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0 UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO SANDRA MOREIRA LEWINSKI O DESEMPENHO DE EQUIPES EM JOGOS EMPRESARIAIS: UM ESTUDO SOBRE A COESÃO E MATURIDADE DE EQUIPES DISSERTAÇÃO PONTA GROSSA 2011 1 SANDRA MOREIRA LEWINSKI O DESEMPENHO DE EQUIPES EM JOGOS EMPRESARIAIS: UM ESTUDO SOBRE A COESÃO E MATURIDADE DE EQUIPES Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Área de Concentração: Conhecimento e Inovação. Orientador: Prof. Dr. Luiz Alberto Pilatti PONTA GROSSA 2011 2 3 4 Dedico este trabalho à minha família, pelos momentos de ausência. Em especial, a meu esposo Adelar Pedro Lewinski, pelo incentivo, e aos docentes do Curso de Administração. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que contribuíram para o desenvolvimento e para consecução deste trabalho. Nestes dois anos conheci e convivi com diversas pessoas que acrescentaram muito na minha formação profissional e pessoal. Agradeço... Primeiramente, a Deus por ser o amparo em nossa caminhada e por colocar pessoas especiais em meu caminho. Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Luiz Alberto Pilatti, pelas valiosas sugestões, metódicas e pacienciosas orientações para o meu crescimento e por confiar no meu potencial. Ao meu colega Robson Luiz Montanari, pelas sugestões, colaborações e correções neste trabalho. Carinhosamente às minhas amigas Nádia T. M. Franco e Kione Bordignon pelo incentivo, apoio emocional e psicológico. Vocês ensinaram-me o valor da amizade, da lealdade, do controle e da alegria nas conquistas. À Secretaria e ao Programa de Pós-Graduação, pela oportunidade de execução deste trabalho. Em especial, ao prof. Dr. Kazuo Hatakeyama. Aos professores da banca por disponibilizar tempo para contribuir com meu trabalho. À minha família, cujo apoio foi fundamental para vencer este desafio. Todos me ensinaram que o conhecimento e crescimento são importantes, mas só valem quando acompanhados de valores como honestidade, dignidade, respeito, coragem e determinação constante. Ao meu querido pai que, mesmo ausente, vive em minhas lembranças e me dá forças necessárias para vencer as dificuldades. À Unisep, representada pelas direções, coordenadores e professores, pela compreensão em momentos de ausência e incentivo constante. Certamente estes parágrafos não irão atender a todas as pessoas que fizeram parte dessa importante fase de minha vida. Portanto, desde já peço desculpas àquelas que não estão presentes entre essas palavras, mas elas podem estar certas que fazem parte do meu pensamento e de minha gratidão. 6 “Se plantarmos para um ano, devemos plantar cereais. Se plantarmos para uma década, devemos plantar árvores. Se plantarmos para toda a vida, devemos treinar e educar o homem." Kwantsu, séc. III a.C. 7 RESUMO LEWINSKI, Sandra M. O desempenho de equipes em jogos empresariais: estudo sobre coesão e maturidade de equipes. 2011. 117 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2011. A formação de equipes de trabalho é fato crescente no cenário organizacional visando ao maior desempenho e competitividade através da união de conhecimentos, experiências e criatividade. Diante deste fato, o estudo do comportamento das equipes, quanto à integração social e da tarefa, chamadas de coesão, e da maturidade destas, sobre o desempenho, faz-se necessário para melhor geri-las. O objetivo do presente estudo foi analisar os efeitos da coesão e maturidade das equipes em relação ao desempenho empresarial através do uso de software simulador de jogos de empresas. O estudo apresenta como objetivo específico a adaptação de instrumento coesivo de equipe válido e confiável da área do esporte norte-americano para o meio empresarial e esportivo brasileiro. A primeira versão do instrumento adaptado foi aplicado em um teste piloto com 45 participantes e demonstrou uma alta consistência interna e uma baixa variação entre as 22 questões que compõem o instrumento. Após o teste-piloto o instrumento foi submetido a um juiz para definir a versão para teste e reteste. O estudo completo contemplou 173 membros de diferentes equipes. Após as duas aplicações de teste e reteste, os resultados foram tabulados e, utilizando-se das orientações de Cronbach (2004), foi calculado o coeficiente α (alfa) de Cronbach, que apresenta uma estimativa de confiabilidade sobre o instrumento. O coeficiente α encontrado para o instrumento global foi de α=0,9599 no teste, e de α=0,9648 no reteste. Os resultados apontam a consistência interna dos 22 itens de coesão de equipe como muito alta, para os diversos tipos de equipes estudadas no meio empresarial, acadêmico e esportivo brasileiro. Na segunda parte da pesquisa, com o objetivo mensurar a coesão, maturidade e desempenho, foram realizados estudos envolvendo 78 equipes de acadêmicos participantes da disciplina de jogos e/ou simulações de oito Instituições de Ensino Superior, localizadas no estado do Paraná, que utilizam o mesmo simulador empresarial, representadas por 9 turmas compondo amostra de 78 equipes. O método utilizado foi o indutivo, de natureza aplicada, e a metodologia se identifica como exploratória, quantitativa e estudo de campo. A média geral da coesão foi alta 9,02 na escala de 1 a 11 pontos e a média geral da maturidade também foi alta 4,22 na escala de 1 a 5 pontos, apresentando como resultado que a maioria das equipes possuem coesão alta e maturidade elevada. O desempenho das equipes nos jogos de empresa apresenta que 70% das equipes com alta coesão e maturidade elevada classificadas como equipes de alta performance atingiram desempenho entre 70% e 100% de aproveitamento. As equipes classificadas como reais ou verdadeiras obtiveram desempenho intermediário com 40,7% de desempenho entre 70% e 100%; e as equipes classificadas como potenciais que possuem maturidade intermediária, somente 21,42% delas atingiram o mesmo desempenho. O estudo concluiu que as equipes com maior coesão e maior maturidade possuem possibilidades maiores de desempenho alto. Palavras-chave: Coesão. Maturidade. Desempenho. Jogos de Empresas. 8 ABSTRACT Lewinski, Sandra M. The team performance in business games: a study of cohesion and maturity of the teams. 2011. 117 p. Dissertation (Masters in Industrial Engineering) – Graduation Program in Technology, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2011. The formation of work teams is a growing fact in the organizational scenery aiming at improving performance and competitiveness through the union of knowledge, experience and creativity. Considering that fact to study the behavior of teams, in relation to social integration and task, called cohesion, and maturity of those on the performance, it is necessary to better manage them. The aim of this studywas to analyze the effects of cohesion and maturity of the teams in relation to business performance through the use of software simulator business games. The study presents specific objective to the adjustment of cohesive tool of teamwork which is reliable and valid in the area of the American sport to the business and sporting Brazilian setting. The first version of the instrument was applied to a pilot test with 45 participants who demonstrated high internal consistency and a low variation among the 22 issues that comprise the instrument. After the pilot test, the instrument was submitted to a judge to set the version to test and retest. The full study included 173 members from different teams. After the two applications of test and retest the results were tabulated by using the guidelines of Cronbach (2004); the coefficient α (alpha) Cronbach was calculated, which gives an estimate of reliability on the instrument. The coefficient α found for the overall instrument was α = 0.9599 in the test, α = 0.9648 and retest. The results show the internal consistency of the 22 items of team cohesiveness as very high. As for the various types of teams studied in business and sporting Brazilian setting. In the second part of the research aiming at measuring cohesion, maturity and performance, it was carried out a second study involving 78 teams participating in the academic subject of games and / or simulations of eight higher education institutions located in the state of Paraná, using the same simulator business, represented by nine groups composing the sample of 78 teams. The method used was the inductive, nature and classification of the methodology applied as exploratory, quantitative and field study. The average cohesion was high 9.02 on scale from 1 to 11 points and the average maturity was also high 4.22 on a scale of 1 to 5 points, with the result showing that most teams have high cohesion and high maturity. The performances of the teams in the firm games show that 70% of the teams with high cohesion and maturity are classified as high-performance teams because they achieved performance between 70% and 100% yield. Teams classified as real or true obtained intermediate performance with 40.7% in performance between 70% and 100% and the teams that are classified as potential have intermediate maturity only 21.42% achieved the same performance. The study found that teams with greater cohesion and greater maturities have higher odds of high performance. Keywords: Cohesion. Maturity. Performance. Business Games. ´ 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Comparação entre Grupos de Trabalho e Equipes de Trabalho .............. 