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CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS CURSO: DIREITO VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA MULHER BRASILEIRA KETLYN MARIA ALVES XAVIER FOZ DO IGUAÇU – PR 2018 1 KETLYN MARIA ALVES XAVIER VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA MULHER BRASILEIRA Monografia de conclusão de curso apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Dinâmica das Cataratas – UDC, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientadora: Profa. Mestre Kelly Cardoso da Silva FOZ DO IGUAÇU – PR 2018 2 TERMO DE APROVAÇÃO UDC – CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA MULHER BRASILEIRA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO, REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM DIREITO __________________________________ KETLYN MARIA ALVES XAVIER _____________________________________________ Orientadora: Profa. Mestre Kelly Cardoso da Silva __________________________________ Nota Final Banca Examinadora: __________________________________ Profº. __________________________________ Profº. Foz do Iguaçu, _____/_______ de 2018. 3 “A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do ser humano.” (Papa João Paulo II) 4 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, que sempre esteve presente como uma fonte divina em minha vida e me protegendo todos esses anos como universitária, e de alguma forma enviando-me forças para continuar seguindo firme e forte diante de minhas expectativas. Em especial minha mãe Roseli de Jesus Tibes dos Santos, e meu pai Amauri Alves Xavier que sempre me motivaram, me cobraram esforço e dedicação durante toda essa etapa na vida acadêmica, e me apoiaram muito no desenvolvimento do meu projeto, zelando de alguma forma pelas minhas conquistas, não permitindo meu desânimo e sabendo reconhecer meus defeitos e me ajudando a consertá-los. Nem em outras vidas poderei demonstrar minha gratidão. Aos meus irmãos que já passaram por essa vida universitária e me ajudaram a manter o foco, e agradecer meus sobrinhos e afilhados que mesmo tão pequenos mostram-me o valor de lutar pelos nossos sonhos e me motivaram nesse projeto. Ao meu namorado Diego F. R. Preis, que foi um grande parceiro tanto dentro da sala de aula, quanto ao momento de realizarmos juntos nossos projetos, sem suas cobranças e sua motivação tudo teria sido mais difícil. Meus mais sinceros agradecimentos aos meus amigos que foram pacientes nos momentos que tive de me ausentar para a elaboração desse projeto, sem vocês e os momentos de incentivo e descontração o meu sonho não se tornaria realidade. A minha orientadora Kelly Cardoso da Silva, que se dedicou a ensinar e compartilhar todo o seu conhecimento, por seu carisma, pelo suporte e correção para sempre melhorar esse projeto. E agradecer a professora Maria Aparecida por seu paciente trabalho de revisão do conteúdo e sempre nos motivar a sermos melhores. A todos os mestres que compartilharam seus conhecimentos em sala de aula e acompanharam a minha jornada enquanto universitária. Sou grata especialmente às professores Camila Parmezan Olmedo e Kelyn Trento que foram duas pessoas essenciais nesses longos anos, com o apoio de vocês pude me aperfeiçoar como universitária e conseguir achar meios de elaborar esse projeto. Agradeço a todos que de alguma forma direta ou indiretamente fizeram parte para a minha formação, o meu mais sincero agradecimento. 5 Dedico esse trabalho de conclusão de curso em primeiro lugar a Deus que iluminou meu caminho nessa jornada, aos meus familiares, aos meus amigos, a minha orientadora e aos meus professores que de alguma forma me incentivaram nesse projeto. 6 RESUMO: A violência obstétrica é toda aquela ação praticada por um profissional de saúde que tira da mulher no momento do parto a sua autonomia sob seu corpo. Ela pode ser por informações inadequadas ou por procedimentos desnecessários. Enquadra- se ainda como violência obstétrica, aqueles procedimentos que são desnecessários no momento cirúrgico. Destacam-se assim três procedimentos mais corriqueiros: 1) episiotomia (que é um corte na vulva e na vagina feito com um bisturi) e “ponto do marido” (ponto que se dá após a episiotomia); 2) Manobra de Kristeller (pressão feita na parte superior da barriga para “facilitar” a saída do feto); 3) proibição de acompanhante (impedir a presença de uma pessoa indicada pela mulher grávida). Uma publicação desenvolvida pelo Fórum de Mulheres do Espírito Santo com o objetivo de levar conhecimento às mulheres de todo o país sobre seus direitos na hora do parto, mostrou os casos mais corriqueiros de violência obstétrica nos hospitais (públicos e privados), e assim, divulgando informações para que muitas mulheres estejam preparadas para enfrentar o atendimento obstétrico. Visando a proteção dos bens jurídicos fundamentais, tais como a vida e a integridade física, o Estado se emerge definindo crimes e estipulando sanções àqueles indivíduos que praticam fatos graves contrários ao direito. Desta forma tem-se que a responsabilidade penal trata desde uma lesão corporal até ao homicídio da gestante e do feto, cabendo assim à lei punir o profissional da saúde que agir com violência no pré, durante e no pós-parto. Assim, objetivo do tema em pauta é analisar a violência que ocorre nos hospitais com a gestante no período que envolve o parto, os direitos desta em receber partos humanizados e a responsabilidade daqueles que desrespeitam tais direitos. Para a realização do presente estudo utilizou-se da pesquisa bibliográfica e exploratória, utilizando de materiais impressos, artigos, documentários, como de alguns disponíveis da internet. Palavras-chave: Violência Obstétrica, Responsabilidade Criminal, Direitos da Mulher. 7 ABSTRACT: Obstetric violence is all that action practiced by a health professional who takes from the woman, her body autonomy when she is giving birth. This might happen due to inadequate information or unnecessary procedures. It is also characterized as obstetric violence, those procedures that are unnecessary at the surgical moment. Therefore, three more common procedures are highlighted: 1) episiotomy (a cut in the vulva and vagina made with a scalpel) and a " Husband Point " (the point after the episiotomy); 2) Kristeller's maneuver (pressure made on the upper part of the belly to "make it easier" the exit of the fetus); 3) prohibition of accompanying person (to prevent the presence of a person indicated by the pregnant woman). A publication developed by the Women Forum in Espirito Santo City with the objective of informing women throughout the country about their rights when giving birth, showed the most common cases of obstetric violence in hospitals (public and private), spreading information so that many women get prepared to face obstetric care. Aiming to protect fundamental legal assets suchas life and physical integrity, the state emerges by defining crimes and stipulating sanctions for those individuals who practice serious crimes against the law. In this way, it is assumed that the criminal responsibility deals with; since a body injure to the homicide of the pregnant woman and the fetus, therefore, it is the law responsability to punish the health professional who acts with violence in the pre, during and post birth. So, the objective of the topic in question is to analyze the violence that occurs in hospitals with the pregnant woman during the period of giving birth, her rights to receive humanized births and the responsibility of those who disrespect such rights. For this present study to be performed, the bibliographical and exploratory research were used, as well as printed materials, articles, documentaries, and also some available from the Internet. Keywords: Obstetric Violence, Criminal Liability, Women's Rights. 8 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1. Você foi mãe em que faixa etária?........................................................... 49 Gráfico 2. Onde ocorreu seu parto? ......................................................................... 49 Gráfico 3. Que tipo de parto você teve? ................................................................... 50 Gráfico 4. Você tem sequelas do parto? .................................................................. 51 Gráfico 5. Durante seu trabalho de parto, teve algum acompanhante? ................... 52 Gráfico 6. Quem foi seu acompanhante? ................................................................. 52 Gráfico 7. Sofreu alguma das violências abaixo citadas? ........................................ 53 Gráfico 8. Se acaso sofreu violência, você sabia estar passando por algum tipo de violência no momento? ............................................................................................. 54 Gráfico 9. O trauma sofrido influênciou na sua decisão de não ter mais filhos? ...... 