Buscar

MONOGRAFIA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA MULHER BRASILEIRA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 68 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 68 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 68 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS 
CURSO: DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA VIOLAÇÃO AOS DIREITOS 
 DA MULHER BRASILEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
KETLYN MARIA ALVES XAVIER 
 
 
 
 
 
 
 
FOZ DO IGUAÇU – PR 
2018 
1 
 
KETLYN MARIA ALVES XAVIER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA VIOLAÇÃO AOS DIREITOS 
DA MULHER BRASILEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia de conclusão de curso apresentada à 
Banca Examinadora do Centro Universitário Dinâmica das 
Cataratas – UDC, como requisito parcial para a obtenção do 
grau de Bacharel em Direito. 
 
Orientadora: Profa. Mestre Kelly Cardoso da Silva 
 
 
 
 
 
 
FOZ DO IGUAÇU – PR 
2018 
2 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
UDC – CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS 
 
 
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA VIOLAÇÃO AOS DIREITOS 
DA MULHER BRASILEIRA 
 
 
 TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO, REQUISITO PARCIAL PARA 
OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM DIREITO 
 
 
__________________________________ 
KETLYN MARIA ALVES XAVIER 
 
 
_____________________________________________ 
Orientadora: Profa. Mestre Kelly Cardoso da Silva 
 
 
__________________________________ 
Nota Final 
 
 
Banca Examinadora: 
 
__________________________________ 
Profº. 
 
__________________________________ 
Profº. 
 
Foz do Iguaçu, _____/_______ de 2018. 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A violência destrói o que ela pretende 
defender: a dignidade da vida, a liberdade do 
ser humano.” 
 
(Papa João Paulo II) 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, que sempre esteve presente 
como uma fonte divina em minha vida e me protegendo todos esses anos como 
universitária, e de alguma forma enviando-me forças para continuar seguindo firme e 
forte diante de minhas expectativas. 
Em especial minha mãe Roseli de Jesus Tibes dos Santos, e meu pai Amauri 
Alves Xavier que sempre me motivaram, me cobraram esforço e dedicação durante 
toda essa etapa na vida acadêmica, e me apoiaram muito no desenvolvimento do 
meu projeto, zelando de alguma forma pelas minhas conquistas, não permitindo meu 
desânimo e sabendo reconhecer meus defeitos e me ajudando a consertá-los. Nem 
em outras vidas poderei demonstrar minha gratidão. 
Aos meus irmãos que já passaram por essa vida universitária e me ajudaram 
a manter o foco, e agradecer meus sobrinhos e afilhados que mesmo tão pequenos 
mostram-me o valor de lutar pelos nossos sonhos e me motivaram nesse projeto. 
Ao meu namorado Diego F. R. Preis, que foi um grande parceiro tanto dentro 
da sala de aula, quanto ao momento de realizarmos juntos nossos projetos, sem 
suas cobranças e sua motivação tudo teria sido mais difícil. 
Meus mais sinceros agradecimentos aos meus amigos que foram pacientes 
nos momentos que tive de me ausentar para a elaboração desse projeto, sem vocês 
e os momentos de incentivo e descontração o meu sonho não se tornaria realidade. 
A minha orientadora Kelly Cardoso da Silva, que se dedicou a ensinar e 
compartilhar todo o seu conhecimento, por seu carisma, pelo suporte e correção 
para sempre melhorar esse projeto. E agradecer a professora Maria Aparecida por 
seu paciente trabalho de revisão do conteúdo e sempre nos motivar a sermos 
melhores. 
A todos os mestres que compartilharam seus conhecimentos em sala de aula 
e acompanharam a minha jornada enquanto universitária. Sou grata especialmente 
às professores Camila Parmezan Olmedo e Kelyn Trento que foram duas pessoas 
essenciais nesses longos anos, com o apoio de vocês pude me aperfeiçoar como 
universitária e conseguir achar meios de elaborar esse projeto. 
Agradeço a todos que de alguma forma direta ou indiretamente fizeram parte 
para a minha formação, o meu mais sincero agradecimento. 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho de conclusão de curso 
em primeiro lugar a Deus que iluminou meu 
caminho nessa jornada, aos meus familiares, 
aos meus amigos, a minha orientadora e aos 
meus professores que de alguma forma me 
incentivaram nesse projeto. 
6 
 
RESUMO: 
 
A violência obstétrica é toda aquela ação praticada por um profissional de saúde 
que tira da mulher no momento do parto a sua autonomia sob seu corpo. Ela pode 
ser por informações inadequadas ou por procedimentos desnecessários. Enquadra-
se ainda como violência obstétrica, aqueles procedimentos que são desnecessários 
no momento cirúrgico. Destacam-se assim três procedimentos mais corriqueiros: 1) 
episiotomia (que é um corte na vulva e na vagina feito com um bisturi) e “ponto do 
marido” (ponto que se dá após a episiotomia); 2) Manobra de Kristeller (pressão 
feita na parte superior da barriga para “facilitar” a saída do feto); 3) proibição de 
acompanhante (impedir a presença de uma pessoa indicada pela mulher grávida). 
Uma publicação desenvolvida pelo Fórum de Mulheres do Espírito Santo com o 
objetivo de levar conhecimento às mulheres de todo o país sobre seus direitos na 
hora do parto, mostrou os casos mais corriqueiros de violência obstétrica nos 
hospitais (públicos e privados), e assim, divulgando informações para que muitas 
mulheres estejam preparadas para enfrentar o atendimento obstétrico. Visando a 
proteção dos bens jurídicos fundamentais, tais como a vida e a integridade física, o 
Estado se emerge definindo crimes e estipulando sanções àqueles indivíduos que 
praticam fatos graves contrários ao direito. Desta forma tem-se que a 
responsabilidade penal trata desde uma lesão corporal até ao homicídio da 
gestante e do feto, cabendo assim à lei punir o profissional da saúde que agir com 
violência no pré, durante e no pós-parto. Assim, objetivo do tema em pauta é 
analisar a violência que ocorre nos hospitais com a gestante no período que 
envolve o parto, os direitos desta em receber partos humanizados e a 
responsabilidade daqueles que desrespeitam tais direitos. Para a realização do 
presente estudo utilizou-se da pesquisa bibliográfica e exploratória, utilizando de 
materiais impressos, artigos, documentários, como de alguns disponíveis da 
internet. 
 
Palavras-chave: Violência Obstétrica, Responsabilidade Criminal, Direitos da 
Mulher. 
 
 
 
7 
 
ABSTRACT: 
 
Obstetric violence is all that action practiced by a health professional who takes 
from the woman, her body autonomy when she is giving birth. This might happen 
due to inadequate information or unnecessary procedures. It is also characterized 
as obstetric violence, those procedures that are unnecessary at the surgical 
moment. Therefore, three more common procedures are highlighted: 1) episiotomy 
(a cut in the vulva and vagina made with a scalpel) and a " Husband Point " (the 
point after the episiotomy); 2) Kristeller's maneuver (pressure made on the upper 
part of the belly to "make it easier" the exit of the fetus); 3) prohibition of 
accompanying person (to prevent the presence of a person indicated by the 
pregnant woman). A publication developed by the Women Forum in Espirito Santo 
City with the objective of informing women throughout the country about their rights 
when giving birth, showed the most common cases of obstetric violence in hospitals 
(public and private), spreading information so that many women get prepared to 
face obstetric care. Aiming to protect fundamental legal assets suchas life and 
physical integrity, the state emerges by defining crimes and stipulating sanctions for 
those individuals who practice serious crimes against the law. In this way, it is 
assumed that the criminal responsibility deals with; since a body injure to the 
homicide of the pregnant woman and the fetus, therefore, it is the law responsability 
to punish the health professional who acts with violence in the pre, during and post 
birth. So, the objective of the topic in question is to analyze the violence that occurs 
in hospitals with the pregnant woman during the period of giving birth, her rights to 
receive humanized births and the responsibility of those who disrespect such rights. 
For this present study to be performed, the bibliographical and exploratory research 
were used, as well as printed materials, articles, documentaries, and also some 
available from the Internet. 
 
Keywords: Obstetric Violence, Criminal Liability, Women's Rights. 
 
8 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
Gráfico 1. Você foi mãe em que faixa etária?........................................................... 49 
Gráfico 2. Onde ocorreu seu parto? ......................................................................... 49 
Gráfico 3. Que tipo de parto você teve? ................................................................... 50 
Gráfico 4. Você tem sequelas do parto? .................................................................. 51 
Gráfico 5. Durante seu trabalho de parto, teve algum acompanhante? ................... 52 
Gráfico 6. Quem foi seu acompanhante? ................................................................. 52 
Gráfico 7. Sofreu alguma das violências abaixo citadas? ........................................ 53 
Gráfico 8. Se acaso sofreu violência, você sabia estar passando por algum tipo de 
violência no momento? ............................................................................................. 54 
Gráfico 9. O trauma sofrido influênciou na sua decisão de não ter mais filhos? ...... 55 
 
9 
 
 
 
Sumário 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10 
 
2 HISTÓRIA DO PARTO NO BRASIL ....................................................................... 12 
2.1 PARTO NORMAL ................................................................................................ 13 
2.2 PARTO CESÁREA .............................................................................................. 14 
 
3 A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA ................................................................................. 17 
3.1 PRÁTICAS CONSIDERADAS VIOLENTAS ........................................................ 20 
3.1.1 EPISIOTOMIA E PONTO DE MARIDO ............................................................ 22 
3.1.2 MANOBRA DE KRISTELLER .......................................................................... 26 
3.1.3 LEI DO ACOMPANHANTE – 11.108/05........................................................... 28 
 
