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A TUTELA DA PRIVACIDADE CIVIL E PROTEÇÃO DOS DADOS VIRTUAIS DECORRENTE DA LEI 13

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A TUTELA DA PRIVACIDADE CIVIL E PROTEÇÃO DOS DADOS VIRTUAIS DECORRENTE DA LEI 13.709/2018[1: Artigo científico apresentado para X Jornada Jurídica da Unisulma – 30 Anos da Constituição Federal. Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão – UNISULMA/IESMA.]
Hilton Nélio Borges de Souza Júnior;[2: Acadêmico do Segundo Período do curso de Direito – Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão – UNISULMA/IESMA]
Luísa Ranieri Santana Borges;[3: Acadêmica do Segundo Período do curso de Direito – Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão – UNISULMA/IESMA]
Thiago Vale Pestana[4: Orientador. Professor do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão – UNISULMA/IESMA. Doutorando em Direito pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo (FADISP/ALFA, 2015-2018).]
RESUMO: A princípio, o artigo apresentado objetiva-se na realização do estudo acerca de uma breve análise do desenvolvimento do direito à privacidade e a forma de como este tem sido tutelado e aplicado pelo ordenamento jurídico brasileiro. Nesse viés, faz-se necessária a compreensão da referida perspectiva no contemporâneo cenário tecnológico, promovido sobre a devida proteção de dados virtuais decorrente da promulgação recente da lei 13.709/2018. Para tal, a coleta de informações delimitadas desde a composição inicial do conceito de privacidade e o seu desenvolvimento ao longo da trajetória do referido trabalho, procede-se com a abordagem da vigência de normas existentes sobre determinada visão no contexto virtual, fundamenta-se em pesquisas suplementares a livros, revistas e artigos jurídicos publicados na Internet com o intuito de aprofundamento dos assuntos proferidos.
Palavras-Chave: Direito à Privacidade. Proteção de Dados. Tratamento de Dados.
ABSTRACT: At first, this paper focus on the study which consists of a brief analysis on the development of the right to privacy and the way it has been protected and applied by the Brazilian legal system. In this bias, it is necessary to understand this perspective in the contemporary technological scene, assured through the rightful protection of virtual data resulting from the recent promulgation of law 13.709/2018. Due to this, the collection of information delimited since the initial composition of the concept of privacy and its development along the trajectory of this work, approaching by the validity of existing norms on a certain vision in the virtual context, based in exquisite in additional research to books, magazines and legal articles published on the Internet with the intention of deepening the issues.
Keywords: Right to privacy. Personal data protection. Data processing.
INTRODUÇÃO
	A reprodução de uma análise em relação do valor inerente ao direito à privacidade sucede-se de argumentações controversas como consequência de interesse e preocupação da coletividade. Diante disso, sua ótica pela Constituição Federal e o Código Civil abordadas no presente trabalho, torna-se imprescindível perante o entendimento de sua aplicação no sistema jurídico brasileiro no que diz respeito a sua segurança e valorização respectivamente à internet. 
Sobre essa concepção, tendo em vista de que as novas tecnologias influenciaram de maneira significativa na sociedade, os direitos da personalidade, em destaque à privacidade, sofrem diversas alterações em suas idealizações, haja vista os novos conflitos gerados nesta seara, evidenciando o desafio do contexto jurídico frente a estes avanços, que se encontra na efetividade da tutela concedida, indispensável para ser discutida.
Desse modo, este estudo inicialmente apresenta digressões acerca do direito à privacidade na perspectiva da constitucionalização dos direitos civis, para em seguida ser discutida a maneira como a virtualização das relações particulares tem se desenvolvido por meio da popularização da internet, bem como as subsequentes implicações para a privacidade individual dos usuários.
Em seguida é apresentada a identificação do direito à privacidade a partir da proteção conferida pela Lei nº 12.965/2014, responsável pela criação do Marco Civil Brasileiro da Internet, para, por fim, apresentar os aspectos gerais da Lei nº 13.709/2018, responsável por preencher as lacunas do Marco Civil mormente proteção de dados pessoais na internet.
	 Para tanto, a aplicação do método dedutivo predominante como proposta em estabelecer conceitos conclusivos, recorre-se da relevância de pesquisas históricas sucessivas de uma extensa bibliografia auxiliadora de uma flexibilidade à frente dos determinados assuntos. Vê-se, que mediante a tais reflexões, revela-se uma petição de complementariedade de normas existentes e a criação de leis superiores em prol da causalidade plena do progresso à privacidade.
1 A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO À PRIVACIDADE
Inicialmente faz-se necessário discutir a privacidade enquanto fundamento dos direitos civis a partir da dimensão constitucional da proteção dos direitos privados, sendo esta a proposta do presente tópico. Tal abordagem se justifica em função da própria natureza jurídica do direito à privacidade, o qual é entendido por Silva (1997, p. 215) como o “conjunto de informação acerca do indivíduo que ele pode decidir manter sob seu exclusivo controle, ou comunicar, decidindo a quem, quando, onde e em que condições”, com isso importando em pessoal legalmente sujeito de direitos tuteláveis em âmbito constitucional.
