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TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO EMPRESARIAL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO DIREITO EMPRESARIAL 1.1) ORIGEM As sociedades mais primitivas desconheciam o comércio, pois os seres humanos viviam em pequenos agrupamentos e sobreviviam da caça e da colheita de frutos. Porém com o passar do tempo, esses agrupamentos se expandiram, em busca de melhor defesa e passaram a desenvolver técnicas de plantio, o que lhes permitiu a fixação em um determinado território. Com o desenvolvimento da agricultura, os humanos passaram a perceber que poderiam produzir além do que necessitavam, gerando um excedente. Com o passar do tempo, houve uma aproximação destes povos que gerou a primeira espécie de comércio: o escambo. Eles passaram a observar que outras comunidades plantavam outros tipos de alimentos, e que poderia complementar a alimentação deles caso comessem tais alimentos. Sendo assim, passaram a trocar (escambo) seus excedentes entre comunidades. Porém, para que não houvesse uma troca maior do que a necessária, foram designadas pessoas para controlar essas trocas, os chamados: escambistas, que foi a primeira figura do comerciante. Posteriormente foi criada a moeda para facilitar as trocas, tornando o escambo algo desnecessário, uma vez que nem sempre uma comunidade se interessaria em trocar seus produtos por outros que não fossem de seu interesse. Sendo assim, as moedas eram mais atraentes para as comunidades. Para buscar novos produtos, as comunidades passaram a deslocar-se para outros lugares, conhecendo novas comunidades, criando o que conhecemos por feiras periódicas, o que deu início também a colonização da Europa. Tais feras eram muito aguardadas pelas comunidades locais, uma vez que os comerciantes sempre traziam novidades, o que deu um certo interesse social e prestígio aos comerciantes locais. “A figura do comerciante se gerou no escambo, mas se fortaleceu com a cunhagem de moedas, que em decorrência dos problemas que surgiu pela pratica do comércio, passou-se então a exigir a criação de um direito comercial.” O Direito Comercial foi criado muitos séculos após a existência do comércio. Inicialmente surgiu na Grécia, nas Ilhas de Ródias. As leis ródias, baseavam-se nos costumes e não havia documentos escritos (fonte subjetiva), mas havia o respeito de todos, inclusive do Estado. Com o aumento do prestígio dos comerciantes tornou-se necessária a organização desta classe e como tais regras/costumes não eram escritas, esses comerciantes passaram a criarem métodos para se protegerem. Deste modo, surgiu a criação das corporações de ofício. As corporações de ofício possuíam: Leis próprias. Justiça própria (cônsules). Benefícios exagerados. Segurança própria – por conta de saques enquanto se deslocavam entre comunidades. Força militar paralela. Embora as corporações não serem “pessoas jurídicas”, elas possuíam uma forte organização e eram muito poderosas. Por ter caráter corporativista, se restringia para apenas um determinado grupo de pessoas (comerciantes). TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO EMPRESARIAL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 2 Passaram então a tornar-se muito poderosas e uma certa ameaça para o Estado (Monarcas), uma vez que possuíam um poder e prestígio maior do que o do Estado. “O poder adquirido pelos comerciantes, consolidado nas corporações, passou a incomodar o Estado, que se encontrava em um processo de fortalecimento. Com tudo, o Rei Luiz XIV, para não confronta-los criou com a ajuda de um comerciante (Sabarry), um documento disciplinando o direito comercial, todavia, embora emanado do Estado, beneficiava completamente os comerciantes. Sendo está a primeira vez que o Estado interviu na atividade econômica, reconhecendo assim o uso dos costumes vigentes” 1.2) TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO (FRANCESA) O direito e a justiça comercial eram para os membros das corporações. Porém, com a Revolução Francesa, surgiu os ideais do liberalismo (liberdade, igualdade, fraternidade), o que gerou o enfraquecimento destas corporações de ofício. Se a igualdade era uma das vertentes da revolução francesa, porque então restringir o