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Linguagem_Comunicacao_1sem_2014

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1 
 
 
 
Centro Universitário de Patos de Minas 
 
 
 
 
 
 
 
 
Patos de Minas, fevereiro de 2014 
 2 
 
Professores de 
Linguagem e Comunicação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Centro Universitário de Patos de Minas 
 
 3 
Caros alunos, 
 
A disciplina Linguagem e Comunicação consta da grade curricular do curso escolhido por vocês. Isso 
mereceria algumas justificativas acadêmicas, mas não queremos nos dirigir a vocês como ―professores de 
português‖. Dirigimo-nos a vocês como facilitadores no aprimoramento de suas habilidades lingüísticas. 
Linguagem e Comunicação está presente nos primeiros semestres de quase todos os cursos de graduação 
deste país – isso já mostra sua importância na formação profissional de qualquer estudante. Infelizmente, os 
anos anteriores de formação escolar não foram suficientes para o aprimoramento de tais habilidades. O 
acadêmico tem, na faculdade, uma das últimas oportunidades para desenvolver sua capacidade de expressão por 
meio da língua, seja na modalidade falada, seja na modalidade escrita. Se perdida essa oportunidade, ou mal 
aproveitada, poderá sofrer punições principalmente no mercado de trabalho, caso consiga ingressar-se nele. 
Sabemos que, no nosso dia-a-dia, não comunicamos por meio de palavras – elas existem apenas no 
dicionário. Comunicamos, sim, por meio de textos. Nossas relações pessoais ou profissionais realizam-se por 
meio de textos que (co)produzimos com nossos semelhantes. Tecemos idéias, tecemos compromissos. Sem o 
domínio eficiente da língua, sem o domínio da feitura de textos, não conseguiremos nos mover neste mundo 
marcadamente tecnológico. Marcadamente sem fronteiras. Marcadamente informativo. Mundo de exigências, 
então! 
Nosso papel no curso escolhido por vocês, caros alunos, é contribuir para que a formação de vocês 
esteja, também, respaldada pelas exigências deste mundo em que informações, que são textos circulantes, são 
extremamente necessárias para o desempenho profissional. Mesmo que, no futuro profissional, vocês não 
precisem escrever textos, não precisem ministrar palestras ou seminários, a desenvoltura lingüística poderá 
lhes garantir possibilidades de crescimento ininterrupto, já que irão (co)produzir textos menos formais em suas 
relações. Não há profissional isolado; há, sim, aquele que tece conhecimentos, que troca idéias, que comunica 
achados e os compartilha. E isso é o que nós chamamos de produção de textos. 
Produzir um texto falado ou escrito é uma atividade que se aprende, por ensaio e erro. Não é 
privilégio de poucos, mas direito de todos. O seu curso proporciona esse direito. Na nossa disciplina Linguagem 
e Comunicação, possibilitamos a vocês mecanismos de compreensão de textos, nos aspectos lingüístico, 
argumentativo e expressivo, para que desenvolvam suas habilidades de interação. Neste mundo sem limites 
para a troca de informações – vocês sabem o que a tecnologia pode fazer –, a partilha de textos, ou com 
amigos, ou com colegas de profissão, pode ser, também, o percurso para uma vida feliz e realizada. Sem 
textos, não há amigos, não há profissionais, não há homens. 
Esperamos – e acreditamos nisto – que a prática de textos seja um instrumento-chave na participação 
da vida social, profissional e intelectual. Oferecer, portanto, a vocês instrumentos para capacitá-los nessa 
empreitada é nosso dever! 
 
Os professores 
 4 
Sumário 
 
CARTA AOS ALUNOS ............................................................................................................ 
 
03 
NOSSO MAIOR DIREITO ............................................................................................................ 05 
 
PLANO DE ENSINO ............................................................................................................... 
 
06 
 
01 
 
LINGUAGEM E SOCIEDADE .................................................................................. 
 
08 
1.1 Informação e conhecimento ...................................................................................... 08 
1.1.1 Quem sabe ............................................................................................................ 08 
1.1.2 Onde mora a inteligência ............................................................................................ 10 
1.1.3 Analfabetismo emocional ........................................................................................................ 11 
1.2 Indivíduo e profissão .............................................................................................. 12 
1.2.1 Língua e poder ........................................................................................................ 13 
1.3 Texto e sua circulação ............................................................................................. 14 
1.3.1 Intenções do produtor ............................................................................................ 14 
1.3.1.1 Textos e atividades ................................................................................................. 14 
1.3.2 Polifonia e intertexto .............................................................................................. 15 
1.3.2.1 Textos e atividades ................................................................................................. 16 
 
02 
 
TEXTO E SUA TEXTUALIDADE ............................................................................. 
 
19 
2.1 Coerência textual .................................................................................................. 19 
2.1.1 Textos e atividades ................................................................................................. 20 
2.2 Coesão textual ...................................................................................................... 24 
2.2.1 Textos e atividades ................................................................................................. 27 
2.3 Parágrafo isolado e no texto ...................................................................................... 36 
2.3.1 Textos e atividades ................................................................................................. 37 
 
03 
 
COMPREENSÃO TEXTUAL ................................................................................. 
 
44 
3.1 Informações implícitas ............................................................................................ 44 
3.1.1 Subentendidos e pressupostos ................................................................................... 44 
3.1.1.1 Textos e atividades ................................................................................................. 46 
3.2 Recursos e falácias da argumentação ............................................................................ 51 
3.2.1 Textos e atividades ................................................................................................. 56 
 
04 
 
PRÁTICA DE TEXTOS .......................................................................................... 
 
59 
4.1 Artigo de opinião ................................................................................................... 59 
4.1.1 Textos e atividades ................................................................................................. 59 
4.1.2 Sugestão de atividade .............................................................................................. 62 
4.2 Resumo .............................................................................................................. 62 
4.2.1 Textos e atividades ................................................................................................. 634.2.2 Sugestão de atividade .............................................................................................. 66 
4.3 Resenha .............................................................................................................. 69 
4.3.1 Textos e atividades ................................................................................................. 69 
4.3.2 Sugestão de atividade .............................................................................................. 71 
 
05 
 
RESOLUÇÃO DE QUESTÕES ................................................................................. 
 
73 
5.1 Questões das AVIN‘S ............................................................................................. 73 
 
 
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 
 
 91 
 5 
Nosso maior direito 
Você já pensou na maravilha que é 
pensar? Poder pensar? Por que maravilha? Nem 
sei como explicar, mas ter consciência de que 
se está pensando é extraordinário; quantas 
vezes na vida você se deu conta de que estava 
pensando e na liberdade que se tem quando se 
pensa? 
Pensar nos leva de um deserto na 
Mongólia ao palácio de um rei, do sofrimento 
mais doloroso à mais escandalosa das 
felicidades, do ódio à paixão, da descrença à 
mais profunda fé, até da doença à saúde -e vale 
o vice-versa. 
Pensar: o maior privilégio que alguém 
pode ter. As guerras, as revoluções, as obras de 
arte, os filmes, os livros, tudo, absolutamente 
tudo, só existe porque um dia, em algum lugar, 
um homem pensou, e há quem afirme que a 
força do pensamento pode até fazer com que as 
coisas aconteçam. Todas não sei, mas algumas, 
com certeza. 
É divertido pensar; quando se pensa não 
há censura, nada é pecado, proibido ou contra a 
lei. Talvez seja, verdadeiramente, a única 
liberdade total que se tem. 
Muitas pessoas talvez nunca tenham 
prestado atenção em seus próprios 
pensamentos: pois deviam. Essa prática pode 
ser melhor do que muitos filmes e muita 
conversa fiada, mas difícil, para quem não está 
acostumado. Você sabia que há muita gente que 
passa a vida inteira sem se dar conta do 
privilégio que é poder pensar? 
Uma maravilha e também um perigo: 
basta que se fique "pensativa" para que alguém 
pergunte "o que você tem? Está pensando em 
quê?" 
Nada desestabiliza mais um grupo do 
que perceber que uma das pessoas está longe, 
pensando. 
Pensar é perigoso; é pensando que se 
descobre que a vida não está boa mas que pode 
mudar, que o país vai bem mas poderia ir 
muito melhor, é pensando que se pode 
transformar nossa vida e o mundo. 
Nelson Mandela disse que tinha 
saudades do tempo que passou na prisão, 
porque preso ele tinha tempo para pensar. No 
nosso dia a dia, quando sobra um momento 
para se estar só, inventa-se imediatamente 
alguma coisa para fazer, para evitar o perigo 
maior que é pensar. 
Ninguém – ou pouquíssimas pessoas- 
está completamente feliz com sua vida pessoal, 
seus amores, seu trabalho. Mas durante a 
novela ninguém está pondo em questão se 
poderia fazer alguma coisa para ser mais feliz. 
Será que os altos homens de negócios já 
pararam para pensar se vale a pena trabalhar 
tanto, se não têm nem tempo para gastar o 
dinheiro que já têm? E para que mais dinheiro? 
Para ter mais cinco pares de sapato, três bolsas, 
12 camisetas? É muito bom ter um carro do 
ano, mas se ele fosse de 2007 seria tão 
diferente? 
E essa mania de acumular, para deixar 
uma herança para os filhos, isso no fundo é um 
problema político. Todos sabemos que em 
alguns países a educação, a saúde e a 
aposentadoria são garantidas para toda a 
população, que sem precisar se preocupar tanto 
com o futuro, vive mais feliz -com menos 
frescuras, mas com mais alegria. 
Está vendo no que dá, pensar? 
Pensar é perigoso e subversivo, e uma 
coisa é certa: quem não pensa apenas faz o que 
os outros mandam: usam a bolsa da mesma 
grife porque inventaram, começaram a fumar e 
deixaram de fumar porque inventaram, e 
correm o risco de votar errado porque 
inventaram que quem tem carisma pode ser um 
bom presidente. 
Quem não pensa não escolhe, e são as 
escolhas que podem mudar. 
 
