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UNIEURO - responsabilidade civil do Estado 1º 2015

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CURSO: Direito	
DISCIPLINA:	Direito Constitucional II
PERÍODO MINISTRADO/SEMESTRE/ANO:	1º/2015
PROFESSOR:	Juliano Vieira Alves
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
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RESPONSABILIDADE DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO
CONCEITUAÇÃO
“A responsabilidade civil do Estado diz respeito à obrigação a este imposta de reparar danos causados a terceiros em decorrência de suas atividades ou omissões – por exemplo: atropelamento por veículo oficial, queda em buraco na rua, morte em prisão. A matéria é estuda da também sob outros títulos: responsabilidade patrimonial do Estado, responsabilidade extracontratual do Estado, responsabilidade civil da Administração, responsabilidade patrimonial extracontratual do Estado” (MEDAUAR, 2012, p. 401)
CONSIDERAÇÕES GERAIS
O Estado, nas suas atribuições, atua nas esferas legislativa, executiva e judiciária
Ele pode causar danos por meio dos agentes públicos
Nessas circunstâncias, o “dano sofrido pelo particular, efetivada a indenização por força de disposição constitucional” (NADER, 2008, p. 301).
EVOLUÇÃO E TEORIAS FUNDAMENTAIS DA RESPONSABILIDADE
	a) Teoria da irresponsabilidade
	Anteriormente ao Estado de Direito, republicano e constitucional
Concepção absolutista – Deus escolhe o rei
“Os administrados tinha apenas ação contra o próprio funcionário causador do dano, jamais contra o Estado, que se mantinha distante do problema. Ante a insolvência do funcionário, a ação de indenização quase sempre resultava frustrada” (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 253)
“Levando em consideração que o Brasil obteve a sua independência política em setembro de 1822, o seu nascimento como Estado soberano ocorreu em uma época em que já estava assente a teoria da responsabilidade civil do Estado, de forma que não se experimentou, em nossa história de país independente, essa primeira fase” (MENDES, 2010, p. 970)
	b) Teorias civilistas
	atos de império�
	O Estado é irresponsável
Vitais à existência do Estado e ao cumprimento de sua missão
a) os de guerra, ligados à necessidade pública;
b) os de criação de obrigações públicas;
c) os relativos à admissão e destituição de funcionário, bem como de supressão de cargos;
d) os praticados pelo Poder Judiciário e a elaboração de leis (NADER, 2008, p. 305)
	
	Teoria dos atos de gestão�
	Irresponsabilidade parcial do Estado.
	
	Teoria da culpa civil
	É necessário comprovar a culpa
Código civil 1916
	c) Teorias publicistas
	Teoria da culpa administrativa
	
	Teoria do risco administrativo
	
	Teoria do risco integral
no século XIX, a teoria da irresponsabilidade foi abrandada quando se distinguiu os atos de império e os atos de gestão
A) TEORIA DA IRRESPONSABILIDADE
	Diovani Vandrei Álvares
A teoria da irresponsabilidade foi adotada na época dos Estados absolutistas e fundamentava-se na ideia de soberania, com o Estado dispondo de autoridade incontestável perante seus súditos. Por exercer a tutela do direito, o Estado não poderia agir contra ele mesmo, originando-se daí o princípio de que o rei não pode errar (“the king can do no wrong” ou “Le roi ne peut mal faire”). Aliás, qualquer responsabilidade atribuída ao Estado significaria nivelá-lo aos súditos, em clara afronta a sua soberania (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 640).
Na realidade, a fase da irresponsabilidade estatal – também denominada feudal, regalista ou regaliana – vigorou, a princípio, em todos os Estados, mas tornou-se realmente notável nos absolutistas.
Pode-se considerar ainda que a irresponsabilidade possuía, em sua essência, três justificativas: (a) o Estado era soberano, não podendo ser igualado ao súdito; (b) era o Estado que criava e tutelava as normas, o que o impossibilitava de violá-las; (c) os atos ilícitos praticados por agentes do Estado não poderiam ser imputados a este, sendo de responsabilidade do próprio indivíduo que os cometeu.
Nos Estados absolutos, o soberano tinha seu poder emanado de Deus, não se concebendo que poderia ser capaz de praticar um ato que causasse dano a outrem. 
Além disso, era inadmissível que o Estado, criador de normas, violasse uma norma que poderia ser modificada por ele; e mesmo que a violasse, estaria agindo no interesse da coletividade, não podendo responder por eventual prejuízo causado a um indivíduo.
Já no que tange ao agente público, se este infringisse o direito, atuando com dolo ou culpa, não estaria agindo em nome do Estado, como seu preposto, mas em nome próprio, devendo responder, individualmente, por seus atos, ainda que no exercício de cargo público (BANDEIRA DE MELLO, Oswaldo Aranha. Princípios gerais de direito administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 1974. vol. 2, p. 479).
Assim, os particulares tinham que suportar os prejuízos que lhes eram causados pelos agentes públicos no exercício regular de suas funções, admitindo-se a responsabilidade pessoal destes somente quando agissem contra ou fora dos limites legais (DERGINT, Augusto do Amaral. Responsabilidade do Estado por atos judiciais. São Paulo: Ed. RT, 1994. p. 36).
O rigor da imunidade do Poder Público era, porém, abrandado por leis que dispunham expressamente sobre a obrigação de indenizar, em alguns casos específicos. No entanto, por sua manifesta injustiça, essa teoria não vigorou muito tempo.
The king can do no wrong - responsabilidade objetiva
equiparar o rei a título de responsabilidade seria um "desrespeito à soberania" (DI PIETRO, 2011, p. 395)
B) RESUMO DAS TEORIAS
	Trecho de ALVARES; CASTELUCCHI, 2012:
3.1.2 Teorias civilistas
No século XIX, com a evolução dos contornos da relação entre o Estado e a sociedade, a teoria da irresponsabilidade restava superada, surgindo as teorias civilistas da responsabilidade estatal. Nessa esteira, muitos doutrinadores passaram a defender tal responsabilidade com assento nas regras gerais da responsabilidade civil – baseada na ideia de culpa -, donde decorre a denominação de teorias civilistas.
Desse modo, o Estado passou a ser visto como pessoa jurídica de direito público, detentora de direitos e obrigações, devendo responder pelos atos lesivos praticados por seus agentes, ou à situação pessoal dos mesmos, como a do mandato ou da representação, ou do enriquecimento sem causa, ou ainda do abuso de direito. Isso porque incumbe ao Estado a nomeação de seus agentes.
3.1.2.1 Teoria dos atos de império e de gestão
Em um primeiro momento, para fins de responsabilidade, os atos do Estado eram diferenciados em duas modalidades: atos de império e atos de gestão.
Os atos de império – relacionados às atividades essenciais do Estado – eram os praticados pela Administração no exercício de sua soberania, com prerrogativas de autoridade, sendo insuscetíveis de gerar reparação civil quando acarretassem algum dano. Já os atos de gestão – associados às atividades não essenciais -, por seu turno, eram praticados pela Administração em situação igual a dos particulares, havendo responsabilização civil do Estado nos moldes de uma empresa privada, pelos atos de seus empregados, desde que existente o elemento culpa (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit., p. 640-641).
A teoria civilista teve o inegável mérito de atenuar a irresponsabilidade estatal, mas foi abandonada pela insuficiência de suas proposições, (CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade civil do Estado. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2007. p. 23) visto ser impossível dividir a personalidade do Estado. Realizando ato de império ou ato de gestão, o Estado, sempre que causasse um prejuízo a outrem, deveria ter que responder pela lesão causada, e não apenas quando incorresse na última hipótese, porque ao prejudicado não importa a natureza do ato danoso.
Além do mais, nem sempre era fácil determinar se um ato era de império ou de gestão, o que promovia muitas críticas e incertezas. Por tudo isso, descartou-se, paulatinamente, a responsabilidade fundada nesta teoria.3.1.2.2 Teoria da culpa civil
Após ser rejeitada a distinção entre os atos de império e os atos de gestão, muitos autores continuaram apegados à doutrina civilista, admitindo a responsabilidade do Estado com fundamento na culpa do funcionário. Em outras palavras, configurava-se a imputação ao Estado apenas quando o dano causado ao administrado fosse resultante de conduta culposa do agente público, isto é, quando estivesse presente imprudência, negligência ou imperícia do funcionário. Os atos dolosos, diversamente, eram imputados diretamente ao funcionário (TRUJILLO, Elcio. Responsabilidade do Estado pelo ato ilícito. Dissertação de mestrado em Direito, Franca, Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 1995, p. 65).
Tal teoria, que recebeu a denominação de teoria da culpa civil ou da responsabilidade subjetiva, acabava por exigir demais dos administrados, que tinham que provar o dano, o nexo de causalidade e, inclusive, a atuação culposa do agente público. Foi, portanto, abandonada esta teoria, por constituir um obstáculo à efetivação do direito.
Ademais, não era correto comparar o Estado ao particular, em virtude de aquele possuir poderes e prerrogativas públicas que tornavam inaplicáveis à Administração os princípios subjetivos da culpa civil.
Dessa forma, constatadas as imperfeições da teoria civilista no que concerne à responsabilidade estatal, tomam vulto as teorias públicas, fruto da contribuição da jurisprudência francesa.