direito comercial apenas para os comerciantes que são membros de corporações¿ Por que não para todos¿ Neste contexto, Napoleão Bonaparte idealizou um código comercial que foi criado em 1807, e que pudesse ser aplicado para todos e não somente restringir o direito aos membros das corporações. Sendo assim, surgiu a “Teoria dos Atos de Comércio” designando assim, quem era ou não comerciante pelos atos praticados, RESTRINGINDO-O apenas aos comerciantes. “Comércio pode ser conceituado como interposição e troca de mercadorias, ou seja, comprar algo e vende- lo a um preço maior, embora a produção e prestação de serviços também sejam atividades econômicas organizadas, com aquela não se confundem, pois a 1ª envolve transformação da matéria-prima e a segunda, geralmente é a utilização da força de trabalho”. Inaugura-se, então, um sistema para disciplinar as atividades dos cidadãos (...)De acordo com este sistema, classificavam-se as relações que hoje em dia são chamadas de direito privado em civis e comerciais. Para cada regime, estabeleceram-se regras diferentes sobre contratos, obrigações, prescrição, prerrogativas, prova judiciária e foros. A delimitação do campo de incidência do Código Comercial era feita, no sistema francês, pela teoria dos atos de comércio. Sempre que alguém explorava atividade econômica que o direito considera ato de comércio (mercancia), submetia-se às obrigações do Código Comercial (escrituração de livros, por exemplo) e passava a usufruir da proteção por ele liberada (direito à prorrogação dos prazos de vencimento das obrigações em caso de necessidade, instituto denominado concordata). (COELHO, Fábio Ulhôa. Manual de Direito Comercial. 22. Ed. São Paulo: Saraiva, 2010) Com a criação deste código, os produtores e prestadores de serviços ficaram de fora deste código, gerando um descrédito em relação a norma. Porém, as corporações de ofício se enfraqueceram, haja vista que não havia mais a necessidade de se associar a ela e pagar certas tarifas por um direito, uma vez que o Estado passou a tutela-lo. O direito comercial passou de subjetivo (para os mercadores) para objetivo (quem praticasse atos de comércio). TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO EMPRESARIAL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 3 1.3) TEORIA DA EMPRESA (ITALIANA) A noção de Direito comercial, pautada apenas em atos de comércio específicos, com o passar do tempo mostrou-se ultrapassada, uma vez que com a explosão da Revolução Industrial, surgiu novos ramos de grande importância comercial e que não estavam protegidos sobre a égide da Teoria dos Atos de Comércio. Segundo Fábio Ulhôa Coelho, a teoria da empresa surgiu: “Em 1942, na Itália, surge um novo sistema de regulação das atividades econômicas dos particulares. Nele, alarga-se o âmbito de incidência do Direito Comercial, passando as atividades de prestação de serviços e ligadas à terra a se submeterem às mesmas normas aplicáveis às comerciais, bancárias, securitárias e industriais (...) O Direito Comercial, em sua terceira etapa evolutiva, deixa de cuidar de determinadas atividades (as de mercancia) e passa a disciplinar uma forma específica de produzir ou circular bens ou serviços, a empresarial” Para essa Teoria, empresário “é aquele que exercita profissionalmente uma atividade econômica organizada com o fim de produção ou troca de bens ou de serviços”. Há três características no exercício de suas atividades: Habitualidade; Profissionalismo; Intuito lucrativo; É necessário haver estas três características de modo cumulativo para ser um empresário. Com isso, o Direito Comercial em sua forma italiana, deixa de restringir-se a somente regular relações entre mercadores, e passa a anexar em seu raio de alcance toda a forma de prestação de serviço que estejam ligadas a relação de comércio. Para tanto, foi necessário superar o conceito de mercantilidade e adotar o conceito de empresarialidade, fazendo com que o Direito Comercial deixasse de ser um Direito apenas dos comerciantes e passasse a ser um Direito de Empresa, abrangendo muito mais ramos ligados ao Comércio. A Teoria da Empresa, não se preocupa em fazer com que o Direito Comercial se ocupe apenas em normatizar alguns atos de comércio, mas sim com uma forma específica