(LEÃO, Danuza. Nosso maior direito. Folha de S. Paulo, São 
Paulo, 25 julho 2010, p. C2) 
 
 6 
 
 
Centro Universitário de Patos de Minas 
 
 
PLANO DE ENSINO 
ANO LETIVO PERÍODO CARGA HORÁRIA 
2014 1º Semestral: 80h – Semanal: 4h 
Identificação da disciplina: Linguagem e Comunicação 
 
 
EMENTA 
 
A noção de linguagem como interação e o domínio de mecanismos linguísticos (gramaticais) e discursivos que 
permitam ao usuário da língua não só a leitura eficiente de textos variados, mas também a produção deles, a 
fim de que possa interagir e atuar sobre o(s) outro(s), social e profissionalmente. 
 
OBJETIVO GERAL 
 
 Ler e produzir textos de maneira eficiente, considerando o interlocutor, o contexto de produção, a 
circulação e o papel dos textos numa dada comunidade. 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
 Refletir sobre a importância da circulação de informações na construção do conhecimento, sobre o 
papel da linguagem como meio de sobrevivência e como instrumento-chave nas relações sociais e 
profissionais. 
 Dominar mecanismos linguísticos que permitam a leitura e a produção de textos com coesão e 
coerência e com progressão e articulação. 
 Compreender textos nos aspectos linguísticos, argumentativos e expressivos, para que se desenvolva 
habilidade de interação nas modalidades escrita e falada da língua. 
 Produzir textos que possibilitem uma participação social e profissional efetiva. 
 Dominar tópicos referentes à normatização da escrita que permitam a produção de textos que atendam 
ao padrão culto da língua. 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
 
01 LINGUAGEM E SOCIEDADE 
1.1 Informação e conhecimento 
1.2 Indivíduo e profissão 
1.3 Texto e sua circulação 
1.3.1 Intenções do produtor 
1.3.2 Polifonia e intertexto 
 
 
2 TEXTO E SUA TEXTUALIDADE 
2.1 Coerência e coesão textual 
2.1.1 O parágrafo isolado 
2.1.2 O parágrafo no texto 
 
3 COMPREENSÃO TEXTUAL 
3.1 Informações implícitas 
3.1.1 Subentendidos e pressupostos 
3.2 Recursos e falácias da argumentação 
 
04 PRÁTICA DE TEXTOS 
 
4.1 Artigo de opinião 
4.2 Resumo 
4.3 Resenha 
 
05 PROBLEMAS GERAIS DA LÍNGUA CULTA 
 
 
 
 
 
 7 
ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS 
 
Os discentes farão leituras de textos variados e de fontes diversas, selecionados pelo professor, voltados, direta 
ou indiretamente, à área de atuação escolhida, com a finalidade de reconhecer, de interpretar e de analisar os 
apontamentos teóricos feitos nas aulas. Será contemplada também a produção de textos a partir das leituras 
recomendadas. 
 
METODOLOGIA 
 
Para que se alcancem os objetivos propostos nas aulas de Linguagem e Comunicação, serão adotados os 
seguintes procedimentos didático-metodológicos: aulas expositivas, estudos de textos, debates, apresentação 
de seminários, oficinas de leitura e produção de textos. 
 
RECURSOS DIDÁTICOS 
 
Coletânea de textos e atividades, quadro, giz, textos selecionados de revistas, jornais e livros, retroprojetor, 
vídeo, salas de computadores e outros recursos necessários ao desenvolvimento das aulas. 
 
AVALIAÇÃO 
 
 Do discente: 
 
A avaliação, que consiste em um processo contínuo e permanente, será concebida e utilizada nesta disciplina 
como elemento constitutivo do processo ensino-aprendizagem que permite identificar, qualitativa e 
quantitativamente, os avanços e dificuldades na concretização dos objetivos propostos. No decorrer do 
semestre letivo, serão distribuídos 100 (cem) pontos, da seguinte forma: 
 
1. Quarenta (40) pontosdistribuídos pelo docente da disciplina, por meio da realização de provas e/ou 
outras atividades de avaliação. 
2. Vinte (20) pontos distribuídos pelo professor orientador do Projeto Integrador, naqueles períodos em 
que este ocorrer, ou pelo docente da disciplina quando isso não acontecer; 
3. Vinte (20) pontos atribuídos na Avaliação Colegiada (AC), elaborada pelo professor da disciplina, em 
parceria com o Núcleo Docente Estruturante (NDE), considerando-se a ementa trabalhada durante o 
semestre; 
4. Vinte (20) pontos atribuídos na Avaliação Integradora (AVIN), elaborada pelo Núcleo de Apoio 
Psicopedagógico (NAP), considerando-se as ementas de todas as disciplinas trabalhadas durante o 
semestre. 
 
 Do docente: 
 
Os alunos avaliarão o desempenho e atuação do professor por meio de instrumento elaborado pela CPA. 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
 
FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristovão. Oficina de texto. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. 
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 17. ed. São Paulo: Ática, 2007. 
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual. 22. ed. São Paulo: Contexto, 2010. 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
 
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. 4. ed. São Paulo: Parábola, 2008. 
DISCINI, Norma. Comunicação nos textos: leitura, produção, exercícios. São Paulo: Contexto, 2010. 
GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever aprendendo a pensar. 27. ed. atual. 
Rio de Janeiro: FGV, 2011. 
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz C. A coerência textual. 17 ed. São Paulo: Contexto, 2007. 
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 2. ed. São Paulo: Parábola, 2008. 
 8 
Capítulo 1 
 
01 Linguagem e sociedade 
 
Neste capítulo, você vai ler e discutir, 
num primeiro momento, textos que abordam a 
relação entre informação e conhecimento, a 
dicotomia entre a leitura racional e a 
emocional, a construção do conhecimento 
como processo e a importância da linguagem 
técnica nas diversas áreas do conhecimento. 
Num segundo momento, serão apresentados 
textos para que você aprimore sua visão acerca 
do que seja (inter)texto, sua circulação e suas 
intenções. Para cada texto ou conjunto de 
textos, serão elaboradas atividades para reforço 
de aprendizagem e para discussão nas aulas. 
 
1.1 Informação e conhecimento 
 
 Neste ainda recente intercurso de 
séculos, uma exigência é feita: devemos ter 
acesso a informações. No entanto, não 
podemos confundir esse acesso com a 
construção de saberes ou de conhecimento. 
Ter informação não significa necessariamente 
ter capacidade de produzir conhecimento. É 
consensual, porém, que informações recebidas 
são necessárias à elaboração de conhecimento. 
A evolução do homem foi e é garantida, em 
grande parte, pelo fluxo de informações e pelo 
conhecimento resultante do intercâmbio delas, 
ora confirmando-as, ora negando-as, ora 
aprimorando-as. 
 A cada dia, somos exigidos, 
principalmente no trabalho: devemos produzir 
sempre mais. Em qualquer atividade, somos 
levados a pensar, refletir, discutir, entre outras 
questões. Quem não tem informação não 
interage e quem não interage torna-se um 
indivíduo sem relações. Não há sociedade sem 
relações entre os indivíduos, não há atividade 
profissional que não gere resultados. Portanto, 
para que seja alcançada a interdependência 
necessária entre os indivíduos e entre os 
profissionais, a linguagem é necessária. É por 
meio dela que se constroem conhecimentos. 
 O domínio de linguagens, da língua às 
manifestações não verbais, não garante ao 
falante regalias sociais, culturais, profissionais. 
Não adianta ter acessos a meios que veiculam 
informações; isso não nos faz melhores nas 
nossas relações diárias e intelectuais. Não 
adianta ter a capacidade de assimilar a 
linguagem técnica de nossas profissões; outras 
exigências são necessárias. Talvez a nossa 
disposição para receber informações e colocá-
las em confronto com outras seja a nossa 
principal característica. Somos seres de 
produção de conhecimento, e a linguagem é a 
ponte para as travessias. 
 