3.1.3 Teorias publicistas
Com o advento das teorias publicistas, passa-se a analisar a responsabilidade estatal com fundamento nos princípios de direito administrativo, desvinculando-a do direito civil. Isso porque, fixada a autonomia do direito administrativo em relação ao direito privado, torna-se pacífico o entendimento de que o funcionamento dos serviços públicos deve ser regido por aquele. O primeiro passo no sentido de se firmar esta dissensão entre a responsabilidade estatal e o direito privado foi dado pelo Tribunal de Conflitos francês ao julgar o famoso caso Blanco (Ocorrido em 1873, o caso envolvia uma pretensão de indenização contra o Estado em razão de um acidente com a menina Agnès Blanco que, ao atravessar uma rua na cidade de Bordeaux, foi colhida por uma vagonete da Companhia Nacional de Manufatura. É considerado um marco acerca da responsabilidade do Estado, porque, em decisão histórica, o Tribunal de Conflitos estabeleceu que a ação era de competência administrativa, em razão de se tratar de responsabilidade oriunda do mau funcionamento de um serviço público).
A culpa, então, deixa de vincular-se ao agente público que pratica a violação ao agir em nome do Estado, e passa a ser a culpa do próprio Estado. Há, em síntese, como característica das teorias publicistas, a despersonalização da culpa, transformada, pelo anonimato do agente, em falha da máquina administrativa (CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 34).
Importante notar também que a evolução do tema transita de uma responsabilidade subjetiva, amparada pela culpa, para uma responsabilidade objetiva, consolidada pelo simples nexo causal entre a conduta administrativa e o evento danoso.
3.1.3.1 Teoria da culpa administrativa
A teoria da culpa administrativa – também chamada de teoria da culpa do serviço ou teoria do acidente administrativo -, buscou separar a responsabilidade estatal da noção de culpa do agente público, considerando, para tanto, a culpa do serviço público ou a falta do serviço, expressão oriunda do termo faute du service, conforme ideia trazida pela jurisprudência francesa.
Assim, quando incidisse a culpa individual do funcionário, caracterizada pelo dolo ou pela culpa em sentindo estrito, este devia responder por seu ato. Contudo, quando o funcionário não fosse identificável e o serviço não tivesse funcionado regularmente, quem deveria responder pelo dano era o Estado, em decorrência da culpa anônima do serviço.
Essa culpa do serviço podia ocorrer em três circunstâncias, quais sejam, a inexistência do serviço público, o mau funcionamento e o funcionamento tardio. Em qualquer desses casos, reconhecia-se a existência de culpa, ainda que atribuída à Administração, considerando-se o Estado como responsável pela reparação do prejuízo causado, sem necessidade de se apreciar a culpa do funcionário.
Portanto, consoante esta teoria, bastava que o lesado comprovasse a irregularidade no funcionamento do serviço público, em decorrência de o Estado – que detém o dever de prestá-lo adequadamente -, ter atuado culposamente, para que incorresse a responsabilização deste, independentemente de se identificar o agente público que deu causa ao dano.
Por derradeiro, é preciso apontar que a teoria em questão inclui-se entre as subjetivistas, por apoiar-se no conceito de culpa ou dolo, embora haja alguns doutrinadores que a considerem pertencente à responsabilidade objetiva, alegando que demanda provar somente o nexo e o dano sofrido.
O fato é que, ao se indagar da culpa subjetiva do agente, perquire-se a falta objetiva do serviço em si mesmo, como fato gerador da obrigação de indenizar o dano causado a outrem. Exige-se, pois, da mesma maneira, uma culpa, mas uma culpa especial da Administração, convencionada como culpa administrativa (MEIRELLES, Hely LOPES. Direito administrativo brasileiro. 20. ed. São Paulo: Ed. RT, 1995. p. 556-557).
3.1.3.2 Teoria do risco administrativo
Apesar do avanço trazido pela teoria da culpa administrativa, ainda havia dificuldades no exame dos elementos subjetivos, dolo ou culpa. Nasce, então, a teoria do risco administrativo�, a fim de mitigar os percalços na conquista da efetivação da responsabilidade estatal de ressarcir os prejuízos gerados.
Destarte, a teoria do risco administrativo, ou teoria da responsabilidade objetiva, dispensa a presença de culpa para a configuração da responsabilidade em relação ao evento danoso, sendo necessário apenas o nexo causal entre a conduta (lícita ou ilícita) e o dano – certo e anormal (que difere dos inconvenientes comuns à vida em sociedade) – dela oriundo; ou seja, é indispensável só o “fato do serviço” para emergir o dever estatal de indenizar. Permite-se, por outro lado, a contraprova de excludente de tal responsabilidade.
Assim, é indiscutível que se facilitou ao lesado a reparação do prejuízo sofrido, visto que já não precisa mais provar certas circunstâncias, como a culpa do agente e a falta do serviço.
Esta teoria, consagrada pela maioria dos Estados modernos, surgiu como consectário de o Estado, diferentemente do particular, ser detentor de incomensurável poder jurídico, político e econômico, não sendo justo que o lesado por atividade estatal tivesse que se empenhar demasiadamente para efetivar seu direito à indenização. Logo, o Estado deveria arcar com um risco natural decorrente de suas numerosas atividades, conforme as premissas da justiça social (CARVALHO FILHO, José dos SANTOS. Manual de direito administrativo. 17. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 476).
3.1.3.3 Teoria do risco integral
A teoria do risco integral é modalidade extremada da teoria do risco administrativo, segundo a qual o Estado teria que indenizar qualquer dano ocorrido na prestação de serviço público, independentemente da existência de causa excludente de responsabilidade.
Sob o embasamento do risco integral, o custo do Estado, tido então como um segurador universal, ficaria insustentável e este não subsistiria; de sorte que a teoria que melhor adapta-se à realidade é, sem dúvida, a do risco administrativo (RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 356).
O ordenamento jurídico brasileiro atual contempla no que concerne à responsabilização estatal, a responsabilidade objetiva, fundamentada, predominantemente, na teoria do risco administrativo. Há, contudo, circunstâncias em que se aplica a teoria do risco integral no direito pátrio, como ocorrenos casos de danos causados por acidentes nucleares, decorrentes de atos terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos, contra aeronaves de empresas brasileiras e em algumas hipóteses dispostas no Código Civil.
EVOLUÇÃO LEGISLATIVA NO BRASIL
CÓDIGO CIVIL DE 1916
Art. 15. As pessoas jurídicas de direito público são civilmente responsáveis por atos dos seus representantes que nessa qualidade causem danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao direito ou faltando a dever prescrito por lei, salvo o direito regressivo contra os causadores do dano.
Essa é a teoria da responsabilidade subjetiva das pessoas jurídicas de direito público: “Embora houvesse alguns defensores da ideia de que o dispositivo já abrigava a ideia de responsabilidade objetiva, prevaleceu, na doutrina e jurisprudência, o entendimento de que o Estado somente respondia se demonstrada a culpa do funcionário; isso por causa da expressão procedendo de modo contrário ao direito ou faltando a dever prescrito por lei, contida no corpo do dispositivo” (DI PIETRO, 2011, p. 399).
“Não obstante a redação ambígua desse dispositivo, o que ensejou alguma controvérsia inicial a melhor doutrina acabou firmando entendimento no sentido de ter sido, nele, consagrada a teoria da culpa como fundamento da responsabilidade civil do Estado. Tanto é assim que fala em representantes, ainda ligado à ideia de que o funcionário representaria o Estado, seria o seu preposto, tal como ocorre no Direito Privado. Ademais, as expressões ‘procedendo de modo contrário ao Direito ou faltando a dever prescrito em lei’ não teriam sentido se não se referissem à culpa do funcionário” (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 259)
dispositivo revogado pela CF
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1934
Art 171 - Os funcionários públicos são responsáveis solidariamente com a Fazenda nacional, estadual ou municipal, por quaisquer prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso no exercício dos seus cargos.
§1º - Na ação proposta contra a Fazenda pública, e fundada em lesão praticada por funcionário, este será sempre citado como litisconsorte.
§2º - Executada a sentença contra a Fazenda, esta promoverá execução contra o funcionário culpado.
CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, de 1937
Art 158 - Os funcionários públicos são responsáveis solidariamente com a Fazenda nacional, estadual ou municipal por quaisquer prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso no exercício dos seu cargos.
Em ambas, adotou-se a tese da “responsabilidade solidária entre o funcionário e a Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal por quaisquer prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso no exercício de seus cargos. Como se verifica, eram duas regas: a da responsabilidade solidária e a da responsabilidade subjetiva (ligada à ideia de culpa do funcionário)” (DI PIETRO, 2011, p. 400)
CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1946
Art 194 - As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis pelos danos que os seus funcionários, nessa qualidade, causem a terceiros.
Parágrafo único - Caber-lhes-á ação regressiva contra os funcionários causadores do dano, quando tiver havido culpa destes.
ADOTOU-SE, PORTANTO, A TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA
Interpretação de Hely Lopes Meirelles sobre esse dispositivo: “O exame desse artigo revela que o constituinte de 1946 estabeleceu para todas as entidades estatais e seus desmembramentos autárquicos a obrigação de indenizar o dano causado a terceiros, por seus servidores, independentemente da prova de culpa no cometimento da lesão. Firmou, assim, o princípio objetivo da responsabilidade sem culpa pela atuação lesiva dos agentes públicos” (apud, CAVALIERI FILHO, 2012, p. 260)
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1967 e EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 1, DE 17 DE OUTUBRO DE 1969
Mantida durante a emenda nº 1/69 (art. 107) – mudou o parágrafo único – a ação regressiva trata da culpa ou dolo
Art 105 - As pessoas jurídicas de direito público respondem pelos danos que seus funcionários, nessa qualidade, causem a terceiros.