21 Figura 2 - Principais componentes do funcionamento do grupo ............................... 23 Figura 3 - Liderança situacional e a maturidade da equipe ...................................... 40 Figura 4 - Aprendizados obtidos em jogos de empresas.......................................... 48 Figura 5 - Superposição das Operações Empresariais ............................................ 52 Figura 6 - Diagrama das variáveis e instrumentos utilizados ................................... 57 Figura 7 - Diagrama de Adaptação do Instrumento .................................................. 59 Figura 8 - Exemplo de pergunta do instrumento com escala Likert de 11 pontos .... 61 Figura 9 – Equação Alfa de Cronbach...................................................................... 64 Figura 10 – Correlação de Pearson (r) .................................................................... 67 Figura 11 - Exemplo de pergunta do instrumento com escala Likert de 5 pontos .... 68 Figura 12 - Quadro de Pessoal ............................................................................... 70 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Dimensão Qualidade do Trabalho em Equipe ......................................... 31 Quadro 2 - Dimensão Atração de Grupo ................................................................... 32 Quadro 3 - Dimensão Unidade de Propósito ............................................................. 33 Quadro 4 - Dimensão Papéis Valorizados................................................................. 34 Quadro 5 - Estudos sobre coesão de equipe x desempenho .................................... 35 Quadro 6 - Estudos sobre coesão de equipe x desempenho nos jogos de empresas .................................................................................................................................. 36 Quadro 7 - Estilos de liderança apropriado aos vários níveis de maturidade ............ 39 Quadro 8 - Primeiros jogos de empresas utilizados no ensino de graduação e pós- graduação no Brasil .................................................................................................. 43 Quadro 9 - Objetivos educacionais nos diferentes programas com jogos de empresa .................................................................................................................................. 44 Quadro 10 - Pontos fortes e fracos do uso de jogos de empresa ............................. 49 Quadro 11 - As quatro áreas da administração e suas atividades ............................ 51 Quadro 12 – Adaptações das questões do MSCI ..................................................... 60 Quadro 13 - Conceitos dos indicadores de desempenho empresarial ...................... 74 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Codificação das IES/turmas e caracterização da população pesquisada 58 Tabela 2 - Omissão de variáveis ............................................................................... 64 Tabela 3 - Resultado do alfa de Cronbach do instrumento ....................................... 66 Tabela 4 - Confiabilidade teste e reteste do instrumento .......................................... 67 Tabela 5 - Exemplo de tabulação da Escala de Maturidade das Equipes. ................ 73 Tabela 6 - Formação dos grupos ou equipes ............................................................ 76 Tabela 7 - Atividades desenvolvidas pelas equipes .................................................. 78 Tabela 8 - Mensuração da coesão nas quatro dimensões do MSCI ......................... 81 Tabela 9 - Comparativo entre as turmas de acadêmicos .......................................... 85 Tabela 10 - Maturidade e classificação de equipes .................................................. 87 Tabela 11 – Ranking Geral – Indicadores de desempenho e performance de equipes .................................................................................................................................. 91 Tabela 12 - Coesão x Maturidade x Desempenho das equipes ................................ 95 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ....................................................................................... 13 1.2 PROBLEMA E HIPÓTESE DE PESQUISA ......................................................... 15 1.2.1 Problema de Pesquisa ..................................................................................... 15 1.2.2 Hipótese de Pesquisa ....................................................................................... 15 1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 16 1.4 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 16 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................ 17 2 MARCO TEÓRICO REFERENCIAL ...................................................................... 19 2.1EQUIPES ............................................................................................................ 19 2.1.1 Conceitos de Equipes e Grupos ....................................................................... 19 2.1.2 Diferenças entre Grupos e Equipes.................................................................. 20 2.1.3 Transformação de Grupos em Equipes ........................................................... 22 2.1.4 Classificação dos Grupos e Equipes ................................................................ 25 2.1.5 Coesão de Equipes .......................................................................................... 27 2.1.6 Coesão de Equipes x Desempenho ................................................................. 34 2.1.7 Maturidade ...................................................................................................... 37 2.2 JOGOS DE EMPRESA ...................................................................................... 41 2.2.1 Surgimento dos Jogos de Empresa.................................................................. 42 2.2.2 Objetivos dos Jogos de Empresa ..................................................................... 43 2.2.3 Jogo de Empresa como Ferramenta Tecnológica no Ensino e Aprendizagem 45 2.2.4 Processo da Simulação em Jogos de Empresas ............................................. 50 2.2.5 Desempenho nos Jogos de Empresa............................................................... 53 3 MÉTODO E METODOLOGIA. ............................................................................... 55 3.1 ETAPAS DA PESQUISA ..................................................................................... 55 3.1.1 Elaboração do projeto inicial ............................................................................ 55 3.1.2 Exploração preliminar ....................................................................................... 56 3.1.3 Formulação do projeto de pesquisa ................................................................. 57 3.1.3.1 Delimitação da amostra ................................................................................ 57 3.1.4 Pré-teste dos instrumentos de pesquisa .......................................................... 58 3.1.4.1 Entrevista ...................................................................................................... 58 3.1.4.2 Adaptação do instrumento multidimensional sport cohesion instrument (MSCI) ....................................................................................................................... 59 3.1.4.3 Escala de maturidade das equipes................................................................ 68 3.1.4.4 Jogos de empresa ........................................................................................ 69 3.1.4.5 Estudo piloto ................................................................................................. 71 3.1.4 Coleta de dados ............................................................................................... 71 13 3.1.6 Análise do material ........................................................................................... 72 3.1.7 Redação do relatório ........................................................................................ 75 4 RESULTADOS E DISSURSÕES. .......................................................................... 76 4.1 MAPEAMENTO DE EQUIPES ........................................................................... 76 4.2 MENSURAÇÃO DA COESÃO DE EQUIPES ..................................................... 81 4.3 MATURIDADE DE EQUIPES ............................................................................. 86 4.4 DESEMPENHO DAS EQUIPES ......................................................................... 89 4.5 OS EFEITOS DA COESÃO E MATURIDADE NO DESEMPENHO DAS EQUIPES ................................................................................................................. 94 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................................ 98 5.1 ADAPTAÇÃO DO INSTRUMENTO DE PESQUISA MSCI ................................. 98 5.2 COESÃO, MATURIDADE E DESEMPENHO DAS EQUIPES ........................... 99 5.3 SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS .................................................... 