 
1.1.1 Quem sabe ? 
 
Galileu revolucionou a ciência e a 
tecnologia ao afirmar que a natureza é escrita 
na linguagem dos números. A nova revolução 
tecnológica afirma que a sociedade é escrita na 
linguagem da informação. Mas de que tipo de 
sociedade estamos falando? 
O 0 e o 1 são os blocos básicos com os 
quais será construído o futuro. Dois algarismos 
apenas formam o alfabeto do fenômeno mais 
complexo dos tempos modernos: a tecnologia 
de informação e comunicação. Novas formas de 
atividade e expressão, novas práticas de 
trabalho e de lazer já emergiram, e as velhas já 
estão passando por transformações radicais. 
Essas mudanças tremendas estão 
ocorrendo em escala global porque a partilha 
 9 
de informações em rede está, pouco a pouco, 
alcançando todo o planeta. Ainda restam 
grandes disparidades, principalmente entre os 
hemisférios Sul e Norte, mas esses processos 
estão longe de completos. Em que direção eles 
estão nos conduzindo? Como devem ser 
implementados e regulamentados? Quais 
devem ser os envolvidos? 
Essas perguntas todas levaram a ONU a 
convocar a Cúpula Mundial sobre a Sociedade 
de Informação, que terá lugar em Genebra em 
dezembro. Essa cúpula reunirá governos, 
ONGs, participantes-chaves no setor privado e 
na sociedade civil, a mídia e organizações que 
integram o sistema da ONU. Prevendo alguns 
dos tópicos constantes da agenda da cúpula, a 
Unesco recentemente lançou um novo ciclo em 
sua série de fóruns de filosofia. Para situar-se 
em uma discussão diretamente relacionada à 
sua área de competência, ela postulou a 
pergunta ―Quem sabe?‖ a 20 figuras de 
destaque de uma série de áreas geográficas e 
intelectuais que participam do Fórum de 
Filosofia da Unesco. 
Alguns dirão que essa pergunta já é 
obsoleta. Para que memorizar se máquinas 
podem fazer melhor e mais rapidamente que 
nós? De que adianta conhecermos um teorema 
ou uma receita se podemos acessá-los 
facilmente na web? Essas perguntas não deixam 
de fazer sentido. Mas será que devemos 
concluir que a sociedade da informação conduz 
a uma sociedade caracterizada pela amnésia e 
ignorância? Deve a derrota de um homem pela 
máquina numa partida de xadrez nos fazer 
colocar em dúvida aquilo que é intrinsecamente 
humano? Não. Precisamos repensar o problema 
em novos termos. 
O Fórum de Filosofia da Unesco 
mostrou que a pergunta ―Quem sabe?‖ só terá 
perdido a relevância se confundirmos 
informação com conhecimento. No entanto, 
essas são duas coisas distintas, embora 
relacionadas, na medida em que a informação é 
uma ferramenta do conhecimento. 
A informação é uma técnica que tem 
por objetivo eliminar o elemento do ruído na 
comunicação. Mas comunicação não é 
inovação. Calibrar as palavras e mensagens 
melhora a transmissão do conhecimento, mas 
não o cria. O ponto forte da informação 
também é sua limitação. A inovação ocorre 
apenas quando existe uma busca pelo que é 
novo; não existe pesquisa – logo, não há 
progresso – sem conhecimento e sem a 
curiosidade e a experiência, as falhas e as 
tradições que ele pressupõe. É o conhecimento 
que dá sentido à informação. 
O conhecimento inclui dimensões 
sociais, éticas e políticas que não podem ser 
reduzidas à tecnologia. Uma sociedade que 
fosse exclusivamente só de informação seria um 
conjunto de enormes redes interligadas, 
eficazes e ágeis, mas que não iria produzir 
inovações. A informação não é base suficiente 
sobre a qual erguer uma sociedade. Mas a 
sociedade se baseia no diálogo, não em bits de 
informação. Assim, ―sociedades do 
conhecimento‖ parece ser uma expressão mais 
apropriada do que ―sociedade da informação‖ 
para designaros fenômenos dos quais estamos 
tratando. 
Existe apenas uma sociedade da 
informação, já que existe apenas um padrão de 
dados e comunicações. As sociedades do 
conhecimento existem no plural, já que, na 
medida em que dizem respeito à criatividade, 
elas necessariamente implicam diversidade e 
partilha. 
Sem o intercâmbio do conhecimento 
não podem existir avanços econômicos, 
científicos ou políticos em nível local, regional 
ou global. A partilha eqüitativa do 
conhecimento será a origem da riqueza do 
amanhã. 
Isso também é verdade no que diz 
respeito à vida cívica. Sem cultura democrática 
– ou seja, sem a tradição e o aprendizado dos 
costumes e valores democráticos –, a 
informação será utilizada para as finalidades dos 
regimes oligárquicos ou tirânicos, tanto quanto 
para as dos regimes fundamentados em 
processos decisórios públicos e compartilhados. 
O conhecimento se tornou um potencial-chave 
de investimento em todas as áreas da atividade 
humana. 
 10 
É por essa razão que a Unesco decidiu 
dedicar às sociedades do conhecimento seu 
primeiro relatório mundial, a ser publicado em 
2005, e também organizar uma mesa-redonda 
sobre o mesmo tema durante sua conferência 
geral de outubro de 2003. Afinal, a idéia do 
conhecimento não resume, melhor do que 
qualquer outra, as exigências implícitas na 
educação, ciência e cultura? Nossa meta é 
promover uma reflexão progressiva sobre os 
desafios postos pelas sociedades emergentes. 
Diante da revolução do conhecimento, a 
Unesco se mantém fiel a seu papel essencial: 
atuar como laboratório das idéias do amanhã. 
 
(Jérome Bindé é diretor de Antecipação e Estudos de 
Perspectivas da Unesco; Joseph Goux é professor de filosofia 
na Universidade Rice (Texas), EUA) 
 
(Folha de S. Paulo, 23 nov. 2003) 
 
 
1. Informação e conhecimento são conceitos sinônimos e equivalentes? Argumente. 
2. O que ocorreria se a informação e a tecnologia de ponta substituíssem a cultura democrática? 
3. Discorra, num único parágrafo, sobre a força e a importância do fluxo de informação para a 
sociedade moderna. 
 
 
1.1.2 Onde mora a inteligência 
 
Retorno ao lugar onde parei, na Escola 
da Ponte, em Portugal. A menina que me 
levava me havia dito umas coisas que me 
espantaram por não combinarem com aquilo 
que eu pensava saber sobre as escolas. Foi 
então que me veio à cabeça a sabedoria do 
Riobaldo: "O real não está na saída nem na 
chegada: ele se dispõe para a gente é no meio 
da travessia". Sem intenção consciente, o dito 
do Riobaldo passou por uma transformação 
pedagógica e virou "a inteligência não está na 
saída nem na chegada, ela se dispõe para a 
gente é no meio da travessia". A inteligência 
acontece no "estar indo". Quando ela não está 
indo, ela está dormindo... 
Lembrei-me dos meus anos de ginásio, 
a pedagogia que os professores usavam 
naqueles tempos, e não sei se as coisas 
mudaram, porque o hábito tem um poder 
muito grande... Pois os professores me 
ensinaram as coisas que estavam na chegada, 
mas não me contaram como foi que a travessia 
tinha sido feita. 
O professor entrou em sala e anunciou: 
equação do segundo grau. Aí, ele se pôs a falar 
e a escrever símbolos no quadro negro. 
Aprendi automaticamente, sem entender, 
porque tinha memória boa: "x = -b + ou - raiz 
quadrada de b2 - 4ac sobre 2a". Lembro-me de 
um colega que não havia entendido a coisa, 
estava perturbado com o símbolo "x" e veio 
me perguntar: "Afinal, qual é mesmo o valor 
de "x"? 
Eu sabia que a fórmula para se 
determinar o valor de "x" não havia caído dos 
céus. Ela aparecera na cabeça de algum 
matemático que a deduzira séculos atrás depois 
de uma longa travessia numa jangada feita de 
pensamentos. O dito matemático a descobriu 
porque seus pensamentos estavam infelizes. 
"Ostra feliz não faz pérola". O que é dor para a 
ostra é uma interrogação para a cabeça. 
Mas por onde o pensamento 
matemático navegou para fazer a travessia, isso 
o professor não ensinou. É possível que ele não 
soubesse, ou que achasse que isso não 
importava. Para que entender a gravidez se o 
nenê já nasceu? O que importa é comer o bolo 
e não saber a receita... 
Me ensinaram também as três leis dos 
movimentos dos planetas que Kepler 
descobriu, curtinhas, fáceis de guardar na 
memória. Mas essas três leis na minha memória 
em nada contribuíram para dar poder à minha 
inteligência. Enquanto a memória trabalhava 
para decorar a "chegada", minha inteligência 
dormia. Nada me contaram sobre os caminhos 
fascinantes por onde errou o pensamento do 
astrônomo por dezoito anos. Uma hipótese 
errada atrás da outra, um caminho que não 
 11 
levava a lugar algum depois do outro. Por que 
gastar tempo com os erros da "travessia", se se 
pode ir diretamente à "chegada", conclusão? 
Não se percebe que, ao assim proceder, o 
aluno ganha uma memória musculosa e uma 
inteligência flácida... 
Pensar é como escalar montanhas. Um 
alpinista recusaria o caminho rápido e seguro 
de chegar ao topo da montanha via helicóptero, 
sem sofrer e sem suar. Onde está a graça? O 
que ele deseja são os medos, os calafrios, os 
desafios da montanha, o que ele vê enquanto 
sobe... A arte de pensar se ensina fazendo a 
inteligência seguir o caminho da travessia, com 
todos os seus erros e enganos. 
 
(ALVES, Rubens. Onde mora a inteligência. Folha de S. Paulo, 
28 junho 2011, p. A2. Caderno Cotidiano) 
 
 
1. O que o autor discute no texto? Você concorda com o ponto de vista dele? Por quê? 
2. Qual a importância da citação no 1º parágrafo para a montagem do esquema argumentativo? 
3. Traduza: ―Não se percebe que, ao assim proceder, o aluno ganha uma memória musculosa e uma 
inteligência flácida...‖ 
4. Em relação à construção do conhecimento, a tecnologia é uma ferramenta para a ―travessia‖ ou para 
a ―chegada‖? 
5. Como você pretende percorrer o caminho da leitura e da produção de textos neste momento 
acadêmico e na vida profissional futura? 
 
