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Sociedade, Comunicação e Cultura Aula 01 Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho Este material é parte integrante da disciplina oferecida pela UNINOVE. O acesso às atividades, conteúdos multimídia e interativo, encontros virtuais, fóruns de discussão e a comunicação com o professor devem ser feitos diretamente no ambiente virtual de aprendizagem UNINOVE. Uso consciente do papel. Cause boa impressão, imprima menos. Aula 01: Cultura Objetivo: Transmitir ao aluno conhecimentos acerca do tema natureza e cultura a partir do conhecimento antropológico e instrumentalizá-lo para o debate acadêmico e social. Natureza e cultura O tempo passa e as questões que intrigam a humanidade continuam as mesmas. Afinal, qual a diferença entre os seres humanos e os animais? Os animais possuem inteligência ou não? Há quem jure que seus animaizinhos de estimação são dotados de inteligência e apresentam as peripécias dos felinos, dos fofos cãezinhos para uma plateia entusiasmada de amigos e parentes, que para o deleite de todos, sob o estímulo de gestos e a compensação de uma guloseima qualquer, deitam, rolam, fingem de morto. Contam como eles que fazem alegria ao ver o dono chegar e entristecem ao vê-lo sair. Bonitinhos de verdade. No entanto, esses animais, que se situam em níveis abaixo do ser humano na escala zoológica do desenvolvimento, agem por puro e simples reflexo e pelo instinto. Os atos instintivos, ainda que estimulados, são considerados por estudiosos “instintos cegos”, ou seja, os animais ignoram a finalidade de suas próprias ações e, principalmente, eles não são capazes de reproduzir o que aprendem, não ensinam outros animais a fazer peripécias para ganhar afagos ou biscoitos. Sua “inteligência” acaba aí. Já o ser humano não só aprende como desenvolve novas habilidades e partilha esses saberes com outros. Ele reproduz conscientemente os conhecimentos e ensinamentos adquiridos. Enquanto ser biologicamente natural faz necessidades fisiológicas, come, bebe, dorme, chora. No entanto, enquanto ser cultural, cada grupo, cada sociedade, fará esse biológico de maneira diferente. Em alguns países ou mesmo regiões do nosso país, as pessoas dormem em rede ou esteiras e não em cama. Uns comem com hashi1, outros com as mãos e outros com garfo e faca. Assim podemos afirmar que o ser humano, diferente dos animais, possui uma inteligência concreta e não apenas instintiva. A linguagem humana Além da razão o que mais nos distingue dos animais é a fala. Somente os seres humanos são dotados da capacidade de falar, de criar símbolos, estabelecer significados para as coisas do mundo. A palavra se encontra no limiar do universo humano e o ser humano ultrapassa os limites da vida animal ao entrar no mundo dos símbolos, dos gestos, das palavras. Claro que os animais, por meio de seus instintos, desenvolvem um padrão de comunicação com os humanos, inclusive emitem sinais que nos permite interpretar o que estão dizendo. Por exemplo, um cão late diante do perigo, abana o rabo de alegria, rosna para ameaçar. Contudo, essa comunicação, como já abordamos anteriormente, é instintiva. O animal não conhece os símbolos, sua “linguagem” é limitada, reduzida. Já a linguagem humana utiliza símbolos universais flexíveis e convencionais. De acordo com Laraia (1986), “há teorias que atribuem capacidades específicas inatas a „raças‟ ou a outras causas biológicas”. No entanto, para os antropólogos, as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais. A sua herança genética nada tem a ver com as suas ações e pensamentos, pois todos os seus atos dependem inteiramente de um processo de aprendizagem. Por isso, voltamos a afirmar que a cultura é algo que aprendemos e que nos é transmitido, partilhado por outros. Não é simplesmente herdado. O que é cultura? A cultura surge exatamente da capacidade do ser humano intervir na natureza, transformá-la e estabelecer significados para o mundo a sua volta. Enquanto o animal, mesmo com todo o adestramento e convivência com os seres humanos continuará mergulhado na natureza, continuará a fazer parte essencialmente dela. Então vamos lá. A palavra cultura2 tem vários significados e em várias ciências, portanto, ficaremos com o sentido antropológico para quem a cultura é tudo aquilo que o ser humano produz ao construir sua existência: suas crenças, valores materiais e espirituais, a linguagem, instituições sociais, sua maneira de pensar e agir, de interpretar o mundo que o cerca, as formas de trabalho, de lazer de expressão artística, de se comunicar, ou seja, de criar sistemas de significados que expresse seu presente, narre o passado e projete o futuro. Enquanto sistema organizador de um grupo, de uma sociedade, a cultura molda o comportamento de uma sociedade, organiza as relações entre os indivíduos