100 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 102 APÊNDICE A – ROTEIRO DE PESQUISA ............................................................. 108 ANEXO A – ADAPTAÇÃO DO INSTRUMENTO DE PESQUISA MSCI .............. 110 ANEXO B – ESCALA DE MATURIDADE DAS EQUIPES ................................... 113 ANEXO C – PARECER DO JUIZ SOBRE ADAPTAÇÃO DO INSTRUMENTO .. 116 13 1 INTRODUÇÃO As organizações modernas visando à manutenção da competitividade no mercado buscam desenvolver seus recursos humanos e estruturam seus trabalhos com base na coletividade. Bejarano (2006, p. 14) afirma que “as empresas estão buscando cada vez mais investir em equipes como parte da sua estrutura organizacional”. São inúmeras as vantagens de trabalhar em equipe. Conforme Marras (2009, p. 315), “quando os indivíduos trabalham em conjunto e compartilham responsabilidades obtém-se como resultado indivíduos comprometidos e envolvidos na solução de problemas” Neste sentido, faz-se necessário desenvolver ferramentas e implantar modelos de identificação dos comportamentos grupais para melhor gerenciá-los, como também prepará-los. Assim, entender quais os efeitos da coesão e maturidade no desempenho das equipes é de extrema relevância para os resultados organizacionais. 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO O trabalho em equipe é um tema complexo, pois envolve estudos do comportamento humano que visam a identificar as formações, relações e interações dos membros, papel das lideranças, as vantagens e os cuidados desta prática. Para Bejarano (2006), as vantagens são muitas: as equipes podem contribuir com resultados organizacionais, aumentando a produtividade e ajudando a reduzir custos através da união de experiências profissionais, conhecimento e criatividades dos membros. No ambiente organizacional, os recursos humanos são fatores de competitividade, diferentemente de outros recursos que podem ser comprados e copiados. Os seres humanos são elementos com inteligência, responsáveis pela criatividade e inovação dos processos, são seres pensantes e com capacidade de desenvolvimento. Robbins (2002) afirma que o uso de equipes potencializará a organização para atingir melhores resultados, destacando o termo utilizado 14 potencial, como algo possível, no entanto, não garantido que obterá sinergia em qualquer equipe. Para obter a sinergia nas equipes, os seus gestores ou formadores devem desenvolver a coesão e maturidade dos membros. Para Hersey e Blanchard (1986), a maturidade pode ser compreendida como a capacidade e a disposição das pessoas em assumir responsabilidades. Coesão é definida como um processo dinâmico que reflete a intenção do grupo em unir-se e manter-se unido na busca de metas e objetivos, envolvendo o social que reflete a atração interpessoal entre os integrantes do grupo (CARRON ET AL., 1985). Com base nesta afirmação, surge a intenção de pesquisa focando-a para a área de gestão empresarial, seguindo os mesmos princípios de equipe x competição x resultado. Neste caso, resultados contábil/financeiro, utilizando o método de ensino jogos de empresas. O jogo de empresa funciona como um laboratório para simular e testar decisões empresariais possibilitando análise das consequências, ou seja, os efeitos das decisões no mercado organizacional.O uso deste método oportuniza aos participantes a administração de uma empresa fictícia, sendo levados a estudar as quatro principais áreas de uma empresa, que são: produção, marketing, recursos humanos e finanças. Bernard (2008) salienta que o jogo proporciona experiência na gestão empresarial e em processo de tomada de decisão, proporcionando aos participantes uma visão sistêmica, estudando e discutindo os impactos causados por cada setor nos resultados. Os jogos de empresa, de uma maneira geral, não se aprofundam nos aspectos humanos, e as decisões da área de recursos humanos são direcionadas para a necessidade de mão de obra, custos de pessoal, níveis de treinamento e, superficialmente, para a motivação dos empregados. Esta ferramenta de ensino não engloba, portanto, questões sociológicas, direcionando os estudos para aspectos produtivistas. A necessidade de aprofundamento dos temas coesão de equipes, maturidade de equipes e jogos de empresas, estimulados pela atual competitividade organizacional que busca incessantemente maximizar os desempenhos através do trabalho coletivo, é o foco deste trabalho. 15 Por isso, formatou-se o presente estudo com o objetivo principal de analisar os efeitos da coesão e maturidade em relação ao desempenho nos jogos de empresa, como também, adaptar um instrumento de pesquisa norte-americano, Multidimensional Sport Cohesion Instrument (MSCI), utilizado para mensurar a coesão de equipes na área esportiva, para a realidade empresarial e esportiva no Brasil. 1.2 PROBLEMA E HIPÓTESE DE PESQUISA 1.2.1 Problema de Pesquisa Os jogos de empresas são atividades lúdicas que visam a ensinar técnicas e também desenvolver habilidades de relacionamento entre os acadêmicos, exigindo trabalho em equipe e comunicações variadas (GRAMIGNA, 1993). Os jogos foram identificados como ambiente adequado para mensurar os níveis de coesão de equipes (relacionados à interação social e interação da tarefa) e maturidade de equipes para compará-las com os resultados, ou seja, com o desempenho contábil/financeiro das empresas geridas pelas equipes. Como delimitação do problema desta pesquisa apresenta-se: existe relação positiva entre a coesão de equipe, nível de maturidade de equipe e o desempenho na realização de atividades que exigem esforços para atingir objetivos comuns como o jogo de empresas? Apesar da existência de inúmeras afirmativas relacionadas às vantagens da equipe coesa para o desempenho esportivo, faz-se necessário testá- las no ambiente acadêmico e empresarial. 1.2.2 Hipótese de Pesquisa A literatura aponta que o grau de coesão e maturidade das equipes relaciona- se positivamente ao seu desempenho, mas evidencia também que alguns fatores de 16 formação das equipes, complexidade das tarefas, tempo e outros podem influenciar no desempenho. Dada a exigência do trabalho em equipe e a complexidade apresentada pela simulação dos jogos de empresa, visa-se identificar se uma equipe eficaz também possui níveis elevados de maturidade e de coesão (qualidade no trabalho, atração mútua, unidade de propósito e papéis valorizados). A hipótese que guiou este estudo é apresentada como: existe uma relação positiva entre o nível da coesão de equipe (interação social e interação da tarefa), nível de maturidade de equipe e sua eficácia empresarial. 1.3 OBJETIVOS O objetivo geral deste estudo é analisar os efeitos da coesão e maturidade das equipes em relação ao desempenho empresarial de empresas fictícias geridas através de um jogo de empresa. Os objetivos específicos são: a) Adaptar o instrumento norte-americano Multidimensional Sport Cohesion Instrument (MSCI) para mensurar a coesão de equipes esportivas e empresariais no Brasil; b) Identificar os grupos ou equipes de trabalho atuantes nas disciplinas de jogos e/ou simulações que utilizam o Simulador Coliseum. c) Mensurar o nível de coesão social e da tarefa dos grupos ou equipes participantes dos jogos empresariais, utilizando as quatro dimensões do instrumento MSCI; d) Avaliar a maturidade dos grupos ou equipes participantes dos jogos de empresas; e) Avaliar o desempenho das empresas fictícias através de indicadores financeiros/ranking de times gerados pelo Simulador Coliseum. 1.4 JUSTIFICATIVA A literatura confirma a importância de se desenvolverem conhecimentos sobre a formação, transformação de grupos em equipes e principalmente coesão e 17 maturidade destas, assuntos pouco explorados. E, diante da busca constante de aprimoramento no meio organizacional, faz-se necessário estudar quais os efeitos destes comportamentos no desempenho das equipes. Para Carron et al. (1985), a coesão possui aspectos relacionados ao social e interação dos membros na execução das tarefas, dois ângulos de extrema relevância para o ser humano, que parte do tempo interage no meio social e parte no desenvolvimento pleno das tarefas. A maturidade demonstra através da literatura possibilidade de classificar e entender os comportamentos das equipes. Nesse contexto, esta pesquisa justifica-se pela relevância dos assuntos equipes, gestão de recursos humanos para uma compreensão mais ampla e aprofundada da coesão e maturidade de equipes em relação ao desempenho empresarial. De forma mais específica, justifica-se também pela adaptação e validação de um instrumento norte-americano para o português do Brasil, ampliando suas finalidades, para além de mensurar a coesão de equipes esportivas, em avaliar a coesão de equipes empresariais, acadêmicas e esportivas do Brasil. Este trabalho pretende reproduzir pesquisa realizada por Wolfe e Box (1987) nos Estados Unidos, a qual estudou a coesão de equipes de alunos do ensino superior na prática de jogos de negócios e analisar os resultados 23 anos após na realidade Brasileira. A importância deste estudo encontra-se também na possibilidade de analisar, através da literatura e da prática, uma ferramenta de ensino para cursos de gestão chamada de jogos de empresa ou simuladores empresariais, que proporcionam no meio acadêmico a união da teoria com a prática dos conteúdos administrativos através do trabalho de equipes. 