Parágrafo único - Caberá ação regressiva contra o funcionário responsável, nos casos de culpa ou dolo.
Dúvidas que surgiram na vigência desta constituição
(a) qual a abrangência da expressão “Administração”?
(b) o vocábulo “funcionários” abrangia agentes políticos? (parlamentares e membros da magistratura)?
Em 1988, tentou-se superar as controvérsias
Art. 37, §6º
“pessoas jurídicas de direito público” → “pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos”
“funcionários” → “agentes”
“funcionários”: somente aqueles que tinham vínculo estatutário com o Estado
“agentes públicos”
(a) “abrangem todas as pessoas físicas que exerçam alguma atribuição em nome do Estado, com ou sem vínculo empregatício e qualquer que seja a natureza do vínculo”;
(b) “a amplitude do termo permite abranger os membros dos três Poderes do Estado e, inclusive, os particulares que, a qualquer título, prestem serviços públicos” (DI PIETRO, 2011, p. 400)
A discussão ainda hoje persiste com relação a danos causados por atos dos Poderes Legislativo e Judiciário
A CONSTITUIÇÃO ATUAL (1988)
art. 37, §6º: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (1990)
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
CÓDIGO CIVIL (2002):
Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
muito embora seja posterior à Constituição Federal de 1988, o CC não se referiu às pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos. Entretanto isso é irrelevante “diante da maior amplitude do dispositivo constitucional, que não deixa dúvida quanto a esse aspecto” (DI PIETRO, 2011, p. 401)
DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA
PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE SEM CULPA
(A) prática de um ato lícito ou ilícito por agente público
(B) a ocorrência de dano específico (que atinge um ou alguns membros da coletividade) e anormal (porque supera os inconvenientes normais da vida em sociedade, decorrentes da atuação estatal);
(C) o nexo de causalidade entre o ato (ou a omissão) do agente público e o dano.
Também chamada de
TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA: “por prescindir da apreciação dos elementos subjetivos (culpa ou dolo)” (DI PIETRO, 2011, p. 401);
TEORIA DO RISCO: “porque se parte da ideia de que a atuação estatal envolve (ou pode envolver) um risco de dano para o cidadão” (DI PIETRO, 2011, p. 401)
OBSERVAÇÃO: a ideia de risco também é acolhida no direito privado – art. 927, parágrafo único, do CC
Informada pela teoria do risco
Não se invoca dolo ou culpa do agente
Não se invoca o mau funcionamento ou falha da Administração
A única necessidade consiste em demonstrar a relação de causa e efeito entre a ação (ou omissão) e dano sofrido
Mesmo consagrando a teoria do risco administrativo, ressalva algumas hipóteses em que é possível perquirir a culpa lato sensu:
i) quando a vítima tiver concorrido para o acontecimento danoso; e
ii) quando se tratar de ato omissivo.
Os pontos a seguir, extraídos da ementa do acórdão proferidono RE 179.147 (rel. min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ 27.02.1998), sintetizam bem a questão:
"(...) I. - A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público, responsabilidade objetiva, com base no risco administrativo, ocorre diante dos seguintes requisitos: a) do dano; b) da ação administrativa; c) e desde que haja nexo causal entre o dano e a ação administrativa.
II. - Essa responsabilidade objetiva, com base no risco administrativo, admite pesquisa em torno da culpa da vítima, para o fim de abrandar ou mesmo excluir a responsabilidade da pessoa jurídica de direito público ou da pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público.
III. - Tratando-se de ato omissivo do poder público, a responsabilidade civil por tal ato é subjetiva, pelo que exige dolo ou culpa, numa de suas três vertentes, negligência, imperícia ou imprudência, não sendo, entretanto, necessário individualizá-la, dado que pode ser atribuída ao serviço público, de forma genérica, a faute de service dos franceses. (...)"
OUTRO JULGAMENTO DIDÁTICO (RTJ 163/1107-1109, Rel. Min. CELSO DE MELLO):
Elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem:
(a) a alteridade do dano;
(b) a causalidade material entre o “eventus damni” e o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público;
(c) a oficialidade da atividade causal e lesiva imputável a agente do Poder Público, que, nessa condição funcional, tenha incidido em conduta comissiva ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do seu comportamento funcional (RTJ 140/636); e
(d) a ausência de causa excludente da responsabilidade estatal
Princípios que respaldam a responsabilização objetiva do Estado:
A) justiça – equidade
Neminen laedere: todo causador de dano fica obrigado a repará-lo
Com a multiplicidade e amplitude das atividades bem como as prerrogativas da Administração ensejam maior risco de danos a terceiros
Nem sempre é possível identificar o agente causador ou dolo/culpa
“Melhor se asseguram os direitos da vítima ante o tratamento objetivo da responsabilidade da Administração” (MEDAUAR, 2012, p. 403)
B) igualdade
Também denominada de “solidariedade social”
“se, em tese, todos se beneficiam das atividades da Administração, todos (representados pelo Estado) devem compartilhar do ressarcimento dos danos que essas atividades causam a alguns” (MEDAUAR, 2012, p. 403).
“Chegou-se a essa posição com base nos princípios da equidade e da igualdade de ônus e encargos sociais. Se a atividade administrativa do Estado é exercida em prol da coletividade, se traz benefícios para todos, justo é, também, que todos respondam pelos seus ônus, a serem custeados pelos impostos. O que não tem sentido, nem amparo jurídico, é fazer com que um ou apenas alguns administrados sofram todas as consequências danosas da atividade administrativa” (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 256).
Marcelo Caetano: "Se um direito tem de ser sacrificado ao interesse público, torna-se necessário que esse sacrifício não fique inìquamente suportado por uma pessoa só, mas que seja repartido pela colectividade. Como se faz tal repartição? Convertendo o direito sacrificado no seu equivalente pecuniário (justa indemnização) pago pelo erário público para o qual contribui a generalidade dos cidadãos mediante a satisfação dos impostos. Assim, a responsabilidade pelos prejuízos causados na esfera jurídica dos particulares em consequência do sacrifício especial de direitos determinado por factos lícitos da Administração Pública funda-se no princípio da igualdade dos cidadãos na repartição dos encargos públicos" (apud Nobre Júnior, 2003)
YUSSEF SAID CAHALI (“Responsabilidade Civil do Estado”, p. 44, item n. 3.5, 3ª ed., 2007, RT): “A responsabilidade civil do Estado, com base no risco administrativo, que admite pesquisa em torno da culpa do particular, para o fim de abrandar ou mesmo excluir a responsabilidade estatal, ocorre, em síntese, diante dos seguintes requisitos: a) do dano; b) da ação administrativa; e c) desde que haja nexo causal entre o dano e a ação administrativa. A consideração no sentido da licitude da ação administrativa é irrelevante, pois o que interessa é isto: sofrendo o particular um prejuízo, em razão da atuação estatal, regular ou irregular, no interesse da coletividade, é devida a indenização, que se assenta no princípio da igualdade dos ônus e encargos sociais.”
RESPONSABLIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇAO PÚBLICA
REQUISITOS PARA QUE O ESTADO RESPONDA
(A) que o ato lesivo seja praticado por agentes de pessoas jurídica de direito público ou pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público;
(B) que o dano seja causado a terceiros;
(C) que o dano seja causado por agente das aludidas pessoas jurídicas;
(D) que o agente, ao causar o dano, esteja agindo nessa qualidade.
SÃO DUAS AS RELAÇÕES DE REPONSABILIDADE
a do poder público e seus delegados na prestação do serviço público perante a vítima do dano – caráter objetivo – baseado no nexo causal
a do agente causador do dano, perante a Administração Pública ou empregador – caráter subjetivo – calcado no dolo/culpa
extensão às pessoas jurídicas de direito público e às de direito privado, prestadoras de serviços públicos
o termo "funcionários" é substituído por "agentes"
temas relevantes: "serviço público" e "agente público"
AGENTES: a expressão abarcar “todas as pessoas que, mesmo de modo efêmero, realizam funções públicas. Qualquer tipo de vínculo funcional, o exercício de funções de fato, de funções em substituição, o exercício de funções por agente de outra entidade ou órgão, o exercício de funções por delegação, o exercício de atividades por particulares sem vínculo de trabalho (mesários e apuradores em eleições gerais) ensejam responsabilização” (MEDAUAR, 2012, p. 406).
“Incluem-se na qualidade de agente público desde as mais altas autoridades até os mais modestos trabalhadores que atuam pelo aparelho estatal” (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 266)
NESSA QUALIDADE: deve haver um vínculo entre o desempenho da atividade e o evento danoso: “Assim, se um agente exerce a função de motorista e provoca um acidente no seu período de férias, sem o veículo oficial, não há cogitar de responsabilidade da Administração. Mas se um policial militar, no exercício das atividades de sua função, dirige veículo particular e atropela pedestre, o caso é de responsabilização. Ainda que o agente tenha tido conduta abusiva ou excessiva, fora dos padrões e normas vigentes, tal situação enseja a responsabilidade do Estado” (MEDAUAR, 2012, p. 406).
POLICIAL CIVIL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA POR ATO ILÍCITO PRATICADO PELO AGENTE PÚBLICO NO EXERCÍCIO DAS SUAS FUNÇÕES. INDENIZAÇÃO DEVIDA. 1. A Constituição Federal responsabiliza as pessoas jurídicas de direito público pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, não sendo exigível que o servidor tenha agido no exercício das suas funções. 2. Dano causado por policial. Responsabilidade objetiva do Estado em face da presunção de segurança que o agente proporciona ao cidadão, a qual não é elidida pela alegação de que este agiu com abuso no exercício das suas funções. Ao contrário, a responsabilidade da Administração Pública é agravada em razão do risco assumido pela má seleção do servidor - RE 135310, Relator: Min. MAURÍCIO CORRÊA, Segunda Turma, julgado em 10/11/1997.