A origem do termo privacidade no campo jurídico é considerada como a tipificação dos chamados “direitos da personalidade” que mais sofre transformações, desde o tradicional conceito elaborado por Warren e Brandeis como o “direito a ser deixado só”, até a concepção atual, caracterizada pela liberdade de autodeterminação informativa, isto é, a capacidade de controlar as informações pessoais pelo seu titular.
A reação da doutrina brasileira sobre essa discussão encontra-se guarida na Constituição Federal de 1988 que utiliza as expressões “intimidade” e “vida privada”, interpretando-se que a proteção da pessoa humana abrange ambos os aspectos. Na verdade, o problema trazido pela opção do legislador constituinte em utilizar termos “vida privada” e “intimidade” é compreender que se trata de duas expressões distintas que devem ser valoradas de formas diferentes.
À vista disso, percebe-se uma dificuldade para a conceituação do vocabulário “privacidade”; no qual este se torna uma “palavra-camaleão” sendo utilizada para se referir a um amplo encadeamento de interesses radicalmente distintos que criam complicações para definir políticas públicas e para resolver casos práticos. Argumenta-se, ainda, que o âmago do conceito exposto, carrega um sentido emotivo e vago que por mais que seja utilizada pelo ordenamento, não está definida com plenitude por englobar uma gama contextual com diversas análises. 
Na trilha desse entendimento, o advento do direito à privacidade nos documentos internacionais e o seu estudo de forma autônoma, só se tornou possível a partir do anúncio ressaltado no rol da Declaração dos Direitos Humanos da ONU, em 1948, quando foi enquadrada na categoria de direitos humanos. Destarte, tais direitos são entendidos, atualmente, como uma concretização histórica do princípio da dignidade humana como consequência dessa grande conquista e crescimento acerca dessa discussão.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a privacidade só passou a ser objeto de reflexão em razão das transformações sociais. Como exemplo disso, na Revolução Francesa, a dignidade da pessoa humana, como direito fundamental, inicia-se ao ser inserido na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Os direitos personalíssimos, tais como: o direito à vida, à integridade física, à honra, à intimidade e à privacidade passam a ser tutelados nas constituições modernas em razão da dignidade do homem. 
Diante do que foi abordado, percebe-se ao mencionar que muito antes da promulgação da Constituição de 1988 e do Código Civil de 2002, a privacidade já era reconhecida entre os direitos depersonalidade no sistema jurídico brasileiro de modo implícito. Nesse sentido, torna-se evidente que todo ordenamento jurídico deve ser interpretado à luz dos direitos fundamentais, que formam um sistema de valores baseados no livre desenvolvimento da personalidade e na dignidade da pessoa humana.
Desde então, essas ideias ganharam força e irradiaram-se pela doutrina e jurisprudência de diversos países, inclusive o Brasil. A Constituição Federal de 1988 acompanhou a tendência internacional de incluir na relação dos direitos fundamentais a proteção à intimidade e à vida privada. No que concerne o artigo 5º, inciso X da Carta Magna: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Salienta-se que a Constituição Federal Brasileira procedeu com a valorização do termo de vida privada sendo objeto e acalorada de proteção simultaneamente com a Declaração dos Direitos Humanos que também assegura e dispõe-se no artigo 5º, XII: “ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques”.
Relacionando-se, pois, as referidas normas se coadunam imprescindivelmente. Ademais, compreende-se que a importância e a racional necessidade de se protegerem todos os direitos inerentes da personalidade, dos quais se destaca a privacidade, foram complementados harmoniosamente. Em outro plano, analisa-se que a Constituição Federal Brasileira estabelece que os direitos e as garantias nela expressos, não excluem outros decorrentes do regime dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que o Brasil seja parte (Art. 5º, §2º e § 3º).
Diante desse quadro expressivo, a privacidade é reconhecida como um direito fundamental em praticamente todos os tratados e convenções internacionais de direitos humanos ratificados pelo país. A assertiva de Tepedino (apud SOBRAL, 2010, on-line.), afirma que:
A escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento da República, associada ao objetivo fundamental de erradicação de mazelas sociais, juntamente com a previsão do parágrafo 2º do art. 5º, no sentido da não exclusão de quaisquer direitos ou garantias, configuram uma verdadeira cláusula geral de tutela e promoção da pessoa humana, tomada como valor máximo pelo ordenamento.
Essa posição foi aderida, também, pelo Conselho de Justiça Federal, que aprovou o seguinte enunciado: “os direitos da personalidade, regulados de maneira não exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral da tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição”. Por esses motivos, parte da doutrina jurídica brasileira utiliza a expressão “direito civil constitucional” para se referir à irradiação dos efeitos das normas ou valores constitucionais aos outros ramos do direito.
Em suma, independente de como este se sucede, com o desenvolvimento de novas posições doutrinárias, a privacidade e outros direitos fundamentais passaram a ser reconhecidos como princípios jurídicos, sendo necessário compreender o significado dessa expressão e a sua relevância para a tutela desses direitos, como no caso do desenvolvimento de novos paradigmas de interação social motivada pela virtualização das relações civis pela internet, conforme se explora no tópico seguinte.
 
2 A INTERNET E A VIRTUALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES PRIVADAS
Na segunda seção deste trabalho são apresentados os resultados da investigação a respeito da origem da internet e a viabilização de seu acesso popular a nível mundial. 