55 9 Sumário 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10 2 HISTÓRIA DO PARTO NO BRASIL ....................................................................... 12 2.1 PARTO NORMAL ................................................................................................ 13 2.2 PARTO CESÁREA .............................................................................................. 14 3 A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA ................................................................................. 17 3.1 PRÁTICAS CONSIDERADAS VIOLENTAS ........................................................ 20 3.1.1 EPISIOTOMIA E PONTO DE MARIDO ............................................................ 22 3.1.2 MANOBRA DE KRISTELLER .......................................................................... 26 3.1.3 LEI DO ACOMPANHANTE – 11.108/05........................................................... 28 4 RESPONSABILIDADE CRIMINAL POR VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA .................... 32 4.1 ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS ACERCA DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA . 37 4.1.1 NA EPISIOTOMIA E PONTO DO MARIDO ..................................................... 37 4.1.2 NA MANOBRA DE KRISTELLER .................................................................... 39 4.1.3 AO NEGAR ACOMPANHANTE – LEI 11.108/05 ............................................. 43 4.2 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA EM FOZ DO IGUAÇU .............................................. 46 5 PESQUISA EM CAMPO......................................................................................... 49 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 56 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59 ANEXOS ................................................................................................................... 64 10 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho monográfico pretende analisar a violência obstétrica em relação à mulher brasileira. Vale-se observar que essa violência ocorre contra a mulher em pelo menos três momentos: no pré-parto, no parto e no pós-parto. A violência obstétrica é toda aquela ação praticada por um profissional de saúde que tira da mulher no momento do parto a sua autonomia sob seu corpo. Ela pode ser por informações inadequadas, ou por procedimentos desnecessários. Verifica-se no Brasil que no ano de 2000 o número de partos normais era de 62,00%, e os partos por cesárea eram de 39,00%. E no ano de 2016, os índices de partos normais decaíram para 44,50% e as cesáreas aumentaram para 55,50%, ou seja, em 16 anos os partos normais diminuíram em 17,50%, e os partos por cesáreas aumentaram 16,50%. No momento do parto a violência obstétrica ocorre quando há o corte na vulva e na vagina feito com um bisturi, tal ato denominado pela episiotomia, e o “ponto do marido” que se dá após a episiotomia que consiste em deixar a vagina mais estreita; quando ocorre a pressão feita na parte superior da barriga para “facilitar” a saída do bebê, caracteriza-se a Manobra de Kristeller; e há violência quando impedem a presença de um acompanhante indicado pelo gestante. Essas são algumas circunstâncias e ações que ocorrem com a parturiente no momento do parto. O presente trabalho divide-se da seguinte forma: no segundo capítulo trata-se da história do parto no Brasil, e como às mulheres tem optado mais pelo parto cesárea, do que pelo parto normal. A partir das primeiras décadas do século XX, houve a passagem dos partos feitos em casa, para partos nos hospitais, e na entrada dos anos 70 como houve um elevado nível de partos dentro dos hospitais, também houve um alto índice de partos por cesáreas, pois os médicos ganhavam mais por essa espécie de parto. Medidas foram mudadas nos anos 80 para tentar diminuir buscas pelo parto de cesárea, onde todas as formas de parto começaram a ter o mesmo custo. O número de cesarianas no Brasil caiu pela primeira vez no ano de 2016, ainda assim continua sendo a prática mais procurada pelas mulheres (e a menos recomendada pela Organização Mundial de Saúde – OMS), do que o parto normal. No capítulo três trata sobre o que é a violência obstétrica, e como os profissionais de saúde têm intervindo cada vez mais na decisão da gestante durante 11 o parto, e projetos de leis que visam proteger a mãe e o filho no parto; e também quais são as práticas consideradas violentas, e os indicadores do Brasil sobre essas práticas violentas. Em seu capítulo quatro aborda sobre a responsabilidade criminal em relação ao profissional da saúde que praticar a violência obstétrica, tendo como base jurisprudências e o Código Penal que visa punir o agente causador da violência. Apesar dessa violência se manifestar em diversos crimes que vão os tais atingirem a integridade física até a moral e a honra da parturiente, o presente trabalho aborda-se aos crimes de aborto, lesão corporal e homicídio; Analisa-se como é o tratamento judicial da violência obstétrica nos três pontos supramencionados acima: Episiotomia e Ponto do Marido, manobra de Kristeller e negar acompanhante a gestante; avalia-se como a violência obstétrica tem tomado proporção na cidade de Foz do Iguaçu, e como suas leis municipais tem visado o direito a parturiente. E no capítulo cinco constam os dados de uma pesquisa em campo realizado com cerca de 70 mulheres com idade entre 16 e 31 anos, que responderam um questionário acerca de receber informações de quantas delas passarampor um parto violento, e se elas sabiam estar passando por alguma violência; por fim, gráficos definem onde, e de que forma tiveram seus bebês e a espécie de violência que algumas delas sofreram. Assim, o objetivo do tema em pauta é analisar a violência que ocorre nos hospitais com a gestante no período que envolve o parto, os direitos desta em receber partos humanizados e a responsabilidade daqueles que desrespeitam tais direitos. Para a realização do presente estudo utilizou-se da pesquisa bibliográfica e exploratória, utilizando de materiais impressos, artigos, documentários, como de alguns disponíveis da internet. 12 2 HISTÓRIA DO PARTO NO BRASIL No final do século XIX, grande parte dos partos era atendida a domicílio, por parteiras. Para uma mulher, dar a luz fora do seu âmbito familiar era considerado atípico, alarmante e este fato acontecia apenas em situações de extrema emergência. O médico apenas era designado se a parteira não conseguisse fazer o nascimento, ou se houvesse algum problema em que o trabalho de parto tivesse complicações. Esses profissionais recebiam suas pacientes em casa ou ia até seus domicílios realizar o parto. Nathalie e Maria Luiza, desta forma explicam: Nessa época, o ambiente hospitalar não constituía um lugar seguro para a mulher dar à luz. Em São Paulo, apenas em 1894 foram instalados leitos obstétricos na Maternidade São Paulo, onde os partos normais eram realizados por parteiras, e os complicados, por médicos. 1 Para muitas mulheres a prática de ter filhos antigamente envolviam muitos cuidados, pois diferente da atualidade não havia formas de preparação para o parto, e um profissional da área da saúde que acompanhasse com exatidão o estado do neonato, e ocorriam muitos casos da morte da mãe, do filho, ou de ambos. Assim, a Equipe Hanami, conceitua a história do parto desta forma: Antigamente, os homens viviam conforme seus “instintos naturais”. A princípio, a mulher se isolava para parir, geralmente sem nenhuma assistência ou cuidado vindo de outras pessoas, apenas seguia o seu instinto. O parto era considerado um fenômeno natural e fisiológico. 2 No entanto, hoje se tem uma realidade diversa com o avanço dos estudos, e com o desenvolvimento de equipamentos capazes de detectar o tempo de gestação da parturiente, e até mesmo o estado clínico do feto. Assim, a seguir será explicado um breve histórico dos partos no Brasil e como são atualmente. 1 LEISTER, Nathalie; RIESCO, Maria Luiza Gonzalez. ASSISTÊNCIA AO PARTO: HISTÓRIA ORAL DE MULHERES QUE DERAM À LUZ NAS DÉCADAS DE 1940 A 1980. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n1/pt_20.pdf> Acesso em 26 de Março de 2018. p. 167. 2 HANAMI, Equipe. HISTÓRIA DO PARTO. Disponível em: <http://www.equipehanami.com.br/a- historia-do-parto/> Acesso em 26 de Março de 2018. 13 2.1 PARTO NORMAL Antigamente as mulheres tinham seus filhos concebidos em partos normais, feitos dentro de casa por outras mulheres que eram consideradas parteiras/aparadeiras, elas eram conhecidas pela sociedade como alguém experiente pelo fato de realizarem partos há muito tempo, e para elas, ter o reconhecimento perante o povo era a maior contribuição que poderiam receber. As parteiras no Brasil eram as principais atendentes ao parto até meados do século XX e como em outras partes do mundo, aqui também os médicos estavam empenhados em estabelecer sua hegemonia no campo da saúde e disputavam sua clientela nos domínios da parteira. 