OBS: sobre o aspecto destacado, conferir o RE363423 abaixo!
“Agressão praticada por soldado, com a utilização de arma da corporação militar: incidência da responsabilidade objetiva do Estado, mesmo porque, não obstante fora do serviço, foi na condição de policial-militar que o soldado foi corrigir as pessoas. O que deve ficar assentado é que o preceito inscrito no art. 37, §6º, da C.F., não exige que o agente público tenha agidono exercício de suas funções, mas na qualidade de agente público” - RE 160401, Relator: Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 20/04/1999
Sergio Cavalieri Filho, após citar esse precedente, afirma: “Não basta, portanto, para emergir a responsabilidade do Estado, que o ato ilícito tenha sido praticado por agente público. É também preciso que a condição de agente estatal tenha contribuído para a prática do ilícito, ainda que simplesmente proporcionado a oportunidade ou ocasião para o comportamento ilícito. A contrario sensu, o Estado não poderá ser responsabilizado se o ato ilícito, embora praticado por servidor, este não se encontrava na qualidade de agente público” (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 262)
"Responsabilidade objetiva do Estado. Acidente de trânsito envolvendo veículo oficial. Responsabilidade pública que se caracteriza, na forma do §6.º do art. 37 da CF, ante danos que agentes do ente estatal, nessa qualidade, causarem a terceiros, não sendo exigível que o servidor tenha agido no exercício de suas funções" (RE 294.440-AgR, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 14-5-2002, Primeira Turma, DJde 2-8-2002)
IMPORTANTE: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. LESÃO CORPORAL. DISPARO DE ARMA DE FOGO PERTENCENTE À CORPORAÇÃO. POLICIAL MILITAR EM PERÍODO DE FOLGA. Caso em que o policial autor do disparo não se encontrava na qualidade de agente público. Nessa contextura, não há falar de responsabilidade civil do Estado" - RE 363423, Relator: Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em 16/11/2004
IMPORTANTE: os fatos: o policial militar "tinha um relacionamento amoroso com a vítima, que pretendia deixá-lo. Não admitindo a situação, foi [ele] até a loja onde a mesma trabalhava e aproximando-se disse: 'se não é para mim, não é para você', desfechando-lhe vários tiros".
Trecho do voto do Ministro Eros Grau que fez o relator mudar de ideia:
“20. Dir-se-á que teria havido culpa in eligendo, decorrente do ato de admissão do policial no serviço público, e culpa in vigilando, por ter sido a arma entregue a um policial 'sem equilíbrio psicológico ou freio moral para recebê-la'. Ora, no que concerne à responsabilidade objetiva do Estado, o fato da culpa é desconsiderado: acertado o nexo de causalidade entre o dano sofrido e a conduta do agente público, a verificação da existência de culpa do agente é pressuposto tão-só da ação regressiva do Estado contra ele; não motivação para a indenização da vítima. Desse modo, a falar-se em culpa in eligendo ou in vigilando estar-se-ia remontando à teoria da equivalência das causas ou das condições - pertinentes à teoria da responsabilidade subjetiva - importando-se-a indevidamente para território da responsabilidade objetiva do Estado” (fl. 486 do acórdão e p. 13 do voto do Ministro Eros Grau.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO: §6º DO ART. 37 DA MAGNA CARTA. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. AGENTE PÚBLICO (EX-PREFEITO). PRÁTICA DE ATO PRÓPRIO DA FUNÇÃO. DECRETO DE INTERVENÇÃO. O § 6º do artigo 37 da Magna Carta autoriza a proposição de que somente as pessoas jurídicas de direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que prestem serviços públicos, é que poderão responder, objetivamente, pela reparação de danos a terceiros. Isto por ato ou omissão dos respectivos agentes, agindo estes na qualidade de agentes públicos, e não como pessoas comuns. Esse mesmo dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia: uma, em favor do particular, possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de direito público, ou de direito privado que preste serviço público, dado que bem maior, praticamente certa, a possibilidade de pagamento do dano objetivamente sofrido. Outra garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente responde administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional se vincular" - RE 327904, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em 15/08/2006.
TERCEIRO: “O vocábulo terceiro indica não apenas as jurídicas privadas, mas também outras pessoas administrativas. Também compreende tanto as pessoas físicas não integrantes da Administração como os próprios agentes estatais eventualmente lesados” (JUSTEN FILHO, 2012, p. 1218).
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. AGENTE E VÍTIMA: SERVIDORES PÚBLICOS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO: CF, art. 37, § 6º. I. - O entendimento do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que descabe ao intérprete fazer distinções quanto ao vocábulo "terceiro" contido no § 6º do art. 37 da Constituição Federal, devendo o Estado responder pelos danos causados por seus agentes qualquer que seja a vítima, servidor público ou não" - AI 473381 AgR, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 20/09/2005.
O STF vem reconhecendo que a responsabilidade objetiva alcança também danos sofridos por não usuários do serviço:
CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO. PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO. CONCESSIONÁRIO OU PERMISSIONÁRIO DO SERVIÇO DE TRANSPORTE COLETIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA EM RELAÇÃO A TERCEIROS NÃO-USUÁRIOS DO SERVIÇO. RECURSO DESPROVIDO. I - A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários e não-usuários do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da Constituição Federal. II - A inequívoca presença do nexo de causalidade entre o ato administrativo e o dano causado ao terceiro não-usuário do serviço público, é condição suficiente para estabelecer a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica de direito privado" - RE 591874, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 26/08/2009.
Não somente a pessoa física, mas a coletividade também
ADMINISTRATIVO - TRANSPORTE - PASSE LIVRE - IDOSOS - DANO MORAL COLETIVO - DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA DOR E DE SOFRIMENTO - APLICAÇÃO EXCLUSIVA AO DANO MORAL INDIVIDUAL - CADASTRAMENTO DE IDOSOS PARA USUFRUTO DE DIREITO - ILEGALIDADE DA EXIGÊNCIA PELA EMPRESA DE TRANSPORTE - ART. 39, § 1º DO ESTATUTO DO IDOSO - LEI 10741/2003 VIAÇÃO NÃO PREQUESTIONADO. 1. O dano moral coletivo, assim entendido o que é transindividual e atinge uma classe específica ou não de pessoas, é passível de comprovação pela presença de prejuízo à imagem e à moral coletiva dos indivíduos enquanto síntese das individualidades percebidas como segmento, derivado de uma mesma relação jurídica-base. 2. O dano extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo psicológico, suscetíveis de apreciação na esfera do indivíduo, mas inaplicável aos interesses difusos e coletivos. 3. Na espécie, o dano coletivo apontado foi a submissão dos idosos a procedimento de cadastramento para o gozo do benefício do passe livre, cujo deslocamento foi custeado pelos interessados, quando o Estatuto do Idoso, art. 39, § 1º exige apenas a apresentação de documento de identidade" - REsp 1057274/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2009.
Não é mais necessário o comportamento culposo do funcionário
REQUISITOS PARA A CONFIGURAÇÃO DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO
"A responsabilidade civil do Estado, responsabilidade objetiva, com base no risco administrativo, que admite pesquisa em torno da culpa do particular, para o fim de abrandar ou mesmo excluir a responsabilidade estatal, ocorre, em síntese, diante dos seguintes requisitos: a) do dano; b) da ação administrativa; c) e desde que haja nexo causal entre o dano e a ação administrativa. A consideração no sentido da licitude da ação administrativa e irrelevante, pois o que interessa, e isto: sofrendo o particular um prejuízo, em razão da atuação estatal, regular ou irregular, no interesse da coletividade, e devida a indenização, que se assenta no princípio da igualdade dos ônus e encargos sociais. II. Ação de indenização movida por particular contra o Município,em virtude dos prejuízos decorrentes da construção de viaduto. Procedência da ação" - RE 113587, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 18/02/1992.
basta o dano “causado por agente do serviço público agindo nessa qualidade, para que decorra o dever do Estado de indenizar” (GONÇALVES, 2012, p. 150)
	QUESTÕES CAPITAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE ESTATAL
(MELLO, 2006, P. 961)
	Quais os sujeitos cujo comportamento pode comprometer responsabilidade estatal?
	Quais os caracteres da conduta lesiva necessários para engajamento da responsabilidade, ou seja: basta a mera objetividade de um comportamento público gerador (ou ensejador) do dano ou é necessário que nele se revele culpa ou dolo?
	Quais as características do dano para que seja indenizável?
	Quais as hipóteses de exclusão da responsabilidade estatal?
	Características do dano indenizável (MENDES, 2010, p. 978)
	O dano deve incidir sobre um direito
	O dano tem de ser certo, real
	Tem de ser um dano especial
	Há de ocorrer um dano anormal
o dano indenizável “...deve ser certo, real, não apenas eventual, possível. O dano especial é aquele que onera, de modo particular, o direito do indivíduo, pois um prejuízo genérico, disseminado pela sociedade, não pode ser acobertado pela responsabilidade objetiva do Estado. Bandeira de Mello pontifica que o dano especial é aquele que ‘corresponde a uma agravo patrimonial que incide especificamente sobre certo ou certos indivíduos e não sobre a coletividade ou sobre genérica e abstrata categoria de pessoas. Por isso não estão acobertadas, por exemplo, as perdas de poder aquisitivo da moeda, decorrentes de medidas econômicas estatais inflacionárias’. E, dano anormal, para o festejado doutrinador ‘é aquele que supera os meros agravos patrimoniais pequenos e inerentes às condições de convívio social’” (MENDES, 2010, pp. 978-979).