4 RESPONSABILIDADE CRIMINAL POR VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA .................... 32 
4.1 ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS ACERCA DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA . 37 
4.1.1 NA EPISIOTOMIA E PONTO DO MARIDO ..................................................... 37 
4.1.2 NA MANOBRA DE KRISTELLER .................................................................... 39 
4.1.3 AO NEGAR ACOMPANHANTE – LEI 11.108/05 ............................................. 43 
4.2 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA EM FOZ DO IGUAÇU .............................................. 46 
 
5 PESQUISA EM CAMPO......................................................................................... 49 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 56 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59 
 
ANEXOS ................................................................................................................... 64 
 
 
10 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho monográfico pretende analisar a violência obstétrica em 
relação à mulher brasileira. Vale-se observar que essa violência ocorre contra a 
mulher em pelo menos três momentos: no pré-parto, no parto e no pós-parto. 
A violência obstétrica é toda aquela ação praticada por um profissional de 
saúde que tira da mulher no momento do parto a sua autonomia sob seu corpo. Ela 
pode ser por informações inadequadas, ou por procedimentos desnecessários. 
Verifica-se no Brasil que no ano de 2000 o número de partos normais era de 
62,00%, e os partos por cesárea eram de 39,00%. E no ano de 2016, os índices de 
partos normais decaíram para 44,50% e as cesáreas aumentaram para 55,50%, ou 
seja, em 16 anos os partos normais diminuíram em 17,50%, e os partos por 
cesáreas aumentaram 16,50%. 
No momento do parto a violência obstétrica ocorre quando há o corte na vulva 
e na vagina feito com um bisturi, tal ato denominado pela episiotomia, e o “ponto do 
marido” que se dá após a episiotomia que consiste em deixar a vagina mais estreita; 
quando ocorre a pressão feita na parte superior da barriga para “facilitar” a saída do 
bebê, caracteriza-se a Manobra de Kristeller; e há violência quando impedem a 
presença de um acompanhante indicado pelo gestante. Essas são algumas 
circunstâncias e ações que ocorrem com a parturiente no momento do parto. 
O presente trabalho divide-se da seguinte forma: no segundo capítulo trata-se 
da história do parto no Brasil, e como às mulheres tem optado mais pelo parto 
cesárea, do que pelo parto normal. A partir das primeiras décadas do século XX, 
houve a passagem dos partos feitos em casa, para partos nos hospitais, e na 
entrada dos anos 70 como houve um elevado nível de partos dentro dos hospitais, 
também houve um alto índice de partos por cesáreas, pois os médicos ganhavam 
mais por essa espécie de parto. Medidas foram mudadas nos anos 80 para tentar 
diminuir buscas pelo parto de cesárea, onde todas as formas de parto começaram a 
ter o mesmo custo. O número de cesarianas no Brasil caiu pela primeira vez no ano 
de 2016, ainda assim continua sendo a prática mais procurada pelas mulheres (e a 
menos recomendada pela Organização Mundial de Saúde – OMS), do que o parto 
normal. 
No capítulo três trata sobre o que é a violência obstétrica, e como os 
profissionais de saúde têm intervindo cada vez mais na decisão da gestante durante 
11 
 
o parto, e projetos de leis que visam proteger a mãe e o filho no parto; e também 
quais são as práticas consideradas violentas, e os indicadores do Brasil sobre essas 
práticas violentas. 
Em seu capítulo quatro aborda sobre a responsabilidade criminal em relação 
ao profissional da saúde que praticar a violência obstétrica, tendo como base 
jurisprudências e o Código Penal que visa punir o agente causador da violência. 
Apesar dessa violência se manifestar em diversos crimes que vão os tais 
atingirem a integridade física até a moral e a honra da parturiente, o presente 
trabalho aborda-se aos crimes de aborto, lesão corporal e homicídio; Analisa-se 
como é o tratamento judicial da violência obstétrica nos três pontos 
supramencionados acima: Episiotomia e Ponto do Marido, manobra de Kristeller e 
negar acompanhante a gestante; avalia-se como a violência obstétrica tem tomado 
proporção na cidade de Foz do Iguaçu, e como suas leis municipais tem visado o 
direito a parturiente. 
E no capítulo cinco constam os dados de uma pesquisa em campo realizado 
com cerca de 70 mulheres com idade entre 16 e 31 anos, que responderam um 
questionário acerca de receber informações de quantas delas passarampor um 
parto violento, e se elas sabiam estar passando por alguma violência; por fim, 
gráficos definem onde, e de que forma tiveram seus bebês e a espécie de violência 
que algumas delas sofreram. 
Assim, o objetivo do tema em pauta é analisar a violência que ocorre nos 
hospitais com a gestante no período que envolve o parto, os direitos desta em 
receber partos humanizados e a responsabilidade daqueles que desrespeitam tais 
direitos. Para a realização do presente estudo utilizou-se da pesquisa bibliográfica 
e exploratória, utilizando de materiais impressos, artigos, documentários, como de 
alguns disponíveis da internet. 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
2 HISTÓRIA DO PARTO NO BRASIL 
 
No final do século XIX, grande parte dos partos era atendida a domicílio, por 
parteiras. Para uma mulher, dar a luz fora do seu âmbito familiar era considerado 
atípico, alarmante e este fato acontecia apenas em situações de extrema 
emergência. 
O médico apenas era designado se a parteira não conseguisse fazer o 
nascimento, ou se houvesse algum problema em que o trabalho de parto tivesse 
complicações. Esses profissionais recebiam suas pacientes em casa ou ia até seus 
domicílios realizar o parto. Nathalie e Maria Luiza, desta forma explicam: 
 
Nessa época, o ambiente hospitalar não constituía um lugar seguro para a 
mulher dar à luz. Em São Paulo, apenas em 1894 foram instalados leitos 
obstétricos na Maternidade São Paulo, onde os partos normais eram 
realizados por parteiras, e os complicados, por médicos.
1
 
 
Para muitas mulheres a prática de ter filhos antigamente envolviam muitos 
cuidados, pois diferente da atualidade não havia formas de preparação para o parto, 
e um profissional da área da saúde que acompanhasse com exatidão o estado do 
neonato, e ocorriam muitos casos da morte da mãe, do filho, ou de ambos. Assim, a 
Equipe Hanami, conceitua a história do parto desta forma: 
 
Antigamente, os homens viviam conforme seus “instintos naturais”. A 
princípio, a mulher se isolava para parir, geralmente sem nenhuma 
assistência ou cuidado vindo de outras pessoas, apenas seguia o seu 
instinto. O parto era considerado um fenômeno natural e fisiológico.
2
 
 
 
No entanto, hoje se tem uma realidade diversa com o avanço dos estudos, e 
com o desenvolvimento de equipamentos capazes de detectar o tempo de gestação 
da parturiente, e até mesmo o estado clínico do feto. Assim, a seguir será explicado 
um breve histórico dos partos no Brasil e como são atualmente. 
 
 
 
1 LEISTER, Nathalie; RIESCO, Maria Luiza Gonzalez. ASSISTÊNCIA AO PARTO: HISTÓRIA ORAL 
DE MULHERES QUE DERAM À LUZ NAS DÉCADAS DE 1940 A 1980. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n1/pt_20.pdf> Acesso em 26 de Março de 2018. p. 167. 
2 HANAMI, Equipe. HISTÓRIA DO PARTO. Disponível em: <http://www.equipehanami.com.br/a-
historia-do-parto/> Acesso em 26 de Março de 2018. 
13 
 
 
2.1 PARTO NORMAL 
 
Antigamente as mulheres tinham seus filhos concebidos em partos normais, 
feitos dentro de casa por outras mulheres que eram consideradas 
parteiras/aparadeiras, elas eram conhecidas pela sociedade como alguém 
experiente pelo fato de realizarem partos há muito tempo, e para elas, ter o 
reconhecimento perante o povo era a maior contribuição que poderiam receber. 
 
As parteiras no Brasil eram as principais atendentes ao parto até meados do 
século XX e como em outras partes do mundo, aqui também os médicos 
estavam empenhados em estabelecer sua hegemonia no campo da saúde e 
disputavam sua clientela nos domínios da parteira.
3
 
 
Mesmo sem ter qualquer entendimento científico, apenas experiência, e às 
mulheres em sua maioria eram mulatas ou brancas e portuguesas. As parteiras 
praticaram durante anos este ato e passaram de geração em geração seus 
conhecimentos, tendo a confiança das famílias em fazer o parto de muitas mulheres 
na época. Nesta concepção, Déborah.et.al explica: 
 
As parteiras eram mulheres com pouca formação escolar, de meia idade (a 
maioria com mais de 46 anos), analfabetas e a maioria eram casadas ou 
viúvas. Geralmente eram trabalhadoras rurais, pobres e de pouco recurso 
aquisitivo. Tinham um grande respeito e reconhecimento na comunidade, 
pois defendiam novas vidas e serviam de exemplo para comunidade, sendo 
identificadas como líderes.
4
 
 
Muitas parteiras faziam partos por amor, outras ganhavam alguns animais e 
frutas em troca, e outras ganhavam o que os donos tinham a oferecer. As gestantes 
confiavam nas parteiras porque estas lhes acompanhavam durante toda a gestação, 
para elas o parto era de suma importância, consideravam ser um dom divino o ato 
de trazer uma criança ao mundo, e sentiam-se prioritárias, pois a família tinha 
importância de receber primeiro à parteira para em seguida receber o médico. 
 