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho está estruturado em cinco capítulos, composto pelo introdutório que apresenta a contextualização do tema, problemática e hipótese do estudo, os objetivos norteadores e a justificativa da pesquisa. No capítulo dois apresenta-se o marco teórico referencial, dentro das duas linhas de pesquisa: comportamento humano divididos em coesão e maturidade das equipes e todo o surgimento, estruturação e uso dos jogos de empresas como ferramenta de ensino e aprendizagem. 18 No capítulo três apresenta-se o método e a metodologia do estudo, classificações da pesquisa, etapas de realização, caracterização da amostra da pesquisa, coleta dos dados, instrumentos utilizados e cronograma do trabalho. Acrescentados ao estudo estão os três instrumentos de pesquisa (anexos A, B e C) Na sequência, os resultados e as respectivas análises estão descritas no capítulo quatro. As conclusões e sugestões de trabalhos futuros compõem o capítulo cinco. Finaliza-se listando as referências, os apêndices e anexos. 19 2 MARCO TEÓRICO REFERENCIAL O marco teórico base deste trabalho está dividido em duas áreas de estudo. A primeira refere-se à teoria sobre equipes e grupos, abrangendo uma breve perspectiva histórica sobre a coesão de equipe, fatores de influência na coesão, modelos utilizados para mensurar a coesão de equipe e maturidade. Evidencia-se que parte das pesquisas emcoesão é sobre equipes esportivas, e interpreta-se que este fato não influencia na análise deste estudo, considerando-se que a formação de equipe em jogos de empresa segue a mesma linha de competição, habilidades individuais e resultados coletivos. Na segunda parte do referencial, apresentam-se as teorias sobre o uso de jogos de empresas, classificação, estruturações, vantagens e críticas do uso desta prática de ensino/aprendizagem, processo de simulação e desempenho nos jogos de empresa. 2.1 EQUIPES 2.1.1 Conceitos de Equipes e Grupos Os termos “equipe” e “grupo” são frequentemente utilizados na literatura gerencial e comportamental e, muitas vezes, apresentam-se interpretados erroneamente como sinônimos. Moscovici (2001) destaca que o futuro pertence às organizações baseadas em equipes e que o termo equipe é popularizado, mas que sua atuação verídica é exceção. Portanto, faz-se necessária a descrição e discussão sobre estes termos. No contexto empresarial, existem equipes de trabalho dentro de todos os departamentos. Na política, os grupos são divididos em partidos, convenções, conselhos. Nos esportes, existem equipes nas categorias coletivas, dentro as quais configuram-se equipes menores, tais como: equipe de ataque, defesa e seleções. Nos esportes individuais a equipe é formada entre atleta e técnico. O campo das 20 artes possui equipes em forma de elenco, conjunto, companhia e outros. Araújo (2002) destaca que nem todos estes agrupamentos de pessoas são equipes. Bejarano (2006, p. 34) cita a origem: “etimologicamente, a palavra equipe se origina do francês équipe, que é um conjunto ou grupo de pessoas que se aplicam à realização de uma mesma tarefa ou trabalho” Weinberg e Gould (2001, p. 171) definem equipe como “qualquer grupo de pessoas que devem interagir entre si para realizar objetivos comuns”. Araújo (2002) salienta que nem todos os grupos de pessoas que possuem um objetivo comum podem ser considerados equipes. Katzenbach e Smith (2001) e Parker (1995) ampliam a definição afirmando que equipe é um grupo de pessoas com aptidões complementares, que, possuindo um objetivo comum, atuam de forma interdependente dividindo a responsabilidade pelos resultados. Para Moscovici (2002, p. 5) “pode-se considerar equipe um grupo que compreende seus objetivos e está engajado em alcançá-los, de forma compartilhada”. Equipe é um estágio avançado do grupo, ou seja, “um grupo transforma-se em equipe quando passa a prestar atenção à sua própria forma de operar e procura resolver os problemas que afetam seu funcionamento” MOSCOVICI (2002, p.5). Na visão de Montanari (2008, p. 44), “os componentes de um grupo necessitam de uma motivação que justifique o envolvimento individual, assim como o tempo dedicado à atividade”. Os indivíduos pertencentes a uma equipe devem concordar sobre uma meta e entender que a única maneira de cumpri-la é trabalhar de forma integrada, agindo de forma colaborativa. 2.1.2 Diferenças entre Grupos e Equipes A competitividade organizacional proporciona grandes transformações nas formas de gestão, tornando-as mais flexíveis com intuito de conseguirem novas oportunidades no mercado. Entre elas, destacam-se a valorização do profissional e a busca constante por aprimoramento no trabalho coletivo. Neste sentido, gera a 21 dúvida se toda união de pessoas com a mesma finalidade de trabalho pode ser considerada equipe. Para Moscovici (2002, p.5), “a diferença está na gradação de atributos ou em características diversificadas? Um grupo chegará a ser uma equipe de forma natural ou precisará de recursos específicos para provocar essa metamorfose?”. Essas são algumas dúvidas que pairam sobre a formação de equipes. Para Robbins (2002), a diferença entre grupo e equipe concentra-se na sinergia positiva gerada nas atividades desenvolvidas pela equipe, ou seja, os esforços coordenados possuem um nível de desempenho maior do que os esforços individuais que representam a soma das entradas. A sinergia é um termo extraído da biologia em que a reação de duas ou mais substâncias produzem um efeito diferente da soma destas substâncias (MOSCOVICI, 2002). A figura 1 apresenta a comparação entre grupo e equipe. Comparação entre Grupos de Trabalho e Equipes de Trabalho Compartilhar informações Neutra (às vezes negativa) I nativa Aleatória e variadas Desempenho coletivo Positiva Individual e mútua Complementares Figura 1: Comparação entre Grupos de Trabalho e Equipes de Trabalho Fonte: Robbins (2002, p. 251) As definições apresentadas no quadro contribuem para o entendimento que as equipes de trabalho visam a otimizar recursos através da sinergia positiva, a qual proporciona para as organizações melhor desempenho. Há diferença nas habilidades, as quais, enquanto grupo, são diversas e aleatórias; em equipe são complementares no sentido de divisão de papéis com qualificação ou seleção de 22 pessoas apropriadas para todas as responsabilidades com habilidades necessárias para o desempenho apropriado da equipe. Para Bejarano (2006, p. 14), “Equipes têm o potencial de aumentar a produtividade e ajudar na redução de custos através da reunião de experiência profissional, conhecimento e criatividade de seus membros”. Marras (2009, p. 315) afirma que “quando os indivíduos trabalham em conjunto e compartilham responsabilidades obtém-se como resultados indivíduos comprometidos e envolvidos na solução de problemas”. Para Marras (2009), o trabalho em equipe difere do trabalho do grupo, pois no grupo as tarefas são executadas separadamente e nas equipes todos trabalham unidos, envolvidos cada um na tarefa de todos. Katzenbach e Smith (1994) expõem as diferenças entre grupo de trabalho e equipe, a saber: estilo de liderança; responsabilidades do líder e dos membros; formas de trabalho especializado ou multiplicidade de funções; formas de reuniões; as formas de decisões e os objetivos sugeridos pelo líder ou objetivos aceitos por todos os membros. 2.1.3 Transformação do Grupo em Equipe Os grupos de trabalho, na visão de Bejarano (2006), podem transformar-se em equipes dependendo da interdependência dos trabalhos e da maturidade dos membros. Segundo Moscovici (2001), são componentes principais ao funcionamento do grupo: objetivos, motivação, comunicação, processo decisório, relacionamento, liderança e inovação. Estes componentes influem no clima do grupo, considerando que as pessoas que compõem o grupo possuem anteriormente seus valores, sua filosofia e orientação de vida. Um grupo inicia, funciona e modifica sua dinâmica continuamente, alterando a velocidade, ou divide-se retornando ao modo original ou dando origens a outros grupos (MOSCOVICI, 2001). 