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USINAGEM DOS MATERIAIS Programa de Pós Graduação em Engenharia Mecânica 1 ANÁLISE DE RUGOSIDADE SUPERFICIAL NO TORNEAMENTO DA LIGA ALUMÍNIO-SILÍCIO (Al-Si) COM FERRAMENTAS WIPER E PF (STANDARD) Bruno da Silva Procaci¹ (brunosprocaci@gmail.com) Bruno Oliveira Chagas¹ (brunochagas@yahoo.com.br) João Reginaldo de Souza Júnior¹ (joaoreginaldojr@yahoo.com.br), Rodrigo S. Pinto¹ (rsan2058@gmail.com), Resumo: Os processos atuais de usinagem visam associar os melhores parâmetros de usinagem com a ferramenta mais adequada, mantendo o controle sobre a superfície usinada, com um melhor acabamento e consequentemente dimensões mais precisas. Este experimento apresenta um estudo comparativo entre as ferramentas de corte convencional e alisadora wiper no torneamento da liga alumínio-silício, com intuito de observar e mensurar a rugosidade superficial gerada durante a usinagem. Na realização do experimento foram usinadas quatro amostras, duas com corte contínuo e duas com corte interrompido em um torno CNC Romi GL 240. Entre os parâmetros utilizados a Velocidade de Corte (Vc) permaneceu constante com três valores diferentes de avanço (f) e com a mesma profundidade de corte (ap). Para mensuração dos resultados foi utilizado um perfilômetro Ametek de Contato Talysurf 50. Os resultados experimentais se mostraram satisfatórios e comprovam a eficiência da de ambas as ferramentas, com um destaque maior para wiper que mostrou um melhor desempenho durante o processo. Palavras-chave: usinagem, ferramentas, rugosidade, resultados. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 Rugosidade da superfície usinada A rugosidade ou textura é formada por marcas deixadas pela ferramenta que atuou sobre a superfície da peça. Essas marcas aparecem quando a máquina ferramenta está usinando um material com uma ferramenta de corte (NOVASKI, 1994). Segundo Bralia (1986), a habilidade das operações de usinagem para que se produza um acabamento específico dependem diretamente da ferramenta de corte, das características da peça, dos processos de usinagem, dos parâmetros e do fluido de corte. Diniz, Marcondes e Coppini (2010), citam entre os parâmetros de corte, o avanço (ƒ) e o raio de ponta da ferramenta (rɛ), como os principais responsáveis pela qualidade do acabamento superficial, oferecendo, desta maneira, uma contribuição geométrica à rugosidade superficial da peça. 2 O objetivo da usinagem é obter uma superfície técnica que apresente fatores superficiais e subsuperficiais apropriados, a fim de garantir segurança, confiabilidade e vida longa ao componente fabricado. A rugosidade média Ra é o parâmetro que será utilizado para avaliar a textura da superfície usinada, que conforme a Norma ISO 4287 (ABNT, 2002), é o parâmetro utilizado internacionalmente para determinação da rugosidade. Segundo a norma, Ra corresponde à média aritmética dos valores absolutos das ordenadas P(x) no comprimento da amostragem, conforme a Figura 1. Figura 1 – Rugosidade Ra em um perfil de superfície. A rugosidade de uma peça manufaturada sofre influência de diversos fatores, desde o processo de fabricação até a geometria da ferramenta de corte utilizada, incluindo os parâmetros de corte. Segundo Machado et al. (2009) os parâmetros Ra e Rt podem ser calculados de forma teórica, sendo esses valores apenas indicativos, já que os valores reais são acrescidos de diversos fatores, como vibração, desgaste das arestas de corte, entre outros. No processo de torneamento, se o avanço (ƒ) é menor que o raio de ponta (rε) da ferramenta, os valores de Ra e Rt são calculados, de forma aproximada pelas Equações 1 e 2, respectivamente. ܴܽ ௧ó = ଶଵ଼√ଷ = ଶଷଵ,ଶ. x 1000 (1) ܴݐ ௧ó = ଶ଼. x 1000 (2) Quando o raio de ponta da ferramenta é aumentado, a ponta da ferramenta torna-se mais resistente, porém, consequentemente, há um acréscimo da vibração devido ao aumento do atrito, que é causada pela maior área de contato entre a ferramenta e a peça, afetando de forma negativa a rugosidade (DINIZ; MARCONDES; COPPINI, 2010). Para valores baixos da velocidade de corte (vc), existe uma forte relação com a rugosidade média, devido à formação da aresta postiça de corte (APC). Para velocidades de corte superiores a 100 m/min a rugosidade média se torna praticamente estável em relação à velocidade de corte (FERRARESI, 1977). 