 
1.1.3 Analfabetismo emocional 
 
Há os que não conseguem decifrar a 
língua escrita, são os analfabetos. Outros 
entendem apenas textos simples, são os 
analfabetos funcionais. Falarei do que chamo de 
analfabeto emocional. É aquele que sabe ler, 
mas é presa das emoções para entender o 
texto, em vez de usar a razão. Faz uma leitura 
"criativa", embalada pelo sentimento e pela 
paixão. Decifra o texto por via de uma reação 
pura e espontânea, ignorando os estreitamentos 
de significado, impostos pelo sentido rigoroso 
das palavras escritas. A fim de ilustrar, 
utilizarei as cartas dos leitores acerca do meu 
ensaio "Os legisladores e o Verbo Divino" (12 
de dezembro). Isso, por duas razões. Primeiro, 
por revelar-se uma boa amostra de leitura 
emocional. Segundo, porque muitas cartas são 
de professores e há uma corrente pedagógica 
pregando o subjetivismo e a liberdade do leitor 
para entender o texto como quiser. Será que 
alguns estariam ensinando tal estilo de leitura a 
seus alunos? 
Como várias interpretações se 
deslocaram do que está escrito, vale resumir o 
ensaio: 1) Pesquisas se somam, mostrando que 
o número de alunos em sala de aula não tem 
correlação com o nível de aprendizado; 2) 
Portanto, não há base científica para uma lei 
nacional inventando um número-limite de 
alunos por sala; 3) Vários fatores determinam 
qualidade, mas, segundo as pesquisas, o 
tamanho das classes não é decisivo; 4) Há 
situações em que classes pequenas se justificam 
– inclusive por exigência do método 
empregado –, mas isso tem de ser 
demonstrado, casa a caso. O ensaio causou a 
"indignação" de vários leitores. Entendamos, as 
emoções fazem parte da vida. Mas podem estar 
no lugar certo ou errado. Insisto, antes da 
fúria, é preciso usar razão para entender o que 
está sendo dito. Faltou a muitos leitores (mas 
não a todos),a disciplina de seguir o raciocínio, 
entendendo a lógica do argumento. Por isso, 
discordam do que não está escrito. 
Diante de uma pesquisa (no caso, 
centenas), devemos sempre aplicar a dúvida 
sistemática de Descartes. Encontramos erro 
lógico no argumento? Encontramos falhas 
metodológicas na comprovação empírica? 
Modelo errado, dados errados? Se não 
conseguimos identificar falhas, acabou a 
munição. Gostando ou não, somos obrigados a 
 12 
engolir as conclusões da pesquisa. O debate 
científico não é minha opinião contra a sua, 
minha teoria contra a sua, mas sim minha 
evidência contra a sua. Vale o que revela o 
mundo real. 
"Reputo como inválidos seus 
argumentos". A frase ilustra a confusão entre 
pesquisa científica e opinião. Vale "o que eu 
acho", "o que eu vivi", "o que eu sei". A 
observação pessoal é vista como sendo mais 
definitiva do que pesquisas submetidas ao duro 
crivo da ciência. Se fosse assim, por que fazer 
pesquisas rigorosas? Afinal, a pesquisa é para 
eliminar subjetivo, as ambiguidades e o 
particularismo dos casos. Busca-se nela decifrar 
as grandes forças em jogo, não os detalhes de 
cada situação. Várias cartas julgaram irrealistas 
os exemplos oferecidos. É o mesmo engano. Se 
o convencimento fosse pelos exemplos, para 
que pesquisa? O papel dos exemplos é facilitar 
a compreensão, é dar concretude. Não 
demonstram rigorosamente nada. Houve 
atribuições de culpa à falta de disciplina, ao 
calor, à desmotivação de alunos e professores, 
à promoção automática e a outras moléstias do 
cotidiano de uma escola. Mas ao se apontarem 
esses fatores, implicitamente, fica reforçada, e 
não negada, a tese do ensaio sobre a falta de 
centralidade do tamanho das classes. 
Para terminar, fui bombardeado com o 
clássico argumentum ad hominem, comum 
nesses debates. Em vez de se apontarem erros, 
denuncia-se o autor. Vejamos algumas farpas: 
economistas sucumbem à "retórica 
mercantilista ou a exercícios de adivinhação 
levianos"; "Dos seus escritórios com ar 
condicionado (...) fica mais fácil ter uma visão 
turva da realidade"; "Com certeza, o senhor 
nunca viu de perto escola pública" (não é 
verdade, mas no caso é irrelevante). Ora, uma 
característica essencial de um estudo científico 
é que sua validade não depende de quem o 
realizou, mas de ser metodologicamente 
inexpugnável. 
 
(CASTRO, Cláudio de Moura. Analfabetismo emocional. 
Veja, 02 fevereiro 2013, p. 22). 
 
 
1. O que é, na perspectiva de Castro, analfabetismo emocional? 
2. O leitor dispõe de uma liberdade que permita a ele ler os textos como quiser? Comente. 
3. Para Castro, muitos leitores falham em suas leituras por não seguirem o raciocínio e a lógica 
argumentativa propostos pelos autores dos textos. Esse posicionamento de Castro aplica-se à leitura 
de que gêneros textuais? A que gêneros não se aplicaria? 
4. Como compreender a dicotomia entre resultado de uma pesquisa e opinião sobre esse resultado? 
5. A que recursos você recorreria para validar suas opiniões? 
Sugestão: leia o texto 232 bombas atômicas, na página 68. 
 
 
 
1.2 Indivíduo e profissão 
 
 Conforme, Nicola, Cavallete Terra 
(2002), todo falante tem um certo conceito 
sobre que linguagem usar, dependendo da 
situação em que se encontra. Por isso, utiliza 
um registro formal em situação formal e um 
registro mais livre em situação menos formal. 
Por isso, também, notamos que a linguagem é 
desenvolta quando o sujeito tem o domínio da 
situação e, ao contrário, ele se cala ou se inibe 
se esse domínio não existe. Nas relações 
profissionais, o uso da linguagem, sobretudo a 
técnica, é primordial para que o falante se 
sobressaia bem. 
 
 
 
 13 
1.2.1 Língua e poder 
 
―A terapia teve um efeito idiossincrático 
com prognóstico favorável em caso de pronta 
supressão‖. Essa frase, enigmática para os não-
iniciados nas sendas médicas, não significa 
muito mais do que ―o remédio teve efeito 
contrário, mas não causará problemas se for 
suspenso logo‖. 
Esse é um dos exemplos de jargão que 
consta da reportagem sobre linguagens técnicas 
publicada na semana passada no caderno 
Sinapse. O jargão é de fato inevitável, mas isso 
não significa que ele deva ser empregado em 
todas as ocasiões. Com efeito, toda profissão, 
do telemarketing à física de partículas, acaba 
por desenvolver um vocabulário específico, 
muitas vezes impenetrável para o leigo. Não 
apenas neologismos são criados como palavras 
comuns podem ter sua significação alterada. 
Em alguns casos, trata-se de uma 
necessidade. O jargão, no mínimo, economiza 
palavras, concentrando carga informativa em 
termos específicos. Quando um médico fala em 
―miocardiopatia idiopática‖, ele está na verdade 
dizendo um pouco mais do que apenas 
―problemas cardíacos de causa ignorada‖. No 
subtexto, um outro médico compreenderá que 
o paciente sofre de moléstia cardíaca de origem 
desconhecida e para a qual já foram descartadas 
as causas que mais comumente provocam 
doenças do coração. 
Em determinadas áreas científicas, os 
próprios objetos de estudo não passam de 
jargão. É o caso, por exemplo, da lingüística, 
com seus morfemas, sintagmas e lexemas, e da 
física de partículas, com seus quarks, glúons e 
léptons. No limite, sem o jargão, os fenômenos 
estudados não podem nem ser enunciados. 
Reconhecer a importância e a 
necessidade do jargão em certas situações não 
significa chancelar seu uso indiscriminado. Um 
médico ou um advogado que se dirijam a seus 
clientes em linguagem técnica incompreensível 
estão, na verdade, atendendo muito mal ao 
consumidor, que deve ter, em todas as 
ocasiões, acesso a uma explicação completa de 
sua situação em linguagem acessível. 
Infelizmente, as coisas nem sempre se 
passam assim. Desde que o mundo é mundo, 
profissionais de uma determinada área tendem 
a unir-se para manter sua arte impenetrável 
para o público em geral e, assim, aumentar seu 
poder. Não foi por outra razão que os escribas 
do antigo Egito complicaram 
desnecessariamente a escrita hieroglífica: era 
uma forma de conservarem e até de ampliarem 
sua posição hierárquica. Os tempos e as 
ciências mudaram, mas o princípio de 
complicar para valorizar-se permanece em 
vigor. 
Não devemos, é claro, ser ingênuos e 
acreditar que poderemos promover a plena 
igualdade através da língua. Democracia é, 
antes de mais nada, a arte de negociar, de 
aplicar o bom senso na solução de problemas. 
Nesse sentido, o bom profissional é aquele 
capaz de comunicar-se no melhor jargão com 
seus colegas, mas que consegue, sem grandes 
perdas, fazer-se entender pelo leigo. Os que 
ostensivamente abusam da linguagem técnica 
tendem a ser os menos capazes, os que mais 
precisam afirmar-se para não perder poder. 
 
(Folha de S. Paulo, 20 junho 2003) 
 
 
1. Qual a relação entre domínio da língua e manifestação de poder? Dê exemplos. 
2. Opine sobre o uso exagerado do jargão e sobre a linguagem ideal para o profissional. 
3. Esse texto faz referência a uma reportagem sobre linguagens técnicas publicada anteriormente. De 
modo geral, como você vê a relação entre textos? 
4. O jargão, nas mais diversas profissões, pode ser considerado fator de exclusão? Comente. 
5. O sucesso profissional está ligado ao domínio da linguagem técnica? Por quê? 
 
 
 14 
1.3 Texto e sua circulação 
 
 Alguns teóricos da linguagem 
consideram que, na era da informação, tudo é 
texto. Um slogan de uma campanha política, 
uma música, um gráfico, um discurso oral, 
uma placa de trânsito, enfim, os mais variados 
arranjos organizados com o propósito de 
informar, comunicar, veicular sentidos são 
textos. Assim, um texto é não exclusividade da 
palavra. O texto é determinado pela finalidade 
comunicativa. E não faltam meios e recursos, 
nesta época em que vivemos, paraa produção e 
circulação de textos dos mais diversos e 
diferentes possíveis. 
 
1.3.1 Intenções do produtor 
 
 
Conforme, Nicola, Florina e Ernani 
20002), o falante, ao realizar um ato de 
comunicação verbal, escolhe, seleciona palavras 
para depois organizá-las e combiná-las, 
conforme a sua vontade. Esse trabalho de 
seleção e combinação não é aleatório, não é 
realizado por acaso (afinal, seleção significa 
―escolha fundamentada‖), mas está diretamente 
ligado à intenção do produtor do texto. Desse 
modo, a linguagem passa a ter funções, como 
as de informar, seduzir, emocionar, convencer, 
entre outras. 
 
 
1.3.1.1 Textos e atividades 
 
 
1) Leia, com atenção, os três textos a seguir para responder ao que se pede. 
 
 
I – Supremo absolve deputado federal acusado de difamação 
 
O Supremo Tribunal Federal (STF) 
absolveu na manhã desta quarta-feira (12) o 
deputado federal Wladimir Costa (PMDB-PA) 
da acusação de difamação por suposta agressão 
verbal contra um adversário político. A maioria 
dos magistrados também entendeu que estava 
prescrito o crime de injúria contra o 
parlamentar paraense. 
Segundo queixa-crime feita pelo ex-
senador Ademir Galvão Andrade (PSB-PA), 
Costa o teria ofendido em um programa de TV 
apresentado pelo deputado. O senador 
recorreu à Lei de Imprensa para tentar 
demonstrar que o adversário teria cometido os 
crimes de difamação e injúria. 
A Procuradoria Geral da República 
(PGR) concluiu que não houve crime de 
difamação, mas sim de injúria. Os 
procuradores, no entanto, observaram que a 
eventual punição estaria prescrita. 
A relatora do processo no STF, ministra 
Cármen Lúcia, acompanhou o entendimento da 
PGR e votou pela absolvição de Costa por 
difamação. Outros cinco magistrados seguiram 
a relatora. 
Somente os ministros Carlos Ayres 
Britto, presidente da corte, e Marco Aurélio 
Mello se manifestaram pela condenação do 
deputado, mas foram vencidos. 
 