"A intervenção estatal na economia, mediante regulamentação e regulação de setores econômicos, faz-se com respeito aos princípios e fundamentos da Ordem Econômica. CF, art. 170. O princípio da livre iniciativa é fundamento da República e da Ordem Econômica: CF, art. 1º, IV; art. 170. Fixação de preços em valores abaixo da realidade e em desconformidade com a legislação aplicável ao setor: empecilho ao livre exercício da atividade econômica, com desrespeito ao princípio da livre iniciativa. Contrato celebrado com instituição privada para o estabelecimento de levantamentos que serviriam de embasamento para a fixação dos preços, nos termos da lei. Todavia, a fixação dos preços acabou realizada em valores inferiores. Essa conduta gerou danos patrimoniais ao agente econômico, vale dizer, à recorrente: obrigação de indenizar por parte do Poder Público. CF, art. 37, §6º. Prejuízos apurados na instância ordinária, inclusive mediante perícia técnica": AI 752.432-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 24-8-2010, Primeira Turma, DJE de 24-9-2010.
SOBRE O NEXO DE CAUSALIDADE
TEORIA
Responsabilidade civil do Estado. Dano decorrente de assalto por quadrilha de que fazia parte preso foragido vários meses antes. - A responsabilidade do Estado, embora objetiva por força do disposto no artigo 107 da Emenda Constitucional n. 1/69 (e, atualmente, no parágrafo 6º do artigo 37 da Carta Magna), não dispensa, obviamente, o requisito, também objetivo, do nexo de causalidade entre a ação ou a omissão atribuída a seus agentes e o dano causado a terceiros. - Em nosso sistema jurídico, como resulta do disposto no artigo 1.060 do Código Civil, a teoria adotada quanto ao nexo de causalidade e a teoria do dano direto e imediato, também denominada teoria da interrupção do nexo causal. Não obstante aquele dispositivo da codificação civil diga respeito a impropriamente denominada responsabilidade contratual, aplica-se ele também a responsabilidade extracontratual, inclusive a objetiva, até por ser aquela que, sem quaisquer considerações de ordem subjetiva, afasta os inconvenientes das outras duas teorias existentes: a da equivalência das condições e a da causalidade adequada. - No caso, em face dos fatos tidos como certos pelo acórdão recorrido, e com base nos quais reconheceu ele o nexo de causalidade indispensável para o reconhecimento da responsabilidade objetiva constitucional, e inequívoco que o nexo de causalidade inexiste, e, portanto, não pode haver a incidência da responsabilidade prevista no artigo 107 da Emenda Constitucional n. 1/69, a que corresponde o parágrafo 6. do artigo 37 da atual Constituição. Com efeito, o dano decorrente do assalto por uma quadrilha de que participava um dos evadidos da prisão não foi o efeito necessário da omissão da autoridade pública que o acórdão recorrido teve como causa da fuga dele, mas resultou de concausas, como a formação da quadrilha, e o assalto ocorrido cerca de vinte e um meses após a evasão - RE 130764, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em 12/05/1992.
ALGEMAS:
Súmula Vinculante 11: "Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado".
MORTE DE PRESO
"Morte de detento por colegas de carceragem. Indenização por danos morais e materiais. Detento sob a custódia do Estado. Responsabilidade objetiva. Teoria do Risco Administrativo. Configuração do nexo de causalidade em função do dever constitucional de guarda (art. 5º, XLIX). Responsabilidade de reparar o dano que prevalece ainda que demonstrada a ausência de culpa dos agentes públicos." (RE 272.839, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 1º-2-2005, Segunda Turma, DJ de 8-4-2005.) No mesmo sentido: AI 756.517-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 22-9-2009, Primeira Turma, DJE de 23-10-2009; AI 718.202-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 28-4-2009, Primeira Turma, DJE de 22-5-2009; AI 512.698-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 13-12-2005, Segunda Turma, DJ de 24-2-2006. Vide: RE 170.014, Min. Ilmar Galvão, julgamento em 31-10-1997, Primeira Turma, DJ de 13-2-1998.
Informativo STF Nº 329 - Brasília, 10 a 14 de novembro de 2003
Responsabilidade Civil e Ato Omissivo - 1
A Turma negou provimento a recurso extraordinário no qual se pretendia, sob a alegação de ofensa ao art. 37, §6º, da CF, a reforma de acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte que, entendendo caracterizada na espécie a responsabilidade objetiva do Estado, reconhecera o direito de indenização devida a filho de preso assassinado dentro da própria cela por outro detento. A Turma, embora salientando que a responsabilidade por ato omissivo do Estado caracteriza-se como subjetiva - não sendo necessária, contudo, a individualização da culpa, que decorre, de forma genérica, da falta do serviço -, considerou presente, no caso, o nexo de causalidade entre a ação omissiva atribuída ao Poder Público e o dano, por competir ao Estado zelar pela integridade física do preso. Precedentes citados: RE 81602/MG (RTJ 77/601), RE 84072/BA (RTJ 82/923). RE 372472/RN, rel. Min. Carlos Velloso, 4.11.2003. (RE-372472)
FUGA
"Latrocínio praticado por preso foragido, meses depois da fuga. Fora dos parâmetros da causalidade não é possível impor ao Poder Público uma responsabilidade ressarcitória sob o argumento de falha no sistema de segurança dos presos. Precedente da Primeira Turma: RE 130.764, Rel. Min. Moreira Alves." (RE 172.025, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 8-10-1996, Primeira Turma, DJ de 19-12-1996.) Vide: RE 607.771-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 20-4-2010, Segunda Turma, DJE de 14-5-2010.
CASOS DE VIOLÊNCIA URBANA
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. MORTE DECORRENTE DE "BALA PERDIDA"DISPARADA POR MENOR EVADIDO HÁ UMA SEMANA DE ESTABELECIMENTO DESTINADO AO CUMPRIMENTO DE MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE SEMI-LIBERDADE. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE.
1. A imputação de responsabilidade civil, objetiva ou subjetiva, supõe a presença de dois elementos de fato (a conduta do agente e o resultado danoso) e um elemento lógico-normativo, o nexo causal (que é lógico, porque consiste num elo referencial, numa relação de pertencialidade, entre os elementos de fato; e é normativo, porque tem contornos e limites impostos pelo sistema de direito).
2.“Ora, em nosso sistema, como resulta do disposto no artigo 1.060 do Código Civil [art. 403 do CC/2002], a teoria adotada quanto ao nexo causal é a teoria do dano direto e imediato, também denominada teoria da interrupção do nexo causal. Não obstante aquele dispositivo da codificação civil diga respeito à impropriamente denominada responsabilidade contratual, aplica-se também à responsabilidade extracontratual, inclusive a objetiva (...). Essa teoria, como bem demonstra Agostinho Alvim (Da Inexecução das Obrigações, 5ª ed., nº 226, p. 370, Editora Saraiva, São Paulo, 1980), só admite o nexo de causalidade quando o dano é efeito necessário de uma causa” (STF, RE 130.764, 1ª Turma, DJ de 07.08.92, Min. Moreira Alves).
3. No caso, não há como afirmar que a deficiência do serviço do Estado (que propiciou a evasão de menor submetido a regime de semi-liberdade) tenha sido a causa direta e imediata do tiroteio entre o foragido e um seu desafeto, ocorrido oito dias depois, durante o qual foi disparada a "bala perdida" que atingiu a vítima, nem que esse tiroteio tenha sido efeito necessário da referida deficiência. Ausente o nexo causal, fica afastada a responsabilidade do Estado. Precedentes de ambas as Turmas do STF em casos análogos" - REsp 858511/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, Rel. p/ Acórdão Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/08/2008.
CASO DO DETRAN:
“Veículo registrado pelo Detran, mas que veio a ser apreendido pela polícia por ser objeto de furto. Não se pode impor ao Estado o dever de ressarcir o prejuízo, conferindo-se ao certificado de registro de veículo, que é apenas título de propriedade, o efeito legitimador da transação, e dispensando-se o adquirente de diligenciar, quando da sua aquisição, quanto à legitimidade do título do vendedor. Fora dos parâmetros da causalidade não é possível impor ao Poder Público o dever de indenizar sob o argumento de falha no sistema de registro.” (RE 215.987, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 14-9-1999, Primeira Turma, DJ de 12-11-1999.)
"Veículo admitido a registro, pelo Departamento Estadual de Trânsito, a requerimento do adquirente, mas que depois se verificou haver sido objeto de furto. Ausente o nexo causal, entre a atividade do funcionário e o prejuízo enfrentado pelo mencionado adquirente, não se acha caracterizada a responsabilidade civil do Estado. Precedentes do Supremo Tribunal: RE 64.600, RE 86.656 e RE 111.715." (RE 134.298, Rel. Min. Octavio Gallotti, julgamento em 4-2-1992, Primeira Turma, DJ de 13-3-1992.)
OUTROS CASOS
"O indeferimento do pedido de matrícula não implica, como decorrência natural, a contratação de empréstimo junto à Caixa Econômica para custear os estudos em instituição de ensino superior privada. Recurso Extraordinário a que se nega provimento." (RE 364.631, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 29-8-2006, Segunda Turma, DJ de 19-10-2007.)