3 Mesmo sem ter qualquer entendimento científico, apenas experiência, e às mulheres em sua maioria eram mulatas ou brancas e portuguesas. As parteiras praticaram durante anos este ato e passaram de geração em geração seus conhecimentos, tendo a confiança das famílias em fazer o parto de muitas mulheres na época. Nesta concepção, Déborah.et.al explica: As parteiras eram mulheres com pouca formação escolar, de meia idade (a maioria com mais de 46 anos), analfabetas e a maioria eram casadas ou viúvas. Geralmente eram trabalhadoras rurais, pobres e de pouco recurso aquisitivo. Tinham um grande respeito e reconhecimento na comunidade, pois defendiam novas vidas e serviam de exemplo para comunidade, sendo identificadas como líderes. 4 Muitas parteiras faziam partos por amor, outras ganhavam alguns animais e frutas em troca, e outras ganhavam o que os donos tinham a oferecer. As gestantes confiavam nas parteiras porque estas lhes acompanhavam durante toda a gestação, para elas o parto era de suma importância, consideravam ser um dom divino o ato de trazer uma criança ao mundo, e sentiam-se prioritárias, pois a família tinha importância de receber primeiro à parteira para em seguida receber o médico. 3 HANAMI, Equipe. A HISTÓRIA DO PARTO. Disponível em <http://www.equipehanami.com.br/a- historia-do-parto/> Acesso em 09 de Abril de 2018. 4 PIMENTA, Déborah Giovana. et al. O PARTO REALIZADO POR PARTEIRAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA. Disponível em: <http://scielo.isciii.es/pdf/eg/v12n30/pt_enfermeria2.pdf> Acesso em 26 de março de 2018. p. 502. 14 2.2 PARTO CESÁREA A partir das primeiras décadas do século XX, houve uma passagem dos partos feitos em casa (domésticos), para partos em hospitais, aonde houve mudanças drásticas nos hábitos das gestantes. As mulheres começaram a frequentar semanalmente ou mensalmente escritórios de obstetras e pediatras, a procura produtos de higiene e alimentação infantil aumentou, e as gestantes passaram a ingerir cada vez mais medicamentos. Nathalie e Maria Luiza descrevem como foram os aumentos gradativamente nos serviços prestados as gestantes: Foram sendo ampliados a oferta e o acesso aos serviços públicos de saúde materno-infantil com maior participação de instituições filantrópicas, paraestatais, patronais e de trabalhadores. Em São Paulo, o crescimento dos partos hospitalares foi de 5% para 29,5%, enquanto que os nascimentos em domicílio sofreram uma queda de 25% em 15 anos (1930- 1945). 5 Na entrada da década de 70, houve um aumento de maneira radical em partos dentro de hospitais, um aumento especificadamente de 22% para 76%, e ainda o aumento de mulheres optando por cesárea, pois os médicos recebiam mais para isso, do que para fazer parto vaginal. Já na década de 80, para poder diminuir o índice de procura pelo parto de cesárea, todas as formas de partos alcançaram o mesmo valor de recebimento. Nathelie e Maria Luiza6 (p. 167) descrevem o aumento significativo das cesáreas: “Porém, essa taxa continuou subindo e, em 1992, 40,5% dos partos no Estado atendidos na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) correspondiam a cesarianas”. O número de cesarianas caiu pela primeira vez no Brasil no ano de 2016, conforme se observa na tabela abaixo que faz uma breve análise do aumento significativo de partos cesáreas e da queda de partos normais com nascimento do bebê com vida. Segundo a Agência do Brasil, relata: Os números mostram ainda que, considerando apenas partos realizados no Sistema Único de Saúde (SUS), o percentual de partos normais permanece maior – 59,8% contra 40,2% de cesarianas. No ano passado, segundo a 5 LEISTER, Nathalie; RIESCO, Maria Luiza Gonzalez. ASSISTÊNCIA AO PARTO: HISTÓRIA ORAL DE MULHERES QUE DERAM À LUZ NAS DÉCADAS DE 1940 A 1980. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n1/pt_20.pdf> Acesso em 09 de Abril de 2018. p. 167. 6 Idem. LEISTER, Nathalie. p. 167.15 pasta, dados preliminares indicam tendência de estabilização do índice, que ficou em torno de 55,5%. 7 Abaixo, analisa-se uma estimativa do ano de 2000, até o ano de 2016 em relação à queda e aumento dos partos realizados no Brasil. INDÍCE DE CESARIANAS NO BRASIL ANO %- parto normal nasc. vivos %- parto cesárea nasc. vivos 2000 62,00% 39,00% 2004 59,00% 40,00% 2008 52,00% 48,00% 2012 44,00% 56,00% 2016 44,50% 55,50% Fonte: Agência do Brasil 8 A tabela mostra que no ano de 2000 o número de partos normais era de 62,00%, e os partos por cesáreas eram de 39,00%. E no ano de 2016, os índices de partos normais decaíram para 44,50% e as cesáreas aumentaram para 55,50%, ou seja, em 16 anos os partos normais diminuíram em 17,50%, e os partos por cesárea aumentaram 16,50%, isso com a estimativa da queda pela primeira vez em 2016. O Brasil possui elevados índices de morbimortalidade materna e neonatal, sendo as principais causas consideradas como evitáveis e passíveis de serem reduzidas, como a hipertensão, hemorragia, complicações do aborto e atendimento inadequado à gestante e ao recém-nascido. Vale destacar que a adoção significativa de parto cesárea, mesmo em situações dispensáveis, contribui para o aumento da mortalidade neonatal, pois requer um cuidado maior, a fim de evitar futuras complicações e infecções. Conforme a pesquisa Nascer do Sol, coordenada pela Fundação Osvaldo Cruz – Fiocruz, 88% (oitenta e oito 8 ANAIS do VIII Encontro de Pesquisa e Extensão da Faculdade Luciano Feijão. Sobral-CE, novembro de 2015. ISSN 2318.4329 por cento) das mulheres na rede privada, 46% (quarenta e seis por cento) na rede pública e média nacional de 52% (cinquenta por cento), adotam este tipo de procedimento cirúrgico, frente a uma recomendação de apenas 15% (quinze por cento) da OMS. 9 7 BRASIL, Agência. NÚMERO DE CESARIANAS CAI PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-03/numero-de-cesarianas-cai- pela-primeira-vez-no-brasil> Acesso em: 26 de Março de 2018. 8 Idem. BRASIL, Agência. 9 FERNANDES. et al. DIREITOS HUMANOS DA GESTANTE X VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E A RESPONSABILIDADE PELO ERRO MÉDICO. Disponível em: <http://flucianofeijao.com.br/novo/wp- content/uploads/2016/11/DIREITOS_HUMANOS_DA_GESTANTE_X_VIOLENCIA_OBSTETRICA_E_ A_RESPONSABILIDADE_PELO_ERRO_MEDICO.pdf> Acesso em: 15 de Maio de 2018. 2015. p. 7- 8. 16 As mulheres optam atualmente pela cesárea ao invés do parto normal, tanto pelo fato de poder marcar a data do nascimento, como de evitar sofrimento desnecessário. Mesmo que o parto normal seja mais prático, com menos tempo de recuperação, e recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) a cesárea tem disparado nos altos índices de escolha pelas brasileiras. 17 3 A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA A violência obstétrica é toda aquela ação praticada por um profissional de saúde que tira da mulher no momento do parto a sua autonomia sob seu corpo. Ela pode ser por informações inadequadas, ou por procedimentos desnecessários. O instituto parto do princípio explana sobre as intervenções com finalidade didáticas, onde a gestante é privada de seus direitos de saber sobre os procedimentos que serão praticados na hora do parto, muitas vezes sofrendo por toques invasivos de estranhos, passar pelas mãos de profissionais em muitos momentos que não sabe nem o nome do mesmo, de suas qualificações e até mesmo informações sobre o progresso da gestação. Submeter uma mulher a procedimentos desnecessários, dolorosos, com exposição a mais riscos e complicações, com a única e exclusiva finalidade de antecipar o exercício da prática desse procedimento em detrimento do aprendizado do respeito à integridade física das pacientes, bem como seu direito inviolável à intimidade é considerado, no contexto dos direitos reprodutivos, violência obstétrica de caráter institucional, físico e, não raro, sexual. 10 Essa violência é uma violação de direitos humanos porque ela infringe os direitos da mulher naquele momento que ela deveria estar protegida, e que ela está vulnerável e não tem quem fale por ela. O Brasil em si não tem uma legislação específica sobre a violência obstétrica, apenas constituem algumas leis estaduais e municipais, e projetos-leis que não foram aprovados até então, mas que servem de base para eventuais discussões e estudos sobre o tema abordado. O Estado de Santa Catarina no ano de 2017 implantou a lei 17.097/1711, que dispõe sobre medidas de informação e proteção a parturiente em relação à violência obstétrica no referido estado. Esta lei tem por base a inclusão de 09 (nove) artigos que deixam explícito a proteção as gestantes no pré, durante e pós-parto. Uma publicação desenvolvida pelo Fórum de Mulheres do Espírito Santo com o objetivo de levar conhecimento às mulheres de todo o país sobre seus direitos na 10 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 30 de Abril de 2018. 2012. p. 93. 11 CATARINA, Estado de Santa. LEI Nº 17.097, DE 17 DE JANEIRO DE 2017. Disponível em: <http://leis.alesc.sc.gov.br/html/2017/17097_2017_lei.html> Acesso em: 24 de Abril de 2018. 