que a compõe, estabelece os valores e regras que nortearão a vida social, econômica e política, bem como as sanções a que todos estarão sujeitos. Logo, podemos dizer que como elemento fundante da sociedade, a cultura caracteriza o ser humano como alguém em constante transformação e renovação. Ela não é fixa se não morrer, vai se adequando, se moldando, se transformando no ritmo do desenvolvimento, da história, da modernidade. Vejamos como alguns antropólogos a define: Roberto DaMatta (1997), nosso contemporâneo, afirma ser a cultura um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam e modificam o mundo e a si mesmas. Nesse mesmo sentido, Clifford Geertz (1989) descreve a cultura como o conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções para governar o comportamento humano. Seja como for, percebemos que a cultura é algo construído e partilhado pelo ser humano num processo de aprendizagem contínua. Ela não se encerra no seu passado, mas vai sendo modificada com o passar do tempo, conforme as necessidades de cada grupo, de cada sociedade tendo como espelho as regras, as normas e valores que foram aprendidos ao longo da vida. Se uma cultura não se modificar, não se adaptar à evolução dos tempos, ela morre. A cultura é um elemento de extrema importância para a sobrevivência humana. Sem cultura não haveria sistemas sociais e, portanto, o ser humano seria incapaz de criar a sociedade. Cultura material e cultura imaterial A cultura de uma sociedade compreende tanto aspectos tangíveis (cultura material) – os objetos, os símbolos ou a tecnologia que representam esse conteúdo – como também aspectos intangíveis (cultura imaterial) – as crenças, as ideias e os valores que formam o conteúdo da cultura. Acesse o ambiente virtual de aprendizagem da UNINOVE e veja um slideshow sobre cultura imaterial e cultura material. * O QR Code é um código de barras que armazena links às páginas da web. Utilize o leitor de QR Code de sua preferência para acessar esses links de um celular, tablet ou outro dispositivo com o plugin Flash instalado. Considerações finais A estudar a cultura é de extrema importância para entender a sociedade e os seres humanos. É através desse conhecimento que aprenderemos a respeitar as diferentes formas de ser e agir dos grupos sociais e enriqueceremos o nosso saber. A Antropologia3, como ciência da humanidade e da cultura, não diferencia realidade social e universosimbólico e, por isso, compreende as explicações míticas ou religiosas que os homens dão à sua realidade como elementos que interferem e explicam a produção dessa realidade, e não como distorções ou ideias falsas a seu respeito. Bem, depois dessa imersão no universo da cultura, acesse o AVA AVA e faça os exercícios propostos, pois isso irá enriquecer ainda mais o seu repertório sobre a diversidade cultural. Até a próxima aula, onde continuaremos a falar sobre cultura, mas dessa vez sobre identidade e regras simbólicas. Saiba mais Hashi1: são as varetas utilizadas como talheres em boa parte dos países do Extremo Oriente, como a China, o Japão, o Vietnã e a Coreia. São usualmente feitos de madeira, bambu, marfim ou metal e modernamente de plástico. Cultura2: origem etimológica do termo: latim – colo, colui, cultum, colere = cultivar, tornar comum. Antropologia3: ciência que se dedica ao estudo aprofundado do ser humano. É um termo de origem grega, formado por “anthropos” (homem, ser humano) e “logos” (conhecimento). Vale a pena conferir 1. O Ofício das Baianas de Acarajé foi tombado como patrimônio imaterial da Bahia? Este bem cultural de natureza imaterial, inscrito no Livro dos Saberes em 2005, consiste em uma prática tradicional de produção e venda, em tabuleiro, das chamadas comidas de baiana, feitas com azeite de dendê e ligadas ao culto dos Orixás, amplamente disseminadas na cidade de Salvador, Bahia. Veja mais informações sobre esse e outros patrimônios materiais e imateriais no Banco de dados dos Bens Culturais Registrados do O IPHAN – Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=12744&sigla=Institu cional&retorno=detalheInstitucional>. Acesso em: 26 mar. 2013. * O QR Code é um código de barras que armazena links às páginas da web. Utilize o leitor de QR Code de sua preferência para acessar esses links de um celular, tablet ou outro dispositivo com o plugin Flash instalado. REFERÊNCIAS CHAUÍ, Marilena. Unidade 8: o mundo da prática. Cap. 1: A cultura. In: Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995. DAMATTA, Roberto. Relativizando, uma introdução à Antropologia Social. Petropolis: Vozes,1981. ______. Carnavais, malandros e heróis: por uma sociologia do dilema brasileiro. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. LARAIA, Roque de Barros. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,1986.
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