23 Para transformar um grupo em equipe é necessário identificar e compreender vários pontos relacionados a valores, sentimentos, cultura, entre outros, conforme figura 2. INSUMOS INDIVIDUAIS COMPONENTES Valores Objetivos Normas Motivação Sentimentos Comunicação Processo decisório Relacionamento Cultura do grupo Liderança Inovação Clima do grupo Individualização Comportamento grupal Sinergia Desempenho Grupal Produtividade Satisfação Figura 2. Principais componentes do funcionamento do grupo Fonte: Moscovici (2001,p. 100) A figura 2 ilustra o funcionamento do grupo iniciando com os valores, normas e sentimentos que cada indivíduo possui e traz consigo de experiências passadas.Tais valores serão confrontados com a cultura do grupo, e deste comparativo resultará o clima do grupo, ou seja, se os valores do indivíduo forem compatíveis com a cultura do grupo, o clima será harmonioso, caso sejam contraditórios, o clima será negativo. Para Moscovici (2001), o clima de grupo funciona em circuito com a cultura do grupo, sendo por ela influenciada e influenciando constantemente. O clima refere-se às condições atmosféricas do grupo, tais como: calor humano, tensão, movimentos, equilíbrio, insegurança, alegria e também crises. Estes sentimentos podem variar entre bem-estar, satisfação, mal-estar e insatisfação, gerando momentos de entusiasmo, prazer, estresse e depressão. O comportamento do grupo, ilustrado na figura 2, pode gerar resultados individualizados ou sinergia, ou seja, caso o clima seja negativo, a consequência poderá ser pessoas trabalhando de forma isolada sem preocupação com o resultado 24 coletivo, gerando desempenhos insatisfatórios. Em caso de sinergia, os objetivos serão compartilhados, e o desempenho grupal tenderá a ser positivo. Para Weinberg e Gould (2001), a evolução do grupo para uma equipe pressupõe algumas etapas: a) Formação: momento de familiarização dos membros e estruturação do grupo. Responder a questões de identificação, como: quem somos? Quais os objetivos? Por que deve participar deste grupo? Busca-se a semelhança entre os membros do grupo; b) Agitação: é quando se percebem as diferenças existentes entre os participantes e aparecem os conflitos, vistos como normal nesta fase; c) Normalização: nesta fase estabelece-se a identidade do grupo e são constituídas as regras que nortearão o funcionamento do grupo. Estas normas e regras nem sempre são explícitas; d) Atuação: quando as ações para realização da tarefa refere-se à existência de uma equipe. A mudança do grupo dar-se-á pela interação, cooperação e constante interesse dos participantes em manterem-se unidos na busca de um objetivo comum. Quando esta visão fica evidente a todos os membros, mostra-se a evolução e a passagem pelas etapas citadas anteriormente. Para Moscovici (2001), o desenvolvimento grupal é caracterizado por três fases, as quais nem sempre são nítidas e nem todos os membros do grupo encontram-se na mesma fase ao mesmo tempo, já que o estágio individual varia de acordo com o ritmo pessoal. São elas: a) fase de inclusão: momento em que cada membro procura seu lugar, reflete sobre quanto vai contribuir, quanto espera receber, como agirá ou qual papel desempenhará. É a fase de estruturação do grupo; b) fase de controle: após encontrar o seu lugar, o grupo busca os procedimentos que norteiam as decisões, o nível de poder e o controle das atividades dos outros. É chamada de fase de jogo de forças, discussão sobre metas, atuação e disputa pela liderança; c) fase de afeição: depois de definidos os papéis, criam-se os controles de funcionamento do grupo e deixa-os claro a todos os membros do grupo; nesta fase 25 começa-se a buscar integração emocional. Surgem os ciúmes, afetos e outros sentimentos. É quando os membros estabelecem limites, e, o clima pode variar de satisfatório para momentos tensos. Moscovici (2001, p. 109) evidencia que o “ciclo das fases – inclusão, controle e afeição – pode repetir-se várias vezes durante a vida de um grupo, independente de sua duração”. Em casos de grupos de treinamento pode haver inversão do ciclo nas últimas sessões, de afeição para controle e, na sequência, controle para inclusão como etapa final. Esta fase de transformação de grupo para equipe é estudada por diversos autores que salientam a importância da compreensão do comportamento do grupo e principalmente destacam que cada membro deve identificar-se dentro do grupo, entender o papel a desempenhar. Seguindo esta linha de pensamento, Robbins (2002) cita que a soma dos esforços de um grupo que não possuir claramente a divisão e a contribuição de cada participante não será necessariamente 1+1+1 igual a 3. A afirmação parte do termo utilizado pelo autor de “folga” social, ilustrando uma perda de esforços no grupo. Este termo representa que o indivíduo contribui menos do que pode pelo simples fato de não querer ou não estar comprometido com o grupo. 2.1.4 Classificação dos Grupos e Equipes Katzenbach e Smith (1994) utilizaram critérios de maturidade, nível de desempenho e trabalho interdependente para classificar os tipos de equipes: a) Grupo de trabalho: não existe trabalho interdependente, a interação dos indivíduos é apenas para obtenção de informações e tomada de decisões a fim de melhores resultados individuais, não havendo trabalho coletivo; b) Pseudoequipe: é um grupo que tenta desempenhar esforços conjuntos, mas não demonstra intenção de trabalho coletivo. O desempenho normalmente é fraco, contribuindo menos do que os grupos de trabalho, pois os esforços conjuntos não possuem objetivo comum que atrapalhem o desempenho de cada um; 26 c) Equipe potencial: demonstra interesse de melhoria visando ao trabalho coletivo, não possuindo claramente objetivos, metas e responsabilidades comuns; d) Equipe real: é reconhecida por possuir pequeno número de membros com conhecimentos e habilidades complementares, apresentando confiança e comprometimento coletivos através de metas e formas de trabalho; e) Equipe de alta performance: atende a todas as condições da equipe real, com mais comprometimento com os resultados da equipe e interessados com o crescimento de todos os membros. Na visão de Bejarano (2006) a curva de desempenho de Katzenbach e Smith (1994) pode ser utilizada em conjunto com a classificação de equipes de Parker (1995). Parker (1995) diferencia as equipes da seguinte forma: a) Equipes funcionais: aquelas que sugerem a divisão por departamentos com retenção de poder pelos chefes e obediência dos subordinados. Este tipo de equipe visa a formar-se com indivíduos que possuem funções semelhantes; b) Equipes autogerenciáveis: estas equipes possuem autonomia para gerir suas atividades de forma completa tendo condições de solucionar e assumir as responsabilidades pelas decisões tomadas; c) Equipes interfuncionais ou multidisciplinares: é formada por indivíduos de diferentes habilidades e conhecimentos de áreas de trabalho variadas com níveis hierárquicos diversos e que exigem trabalho e objetivos compartilhados. Para Bejarano e Pilatti (2008), as equipes funcionais de Parker (1995) classificam-se melhor como grupos de trabalho de Katzenbach e Smith (1994), quando identificado que os indivíduos realizam trabalho paralelo, mas não coletivo de forma interdependente, podendo desenvolver-se para equipe. “A equipe autogerenciável é uma equipe que possui nível de maturidade ideal, podendo assumir a gerência de seus próprios processos – uma equipe real ou de alto desempenho” (BEJARANO, 2006, p. 38). A equipe interfuncional ou multidisciplinar poderá desenvolver autonomia e ser considerada autogerenciável, ou até equipe de alta performance (BEJARANO, 2006). Neste sentido destaca-se a importância de conhecer o nível de coesão e maturidade das equipes visando ao maior comprometimento dos indivíduos e á 27 transformação de grupo em equipe de trabalho que possui objetivos coletivos e responsabilidade mútua. 2.1.5 Coesão de Equipes A evolução dos estudos da coesão apontam que o primeiro trabalho sistemático sobre o tema foi realizado por Festinger et al. (1950). Na pesquisa, coesão foi considerada um campo de forças total que atua sobre os membros para permanecerem em grupo. Foram evidenciadas duas forças: atração do grupo e meios de controle. Noidear de Carron et al. (1985), a coesão é formada por componentes sociais e está relacionada à tarefa. Os autores definiram coesão como um processo dinâmico que reflete a intenção do grupo em unir-se e manter-se unido na busca de metas e objetivos, em que o social reflete a atração interpessoal entre os integrantes do grupo. Nesta linha, Tutko e Richards (1984) salientam que um grupo coeso é a junção de indivíduos que pensam, sentem e atuam como uma unidade. Wolfe e Box (1987) inferem que a coesão atua como um elemento construtor e social e está apoiada em um tripé: o histórico da coesão se baseia na semelhança entre os indivíduos na parte social mais do que na intelectual; a moral do grupo ou nível de motivação, percebida através das medidas sociométricas, preveem a indicação de pares mútuos, menos preferidos e seleções de parceiros de trabalho; Robbins (2002) evidencia três níveis para que a coesão se desenvolva: a coesão pode ser desenvolvida no tempo que os participantes passam juntos; o tamanho pequeno da equipe facilita a interação; e as equipes fortalecem-se e unem-se quando enfrentam ameaças externas, gerando maior aproximação dos membros. Para Rocco (2004), inicialmente o conceito de coesão era um termo meramente descritivo. Vários estudos posteriores apontaram fatores que interferem na coesão do grupo, entre eles: o grau de concordância com os objetivos propostos ao grupo, interação que estabelecem no grupo, conflitos e antagonismos intergrupais, grau de proximidade ou semelhança cultural e a história de sucessos anteriores do grupo. Machado (2006) vai mais além e menciona a coesão como um processo complexo, dinâmico e variável ao longo do tempo, que não aparece de 28 repente e, também, não é permanente. É necessária a manutenção que pode ser estimulada por todos os integrantes e lideranças. O primeiro instrumento de medição do nível de coesão utilizado foi o Sport Cohesiveness Questionnarie, conhecido como Questionário de Coesão no Esporte, desenvolvido por Martens, Lander e Loy (1972) apud Weinberg e Gould, 2001. O instrumento possui sete indicadores que medem a atração interpessoal ou classificam atração pelo grupo. Para este instrumento não foram aplicadas as medidas de confiabilidade ou validade de construção (WEINBERG e GOULD, 2001). O instrumento apresenta ênfase na coesão social e foi considerado