Este fenômeno é responsável ainda pela criação de plataformas de interação entre pessoas que, se por um lado amplamente tem favorecido maior dinamicidade nas comunicações e compartilhamento de informações nos mais diversos níveis e das mais multifárias naturezas, por outro lado também ensejou a maciçamente a virtualização destas mesmas relações, o que finalmente importou na criação de um novo padrão ético de conduta interativa entre as partes nesta seara, as quais passaram a ser disciplinadas pelos termos de usuário e políticas de privacidade criadas pelas plataformas das redes sociais.
As transformações vertiginosas trazidas pelas evoluções tecnológicas estão refletidas em todos os segmentos da sociedade contemporânea, de um modo nunca observado anteriormente. Seguindo esse contexto revolucionário no qual se vivencia uma sociedade de informações, que nasce e se desenvolve a Internet, acarretando novas relações sociais e jurídicas; implica-se o desvelo ao surgimento da ferramenta primordial para tal progresso, sendo digna de ser ponderada.
A internet constitui a base tecnológica da forma organizativa que caracteriza a era da informação, a Rede. Em torno desta rede mundial, configura-se uma dimensão virtual em que há uma circulação de informações, dados e conhecimentos pessoais. Destarte, a mesma se origina no auge da Guerra Fria, em um projeto militar norte-americano nomeado de ARPAnet (ARPA: Advanced Research Projects Agency), sugerido como solução ao lançamento do 1º satélite ao espaço pela URSS.
Nessa perspectiva, o objetivo do projeto criado consistia-se na inicialização de uma rede que pudesse se manter sem a necessidade de estar conectada a uma fonte central, isto é, uma rede capaz de tornar todos os pontos de conexões equivalentes. Sobre isso, o eventual bombardeio em um determinado ponto da rede não prejudicaria a conexão entre os demais. Torna-se possível adiante, o primeiro registro de conexão entre computadores, realizando dessa forma, o propósito almejado.
Em meados de 1981, quando a tecnologia passa a ser utilizada por cientistas e acadêmicos, o termo “internet” oficializa-se propriamente dita, na magnitude do que se conhece hodiernamente, conforme sua evolução. Logo, a primeira proposta, do início de uma rede mundial que interliga todos os computadores, surge a partir da construção de ferramentas necessárias pelo cientista Tim Berners-Lee na primeira metade da década dos anos 90, quando consagra seu projeto “World Wide Web”, lançado para permitir que físicos de altas energias trocassem informações, notícias e documentos.
No que tange a concepção de Corrêa (apud DALL’OGLIO JUNIOR, 2011, p.2):
[...] A internet é um sistema global de rede de computadores que possibilita a comunicação e a transferência de arquivos de uma máquina a qualquer outra máquina conectada na rede, possibilitando, assim, um intercâmbio de informações sem precedentes na história, de maneira rápida, eficiente e sem a limitação de fronteiras, culminando na criação de novos mecanismos de relacionamentos.
Por conseguinte, arquitetada inicialmente para fins militares, a rede mundial de computadores conquistou vulto na vida cotidiana e conforme a ONU, estima-se atualmente que mais de 50% da população mundial usufruem de todo seu potencial. 
Neste diapasão, afirma-se que um dos grandes fenômenos resultantes do uso intenso da internet, é a ampliação do número de redes sociais que esta trouxe consigo, motivada pela velocidade da comunicação, pelo grande alcance dos espaços geográficos e pela disseminação das tecnologias, da informação e comunicação. Nesse plano, a democratização no acesso a bens culturais, como a música, artes visuais, informações de amplas áreas de estudos, forneceu uma verdadeira socialização massiva do conhecimento, tornando-se inegável a grande influência do ambiente virtual.
De acordo com Aguiar (2006, p.12):
Redes sociais são, antes de qualquer coisa, relações entre pessoas, estejam elas interagindo em sua causa própria, em defesa de outrem, ou em nome de uma organização. Tendem a ser aberta à participação (por afinidades) e não deterministas nos seus fins (que podem ir sendo modificados ao sabor dos acontecimentos, porém mantendo a motivação inicial que gerou a rede). 
Sendo assim, os sites nomeados de “ClassMates” e “SixDregrees.com”originados no final da metade da década dos anos 90 foram creditados como as primeiras redes sociais modernas do mundo. Desse modo, consistiam-se que usuários tivessem um perfil e adicionassem outros participantes, em um formato análogo conhecido contemporaneamente. 
Em consequência desses meios de interações sociais, derivam-se páginas com o mesmo propósito de propagação comunicativa na web, sendo estes: Friendster (2002), MySpace (2003), Hi5 (2003), Orkut (2005), entre outros sites ilustres no período. No momento atual, as maiores plataformas sociais como o Facebook, Youtube, Whatsapp, Messenger, Instagram e Twitter, atuam como meios de comunicações sendo inseridas no cotidiano brasileiro de forma indispensável. A dinâmica das comunidades conectando-se por intermédio de computadores e redes sociais transforma-se em instrumentos de alcance global com um potencial significativo de influência na sociedade.
Por outro lado, diante do que foi exposto, a internet e as ferramentas sociais apresentam propósitos diversos, nem sempre enriquecedores para a vida do cidadão. Se por um plano as referidas atendem às demandas sociais de conhecimento abrangentes, estas também atendem interesses danosos às próprias comunidades que as utilizam, fundamentais para tal abordagem. 