SUJEITOS PASSIVOS DA AÇAO: ESTADO E FUNCIONÁRIO
Pessoas jurídicas de direito público
Pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos
O regime “não se aplica quando as atividades administrativas forem desenvolvidas por entidades estatais dotadas de personalidade jurídica de direito privado, exploradoras de atividade econômica” (JUSTEN FILHO, 2012, p. 1222)
Responsabilidade contratual subsidiária: “Acórdão que entendeu ser aplicável ao caso o que dispõe o inciso IV da Súmula TST 331, sem a consequente declaração de inconstitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993 com a observância da cláusula da reserva de Plenário, nos termos do art. 97 da CF. Não houve no julgamento do incidente de uniformização de jurisprudência (...) a declaração formal da inconstitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993, mas apenas e tão somente a atribuição de certa interpretação ao mencionado dispositivo legal. (...) As disposições insertas no art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993 e no inciso IV da Súmula TST 331 são diametralmente opostas. O art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993 prevê que a inadimplência do contratado não transfere aos entes públicos a responsabilidade pelo pagamento de encargos trabalhistas, fiscais e comerciais, enquanto o inciso IV da Súmula TST 331 dispõe que o inadimplemento das obrigações trabalhistas pelo contratado implica a responsabilidade subsidiária da Administração Pública, se tomadora dos serviços. O acórdão impugnado, ao aplicar ao presente caso a interpretação consagrada pelo TST no item IV do Enunciado 331, esvaziou a força normativa do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993. Ocorrência de negativa implícita de vigência ao art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993, sem que o Plenário do TST tivesse declarado formalmente a sua inconstitucionalidade. Ofensa à autoridade da Súmula Vinculante 10 devidamente configurada.” (Rcl 8.150-AgR, Rel. p/ o ac. Min. Ellen Gracie, julgamento em 24-11-2010, Plenário, DJE de 3-3-2011.) No mesmo sentido: Rcl 7.517-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 24-11-2010, Plenário, DJE de 14-4-2011.Vide: ADC 16, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 24-11-2010, Plenário, DJE de 9-9-2011.
“Responsabilidade objetiva do Estado por atos do Ministério Público (...). A legitimidade passiva é da pessoa jurídica de direito público para arcar com a sucumbência de ação promovida pelo Ministério Público na defesa de interesse do ente estatal. É assegurado o direito de regresso na hipótese de se verificar a incidência de dolo ou culpa do preposto, que atua em nome do Estado.” (AI 552.366-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 6-10-2009, Segunda Turma, DJE de 29-10-2009.) Vide: RE 551.156-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 10-3-2009, Segunda Turma, DJE de 3-4-2009.
AÇÃO REGRESSIVA
DENUNCIAÇÃO DA LIDE AO FUNCIONÁRIO OU AGENTE PÚBLICO
DISSENSO NA DOUTRINA E NA JURISPRUDENCIA (MEDAUAR, 2012, p. 407-408)
JUSTIFICATIVAS CONTRÁRIAS
o art. 70, III, do CPC deixa de prevalecer sobre o §6º, do art. 37, da CF, pois a CF responsabiliza o Estado pelo ressarcimento à vítima com base na prova do nexo causal;
deve-se priorizar o direito da vítima – demora do andamento do processo
ingerência de fundamento novo na demanda
JUSTIFICATIVAS FAVORÁVEIS
o art. 70, III, do CPC alcança todos os casos de ação regressiva;
economia processual;
evitar decisões conflitantes
recusar a denunciação cerceia um direito da Administração
tendência ao ajuizamento da ação contra a pessoa jurídica e não em face do agente público
"RESPONSABILIDADE CIVIL DAS PESSOAS DE DIREITO PÚBLICO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO MOVIDA CONTRA O ENTE PÚBLICO E O FUNCIONÁRIO CAUSADOR DO DANO - POSSIBILIDADE. O FATO DE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL PREVER DIREITO REGRESSIVO AS PESSOAS JURIDICAS DE DIREITO PÚBLICO CONTRA O FUNCIONÁRIO RESPONSÁVEL PELO DANO NÃO IMPEDE QUE ESTE ÚLTIMO SEJA ACIONADO CONJUNTAMENTE COM AQUELAS, VEZ QUE A HIPÓTESE CONFIGURA TIPICO LITISCONSORCIO FACULTATIVO - VOTO VENCIDO" - RE 90071, Relator(a): Min. CUNHA PEIXOTO, Tribunal Pleno, julgado em 18/06/1980.
“Consoante dispõe o §6º do art. 37 da Carta Federal, respondem as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, descabendo concluir pela legitimação passiva concorrente do agente, inconfundível e incompatível com a previsão constitucional de ressarcimento – direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.” (RE 344.133,Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 9-9-2008, Primeira Turma, DJE de 14-11-2008.)
OBS: no caso de abuso de autoridade�, a Lei 4898/65 permite a vítima ajuizar ação diretamente contra o agente, sem prejuízo da ação contra o poder público: Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida à autoridade administrativa ou independentemente dela, poderá ser promovida pela vítima do abuso, a responsabilidade civil ou penal ou ambas, da autoridade culpada.
OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR ATOS OMISSIVOS DOS AGENTES
Omissão
inércia ou incúria do agente
não-atos
morte dentro da prisão
o disposto no art. 37, §6º abrange a conduta comissiva e a conduta omissiva
Via de regra, os casos de dano por omissão não acontecem pelos agentes públicos, mas por fatos da natureza ou fatos de terceiros
Nesses casos, para que haja a responsabilidade decorrente de omissão, devem estar configurados: a) o dever de agir por parte do Estado; e b) a possibilidade de agir para evitar o dano.
Esse é o debate e a dificuldade do Poder Judiciário: “Tem que se tratar de uma conduta que seja exigível da Administração e que seja possível diante das circunstâncias de cada caso e diante dos recursos à disposição do Poder Público. Essa possibilidade só pode ser examinada diante de cada caso concreto. Tem aplicação, no caso, o princípio da reserva do possível, que constitui, por sua vez, aplicação do princípio da razoabilidade: o que seria aceitável exigir do Estado para impedir o dano” (DI PIETRO, 2011, p. 413)
	"Em princípio, pois, a responsabilidade objetiva do poder público, assentada na teoria do risco administrativo, ocorre por ato de seus agentes. Dir-se-á que o ato do agente público poderá ser omissivo. Neste caso, entretanto, exige-se a prova da culpa. É que a omissão é, em essência, culpa, numa de suas três vertentes: negligência, que, de regra, traduz desídia, imprudência, que é temeridade, e imperícia, que resulta de falta de habilidade (Álvaro Lazarini, 'Responsabilidade Civil do Estado por Atos Omissivos dos seus Agentes', em 'Rev. Jurídica', 162/125).
Celso Antônio Bandeira de Mello, dissertando a respeito do tema, deixa expresso que 'o Estado só responde por omissões quando deveria atuar e não atuou - vale dizer: quando descumpre o dever legal de agir. Em uma palavra: quando se comporta ilicitamente ao abster-se.' E continua: 'A responsabilidade por omissão é responsabilidade por comportamento ilícito. E é responsabilidade subjetiva, porquanto supõe dolo ou culpa em suas modalidades de negligência, imperícia ou imprudência, embora possa tratar-se de uma culpa não individualizável na pessoa de tal ou qual funcionário, mas atribuída ao serviço estatal genericamente. É a culpa anônima ou faute de service dos franceses, entre nós traduzida por 'falta de serviço'.
É que, em caso de ato omissivo do poder público, o dano não foi causado pelo agente público. E o dispositivo constitucional instituidor da responsabilidade objetiva do poder público, art. 107 da CF anterior, art. 37, § 6º, da CF vigente, refere-se aos danos causados pelos agentes públicos, e não aos danos não causados por estes, 'como os provenientes de incêndio, de enchentes, de danos multitudinários, de assaltos ou agressões que alguém sofra em vias e logradouros públicos, etc.' Nesses casos, certo é que o poder público, se tivesse agido, poderia ter evitado a ação causadora do dano. A sua não ação, vale dizer, a omissão estatal, todavia, se pode ser considerada condição da ocorrência do dano, causa, entretanto, não foi. A responsabilidade em tal caso, portanto, do Estado, será subjetiva. (Celso Antônio Bandeira de Mello, 'Responsabilidade Extracontratual do Estado por Comportamentos Administrativos', em 'Rev. dos Tribs.', 552/11, 13 e 14; 'Curso de Direito Administrativo', em 'Rev. dos Tribs.', 552/11, 13 e 14; 'Curso de Direito Administrativo', Malheiros Ed. 5º ed., pp. 489 e segs.).
Não é outro o magistério de Hely Lopes Meirelles: 'o que a Constituição distingue é o dano causado pelos agentes da Administração (servidores) dos danos ocasionados por atos de terceiros ou por fenômenos da natureza. Observe-se que o art. 37, § 6º, só atribui responsabilidade objetiva à Administração pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causem a terceiros. Portanto o legislador constituinte só cobriu o risco administrativo da atuação ou inação dos servidores públicos; não responsabilizou objetivamente a Administração por atos predatórios de terceiros, nem por fenômenos naturais que causem danos aos particulares'. A responsabilidade civil por tais atos e fatos é subjetiva. (Hely Lopes Meirelles, 'Direito Administrativo Brasileiro', Malheiros Ed., 21ª ed., 1996, p. 566).