 
 
3 HANAMI, Equipe. A HISTÓRIA DO PARTO. Disponível em <http://www.equipehanami.com.br/a-
historia-do-parto/> Acesso em 09 de Abril de 2018. 
4 PIMENTA, Déborah Giovana. et al. O PARTO REALIZADO POR PARTEIRAS: UMA REVISÃO 
INTEGRATIVA. Disponível em: <http://scielo.isciii.es/pdf/eg/v12n30/pt_enfermeria2.pdf> Acesso em 
26 de março de 2018. p. 502. 
14 
 
 
2.2 PARTO CESÁREA 
 
A partir das primeiras décadas do século XX, houve uma passagem dos 
partos feitos em casa (domésticos), para partos em hospitais, aonde houve 
mudanças drásticas nos hábitos das gestantes. 
As mulheres começaram a frequentar semanalmente ou mensalmente 
escritórios de obstetras e pediatras, a procura produtos de higiene e alimentação 
infantil aumentou, e as gestantes passaram a ingerir cada vez mais medicamentos. 
Nathalie e Maria Luiza descrevem como foram os aumentos gradativamente nos 
serviços prestados as gestantes: 
 
Foram sendo ampliados a oferta e o acesso aos serviços públicos de saúde 
materno-infantil com maior participação de instituições filantrópicas, 
paraestatais, patronais e de trabalhadores. Em São Paulo, o crescimento 
dos partos hospitalares foi de 5% para 29,5%, enquanto que os 
nascimentos em domicílio sofreram uma queda de 25% em 15 anos (1930-
1945).
5
 
 
Na entrada da década de 70, houve um aumento de maneira radical em 
partos dentro de hospitais, um aumento especificadamente de 22% para 76%, e 
ainda o aumento de mulheres optando por cesárea, pois os médicos recebiam mais 
para isso, do que para fazer parto vaginal. Já na década de 80, para poder diminuir 
o índice de procura pelo parto de cesárea, todas as formas de partos alcançaram o 
mesmo valor de recebimento. Nathelie e Maria Luiza6 (p. 167) descrevem o aumento 
significativo das cesáreas: “Porém, essa taxa continuou subindo e, em 1992, 40,5% 
dos partos no Estado atendidos na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) 
correspondiam a cesarianas”. 
O número de cesarianas caiu pela primeira vez no Brasil no ano de 2016, 
conforme se observa na tabela abaixo que faz uma breve análise do aumento 
significativo de partos cesáreas e da queda de partos normais com nascimento do 
bebê com vida. Segundo a Agência do Brasil, relata: 
 
Os números mostram ainda que, considerando apenas partos realizados no 
Sistema Único de Saúde (SUS), o percentual de partos normais permanece 
maior – 59,8% contra 40,2% de cesarianas. No ano passado, segundo a 
 
5 LEISTER, Nathalie; RIESCO, Maria Luiza Gonzalez. ASSISTÊNCIA AO PARTO: HISTÓRIA ORAL 
DE MULHERES QUE DERAM À LUZ NAS DÉCADAS DE 1940 A 1980. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n1/pt_20.pdf> Acesso em 09 de Abril de 2018. p. 167. 
6 Idem. LEISTER, Nathalie. p. 167.15 
 
 
pasta, dados preliminares indicam tendência de estabilização do índice, que 
ficou em torno de 55,5%. 
7
 
 
Abaixo, analisa-se uma estimativa do ano de 2000, até o ano de 2016 em 
relação à queda e aumento dos partos realizados no Brasil. 
 
INDÍCE DE CESARIANAS NO BRASIL ANO %- parto normal nasc. vivos %- parto cesárea nasc. vivos
2000 62,00% 39,00%
2004 59,00% 40,00%
2008 52,00% 48,00%
2012 44,00% 56,00%
2016 44,50% 55,50% 
Fonte: Agência do Brasil
8
 
 
A tabela mostra que no ano de 2000 o número de partos normais era de 
62,00%, e os partos por cesáreas eram de 39,00%. E no ano de 2016, os índices de 
partos normais decaíram para 44,50% e as cesáreas aumentaram para 55,50%, ou 
seja, em 16 anos os partos normais diminuíram em 17,50%, e os partos por cesárea 
aumentaram 16,50%, isso com a estimativa da queda pela primeira vez em 2016. 
 
O Brasil possui elevados índices de morbimortalidade materna e neonatal, 
sendo as principais causas consideradas como evitáveis e passíveis de 
serem reduzidas, como a hipertensão, hemorragia, complicações do aborto 
e atendimento inadequado à gestante e ao recém-nascido. Vale destacar 
que a adoção significativa de parto cesárea, mesmo em situações 
dispensáveis, contribui para o aumento da mortalidade neonatal, pois requer 
um cuidado maior, a fim de evitar futuras complicações e infecções. 
Conforme a pesquisa Nascer do Sol, coordenada pela Fundação Osvaldo 
Cruz – Fiocruz, 88% (oitenta e oito 8 ANAIS do VIII Encontro de Pesquisa e 
Extensão da Faculdade Luciano Feijão. Sobral-CE, novembro de 2015. 
ISSN 2318.4329 por cento) das mulheres na rede privada, 46% (quarenta e 
seis por cento) na rede pública e média nacional de 52% (cinquenta por 
cento), adotam este tipo de procedimento cirúrgico, frente a uma 
recomendação de apenas 15% (quinze por cento) da OMS.
9
 
 
7 BRASIL, Agência. NÚMERO DE CESARIANAS CAI PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL. 
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-03/numero-de-cesarianas-cai-
pela-primeira-vez-no-brasil> Acesso em: 26 de Março de 2018. 
8 Idem. BRASIL, Agência. 
9 FERNANDES. et al. DIREITOS HUMANOS DA GESTANTE X VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E A 
RESPONSABILIDADE PELO ERRO MÉDICO. Disponível em: <http://flucianofeijao.com.br/novo/wp-
content/uploads/2016/11/DIREITOS_HUMANOS_DA_GESTANTE_X_VIOLENCIA_OBSTETRICA_E_
A_RESPONSABILIDADE_PELO_ERRO_MEDICO.pdf> Acesso em: 15 de Maio de 2018. 2015. p. 7-
8. 
16 
 
 
 
As mulheres optam atualmente pela cesárea ao invés do parto normal, tanto 
pelo fato de poder marcar a data do nascimento, como de evitar sofrimento 
desnecessário. Mesmo que o parto normal seja mais prático, com menos tempo de 
recuperação, e recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) a cesárea 
tem disparado nos altos índices de escolha pelas brasileiras. 
17 
 
 
3 A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA 
 
A violência obstétrica é toda aquela ação praticada por um profissional de 
saúde que tira da mulher no momento do parto a sua autonomia sob seu corpo. Ela 
pode ser por informações inadequadas, ou por procedimentos desnecessários. 
O instituto parto do princípio explana sobre as intervenções com finalidade 
didáticas, onde a gestante é privada de seus direitos de saber sobre os 
procedimentos que serão praticados na hora do parto, muitas vezes sofrendo por 
toques invasivos de estranhos, passar pelas mãos de profissionais em muitos 
momentos que não sabe nem o nome do mesmo, de suas qualificações e até 
mesmo informações sobre o progresso da gestação. 
 
Submeter uma mulher a procedimentos desnecessários, dolorosos, com 
exposição a mais riscos e complicações, com a única e exclusiva finalidade 
de antecipar o exercício da prática desse procedimento em detrimento do 
aprendizado do respeito à integridade física das pacientes, bem como seu 
direito inviolável à intimidade é considerado, no contexto dos direitos 
reprodutivos, violência obstétrica de caráter institucional, físico e, não raro, 
sexual.
10
 
 
Essa violência é uma violação de direitos humanos porque ela infringe os 
direitos da mulher naquele momento que ela deveria estar protegida, e que ela está 
vulnerável e não tem quem fale por ela. 
O Brasil em si não tem uma legislação específica sobre a violência obstétrica, 
apenas constituem algumas leis estaduais e municipais, e projetos-leis que não 
foram aprovados até então, mas que servem de base para eventuais discussões e 
estudos sobre o tema abordado. 
O Estado de Santa Catarina no ano de 2017 implantou a lei 17.097/1711, que 
dispõe sobre medidas de informação e proteção a parturiente em relação à violência 
obstétrica no referido estado. Esta lei tem por base a inclusão de 09 (nove) artigos 
que deixam explícito a proteção as gestantes no pré, durante e pós-parto. 
 Uma publicação desenvolvida pelo Fórum de Mulheres do Espírito Santo com 
o objetivo de levar conhecimento às mulheres de todo o país sobre seus direitos na 
 
10 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Disponível em: 
<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 
30 de Abril de 2018. 2012. p. 93. 
11 CATARINA, Estado de Santa. LEI Nº 17.097, DE 17 DE JANEIRO DE 2017. Disponível em: 
<http://leis.alesc.sc.gov.br/html/2017/17097_2017_lei.html> Acesso em: 24 de Abril de 2018. 
18 
 
 
hora do parto, mostrou os casos mais corriqueiros de violência obstétrica nos 
hospitais (públicos e privados), e assim, divulgando informações para que muitas 
mulheres estejam preparadas para enfrentar o atendimento obstétrico. Nessa 
acepção, Kondo define: 
 
As formas mais comuns de violência obstétrica são: humilhar, xingar, coagir, 
constranger, ofender a mulher e sua família; fazer piadas ou comentários 
desrespeitosos sobre seu corpo, sua raça ou sobre sua situação 
socioeconômica; realizar procedimentos sem esclarecimentos ou 
desconsiderar a recusa informada; utilizar inadequadamente procedimentos 
para acelerar partos; prestar assistência sem ressaltar as melhores 
evidências científicas disponíveis da segurança e/ou da efetividade das 
intervenções; submeter à mulher a jejum, nudez, raspagem de pelos, 
lavagem intestinal durante o trabalho de parto; não oferecer condições para 
a amamentação e para o contato do bebê sadio com a mãe; violar direitos 
da mulher garantidos por lei; descumprir normativas e legislação vigente; e 
coagir mulheres a contratarem serviços e planos (como fotografia e 
filmagem ou plano do tipo “apartamento”) como única forma de garantir 
direitos já garantidos por lei às mulheres.
12
 