2.1 Implicações na Privacidade Decorrentes do Uso da Internet
Diante desse quadro evolutivo, implicam-se ponderações acerca dos traços negativos direcionados aos usuários da internet. A privacidade das pessoas conectadas ao grande sistema de informações circulantes pelo espaço cibernético apresenta-se ameaçada por diversos meios, no qual seus conhecimentos pessoais são compartilhados anonimamente por outros computadores também ligados à rede, e em que na maioria das vezes, imperceptivelmente. 
Nessa perspectiva, acentua-se que, a falta de regulamentação e a ausência da tecnologia adequada para combater os casos de violação da privacidade na Internet, dificultam a prevenção e pressão a estes atos ofensivos, como salientado por Leonardi (2012, p.42):
Esse quadro é particularmente preocupante em relação à privacidade, cuja violação exponencialmente facilitada pelas mesmas características e peculiaridades que tornam a internet tão atraente, a tremenda facilidade de disseminação, de busca e de reprodução de informações em tempo real, sem limitações geográficas aparentes.
Nessa abordagem, aponta-se que a omissão de dispositivos que regulem especificamente sobre o tema, garante uma sensação de anonimato e impunidade a quem por ato de má-fé, utiliza a Internet para invadir propositalmente a privacidade de outros usuários, tomando conhecimento, adulterando ou destruindo informações privadas e talvez a modalidade mais grave: divulgando tais materiais pela rede. 
A simples coleta de informações pessoais identificáveis por parte de determinados websites e redes sociais em relação aos termos solicitados obrigatoriamente ao praticar o cadastro de usuários, às vezes, sem a autorização dos mesmos, configura-se na invasão de privacidade. Dessa maneira, faz-se fundamental uma política clara e explícita, declarando quais dados serão coletados e o fim destinado aos mesmos. Na atual conjuntura, a política de privacidade deve ser acima de tudo, tutelada em prol do respeito à vida íntima dos usuários. 
De qualquer forma, ao reproduzir a leitura dos termos aderidos por sites adotantes de tais políticas, a argumentação lógica por estes, vai de encontro ao princípio estampado no art. 5º, inciso II, da Constituição Federal, no sentido de que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, ainda que nos casos da tutela jurídica dispensada pelo Marco Civil da Internet à privacidade este fundamento constitucional tenha percebido significativa releitura, conforme adiante discutido.
3 O DIREITO À PRIVACIDADE E O MARCO CIVIL DA INTERNET
Este tópico tem por objetivo destacar o regime jurídico da tutela do direito à privacidade decorrente da Lei nº 12.965/2014, por meio do qual se instituiu o marco regulatório da internet no Brasil. Em um primeiro momento se verifica o contexto histórico de surgimento desta norma, para então se destacar o conteúdo geral deste dispositivo legal no que se refere à proteção dos usuários.
Nesse sentido é notória a fragilidade desta lei na parte em que a mesma é omissa quanto ao tipo de proteção destinada aos dados inseridos pelas pessoas porquanto de sua utilização da internet como fonte de pesquisa ou interação social nas plataformas que não param de se multiplicar.
 Apesar de bem difundido hodiernamente, o direito à privacidade no qual se deriva de uma série de transformações no decurso histórico-jurídico, decorre dos múltiplos conceitos inerentes a esse direito, disseminado, sobretudo, pela doutrina e jurisprudência. Segundo Doneda (2006, p. 4), o despertar da privacidade ocorreu justamente na medida em que se modificou a visão que se tinha da pessoa humana pelo ordenamento jurídico, dessa forma inicia-se a juridificação dos aspectos cotidianos da vida. 
Nessa perspectiva, a ideia de privacidade teve evolução paralela aos assuntos relacionados aos direitos humanos. Dessa maneira, é importante ratificar a relevância dos documentos históricos que revolucionaram o modo de abordagem dos direitos inerentes às pessoas nos ordenamentos jurídicos estatais em ordem mundial. Entre os quais destacam-se: A Magna Carta, 1215; Bill of Rigths, 1689; Declaração Americana de Independência, 1776; Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1789; Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948 e Convenção Americana dos Direitos Humanos, 1969.
Todos esses documentos reafirmaram a necessidade da inserção de direitos fundamentais – direitos humanos em âmbito doméstico – nos textos legais constitucionais. Entretanto, em meio ao aparecimento desses documentos, surgiu a Internet, de modo a transformar, em menos de meio século, as relações de privacidade no meio civil. Afirma-se que não é possível negar o mérito deste instrumento na comunicação mundial.
Nessa linha de raciocínio, a Internet não é só um acontecimento fadado a um fim próximo, devendo ser vista como um novo desafio para a ciência jurídica, “podendo-se asseverar que a Revolução Digital trará para esta última, impactos tão ou mais consideráveis do que aqueles que foram ocasionados pela Revolução Industrial” (LUCCA, 2001, p. 131, apud LEONARDI, 2011, p. 34).
