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10 Estética - Arte traduz o espírito de renovação contínua

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Estética: Arte traduz o espírito de renovação contínua 
 
Se existe algo de permanente na moda é o seu caráter efêmero, fugaz, transitório. Uma 
pessoa determinada a acompanhar a moda sabe que, inevitavelmente, por mais bela que uma 
roupa seja, ela "durará", no máximo, até o fim da estação. 
Quanto mais fielmente um traje corresponder à última tendência da moda, mais ridículo 
ele parecerá aos olhos das novas gerações com o distanciar do tempo. É por isso que a moda 
talvez seja a representação mais fiel do espírito dos tempos modernos, caracterizados pela 
necessidade de renovação contínua, com os olhos sempre voltados para o futuro, para tudo o que 
é novidade. 
 
Consumo 
Karl Marx (1818-1883) viu nesse impulso permanente de inovação uma necessidade da 
nova sociedade burguesa em sua busca de ampliar ao máximo o consumo de mercadorias. 
Diz Marx no "Manifesto Comunista": "A burguesia só pode existir com a condição de 
revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de 
produção e, com isso, todas as relações sociais. (...) Essa revolução contínua da produção, esse 
abalo constante de todo sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança 
distinguem a época burguesa de todas as precedentes (...). Tudo o que era sólido se desmancha 
no ar.” 
 
Modernidade 
Se tudo que é sólido se desmancha no ar, a modernidade não pode remeter-se a um 
passado que já não mais existe como fonte para os critérios que a orientam. Tampouco pode 
buscá-los na tradição que a precedeu e contra a qual se rebelou, não lhe restando alternativa 
senão extrair tais critérios de si própria. 
O problema de uma fundamentação da modernidade a partir de si própria não passou 
despercebido pela crítica estética. Era preciso que a modernidade abandonasse qualquer 
referência à tradição que aprisionara a arte em padrões rígidos, como se os cânones do que 
caracteriza uma obra de arte fossem absolutos e impermeáveis às mudanças históricas. 
 
Baudelaire 
O poeta e crítico de arte Charles Baudelaire (1821-1867) propôs que a arte, em cada 
época, deve buscar sua própria forma, ao invés de imitar os padrões de épocas precedentes. A 
arte situa-se entre o eterno e o atual e pode ser considerada como filha legítima dos tempos atuais, 
pois "a modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a outra 
metade o eterno e o imutável". 
O talento do artista revela-se ao extrair o eterno do transitório, pois, de outra forma, o 
eterno não poderia ser apreendido, pelo seu caráter intangível. Como observa Baudelaire: "O belo 
é constituído por um elemento eterno, invariável, cuja qualidade é excessivamente difícil de 
determinar, e de um elemento relativo, circunstancial (...) sem esse segundo elemento, que é como 
a cobertura brilhante e atraente que abre o apetite para o divino manjar, o primeiro elemento seria 
indigerível, (...) para a natureza humana". 
A beleza eterna desvela-se apenas no traje da época, daí a afinidade da arte com a moda, 
ambas buscam algo de eterno no atual e momentâneo, mesmo reconhecendo a impossibilidade 
de retê-lo. Toda arte, assim como toda moda, é inevitavelmente datada como o retrato de uma 
época. 
 
 
 
Novas formas 
O artista precisa mergulhar em seu tempo; não pode ficar preso às formas do passado 
sob o risco de ser considerado um mero imitador. Ele precisa experimentar novas formas que 
melhor traduzam a sensibilidade de seu tempo, o que o dispõe a correr o risco de não ser 
compreendido por seus contemporâneos. 
As pessoas são educadas e compreendem mais facilmente o que já foi digerido pela crítica 
e consagrado pelos acadêmicos. Por isso, é mais fácil repetir fórmulas consagradas e se arriscar 
menos se quiser ter o sucesso garantido. Os filmes, as músicas, a literatura e a moda, voltadas 
para o grande público, preferem repetir fórmulas consagradas a promoverem uma revolução na 
estética. 
 
Eternizar o belo do efêmero 
O artista que não se conforma com repetir receitas de sucesso, que procura traduzir o 
eterno no atual, corre o risco de ser incompreendido, de ser considerado produtor de uma arte 
"marginal". Esse artista pode não encontrar o devido reconhecimento em seu próprio tempo. 
Isso não quer dizer que a arte está destinada a ser incompreendida ou que se dirige a 
uma minoria. Mesmo a arte erudita pode ser uma repetição de fórmulas de sucesso diferenciando-
se apenas pelo poder aquisitivo de seus consumidores. Nisso a arte diferencia-se da moda, já que 
no caso da moda, o sucesso não pode servir como critério para definir se uma obra é realmente 
boa ou não. 
O artista pode se sentir inseguro por não ter parâmetros claros capazes de avaliar sua 
obra, já que toda obra de arte é justamente a reinvenção dos parâmetros tradicionais e o 
rompimento com as formas cristalizadas. Mas a insegurança, a falta de referências e o esfumaçar 
de tudo que é sólido são justamente características da modernidade. Cabe ao artista a tentativa 
de construir uma obra capaz de eternizar o belo volátil do efêmero que, como a moda, passa. 
 
Fonte: Josué Cândido da Silva, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação, é professor de filosofia da Universidade 
Estadual de Santa Cruz em Ilhéus (BA). Portal UOL Educação.

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