de caráter unidimensional. A insatisfação com estas definições unidimensionais gerou a construção de novos instrumentos de mensuração do tema no esporte. Para Carron et al. (2002a), a coesão de grupo contempla dois componentes: o primeiro associado ao desenvolvimento e manutenção das relações interpessoais, gerados pela relação social entre os membros do grupo, e o segundo está ligado aos processos de tarefa, associado à atividade em grupo para atingir objetivos. Esta visão descreve a coesão de grupo através de uma natureza multidimensional. Estudos baseados somente na atração grupal são inadequados para explicar a natureza multidimensional da coesão em equipes. Yukelson et al. (1984) inferem que, para avaliar coesão do grupo, é necessário que os instrumentos reflitam fatores associados às metas e objetivos que o grupo busca atingir, tanto quanto fatores associados ao desenvolvimento e manutenção das relações interpessoais positivas, apresentando a coesão como fator multidimensional. Carron et al. (1985) desenvolveram um novo instrumento Group Enviroment Questionnaire – GEQ, traduzido como Questionário de Ambiente Grupal - QAG, que diferencia o indivíduo e o grupo e os interesses relacionados às áreas sociais e de tarefas. Assim, foram divididos dois tipos distintos de coesão ou duas forças distintas que agem para que os membros permaneçam em grupo. O primeiro tipo está voltado para execução das tarefas, refletindo os esforços coletivos do grupo para alcançar as metas comuns. O segundo representa o lado social e refere-se aos aspectos de relacionamento, afinidades entre os participantes. Este modelo, que segue a base conceitual multidimensional, foi testado e estabelecida a confiabilidade e validade de construção do instrumento. O modelo de coesão desenvolvido por Carron et al. (2002a), além de separar as dimensões sociais e tarefa, tem como pressupostos os aspectos individuais e grupais da coesão: 29 a) integração do grupo em relação aos aspectos sociais; b) integração do grupo em relação à tarefa; c) atração individual para o grupo em relação aos aspectos sociais; d) atração ao grupo em relação à tarefa. A primeira categoria – integração de grupo – reflete as percepções individuais sobre as semelhanças e entrosamento dentro do grupo. A segunda categoria – atração individual para o grupo – reflete as motivações pessoais para manter o grupo. Na visão de Carron et al. (2002a), a coesão interpretada pela divisão das duas forças separa as dimensões sociais e tarefas. Já a relacionada ao social representa como os membros do grupo sentem-se confortáveis na companhia uns dos outros, quanto gostam de pertencer ao grupo. A coesão relacionada à tarefa, por sua vez, identifica o nível do trabalho grupal, ou seja, quanto os membros do grupo trabalham juntos em busca dos objetivos. Além disso, o estudo apresentado por Weinberg e Gould (2001) contribui apontando fatores de impactos da coesão grupal na área esportiva, sendo que os fatores ambientais ou situacionais, pessoais, de liderança e equipe representam uma hierarquia que partem do geral para o específico: a) Fatores ambientais: são considerados os gerais e representam as forças regulamentadoras que mantêm o grupo unido. Como exemplos citam-se bolsa de estudos, idade, proximidade ou requisitos de qualificação; b) Fatores pessoais: são variáveis de extrema importância para o estudo da coesão esportiva, e que, quando esquecidos, podem afetar o desenvolvimento da coesão do grupo. Os autores salientam que estes fatores representam os motivos pelos quais os membros da equipe estão participando e como se envolvem nas atividades da equipe. c) Estilos de liderança: referem-se à interação do técnico com os membros da equipe comandada e incluem os estilos de vida e os comportamentos dos líderes em relação ao grupo e a forma de relacionamento mantido com seus atletas. O líder desempenha papel vital para a coesão grupal através da forma de comunicação clara, consistente e direta com o capitão e os demais membros da equipe, direcionando os esforços para o cumprimento dos objetivos, dividindo os papéis pela equipe. 30 d) Fatores de equipe: são as características da tarefa, tais como, o esporte individual ou esporte coletivo, regulamentação das ações do grupo, desejo e segurança da equipe. Os fatores apresentados por Weinberg e Gould (2001) participam ativamente no desempenho da equipe. A satisfação do indivíduo no grupo, a motivação para realização das tarefas, qualidade das tarefas e aceitação do papel do líder perante o grupo são fatores que mostram a complexidade e amplitude do tema coesão de equipes. Yukelson et al. (1984) reafirmam a coesão como processo multidimensional e a necessidade de um instrumento mais completo de medição. Seguindo os conceitos multidimensionais da coesão em grupo, desenvolveram um instrumento de 41 questões chamado Multidimensional Sport Cohesion Instrument (MSCI) ou Instrumento de Coesão Multidimensional no Esporte. As propriedades psicométricas do instrumento foram analisadas com os dados procedentes de uma amostra de jogadores de basquete norte-americano. A versão final do estudo apresentou 22 itens, medidos por escala Likert de 11 pontos, objetivando avaliar o tema desteartigo em quatro grandes dimensões: a) qualidade de trabalho em equipe; b) atração ao grupo; c) unidade de propósito, e d) papéis valorizados. Este instrumento de 22 itens para avaliação de coesão esportiva, que utiliza os princípios da psicometria, foi validado e aprovado quanto a sua confiabilidade e validez de construção, com coeficiente de confiabilidade alfa de 0,93. O instrumento segue a definição dos fatores de coesão multidimensional, fazendo referência tanto à social como à tarefa. A linha que avalia a coesão social é representada pela dimensão atração ao grupo, e a linha referente à de tarefa é mensurada pelas dimensões de unidade de propósito, qualidade de trabalho em equipe e papéis valorizados. O instrumento de Yukelson et al. (1984) foi permeado por quatro dimensões: a qualidade de trabalho em equipe, a atração ao grupo, unidade de propósito e atração ao grupo. A qualidade de trabalho em equipe mensura o relacionamento dos membros da equipe referente à tarefa. Objetiva, além disso, identificar se os integrantes trabalham juntos dentro de suas funções, se elas são compatíveis, bem definidas, nível de doação dos indivíduos, resolução de conflitos, entre outros. O quadro a seguir sumariza os conceitos associados à dimensão: 31 Qualidade do Trabalho em Equipe Trabalho em Equipe Para Wolfe e Box (1987), equipes com alta coesão parecem estabelecer seus modelos de desempenho mais facilmente, e elas oferecem um feixe maior de recompensas aos seus membros. Aplicando a teoria Syntality (1948), salienta que grupos altamente coesos são mais eficazes porque pouca energia é necessária para manter o grupo e, além disso, o grupo pode direcionar a maior parte de sua energia na realização do objetivo ao invés de direcioná-la ao conflito interno, ao seu manejo e solução. Papel de compatibilidade Segundo Wagner III (2006, p.222), “pessoas que compartilham as mesmas atitudes, valores ou interesses tendem a sentir atração recíproca”. Para Rubio (2003) é necessário gerar um clima de confiança e cumplicidade na convivência da equipe, pois os membros devem sentir-se compatíveis e acreditar que o bom resultado depende muito mais da relação existente entre eles do que o desempenho individual. Apoio e respeito mútuo Para Wolfe e Box (1987, p. 250), “a coesão de uma equipe gira em torno de fatores como gostos pessoais ou admiração mútua, semelhanças, aceitação dos objetivos do grupo, satisfação com o estilo de liderança, processo de tomada de decisão, estrutura e ambiente”. Grau de doação Weinberg e Gould (2001) apontam os fatores pessoais como pontos relevantes no contexto das equipes, que podem interferir na coesão do grupo quando não trabalhados. Eles representam o motivo pelo qual cada integrante está participando da atividade. Envolvem atitude, representada pelo nível de doação, compromisso em executar o que é proposto e satisfação em executar. Resolução de conflito Para Cratty (1975) a coesão modifica-se quando há tensão no grupo. Com tensão moderada, os sentimentos fraternos são evidenciados; com tensão alta pode afetar a estrutura do grupo; com pouca ou nenhuma tensão, os integrantes terão menos colaboração no esforço total. Segundo Wagner III (2006, p. 222), “Ameaças ao bem-estar de um grupo, originadas de fora, podem reforçar a coesão do grupo por propiciarem um inimigo comum que motiva uma resposta unificada. Porém, o conflito entre grupos pode promover a coesão interna”. O autor salienta que utilizar o conflito para gerar coesão é perigoso porque desestimula a cooperação entre grupos. União Os estudos de coesão multidimensional apontam duas categorias: a primeira – integração de grupo – que reflete as percepções individuais sobre a proximidade, semelhança e união dentro do grupo como um todo, como também a unificação do grupo. A segunda categoria refere-se à execução das tarefas (CARRON et al., 2002b). Papéis bem definidos O líder deve organizar e orientar a equipe, através de comunicação clara e efetiva, discutir falhas ocorridas na execução, propor soluções e seu enfrentamento. O líder tem como papel fundamental acompanhar e direcionar a equipe durante toda a competição (RUBIO, 2003). Segundo Weinberg e Gould (2001), o líder deve esclarecer os papéis de cada membro do grupo e evidenciar que a soma do desempenho de todos é que proporciona o sucesso da equipe. Cada integrante deve conhecer o seu papel e a importância devida para o grupo, sentindo-se apoiado pelos colegas, gerando orgulho de sua função no grupo. Disciplina da equipe nas tarefas Cartwright e Zander (1975) apontam que um grupo coeso é considerado aquele em que os membros se reúnem a fim de trabalhar por um objetivo comum, aceitando as normas impostas e buscando cumpri-las para atingir resultados coletivos em prol de todos. Quadro 1 – Dimensão Qualidade do Trabalho em Equipe Fonte: elaborado pela autora da pesquisa. 