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ARISTÓTELES
O NASCIMENTO DA ÉTICA
A responsabilidade_________________________________________________________________________
O homem é o princípio e o genitor de seus atos como de seus filhos.
O princípio da responsabilidade pressupõe suas condições:
1.       É preciso que esteja na própria realidade das coisas que sejam contingentes de sorte que o futuro esteja aberto.
2.       Para que este possa ser declarado autor de seu ato, é preciso que este ato dependa dele: esta dependência é afirmada por Aristóteles através da noção de “bom grado”.
A noção de “bom grado” comporta uma ambiguidade.
Ética a Nicômaco → O ato de bom grado, as crianças e os outros seres vivos partilham com o homem.
Retórica → Bom grado é o ato cujo princípio é interior ao sujeito. Ter o princípio de seus atos em si, é ter a possiblidade de realiza-lo ou não realiza-lo. (Contesta-se para o animal ou a criança.)
O animal, movido por seu desejo, age de bom grado, posto que não é constrangido por uma força exterior, mas se trata de um aquém do pleno consentimento, porque não pode resistir a seu impulso.
O homem é o único ser a agir verdadeiramente com peno consentimento. O homem possui um princípio de ação distinto da cobiça ou do arrebatamento, é o logismos (cálculo ou raciocínio) ou o logos (discurso enquanto tem regra). Esta dualidade faz com que o ser humano não possa evitar a escolha: tem sempre que optar pró ou contra a conformidade ao logos.
Só há, para Aristóteles, dois tipos de atos que se cumpre sem consentimento: os que são feitos por imposição exterior e os que são feitos por ignorância. (Lembrar ex.: Homem bebe e causa acidente./Colocam droga no refrigerante do homem e ele causa acidente.)
As diferentes relações do homem com os prazeres do tato
Temperança (sophrosyne)
â
Continência (egcrateia)
â
Incontinência (acrasia)
â
Intemperança (acolasia)
Temperança: Não é somente uma virtude particular; ela é também o que designa a virtude moral, isto é, certa maneira de agir conforme à regra, com certa disposição interior.
Proairesis           →           Escolha intencional como visar a um fim.(permite distinguir o intemperante do
(3 acepções??)                 incontinente) / Em razão de.
                               →           Escolha nascida de deliberação sobre os meios. / Escolha deliberada dos meios para
                                               para alcançar um fim.
                                               A faculdade de deliberar pertence a todo ser humano adulto (salvo ao escravo), que busque agir não
somente por hábito mas por cálculo. A escolha acha-se, aqui, despojada de toda responsabilidade
moral.
Para Aristóteles, a virtude ética só é completa se for acompanhada por uma capacidade intelectual de
deliberar bem.
O desejo pode assumir 3 formas:
1.       Concupiscência (irracional)
2.       Arrebatamento (irracional)
3.       Boulesis = voto ou desejo (racional)
Filosofia - Kant
RESUMO
Transição do conhecimento moral da razão vulgar para o conhecimento filosófico____________________________________
Boa vontade: não se trata de um simples desejo, mas sim do emprego de todos os meios de que as nossas forças disponham. A boa vontade tem o poder de fazer vencer as suas intenções.
Neste mundo, e até também fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação a não ser uma só coisa: uma boa vontade.
A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão para alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão somente pelo querer, isto é, em si mesma.
A ideia do valor absoluto da simples vontade, a despeito mesmo de toda a concordância da razão vulgar com ela, pode surgir a suspeita de que no fundo haja talvez oculta apenas uma quimera aérea e que a natureza tenha sido mal compreendida na sua intenção ao dar-nos a razão por governante da nossa vontade. Vamos por isso, deste ponto de vista, pôr a prova esta ideia.
A razão não é apta bastante para guiar com segurança a vontade no que respeita aos seus objetos e à satisfação de todas as nossas necessidades, visto que um instinto natural inato levaria com muito maior certeza a este fim. No entanto, a razão nos foi dada como faculdade que deve exercer influência sobre a vontade. Então, o verdadeiro destino da razão deverá ser produzir uma vontade não só boa como meio para outra intenção, mas uma vontade boa em si mesma. Esta vontade terá de ser, contudo, o bem supremo e a condição de tudo o mais. A cultura da razão é necessária para a primeira e incondicional intenção da felicidade. A razão tem seu supremo destino prático na fundação duma boa vontade.
