brasiliense, 1994. 
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1995. 
THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. 3 vols. Rio de Janeiro: 
Paz e Terra, 1987. 
_______. Costumes e comuns: Estudos sobre a cultura popular tradicional. São 
Paulo: Cia das Letras, 1998.

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