Fabiano Costa e Mariana Oliveira 
Do G1, em Brasília 
 
(Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia>. 
Acesso em: 29 jan. 2013) 
 
 
 
 15 
II – Fragmento do Código Penal 
 
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a 
dignidade ou o decoro: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou 
multa. 
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: 
I - quando o ofendido, de forma reprovável, 
provocou diretamente a injúria; 
II - no caso de retorsão imediata, que consista 
em outra injúria. 
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias 
de fato, que, por sua natureza ou pelo meio 
empregado, se considerem aviltantes: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) 
ano, e multa, além da pena correspondente à 
violência. 
§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de 
elementos referentes a raça, cor, etnia, religião 
ou origem: 
Pena - reclusão de um a três anos e multa. 
* § 3º acrescentado pela Lei nº 9.459, de 13 de 
maio de 1997. 
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo 
aumentam-se de um terço, se qualquer dos 
crimes é cometido: 
I - contra o Presidente da República, ou contra 
chefe de governo estrangeiro; 
II - contra funcionário público, em razão de 
suas funções; 
III - na presença de várias pessoas, ou por meio 
que facilite a divulgação da calúnia, da 
difamação ou da injúria. 
Parágrafo único - Se o crime é cometido 
mediante paga ou promessa de recompensa, 
aplica-se a pena em dobro. 
 
(Disponível em : <tv.terra.com.br/esportes/esportestv>. 
Acesso em: 20 abril 2007) 
 
 
 
 
III – Calúnia 
 
Quiseste ofuscar minha fama 
E até jogar-me na lama 
Só porque eu vivo a brilhar 
Sim, mostraste ser invejoso 
Viraste até mentiroso 
Só para caluniar 
Deixe a calúnia de lá 
Se de fato és poeta 
Deixe a calúnia de lá 
Que ela a mim não afeta 
Se me ofendes, 
Tu serás o fendido 
Pois quem com ferro ferir 
Com ferro será ferido. 
Quiseste ofuscar minha fama 
E até jogar-me na lama 
Só porque vivo a brilhar 
 
(Caetano Veloso. Disponível em: <http://www.kboing.com.br>. Acesso em: 15 julho 2013) 
 
 
1. Com que intenções os textos foram escritos? 
2. No Texto 1, percebe-se o uso do discurso indireto. Que efeito esse uso confere à notícia lida? Já 
no Texto 2, não se percebe de quem é a voz que fala. Por quê? De quem seria essa voz? E no Texto 
3, de quem é a voz e de que modo ela se projeta para nós, leitores ou ouvintes? 
 
 
1.3.2 Polifonia e intertexto 
 
 Podemos dizer que textos são reuniões 
de várias vozes: polifonia. Isso significa dizer 
que os textos possuem uma multiplicidade de 
vozes que os atravessam por meio de uma voz 
privilegiada – a do locutor principal – que vai 
incorporando as outras. Essas vozes podem 
aparecer no texto de maneira explícita ou 
implícita. Um exemplo do primeiro caso é a 
 16 
citação no texto de ideias de outra pessoa. Um 
exemplo do segundo caso é a introdução no 
texto de ideias ou conceitos que fazem parte do 
senso comum, como afirmar que ―televisão faz 
mal à saúde‖. 
 Nenhum texto se produz no vazio ou se 
origina do nada. Todo texto se alimenta, de 
modo claro ou subentendido, de outros textos. 
Um, ao retomar outro, tanto pode reiterar ou 
subverter as ideias presentes no texto 
―original‖. O autor utiliza-o com o objetivo de 
apoiar ou de dizer algo totalmente diferente do 
que foi dito em outro texto, de criticar um 
ponto de vista, uma visão de mundo. 
 Para Nicola, Florina e Ernani (2002), o 
conhecimento das relações entre os textos – e 
os textos utilizados como intertexto – é um 
poderoso recurso de produção e apreensão de 
significados. Quando um determinado autor 
recorre a outros textos para compor os 
próprios, certamente tem um motivo muito 
claro – a construção de significados específicos 
(crítica, reflexão, releitura, entre outras 
questões). Percorrer o caminho inverso, ou 
seja, buscar esse motivo e reconstruir o 
processo de produção leva a desvendar tais 
significados, pois um texto completa outro, 
lança luz sobre o outro. É o exercício da leitura 
que irá garantir tudo isso. 
 
 
1.3.2.1 Textos e atividades 
 
1) Leia, com atenção, o texto seguinte para responder ao que se pede. 
 
Sem adjetivos 
 
―Eu sabia que estava com um cheiro de 
suor, de sangue, de leite azedo. Ele [delegado 
Fleury] ria, zombava do cheiro horrível e mexia 
em seu sexo por cima da calça com olhar de 
louco.‖ 
De Rose Nogueira, jornalista em São 
Paulo. Da ALN, foi presa em 1969, semanas 
depois de dar à luz. 
―No quinto dia, depois de muito 
choque, pau de arara, ameaça de estupro e 
insultos, abortei. Quando melhorei, voltaram a 
me torturar.‖ 
De Izabel Fávero, professora de 
administração em Recife. Da VAR-Palmares, 
foi presa em 1970. 
―Eu passei muito mal, comecei a 
vomitar, gritar. O torturador perguntou: 
‗Como está?‘. E o médico: ‗Tá mais ou menos, 
mas aguenta‘. E eles desceram comigo de 
novo." 
De Dulce Chaves Pandolfi, professora 
da FGV-Rio. Da ALN, foi presa em 1970 e 
serviu de ―cobaia‖ para aulas de tortura. 
―Eu não conseguia ficar em pé nem 
sentada. As baratas começaram a me roer. Só 
pude tirar o sutiã e tapar a boca e os ouvidos.‖ 
De Hecilda Fontelles Veiga, professora 
da Universidade Federal do Pará. Da AP, foi 
presa em 1971, no quinto mês de gravidez. 
―Eu era jogada, nua e encapuzada, como 
se fosse uma peteca, de mão em mão. Com os 
tapas e choques elétricos, perdi dentes e todas 
as minhas obturações.‖ 
De Marise Egger-Moellwald, socióloga, 
mora em São Paulo. Do então PCB, foi presa 
em 1975. Ainda amamentava seu filho. 
―Eu estava arrebentada, o torturador 
me tirou do pau de arara. Não me aguentava 
em pé, caí no chão. Nesse momento, fui 
estuprada.‖ 
De Gilze Cosenza, assistente social 
aposentada de Belo Horizonte. Da AP, foi 
presaem 1969. Sua filha tinha quatro meses. 
Trechos de 27 depoimentos de 
sobreviventes, intercalados às histórias de 45 
mortas e desaparecidas no livro ―Luta, 
Substantivo Feminino‖, da série ―Direito à 
Verdade e à Memória‖. Será lançado na PUC-
SP hoje, a seis dias do 31 de março. 
 
(Eliane Cantanhêde, Folha de S. Paulo, 25 março 2010, p. A2. 
Opinião)
 17 
 
1. Esse texto apresenta unidade temática. Qual? O que assegura essa unidade? 
2. Que efeito produz a identificação das mulheres citadas? 
3. No último parágrafo, em virtude da posição dos termos sintáticos que compõem o primeiro 
período, há um absurdo. Escreva o período para que o texto fique claro. 
 
 
 
2) Leia, com atenção, os textos a seguir para responder ao que se pede. 
 
I – Os três macacos sábios 
 
 
 
A escultura Sanzaru, OS TRÊS 
MACACOS, - do Santuário de Toshogu, 
localizado na cidade de Nikko, Japão - é uma 
das mais famosas do templo Nikko Toshogu, o 
Templo do Xogum divinizado (Ieyasu 
Tokugawa). 
O três macacos são conhecidos como 
―Os Três Macacos Sábios‖ e significam: ―não 
veja o mal, não ouça o mal, não fale o mal‖. 
Seus nomes são: ―Mizaru‖, o que cobre os olhos 
e não vê o mal; ―Kikazaru‖ o que cobre os 
ouvidos e não ouve o mal; e ―Iwazaru‖, o que 
cobre a boca e não fala o mal. 
 
 
Segundo alguns autores, haveria um 
quarto macaco, chamado Shizaru, com as mãos 
sobre o abdômen para lembrar ―não faça o 
mal‖. E embora não haja comprovação, eles 
teriam sido levados ao Japão por um monge 
budista chinês no século VIII. 
Dizem que o Mahatma Gandhi 
carregava uma gravura dos Três Macacos Sábios 
em suas viagens para lembrá-lo constantemente 
dos três segredos da Sabedoria: ―não ouça o 
mal, não veja o mal, não fale o mal‖." 
 