3 1.2 – Ferramentas de corte O desempenho da usinagem está diretamente ligado à geometria da ferramenta de corte. As ferramentas de usinagem apresentam algumas partes construtivas, sendo elas: parte de corte, cunha de corte, superfície de saída (Ag), superfície principal de folga (A) (DINIZ; MARCONDES; COPPINI, 2010). Sendo a mais importante delas a cunha de corte, que é a parte da ferramenta onde se origina o cavaco, isso por conta do movimento relativo entre a peça e a ferramenta (FERRARESI, 1977). Segundo Sandvik (2012), as ferramentas alisadoras (wiper) geralmente possuem três ou mais raios de ponta (rε), conferindo uma diferente interação com a superfície da peça usinada, e consequentemente uma mudança no acabamento da superfície. Com isso, ocorre um aumento do comprimento de contato das pastilhas e o efeito das taxas de avanço (ƒ) de modo positivo. O tempo de corte pode ser reduzido em torno de 30% com a utilização da ferramenta wiper, gerando bom acabamento superficial e boa quebra de cavaco. O raio de ponta da ferramenta wiper proporciona uma menor altura do perfil na aresta de corte da superfície gerada, o que tem efeito de alisamento na superfície usinada conforme mostrado na Figura 2. Figura 2 – Insertos com geometria standard e geometria wiper. 1.3- Caracterização do material usinado As ligas do sistema Al-Si são as mais importantes entre as ligas fundidas de alumínio, principalmente por sua alta fluidez, baixa contração nos fundidos, elevada resistência à corrosão, boa soldabilidade, fácil brasagem e seu baixo coeficiente de expansão térmica. As ligas de alumínio com 5-20% de Si (em porcentagem em peso) são as mais comuns e as mais usadas na indústria. A microestrutura destas ligas consiste de uma fase primária de alumínio (fase α) ou de silício (fase β) e de uma estrutura eutética exibindo a fase β com morfologia acicular na forma de grandes plaquetas na matriz de alumínio. A dureza das partículas de silício promove o aumento da resistência ao desgaste destas ligas. 4 2- MATERIAIS E MÉTODOS 2.2 – Descrição do método Os ensaios de torneamento foram feitos em um Torno Romi GL 240 com Comando Fanuc conforme Figura 3. Figura 3 – Centro de Torneamento Romi GL 240 Os insertos utilizado para este experimento tem aplicação específica para usinagem de acabamento ou desbaste leve. Possuem as seguintes nomenclaturas: CNMG 12 04 08-PF 4225 e CNMG 120408-WMX 3210 com raio de ponta (rε) de 0,8 mm. Segundo Sandvik (2012), seu substrato é desenvolvido para suportar elevadas temperaturas e velocidades de corte. A cobertura multicamada fornece boa proteção contra calor e desgaste, reduz o atrito e a formação de arestas postiças (APC). Figura 4 – Inserto CNMG 12 04 08-PF 4225 Figura 5 – Inserto CNMG 12 04 08-WMX 4225 O material utilizado nos ensaios foi uma Liga Al-Si em formato de barra cilíndrica desbastada com diâmetro inicial de 53 mm. O procedimento experimental constitui-se no torneamento de acabamento de quatro corpos de prova dividindo cada um deles em 3 seções com 30 mm de comprimento, devidamente identificados conformeTabela 1. Sendo que em 02 corpos de prova foi feito um canal de 6 mm de largura no sentido longitudinal para simulação de usinagem com corte interrompido. A velocidade de corte (Vc) e a profundidade de corte (ap) foram