Diante de tal hiato, foi apresentado pelo Executivo o projeto de lei nº 21.626/2011 que trouxera em seu corpo uma regulagem para uso da internet. No dia 23 de abril de 2014, foi sancionada a Lei nº 12.965 (O Marco Civil da Internet) – pela então Presidenta da República Dilma Rousseff – a qual teve vacatio legis de 60 dias. 
A referida lei estabeleceu princípios, garantias, direitos e deveres acerca do uso da internet, pois antes de sua existência era comum apropriar-se de jurisprudência e doutrina – mesmo que esta última não tivesse, até o momento, em seu pleno desenvolvimento – e até mesmo no direito comparado, o qual teve papel fundamental na ciência jurídica brasileira (LEONARDI, 2011, p. 41).
O Marco Civil da Internet foi substancial para a regulagem do uso da internet, sobretudo em matéria de privacidade e prevalência dos direitos humanos, como dita em seus arts. 3º, II e 2º, II, respectivamente. Essa será desmiuçada posteriormente. 
3.1 Regime Geral de Proteção Adotado por essa Norma
Cogita-se, que ao estabelecer a possibilidade de indenização por dano moral ou material, a Constituição Federal Brasileira prevê a responsabilização civil daquele que viola o direito à privacidade. Diante disso, o Código Civil de 2002 reforça a provisão e acrescenta-lhe a tutela inibitória, a saber no art. 21. “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará, as providências necessárias para impedir ou cessar ato a esta norma”.
De acordo com Pablo Stolze (apud SALMÓRIA; SALMÓRIA e ZUBKO, 2015), a rapidez tecnológica concebe em decorrênciadessa perspectiva, atentados à intimidade e a vida privada, inclusive por meio da internet, tornando-se atos frequentes. Rotineiramente, determinadas empresas adquirem dados pessoais do usuário (profissão, renda mensal, hobbies), com o intuito de ofertar os seus produtos, divulgando a sua publicidade por meio dos indesejáveis spams, técnica ofensiva aos determinados direitos referidos.
Nesse sentido, faz-se necessário a análise da vigente proteção jurídica ao direito da intimidade no país, singularmente após o estabelecimento de princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet proporcionada pela lei nº 12.965/2014. Vê-se, pois, que a norma referida, popularmente conhecida como Marco Civil da Internet, se baseia em três pilares: a neutralidade, a privacidade e a liberdade de expressão. 
Tal norma se divide em cinco capítulos: disposições preliminares (trata basicamente dos fundamentos e princípios do uso da rede no Brasil), dos direitos e garantias dos usuários (estabelece que são direitos e garantias dos usuários), da provisão de conexão e de aplicações de internet (tratada chamada “neutralidade da rede”), da atuação do poder público (institui diretrizes para a atuação da União, Estados, Distrito Federal e Municípios no desenvolvimento da internet) e disposições finais (garante, que a defesa de direitos previstos na legislação seja exercida em juízo, individual ou coletivamente).
Como um de seus princípios, a Lei trata no art. 3°, II, da proteção da privacidade que é um dos direitos básicos dos cidadãos; de não ter, sem o seu consentimento, fatos de sua vida privada divulgados a terceiros. A posteriori, o Marco civil aborda retrospectivamente o direito à privacidade nos artigos 8° – “a garantia do direito à privacidade e à liberdade de expressão nas comunicações é condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet” – e 11, caput, § 3° (BRASIL, Lei nº 12.965/2014).  
Nesse sentido, o Marco Civil da Internet objetiva-se na intenção de garantir a privacidade dos usuários, estabelecendo que um provedor não pode violar o direito à intimidade e vida privada dos seus clientes, isto é, não pode divulgar seus dados. Ademais, o provedor em hipótese alguma poderá monitorar e armazenar esses dados, salvo se o mesmo receber uma ordem judicial com essa instrução. 
Contudo, mesmo dispondo destes parâmetros de salvaguarda de direitos o Marco Civil da Internet ainda tem se apresentado bastante inócuo no que tange à privacidade e sigilo das informações dos usuários da rede mundial de computadores, razão pela qual fez-se necessária a edição de norma específica destinada à proteção de dados pessoais, tema abordado a seguir.
4 A LEI 13.709/2018 E A PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS NA INTERNET
Nesta seção se apresenta o panorama geral da Lei 13.709/2018, responsável pela disciplina da proteção de dados pessoais na internet. Primeiramente são identificados os princípios norteadores da norma em comento, seu âmbito de aplicabilidade e as espécies de dados que a mesma não alcança, o regime por ela dispensado ao tratamento de dados pessoais aos mais diversos públicos e os direitos do titular.
Também se discute os elementos que ensejam responsabilidade por parte de órgãos públicos e privados no tratamento de dados pessoais, bem como o ressarcimento por danos e o regime jurídicos doravante adotado no Brasil para a transferência internacional de dados.
A ideia de privacidade a partir da proteção de dados pessoais surge no momento em que são criados os bancos de dados virtuais, os quais foram instituídos, a princípio, como forma de reunir informações para a utilização em “dados estatísticos, tais como crescimento populacional, densidade demográfica e atividades econômicas, entre outras” (LEONARDI, 2011, p. 69). 
Com o advento da internet e a informatização dos bancos de dados ou database, popularizou-se a acumulação de dados particulares para fins de identificação do perfil dos consumidores e, com isso, a coleta de dados deixou de ser realizada exclusivamente por órgãos públicos, como tem se dado a prática levada a efeito pelos algoritmos desenvolvidos para essa finalidade nas redes sociais.