 
A violência obstétrica, conforme a Defensoria Pública de São Paulo13 “é 
aquela violência que é caracterizada por situações desnecessárias que mulheres 
enfrentam durante parto, até mesmo na gestação e no pós-parto.” A expressão 
“violência obstétrica” teve sua primeira aparição no meio acadêmico pelo Dr. Rogério 
Pérez D’Gregorio14, presidente da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia da 
Venezuela. Segundo Andrade: 
 
Entende-se por violência obstétrica qualquer ato exercido por profissionais 
da saúde no que concerne ao corpo e aos processos reprodutivos das 
mulheres exprimidos através de uma atenção desumanizada, abuso de 
ações intervencionistas, medicalização e a transformação patológica dos 
processos de parturição fisiológicos.
15
 
 
Dessa forma, o defloramento de determinadas ações, por determinados 
profissionais de saúde durante o tratamento da mulher em momentos reprodutivos, 
 
12 KONDO, Cristiane Yukiko. Violência Obstétrica é ViolênciaContra a Mulher. Disponível em: 
<http://www.sentidosdonascer.org/wordpress/wp-content/themes/sentidos-do-
nascer/assets/pdf/controversias/Violencia-obstetrica-e-violencia-contra-a-mulher.pdf> Acesso em 09 
de Nov. de 2017. 2014, p. 20. 
13 BRASIL. Defensoria Pública de São Paulo. Defensoria Pública orienta mulheres sobre 
violência obstétrica. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-
justica/2014/03/defensoria-publica-orienta-mulheres-sobre-violencia-obstetrica> Acesso em 10 Nov. 
2017. 
14 GREGORI, M.F. Deslocamentos Semânticos e Hibridismos: sobre os usos da noção de 
violência contra mulher. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 48, 2004, pp. 246-
259. 
15 ANDRADE, Briena Padilha. Violência obstétrica: a dor que cala. Anais do III Simpósio Gênero 
e Políticas Públicas, 27 a 29 de maio, Florianópolis, 2014. p.1. 
19 
 
 
pode ser caracterizado como violência obstétrica. Neste sentido a Organização 
Mundial de Saúde fez uma declaração para retratar como são os casos mais 
comuns dessa violência, e qual a classe de mulheres que mais sofrem com esses 
abusos nos hospitais. OMS expõe: 
 
Relatos sobre desrespeito e abusos durante o parto em instituições de 
saúde incluem violência física, humilhação profunda e abusos verbais, 
procedimentos médicos coercivos ou não consentidos (incluindo a 
esterilização), falta de confidencialidade, não obtenção de consentimento 
esclarecido antes da realização de procedimentos, recusa em administrar 
analgésicos, graves violações da privacidade, recusa de internação nas 
instituições de saúde, cuidado negligente durante o parto levando a 
complicações evitáveis e situações ameaçadoras da vida, e detenção de 
mulheres e seus recém-nascidos nas instituições, após o parto, por 
incapacidade de pagamento. Entre outras, as adolescentes, mulheres 
solteiras, mulheres de baixo nível socioeconômico, de minorias étnicas, 
migrantes e as que vivem com HIV são particularmente propensas a 
experimentar abusos, desrespeito e maus-tratos.
16
 
 
No Brasil o conhecimento da população desta modalidade de violência teve 
por origem as redes sociais. Porém, a população continua tendo um gravíssimo 
desconhecimento das consequências de um parto desumano, levando muitas 
mulheres a passarem por procedimentos de humilhação e abusos num momento 
que ela deveria sentir-se amparada e protegida, na ocasião em que os cuidados 
médicos oferecidos pelos profissionais deveriam colocar a mulher em posição de 
protagonista e que as intervenções médicas não devem ter o papel predominante. 
Nisto, Andrade argumenta: 
 
O parto é um momento único e inesquecível na vida da mulher, quando o 
cuidado despendido pelos profissionais deveria ser singular e pautado no 
protagonismo da mulher, tornando-o mais natural e humano possível. 
Distintamente de outros acontecimentos que necessitam de cuidados 
hospitalares, o processo de parturição é fisiológico, normal, necessitando, 
na maioria das vezes, apenas de apoio, acolhimento, atenção 
humanização
17
. 
 
O deputado Jean Wyllys (PSOL- RJ) no ano de 2014 lançou um projeto Lei nº 
7633/14, que decreta diretriz e princípios inerentes aos direitos da gestante no pré-
 
16 Organização Mundial de Saúde. Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-
tratos durante o parto em instituições de saúde. Disponível em: 
<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/134588/3/WHO_RHR_14.23_por.pdf> Acesso em 10 Nov. 
2017. (2014, p. 1) 
17 ANDRADE, Briena Padilha. Violência obstétrica: a dor que cala. Anais do III Simpósio Gênero 
e Políticas Públicas, 27 a 29 de maio, Florianópolis, 2014. p.3. 
20 
 
 
parto, durante, após e ao puerpério. E em seu artigo 13, desta lei ele especifica do 
que se trata a Violência Obstétrica: 
 
Caracteriza-se a violência obstétrica como a apropriação do corpo e dos 
processos reprodutivos das mulheres pelos (as) profissionais de saúde, 
através do tratamento desumanizado, abuso da medicalização e 
patologização dos processos naturais, que cause a perda da autonomia e 
capacidade das mulheres de decidir livremente sobre seus corpos e sua 
sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das 
mulheres.
18
 
 
Gregori19 avaliou a existência de uma problemática na expressão “violência 
obstétrica”, que com as mudanças de caráter semântico do termo violência para 
termos jurídicos e o desaparecimento das diferenças de gênero em algumas 
situações, colocou-se a família como um lugar privilegiado na solução dos conflitos. 
Dessa maneira, a melhor forma para abordar o tema é enxergar pelo viés da 
tipificação de um crime. De acordo com Pulhez: 
 
A melhor forma é apresentar certo vocabulário de modo à por em disputa 
direitos reprodutivos e sexuais no campo das políticas de saúde pública e 
como a linguagem dos direitos humanos é operada para expressar 
demandas que se põem em conflito com um discurso médico-científico.
20
 
 
Neste entendimento, observa-se que o campo da violência obstétrica é amplo 
e as intervenções na mulher durante o período do parto é muito comum. É preciso, 
no entanto, observar as determinadas práticas constantes que tem como 
entendimento a violência obstétrica. 
 
3.1 PRÁTICAS CONSIDERADAS VIOLENTAS 
 
Ao tratar-se da violência obstétrica um conjunto grande de práticas que são 
nocivas para a mulher acaba aprimorando-se, entre elas temos as violências 
institucionais, violências verbais dos profissionais de saúde, procedimentos 
desnecessários e despreparo profissional. 
 
18 NACIONAL, Congresso. O projeto de Lei nº 7633/14. Disponível em 
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1257785> Acesso em: 
20 de Março de 2018. 
19 GREGORI, M.F. Deslocamentos Semânticos e Hibridismos: sobre os usos da noção de 
violência contra mulher. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 48, 2004, pp. 246-
259. 
20 PULHEZ, Mariana Marques. A “violência obstétrica” e as disputas em torno dos direitos 
sexuais e reprodutivos. Seminário Internacional Fazendo Gênero, n. 10, Florianópolis, 2013. p. 2. 
21 
 
 
Ciello21, em relação às violências institucionais, afirma: “o que se considera 
violência institucional compreende a atuação do profissional de saúde dentro da 
instituição de atendimento, atrelando, de certa maneira, sua atuação às condições 
físicas, organizacionais e de recursos da mesma”. Diante disto, no mesmo sentido 
Ciello, acrescenta: 
 
Caráter institucional: ações ou formas de organização que dificultem, 
retardem ou impeçam o acesso da mulher aos seus direitos constituídos, 
sejam estas ações ou serviços, de natureza pública ou privada. Exemplos: 
impedimento do acesso aos serviços de atendimento à saúde, impedimento 
à amamentação, omissão ou violação dos direitos da mulher durante seu 
período de gestação, parto e puerpério, falta de fiscalização das agências 
reguladoras e demais órgãos competentes, protocolos institucionais que 
impeçam ou contrariem as normas vigentes.
22
 
 
Dispõe desta forma Silva23 que ocorre a violência verbal através de várias 
expressões ofensivas à mulher direta ou indiretamente, tais como: “Na hora de fazer 
não gritou! Quem entrou agora vai ter que sair! É melhor seu marido não assistir o 
parto, senão ele ficará com nojo de você!”. Muitas dessas expressões além de 
causar mais nervosismo e estresse à gestante, também é um desrespeito à mulher 
na ocasião de parto, aponta ainda a violência institucional, que é a supressão de 
direitos, como proibir o pai de entrar na sala de parto. Como em muitos casos 
prevalecem os interesses médicos por motivos financeiros, e interesses dos médicos 
namaioria dos casos em questão de realizarem cesárea, ao invés de parto normal. 
Com relação a isso, Silva24 elencou algumas expressões médicas que apontam para 
esse tipo de violência obstétrica: 
 