mantidas constante em 600 m/min e 1 mm respectivamente, quanto ao avanço por volta (ƒ), o mesmo foi variado 5 começando em 0,1 mm/volta nos primeiros 30 mm, 0,2 mm/volta dos 30 ao 60 mm e 0,4 mm/volta dos 60 aos 90 mm de comprimento conforme mostrado na Figura 6. Figura 6 – Material usinado durante experimento Tabela 1 – Identificação dos corpos de prova Amostra 15C Amostra 14C Amostra 12B Amostra 13D Corte Contínuo Corte Contínuo Corte Interrompido Corte Interrompido Fonte : Autoria própria Para a medição dos parâmetros de rugosidade média (Ra) e total (Rt) foi utilizado um Perfilômetro Ametek de Contato Talysurf 50 conforme mostrado na Figura 7. As medições foram realizadas em três pontos a cada 30 mm, distantes em 120º, utilizando um comprimento de amostragem (cut-off) de 0,8 mm e um comprimento de medição L = 0,8 x 5 = 4 mm. Figura 7 - Perfilômetro Ametek de Contato Talysurf 50 6 3- RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando as Equações 1 e 2, fazendo os cálculos para as rugosidades teóricas, utilizando a combinação dos diferentes valores de avanço (ƒ), com um de raio de ponta rε = 0.8 e Ap = 1 mm para os insertos utilizados, chegamos aos valores teóricos conforme Tabela 2. Tabela 2 – Valores da rugosidade teórica para três parâmetros de avanço (f) e raio de ponta (re) das ferramentas ƒ (mm/rot) rε (mm) Ra Teórica (µm) Rt Teórica (µm) 0,1 0,8 mm 0,39 1,56 0,2 0,8 mm 1,56 6,25 0,4 0,8 mm 6,25 25,00 Fonte : Autoria própria Após usinagem dos corpos de prova e ensaios para medição da rugosidade superficial, com as configurações de avanço (ƒ). e profundidade de corte (Ap) pré estabelecidas, foram obtidos os valores da Tabela 3, referentes as rugosidades médias (Ra) e totais (Rt) medidas em três pontos. A partir dessas medidas, tirou-se as médias para cada amostra conforme Tabela 4. Tabela 3 – Valores medidos para rugosidade superficial (Ra) e (Rt) para os corpos de prova. ƒ (mm/rot) Medidas PF (Standard) (Corte Contínuo) W (Wiper) (Corte Contínuo) PF (Standard) (Corte Interrompido) W (Wiper) (Corte Interrompido) Ra (µm) Rt (µm) Ra (µm) Rt (µm) Ra (µm) Rt (µm) Ra (µm) Rt (µm) 0,1 1 0,64 4,1 0,51 3,5 0,41 3,2 0,44 3,4 2 0,69 3,8 0,48 3,2 0,46 3,7 0,42 3,9 3 0,65 3,7 0,55 3,9 0,46 3,1 0,59 5,1 0,2 1 1,64 7,0 1,48 6,5 1,39 6,2 1,48 6,5 2 1,64 7,3 1,44 6,3 1,52 6,7 1,58 6,7 3 1,72 7,5 1,49 6,3 1,50 6,8 1,77 8,7 0,4 1 4,20 17,3 3,88 15,2 4,27 17,2 4,12 15,4 2 4,23 17,3 3,91 15,2 4,41 17,7 4,19 16,8 3 4,19 17,0 3,89 15,0 4,41 17,6 4,45 17,9 Fonte : Autoria própria Tabela 4 – Valores médios obtidos para rugosidade superficial (Ra) e (Rt). ƒ (mm/rot) PF (Standard) (Corte Contínuo) W (Wiper) (Corte Contínuo) PF (Standard) (Corte Interrompido) W (Wiper) (Corte Interrompido) Ra (µm) Rt (µm) Ra (µm) Rt (µm) Ra (µm) Rt (µm) Ra (µm) Rt (µm) 0,1 0,66 3,86 0,51 3,53 0,44 3,3 0,48 4,13 0,2 1,66 7,26 1,47 6,36 1,47 6,56 1,61 7,3 0,4 4,2 17,2 3,89 15,1 4,36 17,5 4,25 16,7 Fonte : Autoria própria 7 Analisando empiricamente os valores obtidos após os ensaios, e comparando rugosidade teórica conforme Tabela 2 pudemos observar algumas diferenças. Notou-se que para o avanço ƒ = 0,4 mm/volta a rugosidade medida ficou abaixo da rugosidade teórica, tanto para a ferramenta wiper quanto para ferramenta standard (PF), com destaque para a wiper com usinagem em corte contínuo, com Ra = 3,89 µm e para Rugosidade Total (Rt) com Rt = 15,1 µm. Para o avanço ƒ = 0,1 mm/volta, as duas ferramentas tiveram valores acima da Rugosidade Média (Ra), seus valores não foram satisfatórios, ficando com resultados mais próximos as ferramentas wiper e standard com usinagem de corte interrompido, com Ra = 0,48 µm e Ra = 0,44 µm. Para rugosidade Total (Rt), os valores tiveram uma diferença maior, chegando a Rt = 4,13 µm de média, com a wiper para uma usinagem com corte interrompido. Para