de exercer uma atividade econômica: a forma empresarial. É em torno da EMPRESA que irá gravitar todos os conceitos e princípios fundamentais do Direito Empresarial. Em síntese, a teoria da empresa visava identificar nas atividades econômicas organizadas, características pertinentes a todas elas, sendo a habitualidade, profissionalismo e o Intuito Lucrativo. Por este conceito, migrou-se para uma fase subjetiva do direito comercial, mas não focada na pessoa e sim no modo pelo qual ela desenvolve sua atividade econômica. Portanto, o direito comercial teve 3 fases: 1. Consuetudinário e subjetivo – O direito pertencia somente a quem participava das corporações, sendo um direito restrito. 2. Direito de quem praticava os atos de comércio – O Direito passa a ser tutelado pelo Estado e passa a valer para um “todo”, ou seja, todo aquele que praticava “atos de comércio”. Direito Objetivo, pois os critérios eram somente a prática de Atos de Comércio (sem necessidade de emissão de juízo de valor). TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO EMPRESARIAL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 4 3. Direito de Empresa – Expandiu-se e anexou toda a “linha de produção” das mercadorias ao direito comercial. Alargando-se o âmbito de incidência do Direito Comercial. Direito Subjetivo, pois deve- se emanar um juízo de valor, devendo-se atentar as características. 1.4) DIREITO COMERCIAL NO BRASIL No Brasil Colônia não houve Direito Comercial, uma vez que aqui vigoravam as leis portuguesas (Ordenações do Reino – Afonsinas, Manuelinas e Filipinas) e mesmo com a independência, em 1822, estas ainda continuaram a vigorar no Brasil. Já em 1850, surge o Código Comercial Brasileiro com fortes influências da Teoria dos Atos de Comércio da França e definia Comerciante como “aquele que exercia a mercancia de forma habitual, como sua profissão”. Porém, embora o próprio código não trouxesse a definição, ou o que considerava “mercancia”, o Legislador, através do Regulamento 737, passou a apresentar atividades que eram consideradas como mercancia. O regulamento 737, também daquele ano, que disciplinou os procedimentos a serem observados nos então existentes Tribunais do Comércio, apresentava a relação de atividades econômicas reputadas mercancia. Em linguagem atual, esta relação compreenderia: a) compra e venda de bens móveis ou semoventes, no atacado ou varejo, para revenda ou aluguel; b) indústria; c) bancos; d) logística; e) espetáculos públicos; f) seguros; g) armação e expedição de navios. (COELHO, Fábio Ulhôa. Manual de Direito Comercial. 22. Ed. São Paulo: Saraiva, 2010) Mesmo enquanto vigorou o Código Comercial (1850), aos poucos foi sendo adotada a Teoria da Empresa por meio de leis esparsas. A partir de 1960, os doutrinadores brasileiros passaram a trazer a Teoria de Atos de Comércios de uma forma crítica, enquanto disseminavam a Teoria da Empresa no Direito Brasileiro. Até mesmo as Jurisprudências passaram a olhar com bons olhos a Teoria Italiana e a demonstrar sua insatisfação com relação a Teoria Francesa. Leis Esparsas como o Código do Consumidor (CDC), trazem consigo, uma definição de fornecedor muito ampla, englobando todo e qualquer exercente de atividade econômica no âmbito da cadeia produtiva. Deste modo, é possível perceber que a mudança de Teoria no Direito brasileiro ocorreu de forma lenta e gradual e não de uma simples mudança legislativa. Finalmente em 2002, com o advento do novo Código Civil, houve a consagração da Teoria da Empresa (italiana). “Art.966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços (...).” Desaparece a figura do comerciante, surgindo agora a figura do empresário, sendo que as mudanças não se limitam apenas em aspectos terminológicos/nominais, mas se afasta definitivamente da Teoria dos Atos de Comércio e incorpora por completo a Teoria da Empresa ao nosso ordenamento jurídico, adotando o conceito de empresarialidade para definir nosso regime jurídico empresarial. Conceituando somente o empresário e não a empresa. OBS: houve a revogação expressa e parcial do Código Comercial de 1850. Sendo assim, ele NÃO FOI REVOGADO TOTALMENTE, ainda existindo, somente para regulamentar Direito Marítimo.
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