18 hora do parto, mostrou os casos mais corriqueiros de violência obstétrica nos hospitais (públicos e privados), e assim, divulgando informações para que muitas mulheres estejam preparadas para enfrentar o atendimento obstétrico. Nessa acepção, Kondo define: As formas mais comuns de violência obstétrica são: humilhar, xingar, coagir, constranger, ofender a mulher e sua família; fazer piadas ou comentários desrespeitosos sobre seu corpo, sua raça ou sobre sua situação socioeconômica; realizar procedimentos sem esclarecimentos ou desconsiderar a recusa informada; utilizar inadequadamente procedimentos para acelerar partos; prestar assistência sem ressaltar as melhores evidências científicas disponíveis da segurança e/ou da efetividade das intervenções; submeter à mulher a jejum, nudez, raspagem de pelos, lavagem intestinal durante o trabalho de parto; não oferecer condições para a amamentação e para o contato do bebê sadio com a mãe; violar direitos da mulher garantidos por lei; descumprir normativas e legislação vigente; e coagir mulheres a contratarem serviços e planos (como fotografia e filmagem ou plano do tipo “apartamento”) como única forma de garantir direitos já garantidos por lei às mulheres. 12 A violência obstétrica, conforme a Defensoria Pública de São Paulo13 “é aquela violência que é caracterizada por situações desnecessárias que mulheres enfrentam durante parto, até mesmo na gestação e no pós-parto.” A expressão “violência obstétrica” teve sua primeira aparição no meio acadêmico pelo Dr. Rogério Pérez D’Gregorio14, presidente da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia da Venezuela. Segundo Andrade: Entende-se por violência obstétrica qualquer ato exercido por profissionais da saúde no que concerne ao corpo e aos processos reprodutivos das mulheres exprimidos através de uma atenção desumanizada, abuso de ações intervencionistas, medicalização e a transformação patológica dos processos de parturição fisiológicos. 15 Dessa forma, o defloramento de determinadas ações, por determinados profissionais de saúde durante o tratamento da mulher em momentos reprodutivos, 12 KONDO, Cristiane Yukiko. Violência Obstétrica é ViolênciaContra a Mulher. Disponível em: <http://www.sentidosdonascer.org/wordpress/wp-content/themes/sentidos-do- nascer/assets/pdf/controversias/Violencia-obstetrica-e-violencia-contra-a-mulher.pdf> Acesso em 09 de Nov. de 2017. 2014, p. 20. 13 BRASIL. Defensoria Pública de São Paulo. Defensoria Pública orienta mulheres sobre violência obstétrica. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e- justica/2014/03/defensoria-publica-orienta-mulheres-sobre-violencia-obstetrica> Acesso em 10 Nov. 2017. 14 GREGORI, M.F. Deslocamentos Semânticos e Hibridismos: sobre os usos da noção de violência contra mulher. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 48, 2004, pp. 246- 259. 15 ANDRADE, Briena Padilha. Violência obstétrica: a dor que cala. Anais do III Simpósio Gênero e Políticas Públicas, 27 a 29 de maio, Florianópolis, 2014. p.1. 19 pode ser caracterizado como violência obstétrica. Neste sentido a Organização Mundial de Saúde fez uma declaração para retratar como são os casos mais comuns dessa violência, e qual a classe de mulheres que mais sofrem com esses abusos nos hospitais. OMS expõe: Relatos sobre desrespeito e abusos durante o parto em instituições de saúde incluem violência física, humilhação profunda e abusos verbais, procedimentos médicos coercivos ou não consentidos (incluindo a esterilização), falta de confidencialidade, não obtenção de consentimento esclarecido antes da realização de procedimentos, recusa em administrar analgésicos, graves violações da privacidade, recusa de internação nas instituições de saúde, cuidado negligente durante o parto levando a complicações evitáveis e situações ameaçadoras da vida, e detenção de mulheres e seus recém-nascidos nas instituições, após o parto, por incapacidade de pagamento. Entre outras, as adolescentes, mulheres solteiras, mulheres de baixo nível socioeconômico, de minorias étnicas, migrantes e as que vivem com HIV são particularmente propensas a experimentar abusos, desrespeito e maus-tratos. 16 No Brasil o conhecimento da população desta modalidade de violência teve por origem as redes sociais. Porém, a população continua tendo um gravíssimo desconhecimento das consequências de um parto desumano, levando muitas mulheres a passarem por procedimentos de humilhação e abusos num momento que ela deveria sentir-se amparada e protegida, na ocasião em que os cuidados médicos oferecidos pelos profissionais deveriam colocar a mulher em posição de protagonista e que as intervenções médicas não devem ter o papel predominante. Nisto, Andrade argumenta: O parto é um momento único e inesquecível na vida da mulher, quando o cuidado despendido pelos profissionais deveria ser singular e pautado no protagonismo da mulher, tornando-o mais natural e humano possível. Distintamente de outros acontecimentos que necessitam de cuidados hospitalares, o processo de parturição é fisiológico, normal, necessitando, na maioria das vezes, apenas de apoio, acolhimento, atenção humanização 17 . O deputado Jean Wyllys (PSOL- RJ) no ano de 2014 lançou um projeto Lei nº 7633/14, que decreta diretriz e princípios inerentes aos direitos da gestante no pré- 16 Organização Mundial de Saúde. Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus- tratos durante o parto em instituições de saúde. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/134588/3/WHO_RHR_14.23_por.pdf> Acesso em 10 Nov. 2017. (2014, p. 1) 17 ANDRADE, Briena Padilha. Violência obstétrica: a dor que cala. Anais do III Simpósio Gênero e Políticas Públicas, 27 a 29 de maio, Florianópolis, 2014. p.3. 20 parto, durante, após e ao puerpério. E em seu artigo 13, desta lei ele especifica do que se trata a Violência Obstétrica: Caracteriza-se a violência obstétrica como a apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres pelos (as) profissionais de saúde, através do tratamento desumanizado, abuso da medicalização e patologização dos processos naturais, que cause a perda da autonomia e capacidade das mulheres de decidir livremente sobre seus corpos e sua sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres. 18 Gregori19 avaliou a existência de uma problemática na expressão “violência obstétrica”, que com as mudanças de caráter semântico do termo violência para termos jurídicos e o desaparecimento das diferenças de gênero em algumas situações, colocou-se a família como um lugar privilegiado na solução dos conflitos. Dessa maneira, a melhor forma para abordar o tema é enxergar pelo viés da tipificação de um crime. De acordo com Pulhez: A melhor forma é apresentar certo vocabulário de modo à por em disputa direitos reprodutivos e sexuais no campo das políticas de saúde pública e como a linguagem dos direitos humanos é operada para expressar demandas que se põem em conflito com um discurso médico-científico. 20 Neste entendimento, observa-se que o campo da violência obstétrica é amplo e as intervenções na mulher durante o período do parto é muito comum. É preciso, no entanto, observar as determinadas práticas constantes que tem como entendimento a violência obstétrica. 3.1 PRÁTICAS CONSIDERADAS VIOLENTAS Ao tratar-se da violência obstétrica um conjunto grande de práticas que são nocivas para a mulher acaba aprimorando-se, entre elas temos as violências institucionais, violências verbais dos profissionais de saúde, procedimentos desnecessários e despreparo profissional. 18 NACIONAL, Congresso. O projeto de Lei nº 7633/14. Disponível em <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1257785> Acesso em: 20 de Março de 2018. 19 GREGORI, M.F. Deslocamentos Semânticos e Hibridismos: sobre os usos da noção de violência contra mulher. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 48, 2004, pp. 246- 259. 20 PULHEZ, Mariana Marques. A “violência obstétrica” e as disputas em torno dos direitos sexuais e reprodutivos. Seminário Internacional Fazendo Gênero, n. 10, Florianópolis, 2013. p. 2. 21 Ciello21, em relação às violências institucionais, afirma: “o que se considera violência institucional compreende a atuação do profissional de saúde dentro da instituição de atendimento, atrelando, de certa maneira, sua atuação às condições físicas, organizacionais e de recursos da mesma”. Diante disto, no mesmo sentido Ciello, acrescenta: Caráter institucional: ações ou formas de organização que dificultem, retardem ou impeçam o acesso da mulher aos seus direitos constituídos, sejam estas ações ou serviços, de natureza pública ou privada. Exemplos: impedimento do acesso aos serviços de atendimento à saúde, impedimento à amamentação, omissão ou violação dos direitos da mulher durante seu período de gestação, parto e puerpério, falta de fiscalização das agências reguladoras e demais órgãos competentes, protocolos institucionais que impeçam ou contrariem as normas vigentes. 