32 Já na dimensão atração ao grupo as variáveis que a compõem refletem o senso individual de atração e/ou satisfação para com o grupo, avaliadas pelos sentimentos de aceitação, orgulho de ser membro da equipe, significado, valor depositado nos membros da equipe, capacidade dos membros da equipe e desejo de continuar no grupo. O quadro a seguir evidencia as variáveis presentes nesta dimensão: Atração de Grupo Sentimentos de Apreciação Yukelson et al.(1984): um grupo de coesão pode ser definido levando em consideração o grau de atração entre os indivíduos do grupo e a vontade de permanecer em grupo. Robbins (2002) salienta que coesão é a atração entre os membros e a motivação para permanecer como grupo. Sentimentos de Aceitação As atrações individuais para o grupo (social) apresentam os sentimentos individuais dos membros da equipe sobre a aceitação pessoal e as interações sociais com o restante da equipe. Carron et al. (2002a) afirmam que os indivíduos que obtêm índice elevado de coesão apresentam alto sentimento sobre sua aceitação pessoal, mantendo relacionamento positivo com todos e atuando bem em conjunto. Orgulho por fazer parte da equipe Shawn e Shawn apud Yukelson et al.(1984): um grupo de trabalho bem sucedido precisa satisfazer as necessidades do grupo através da realização das tarefas e prazer social simultaneamente. Valor dado à participação na equipe Para Pisani (1994), as sociedades, desde a mais antiga, manifestam-se através da formação de diferentes grupos, em cuja participação, o homem tem a finalidade de satisfazer as suas necessidades sociais. “O reconhecimento concedido a um grupo por desempenho eficaz pode reforçar sentimentos de orgulho por pertencer ao grupo e pelo desempenho grupal” (WAGNER III, 2006, p. 222). Continuidade na equipe Evans e Jarvis apud Yukelson et al. (1984) propuseram que a atração ao grupo pode incluir senso individual de envolvimento no grupo, sentimentos de aceitação e desejo de continuar como membro do grupo. Significante e digno de valer a pena Segundo descobertas de Rioux e Chappuis apud Hernandes e Gomes (2002, p. 141) “a equipe como organização coesa não ocorre no início da formação do grupo de modo repentino, ela é construída pela vontade comum de todos. A coesão não ocorre naturalmente, mas através de um esforço reflexivo do grupo”. Satisfeito com as amizades Cratty (1975) afirma que grupinhos amigos dentro das equipes são usados como medida da coesão, baseando-se na crença de que, quanto mais amizades mútuas ocorrerem um grupo, mais feliz e coeso ele será. Quadro 2 – Dimensão Atração de Grupo Fonte: elaborado pela autora da pesquisa. A dimensão unidade de propósito avalia a importância dada para a preparação da equipe,o grau de compromisso adquirido com as normas de 33 operação, compreensão clara dos objetivos que visam a atingir e os métodos de reavaliar objetivos que a equipe quer alcançar, como mostra o quadro: Unidade de Propósito Preparação da equipe Wolfe e Box (1987) salientam que o fator motivacional existente na equação coesão/produtividade faz com que os grupos coesos aprendam mais do que grupos menos coesos, mas somente quando eles querem aprender. Os estilos de liderança referem-se à interação entre o técnico e seus atletas. O líder necessita de comportamentos de líder como também de um bom relacionamento com os integrantes do grupo, mantendo uma comunicação aberta, clara e direta. Os comportamentos dos líderes representam papel vital para coesão da equipe (WEINBERG e GOULD, 2001). Para Machado (2006), alguns determinantes situacionais interferem diretamente na coesão grupal, entre eles, questões políticas, administrativas, pessoais e condições de treinamento, contratos e troca de treinadores. Os grupos pequenos e os que permanecem juntos por longo tempo tendem a apresentar níveis mais altos de coesão, pois a proximidade física exigida nos treinos e nas concentrações, convivendo no mesmo ambiente além dos horários de atividades, contribui para formar a coesão grupal. Compromisso para com as operações da equipe Rubio (2003) evidencia que a coesão de uma equipe se manifesta perante a existência e determinação entre os membros em construir e perseguir objetivos. Portanto, uma equipe obterá a coesão quando os membros desenvolverem o compromisso de realizar a tarefa em benefício do grupo sobrepondo os interesses individuais. Clareza do objetivo da equipe Para Rocco (2004), um dos fatores que interferem na coesão do grupo é o grau de concordância com os objetivos propostos ao grupo. Para o autor, é necessário o aceite dos objetivos para que haja engajamento e dedicação na execução. “Metas grupais compartilhadas incentivam os membros a trabalharem juntos. Quando os membros do grupo participam na definição de seu propósito e metas, passam a conhecer e a influenciar uns ao outros” (WAGNER III, 2006, p. 222). Método de reavaliar as metas As metas e objetivos que o grupo está tentando atingir são de particular importância para os esportes em equipe tanto quanto as interdependências funcionais (YUKELSON ET AL., 1984). É necessário que os grupos reavaliem suas metas frequentemente a fim de mantê-las possíveis e atrativas ao grupo. Quadro 3 – Dimensão Unidade de Propósito Fonte: elaborado pela autora da pesquisa. A dimensão de papéis valorizados avalia o senso de identificação com a equipe através da percepção que cada indivíduo tem sobre seu papel, o senso de pertencer a ela, o grau de aceitação dos colegas e liderança. A discussão no quadro abaixo evidencia esta dimensão: 34 Papéis Valorizados Senso de fazer parte da equipe Fieldman apud Yukelson et al. (1984) descobriu que o grau de especialização do papel de cortesia entre os membros do grupo (por exemplo: a eficiência com que os membros do grupo realizam suas funções) e o consenso em relação ao número de normas relevantes do grupo parecem estar relacionadas à união entre os participantes do grupo. Para Rubio (2003), o resultado satisfatório de um grupo depende muito mais da relação efetiva entre os integrantes da equipe do que o desempenho isolado de um deles. Valor da função pelos membros da equipe Libo apud Yukelson et al. (1984) foi um dos primeiros a investigar a coesão do grupo como atração e notou que a coesão pode aumentar através de características como os objetivos ou atividades do grupo, o prestígio ou status que este pode oferecer aos seus membros ou atração interpessoal entre eles. Como descoberto por Couran e Leana apud Yulkeson et al. (1984), por exemplo, grupos altamente coesos são frequentemente menos autocensuradores e menos objetivos quando negociam com seus parceiros por receio de magoar ou destruir a solidariedade delicada do grupo. Valor da função pelos treinadores Para Rubio (2003), o líder de uma equipe assume uma forma peculiar de autoridade, podendo participar ativamente no processo de construção de normas e valores do grupo. O líder contribui através da comunicação, discutindo falhas de um jogo e propondo maneiras de enfrentá-las, organizando e orientando. A avaliação do líder para os membros da equipe é motivador e se realiza através do reconhecimento. O papel do técnico é muito maior do que apenas treinar as equipes, pois ele influencia na orientação do indivíduo para a vida. A liderança de um grupo é fundamental para sua organização e coesão. O líder, além de organizar as equipes, é visto como modelo pelos integrantes das equipes (WEINBERG e GOULD, 2001). Quadro 4 – Dimensão Papéis Valorizados Fonte: elaborado pela autora da pesquisa. Yukelson et al. (1984), autores do MSCI, concluíram que seria necessário provar seu funcionamento em outros esportes, posto que a coesão pode variar de acordo com os esportes que exigem diferentes graus de coordenação ou interdependência entre os membros que compõem uma equipe. Weinberg e Gould (2001) destacam a versatilidade do instrumento elaborado por Yukelson et al. (1984) inferindo a sua validade em distintas modalidades esportivas, evidenciando um elemento relevante para os propósitos do presente estudo. 2.1.6 Coesão de Equipe x Desempenho A comparação direta entre a coesão da equipe e seu desempenho tem sido investigada exaustivamente, conforme apresenta o estudo de Wolfe e Box (1987) quadro 5. 