(Disponível em: <http://expiracaoeinspiracao.blogspot.com>. 
Acesso em 18 julho 2011) 
II – Charge [Os primatas] 
 
 
www.google.com.br/imagens 
 
 18 
III – Nem tudo se pode ver, ouvir ou dizer 
 
Um músico me escreve contando que 
pertence a uma grande orquesta, mas não tem 
prazer no trabalho por causa dos colegas. Não 
suporta o despotismo, a vaidade, a prepotência, 
a arrogância e a mania de grandeza de alguns. 
O convívio com ―egos inflados‖ é 
demasiadamente penoso, e ele me pergunta o 
que fazer. 
Eu, que sempre faço a apologia do ato 
generoso da escuta, sugiro ao músico que faça 
ouvidos moucos. Lembro que ele tem o 
privilégio de escutar os sons mais sutis e sabe 
ouvir o silêncio. Não precisa dar ouvidos ao 
que não interessa. Inclusive porque egos 
inflados estão em toda parte e a luta contra eles 
não leva a nada. Evitar a luta de prestígio é um 
bem que nós fazemos a nós e aos outros. 
Para viver, nem tudo nós podemos ver, 
escutar ou dizer. Isso é representado, desde a 
Antiguidade, pelos três macacos da sabedoria. 
Cada um cobre uma parte diferente do rosto 
com as mãos. O primeiro cobre os olhos, o 
segundo, as orelhas e o terceiro, a boca. A 
representação é originária da China. Foi 
introduzida no Japão, no século VIII, por um 
monge budista. A máxima que ela implica é 
―não ver, não ouvir e não dizer nada de mau‖. 
Foi adotada por Gandhi, que levava sempre 
consigo os três macaquinhos, o cego, o surdo e 
o mudo – Mizaru, Kikazaru e Iwazaru. 
Eles ensinam a não enxergar tudo o que 
vemos, não escutar tudo o que ouvimos e não 
dizer tudo o que sabemos. Noutras palavras, 
ensinam a selecionar e a conter-se. Isso é 
decisivo para uma atitude construtiva, mas não 
é fácil. Somos impelidos a focalizar o que nos 
prejudica – impelidos por um gozo masoquista 
ao qual temos de nos opor continuamente. Só a 
consciência disso permite não sair do caminho 
em que a vida desabrocha. 
Seleção e contenção tornam a existência 
mais fácil. Desde que não sejam um efeito da 
repressão, como na educação tradicional, e sim 
do desejo do sujeito – um desejo vital de se 
opor às forças do inconsciente que podem nos 
fazer mal. Isso implica a humildade de aceitar 
que o inconsciente existe e nós não somos 
donos de nós mesmos. 
A ideia não é nova. Data da descoberta 
da psicanálise por Freud, no fim do século XIX, 
mas continua a ser ignorada porque é difícil nos 
livrarmos do ego. Sobretudo numa sociedade 
como a nossa, que tanto valoriza, e que não 
condena a vaidade, a prepotência, a arrogância. 
Pelo contrário, estimula-as para se perpetuar. 
 
(MILAN, Bety. Nem tudo se pode ver, ouvir ou dizer. Veja, 
12 janeiro 2011. p. 92. A autora é e psicanalista e escritora) 
 
 
 
 
 
 
1. Com intenção cada um desses textos foi produzido? 
2. Como entender o processo intertextual instaurado na produção desses textos? 
3. Comente: não há texto isolado; o que há é uma imensa rede de textos. 
 
 
 
 19 
Capítulo 2 
 
02 Texto e sua textualidade 
 
Não adianta saber que escrever é 
diferente de falar. É necessário preocupar-se 
com o sucesso dos objetivos da produção 
textual, como a interação entre o produtor do 
texto e o seu receptor. Para que se tenha êxito 
nesse processo, deve-se construir um todo 
significativo. É preciso, portanto, recorrer a 
elementos que possam auxiliar na ligação das 
partes, na construção da coerência, entre 
outos. 
Neste capítulo, você terá acesso, num 
primeiro momento, a uma questão 
fundamental quando se fala de textos, que é a 
coerência. Num segundo momento, será 
abordado outro fator que contribui para o 
sucesso da produção de textos, que é a coesão. 
Por último, será vista a construção do 
parágrafo e sua articulação no texto. 
 
 
2.1 Coerência textual 
 
Como vimos anteriormente, os textos 
são veiculadores de intenções. 
Essas intenções ou propósitos do autor de um 
texto somente terão sentido se houver uma 
organização harmônica das ideias apresentadas. 
Podemos dizer, portanto, que um texto não é 
um aglomerado de frases, mas um todo 
organizado capaz de manter contato com seus 
leitores, agindo sobre eles. Dizer que um texto 
é uma organização de sentido é dizer que ele é 
coerente. 
A coerência é resultante da não-
contradição entre os segmentos textuais e da 
adequação entre o que está na materialidade 
textual e o contexto extraverbal. No primeiro 
caso, um segmento é pressuposto para o 
seguinte e assim sucessivamente. No segundo, 
o que é dito no texto deve estar em harmonia 
com o nosso conhecimento de mundo, sobre o 
que é permitido ou não em determinadas 
situações – que inclui nosso conhecimento 
sobre tipo e gêneros textuais. Assim, há uma 
transmissão e uma recepção de uma linha de 
pensamento. 
Frequentemente nos deparamos com 
situações em que se afirma algo, mas se faz o 
contrário. Como exemplo, na última campanha 
eleitoral política, muitos eleitores se sentiram 
traídos pela candidata Dilma Rousseff ou 
deixaram de dar créditos ao seu discurso, uma 
vez que constataram uma mudança de 
pensamento da candidata em relação ao tema 
do aborto. 
A capa de Veja (13 out. 2010), abaixo 
reproduzida, enfatiza essa ―mudança de 
pensamento‖, para, de certo modo, o que fica 
mais evidente na reportagem, desqualificar a 
candidata. A incoerência está clara não só nas 
citações em discurso direto da candidata, mas 
também na organização visual da capa. Os dois 
blocos de informações da capa, um vermelho 
(discurso desfavorável à opinião pública) e 
outro branco (discurso favorável à opinião 
pública), mostram ao leitor de Veja uma dupla 
face da candidata. Não estaria a revista dizendo: 
―Veja o discurso da candidata, (e)leitor!‖ 
 
 
 20 
 
 
 
Fiorin e Savioli (2007) apresentam três 
níveis em que a coerência deve ser observada: 
narrativo, figurativo e argumentativo. No 
primeiro, a coerência está na decorrência lógica 
das ações e de suas relações com os 
personagens que as praticam. No segundo, a 
coerênciaestá na articulação harmônica entre o 
que é descrito (as figuras), com base na relação 
de significado que mantém entre si. No 
terceiro, a coerência está na apresentação 
concatenada de uma ideia que será defendida, 
de argumentos que sustentam essa ideia e do 
remate dado pela conclusão. 
Ao produzir nossos textos, devemos 
estar atentos à organização coerente de nossas 
ideias. Recuperar a credibilidade e a confiança 
do nosso interlocutor não é uma tarefa simples. 
Embora eleita, a candidata perdeu eleitores em 
virtude de contradições ditas durante sua 
campanha. 
 
2.1.1 Textos e atividades 
 
1) Leia, com atenção, o texto a seguir para responder ao que se pede. 
 
Em março de 2005, o acordo com o 
FMI não foi renovado, resultado do sucesso do 
ajuste na economia promovido pelo governo 
federal nesses dois anos, que, entre outras 
coisas, permitiu a queda da relação dívida 
pública/PIB por dois anos seguidos, ao mesmo 
tempo em que a distribuição de renda 
melhorava e se criavam 100.000 empregos 
formais por mês. Com a economia continuando 
a se fortalecer nos meses seguintes (mais 
exportações, menos inflação), a decisão de 
quitar integralmente a dívida com o Fundo de 
forma antecipada pôde ser tomada com toda a 
segurança, trazendo benefícios para a melhora 
da imagem do país e a diminuição do custo de 
captação da dívida pública. (Adaptado de Em 
Questão, n. 387 - Brasília, 26 de dezembro de 2005) 
 
Assinale a opção que não completa o período abaixo de acordo com as idéias do texto acima. 
 
Foi possível dispensar a renovação do acordo com o FMI em decorrência de 
 
a) sucesso do reajuste na economia promovido pelo governo federal. 
b) queda da dívida pública/PIB por dois anos seguidos. 
c) melhoria da distribuição de renda e criação de 100.000 empregos por mês. 
d) melhora da imagem do país no exterior. 
 
2) Assinale a asserção que dá seqüência coerente ao texto. 
 
 
 21 
Ao longo da história capitalista, o 
mundo viveu alguns momentos 
particularmente felizes em termos de 
crescimento econômico e produção de riqueza, 
nos quais tudo parecia conspirar a favor da 
prosperidade. Foi assim no início do século 20, 
quando a indústria moderna deu um salto para 
um patamar até então inédito. O mesmo 
ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, com a 
Europa e o Japão literalmente se reerguendo 
das cinzas para se transformar em potências 
econômicas de primeira grandeza. É também o 
que se observa, em escala sem precedentes, 
neste início do século 21. A taxa de expansão 
mundial no ano passado, de 5,1 %, é a mais alta 
em décadas. Mas o que realmente chama a 
atenção é sua dispersão geográfica. 
 
A taxa de juro se encontra num dos 
patamares mais baixos dos últimos tempos – o 
que funciona como um impulso extra ao 
crescimento. Como conseqüência, o que se vê 
mundo afora é produção e consumo em alta, 
desemprego e miséria em queda. (Exame, 28 
set.2005, pág. 21, adaptado). 
 
a) A desvantagem fica mais evidente ao se confrontar o desempenho brasileiro não com a média do 
globo, mas com países em estágio de desenvolvimento semelhante, as chamadas economias 
emergentes. 
b) Para os brasileiros, esse momento de rara felicidade global deixa a incômoda sensação de que não 
estamos participando como deveríamos da festa. 
c) Não se pode esquecer que o aquecimento da demanda global foi um grande alicerce para que a 
economia brasileira se mantivesse em pé em tempos de crise política. 
d) Graças a um volume recorde no comércio global, os bons ventos têm soprado não apenas para as 
nações ricas, mas especialmente para as remediadas e até para as mais pobres. 
 
3) Assinale a alternativa que apresenta, sem afetar o princípio da coerência, o título 
mais adequado para o texto abaixo. 
 
 
 
a) Entrada na casa, salário a discutir 
b) Maior tempo de casa, menor salário 
c) Bonificações salariais e tempo de casa 
d) Redução salarial de executivos antigos 
 
4) Assinale a alternativa que apresenta, sem afetar o princípio da coerência, o título 
mais adequado para o texto abaixo. 
 