22 Dispõe desta forma Silva23 que ocorre a violência verbal através de várias expressões ofensivas à mulher direta ou indiretamente, tais como: “Na hora de fazer não gritou! Quem entrou agora vai ter que sair! É melhor seu marido não assistir o parto, senão ele ficará com nojo de você!”. Muitas dessas expressões além de causar mais nervosismo e estresse à gestante, também é um desrespeito à mulher na ocasião de parto, aponta ainda a violência institucional, que é a supressão de direitos, como proibir o pai de entrar na sala de parto. Como em muitos casos prevalecem os interesses médicos por motivos financeiros, e interesses dos médicos namaioria dos casos em questão de realizarem cesárea, ao invés de parto normal. Com relação a isso, Silva24 elencou algumas expressões médicas que apontam para esse tipo de violência obstétrica: Agendando a cesárea você pode escolher o dia e a hora do seu parto meu bem! É melhor fazermos cesariana. Pois o parto normal esgarça a vagina e assim você pode preservar suas relações sexuais e dar mais prazer ao seu marido! Vamos fazer cesárea, pois o mundo evoluiu e você não precisa parir feito um animal com desconforto e muita dor. Com a cesárea você não terá nenhum desconforto! 25 21 CIELLO, Cariny. Violência obstétrica – “parirás com dor”. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf>. Acesso 28 Out. 2017. 2012. p. 51. 22 Idem, CIELLO, Cariny. 2012. p. 61. 23 SILVA, Michelle Gonçalves. et al. Violência obstétrica na visão de enfermeiras obstetras. Revista Rene. N. 15 (4): 820-8. jul-ago, 2014. 24 Idem. SILVA, Michelle Gonçalves. et al. 820-8. jul-ago, 2014. 25 Idem. SILVA, Michelle Gonçalves. et al. 823. jul-ago, 2014.. 22 As expressões ofensivas na violência obstétrica podem ser tanto por parte de enfermeiros e médicos obstetras, como também as instituições hospitalares podem agir desta maneira. Silva ressalva por sua maneira que: A parturição pode ser percebida pela mulher como angustiante, uma vez que, a partir do momento em que é internada na maternidade, ela passa a não ter controle da situação, tudo se torna imprevisível e não familiar. A mulher solicita a compreensão dos profissionais de saúde que estão ao seu redor, em geral a sua aproximação é com o enfermeiro. 26 Enquadra-se ainda como violência obstétrica, aqueles procedimentos que são desnecessários no momento cirúrgico. Destacam-se assim três procedimentos mais corriqueiros: 1) episiotomia (que é um corte na vulva e na vagina feito com um bisturi) e “ponto do marido” (ponto que se dá após a episiotomia); 2) Manobra de Kristeller (pressão feita na parte superior da barriga para “facilitar” a saída do feto); 3) Proibir acompanhante (impedir a presença de uma pessoa indicada pela mulher grávida). 3.1.1 EPISIOTOMIA E PONTO DE MARIDO Historicamente, a episiotomia foi introduzida no século XVIII, pelo obstetra irlandês Sir Fielding Ould (1742), com o intuito de ajudar a retirar o feto em partos difíceis. E no ano de 1847: “Dubois sugeriu a realização de uma incisão oblíqua no períneo, modernamente conhecida como episiotomia médio-lateral”. 27 A Episiotomia é o corte no períneo (corte entre a vagina e o ânus) para que assim se amplie a saída do feto. Ela é uma cirurgia realizada corriqueiramente nos hospitais, e na maioria das vezes sem o consentimento da paciente. De acordo com Kondo afirma: No Brasil, ela é realizada de rotina na maioria dos partos vaginais. Apesar de a episiotomia ser um procedimento cirúrgico, na maioria das vezes a mulher não recebe esclarecimentos e ninguém solicita seu consentimento. Algumas mulheres relatam que não receberam anestesia para o corte e 26 SILVA, Michelle Gonçalves. et al. Violência obstétrica na visão de enfermeiras obstetras. Revista Rene. N. 15 (4): 823. jul-ago, 2014. 27 AMORIM, Melania Maria Ramos de; KATZ, Leila. O papel da episiotomia na obstetrícia moderna. Disponível em: <http://institutonascer.com.br/wp-content/uploads/2014/03/episio_femina.pdf> Acesso em: 01/05/2018. 2008. p. 48. 23 também que a anestesia falhou quando foi realizada a sutura (pontos). Algumas contam que sentiram do primeiro ao último ponto. 28 Acontece que este procedimento pode prejudicar a gestante em muitos aspectos, pode ser em sua vida sexual, ou em alguns casos em que o médico erra o corte e deixa uma cicatriz permanente no corpo da mulher. Quando ocorre algum tipo de trauma no períneo pode ser classificado em quatro graus, segundo o instituto parto sem dor: primeiro grau: compreende lesões superficiais, que atingem pele e tecido subcutâneo do períneo ou o epitélio vaginal. Também são consideradas de primeiro grau as lacerações superficiais múltiplas nessas regiões; segundo grau: lesões mais profundas que as de primeiro grau, que atingem músculos superficiais do períneo e o corpo perineal; terceiro grau: as lesões de terceiro grau mostram-se mais severas, por envolverem músculos perineais e esfíncteres anais, e subdividem-se em: 3a: menos de 50% do esfíncter anal externo afetado; 3b: mais de 50% do esfíncter anal externo afetado; 3c: inclui lesões no esfíncter anal interno; quarto grau: além de atingir os tecidos que compreendem o trauma de terceiro grau, o de quarto grau inclui o rompimento do esfíncter anal (externo ou interno ou ambos) e do epitélio anorretal. 29 A episiotomia caracteriza pelo menos um trauma na lesão de segundo grau, porém os médicos ignoram o fato e continuam realizando este procedimento nas gestantes. Ao longo dos anos à mulher teve parto normal sem houver a necessidade de nenhuma espécie de corte, ou seja, sempre que respeitado o seu ritmo natural e suas contrações para a saída do bebê, sem qualquer tipo de lesão. Deste modo, Fernandes30 explana: “A OMS recomenda que o uso dessa prática não ultrapasse 10% dos partos naturais, no entanto, no Brasil, 53,5% das mulheres que tem o bebê pela via vaginal são submetidas a esta prática;”, ou seja, apesar da recomendação, muitos hospitais “optam” pelo corte por ser mais prático e “facilitar “ a saída do feto. O instituto parto do princípio informa em seu dossiê que a episiotomia (ou corte no períneo) “apesar de parecer uma manobra prática, rápida e que vai aliviar 28 KONDO, Cristiane Yukiko Kondo. Episiotomia. Disponível em: <http://www.sentidosdonascer.org/wordpress/wp-content/themes/sentidos-do- nascer/assets/pdf/controversias/Episiotomia.pdf> Acesso em 26 de Março de 2018. p. 2. 29 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 01 de Maio de 2018. 2012. p. 81-82. 30 FERNANDES. et al. DIREITOS HUMANOS DA GESTANTE X VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E A RESPONSABILIDADE PELO ERRO MÉDICO. Disponível em: <http://flucianofeijao.com.br/novo/wp- content/uploads/2016/11/DIREITOS_HUMANOS_DA_GESTANTE_X_VIOLENCIA_OBSTETRICA_E_ A_RESPONSABILIDADE_PELO_ERRO_MEDICO.pdf> Acesso em: 15 de Maio de 2018. 2015. p. 5. 24 as contrações, na verdade ela pode acarretar consequências para a gestante e ao bebê. E por conta disso esta manobra foi banida de muitos países.” 31 Em 2012, a cantora de ópera Amy Herbst perdeu seu emprego por conta da episiotomia, pois além do corte ter sido feito sem seu consentimento, ele não cicatrizou, deixando sua vagina ligada ao reto. Sua entrevista a revista Galileu, explica: Por causa desse procedimento de necessidade duvidosa, agora a cantora não consegue mais exercer sua profissão - ao cantar, não tem controle sobre seus movimentos intestinais, o que faz com que ela solte flatulências e, possivelmente, defeque sem querer. 32 Ao longo dos anos o Ministério da Saúde lança diretrizes para diminuir os riscos de violência obstétrica no Brasil, dentre elas algumas que barram o uso inadequado da Episiotomia. Em seu projeto lei nº 7633/14, Jean Wyllys (PSOL-RJ), regulamenta em seu artigo 14, que considera as ofensas verbais e físicas, dentre outras condutas em relação a gestante. E em seu inciso XIII, cita: XIII – Realizar a episiotomia quando esta nãofor considerada clinicamente necessária, enfatizando-se, para efeitos desta Lei, que tal procedimento é vedado se realizado para aceleração do período expulsivo por conveniência do profissional que presta assistência ao parto, ou de proteção prévia do períneo para evitar lacerações, não sendo tais justificativas clínico- obstétricas aceitas; 33 E deste modo cita em seu inciso XIV: “XIV – Realizar episiotomia, quando considerada clinicamente necessária, sem esclarecer a mulher sobre a necessidade do procedimento e receber seu consentimento verbal;”34, ou seja, o médico não pode determinar que fosse feito o corte sem o consentimento da gestante, e que tome ciência de todo o procedimento que deve ser realizado (como da anestesia), e usar a episiotomia se for realmente necessária, e não como primeira opção para simplesmente “facilitar” o parto. 31 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 01 de Maio de 2018. 2012. p. 81-82. 32 GALILEU, Revista. EPISIOTOMIA FAZ CANTORA PERDER O EMPREGO. Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2014/01/episiotomia-faz-cantora-perder-o- emprego.html> Acesso em: 24 de Março de 2018. 33 NACIONAL, Congresso. O projeto de Lei nº 7633/14. Disponível em <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1257785> Acesso em: 20 de Março de 2018. 34 Idem. NACIONAL, Congresso. 25 No ano de 2003 surgiu à campanha “Abolição da Episiotomia de Rotina no Estado de São Paulo” 35, mostra como o eco da cultura da década 20 tomou proporção nos dias atuais em razão de muitas mulheres optarem pela episiotomia por medo de ficarem “largas”, ou até de não dar prazer ao parceiro. Conforme Diniz explica em relação à campanha: “No Brasil, a episiotomia e seu "ponto do marido", assim como a cesárea e sua "prevenção do parto", funcionam, no imaginário de profissionais, parturientes e seus parceiros, como promotores de uma vagina "corrigida". Se as mulheres acham que vão ficar com problemas sexuais e vagina flácida após um parto vaginal, e que a episiotomia é a solução, elas tendem a querer uma episiotomia.” 36 O ponto do marido é caracterizado como desnecessário e sem o consentimento da paciente é causa de violência obstétrica. Esse procedimento tem a intenção de preservar o prazer do marido e o médico acaba “costurando” um pouco mais a vagina da mulher. Esta prática é considerada invasiva. Um relato coletado pelo instituto parto do princípio demonstra o despreparo dos profissionais da saúde em relação ao ponto do marido, conforme exposto abaixo: Num determinado momento da sutura, ele disse que ia dar dois pontos que iam doer um pouco mais, depois comentou que era o “ponto do marido”. Perguntei a ele o que era isso e ele disse que era um ponto que era dado para que “as coisas voltassem a ser parecidas com o que era antes” e que, se eles não fizessem isso, depois o marido voltava para reclamar. Como a referência ao marido é uma constante, perguntamos se eles já viram um marido reclamar, ao que responderam que não, uma vez que esse ponto era sempre feito. 37 O relato de Milena ao jornal Estadão mostra o quanto este ponto juntamente com a episiotomia deixa a mulher mais frágil tanto em relação à prática sexual, quanto à vida cotidiana com o uso da força para afazeres domésticos. Desta forma, mostra neste comentário: 35 DINIZ, Simone. Campanha pela Abolição da Episiotomia de Rotina. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 04 de Junho de 2018. 2012. p. 90. 36 Idem. DINIZ, Simone. 2012. p. 90. 37 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 04 de Junho de 2018. 2012. 2012. p. 86. 26 O corte no períneo e o “ponto a mais” impediram Milena e o marido de voltarem a ter relações sexuais satisfatórias. “Todas as vezes que transava era com muita dor. Isso durou mais de um ano e eu passei a não me interessar mais por sexo”, conta. O marido começou a sentir ciúmes, começou a duvidar da fidelidade dela. Três anos depois, o casal se separou. 38 E desta maneira concluiu: No pós-parto Camila não conseguia se sentar para amamentar a filha ou ficar de pé para dar banho no bebê. As relações sexuais só foram possíveis oito meses após o parto e até hoje, quase três anos depois do nascimento de Isabella, ainda são muito doloridas. Camila procurou ajuda e ouviu da ginecologista que precisa de uma cirurgia plástica no períneo, mas não tem condições de pagar pelo procedimento. “Eu me sinto humilhada porque fui mutilada sem necessidade alguma. Meu parto foi rápido”, lembra. O casamento está estremecido. “Minha libido diminuiu e eu não tenho vontade de fazer sexo. Ter relações sexuais com dor não é fácil. 39 Esses procedimentos já declarados falhos, cruéis e sem necessidade atrapalham a vida e o desempenho de mulheres há anos que idealizam o parto normal, um parto sem dor e sem sofrimento, e saem da sala de cirurgia com maus procedimentos e cicatrizes eternas, e a estimativa é grande de muitas que desconhecem que a episiotomia e o ponto do marido como uma violência obstétrica, quando feito sem o seu consentimento. 3.1.2 MANOBRA DE KRISTELLER Essa manobra foi criada por um medico alemão chamado Samuel Kristeller em 1867, dessa época até os dias atuais esta técnica foi banida da maior parte dos países desenvolvidos por conta das consequências negativas que ela pode acarretar para o parto. No Brasil, esta manobra costuma ser muito utilizada nos partos normais. Manobra tal que é feita normalmente pela equipe que acompanha o parto (médico, enfermeiro), e consiste na pressão que é feita na parte superior da barriga da gestante (chamado também como fundo uterino), com a intensão de empurrar o bebê para baixo, para facilitar a saída dele. 38 LISAUSKAS, Rita. “Não me corta!”. Disponível em: <http://emais.estadao.com.br/blogs/ser- mae/nao-me-corta-mulheres-imploram-mas-mesmo-assim-sao-mutiladas-durante-parto-normal/> Acesso em: 23 de Março de 2018. 39 Idem. LISAUSKAS, Rita. 27 Desta forma, a manobra de Kristeller só deve ser utilizada como um último recurso quando o trabalho de parto natural está sendo muito difícil, de forma a diminuir a necessidade de fazer uma cesárea. Assim, antes de fazer esta manobra é recomendado experimentar outras técnicas como mudar a posição da grávida, encorajar a grávida a fazer força ou estimular o exercício físico durante o trabalho de parto, como andar pelo quarto, por exemplo. 40 Tais consequências para a gestante são: Lacerações na região íntima (quando empurra à barriga da gestante, a cabeça do bebê faz uma pressão maior na vagina da mulher, e isso pode aumentar os riscos de ela rasgar, que seria a laceração). Ruptura ou inversão do útero (rompimento do útero- pode ocorrer um descolamento de placenta, rompimento dos órgãos internos, e que pode acarretar uma hemorragia interna, pode ocorrer um prolapso urogenital, ou seja, com a pressão que é feita para empurrar o bebê para baixo a uretra, o ovário são empurrados também e isso pode pressionar as paredes da vagina e do ânus para fora). Fratura nas costelas da gestante (por conta da manobrada força utilizada para empurrar o bebê). Embolia Amniótica (ocorre quando o liquido amniótico que envolve o feto dentro do útero, entra na corrente sanguínea da gestante e causa uma reação grave nela. Essa reação pode causar danos severos aos pulmões, coração e ate mesmo um sangramento demasiado). Outros danos à gestante também contam com a falta de ar e até desmaios durante a realização da manobra de Kristeller. As consequências ao bebê podem ocasionar como o traumatismo craniano, fratura de ossos no crânio, fratura da clavícula, diminuição da oxigenação no cérebro, ferimento na coluna vertebral e ter lesões nos órgãos internos também. O relato divulgado pelo instituto parto do princípio mostra como muitas gestantes não são consultadas acerca dos procedimentos tomados na hora do parto. O médico fez manobra de Kristeller, empurrando minha barriga para baixo. Me fizeram episiotomia sem ao menos perguntar se eu permitia ou me explicar o motivo do procedimento. Eu me senti extremamente mal e vulnerável por não ter entendido nada do que aconteceu comigo. Minha filha nasceu mal e ficou internada por uma semana. Nunca soube o motivo. Ninguém nunca me explicou nada sobre o parto e sobre o porquê da minha filha ficar internada. Eu nunca mais quis ter filhos. 41 40 SAÚDE, Tua. Entenda os riscos da manobra de Kristeller durante o parto. Disponível em: <https://www.tuasaude.com/manobra-de-kristeller/> Acesso em: 09/03/2018. 41 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 04 de Junho de 2018. 2012. 2012. p. 105-106. 28 C.M. atendida na rede pública em Belo Horizonte/MG Apesar de muitos profissionais da área da saúde considerar essa prática corriqueira como “eficaz e segura”, o Ministério da saúde contraindica esta manobra por se tratar de um procedimento que põe em risco a saúde da gestante e do bebê, ocasionando em muitas situações até processos contra profissionais que utilizaram desta técnica. A contraindicação da manobra é considerada um dos grandes avanços do documento. Ela é considerada como uma violência obstétrica. “Há inúmeros relatos de casos de mulheres que ficam contundidas, com hemorragias e outros graves problemas em decorrência dessa prática, que já foi desaconselhada pela Organização Mundial da Saúde”, afirma a advogada Priscila Cavalcanti de Albuquerque Carvalho, especialista em direito sexuais e reprodutivos da mulher. 42 Esta manobra não é proibida, mas é contraindicada pelo Ministério da saúde, e sendo que esta manobra seja necessária para o parto deve ser usada com cautela para não trazer riscos à mãe e ao feto, tanto que o Código de Ética dos Profissionais de enfermagem estabelece em sua Resolução COFEN nº 311 de 12 de maio de 200743 que estabelece seus direitos, suas responsabilidades e seus deveres como profissional atuante na área de enfermagem, que deverá zelar pela vida e saúde do paciente, como consta em seu artigo 12: “assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência.”. 