Buscar

Comentários a Acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito FFederal e

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Docente: Vallisney Oliveira 
Discentes: Izabela Nunes e Arthur Nunes 
Acórdão 21
Comentários a Acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios 
 
 Resumo do caso 
O determinado acórdão trata de um recurso de apelação feito pelas Lojas Ripley, situadas em território chileno, contra a sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 4º Vara cível de Taguatinga, na qual foi julgado procedente o pedido de condenação da ré a pagar a compensação por danos morais na importância de R$200.000,00 (duzentos mil reais), acrescida de correção monetária e juros legais a contar a partir da data. 
No caso em questão os apelados são Erasmo da Silva Nunes, Luciana Braz Rocha Chrisostomo Nunes, Humberto Rocha Nunes, Heitor Rocha Chrisostomo, Sofia Braz Rocha Chrisostomo Nunes cidadãos brasileiros residentes em Brasília. Trata-se assim de uma apelação cível ambientada no cenário do direito internacional privado, na qual foi buscada a anulação da sentença anteriormente proferida juntamente com a extinção do processo sem exame de mérito, alegando a incompetência absoluta da autoridade brasileira para julgá-lo, além da revogação dos benefícios da justiça gratuita aos autores presente na decisão originária.
O processo foi iniciado devido a um acontecimento ocorrido em uma das lojas chilenas da rede Ripley, no qual houve um incidente no interior de uma loja, onde acidentalmente os vidros que circundavam uma das escadas rolantes se estraçalhou devido a inobservância, por parte da família brasileira, das regras de segurança previstas pela loja, ou seja, o fato de deixar uma criança desacompanhada no parapeito de um andar, ao topo de uma escada rolante desencadeou tal infortúnio, lesionando pai e criança. 
A sentença foi proferida sobre a égide do CPC/15, todavia a demanda foi ajuizada ainda sobre a vigência do CPC/73. Dessa forma acabou resultando no reconhecimento da Teoria do Isolamento dos Atos Processuais, na qual há o respeito e a observação aos atos já realizados, somente aplicando a nova lei processual àqueles atos processuais futuros, isto é, a serem praticados à luz do novo diploma. A partir do exposto, o artigo 14 do novo CPC abraça essa teoria, assim as questões contestadas na apelação serão analisadas segundo as disposições do CPC/73, diploma válido na época do ajuizamento da ação.
A seguir serão analisados os argumentos que foram propostos a fim que o conflito de interesses fosse dirimido. Dentre eles estão i) a ausência de jurisdição brasileira para o caso concreto, ii) responsabilidade civil a ser apurada no Chile, iii) legislação aplicável à situação concreta, iv) a não aplicabilidade do CDC e v) revogação dos benefícios da justiça gratuita. 
Argumentos 
O CPC/73 apresenta em seu texto normas que visam regular a competência internacional em seus artigos 88 a 90. Assim nos artigos 88 e 89, estabelecem, respectivamente, os casos de competência concorrente da justiça brasileira e os casos de competência específica desta. A fim de clarear a controvérsia existente o juiz trouxe para o direito processual civil o exposto em um principio do direito internacional privado, o da jurisdição razoável, que acaba se encaixando perfeitamente no caso em questão. Em concordância com os ensinamentos da Professora Nádia de Araújo esse princípio diz que: 
Por jurisdição razoável entende ser o princípio de que todo caso com elementos transfronteiriços deve ser julgado por um juiz que tenha razoável conexão com o objeto do litigio, pois esses casos em geral estão ligados a mais de uma ordem jurídica e será́ preciso definir qual delas é competente. Não há uma instância internacional para resolver o problema de competência adequada, em vista da soberania de cada Estado em determinar sua jurisdição. No entanto, esse princípio pode servir para informar e determinar situações não previstas nos arts. 88 e 89 do CPC, sempre levando em conta a necessidade de se evitar um foro arbitrário ou abusivo, e a utilização do fórum shopping de forma indesejada. 
Conforme parte do entendimento vigente no STJ basta a incidência de qualquer um dos pressupostos presentes nos artigos de 88 a 90 para que a jurisdição brasileira seja delineada como a principal.
Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.
Parágrafo único. Para o fim do disposto no no I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal.
Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.
Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que Ihe são conexas.
Ainda dando prosseguimento a esse assunto, a legislação brasileira também determina na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro diretrizes que acompanham o Direito Internacional Privado, como por exemplo o seu artigo 12: 
Art. 12.  É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
Tendo em vista a exposição das normas que regiam a competência brasileira no âmbito internacional, tem-se que o ordenamento pátrio acabou aderindo ao critério da determinação direta da jurisdição, na qual o alcance da jurisdição de um Estado está previsto de modo taxativo, elidindo todas as demais jurisdições estrangeiras.
O fato dos autores fundamentarem os seus argumentos exclusivamente na responsabilidade civil extracontratual da loja chilena sob a alegação de que o acidente causado se originou da não utilização de materiais adequados nas instalações da loja e do não cumprimento das normas de segurança não é passível de resolução na jurisdição brasileira analisando os argumentos oferecidos. Dessa forma não há como flexibilizar as normas processuais vigentes no Brasil no caso concreto, uma vez que tal situação não alcança nenhuma das hipóteses listadas anteriormente. 