Agendando a cesárea você pode escolher o dia e a hora do seu parto meu 
bem! É melhor fazermos cesariana. Pois o parto normal esgarça a vagina e 
assim você pode preservar suas relações sexuais e dar mais prazer ao seu 
marido! Vamos fazer cesárea, pois o mundo evoluiu e você não precisa 
parir feito um animal com desconforto e muita dor. Com a cesárea você não 
terá nenhum desconforto!
25
 
 
 
21 CIELLO, Cariny. Violência obstétrica – “parirás com dor”. Disponível em: 
<http://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf>. Acesso 28 
Out. 2017. 2012. p. 51. 
22 Idem, CIELLO, Cariny. 2012. p. 61. 
23 SILVA, Michelle Gonçalves. et al. Violência obstétrica na visão de enfermeiras obstetras. 
Revista Rene. N. 15 (4): 820-8. jul-ago, 2014. 
24 Idem. SILVA, Michelle Gonçalves. et al. 820-8. jul-ago, 2014. 
25 Idem. SILVA, Michelle Gonçalves. et al. 823. jul-ago, 2014.. 
22 
 
 
As expressões ofensivas na violência obstétrica podem ser tanto por parte de 
enfermeiros e médicos obstetras, como também as instituições hospitalares podem 
agir desta maneira. Silva ressalva por sua maneira que: 
 
A parturição pode ser percebida pela mulher como angustiante, uma vez 
que, a partir do momento em que é internada na maternidade, ela passa a 
não ter controle da situação, tudo se torna imprevisível e não familiar. A 
mulher solicita a compreensão dos profissionais de saúde que estão ao seu 
redor, em geral a sua aproximação é com o enfermeiro. 
26
 
 
Enquadra-se ainda como violência obstétrica, aqueles procedimentos que são 
desnecessários no momento cirúrgico. Destacam-se assim três procedimentos mais 
corriqueiros: 1) episiotomia (que é um corte na vulva e na vagina feito com um 
bisturi) e “ponto do marido” (ponto que se dá após a episiotomia); 2) Manobra de 
Kristeller (pressão feita na parte superior da barriga para “facilitar” a saída do feto); 
3) Proibir acompanhante (impedir a presença de uma pessoa indicada pela mulher 
grávida). 
 
3.1.1 EPISIOTOMIA E PONTO DE MARIDO 
 
Historicamente, a episiotomia foi introduzida no século XVIII, pelo obstetra 
irlandês Sir Fielding Ould (1742), com o intuito de ajudar a retirar o feto em partos 
difíceis. E no ano de 1847: “Dubois sugeriu a realização de uma incisão oblíqua no 
períneo, modernamente conhecida como episiotomia médio-lateral”. 27 
A Episiotomia é o corte no períneo (corte entre a vagina e o ânus) para que 
assim se amplie a saída do feto. Ela é uma cirurgia realizada corriqueiramente nos 
hospitais, e na maioria das vezes sem o consentimento da paciente. De acordo com 
Kondo afirma: 
 
No Brasil, ela é realizada de rotina na maioria dos partos vaginais. Apesar 
de a episiotomia ser um procedimento cirúrgico, na maioria das vezes a 
mulher não recebe esclarecimentos e ninguém solicita seu consentimento. 
Algumas mulheres relatam que não receberam anestesia para o corte e 
 
26 SILVA, Michelle Gonçalves. et al. Violência obstétrica na visão de enfermeiras obstetras. 
Revista Rene. N. 15 (4): 823. jul-ago, 2014. 
27 AMORIM, Melania Maria Ramos de; KATZ, Leila. O papel da episiotomia na obstetrícia 
moderna. Disponível em: 
<http://institutonascer.com.br/wp-content/uploads/2014/03/episio_femina.pdf> Acesso em: 
01/05/2018. 2008. p. 48. 
23 
 
 
também que a anestesia falhou quando foi realizada a sutura (pontos). 
Algumas contam que sentiram do primeiro ao último ponto.
28
 
 
Acontece que este procedimento pode prejudicar a gestante em muitos 
aspectos, pode ser em sua vida sexual, ou em alguns casos em que o médico erra o 
corte e deixa uma cicatriz permanente no corpo da mulher. 
Quando ocorre algum tipo de trauma no períneo pode ser classificado em 
quatro graus, segundo o instituto parto sem dor: 
 
primeiro grau: compreende lesões superficiais, que atingem pele e tecido 
subcutâneo do períneo ou o epitélio vaginal. Também são consideradas de 
primeiro grau as lacerações superficiais múltiplas nessas regiões; segundo 
grau: lesões mais profundas que as de primeiro grau, que atingem 
músculos superficiais do períneo e o corpo perineal; terceiro grau: as 
lesões de terceiro grau mostram-se mais severas, por envolverem músculos 
perineais e esfíncteres anais, e subdividem-se em: 3a: menos de 50% do 
esfíncter anal externo afetado; 3b: mais de 50% do esfíncter anal externo 
afetado; 3c: inclui lesões no esfíncter anal interno; quarto grau: além de 
atingir os tecidos que compreendem o trauma de terceiro grau, o de quarto 
grau inclui o rompimento do esfíncter anal (externo ou interno ou ambos) e 
do epitélio anorretal.
29
 
 
A episiotomia caracteriza pelo menos um trauma na lesão de segundo grau, 
porém os médicos ignoram o fato e continuam realizando este procedimento nas 
gestantes. Ao longo dos anos à mulher teve parto normal sem houver a necessidade 
de nenhuma espécie de corte, ou seja, sempre que respeitado o seu ritmo natural e 
suas contrações para a saída do bebê, sem qualquer tipo de lesão. Deste modo, 
Fernandes30 explana: “A OMS recomenda que o uso dessa prática não ultrapasse 
10% dos partos naturais, no entanto, no Brasil, 53,5% das mulheres que tem o bebê 
pela via vaginal são submetidas a esta prática;”, ou seja, apesar da recomendação, 
muitos hospitais “optam” pelo corte por ser mais prático e “facilitar “ a saída do feto. 
O instituto parto do princípio informa em seu dossiê que a episiotomia (ou 
corte no períneo) “apesar de parecer uma manobra prática, rápida e que vai aliviar 
 
28 KONDO, Cristiane Yukiko Kondo. Episiotomia. Disponível em: 
 <http://www.sentidosdonascer.org/wordpress/wp-content/themes/sentidos-do-
nascer/assets/pdf/controversias/Episiotomia.pdf> Acesso em 26 de Março de 2018. p. 2. 
29 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Disponível em: 
<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 
 01 de Maio de 2018. 2012. p. 81-82. 
30 FERNANDES. et al. DIREITOS HUMANOS DA GESTANTE X VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E A 
RESPONSABILIDADE PELO ERRO MÉDICO. Disponível em: <http://flucianofeijao.com.br/novo/wp-
content/uploads/2016/11/DIREITOS_HUMANOS_DA_GESTANTE_X_VIOLENCIA_OBSTETRICA_E_
A_RESPONSABILIDADE_PELO_ERRO_MEDICO.pdf> Acesso em: 15 de Maio de 2018. 2015. p. 5. 
24 
 
 
as contrações, na verdade ela pode acarretar consequências para a gestante e ao 
bebê. E por conta disso esta manobra foi banida de muitos países.” 31 
Em 2012, a cantora de ópera Amy Herbst perdeu seu emprego por conta da 
episiotomia, pois além do corte ter sido feito sem seu consentimento, ele não 
cicatrizou, deixando sua vagina ligada ao reto. Sua entrevista a revista Galileu, 
explica: 
Por causa desse procedimento de necessidade duvidosa, agora a cantora 
não consegue mais exercer sua profissão - ao cantar, não tem controle 
sobre seus movimentos intestinais, o que faz com que ela solte flatulências 
e, possivelmente, defeque sem querer. 
32
 
 
Ao longo dos anos o Ministério da Saúde lança diretrizes para diminuir os 
riscos de violência obstétrica no Brasil, dentre elas algumas que barram o uso 
inadequado da Episiotomia. Em seu projeto lei nº 7633/14, Jean Wyllys (PSOL-RJ), 
regulamenta em seu artigo 14, que considera as ofensas verbais e físicas, dentre 
outras condutas em relação a gestante. E em seu inciso XIII, cita: 
 
XIII – Realizar a episiotomia quando esta nãofor considerada clinicamente 
necessária, enfatizando-se, para efeitos desta Lei, que tal procedimento é 
vedado se realizado para aceleração do período expulsivo por conveniência 
do profissional que presta assistência ao parto, ou de proteção prévia do 
períneo para evitar lacerações, não sendo tais justificativas clínico-
obstétricas aceitas; 
33
 
 
E deste modo cita em seu inciso XIV: “XIV – Realizar episiotomia, quando 
considerada clinicamente necessária, sem esclarecer a mulher sobre a necessidade 
do procedimento e receber seu consentimento verbal;”34, ou seja, o médico não 
pode determinar que fosse feito o corte sem o consentimento da gestante, e que 
tome ciência de todo o procedimento que deve ser realizado (como da anestesia), e 
usar a episiotomia se for realmente necessária, e não como primeira opção para 
simplesmente “facilitar” o parto. 
 