Diante disso, e da ausência de conteúdo a se tratar da proteção de dados pessoais pela Lei do Marco Civil da Internet, tornou-se substancial que no arcabouço jurídico brasileiro, houvesse uma lei que tratasse da proteção de dados não apenas de formar geral, mas que abrangesse com contundência àqueles que estão armazenados no meio virtual. A Lei 13.709 de 14 de agosto de 2018, deriva do PL 4060/12 a qual passou aproximadamente seis anos em tramitação na Câmara dos Deputados Federais. Foi sancionada pelo Presidente da República com veto parcial e terá um período de vacância de 18 meses.
Abordar-se-á suas principais características e quais foram as suas mudanças trazidas para as relações entre os agentes de tratamento e os titulares dos dados. 
4.1 Noções Gerais da Lei
Logo em seu primeiro artigo, o texto legal expande o direito à proteção de dados àqueles os quais estão armazenados no meio digital, abrangendo tanto a pessoa física como a jurídica pública e privada. É extremamente perceptível a guarda dos princípios constitucionais e de direitos humano estabelecidos no limiar histórico. Seu principal objetivo é proteger os direitos de liberdade e privacidade e o pleno desenvolvimento da pessoa natural. 
Desde que surgiram as redes sociais, as relações pessoais se modificaram drasticamente, o que antes era conceituado de cyberspace – espaço virtual totalmente desvinculado como o meio real – passou a delinear o modo de vida das pessoas. Não era mais o “mundo virtual” como uma outra dimensão, este começou a interagir de formar imprescindível nas relações cotidianas. 
A democratização da internet abriu novas portas para a população, ficando mais fácil a emissão de opiniões, por meio, por exemplo das redes sociais. Esta facilidade também favoreceu a emissão de qualquer tipo de opinião, sendo que ganhou notoriedade os discursos de ódio ou hate speech, como forma de agredir direitos de imagem, honra e dignidade, todos fundamentais à condição humana. 
Diante de tal celeuma, é clarividente a intenção do legislador usar como bases os fundamentos expostos no art. 2º, IV e VII da mesma lei: “a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem; os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais”.
Apesar de tais aspectos terem sidos abordados pela Lei do Marco Civil da Internet, ficou ratificado a importância dos assuntos relacionados à dignidade da pessoa humana nas leis regulamentadores tanto do uso da internet, quanto no tratamento de dados.
Ao se falar em proteção de dados, a maioria da população entende isso de forma consideravelmente simplificada; veem como exposição apenas os casos relacionados às redes sociais, tais como: vazamento de fotos íntimas, conversas pessoais, entre outros. Contudo, vai muito além disso, metaforizando, são somente a ponta do iceberg. É válido lembrar que, mesmo que seja imperceptível, tudo o que se faz na internet é coletado e enviado para os bancos de dados dos serviços utilizados pelos os usuários de smartphones, tabletes e computadores, como afirmou Matos (2005, p. 20), “A vida está sendo monitorada ‘escancaradamente’ nos seus mais íntimos aspectos”. Perante isso, é pertinente a indagação – quem controla esses dados?
 A Lei declara que o tratamento de dados feito por qualquer pessoa natural ou jurídica de direito público ou privado, é regulamentado por ela. Com isso, são dadas algumas condições para que a mesma seja aplicada, como é desmiuçado no art. 3º e seus inciso. Anterior a isso, é asseverado que em nada interfere a localidade da sede dos órgãos jurídicos, seja território nacional, seja ele estrangeiro, a Lex se aplicará. 
Ademais, independe do país onde estão armazenados os dados, porém, são estipulados os seguintes requisitos no art. 3º: i) que a operação de tratamento seja realizadano território nacional; ii) que a atividade de tratamento tenha por objetivo a oferta ou o fornecimento de bens ou serviços ou o tratamento de dados de indivíduos localizados no território nacional; e iii) os dados pessoais objeto do tratamento tenham sido coletados no território nacional.
Sobre o mesmo artigo, o § 1º assevera que “Consideram-se coletados no território nacional os dados pessoais cujo titular nele se encontre no momento da coleta”. Todavia, o referido texto legal lista as possibilidades em que a lei não se aplicará em casos de tratamentos de dados – coleta, produção, processamento, transmissão etc. – em território brasileiro. Todas as vezes em que a manipulação de tais dados não for de cunho econômico e para fins particulares, praticado por pessoas físicas, a lei não se manifestará, desde que sejam esteja em observância a boa-fé, como será analisado mais adiante. 
Além da situação anteriormente citada, os dados pessoais poderão ser usados para fins jornalísticos, acadêmicos, de segurança pública, defesa nacional, de investigação e repressão de infrações penais, como está descrito nos incisos II e III do caput do art. 4º. Entretanto, não é permitido o tratamento de dados por pessoas jurídicas de direito privado quanto ao que se refere no inciso III, a menos que esse seja tutelado por pessoa jurídica de direito público, prevalecendo os interesses deste, e ainda que sob estas condições, em nenhuma hipótese será disponibilizado a totalidade desses dados. 
