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1. Introdução ao Manejo Florestal 1.1. Conceitos, Objetivos e Alternativas do Manejo Florestal 1.1.1. Definição de Manejo Florestal Em sentido amplo, a definição de manejo florestal integra os fatores de ordem biológica, social, econômica e ambiental que afetam as decisões de manejo de uma floresta. Num outro enfoque, o manejo florestal engloba todas as decisões necessárias para conduzir uma floresta no sentido de continuidade ou perpetuidade de produção. Logo, o manejo em regime de rendimento sustentado de uma floresta tem várias dimensões: a biológica, a econômica, a social, a ecológica, a de produção física da matéria-prima madeira e outras. Historicamente, manejo florestal tem lidado com a silvicultura e com o manejo biológico das florestas. No entanto, a definição de manejo florestal é multidisciplinar, envolvendo as disciplinas: Manejo de Bacias Hidrográficas, Dendrometria, Economia Florestal, Política e Legislação Florestal, Administração Florestal, Ecologia Florestal, Proteção Florestal, Solos e Nutrição Florestal, Exploração e Transporte Florestal, Tecnologia Florestal, Manejo de Áreas Silvestres, entre outras. 1.1.2. Objetivos do Manejo Florestal Os objetivos desejados do manejo florestal são quase sempre os bens e serviços ou os produtos e benefícios diretos e indiretos que a floresta é capaz de produzir. Estes bens e serviços podem ser: madeira, energia, sementes, fibras, drogas, flores, plantas, beleza cênica, recreação, ar, água, fauna, etc. Todavia, os objetivos são uma função de grupos de usuários, mas uma floresta será não manejada se seus produtos forem inúteis para a sociedade. Finalmente, mudanças freqüentes nos objetivos são maléficas posto que podem levar a intercepções do manejo. 1.1.3. Alternativas de Manejo Florestal Alternativas de manejo podem ser visualizadas como as ações que o manejador pode tomar para atingir os objetivos do manejo. Estas são as ações que são tomadas no campo e que propiciam a produção dos produtos florestais. As alternativas são definidas pelas possibilidades e potencialidades de produção física e as ações podem incluir: Cortes: Raso, Desbastes ou Cortes Parciais, Cortes de Cobertura. Regeneração: Natural ou Artificial (Plantio). Reforma: Preparo do sítio, escolha da espécie, procedência, clone, densidade, espaçamento, tratamentos culturais e silviculturais, medidas de proteção. Construção: Edificações, galpões, estradas (colheitas de madeira, acesso para recreação, valor econômico, caça, estabilidade do solo, impacto ambiental sobre os meios físicos e bióticos). 1.2. História e Desenvolvimento do Manejo Florestal Historicamente, o manejo florestal tem tratado basicamente dos aspectos silviculturais e biológicos da manipulação das florestas. Atualmente, o manejo florestal envolve não só a parte de regulação e ordenamento florestal, mas também o estudo e aplicação de técnicas analíticas para ajudas na escolha das alternativas de manejo que melhor contribuam para os objetivos da organização. Existem vários aspectos que devem ser discutidos a respeito dos componentes da definição de manejo florestal apresentada acima. Por exemplo, no caso de objetivos, significa que existe um ponto no espaço e no tempo, que a organização florestal deseja alcançar. Este ponto desejado corresponde aos bens e serviços que a floresta pode produzir. Estes produtos da floresta podem ser materiais como, por exemplo, a madeira, a borracha, frutas, caça, resinas, cortiça, sementes, etc. ou imateriais como beleza cênica, proteção ambiental, recreação, etc. Este ponto desejado é que faz valer a pena manejar as florestas, as quais não seriam manejadas se os seus produtos não fossem úteis para a sociedade. Outro aspecto ainda sobre os objetivos é que eles podem ser identificados ou não pela organização. Freqüentemente, a identificação de objetivos no manejo florestal é muito difícil, pois os mesmos mudam para cada grupo de usuário. Donos de serraria desejam madeira, caçadores desejam animais para serem