31 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Disponível em: 
<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 
01 de Maio de 2018. 2012. p. 81-82. 
32 GALILEU, Revista. EPISIOTOMIA FAZ CANTORA PERDER O EMPREGO. Disponível em: 
<https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2014/01/episiotomia-faz-cantora-perder-o-
emprego.html> Acesso em: 24 de Março de 2018. 
33 NACIONAL, Congresso. O projeto de Lei nº 7633/14. Disponível em 
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1257785> Acesso em: 
20 de Março de 2018. 
34 Idem. NACIONAL, Congresso. 
25 
 
 
No ano de 2003 surgiu à campanha “Abolição da Episiotomia de Rotina no 
Estado de São Paulo” 35, mostra como o eco da cultura da década 20 tomou 
proporção nos dias atuais em razão de muitas mulheres optarem pela episiotomia 
por medo de ficarem “largas”, ou até de não dar prazer ao parceiro. Conforme Diniz 
explica em relação à campanha: 
 
“No Brasil, a episiotomia e seu "ponto do marido", assim como a cesárea e 
sua "prevenção do parto", funcionam, no imaginário de profissionais, 
parturientes e seus parceiros, como promotores de uma vagina "corrigida". 
Se as mulheres acham que vão ficar com problemas sexuais e vagina 
flácida após um parto vaginal, e que a episiotomia é a solução, elas tendem 
a querer uma episiotomia.”
36
 
 
O ponto do marido é caracterizado como desnecessário e sem o 
consentimento da paciente é causa de violência obstétrica. Esse procedimento tem 
a intenção de preservar o prazer do marido e o médico acaba “costurando” um 
pouco mais a vagina da mulher. Esta prática é considerada invasiva. 
Um relato coletado pelo instituto parto do princípio demonstra o despreparo 
dos profissionais da saúde em relação ao ponto do marido, conforme exposto 
abaixo: 
 
Num determinado momento da sutura, ele disse que ia dar dois pontos que 
iam doer um pouco mais, depois comentou que era o “ponto do marido”. 
Perguntei a ele o que era isso e ele disse que era um ponto que era dado 
para que “as coisas voltassem a ser parecidas com o que era antes” e que, 
se eles não fizessem isso, depois o marido voltava para reclamar. Como a 
referência ao marido é uma constante, perguntamos se eles já viram um 
marido reclamar, ao que responderam que não, uma vez que esse ponto 
era sempre feito.
37
 
 
O relato de Milena ao jornal Estadão mostra o quanto este ponto juntamente 
com a episiotomia deixa a mulher mais frágil tanto em relação à prática sexual, 
quanto à vida cotidiana com o uso da força para afazeres domésticos. Desta forma, 
mostra neste comentário: 
 
 
35 DINIZ, Simone. Campanha pela Abolição da Episiotomia de Rotina. Disponível em: 
<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 
04 de Junho de 2018. 2012. p. 90. 
36 Idem. DINIZ, Simone. 2012. p. 90. 
37 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Disponível em: 
<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 
04 de Junho de 2018. 2012. 2012. p. 86. 
26 
 
 
O corte no períneo e o “ponto a mais” impediram Milena e o marido de 
voltarem a ter relações sexuais satisfatórias. “Todas as vezes que transava 
era com muita dor. Isso durou mais de um ano e eu passei a não me 
interessar mais por sexo”, conta. O marido começou a sentir ciúmes, 
começou a duvidar da fidelidade dela. Três anos depois, o casal se 
separou.
38
 
 
E desta maneira concluiu: 
 
No pós-parto Camila não conseguia se sentar para amamentar a filha ou 
ficar de pé para dar banho no bebê. As relações sexuais só foram possíveis 
oito meses após o parto e até hoje, quase três anos depois do nascimento 
de Isabella, ainda são muito doloridas. Camila procurou ajuda e ouviu da 
ginecologista que precisa de uma cirurgia plástica no períneo, mas não tem 
condições de pagar pelo procedimento. “Eu me sinto humilhada porque fui 
mutilada sem necessidade alguma. Meu parto foi rápido”, lembra. O 
casamento está estremecido. “Minha libido diminuiu e eu não tenho vontade 
de fazer sexo. Ter relações sexuais com dor não é fácil.
39
 
 
Esses procedimentos já declarados falhos, cruéis e sem necessidade 
atrapalham a vida e o desempenho de mulheres há anos que idealizam o parto 
normal, um parto sem dor e sem sofrimento, e saem da sala de cirurgia com maus 
procedimentos e cicatrizes eternas, e a estimativa é grande de muitas que 
desconhecem que a episiotomia e o ponto do marido como uma violência obstétrica, 
quando feito sem o seu consentimento. 
 
3.1.2 MANOBRA DE KRISTELLER 
 
Essa manobra foi criada por um medico alemão chamado Samuel Kristeller 
em 1867, dessa época até os dias atuais esta técnica foi banida da maior parte dos 
países desenvolvidos por conta das consequências negativas que ela pode acarretar 
para o parto. No Brasil, esta manobra costuma ser muito utilizada nos partos 
normais. 
Manobra tal que é feita normalmente pela equipe que acompanha o parto 
(médico, enfermeiro), e consiste na pressão que é feita na parte superior da barriga 
da gestante (chamado também como fundo uterino), com a intensão de empurrar o 
bebê para baixo, para facilitar a saída dele. 
 
 
38 LISAUSKAS, Rita. “Não me corta!”. Disponível em: <http://emais.estadao.com.br/blogs/ser-
mae/nao-me-corta-mulheres-imploram-mas-mesmo-assim-sao-mutiladas-durante-parto-normal/> 
Acesso em: 23 de Março de 2018. 
39 Idem. LISAUSKAS, Rita. 
27 
 
 
Desta forma, a manobra de Kristeller só deve ser utilizada como um último 
recurso quando o trabalho de parto natural está sendo muito difícil, de forma 
a diminuir a necessidade de fazer uma cesárea. 
Assim, antes de fazer esta manobra é recomendado experimentar outras 
técnicas como mudar a posição da grávida, encorajar a grávida a fazer força 
ou estimular o exercício físico durante o trabalho de parto, como andar pelo 
quarto, por exemplo.
 40
 
 
Tais consequências para a gestante são: Lacerações na região íntima 
(quando empurra à barriga da gestante, a cabeça do bebê faz uma pressão maior na 
vagina da mulher, e isso pode aumentar os riscos de ela rasgar, que seria a 
laceração). Ruptura ou inversão do útero (rompimento do útero- pode ocorrer um 
descolamento de placenta, rompimento dos órgãos internos, e que pode acarretar 
uma hemorragia interna, pode ocorrer um prolapso urogenital, ou seja, com a 
pressão que é feita para empurrar o bebê para baixo a uretra, o ovário são 
empurrados também e isso pode pressionar as paredes da vagina e do ânus para 
fora). Fratura nas costelas da gestante (por conta da manobrada força utilizada 
para empurrar o bebê). Embolia Amniótica (ocorre quando o liquido amniótico que 
envolve o feto dentro do útero, entra na corrente sanguínea da gestante e causa 
uma reação grave nela. Essa reação pode causar danos severos aos pulmões, 
coração e ate mesmo um sangramento demasiado). Outros danos à gestante 
também contam com a falta de ar e até desmaios durante a realização da manobra 
de Kristeller. 
As consequências ao bebê podem ocasionar como o traumatismo craniano, 
fratura de ossos no crânio, fratura da clavícula, diminuição da oxigenação no 
cérebro, ferimento na coluna vertebral e ter lesões nos órgãos internos também. O 
relato divulgado pelo instituto parto do princípio mostra como muitas gestantes não 
são consultadas acerca dos procedimentos tomados na hora do parto. 
 
O médico fez manobra de Kristeller, empurrando minha barriga para baixo. 
Me fizeram episiotomia sem ao menos perguntar se eu permitia ou me 
explicar o motivo do procedimento. Eu me senti extremamente mal e 
vulnerável por não ter entendido nada do que aconteceu comigo. Minha filha 
nasceu mal e ficou internada por uma semana. Nunca soube o motivo. 
Ninguém nunca me explicou nada sobre o parto e sobre o porquê da minha 
filha ficar internada. Eu nunca mais quis ter filhos. 
41
 
 
40 SAÚDE, Tua. Entenda os riscos da manobra de Kristeller durante o parto. Disponível em: 
<https://www.tuasaude.com/manobra-de-kristeller/> Acesso em: 09/03/2018. 
41 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Disponível em: 
<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 
04 de Junho de 2018. 2012. 2012. p. 105-106. 
28 
 
 
C.M. atendida na rede pública em Belo Horizonte/MG 
 
Apesar de muitos profissionais da área da saúde considerar essa prática 
corriqueira como “eficaz e segura”, o Ministério da saúde contraindica esta manobra 
por se tratar de um procedimento que põe em risco a saúde da gestante e do bebê, 
ocasionando em muitas situações até processos contra profissionais que utilizaram 
desta técnica. 
A contraindicação da manobra é considerada um dos grandes avanços do 
documento. Ela é considerada como uma violência obstétrica. “Há inúmeros 
relatos de casos de mulheres que ficam contundidas, com hemorragias e 
outros graves problemas em decorrência dessa prática, que já foi 
desaconselhada pela Organização Mundial da Saúde”, afirma a advogada 
Priscila Cavalcanti de Albuquerque Carvalho, especialista em direito sexuais 
e reprodutivos da mulher.
42
 
 
Esta manobra não é proibida, mas é contraindicada pelo Ministério da saúde, 
e sendo que esta manobra seja necessária para o parto deve ser usada com cautela 
para não trazer riscos à mãe e ao feto, tanto que o Código de Ética dos Profissionais 
de enfermagem estabelece em sua Resolução COFEN nº 311 de 12 de maio de 
200743 que estabelece seus direitos, suas responsabilidades e seus deveres como 
profissional atuante na área de enfermagem, que deverá zelar pela vida e saúde do 
paciente, como consta em seu artigo 12: “assegurar à pessoa, família e coletividade 
assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou 
imprudência.”. 
 