Para desenvolver o conceito de uma boa vontade altamente estimável em si mesma e sem qualquer intenção ulterior, vamos encarar o conceito do Deverque contém em si o de boa vontade.
1ª Proposição:
Deixemos, aqui, de parte todas as ações:
-        Que são contrárias ao dever;
-        Que são conforme o dever, mas com intenção egoísta.
Ex.: o comerciante que vende o produto para uma criança pelo mesmo preço com a intenção de ter a fama de que seu estabelecimento é honesto e assim atrair mais clientes).
-        Que são conforme o dever, mas por inclinação imediata.
Ex.: conservar a própria vida quando não se está em estado de depressão.
2ª Proposição:
Uma ação praticada por dever tem o seu valor moral, não no propósito que com ela se quer atingir, mas na máxima que a determina; não depende, portanto, da realidade do objeto da ação, mas somente do princípio do querer segundo o qual a ação, abstraindo de todos os objetos da faculdade de desejar, foi praticada.
O valor de uma ação conforme o dever, praticada pelo próprio dever, não é encontrado na vontade considerada em relação ao efeito esperado da ação. O valor desta ação reside no princípio da vontade.
3ª Proposição:
Dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei.
Só pode ser objeto de respeito àquilo que está ligado à minha vontade somente como princípio e nunca como efeito.
Se uma ação realizada por dever deve eliminar totalmente a influência da inclinação e com ela todo o objeto da vontade, nada mais resta à vontade que a possa determinar do que a lei objetivamente, e, subjetivamente, o puro respeito por esta lei prática, e por conseguinte a máxima que manda obedecer essa lei, mesmo com prejuízo de todas as minhas inclinações.
O valor moral da ação não reside no efeito que dela se espera; também não reside em qualquer princípio da ação que precise pedir o seu imóbil a este efeito esperado. Nada senão a representação da lei em si mesma, enquanto é ela, e não o esperado efeito, que determina a vontade, pode constituir o bem excelente a que chamamos moral. Mas que lei pode ser então essa, cuja representação, mesmo sem tomar em consideração o efeito que dela se espera, tem de determinar a vontade para que esta se possa chamar boa absolutamente e sem restrição?
Uma vez que despojei a vontade de todos os estímulos que lhe poderiam advir da obediência a qualquer lei, nada mais resta do que a conformidade a uma lei universal das ações em geral que possa servir de único princípio à vontade, isto é: devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal.
Não preciso pois de perspicácia de muito largo alcance para saber o que hei-de fazer para que o meu querer seja moralmente bom. Inexperiente a respeito do curso das coisas do mundo, incapaz de prevenção em face dos acontecimentos que nele se venham a dar, basta que eu pergunte a mim mesmo: -Podes tu querer também que a tua máxima se converta em lei universal? Se não podes, então deves rejeitá-la.
Assim, no conhecimento moral da razão vulgar, chegamos nós a alcançar o seu princípio, princípio esse que a razão vulgar em verdade não concebe abstratamente numa forma geral, mas que mantém sempre realmente diante dos olhos e de que se serve como padrão dos seus juízos. Seria fácil mostrar aqui como ela, com esta bussola namão, sabe perfeitamente distinguir, em todos os casos que se apresentem, o que é bom e o que é mau, o que é conforme ao dever ou o que é contrário a ele.
O conhecimento daquilo que cada homem deve fazer, e por conseguinte saber, é também pertença de cada homem, mesmo do mais vulgar.
A inocência é uma coisa admirável; mas é por outro lado muito triste que ela se possa preservar tão mal e se deixe tão facilmente seduzir. E é por isso que a própria sageza – que de resto consiste mais em fazer ou não fazer do que em saber – precisa também da ciência, não para aprender dela, mas para assegurar às suas prescrições entrada nas almas e para lhes dar estabilidade.