3.1.3 LEI DO ACOMPANHANTE – 11.108/05 O instituto parto do princípio44 lançou um dossiê acerca da violência obstétrica com o tema “parirás com dor”, onde trás a importância do acompanhante desde o ano de 1985 (ano que a OMS – Organização Mundial de Saúde começou a 42 ENFERMAGEM, Conselho Federal de. Ministério da Saúde lança diretrizes contra manobras agressivas em partos. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/ministerio-da-saude-lanca- diretrizes-contra-manobras-agressivas-em-partos_49669.html> Acesso em 09/03/2018. 43 ENFERMAGEM, Conselho Federal de. Resolução COFEN nº 311 de 12 de maio de 2007. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_311_anexo.pdf> Acesso em: 16 de Abril de 2018. 44 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 01 de Junho de 2018. 2012. p. 64. 29 recomendar que a parturiente tenha direito a um acompanhante), nisso destaca os benefícios: Dos benefícios proporcionados apenas pela presença de um acompanhante: diminuição do tempo de trabalho de parto, sentimento de confiança, controle e comunicação, menor necessidade de medicação ou analgesia, menor necessidade de parto operatório ou instrumental, menores taxas de dor, pânico e exaustão, menores escores de Apgar abaixo de 7, aumento dos índices de amamentação, melhor formação de vínculos mãe- bebê, maior satisfação da mulher, menos relatos de cansaço durante e após o parto. 45 Diante dos benefícios apresentados, fica o questionamento de inúmeras vezes os hospitais ainda barrarem a entrada do acompanhante o que é uma prática muito comum ainda em nosso país, mesmo que atualmente exista uma lei que proteja este direito da parturiente de ter 01 (uma) pessoa em seu pré, durante e pós- parto. A lei de acompanhamento à gestante nº 11.108/0546 entrou em vigor no ano de 2005 após ela alterar a lei nº 8.080/9047, tal lei que em seu artigo 19-J garantia a parturiente à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós- parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Com a alteração da nova lei, ela dispõe a obrigação do Sistema Único de Saúde (SUS), de rede própria ou conveniada, a permitir a presença, junto à parturiente, de 01 (um) acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. Essa lei é chamada de “lei do parto humanizado”, que da o direito da gestante ter a livre escolha de contar com um acompanhante durante o parto, tanto em hospital público quanto em hospital privado. A lei 8.080/90 trazia em seu texto inicial: Altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS. 48 45 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 01 de Junho de 2018. 2012. p. 64. 46 PLANALTO, Palácio do. LEI Nº 11.108, DE 07 DE ABRIL DE 2005. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11108.htm> Acesso em: 16 de Abril de 2018. 47 PLANALTO, Palácio do. LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm> Acesso em: 16 de Abril de 2018. 48 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 04 de Junho de 2018. 2012. p. 179. 30 Com a alteração da lei 11.108/05 ficou: Altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, em todo o território nacional em serviços de saúde executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado. 49 Desta forma, o site trocando fraldas explana os lugares do Brasil que validam esta lei:A lei do acompanhante é válida para todas as maternidades do território nacional, sejam elas particulares ou mesmo de serviço público. É muito importante lembrar que a grande maioria das parturientes, encontram dificuldades para ter um acompanhante na hora do parto, em maternidades públicas. Embora as maternidades particulares eventualmente também possam colocar obstáculos para a lei do acompanhante ser cumprida, a grande quantidade de reclamação ao descumprimento da lei, vem de hospitais do SUS. 50 De tal modo, vale ressaltar que a referida lei não prevê punição para quem venha a descumprir, o que acaba dificultando que ela seja aplicada. E assim os hospitais inventam diversas desculpas para barrarem a entrada de acompanhantes com as gestantes, desde ao falarem que a sala de parto é pequena demais, e que há uma limitação para os profissionais que vão atuar no parto, até em firmar que há regulamentos que proíbam a entrada ou quanto a infecções hospitalares. Um caso no Rio Grande do Sul repercutiu quando um pai teve seu direito de acompanhar negado, perdendo o nascimento da filha, e assim expõe o consultório jurídico: A Lei do Parto Humanizado (11.108/2005) diz que a futura mãe tem o direito de contar com um acompanhante, de sua livre escolha, durante o parto, seja em hospital público ou privado, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Portanto, o pai da criança, principalmente, não pode ser impedido de acompanhar o nascimento sem uma justificativa plausível. Caso contrário, deve ser indenizado, conforme o artigo 186 do Código Civil, por ter a sua dignidade ferida. 51 49 PARTO DO PRINCÍPIO. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 04 de Junho de 2018. 2012. p. 179. 50 FRALDAS, Trocando. Lei do acompanhante – O pai no parto. Disponível em: <www.trocandofraldas.com.br/lei-do-acompanhante/> Acesso em: 17 de Abril de 2018. 51 MARTINS, Jomar. PAI IMPEDIDO DE ACOMPANHAR PARTO DE FILHA SERÁ INDENIZADO EM R$ 10 MIL. Disponível em: <www.conjur.com.br/2017-dez-09/pai-impedido-ver-parto-filha- indenizado-10-mil> Acesso em: 17 de Abril de 2018. 31 E teve por mérito: O fundamento levou a 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a reformar sentença que negou indenização por danos morais a um pai que não foi chamado à sala de parto para ficar perto de sua companheira e assistir ao parto da filha em um hospital público. O autor receberá R$ 10 mil de reparação. 52 Negar este atendimento é privar a família de carregar um parto saudável, privar um momento único e especial. Tal violência obstétrica que tira o direito da gestante de ter ao seu lado alguém para diminuir sua ansiedade e tensão, transformando a sala de parto em uma história de terror e como consequência problemas psicológicos que acarretam danos na vida dos pais e dos filhos. No ano de 2016, uma notícia do jornal globo mostrou que um hospital em São Paulo havia descumprindo há alguns anos o direito que a lei dá a gestante de ter um acompanhante, indiferente de seu sexo. Em nota a gestante informou: Por ser do sexo masculino, o hospital não permitiu que ele ficasse durante a noite, então fiquei sem ninguém. A minha sorte foi a acompanhante da paciente ao lado da minha cama, que me auxiliou toda vez que eu precisava pegar a neném ou descer para ir ao banheiro, ela me ajudou. 53 Por fim explanou: Ele foi barrado, aí apresentou a carta dizendo que tinha sido autorizado, mas falaram que o papel não valia, então ele falou: ‘Mas como não vale se vocês mesmo assinaram e autorizando?’ e eles responderam que não podia nem entrar para se despedir. Então, de acompanhante, meu marido acabou virando visita”, explicou Viviane. 54 Embora muitos hospitais da rede pública e privada tenham total conhecimento da lei, e sabendo que não pode impedir que a gestante seja acompanhada antes, durante e depois do parto, mesmo assim continuam negando e em muitas vezes com declarações que vão contra a lei para justificar motivos dos quais não honram com o direito da parturiente. 52 MARTINS, Jomar. PAI IMPEDIDO DE ACOMPANHAR PARTO DE FILHA SERÁ INDENIZADO EM R$ 10 MIL. Disponível em: <www.conjur.com.br/2017-dez-09/pai-impedido-ver-parto-filha- indenizado-10-mil> Acesso em: 17 de Abril de 2018. 53 G1, GLOBO.COM. Santa Casa de Araras descumpre lei que permite pai acompanhar parto. Disponível em: <http://glo.bo/1UDsRa5> Acesso em: 04 de Junho de 2018. 54 Idem. G1, GLOBO.COM. 32 4 RESPONSABILIDADE CRIMINAL POR VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA Visando a proteção dos bens jurídicos fundamentais, tais como a vida e a integridade física, o Estado se emerge definindo crimes e estipulando sanções, por meio de norma, àqueles indivíduos que praticam fatos graves contrários ao direito. O doutrinador Neto55 explana que “Caracteriza-se a responsabilidade penal quando a pessoa infringe uma norma de direito público, caso em que o infrator poderá responder com a privação de sua liberdade”, ou seja, no âmbito penal não há que se falar em reparação, mas sim na aplicabilidade de uma punição de caráter intrasferível à figura do agente. A responsabilidade culposa meramente significará que seja afastada do plano em duas hipóteses: caso a alternativa seja seguida de aceitação do paciente, e apenas se referida escolha não implicar em imputação culposa apenas será separada de plano em duas hipóteses: caso a opção seja acompanhada de consentimento do paciente, e somente se referida escolha não implicar em uma certeza de lesão ou morte, e caso a utilização da técnica menos eficaz ou obsoleta se deva pela escassez de recursos humanos ou materiais disponíveis ao profissional, desde que mencionada a indisponibilidade não possa ser atribuída ao médico. 