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sobre o Livro dm senrensas. De falo, houve cerca de 250 comen- tários sobre o Livro dossenrensos. No mais, Lutero aprecia a erudisilo do Lombardo, recri- minando-o, porém, por "20 se ater à Escritura. 84 Hh 10.1 1s. A Igrejaantiga julgava. seguindo a opinião de Agostinho, que Hebreus fossede autoria de Paulo. Lutero tratou de Hebreus ao lado das demais epistalas paulinas. Quando da tradusão do Novo Testamento, porém, Lutero chegou à convicção de que o autor é um i discipulo dos apóstolos (Hh 2.3) e não o próprio Paulo. I 85 Sc. ao sacramento. I 8 1 purificar ninguém, também não a si mesmo. Pois o que aquele operava nos corpos este opera nas consciências, e assim o espírito corresponde a letra e a verdade a figura. Espero que esses defensores da fé católica [mostrem] como podem expor, sem depravaçòes heréticas, o poder das chaves de outro modo. Tese 8 Os cânones penitenciaisas são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos. Esta tese eu debato, embora haja muitas pessoas que se admiram que ela seja duvidosa. 1. Em primeiro lugar, ela é provada por Rm 7.1: "A lei tem domínio so- bre o ser humano enquanto este vive", etc. Como o apóstolo explica isto a respeito da lei divina, é muito mais verdade com relação a lei humana. Dai que ele diz no mesmo capitulo: "Quando morrer o marido, a mulher está de- sobrigada da lei do marido." [Rm 7.2.1 Muito mais ele, quando morto, está desobrigado da lei da esposa que [ainda] vive. Pois o apóstolo argumenta do menor ao maior: se o vivo é desobrigado pela morte do outro, muito mais o é o próprio morto, pelo qual o [que ainda está] vivo é desobrigado. 2. Como todas as outras leis positivas, as leis canônicas estão presas as circunstâncias de tempo, lugar e pessoas (dist. XXIX8'), como é do conheci- mento de todos. Pois somente a respeito da palavra de Cristo é dito: "Para sempre, ó Senhor, permanece a tua palavra, a tua verdade de geração em ge- ração" [SI 119.89s.l; "e a sua justiça permanece para sempre." [SI 111.3.] A palavra e a justiça dos seres humanos, porém, só permanecem por um tempo. Por isso, mudadas as circunstâncias, cessam também as leis, a menos que se queira dizer que, destruida a cidade, o lugar deserto ainda seja obrigado a fa- zer tudo o que a cidade fazia anteriormente, o que é absurdo. 3 . Se o direito obriga a dispensar mesmo os viventes e a mudar a lei quando cessa a condição da lei ou quando ela se inclina para pior - visto que (como diz o papa Leão88) aquilo que foi estabelecido em favor do amor não deve militar contra ele, assim certamente [isto vale também para] o que come- çar a militar contra a unidade, a paz, etc. -, quanto mais devem ser abolidas as leis para os moribundos, visto que neste caso não cessa apenas a condição das leis, mas também a própria pessoa para a qual e para cujas condições elas foram estabelecidas. 86 Cf. p. 23, nota 5. 87 No capitulo 1 da disrinctio XXIX do Decrelurn Grotiani, na parte 1: "Deve-se saber que na maioria dos capitulas causa, pessoa, lugar e época devem ser tidos em conta." 88 Traia-se de Leão I(440-4611, cujas cartas, impressas em Paris, no ano de 151 I, eram muita bem conhecidas por Lutero. Lutera veio a usá-las em seu escrito Von den Konziiiis und Kir- chen ("Dos concilios e da Igreja"), WA 50,509-653. 