35 AUTOR/ANO Resultados Shaw e Shaw (1962) Descobriram que equipes coesivas de estudantes do segundo ano aprenderam a soletrar mais rapidamente enquanto se provia, simultaneamente, apoio social e pessoal aos seus membros. (261) não identificado Descobertas semelhantes também ocorreram nos cenários industriais em relação à realização do objetivo. Entretanto, existe um problema relacionado à favorabilidade e às fontes dos objetivos ou normas estabelecidas pelas equipes autolideradas. Sherif (1967) Com o passar do tempo, ajustes foram feitos entre as concepções sobre a situação e os resultados obtidos, empregando grupos cujas normas e comportamentos já tinham sido solidificados; descobriram que a competição entre grupos serviu para aumentar as normas empregadas por eles. Gouran (1982). Grupos altamente coesos são frequentemente menos autocensuradores e menos objetivos quando negociam com seus parceiros por receio de magoar ou destruir a solidariedade delicada do grupo. Quadro 5: Estudos sobre coesão de equipe x desempenho Fonte: Adaptado de Wolfe e Box (1987, p. 250) Os estudos descritos evidenciam que a coesão pode aumentar a produtividade até certo ponto, ou seja, o que serve para formar a coesão pode servir para inibir a produtividade do grupo, mas não a um nível mais baixo do que teria existido sem o grau inicial de coesão. Estudos de Hernandes e Gomes (2002) investigaram as relações entre coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e resultados dos jogos de futsal. Para a análise da coesão do grupo, os autores utilizaram o GEQ (Group Environment Questionaire), as quais revelaram que as equipes vitoriosas nos jogos obtiveram maiores médias de coesão grupal em torno da tarefa. Robbins (2002) concorda afirmando que diversos fatores estruturais têm relação com o desempenho do grupo, entre eles a percepção do papel, as normas, as injustiças de status, o tamanho do grupo, seu perfil demográfico, a tarefa e a coesão. Wolfe e Box (1987) salientam que o fator motivacional existente na relação coesão/produtividade faz com que os grupos coesos aprendam mais do quegrupos menos coesos, mas somente quando eles querem aprender. Pesquisas anteriores já afirmavam estas descobertas, como observam Rioux e Chappuis (1979) apud Hernandes e Gomes (2002, p. 141): “A equipe como organização coesa não ocorre no início da formação do grupo de modo repentino, ela é construída pela vontade comum de todos”. Ou seja, a coesão não ocorre naturalmente, mas através de um esforço reflexivo do grupo. 36 A literatura da coesão sobre os jogos de empresas construída no estudo de Wolfe e Box (1987) aponta vários resultados de desempenhos favoráveis e outros inadequados, conforme o quadro 6. Resultados Favoráveis Autores/Ano/Páginas Resultados Norris e Niebuhr (1980, p. 301-312) Os autores analisaram os efeitos da autosseleção das equipes e presumiram inicialmente a alta coesão da equipe nos resultados dos jogos. Empregaram equipes autosselecionadas x equipes designadas pelo instrutor jogando um Jogo Executivo. As equipes autosselecionadas não obtiveram desempenho superior, embora sendo equipes altamente coesas. Ao medirem a coesão concluíram que as equipes que tiveram desempenho superior obtiveram coesão superior ao curso das 12 simulações, e a coesão final não foi baseada no critério empregado inicialmente em cada processo de autosseleção. Miesing e Preble (1985, p. 325-338) Utilizaram equipes de MBA muito grandes com 12 a 13 membros utilizando um Jogo de Gerenciamento. Autosseleção foi aplicada por cinco das seis firmas criadas no curso. As duas equipes de melhor desempenho foram as mais coesas, ao passo que a equipe de mais baixa atuação foi a menos coesa. Gosenpud, Miesing e Milton [1984) Estudaram formandos do curso de Normas de Negócios em equipes de dois a cinco membros para jogar um jogo de negócio, por dois anos simulados. Métodos de designação de equipes não foram relatados e somente 10% da nota final do curso foi diretamente relacionada ao índice de retorno da equipe em equidade. O estudo relacionou o desempenho econômico da firma. Um fator de análise baseado nas repostas do jogador obteve alto desempenho simulado, entretanto, descobriu que a coesão foi a maior contribuinte para o fator que poderia ser denominado “Gerenciamento Estratégico” Gosenpud, Miesing, Milton e Larson [1985, p. 5-10) Em ano posterior realizaram um estudo longitudinal em uma simulação de três anos usando um jogo de empresas mais complexo. As equipes foram designadas pelo instrutor para assegurar pelo menos um especialista em contabilidade por equipe e que o tamanho da firma fosse de quatro jogadores para cada uma. O resultado foi medido por um índice de desempenho econômico. Embora a coesão não tenha sido medida diretamente, muitos elementos de apoio da alta coesão do grupo foram encontrados para serem significativamente relacionados ao desempenho do jogo – um grupo formado por conhecidos, poucos problemas relacionados com a distribuição da carga de trabalho; todos se esforçando e fazendo realmente parte da equipe que era apreciativa e construtiva ao mesmo tempo. Gentry (1980, p. 451- 460) Descobriu que o desacordo aumentou com o tamanho da firma com a não-coesão medida pela média quadrada das cotações nas equipes. O desempenho da firma foi relacionado à atuação do membro da equipe mais talentosa sendo que a falta de coesão foi inconsistente em relação ao desempenho da firma. Resultados Desfavoráveis McKenney e Dill (1966, p. 28-32) Descobriram que equipes de um curso de relações humanas ditas como coesas não destacaram-se sobre os grupos recém-formados (os quais foram presumidos de serem menos coesos). Deep, Bass e Vaugrin (1967, p. 426-431) Em um programa de MBA, aplicaram uma metodologia para testar os resultados da coesão. Algumas equipes pertencem ao grupo X que foram treinadas anteriormente, demonstravam familiaridade, admiração mútua, ou seja, possuíam coesão contra outras equipes aleatoriamente designadas para atividade composta por um jogo de gerenciamento tecnológico muito complexo. A coesão encontrada no grupo X foi negativamente relacionada a todos os resultados econômicos – lucro, preço de estoque e planejamento de custos das equipes. Quadro 6. Estudos sobre coesão de equipe e desempenhos favoráveis e desfavoráveis Fonte: elaborado pela autora da pesquisa baseado no estudo de Wolfe e Box (1987, p. 250) 37 Conforme o quadro 6, os autores concluem que, mesmo havendo exceções, as pesquisas geralmente descobriram que a alta coesão da equipe medida diretamente foi significativamente ligada ao sucesso da equipe, afirmando que a coesão e a base dela podem evoluir com o passar do tempo, ou seja, com a duração da equipe. Para Robbins (2002, p. 232), as pesquisas mostram que a relação entre a coesão e a produtividade dependem das normas de desempenho estabelecidas pelo grupo. Se essas normas forem de alto nível (por exemplo, excelência de resultados, trabalho de qualidade, cooperação com indivíduos de fora do grupo), um grupo coeso será mais produtivo do que um grupo menos coeso. Se a coesão for grande, com normas de desempenho fracas, a produtividade será baixa. Se a coesão for pequena e as normas, de alto nível, a produtividade será mais alta, mas menor do que em um grupo coeso com as mesmas normas. Quando tanto a coesão como as normas de desempenho são fracas, a produtividade fica entre baixa e moderada. Na visão de Robbins (2002), o desempenho da equipe está relacionado com o planejamento e comunicação das normas regulamentadoras; nesta linha de pensamento demonstra concordância com os estudos anteriores que apontam vários fatores como influenciadores da coesão da equipe: ambientais, liderança, comunicação, equipe e pessoais. Portanto, alguns destes fatores serão detalhados em tópicos seguintes deste estudo, tais como: liderança, comunicação, tomada de decisão em grupo, maturidade e satisfação. 2.1.7 Maturidade A definição de maturidade de equipe utilizada nos estudos de Hersey e Blanchard (1986, p. 187) é a “capacidade e a disposição das pessoas em assumir responsabilidade de dirigir seu próprio comportamento. Essas variáveis de estudo devem ser consideradas somente em relação a uma tarefa específica”. O estudo salienta que as pessoas ou grupos não são maduros ou imaturos num sentido total. As pessoas podem ser imaturas em uma determinada tarefa, e em outras não. 38 Montanari e Pilatti (2009) afirmam “o indivíduo com maturidade alta tem disposição para assumir responsabilidades em função da sua capacidade de dirigir seu próprio comportamento”. Na visão de Bejarano (2006), as equipes autogerenciáveis são equipes que atingiram a maturidade ideal, podendo assumir a condução de seus próprios processos. Os componentes da maturidade apresentados por Hersey e Blanchard (1986) são: 1º. Pessoas dominadas pelo motivo de realização normalmente estabelecem objetivos elevados, mas atingíveis; 2º. Instrução ou experiência, entendendo-se instrução como experiência formal em sala de aula, e experiência como algo aprendido por conta própria; 3º. Considera que a instrução e experiência afetam a disposição para tarefa, ou a motivação em realizá-la; sendo assim, o estudo aponta que a maturidade tem duas dimensões: a da tarefa e a do psicológico. A dimensão da tarefa está relacionada com a capacidade de realização da tarefa, enquanto a dimensão psicológica refere-se à motivação para fazer algo. Na visão de Campbell et al. (2000), os motivos de realização das tarefas podem estar relacionados com os valores do indivíduo. Os valores referem-se aos ideais que são importantes na vida das pessoas e são muitas vezes estabelecidos na infância pela família, escola, sociedade,
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