Esta é, também, a posição de Lúcia Valle Figueiredo, que, apoiando-se nas lições de Oswaldo Aranha Bandeira de Mello e Celso Antônio Bandeira de Mello, leciona que 'ainda que consagre o texto constitucional a responsabilidade objetiva, não há como se verificar a adequabilidade da imputação ao Estado na hipótese de omissão, a não ser pela teoria subjetiva'. E justifica: é que, 'se o Estado omitiu-se, há de se perquirir se havia o dever de agir. Ou, então, se a ação estatal teria sido defeituosa a ponto de se caracterizar insuficiência da prestação de serviço.'(Lúcia Valle Figueiredo, 'Curso de Direito Administrativo', Malheiros Ed., 1994, p. 172)"- VOTO DO MIN. CARLOS VELLOSO NO RE 409203/RS
Deve-se provar ao juiz que houve o nexo causal. O ônus é da vítima?
Maria Sylvia Zanella Di Pietro rejeita a tese que impõe à vítima o dever de comprovar a culpa do Poder Público.
Ela afirma que existe uma presunção de culpa do Poder Público: “O lesado não precisa fazer a prova de que existiu a culpa ou o dolo. Ao Estado é que cabe demonstrar que agiu com diligência, que utilizou os meios adequados e disponíveis e que, se não agiu, é porque a sua atuação estaria acima do que seria razoável exigir; se fizer essa demonstração, não incidirá a responsabilidade” (DI PIETRO, 2011, p. 414)
A matéria é controversa inclusive no próprio STF
RESPONSABILIDADE OBJETIVA:
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO. PRESO ASSASSINADO NA CELA POR OUTRO DETENTO. Caso em que resultaram configurados não apenas a culpa dos agentes públicos na custódia do preso -- posto que, além de o terem recolhido à cela com excesso de lotação, não evitaram a introdução de arma no recinto -- mas também o nexo de causalidade entre a omissão culposa e o dano. Descabida a alegação de ofensa ao art. 37, § 6º, da CF" - RE 170014, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 31/10/1997, DJ 13-02-1998.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO PODER PÚBLICO POR DANOS CAUSADOS A ALUNOS NO RECINTO DE ESTABELECIMENTO OFICIAL DE ENSINO. - O Poder Público, ao receber o estudante em qualquer dos estabelecimentos da rede oficial de ensino, assume o grave compromisso de velar pela preservação de sua integridade física, devendo empregar todos os meios necessários ao integral desempenho desse encargo jurídico, sob pena de incidir em responsabilidade civil pelos eventos lesivos ocasionados ao aluno. - A obrigação governamental de preservar a intangibilidade física dos alunos, enquanto estes se encontrarem no recinto do estabelecimento escolar, constitui encargo indissociável do dever que incumbe ao Estado de dispensar proteção efetiva a todos os estudantes que se acharem sob a guarda imediata do Poder Público nos estabelecimentos oficiais de ensino. Descumprida essa obrigação, e vulnerada a integridade corporal do aluno, emerge a responsabilidade civil do Poder Público pelos danos causados a quem, no momento do fato lesivo, se achava sob a guarda, vigilância e proteção das autoridades e dos funcionários escolares, ressalvadas as situações que descaracterizam o nexo de causalidade material entre o evento danoso e a atividade estatal imputável aos agentes públicos" - RE 109615, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, julgado em 28/05/1996.RESPONSABILIDADE SUBJETIVA:
RESPONSABILIDADE DO ESTADO - NATUREZA - ANIMAIS EM VIA PÚBLICA - COLISÃO. A responsabilidade do Estado (gênero), prevista no §6º do artigo 37 da Constituição Federal, é objetiva. O dolo e a culpa nele previstos dizem respeito à ação de regresso. Responde o Município pelos danos causados a terceiro em virtude da insuficiência de serviço de fiscalização visando à retirada, de vias urbanas, de animais" - RE 180602, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Segunda Turma, julgado em 15/12/1998, DJ 16-04-1999
Quais os acontecimentos suscetíveis de acarretar responsabilidade estatal por omissão?
“fato da natureza a cuja lesividade o Poder Público não obstou, embora devesse fazê-lo. Sirva de exemplo o alargamento de casas ou depósitos por força do empoçamento de águas pluviais que não escoaram por omissão do Poder Público em limpar os bueiros e galerias que lhes teriam dado vazão;
comportamento material de terceiros cuja atuação lesiva não foi impedida pelo Poder Público, embora pudesse e devesse fazê-lo. Cite-se, por exemplo, o assalto processado diante de agentes policiais inertes, desidiosos” (MELLO, 2006, p. 971)
A doutrina discute a possibilidade de se admitir a responsabilidade subjetiva da Administração nas questões omissivas, uma vez que este entendimento carece de previsão constitucional. GUSTAVO TEPEDINO:
“Não é dado ao intérprete restringir onde o legislador não restringiu, sobretudo em se tratando de legislador constituinte - ubi lex non distinguit nec nos distinguere debemus. A Constituição Federal, ao introduzir a responsabilidade objetiva para os atos da administração pública, altera inteiramente a dogmática da responsabilidade neste campo, com base nos princípios axiológicos e normativos (dos quais se destaca o da isonomia e o da justiça distributiva), perdendo imediatamente base de validade o art. 15 do código Civil, que se torna, assim, revogado ou, mais tecnicamente, não foi recepcionado pelo sistema constitucional”.�
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. MORTE. DENGUE HEMORRÁGICA. CONFIGURAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ESTADO: In casu, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro considerando a responsabilidade subjetiva e demonstrado o nexo de causalidade entre a omissão do Estado do Rio de Janeiro e do Município do Rio de Janeiro no combate à epidemia de dengue e a ocorrência do evento morte, em razão de estar a vítima acometida por dengue hemorrágica e, o dano moral advindo da mencionada omissão do agente estatal" - REsp 1133257/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/10/2009.
SOBRE A TEORIA DO DANO DIRETO E IMEDIATO 
Na jurisprudência tradicional, o STF somente impõe a responsabilidade ao estado quando não se rompe a cadeia causal
	“Responsabilidade civil do Estado. Art. 37, § 6º, da CB. Latrocínio cometido por foragido. Nexo de causalidade configurado. Precedente. A negligência estatal na vigilância do criminoso, a inércia das autoridades policiais diante da terceira fuga e o curto espaço de tempo que se seguiu antes do crime são suficientes para caracterizar o nexo de causalidade. Ato omissivo do Estado que enseja a responsabilidade objetiva nos termos do disposto no art. 37, § 6º, da CB.” (RE 573.595-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 24-6-2008, Segunda Turma, DJE de 15-8-2008.)
	Informativo STF Nº 329 - Brasília, 10 a 14 de novembro de 2003
Responsabilidade Civil e Ato Omissivo - 2
Por entender ausente o nexo de causalidade entre a ação omissiva atribuída ao Poder Público e o dano causado a particular, a Turma conheceu e deu provimento a recurso extraordinário para, reformando acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, afastar a condenação por danos morais e materiais imposta ao mesmo Estado, nos autos de ação indenizatória movida por viúva de vítima de latrocínio praticado por quadrilha, da qual participava detento foragido da prisão há 4 meses. A Turma, assentando ser a espécie hipótese de responsabilidade subjetiva do Estado, considerou não ser possível o reconhecimento da falta do serviço no caso, uma vez que o dano decorrente do latrocínio não tivera como causa direta e imediata a omissão do Poder Público na falha da vigilância penitenciária, mas resultara de outras causas, como o planejamento, a associação e própria execução do delito, ficando interrompida, portanto, a cadeia causal. Precedentes citados: RE 130764/PR (RTJ 143/270), RE 172025/RJ (DJU de 19.12.96) e RE 179147/SP (RTJ 179/791) - RE 369820/RS, rel. Min. Carlos Velloso, 4.11.2003. (RE-369820)
Entretanto, em acórdãos recentes, parece haver uma alteração do seu entendimento “caminhando para um alargamento da responsabilidade do Estado, independentemente da aplicação da teoria do dano direto e imediato” (DI PIETRO, 2011, p. 414)
"Impõe-se a responsabilização do Estado quando um condenado submetido a regime prisional aberto pratica, em sete ocasiões, falta grave de evasão, sem que as autoridades responsáveis pela execução da pena lhe apliquem a medida de regressão do regime prisional aplicável à espécie. Tal omissão do Estado constituiu, na espécie, o fator determinante que propiciou ao infrator a oportunidade para praticar o crime de estupro contra menor de 12 anos de idade, justamente no período em que deveria estar recolhido à prisão. Está configurado o nexo de causalidade, uma vez que se a lei de execução penal tivesse sido corretamente aplicada, o condenado dificilmente teria continuado a cumprir a pena nas mesmas condições (regime aberto), e, por conseguinte, não teria tido a oportunidade de evadir-se pela oitava vez e cometer o bárbaro crime de estupro" - RE 409203, Relator: Min. CARLOS VELLOSO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 07/03/2006.