caçados, turistas querem áreas de beleza cênica para apreciar, etc. Portanto, os objetivos podem mudar dependendo do tipo de usuário da floresta, do grupo ou da mistura de grupos de usuários que se tornam dominantes em uma determinada área. Essas mudanças podem Ter efeito benéfico no sentido de que fazem com que o manejo florestal atenda aos anseios da sociedade, mas pode Ter um lado negativo no sentido de que mudanças muito freqüentes podem destruir a continuidade do manejo florestal aplicado às áreas. Isto acontece principalmente no caso de florestas onde o processo de produção é lento e onde é necessário um longo período de tempo para modificá-lo. A identificação dos objetivos em uma organização florestal pode ser o resultado de um estudo cuidadoso ou pode ser fruto de uma decisão passional ou intuitiva dos seus dirigentes. Várias organizações públicas e privadas gastam consideráveis somas de dinheiro e tempo no desenvolvimento de planos de manejo e definições de objetivos. Os objetivos normalmente são determinados pelo proprietário da floresta, portanto, é possível identificar os objetivos observando-se os tipos ou classes de proprietários existentes na sociedade. O IBAMA, por exemplo, é responsável pelas florestas nacionais onde o objetivo é o uso múltiplo. Alguns proprietários possuem florestas com o objetivo de produzir madeira para energia ou papel e celulose ou madeira para serraria, etc. Os pequenos produtores rurais, que são em número considerável, usam a floresta para a obtenção de madeira para usos diversos. Algumas pessoas moram nas cidades e possuem pequenas propriedades rurais com áreas de florestas as quais são utilizadas como lazer, recreação, ou simplesmente preservadas para fins de valorização da propriedade. Conclui-se, portanto que os objetivos do manejo florestal são na realidade os objetivos do proprietário. Considera-se um objetivo correto no sentido de que um objetivo elevado foi identificado e tenha sido utilizado algum critério para julgar sua correção. Nesse caso, o proprietário terá de abrir mão de certos objetivos para obter os outros. Alguns objetivos são mutuamente exclusivos tais como manter uma área de preservação e produzir madeira, enquanto que outros são compatíveis, tais como produzir sementes e mel em um mesmo povoamento de Eucalyptus. No manejo florestal moderno, objetivos implicam uma mistura de vários objetivos de manejo, seja este fato explícito ou não. Mas existe uma mistura correta de objetivos, pois a mesma vai depender da importância relativa atribuída a cada um pelo proprietário. Atribuir valor a cada objetivo é um dos motivos ou razões para o tópico de estudo de valores e avaliação florestal. As alternativas mencionadas na definição de manejo florestal podem ser consideradas como os vários cursos de ação que o proprietário da organização pode seguir para alcançar os objetivos do manejo. Por exemplo, a operação de corte em uma floresta é uma das ferramentas mais utilizadas para auxiliar o manejador a atingir os objetivos da organização. Os diferentes tipos de cortes existentes têm diferentes efeitos sobre o povoamento residual e, portanto sobre os produtos obtidos. Então, o tipo de corte e a época em que são executados no povoamento são alternativas de manejo sobre as quais é necessário se decidir. As técnicas de reflorestamento são um segundo conjunto de alternativas sobre as quais é necessário se tomar decisão e escolher para se atingir os objetivos do manejo florestal. Escolhas devem ser feitas sobre o uso de regeneração natural ou artificial, métodosde preparo do solo, adubação, etc. As construções e serviços de infraestrutura tais como pontes, estradas, aceiros, açudes, barracões, etc., também afetam os objetivos da organização florestal. Então, as alternativas de manejo podem ser vistas como um conjunto de possibilidades de produção física da floresta. Este conjunto de possibilidades de produção física da floresta é limitado ou determinado pelos aspectos biológicos básicos da floresta sendo manejada. Portanto, as alternativas surgem