3.1.3 LEI DO ACOMPANHANTE – 11.108/05 
 
O instituto parto do princípio44 lançou um dossiê acerca da violência obstétrica 
com o tema “parirás com dor”, onde trás a importância do acompanhante desde o 
ano de 1985 (ano que a OMS – Organização Mundial de Saúde começou a 
 
42 ENFERMAGEM, Conselho Federal de. Ministério da Saúde lança diretrizes contra manobras 
agressivas em partos. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/ministerio-da-saude-lanca-
diretrizes-contra-manobras-agressivas-em-partos_49669.html> Acesso em 09/03/2018. 
43 ENFERMAGEM, Conselho Federal de. Resolução COFEN nº 311 de 12 de maio de 2007. 
Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_311_anexo.pdf> 
Acesso em: 16 de Abril de 2018. 
44 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Disponível em: 
<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 
01 de Junho de 2018. 2012. p. 64. 
29 
 
 
recomendar que a parturiente tenha direito a um acompanhante), nisso destaca os 
benefícios: 
Dos benefícios proporcionados apenas pela presença de um 
acompanhante: diminuição do tempo de trabalho de parto, sentimento de 
confiança, controle e comunicação, menor necessidade de medicação ou 
analgesia, menor necessidade de parto operatório ou instrumental, menores 
taxas de dor, pânico e exaustão, menores escores de Apgar abaixo de 7, 
aumento dos índices de amamentação, melhor formação de vínculos mãe-
bebê, maior satisfação da mulher, menos relatos de cansaço durante e após 
o parto.
45
 
 
Diante dos benefícios apresentados, fica o questionamento de inúmeras 
vezes os hospitais ainda barrarem a entrada do acompanhante o que é uma prática 
muito comum ainda em nosso país, mesmo que atualmente exista uma lei que 
proteja este direito da parturiente de ter 01 (uma) pessoa em seu pré, durante e pós-
parto. 
A lei de acompanhamento à gestante nº 11.108/0546 entrou em vigor no ano 
de 2005 após ela alterar a lei nº 8.080/9047, tal lei que em seu artigo 19-J garantia a 
parturiente à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-
parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Com a alteração da nova lei, 
ela dispõe a obrigação do Sistema Único de Saúde (SUS), de rede própria ou 
conveniada, a permitir a presença, junto à parturiente, de 01 (um) acompanhante 
durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. 
Essa lei é chamada de “lei do parto humanizado”, que da o direito da gestante 
ter a livre escolha de contar com um acompanhante durante o parto, tanto em 
hospital público quanto em hospital privado. A lei 8.080/90 trazia em seu texto inicial: 
 
Altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às 
parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de 
parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde – 
SUS.
48
 
 
45 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Disponível em: 
<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 
01 de Junho de 2018. 2012. p. 64. 
46 PLANALTO, Palácio do. LEI Nº 11.108, DE 07 DE ABRIL DE 2005. Disponível em: 
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11108.htm> Acesso em: 16 de Abril de 
2018. 
47 PLANALTO, Palácio do. LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990. Disponível em: 
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm> Acesso em: 16 de Abril de 2018. 
48 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Disponível em: 
<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 
04 de Junho de 2018. 2012. p. 179. 
30 
 
 
Com a alteração da lei 11.108/05 ficou: 
 
Altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às 
parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de 
parto, parto e pós-parto imediato, em todo o território nacional em serviços 
de saúde executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou 
eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado.
49
 
 
Desta forma, o site trocando fraldas explana os lugares do Brasil que validam 
esta lei:A lei do acompanhante é válida para todas as maternidades do território 
nacional, sejam elas particulares ou mesmo de serviço público. É muito 
importante lembrar que a grande maioria das parturientes, encontram 
dificuldades para ter um acompanhante na hora do parto, em maternidades 
públicas. 
Embora as maternidades particulares eventualmente também possam 
colocar obstáculos para a lei do acompanhante ser cumprida, a grande 
quantidade de reclamação ao descumprimento da lei, vem de hospitais do 
SUS.
50
 
 
De tal modo, vale ressaltar que a referida lei não prevê punição para quem 
venha a descumprir, o que acaba dificultando que ela seja aplicada. E assim os 
hospitais inventam diversas desculpas para barrarem a entrada de acompanhantes 
com as gestantes, desde ao falarem que a sala de parto é pequena demais, e que 
há uma limitação para os profissionais que vão atuar no parto, até em firmar que há 
regulamentos que proíbam a entrada ou quanto a infecções hospitalares. Um caso 
no Rio Grande do Sul repercutiu quando um pai teve seu direito de acompanhar 
negado, perdendo o nascimento da filha, e assim expõe o consultório jurídico: 
 
A Lei do Parto Humanizado (11.108/2005) diz que a futura mãe tem o direito 
de contar com um acompanhante, de sua livre escolha, durante o parto, 
seja em hospital público ou privado, no âmbito do Sistema Único de Saúde 
(SUS). Portanto, o pai da criança, principalmente, não pode ser impedido de 
acompanhar o nascimento sem uma justificativa plausível. Caso contrário, 
deve ser indenizado, conforme o artigo 186 do Código Civil, por ter a sua 
dignidade ferida.
51
 
 
49 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Disponível em: 
<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 
04 de Junho de 2018. 2012. p. 179. 
50 FRALDAS, Trocando. Lei do acompanhante – O pai no parto. Disponível em: 
<www.trocandofraldas.com.br/lei-do-acompanhante/> Acesso em: 17 de Abril de 2018. 
51 MARTINS, Jomar. PAI IMPEDIDO DE ACOMPANHAR PARTO DE FILHA SERÁ INDENIZADO 
EM R$ 10 MIL. Disponível em: <www.conjur.com.br/2017-dez-09/pai-impedido-ver-parto-filha-
indenizado-10-mil> Acesso em: 17 de Abril de 2018. 
31 
 
 
 
E teve por mérito: 
 
O fundamento levou a 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio 
Grande do Sul a reformar sentença que negou indenização por danos 
morais a um pai que não foi chamado à sala de parto para ficar perto de sua 
companheira e assistir ao parto da filha em um hospital público. O autor 
receberá R$ 10 mil de reparação.
52
 
 
Negar este atendimento é privar a família de carregar um parto saudável, 
privar um momento único e especial. Tal violência obstétrica que tira o direito da 
gestante de ter ao seu lado alguém para diminuir sua ansiedade e tensão, 
transformando a sala de parto em uma história de terror e como consequência 
problemas psicológicos que acarretam danos na vida dos pais e dos filhos. 
No ano de 2016, uma notícia do jornal globo mostrou que um hospital em São 
Paulo havia descumprindo há alguns anos o direito que a lei dá a gestante de ter um 
acompanhante, indiferente de seu sexo. Em nota a gestante informou: 
 
Por ser do sexo masculino, o hospital não permitiu que ele ficasse durante a 
noite, então fiquei sem ninguém. A minha sorte foi a acompanhante da 
paciente ao lado da minha cama, que me auxiliou toda vez que eu precisava 
pegar a neném ou descer para ir ao banheiro, ela me ajudou. 
53
 
 
Por fim explanou: 
 
Ele foi barrado, aí apresentou a carta dizendo que tinha sido autorizado, 
mas falaram que o papel não valia, então ele falou: ‘Mas como não vale se 
vocês mesmo assinaram e autorizando?’ e eles responderam que não podia 
nem entrar para se despedir. Então, de acompanhante, meu marido acabou 
virando visita”, explicou Viviane. 
54
 
 
Embora muitos hospitais da rede pública e privada tenham total conhecimento 
da lei, e sabendo que não pode impedir que a gestante seja acompanhada antes, 
durante e depois do parto, mesmo assim continuam negando e em muitas vezes 
com declarações que vão contra a lei para justificar motivos dos quais não honram 
com o direito da parturiente. 
 
52 MARTINS, Jomar. PAI IMPEDIDO DE ACOMPANHAR PARTO DE FILHA SERÁ INDENIZADO 
EM R$ 10 MIL. Disponível em: <www.conjur.com.br/2017-dez-09/pai-impedido-ver-parto-filha-
indenizado-10-mil> Acesso em: 17 de Abril de 2018. 
53 G1, GLOBO.COM. Santa Casa de Araras descumpre lei que permite pai acompanhar parto. 
Disponível em: <http://glo.bo/1UDsRa5> Acesso em: 04 de Junho de 2018. 
54 Idem. G1, GLOBO.COM. 
32 
 
 
4 RESPONSABILIDADE CRIMINAL POR VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA 
 
Visando a proteção dos bens jurídicos fundamentais, tais como a vida e a 
integridade física, o Estado se emerge definindo crimes e estipulando sanções, por 
meio de norma, àqueles indivíduos que praticam fatos graves contrários ao direito. O 
doutrinador Neto55 explana que “Caracteriza-se a responsabilidade penal quando a 
pessoa infringe uma norma de direito público, caso em que o infrator poderá 
responder com a privação de sua liberdade”, ou seja, no âmbito penal não há que se 
falar em reparação, mas sim na aplicabilidade de uma punição de caráter 
intrasferível à figura do agente. 
 