 
 22 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a) Eles se preocupam 
b) Eles estão com receios 
c) Elas movem o mercado 
d) Elas dominam o mercado 
 
 
5) É título adequado para a matéria jornalística em que o gráfico abaixo seja 
apresentado: 
 
 
 
 
a) Sabor de mel: China é o gigante na produção de mel no mundo e o Brasil está em 15º lugar no 
ranking 
b) Apicultura: Brasil ocupa a 33ª posição no ranking mundial de produção de mel – abelhas estão 
desaparecendo no país 
c) O milagre do mel: a apicultura se expande e coloca o país entre os seis primeiros no ranking 
mundial de produção 
d) Pescadores do mel: Brasil explora regiões de mangue para produção do mel e ultrapassa a Argentina 
no ranking 
e) Sabor bem brasileiro: Brasil inunda o mercado mundial com a produção de 15 mil toneladas de mel 
em 2005 
 
 
 
 
 
 23 
6) Vamos supor que você recebeu de um amigo de infância e seu colega de escola um 
pedido, por escrito, vazado nos seguintes termos: 
 
―Venho mui respeitosamente solicitar-lhe o empréstimo do seu livro de Redação para Concurso, para 
fins de consulta escolar.‖ 
 
Essa solicitação em tudo se assemelha à atitude de uma pessoa que 
 
a) comparece a um evento solene vestindo smoking completo e cartola. 
b) vai a um piquenique engravatado, vestindo terno completo, calçando sapatos de verniz. 
c) vai a uma cerimônia de posse usando um terno completo e calçando botas. 
d) freqüenta um estádio de futebol usando sandálias de couro e bermudas de algodão. 
 
7) Quando o treinador Leão foi escolhido para dirigir a seleção brasileira de futebol, o 
jornal Correio Popular publicou um texto com muitas imprecisões, do qual consta a 
seguinte passagem: 
 
Durante sua carreira de goleiro, iniciada no 
Comercial de Ribeirão Preto, sua terra natal, 
Leão, de 51 anos, sempre impôs seu estilo ao 
mesmo tempo arredio e disciplinado. Por 
outro lado, costumava ficar horas aprimorando 
seus defeitos após os treinos. Ao chegar à 
seleção brasileira em 1970, quando fez parte do 
grupo que conquistou o tricampeonato 
mundial, Leão não dava um passo em falso. 
Cada atitude e cada declaração eram pensadas 
com uma racionalidade típica de sua família, já 
que seus outros dois irmãos, Edmílson, 53 
anos, e Édson, 58, são médicos. (Correio Popular, 
Campinas, 20 out. 2000 - com adaptações) 
 
a) O que aconteceria com Leão se ele, efetivamente, ficasse ―aprimorando seus defeitos‖? Reescreva o 
trecho de maneira a eliminar o equívoco. 
b) A expressão ―por outro lado‖, no início do segundo período, contribui para tornar o trecho 
incoerente. Por quê? 
 
8) O que é necessário saber para tornar o texto da tirinha abaixo coerente? 
 
 
 
 
 
 
9) Nesse texto, há um caso de incoerência argumentativa. Procure identificá-la. 
 
Embora existam políticos competentes e honestos, preocupados com as legítimas causas 
populares, os jornais, na semana passada, noticiaram casos de corrupção comprovada, praticados por 
um político eleito pelo povo. 
Isso demonstra que o povo não sabe escolher seus governantes. 
 
 
 24 
2.2 Coesão textual 
 
 Nas seções anteriores vimos uma 
diversidade de gêneros textuais, verbais, não 
verbais e mistos. Nesta seção, abordaremos 
apenas textos da modalidade escrita devido a 
sua importância para o fazer acadêmico e 
profissional. Veremos, portanto, um dos 
principais recursos que contribuem para fazer 
com que frases amontoadas sejam consideradas 
um texto: a coesão. 
Há certa confusão entre os termos 
coerência e coesão. Enquanto a coerência se 
refere à unidade de sentido e, por isso, é de um 
nível profundo, a coesão é a ligação, a relação, 
a conexão entre as palavras, expressões, frases 
ou parágrafos do texto. Os elementoscoesivos 
assinalam a conexão entre partes do texto. 
A palavra texto, na sua etimologia, vem 
do latim textum, que significa tecido, 
entrelaçamento. Produzir um texto é o mesmo 
que praticar a ação de tecer, entrelaçar 
unidades e partes com a finalidade de formar 
um todo. Desse modo, podemos falar em 
textura de um texto, que é a rede de relações 
coesivas. 
São muitos os mecanismos de coesão 
textual. Nesta seção, vamos estudar alguns. 
Esperamos que, a partir desse estudo, você 
esteja apto a não só perceber outros em suas 
leituras, mas também a recorrer a outros em 
sua produção textual. Escolhemos um editorial 
da revista Veja (27 abril 2006, p. 9) para 
demonstração do que consideramos um texto 
bem tecido. Destacamos apenas alguns recursos 
coesivos para estudo e para demonstração da 
continuidade textual. 
 
O Brasil tem jeito 
 
Desde a volta da democracia, em 1985, 
o país tem passado por uma série de escândalos na 
esfera institucional (1). No Poder Executivo (2), 
houve o impeachment de um presidente e, 
recentemente, a demissão de ministros 
envolvidos em esquemas ilícitos. No Legislativo 
(3), por seu turno (4), ainda se escutam os ecos 
do mensalão e não empalideceram as imagens 
dos ―anões‖ da Máfia do Orçamento sendo 
banidos da vida pública. Agora, com a Operação 
Hurricane (furacão, em inglês), deflagrada pela 
Polícia Federal para prender os integrantes de 
uma quadrilha que explorava o jogo de caça-
níqueis, chegou a vez de (5) o Judiciário (6) ter 
exposta a sua banda podre (7). Três 
desembargadores foram presos e um ministro do 
Superior Tribunal de Justiça (8) está afastado das 
suas funções. Pesa sobre esses togados (9) a 
acusação de venda de liminares. Com tais 
instrumentos jurídicos (10), os exploradores do jogo 
(11) conseguiam manter em funcionamento 
milhares de casas ilegais de jogatina, dotadas de 
máquinas manipuladas para lesar o jogador. Há 
indícios de que pode haver ainda (12) outros 
altos integrantes do Judiciário (13) comparsas 
dessa máfia (14). 
A sucessão de escândalos de corrupção no 
Brasil costuma provocar nos cidadãos a impressão de 
que o país não tem jeito (15). É como se a 
desonestidade fosse parte inextirpável do 
caráter nacional. Compreende-se que os 
ânimos se arrefeçam, mas (16) é preciso 
enxergar o fenômeno (17) de um ângulo mais 
amplo. Em primeiro lugar (18), os escândalos só 
vêm à tona graças ao bom funcionamento das 
instâncias responsáveis pela fiscalização do poder 
(19) – entre as quais a imprensa livre, a polícia 
e, ressalte-se (20), a imensa maioria dos integrantes 
do Poder Judiciário (21). Em segundo lugar (22), a 
cada quadrilha estourada, a cada esquema 
desvendado, dá-se um passo a mais para a 
depuração das instituições. Por isso (23), pode-
se analisar a operação da Polícia Federal ora em 
curso (24) como uma contribuição ao 
aprimoramento da Justiça (25), cuja (26) 
distribuição igualitária e eficiente é um dos 
pilares das sociedades abertas e modernas. A 
continuar por esse caminho (27), o Brasil tem jeito 
(28), sim. 
 
 25 
No quadro abaixo, encontram-se os comentários acerca dos elementos de coesão destacados no texto. 
 
 
(1) Embora essa “série de escândalos‖ esteja indefinida, é a expressão desencadeadora da organização 
do texto. 
(2) O autor apresenta, sem comentários, o primeiro dos três poderes institucionais e, a partir daí, 
dois escândalos aí ocorridos. 
(3) O autor apresenta, sem comentários, o segundo dos três poderes institucionais. 
(4) Essa expressão marca a passagem para a apresentação dos escândalos no Legislativo. Não há 
comentários acerca desses escândalos. 
(5) Essa expressão marca a passagem para a apresentação do escândalo no Judiciário. No meio da 
expressão é apresentado o escândalo aí ocorrido. 
(6) Essa expressão apresenta o terceiro dos três poderes, que é o Judiciário. 
(7) Refere-se ―quadrilha que explorava o jogo de caça-níqueis‖, que, por sua vez, antecipa a ―banda 
podre‖ do Judiciário. 
(8) Refere-se a ―banda podre‖, identificando-a. 
(9) Refere-se a ―três desembargadores‖ e a ―um ministro‖. 
(10) Refere-se a ―liminares‖. 
(11) Refere-se aos envolvidos no escândalo que pagaram pelas liminares. 
(12) Elemento que mostra a inclusão de membros do Judiciário no escândalo. 
(13) Refere-se aos desembargadores e ao ministro, além de deixar marcado o envolvimento de outros 
integrantes do Judiciário. 
(14) Refere-se a ―banda podre‖, já detalhada anteriormente. 
(15) Recupera ―uma série de escândalos na esfera institucional‖ do primeiro parágrafo para o articular 
com o segundo e para acrescentar que o Brasil não tem jeito. 
(16) Conector que opõe a impressão de que o Brasil não tem jeito a um novo modo de ―ver‖ os 
escândalos, anunciando-se um otimismo. 
(17) Refere-se aos escândalos na esfera institucional. 
(18) Expressão que fragmenta, num primeiro momento, a noção ―amplo‖, anteriormente 
apresentada. 
(19) Essas ―instâncias‖ são apresentadas a seguir, após um travessão, destacando-se o Judiciário. 
(20) Operador que enfatiza a ideia seguinte. 
(21) Opõe-se a ―banda podre‖ do primeiro parágrafo, assinalando o otimismo do autor. 
(22) Expressão que fragmenta, num segundo momento, a noção ―amplo‖, anteriormente apresentada. 
(23) Conector responsável por encaminhar o fechamento da questão de que o Brasil tem jeito. 
(24) Refere-se a ―Operação Hurricane‖, no primeiro parágrafo. 
(25) Refere-se ao Poder Judiciário. 
(26) Refere-se a ―Justiça‖. 
(27) Expressão que abre a conclusão subjetiva do autor. ―Esse caminho‖ refere-se ao fato de que, se os 
esquemas são desvendados, há depuração das instituições. 
(28) Recupera o título do título do texto, deixando explícito o otimismo do autor. 
 