e são definidas a partir de conhecimentos de matérias já estudadas, tais como silvicultura, proteção florestal, dendrometria, inventário florestal, economia florestal, ecologia florestal, ciências da computação, etc. As técnicas analíticas são também parte da definição de manejo florestal. Várias delas são casos especiais de técnicas analíticas já conhecidas e adaptadas para resolver problemas florestais, outras foram desenvolvidas especificamente na área florestal. Essas técnicas analíticas fornecem condições para se escolher entre os vários cursos de ação existentes para se atingir os objetivos da organização. Elas mostram o que acontecerá, caso as proteções e condições assumidas ocorram. Entretanto, o mundo real apresenta nuances, riscos e incertezas e o resultado final obtido nem sempre é o esperado. Assim, os resultados das técnicas analíticas devem ser cuidadosamente analisados antes de serem considerados como respostas aos problemas. Até o presente momento temos discutido o que é manejo florestal, objetivos e alternativas. Tudo isto pode ser colocado junto ou representado em um modelo simples de tomada de decisão em manejo florestal (Figura 1). Gerente Objetivos Alternativas Restrições Decisão Escolha Alternativa Permanecer como estar Obter dados Implementar Implementar Figura 1 - Modelo simples de tomada de decisão em manejo florestal O gerente está no topo do modelo e é a pessoa que decidirá qual será a alternativa escolhida. Ele pode decidir sozinho ou pode ter assessores que o ajudarão na análise das alternativas. Em seguida temos os objetivos ou metas a serem alcançadas pela organização e as alternativas para que os objetivos sejam atingidos. Essas alternativas são os diferentes cursos de ação que podem ser empreendidos pela organização. Existem barreiras para se atingir os objetivos, representadas no modelo pelas restrições, ou seja, aquilo que se deve abrir mão ou que impede a organização de atingir os seus objetivos. Elas podem ser físicas, econômicas, técnicas, sociais, etc. Uma vez que os objetivos tenham sido identificados, as alternativas listadas, as restrições conhecidas, parte-se para a análise a fim de se tomar decisão e escolher uma das alternativas, não mudar o que existe, ou então buscar mais informações para recomeçar o processo de tomada de decisão. A escolha da alternativa indica que um curso de ação foi definido e o próximo passo será a implementação do mesmo. 1.2.1. Histórico 1122 a.C. na China : O imperador contratou um silvicultor cuja principal tarefa era fazer desbaste, a poda e limpeza dos povoamentos florestais. Uma comissão regulava o corte de madeira e permitia o uso somente para determinados fins. 23 – 79 d.C.: Segundo Plinius, os romanos iniciaram o planejamento da utilização das florestas e já conheciam o regime de alto fuste e o de talhadia. No regime de talhadia era usada a rotação de 8 a 11 anos. Porém devido à decadência do império romano, essas iniciativas de um ordenamento não chegaram a se desenvolver. 742 – 814: O sistema silvicultural de talhadia já era conhecido desde a época de Carlos Magnus. Período Feudal – as florestas eram propriedades dos Lordes Feudais para caça. Havia guardas florestais que protegiam estas propriedades contra a caça não autorizada. O manejo florestal para produção sustentada começou na Europa entre os séculos XIII e XVI. Na Alemanha, já no século XIV foram realizadas práticas de rendimento sustentado mediante divisão da área (dividiu-se a área total em tantas parcelas iguais quanto anos tivesse a rotação). Anualmente era cortada uma destas parcelas. Na França, as leis de 1280, 1346 e principalmente 1376 (incentivadas em primeiro lugar pelo temor da falta de madeira para a construção naval), introduziram uma administração florestal com o principal objetivo de inventariar as florestas e fiscalizar os cortes, a fim de manter as mesmas em bom estado. Determinava-se o tamanho e a seqüência das áreas a serem cortadas nas florestas de alto fuste e foram tomadas medidas rigorosas para garantir que a regeneração