Segundo o relator as normas a serem aplicadas nesse caso seriam provenientes do Código de Direito Internacional Privado (Código de Bustamante) em seus artigos 167 e 168, do qual o Brasil é signatário, e na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro em seu artigo 9º.
O Código de Bustamante diz em seu artigo 167 que as obrigações originadas de delitos ou faltas se sujeitam ao mesmo direito que o delito ou a falta que procedem. De modo resumido, o artigo 168 traz a ideia de que a lei aplicável será a do Estado onde se produziu o fato causador do dano seguindo o critério Lex loci delicti, por conseguinte prevê que os atos ou omissões que sejam provenientes de culpa ou negligência não punidas pela lei, serão regidas pelo direito do lugar que originou o ocorrido.
O artigo 9º da LINDB segue esse mesmo raciocínio: 
Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
Assim a análise do acórdão demonstra que tanto os artigos provenientes do Código de Bustamante quanto o da LINDB convergem no sentido de que a lei a ser aplicada pelo juiz a fim de que seja dirimida a relação conflituosa em questão deverá ser a lei chilena em ação a ser movida no Chile. Logo, é perceptível que a lide proposta não se faz possível de resolução tendo em vista as normas brasileiras, todavia como dito anteriormente, poderá ser apreciada por meio de uma demanda idêntica em território chileno.
O artigo 22 do CPC/2015 apresenta, dentre outras inovações quanto à competência jurisdicional da autoridade judiciária brasileira, em seu inciso II a hipótese de cabimento de jurisdiçãoconcorrente à estrangeira nos casos em que o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil. Com fulcro nisso, o magistrado em sua sentença analisou a controvérsia à luz do Código de Defesa do Consumidor, de modo a considerar o autor-apelado o sujeito consumidor - que por ser residente e domiciliado no país viabilizaria a apreciação da demanda por autoridade judicial brasileira. 
O artigo 2º, "caput", do Código de Defesa do Consumidor dispõe que: "consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final". Acerca da expressão "destinatário final", formou-se na doutrina, dentre outras, a Teoria Finalista, que, em sua forma mitigada, é a mais aceita pelo STJ em seus julgados e, segundo a qual, o conceito de consumidor inclui aquele que possua vulnerabilidade, a qual seja uma situação "permanente ou provisória, individual ou coletiva, que fragiliza e enfraquece o sujeito de direitos", em face do fornecedor.O próprio Código do Consumidor reconhece a vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, conforme artigo 4o, inciso I. 
A partir disso, o relator aponta a ausência de elementos demonstrativos de relação jurídica de consumo por parte do autor na inicial e, de maneira geral, nos autos, condenando a sentença recorrida. Desse modo, o relator, em seu voto, está em consonância com ordenamento jurídico, já que, como os argumentos dos autores-apelados têm por base a responsabilidade civil extracontratual da loja chilena decorrente do não cumprimento dos padrões de segurança, estes não levantariam elementos essenciais para a formação da relação jurídica de consumo, tais como consumidor e fornecedor.
Portanto, por não existir relação de consumo entre as partes, e que em matéria de obrigações, contratuais ou extracontratuais, a legislação aplicável é a do país onde se constituiu o ato ou fato que lhe deu origem, segundo o já exposto, o diploma legal a ser aplicado é a legislação chilena.
A gratuidade da justiça era regulada pela Lei n. 1060/50, mas com a edição do CPC de 2015, quase toda parte pertinente ao tema foi revogada e passou a ser tratada nos arts. 98 e 102 do CPC/2015. No entanto, em reconhecimento da Teoria do Isolamento dos Atos Processuais, a questão da concessão da gratuidade de justiça pleiteada ou de sua impugnação deve ser analisada sob a égide do Código de Processo Civil de 1973 e da Lei n. 1060/50.
Conforme voto da ministra relatora Simone Lucindo, no Acórdão n. 611053, da 1a Turma Cível
"A gratuidade de justiça é destinada àqueles que não estiverem em condições de pagar as custas processuais, sem prejuízo próprio ou de sua família. O pedido de justiça gratuita necessita da declaração de hipossuficiência firmada pelo requerente. Essa declaração, no entanto, reveste-se de presunção relativa de veracidade, suscetível de ser elidida pelo julgador que entenda haver fundadas razões para crer que o requerente não se encontra no estado de miserabilidade declarado"
 bem como o § 1o do artigo 4o e o artigo 5o caput da Lei n.1060/50, é possível visualizar o caráter não absoluto que possui a presunção de veracidade existente na declaração de hipossuficiência, que pode ser revogada a partir da análise do pedido de impugnação pela parte ré ou pelo próprio magistrado, sem a necessidade de pedido por parte adversa, sob o exame do conjunto fático-probatório dos autos em que se entenda haver fundadas razões para a contestação do estado de hipossuficiência alegado.
O relator, após o exame dos autos, defere o pedido de impugnação do benefício concedido aos autores, na medida que as informações juntadas indicam uma condição de recursos que lhes permitam arcarem com as custas processuais sem que isso ocasione um prejuízo de seu sustento, não fazendo, por conseguinte, jus à benesse.
É possível visualizar, ao longo de todo o Acórdão, a observância do relator para com o Princípio da Motivação das Decisões Judiciais, o qual está expresso no artigo 93, inciso IX da Constituição Federal e disciplinado nos artigos 10, 11 e 489 do Código de Processo Civil de 2015. Desse modo tem-se uma decisão que não só está dentro dos conformes do ordenamento jurídico, mas que também, busca por meio de argumentos, convencer as partes de que tal fundamentação está nos padrões de segurança jurídica esperados em um Estado Democrático de Direito.

Outros materiais