 
 Você percebeu que um texto não é 
simplesmente um conjunto de frases aleatório. 
A nossa experiência como falante não é a de 
formar frases; a nossa experiência é a de 
produzir textos a todo momento. A análise e a 
leitura do texto O Brasil tem jeito mostraram o 
papel dos mecanismos de coesão, que é, de 
acordo com Antunes (2005, p. 47), criar, 
estabelecer e sinalizar os laços que deixam os 
vários segmentos do texto ligados, articulados, 
encadeados. Portanto, a função da coesão é a 
de promover a continuidade do texto, a 
 
 26 
sequência interligada de suas partes, para que 
não se perca o fio de unidade que garante sua 
interpretabilidade. 
Quando lemos o primeiro parágrafo do 
texto O Brasil tem jeito, temos a impressão – ou 
somos levados a isso – de que o Brasil não tem 
jeito. São mencionados vários escândalos nos 
poderes constitutivos de nosso país. Na 
transição para o segundo parágrafo, o autor 
retoma a ―série de escândalos‖ do primeiro 
parágrafo para, além de dar continuidade ao 
seu texto, fazê-lo progredir noutra direção, 
que é a de nos levar a acreditar que o Brasil tem 
jeito. No interior de cada parágrafo, são feitas 
retomadas e antecipações, além de se deixarem 
explícitas algumas conexões. Tudo isso para 
garantir não só a continuidade do texto, mas 
também o sucesso de sua interpretabilidade. 
Há dois tipos de coesão: a referencial e 
a sequencial. O primeiro tipo se caracteriza por 
substituições de um elemento por outro e por 
reiterações de elemento do texto. O segundo 
tipo se refere ao desenvolvimento 
propriamente dito, ora por procedimentos de 
manutenção temática, como emprego de 
termos pertencentes ao mesmo campo 
semântico, ora por meio de processos de 
progressão temática, que podem realizar-se por 
meio da satisfação de compromissos textuais 
anteriores ou por meio de novos acréscimos ao 
texto. 
Quando vamos escrever um texto nos 
baseamos em quatro elementos centrais: a 
repetição, a progressão, a não-contradição e a 
relação. Todas essas partes compõem o texto, 
relacionando-se com o que já foi dito ou com o 
que se vai dizer.Vejamos o que quer dizer cada 
um desses elementos. 
 
Repetição – Ao longo de um texto coerente, ocorrem repetições, retomadas de elementos. Essa 
retomada é normalmente feita por pronomes ou por palavras e expressões equivalentes ou 
sinônimas. Também podemos repetir a mesma palavra ou expressão, o que deve ser feito com 
cuidado, a fim de que não seja prejudicado. 
 
Progressão – Num texto coerente, devemos sempre acrescentar novas informações ao que já foi 
dito. A progressão complementa a repetição: esta garante a retomada de elementos passados; 
aquela garante que o texto não se limite a repetir indefinidamente o que já foi colocado. Dessa 
forma, equilibramos o que já foi dito com o que se vai dizer, garantindo a continuidade do tema e a 
progressão do sentido. 
 
Não-contradição – Num texto coerente, não devem surgir elementos que contradigam aquilo 
que já foi considerado falso, ou vice-versa. Esse tipo de contradição só é tolerado se for 
intencional. Não se deve confundir a não-contradição com o contraste, pois a aproximação de 
idéias e fatos contrastantes é um recurso muito freqüente no desenvolvimento da argumentação. 
 
Relação – Num texto coerente, os fatos e conceitos devem estar relacionados. Essa relação deve 
ser suficiente para justificar sua inclusão num mesmo texto. Para que se avalie o grau de relação 
dos elementos que vão construir o texto, é importante organizá-lo esquematicamente antes de 
escrever. Feito o esquema, é importante observar se a aproximação das idéias é realmente eficaz. 
 
Esses quatro itens (repetição, 
progressão, não-contradição e relação) podem 
ajudar a avaliar o grau de coesão dos textos. A 
configuração final do texto depende ainda de 
outros fatores, como o canal de comunicação, 
o perfil do receptor e as finalidades pretendidas 
pelo emissor. Todos esses fatores afetam 
diretamente as feições do texto que se pretende 
bem-sucedido. Nas atividades a seguir, você 
verá, de modo operacional, os tipos de coesão 
mencionados e esses elementos centrais de 
avaliação dos textos. 
 
 
 
 
 27 
A seguir, você terá, num quadro, as 
principais conjunções e locuções conjuntivas 
para sua consulta. É importante lembrar que 
num texto, principalmente de natureza 
argumentativa, o uso de conectores mostra a 
capacidade do produtor de apresentar, 
defender e refutar argumentos. 
 
 
Conjunções e locuções conjuntivas 
Coordenativas 
Aditivas e, nem, mas... também, senão também, não ainda, como também, bem 
como, que (entre verbos), não só... mas também. 
Adversativas mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto, não obstante 
Alternativa ou...ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja, nem...nem, já...já, etc. 
Conclusivas logo, pois (depois do verbo), portanto, por conseguinte, por isso, assim, 
então. 
Explicativas que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. 
Subordinativas 
Causais porque, pois, porquanto, como [= porque], pois que, por isso que, já que, 
uma vez que, visto que, visto como, que, na medida em que, etc. 
Comparativas que, do que (depois de mais, menos, maior, menor, melhor, pior), qual 
(depois de tal), quanto (depois de tanto), como, assim como, bem como, 
como se, que nem. 
Concessivas embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, bem que, se bem que, 
apesar de que, nem que, que, etc. 
Condicionais se, caso, quando, contanto que, salvo se, sem que, dado que, desde que, a 
menos que, a não ser que, etc. 
Conformativas conforme, como [= conforme], segundo, consoante, etc. 
Consecutivas que (combinada com uma das palavras tal, tanto, tão ou tamanho, presentes 
ou latentes na oração anterior), de forma que, de maneira que, de modo que, 
de sorte que. 
Finais para que, a fim de que, porque [= para que], que 
Proporcionais à medida que, ao passo que, à proporção que, enquanto, quanto mais... 
(mais), quanto mais... (tanto mais), quanto mais... (menos), quanto mais... 
(tanto menos), quanto menos... (menos), quanto menos... (tanto menos), 
quanto menos... (mais), quanto menos... (tanto mais) 
Temporais quando, antes que, depois que, até que, logo que, sempre que, assim que, 
desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas, mal, que [= desde que], 
etc. 
Integrantes que, se 
 
2.2.1 Textos e atividades 
 
1) Leia, com atenção, texto a seguir para preencher o quadro. Na coluna de coesão 
referencial, escreva o referente ao qual o termo ou expressão destacada faz alusão. Na 
coluna da coesão sequencial, diga o valor semântico do conector destacado. 
 
 
 
 
 
 28 
Cerveja preta aumenta o leite? 
 
Não. APESAR DA antiga crença de 
que beber cerveja preta aumenta a quantidade 
de leite em mulheres grávidas, não existem 
estudos que comprovem o fato. E, na 
realidade, qualquer tipo de bebida alcoólica é 
contra-indicada nessa situação. Num estudo 
feito em 1993, a cientista americana Julie 
Mennella acompanhou lactantes que ingeriram 
bebidas alcoólicas E encontrou indícios de que 
elas produziam menos leite. 
Ninguém sabe ao certo a origem da 
crença. Uma das hipóteses é que ela tenha 
surgido PORQUE mulheres que ingeriram 
bebidas de alto teor alcoólico não eram bem 
vistas na sociedade. ―A cerveja preta tem 
menos álcool QUE bebidas COMO a cachaça 
e, POR ISSO, ganhou status de bebida de 
‗mulheres decentes‘. OU SEJA, mães. A 
partir daí, a relação foi se aperfeiçoando‖, diz 
Maria Amélia Bitar, autora da tese 
―Aleitamento materno: um estudo sobre 
crenças e tabus ligados à prática‖. 
O que se sabe é que o mito não é 
exclusividade brasileira. E já foi levado TÃO a 
sério QUE, nos anos 80, nos Estados Unidos, 
foi criada a Malt Nutrine, uma bebida escura 
que era vendida em farmácias e recomendada 
por médicos PARA incentivar a produção de 
leite. 
 
(Taíssa Stivanin. Super Interessante, fev. de 2005, p. 30) 
 
Coesão referencial Coesão sequencial 
o fato – APESAR DA – 
nessa situação - E – 
que – PORQUE – 
elas – QUE – 
da crença – COMO – 
ela – POR ISSO – 
mães – OU SEJA – 
o mito – TÃO ... QUE – 
bebida escura – PARA – 
 
2) Identifique, no texto abaixo, os termos que são retomados pelas palavras ou 
expressões grifadas. 
 Proprietários e mendigos: duas categorias que se opõem a qualquer mudança, a qualquer 
desordem renovadora. Colocados nos dois extremos da escala social, temem toda modificação para 
bem ou para mal: estão igualmente estabelecidos, uns na opulência, os outros na miséria. Entre eles 
situam-se – suor anônimo, fundamento da sociedade – os que se agitam, penam perseveram e cultivam 
o absurdo de esperar. O Estado nutre de sua anemia; a ideia de cidadão não teria nem conteúdo nem 
realidade sem eles, tampouco o luxo e a esmola: os ricos e os mendigos são os parasitas do pobre. 
 Há mil remédios para a miséria, mas nenhum para a pobreza. Como socorrer os que insistem 
em não morrer de fome? Nem Deus poderia corrigir sua sorte. Entre os favorecidos da fortuna e os 
esfarrapados, circulam esses esfomeados honoráveis, explorados pelo fausto e pelos andrajos, 
saqueados por aqueles que, tendo horror ao trabalho instalam-se, segundo sua sorte ou vocação, no 
salão ou na rua. E assim avança a humanidade: com alguns ricos, com alguns mendigos e com todos os 
seus pobres... (CIORAN, E. M. Breviário de decomposição. Trad. José Tomaz Brum. Rio de Janeiro: 
Rocco, 1989, p.113-114) 
 
 
 29 
3) Leia atentamente os textos a seguir observando as relações de semânticas entre as 
ideias. A seguir, complete as lacunas com elementos de coesão sequenciais. 
 
I) Sair do convencional e aplicar em ações de empresas menos conhecidas pode ser um bom negócio. 
Os papéis da Plascar, por exemplo, subiram mais de 700% neste ano e ainda há espaço para altas. 
Quem compra essas ações, _______________, deve preparar o calmante, ____________ elas

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