56 No caso acima explanado, o profissional terá responsabilidade afastada se ele agiu em exercício regular de um direito, onde a paciente tenha tido consentimento da prática utilizada, e que sua escolha não cause lesões ou a morte da parturiente ou do neonato, ou caso o agente não tenha os materiais disponíveis para realização do ato em fato da escassez por parte do hospital. O código penal trás em seus artigos alguns dispositivos que se tratam da violência obstétrica. Tais dispositivos como: o artigo 146 que dispõe sobre o constrangimento ilegal, que dependendo da maneira, pode ser considerado uma prática violenta; o artigo 6157, inciso II, alínea h diz que: “são circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: h. contra criança, maior de 60 anos, enfermo ou mulher grávida”. Esse artigo dispõe sobre agravantes da pena. Embora, existe a previsão do art. 129, § 1º, inciso IV: “lesão 55 NETO, Daniel Carlos. RESPONSABILIDADE CRIMINAL DO MÉDICO POR ERRO. 1ª ed. Porto Velho: Editora Motres, 2017. p. 5. 56 Idem. NETO, Daniel Carlos. 2017. p. 38. 57 CASA CIVIL, Presidência da República. Código Penal, Lei 2.848/40 – Artigo 61, inciso II, alínea h. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acesso em: 08 de Maio de 2018. 33 corporal de natureza grave: IV. Aceleração do parto”. Conforme Capez explana quando ocorre a aceleração do parto: A aceleração do parto ocorre quando, em decorrência da lesão corporal produzida na gestante, antecipa-se o termo final da gravidez, ou seja, o feto é expulso precocemente do útero materno. É necessárioque o feto nasça com vida e sobreviva, pois, do contrário, estará caracterizada a lesão corporal gravíssima.. 58 Pode-se observar que o direito penal fornece o tratamento para a violência obstétrica na acepção de um agravante dos delitos. Acarretando assim, um regramento geral sobre a tipificação do crime de dano de natureza grave ou gravíssima. A lesão corporal é configurada por três figuras típicas: a fundamental, a qualificada e a privilegiada. A fundamental encontra-se no caput do artigo 12959 do Código Penal. As formas qualificadas estão previstas nos §§§ 1º, 2º, e 3º. Já as formas privilegiadas estão definidas nos parágrafos 4º e 5º. A lesão pode ser dolosa ou culposa. Em relação ao tipo culposo está descrito nos parágrafos sexto e sétimo do art. 129 do CP (as formas simples e qualificada). Em relação à lesão cometida pelo médico ser seguida de morte admite o dolo no fato consequente, ou seja, a morte da vítima, prevista no art. 129 § 3º. É crime preterintencional, a lesão é punida a título de dolo, mas seu resultado (a morte) que é qualificador é punido a título de culpa. Com relação ao aborto provocado por terceiro que ocorreu culposamente, será dito com a lesão corporal culposa, onde a vítima será a gestante. Diante disto, Capez separou em duas questões as qualificadoras ao aborto preterintencional e à aceleração de parto, que constituem qualificadoras do delito de lesão corporal: a) Crimes de aborto qualificado pela lesão corporal grave ou morte e crime de lesão corporal qualificada pelo aborto (CP, art. 129, §2º, V). Elemento subjetivo. Distinção: é de suma importância no caso concreto a análise do elemento subjetivo que impele o agente à prática delitiva, pois é a partir dele que faremos o enquadramento das condutas praticadas. Comparando o aborto qualificado pela lesão grave ou morte e a lesão corporal qualificada pelo aborto (CP, art. 129, §2º, V), conclui- se que: 1) ambas são figuras preterdolosas – há dolo no antecedente e culpa no consequente; 2) a distinção reside no seguinte aspecto: no 58 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016. p. 275. 59 CASA CIVIL, Presidência da República. Código Penal, Lei 2.848/40 – Artigo 129. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acesso em: 04 de junho de 2018. 34 art.129,§2º, V, temos o dolo de lesionar a gestante, com aborto previsível. O agente deve possuir conhecimento da gravidez. Já, no caso dos arts. 125 e 127 c/c o 127, há a intenção de praticar um aborto, podendo sobrevier lesão corporal grave ou morte da gestante. 60 O elemento subjetivo no caso em tela é identificar a qualificadora do crime cometido pelo agente. No aborto qualificado pela lesão grave ou pela morte, ou na morte e a lesão corporal qualificada pelo aborto, em ambas vai haver preterdoloso, ou seja, dolo no que houve antes do fato, e culpa na consequência desse fato. O que os distingue é que um tem o dolo, que é a intenção de lesionar a gestante, com previsão de um aborto. E o outro ele tem intenção de praticar o aborto, mas ocorre lesão corporal da gestante ou sua morte. Capez expõe em sua segunda vertente: b) Crime de lesão corporal qualificada pela aceleração do parto (CP, art. 129, §1º, IV) e o crime de aborto. Elemento subjetivo. Distinção: o delito de lesão corporal qualificada pela aceleração de parto ocorre quando o feto é expulso prematuramente do ventre materno em virtude das lesões causadas na gestante. O dolo do agente é o de causar lesões na gestante, das quais advém o nascimento prematuro e com vida do infante. Tal espécie de crime não se confunde com o delito de aborto, pois este é a dolosa interrupção da gravidez, causando a morte do produto da concepção. 61 Neste caso, ocorrerá a qualificante na lesão corporal quando o feto for expulso prematuramente e causar lesões da gestante. Nessa situação o agente tem o dolo de querer causar lesões na gestante, fazendo o nascimento prematuro e com vida do filho. Essa espécie de delito não se confunde com o de aborto, pois o aborto é a forma dolosa de interromper a gestação, onde ocorre à morte do infante, e o caso acima exposto é a aceleração do parto, para expulsão do bebê com vida que resulta em lesões na gestante. A responsabilidade penal em si pressupõe um ato ilícito, e o grau da sua responsabilidade será de acordo com a sua infração. Então essa culpabilidade ela passa a existir para como forma de responsabilizar estes indivíduos pelos danos aparentemente causados. Neste sentido, Veloso e Serra descrevem esta responsabilidade: 60 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016. p. 275. 61 Idem. CAPEZ, Fernando. 2016. p. 275. 35 A responsabilidade penal decorre de um fato criminoso, seja de forma comissiva ou omissiva. Não haverá reparação e sim, aplicação de uma pena pessoal e intransferível à figura do transgressor, tendo em vista a gravidade do ilícito, uma vez que essa modalidade de responsabilidade visa à ordem social e também a punição. 62 Os crimes mais imputados aos profissionais da saúde em relação à violência obstétrica ocorrida são: homicídio (art. 121 CP- Geralmente se caracteriza pelo dolo eventual, onde o profissional da saúde agiu com negligência e imprudência em relação a gestante que são condutas graves), lesão corporal (art. 129 CP – Pode ser aplicada a episiotomia quando feita sem o consentimento da gestante, ou em casos que se enquadrem nessa conduta, onde a integridade física da parturiente não é respeitada), constrangimento ilegal (art. 146 CP – Quando fazem o uso de procedimentos não aceitos pela gestante, tanto da episiotomia, como de uso de fórceps, ou de coloca-la em posições desconfortáveis. Este crime caracteriza quando a gestante perde sua autonomia no parto), ameaça (art. 147 CP – Infelizmente é uma das principais causas de violência obstétrica, onde o profissional da saúde ameaça lhe fazer algum mal se acaso não aceitar procedimentos, ele visa causar medo na gestante, podendo ser ilícito ou imoral), maus-tratos (art.136 CP – Em muitos casos ele se denota da negação de algum auxilio a gestante, como em não lhe dar água, alimento, privar ela de urinar, podendo ocorrer até após o parto), e por fim podem incidir-se os crimes de calúnia (art. 138 CP), difamação (art. 139 CP) e injúria (art. 140 CP) que são crimes que vão contra a honra da parturiente. Sendo assim, no exercício da profissão, pode o médico incorrer em erro e cometer crime de homicídio culposo ou de lesão corporal culposa por não observar o dever de cuidado inerente à sua atividade, vale ressaltar a diferença entre negligência, imprudência e imperícia. A negligência evidencia-se pela falta de cuidado para exercer certos atos, seria um ato omissivo (por deixar de fazer o que uma norma impõe). A imprudência é em relação de o profissional ter ciência do risco, e mesmo assim ele toma a decisão de agir, tem culpa comissiva (fazer o que uma norma proíbe). E a imperícia é quando o autor revela não ter conhecimento técnico no assunto, ou seja, um despreparo prático. 62 VELOSO, Roberto Carvalho; SERRA, Maiane Cibele de Mesquita. REFLEXOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL E PENAL NOS CASOS DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA. Disponível em: <http://indexlaw.org/index.php/revistagsd/article/download/1048/1043> Acesso em: 24 de Abril de 2018. 36 Em relação ao crime de homicídio, o doutrinador Neto63 explana de tal forma como o agente será responsabilizado
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