“O Tribunal, por maioria, deu provimento a agravo regimental interposto em suspensão de tutela antecipada para manter decisão interlocutória proferida por desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, que concedera parcialmente pedido formulado em ação de indenização por perdas e danos morais e materiais para determinar que o mencionado Estado-membro pagasse todas as despesas necessárias à realização de cirurgia de implante de Marcapasso Diafragmático Muscular (MDM) no agravante, com o profissional por este requerido. Na espécie, o agravante, que teria ficado tetraplégico em decorrência de assalto ocorrido em via pública, ajuizara a ação indenizatória, em que objetiva a responsabilização do Estado de Pernambuco pelo custo decorrente da referida cirurgia, ‘que devolverá ao autor a condição de respirar sem a dependência do respirador mecânico’. Entendeu-se que restaria configurada uma grave omissão, permanente e reiterada, por parte do Estado de Pernambuco, por intermédio de suas corporações militares, notadamente por parte da polícia militar, em prestar o adequado serviço de policiamento ostensivo, nos locais notoriamente passíveis de práticas criminosas violentas, o que também ocorreria em diversos outros Estados da Federação. Em razão disso, o cidadão teria o direito de exigir do Estado, o qual não poderia se demitir das consequências que resultariam do cumprimento do seu dever constitucional de prover segurança pública, a contraprestação da falta desse serviço. Ressaltou-se que situações configuradoras de falta de serviço podem acarretar a responsabilidade civil objetiva do Poder Público, considerado o dever de prestação pelo Estado, a necessária existência de causa e efeito, ou seja, a omissão administrativa e o dano sofrido pela vítima, e que, no caso, estariam presentes todos os elementos que compõem a estrutura dessa responsabilidade.” (STA 223-AgR, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello, julgamento em 14-4-2008, Plenário, Informativo 502).
DANOS MULTITUDINÁRIOS
Nada obstante atos de autoria de agentes públicos (danos causados por multidão), o STF responsabiliza o Estado quando contribui omissivamente para a sua prática
"INDENIZAÇÃO DE DANOS CAUSADOS A PROPRIEDADE PRIVADA PELA POPULAÇÃOAMOTINADA; AÇÃO PROCEDENTE. RESPONSABILIDADE CIVIL DA FAZENDA PÚBLICA DIANTE DE PROVA PLENA, IRRETORQUIVEL, DE QUE NÃO FORAM ADOTADAS EFICIENTES MEDIDAS DE REPRESSAO" - RE 20494, Relator(a): Min. BARROS BARRETO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/10/1953.
"O ESTADO RESPONDE PELO DANO QUE A MULTIDAO CAUSA A TERCEIRO, EM VIRTUDE DA NEGLIGENCIA DA AUTORIDADE PÚBLICA" - RE 21866, Relator(a): Min. HAHNEMANN GUIMARAES, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/10/1955.
"RESPONSABILIDADE DO ESTADO PELOS DANOS CAUSADOS A PROPRIEDADE PARTICULAR POR OCASIAO DE MOTINS PARTICULARES" - RE 29164, Relator(a): Min. MÁRIO GUIMARÃES - CONVOCADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/10/1955.
QUESTÕES PENDENDES �
Responsabilidade civil do Estado por dano moral decorrente de publicação da remuneração de servidor público em site na internet: Constitucional. Administrativo. Divulgação, em sítio eletrônico oficial, de informações alusivas a servidores públicos. Conflito aparente de normas constitucionais. Direito à informação de atos estatais. Princípio da publicidade administrativa. Privacidade, intimidade e segurança de servidores públicos. Possui repercussão geral a questão constitucional atinente à divulgação, em sítio eletrônico oficial, de informações alusivas a servidores públicos - ARE 652777 RG, Relator: Min. AYRES BRITTO, julgado em 29/09/2011 - Andamento em 19.02.2015: Em 18.12.2014, os autos foram conclusos ao MIN. TEORI ZAVASCKI.
Recurso extraordinário. Responsabilidade civil do estado. Anulação do concurso por ato da própria administração pública, em face de indícios de fraude no certame. Direito à indenização de candidato pelos danos materiais relativos às despesas de inscrição e deslocamento. Aplicabilidade do art. 37, §6º, da Constituição Federal - RE 662405 RG, Relator: Min. LUIZ FUX, julgado em 15/12/2011. – Andamento de 19.02.2015: em 08/10/2012, os autos foram conclusos ao Relator Min. LUIZ FUX com parecer pelo provimento do recurso – não haveria responsabilidade.
EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
ELEMENTOS
CULPA DA VÍTIMA
Deve-se distinguir a culpa exclusiva ou concorrente com a do Poder Público
Ver o art. 945 do CC
“A expressão é usual, embora imprópria, porque nem sempre a vítima atua com dolo ou culpa. Mais apropriada se apresenta a expressão conduta da vítima. Neste caso, a conduta da vítima, exclusiva ou concorrente, contribui para o dano que sofreu: se a vítima teve participação total no evento danoso, a Administração se exime completamente; se o dano decorreu, ao mesmo tempo, de conduta da vítima e da Administração, esta reponde em parte” (MEDAUAR, 2012, p. 409)
“A discussão relativa à responsabilidade extracontratual do Estado, referente ao suicídio de paciente internado em hospital público, no caso, foi excluída pela culpa exclusiva da vítima, sem possibilidade de interferência do ente público” (RE 318.725-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 16-12-2008, Segunda Turma, DJE de 27-2-2009)
CULPA EXCLUSIVA DE VÍTIMA – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO – NÃO CONFIGURAÇÃO. 3. Decorre de culpa exclusiva do motorista o acidente de trânsito ocorrido pelo deslocamento de seu veículo, estacionado em área imprópria, em curva em declive, sem estar devidamente engrenado e em local onde a mureta de proteção da rodovia se apresentava quebrada, o que levou à queda do automóvel em ribanceira. Assim, é improcedente o pedido de indenização contra o Estado. 4. Hipótese em que a omissão do Estado na recuperação da mureta não foi a causa determinante do evento danoso, que poderia ser plenamente evitado por cuidados exclusivos da vítima, em face do perigo evidente e facilmente detectável, independentemente de sinalização da via, sendo de se esperar do motorista um mínimo de prudência e discernimento da situação de risco. 5. "Se, embora culposo, o fato de determinado agente era inócuo para a produção do dano, não pode ele decerto, arcar com prejuízo nenhum. (...) A responsabilidade é de quem interveio com culpa eficiente para o dano. Queremos dizer que há culpas que excluem a culpa de outrem. Sua intervenção no evento é tão decisiva que deixa sem relevância outros fatos culposos porventura intervenientes no acontecimento" (José Aguiar Dias, in Da Responsabilidade Civil, Volume II, 10ª Edição, Forense, Rio de Janeiro, 1995, págs. 693/699)" - REsp 649394/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/04/2006, DJ 22/05/2006, p. 181)
"ATROPELAMENTO EM VIA FÉRREA. MORTE DE CICLISTA. PASSAGEM CLANDESTINA. EXISTÊNCIA DE PASSAGEM DE NÍVEL PRÓXIMA. CONCORRÊNCIA DE CULPAS DA VÍTIMA E DA EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE TRANSPORTE. Inobstante constitua ônus da empresa concessionária de transporte ferroviário a fiscalização de suas linhas em meios urbanos, a fim de evitar a irregular transposição da via por transeuntes, é de se reconhecer a concorrência de culpas quando a vítima, tendo a sua disposição passagem de nível construída nas proximidades para oferecer percurso seguro, age com descaso e imprudência, optando por trilhar caminho perigoso, levando-o ao acidente fatal" - REsp 622715/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 23/09/2010)
Para Maria Sylvia Zanella di Pietro, o Código Civil de 2002 avançou no que diz respeito às normas de transporte exercido por meio de autorização, permissão ou concessão.
Analisando os artigos 731 (“sem prejuízo do disposto neste Código”), 734 (a única causa excludente é a força maior) e o 738 (a culpa da vítima é apenas causa atenuante de reponsabilidade), DI Pietro conclui que essas normas alteram, “em matéria de transporte, o tema da culpa da vítima e da culpa de terceiros como causas excludentes de responsabilidade” (DI PIETRO, 2011, p. 411)
CULPA DE TERCEIRO
“Se o dano foi acarretado por conduta antijurídica alheia, não cabe a responsabilização civil do Estado pela inexistência da infração ao dever de diligência – exceto quando a ele incumbia um dever de diligência especial, destinado a impedir a concretização de danos. Ou seja, pode-se cogitar de responsabilização civil do Estado por omissão, a depender das circunstâncias” (JUSTEN FILHO, 2012, p. 1240)
Essa regra de excludente de responsabilidade deve ser vista com cautela
(A) Em matéria de transporte, o art. 735 do CC
Ver também a súmula 187 do STF: “A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva”
“Isso significa que, no caso de transporte, o Estado não pode se eximir de responsabilidade invocando a culpa de terceiro; ele responde objetivamente, porém tem direito de regresso contra o terceiro responsável pelo dano” (DI PIETRO, 2011, p. 412)
(B) casos de deterioração ou destruição de coisa alheia ou lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente – 188, II, do CC
“...a regra é a de que incide a responsabilidade de quem praticou tais atos. Essa responsabilidade se exlui com a invocação da culpa da vítima (art. 929), mas não se exclui com a culpa de terceiro, contra o qual é possível ser exercido o direito de regresso” (DI PIETRO, 2011, p. 412)
EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO
“O exercício regular do direito pelo agente estatal significa que não haverá responsabilidade civil do Estado se tiverem sido observados todos os limites e deveres pertinentes ao dever de diligência. No cumprimento de seus deveres funcionais, o agente estatal adotou todas as precauções. Se vier a se consumar o dano em relação a terceiro, não haverá dever de indenizar. Nesse caso, presume-se que o caso derivou ou da culpa exclusiva de terceiro ou de caso fortuito ou força maior” (JUSTEN FILHO, 2012, p. 1240)
CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR (ver aula anterior sobre nexo causal)
O CC/2002, identifica os conceitos de força maior e caso fortuito no art. 393, parágrafo único
DI Pietro distingue as duas hipóteses
CASO FORTUITO: decorre de ato humano ou falha da Administração: rompimento de adutora ou cabo elétrico
“Nesse caso, não se pode

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