Ademais, é indispensável a observância de alguns princípios adotados pela LGPD no tratamento de dados, sendo, sobretudo, a boa-fé alicerce para as atividades de manipulação de bases de dados. São eles: a) finalidade; b) adequação; c) necessidade; d) livre acesso; e) qualidade dos dados; f) transparência; g) segurança; h) prevenção; i) não discriminação; j) e a responsabilização e prestação de contas. 
Por hora, é importante salientar que a nova lei, como se pode observar em suas disposições preliminares, trouxera algumas mudanças substanciais com relação ao tratamento de dados pessoais, sobretudo para fins de investigação e segurança nacional. Em outras palavras, as limitações as quais os órgãos investigativos (públicos) possuíam foram atenuadas e, consequentemente, passaram a ter mais liberdade em suas investigações. 
4.2 Do Tratamento de Dados
Os direitos da personalidade, segundo assevera Farias (2018, p. 191), constituem uma gama de garantias relativamente recentes levando-se em consideração o decurso histórico da humanidade, sendo eles enaltecidos após a segunda guerra mundial.
 Nesse aspecto, no ordenamento jurídico brasileiro, apesar de garantidos constitucionalmente de forma geral, apenas no Código Civil de 2002 foram expressamente reconhecidos os direitos personalíssimos nos arts. 11 a 21, sendo o a vida privada um desses direitos. “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma” (BRASIL, Código Civil, art. 21).
Diante de tal aspecto, acerca do tratamento de dados pessoais, os artigos 7º a 16 da nova lei abordam de maneira específica sobre o assunto. Sobre isso, é essencial debater os principais requisitos para a preservação da intimidade da pessoa física. 
4.2.1 Dos Requisitos para o Tratamento de Dados Pessoais
Primordialmente, em regra, os dados da pessoa natural só poderão ser tratados mediante sua autorização. Tem-se essa como premissa principal; assim, as empresas não podem manipular dados de pessoas naturais sem prévio consentimento. Por consentimento, entende-se toda “manifestação livre, informada e inequívoca pela qual o titular concorda com o tratamento de seus dados pessoais para uma finalidade determinada”; e conforme descrito no art. 8º da lei “deverá ser fornecido por escrito ou por outro meio que demonstre a manifestação de vontade do titular” – titular: pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são objetos de tratamento. 
Ainda nesse trilho, se o consentimento for por escrito, deverá constar uma cláusula destacada das demais. Em outras palavras, de forma alguma o consentimento do titular deverá ser obtido por intermédio de vício de consentimento (quando o titular é induzido ao erro), devendo haver sempre a imprescritível observância do princípio da boa-fé nos negócios jurídicos, consagrado pelo Código Civil Brasileiro de 2002 no seu art. 113. 
Acrescenta-se que, compete ao controlador – “pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, a quem competem às decisões referentes ao tratamento de dados pessoais” – o ônus de provar que o consentimento foi obtido conforme as exigências da Lei. 
 Outrossim, é importante acentuar que o consentimento deve ser específico. Isto é, o controlador tem o dever de informar ao titular a finalidade da coleta de dados. A nova Lei declara que é nulo o consentimento cuja pessoa natural desconheça os verdadeiros fins do tratamento de seus dados, atendendo, dessa maneira, um dos princípios adotados pela Lei (art. 6º, I). 	Para tanto, se a empresa ou órgão público que faz o tratamento de dados, tendo obtido o consentimento por parte da pessoa física, quiser compartilhar, transmitir, distribuir os dados desse civil, deve obter uma autorização específica para tal ação. É o que trata o § 5º do art. 7º:
O controlador que obteve o consentimento referido no inciso I do caput deste artigo que necessitar comunicar ou compartilhar dados pessoais com outros controladores deverá obter consentimento específico do titular para esse fim, ressalvadas as hipóteses de dispensa do consentimento previstas nesta Lei.
É essencial ressaltar que o consentimento não é, obrigatoriamente, por período indeterminado. Logo, quando o titular quiser, poderá, desde que expressamente manifestada a vontade dele, revogar as autorizações outrora existentes. Em outras palavras, o consentimento não tem caráter definitivo, podendo ser finalizado a qualquer momento de acordo com o interesse do titular. Cabe-se salientar que a revogação deve ser facilitada e gratuita, devendo inexistir qualquer forma de resistência por parte das pessoas jurídica de direito público ou privada (art. 8º, §5º).
No artigo 9º, a Lex assegura o direito de o titular ter acesso a uma série de informações a respeito do tratamento de dados, as quais devem ser disponibilizadas de forma clara e facilitada. Para o titular, é primordial ter conhecimento da “finalidade específica do tratamento; forma e duração do tratamento, observados os segredos comercial e industrial; identificação do controlador; informações de contato do controlador”.
Por outra ótica, segundo a LGPG, não há necessidade de consentimento do titular quando os dados pessoais se encontram em domínio público. Em outros termos, se a pessoa natural por conta própria divulga suas informações na internet e um site de compras decide usar esses dados para pesquisa de mercado e formar um perfil de clientela, esse poderá fazer sem embargos. Contudo, a partir do momento em que esses dados não estão mais manifestadamente à disposição livre na rede, será indispensável a obtenção de consentimento. 