A responsabilidade culposa meramente significará que seja afastada do 
plano em duas hipóteses: caso a alternativa seja seguida de aceitação do 
paciente, e apenas se referida escolha não implicar em imputação culposa 
apenas será separada de plano em duas hipóteses: caso a opção seja 
acompanhada de consentimento do paciente, e somente se referida escolha 
não implicar em uma certeza de lesão ou morte, e caso a utilização da 
técnica menos eficaz ou obsoleta se deva pela escassez de recursos 
humanos ou materiais disponíveis ao profissional, desde que mencionada a 
indisponibilidade não possa ser atribuída ao médico. 
56
 
 
No caso acima explanado, o profissional terá responsabilidade afastada se 
ele agiu em exercício regular de um direito, onde a paciente tenha tido 
consentimento da prática utilizada, e que sua escolha não cause lesões ou a morte 
da parturiente ou do neonato, ou caso o agente não tenha os materiais disponíveis 
para realização do ato em fato da escassez por parte do hospital. 
O código penal trás em seus artigos alguns dispositivos que se tratam da 
violência obstétrica. Tais dispositivos como: o artigo 146 que dispõe sobre o 
constrangimento ilegal, que dependendo da maneira, pode ser considerado uma 
prática violenta; o artigo 6157, inciso II, alínea h diz que: “são circunstâncias que 
sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: h. contra 
criança, maior de 60 anos, enfermo ou mulher grávida”. Esse artigo dispõe sobre 
agravantes da pena. Embora, existe a previsão do art. 129, § 1º, inciso IV: “lesão 
 
55 NETO, Daniel Carlos. RESPONSABILIDADE CRIMINAL DO MÉDICO POR ERRO. 1ª ed. Porto 
Velho: Editora Motres, 2017. p. 5. 
56 Idem. NETO, Daniel Carlos. 2017. p. 38. 
57 CASA CIVIL, Presidência da República. Código Penal, Lei 2.848/40 – Artigo 61, inciso II, alínea 
h. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acesso 
em: 08 de Maio de 2018. 
33 
 
 
corporal de natureza grave: IV. Aceleração do parto”. Conforme Capez explana 
quando ocorre a aceleração do parto: 
 
A aceleração do parto ocorre quando, em decorrência da lesão corporal 
produzida na gestante, antecipa-se o termo final da gravidez, ou seja, o feto 
é expulso precocemente do útero materno. É necessárioque o feto nasça 
com vida e sobreviva, pois, do contrário, estará caracterizada a lesão 
corporal gravíssima..
58
 
 
Pode-se observar que o direito penal fornece o tratamento para a violência 
obstétrica na acepção de um agravante dos delitos. Acarretando assim, um 
regramento geral sobre a tipificação do crime de dano de natureza grave ou 
gravíssima. 
A lesão corporal é configurada por três figuras típicas: a fundamental, a 
qualificada e a privilegiada. A fundamental encontra-se no caput do artigo 12959 do 
Código Penal. As formas qualificadas estão previstas nos §§§ 1º, 2º, e 3º. Já as 
formas privilegiadas estão definidas nos parágrafos 4º e 5º. A lesão pode ser dolosa 
ou culposa. Em relação ao tipo culposo está descrito nos parágrafos sexto e sétimo 
do art. 129 do CP (as formas simples e qualificada). 
Em relação à lesão cometida pelo médico ser seguida de morte admite o dolo 
no fato consequente, ou seja, a morte da vítima, prevista no art. 129 § 3º. É crime 
preterintencional, a lesão é punida a título de dolo, mas seu resultado (a morte) que 
é qualificador é punido a título de culpa. 
Com relação ao aborto provocado por terceiro que ocorreu culposamente, 
será dito com a lesão corporal culposa, onde a vítima será a gestante. Diante disto, 
Capez separou em duas questões as qualificadoras ao aborto preterintencional e à 
aceleração de parto, que constituem qualificadoras do delito de lesão corporal: 
 
a) Crimes de aborto qualificado pela lesão corporal grave ou morte e 
crime de lesão corporal qualificada pelo aborto (CP, art. 129, §2º, 
V). Elemento subjetivo. Distinção: é de suma importância no caso 
concreto a análise do elemento subjetivo que impele o agente à prática 
delitiva, pois é a partir dele que faremos o enquadramento das condutas 
praticadas. Comparando o aborto qualificado pela lesão grave ou morte 
e a lesão corporal qualificada pelo aborto (CP, art. 129, §2º, V), conclui-
se que: 1) ambas são figuras preterdolosas – há dolo no antecedente e 
culpa no consequente; 2) a distinção reside no seguinte aspecto: no 
 
58 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016. p. 275. 
59 CASA CIVIL, Presidência da República. Código Penal, Lei 2.848/40 – Artigo 129. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acesso em: 04 de junho de 
2018. 
34 
 
 
art.129,§2º, V, temos o dolo de lesionar a gestante, com aborto 
previsível. O agente deve possuir conhecimento da gravidez. Já, no 
caso dos arts. 125 e 127 c/c o 127, há a intenção de praticar um aborto, 
podendo sobrevier lesão corporal grave ou morte da gestante.
60
 
 
O elemento subjetivo no caso em tela é identificar a qualificadora do crime 
cometido pelo agente. No aborto qualificado pela lesão grave ou pela morte, ou na 
morte e a lesão corporal qualificada pelo aborto, em ambas vai haver preterdoloso, 
ou seja, dolo no que houve antes do fato, e culpa na consequência desse fato. O 
que os distingue é que um tem o dolo, que é a intenção de lesionar a gestante, com 
previsão de um aborto. E o outro ele tem intenção de praticar o aborto, mas ocorre 
lesão corporal da gestante ou sua morte. 
 
Capez expõe em sua segunda vertente: 
 
b) Crime de lesão corporal qualificada pela aceleração do parto (CP, 
art. 129, §1º, IV) e o crime de aborto. Elemento subjetivo. Distinção: 
o delito de lesão corporal qualificada pela aceleração de parto ocorre 
quando o feto é expulso prematuramente do ventre materno em virtude 
das lesões causadas na gestante. O dolo do agente é o de causar 
lesões na gestante, das quais advém o nascimento prematuro e com 
vida do infante. Tal espécie de crime não se confunde com o delito de 
aborto, pois este é a dolosa interrupção da gravidez, causando a morte 
do produto da concepção.
61
 
 
Neste caso, ocorrerá a qualificante na lesão corporal quando o feto for 
expulso prematuramente e causar lesões da gestante. Nessa situação o agente tem 
o dolo de querer causar lesões na gestante, fazendo o nascimento prematuro e com 
vida do filho. Essa espécie de delito não se confunde com o de aborto, pois o aborto 
é a forma dolosa de interromper a gestação, onde ocorre à morte do infante, e o 
caso acima exposto é a aceleração do parto, para expulsão do bebê com vida que 
resulta em lesões na gestante. 
A responsabilidade penal em si pressupõe um ato ilícito, e o grau da sua 
responsabilidade será de acordo com a sua infração. Então essa culpabilidade ela 
passa a existir para como forma de responsabilizar estes indivíduos pelos danos 
aparentemente causados. Neste sentido, Veloso e Serra descrevem esta 
responsabilidade: 
 
 
60 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016. p. 275. 
61 Idem. CAPEZ, Fernando. 2016. p. 275. 
35 
 
 
A responsabilidade penal decorre de um fato criminoso, seja de forma 
comissiva ou omissiva. Não haverá reparação e sim, aplicação de uma 
pena pessoal e intransferível à figura do transgressor, tendo em vista a 
gravidade do ilícito, uma vez que essa modalidade de responsabilidade visa 
à ordem social e também a punição.
62
 
 
Os crimes mais imputados aos profissionais da saúde em relação à violência 
obstétrica ocorrida são: homicídio (art. 121 CP- Geralmente se caracteriza pelo dolo 
eventual, onde o profissional da saúde agiu com negligência e imprudência em 
relação a gestante que são condutas graves), lesão corporal (art. 129 CP – Pode ser 
aplicada a episiotomia quando feita sem o consentimento da gestante, ou em casos 
que se enquadrem nessa conduta, onde a integridade física da parturiente não é 
respeitada), constrangimento ilegal (art. 146 CP – Quando fazem o uso de 
procedimentos não aceitos pela gestante, tanto da episiotomia, como de uso de 
fórceps, ou de coloca-la em posições desconfortáveis. Este crime caracteriza 
quando a gestante perde sua autonomia no parto), ameaça (art. 147 CP – 
Infelizmente é uma das principais causas de violência obstétrica, onde o profissional 
da saúde ameaça lhe fazer algum mal se acaso não aceitar procedimentos, ele visa 
causar medo na gestante, podendo ser ilícito ou imoral), maus-tratos (art.136 CP – 
Em muitos casos ele se denota da negação de algum auxilio a gestante, como em 
não lhe dar água, alimento, privar ela de urinar, podendo ocorrer até após o parto), e 
por fim podem incidir-se os crimes de calúnia (art. 138 CP), difamação (art. 139 CP) 
e injúria (art. 140 CP) que são crimes que vão contra a honra da parturiente. 
Sendo assim, no exercício da profissão, pode o médico incorrer em erro e 
cometer crime de homicídio culposo ou de lesão corporal culposa por não observar o 
dever de cuidado inerente à sua atividade, vale ressaltar a diferença entre 
negligência, imprudência e imperícia. A negligência evidencia-se pela falta de 
cuidado para exercer certos atos, seria um ato omissivo (por deixar de fazer o que 
uma norma impõe). A imprudência é em relação de o profissional ter ciência do 
risco, e mesmo assim ele toma a decisão de agir, tem culpa comissiva (fazer o que 
uma norma proíbe). E a imperícia é quando o autor revela não ter conhecimento 
técnico no assunto, ou seja, um despreparo prático. 
 
62 VELOSO, Roberto Carvalho; SERRA, Maiane Cibele de Mesquita. REFLEXOS DA 
RESPONSABILIDADE CIVIL E PENAL NOS CASOS DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA. Disponível 
em: <http://indexlaw.org/index.php/revistagsd/article/download/1048/1043> Acesso em: 24 de Abril 
de 2018. 
36 
 
 
Em relação ao crime de homicídio, o doutrinador Neto63 explana de tal forma 
como o agente será responsabilizado

Continue navegando