usinagem com o avanço ƒ = 0,2 mm/volta, as usinagens com ferramenta wiper tiveram valores abaixo ou no limite da Rugosidade Média (Ra) teórica variando entre Ra = 1,47 µm a Ra = 1,66 µm e para a Rugosidade Total (Rt) os valores praticamente ficaram acima dos valores teóricos. Conforme Machado et al. (2009), o avanço (ƒ) é o parâmetro influente sobre a rugosidade, seguido pelo raio de ponta da ferramenta. Nesse experimento, aumentando o avanço (ƒ) e mantendo uma profundidade de corte (ap) constante houve uma diminuição da rugosidade em comparação com os valores teóricos calculados e demonstrados na Tabela 2. Após análise, vale a pena destacar que a ferramenta com pastilhas Wiper teve no contexto geral um desempenho melhor em relação a pastilha PF (Standard), isso, devido a sua geometria de corte que proporciona uma melhor interação com a superfície usinada, causando um efeito de alisamento e uma melhor quebra do cavaco. Também devemos considerar que as amostras com usinagem de corte interrompido tiveram resultados inferiores se comparados com as amostras de usinagem contínua, explicado pela entrada e saída da ferramenta na peça quando se inicia e termina a interrupção do corte, causando assim diferentes ciclos térmicos e mecânicos durante a usinagem. 4- CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante a usinagem de peças e materiais, surge um grande número de variáveis que influenciam diretamente sobre o projeto, processo e a fabricação do produto final. É de suma importância que haja uma qualidade dimensional e superficial que atenda as tolerâncias geométricas e de forma, dando a todo conjunto uma precisão e um acabamento superficial adequado a sua utilização. Nesse experimento, foi feita a usinagem da Liga Alumínio-Silício para demonstração prática da influência dos parâmetros de usinagem na rugosidade superficial do material usando dois tipos de ferramentas com usinagem contínua e interrompida. Variando-se o avanço (ƒ), com uma profundidade de corte (ap) constante durante todo o processo. Vale ressaltar também que não consideramos influências externas, como vibração, estado da máquina-ferramenta, fluído de corte, etc. Analisando os resultados, os mesmos, não apresentaram valores discrepantes, logicamente alguns ficaram acima dos valores teóricos, dada as condições e características do material e das ferramentas. Com isso notou-se que com o aumento do avanço (ƒ) a rugosidade superficial média (Ra) e rugosidade superficial total (Rt), ficaram abaixo dos valores teóricos calculados. Destacando a usinagem em corte contínuo que também influencia diretamente durante a usinagem. Considerando os objetivos propostos pelo trabalho, nota-se que o objetivo foi alcançado. A escolha e o estudo do referencial teórico, permitiu a compreensão de uma pequena parte, mas, de extrema importância dentro do contexto teórico e prático da usinagem dos materiais. 8 5- REFERÊNCIAS ABNT. Especificações geométricas do produto (GPS) - Rugosidade_: Método do perfil - Termos, definições e parâmetros da rugosidade.NBR ISO 4287, 2002. BRALIA, J. G. Handbook of product design for manufacturing: a practical guide to lowcost productionMcGraw-Hill Book Company, , 1986. CATÁLOGO SANDIVIK. Disponível em: http://www.sandvik.coromant.com/em gb/products. Acesso em: 20 de ago. 2018. DINIZ, A. E.; MARCONDES, F. C.; COPPINI, N. L. Tecnologia de usinagem dos materiais, 2010. FERRARRESI, D. Fundamentos da Usinagem dos Metais. São Paulo: Edgar Blucher Ltda, 1970. 16ªreimpressão, 2013. MACHADO, Á. R. et al. Teoria da usinagem dos materiais. São Paulo: Blucher, 2009. NOVASKI, O. Introdução à engenharia de fabricação mecânica. [s.l.] E. Blucher, 1994. SANDVIK. Ferramentas para torneamento: Catálogo Sandvick-Coromant Torneamento Geral. p. 32, 2012a.
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