natural fosse suficiente. Infelizmente este admirável desenvolvimento florestal caiu em decadência na Segunda metade do século XVI. Em 1586, na França, fez-se um estudo para ver quanto de madeira poderia-se vender anualmente das florestas nobres. Em 1614 novas medidas governamentais francesas foram tomadas. Guerra 1618-1648: Durante este período houve cortes excessivos nas florestas provocando uma desorganização dos cortes das florestas na Europa Central e um descuido das autoridades florestais. O restabelecimento da ordem na área florestal foi um processo lento e deu origem ao Manejo Florestal Científico Moderno, cabendo aos alemães o pioneirismo. Em 1668, Colbert elaborou um plano de trabalho para as florestas nobres, incentivando o desenvolvimento do manejo racional das florestas na França. No século XVIII a regulação florestal surgiu na Alemanha por causa da escassez de madeira, resultante de supercortes, terras agrícolas e pastagens. Evitava-se a pastagem até que os povoamentos ultrapassassem a idade jovem, isto é, que não fossem alcançados pelos animais domésticos. Durante este período, o corte era realizado em outras áreas. Assim se desenvolveram os povoamentos inequiâneos. Começou-se a regular o corte com base no volume em vez da área; já se calculava o volume normal de uma floresta. Foram escritos vários manuais sobre ordenamento florestal. Na última metade do século XVIII, os métodos primitivos do manejo florestal foram substituídos pelos métodos científicos, nos Estados da Alemanha. Os métodos de regulação por área e por volume foram extensivamente aplicados. Em 1789 foi fundada por G.L. Hartig e H.V. Cotta, a primeira Escola de Floresta na Alemanha. Em 1804 Hartig formulou a idéia básica do manejo sustentado: manejar as florestas de maneira que os descendentes possam obter dela pelo menos os mesmos benefícios que a geração vigente. Hartig e Cotta desenvolveram sistemas detalhados de manejo sustentado. Durante o século XIX foi formulado o famoso “modelo da floresta normal” (Hundeshagen e Heyer). Este modelo serve como base da maioria dos métodos de regulação do corte. Ainda neste século, introduziu-se no manejo, o cálculo com juros compostos (Pressler) e foram realizados muitos estudos da produção, com montagem de várias tabelas de volume e produção. O método de Controle ou Método de Gurnaud foi apresentado na Exposição Universal em 1878 em Paris. Este método estabelece a regulagem da produção. Ele foi ampliado por Biolley, na Suiça, denominando-o “Sistema de Inventário Contínuo”. O método de controle é baseado no corte admissível sobre o crescimento atual, numa floresta de diferentes classes de tamanho. Va = Vp + Vc – Vo e Vr = Va – Vi, onde Va, Vp, Vc, Vo, Vr e Vi = volumes aparente, presente, de corte, original, real e interno, respectivamente. Em 1898 o francês De Liocuort conceituou a distribuição do número de árvores por hectare (N/ha) por classe de diâmetro.De Liocourt mostrou que a razão entre a razão entre N/ha em classes diamétricas sucessivas segue uma série geométrica decrescente (Lei de De Liocuort). Em 1933, Meyer introduziu o termo floresta balanceada para expressar a estrutura de povoamentos ineqüiâneos. Floresta balanceada é aquela onde o número de árvores em classes diamétricas sucessivas decresce numa progressão geométrica constante. Este conceito é atualmente utilizado no manejo de florestas naturais tropicais. Parte do século XX é marcada pela estagnação do desenvolvimento causa principalmente pela luta violenta mas inútil entre a “escola de renda líquida do terreno” (observa como custo, os juros sobre o valor do povoamento) e a “escola de renda líquida da floresta” (não inclui os juros sobre o valor dos povoamentos no cálculo de custos). Depois da Segunda Guerra Mundial o desenvolvimento da pesquisa operacional (programação linear, programação dinâmica, simulação, etc.), permitiram soluções mais realísticas para problemas muitos mais complexos do que as técnicas clássicas do manejo florestal.
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