4.2.2 Do Tratamento de Dados Pessoais Sensíveis
Antes de ser abordado a regulamentação do tratamento de dados pessoais sensíveis, é preciso entender o que significa essa expressão. Dado pessoal sensível, de acordo com o art. 5º da LGPD:
É todo dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural. 
Segundo a Lei, o tratamento de dados pessoais sensíveis só poderá ser realizado em algumas hipóteses, entre as quais se encontram: o consentimento de forma destacada do titular dos dados e para finalidades específicas; e, quando não consentido pelo titular, para o cumprimento das obrigações legaisdo controlados, realização de políticas públicas, estudos realizados por órgãos de pesquisa, tutela da saúde, proteção à vida e preservação da integridade física, entre outras. Se o tratamento de dados dessa espécie se utilizar da anonimização, os dados não serão tidos como pessoais, pois, não haveria, nesse caso, um titular exposto.
Nesse entendimento, para recapitular o que foi visto até aqui, se, por exemplo, uma empresa que armazena dados pessoais sensíveis decide compartilhar sua base de dados com outras empresas a fim de promover vantagens econômicas para si e para outrem poderá ser alvo de vedação por parte de autoridade nacional e estará sujeita às sanções estabelecidas pela Lei no art. 52.
II - multa simples, de até 2% (dois por cento) do faturamento da pessoa jurídica de direito privado, grupo ou conglomerado no Brasil no seu último exercício, excluídos os tributos, limitada, no total, a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) por infração;
III - multa diária, observado o limite total a que se refere o inciso II. 
Em fator disso, afirma-se que há efetividade, de igual modo, para as demais situações anteriormente citadas, porém, quando se trata de dados sensíveis é dado maior atenção com a intenção da contínua proteção dos direitos fundamentais do homem guaridos pela Constituição Federal de 1988, sobretudo pelo caput do art. 5º, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”. 
4.2.3 Do Término do Tratamento de Dados
Nesse contexto, cabe averiguar uma das grandes questões quando se versa sobre dados armazenados virtualmente: o que acontece com os dados quando o titular vem a óbito? A Lei não entra especificamente nesse aspecto, embora traga em seu texto conteúdo sobre o encerramento do tratamento de dados e da eliminação desses dados. Na LGPD são expressas quatro formas de cessação do tratamento de dados, sendo que uma delas – a que o próprio titular revoga o consentimento outrora dado – já foi discorrido neste trabalho.
 Perante do que foi exposto, as demais maneiras se dão quando: a finalidade para a qual os dados foram tratados seja alcançada, inexistindo a necessidade de continuidade de tratamento de dados; quando é findado o período pré-estabelecido pelo contrato de concessão por parte do titular; e quando for determinado pela autoridade nacional.
Seguindo nesse ratio, os dados pessoais só serão eliminados após a finalização do tratamento de dados, entretanto há possibilidade de conservação dos dados em algumas hipóteses, como ditadas no art. 16: 
I - cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador; 
II - estudo por órgão de pesquisa, garantida, sempre que possível, a anonimização dos dados pessoais; 
III - transferência a terceiro, desde que respeitados os requisitos de tratamento de dados dispostos nesta Lei; ou 
IV - uso exclusivo do controlador, vedado seu acesso por terceiro, e desde que anonimizados os dados. 
A respeito do questionamento levantado, o art. 6º do Código Civil declara que a existência da pessoa natural cessa com a morte. Segundo as palavras de Farias (2018, p. 422) “a morte, portanto, é um fenômeno inexorável que completa a existência humana”. Findando a vida, automaticamente, é extinta a personalidade do indivíduo. Diante disso, assim como todos os outros direitos de personalidade, a privacidade desvanece-se com o fim da pessoa física. Dessa forma, tomando isso como base, os dados da pessoa ficam à disposição da agência controladora de dados.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Este trabalho consistiu em um primeiro estudo a respeito do regime jurídico encetado pela Lei n° 13.709/2018 e a destinação protetiva de dados pessoais no ambiente da internet. Diante do que foi discutido, desde a construção do conceito de privacidade, passando pela sua evolução, chegando ao conceito atual e a aplicação das normas referentes a esse direito fundamental, pode-se observar a ampliação do sistema jurídico brasileiro, aderindo em seu ordenamento matérias a respeito da grande revolução virtual. 
	Por hora, foi possível notar o grande passo dado com a promulgação da lei do Marco Civil da Internet e ampliado pela Lei n° 13.709/2018, na medida em que a primeira norma não contemplou políticas protetivas aos dados da pessoa física quando em ambiente virtual. 
	Nesse sentido, há que se reconhecer avanço relevante no tratamento dos dados virtuais dos usuários da internet no Brasil, posto haver a Lei nº 13.709/2018 estabelecido critérios objetivos para o tratamento de dados pessoais, com especial enfoque aos dados pessoais sensíveis sem olvidar da prescrição desta tutela nos casos apontados pela norma.
Por fim, abriu-se espaço para a criação da LGPD a qual foi um grande avanço no âmbito da privacidade civil no campo virtual. Feito a análise da lei no que concerne ao tema deste artigo, constatou-se que a Lei trouxe melhorias para as relações entre pessoas naturais e pessoas jurídicas, protegendo, indubitavelmente, o direito de privacidade da pessoa humana. 
 
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