4. Em quarto lugar, [ela é provada] a partir das próprias palavras da lei, nas quais estão claramente expressos os dias e anos, jejum, vigílias, traba- lhos, peregrinações, etc. É manifesto que essas coisas pertencem a esta vida e cessam com a morte, em que o ser humano migra para uma vida muitíssimo diferente, onde não jejua, nem chora, nem come, nem dorme, pois não tem corpo. Dai que João Gérson89ousa condenar as indulgências dadas com uma validade de muitos milhares de anos. Assim, pergunto-me com espanto o que aconteceu com os inquisidores da depravação herética para que não queimas- sem, mesmo depois de morto, a ele que se pronuncia contra o costume de to- das as estações [de peregrinação] de Roma" e principalmente contra o uso de Sixto IV91 (que esbanjou iiidulgências em profusão), e que o faz com tanta confiança, que também lembra os prelados de seu dever de corrigir essas [práticas] e de tomar cuidado com elas, chamando as titulaçòes de tais indul- gências de fátuas e supersticiosas, etc. 5. [Provo esta tese] referindo-me a intenção do autor dos cânones, que por certo nem sequer cogitou que tais cânones fossem impostos aos moribun- dos. Faz de conta que perguntássemos ao pontífice que propõe tais cânones: C ' A que pessoas, ó Pai, vos referis em vossa lei: as vivas ou As mortas?" O que responderia ele senão: "As vivas, é claro. Pois que posso eu fazer com as mortas, que saíram de minha jurisdição?" 6 . Um sacerdote de Cristo agiria de maneira extremamente cruel se não liberasse um irmão assim como quer que aconteça com ele mesmo; e não exis- te razão pela qual não deva [fazê-lo], já que está em seu poder. 7. Se os cânones penitenciais permanecem para os mortos, pela mesma razão permanecem também todos os outros cânones. Por conseguinte, eles devem celebrar, observar festas, jejuns e vigílias, dizer as horas canônicas9~, não comer ovos, leite e carne em certos dias, mas apenas óleo, peixe, frutas e legumes, vestir roupas pretas ou brancas conforme a diferença dos dias e [carregar] outros pesadíssimos fardos com os quais agora a misera, outrora libérrima Igreja de Cristo é premida. Pois não existe qualquer razão pela qual 89 Jean Charliei, de Gérson/Reims (1363-14291, foi doutor em Teologia e. em 1395, chanceler da Universidade de Paris. Um dos mais importantes escolásticos do periada conciliar, tra- balhou para pôr fim ao cisma eclesiástico com seus escritas sobre a unidade da Igreja e a de- mitibilidade da papa. Nos concilios de Pisa e Constan~a posicionou-se contra os desman- dos dos papa7 italianos e buscou a reforma da Igreja atravks da melhoria da moral do clero. Exigiu a estuda da Bíblia e a renovaç&o da eacalástica através de sua fusão com a mística. Concordou com a condenaç&o do movimento reformador boêmio. Lutero menciona-o inú- meias veres. 90 I.utcro refere-se às sete igrejas principais de Rama. Os peregrinas eram obrigados a visitá- Ias para conquistar indulgências. 91 Papa de 1471-1484. Com ele iniciao "periodo da perversão" na vida da Igreja. Paparenas- centista, obteve através de seus nepotes conde Girolamo e cardeai Pedro Riario a~seculari- ra fão da Cúria. Ao caracterid-lo como aquele "que esbanjou indulgências em profusão", Lutero se refere ao excesso de voderes esoirituais oue o Dava conferiu tis ordens mendican- . . . tes, especialmente aos franciscanos. 92 Trata-se das horas de orafão e céntico impostas aos sacerdotes, especialmente aos secula- res. [apenas] alguns cânones cessem por causa do tempo, e não todos. Se cessam os que são bons e meritórios para a vida, por que não, antes, os aflitivos, esté- reis e impeditivos? Ou vamos inventar também aqui uma troca, de modo que, assim como sofrem outras penas, proporcionadas a eles, da mesma forma fa- zem outras obras, proporcionadas a eles, e de modo que, não obstante, se de- ve dizer que eles lêem as horas canônicas? 8. Os cânones, tanto penitenciais quanto morais, são suspensos de fato para quem está doente de corpo, mesmo que não esteja a beira da morte. Um sacerdote doente não é obrigado a orar, celebrar; depois, também as outras pessoas não são obrigadas a jejuar, nem a vigiar, nem a se abster de carne, ovos e leite. E não só Ihes são livres todas essas coisas, mas até Ihes são proi- bidas as coisas que antes, quando estavam sãs, Ihes eram ordenadas. De ou- tro modo se diria a elasg], visto que a mão do Senhor já as toca: "Por que me perseguis como Deus e vos fartais da minha carne (isto