A razão humana vulgar, impelida por motivos propriamente práticos e não por qualquer necessidade de especulação (que nunca a tenta, enquanto ela se satisfaz com ser simples e sã razão), se vê levada a sair do seu circulo e a dar um passo para dentro do campo da filosofia prática. Aí encontra ela informações e instruções claras sobre a fonte do seu princípio, sobre a sua verdadeira determinação em oposição às máximas que se apoiam sobre a necessidade e a inclinação. Assim espera ela sair das dificuldades que lhe causam pretensões opostas, e fugir ao perigo de perder todos os puros princípios morais em virtude dos equívocos em que facilmente cai. Assim se desenvolve insensivelmente na razão prática vulgar, quando se cultiva, uma dialética que a obriga a buscar ajuda na filosofia, como lhe acontece no uso teórico; e tanto a primeira como a segunda não poderão achar repouso em parte alguma a não ser numa crítica completa da nossa razão.
Transição da filosofia moral popular para a metafísica dos costumes
Embora muitas das coisas que o dever ordena possam acontecer em conformidade com ele, é, contudo, ainda duvidoso que elas aconteçam verdadeiramente por dever e que tenham, portanto, valor moral. Por isso é que houve em todos os tempos filosóficos que negaram pura e simplesmente a realidade desta intenção nas ações humanas. A fraqueza e a corrupção da natureza humana que, se por um lado era nobre bastante para fazer de uma ideia tão respeitável a sua regra de conduta, por outro era fraca de mais para lhe obedecer.
Na realidade, é absolutamente impossível encontrar na experiência com perfeita certeza um único caso em que a máxima de uma ação, de resto conforme ao dever, se tenha baseado puramente em motivos morais e na representação do dever.
Quando se fala de valor moral, não é das ações visíveis que se trata, mas dos seus princípios íntimos que se não veem.
Não se pode prestar serviço mais precioso àqueles que se riem de toda a moralidade como de uma simples quimera da imaginação humana exaltada pela presunção, do que conceder-lhes que os conceitos do dever (exatamente como por preguiça nos convencemos que acontece também com todos os outros conceitos) têm de ser tirados somente da experiência; porque assim lhes preparamos o triunfo certo.
A razão por si mesma e independentemente de todos os fenômenos ordena o que deve acontecer.
Se não se pode contestar que a sua lei é de tão extensa significação que tem de valer não só para os homens mas para todos os seres racionais em geral, não só sob condições contingentes e com exceções, mas sim absoluta e necessariamente, torna-se então evidente que nenhuma experiência pode dar motivo para concluir sequer a possibilidade de tais leis apodícticas.
Não se poderia também prestar pior serviço à moralidade do que querer extrai-la de exemplos.
Os exemplos servem apenas para encorajar, isto é, põem fora de dúvida a possibilidade daquilo que a lei ordena, tornam intuitivo aquilo que a regra prática exprime de maneira mais geral, mas nunca podem justificar que se ponha de lado o seu verdadeiro original, que reside na razão, e que nos guiemos por exemplos.
Este fato de descer até os conceitos populares é sem dúvida muito louvável, contanto que se tenha começado por subir até aos princípios da razão pura e se tenha alcançado plena satisfação neste ponto. (1º - Fundamento da doutrina dos costumes na metafísica / 2º - Tornar a doutrina acessível pela popularidade).
Ora, tal Metafísica dos costumes, completamente isolada não é somente um substrato indispensável de todo o conhecimento teórico dos deveres seguramente determinado, mas também um desiderato da mais alta importância para a verdadeira prática das suas prescrições.
*SOBRE KANT – não cai.
Pensador do Século XVIII, russo.
Nunca saiu de sua cidade. Era super metódico. Vida dura, diferente de outros filósofos. Era do equivalente à classe media baixa. Durante a maior parte de sua vida, trabalhou como tutor privado. Só aos 40 anos entrou para a faculdade.
1ª obra (a qual se tornou famoso): Critica da razão pura (tinha quase 50 anos quando a publicou). Anteriormente produziu outras teorias também. Essa obra rompe com a forma de pensar tanto racionalista como com a empirista.
POR QUE ESTUDAR KANT?
Pais da filosofia moderna:
-        Do ponto de vista racionalista: René Descartes
-        Do ponto de vista empirista: Francis Bacon
Ambos, vieram cerca de 100 anos antes de Kant.
Kant é considerado o filósofo mais importante da modernidade, embora não seja considerado o “pai” da filosofia moderna. Mas, Kant radicaliza e aprofunda o jeito moderno de fazer filosofia de um modo muito mais frutífero, efetivo e exemplar que todos os outros.
O que é esse jeito moderno de fazer filosofia?
Quebra de paradigmas à Mudanças muito radicais no jeito de fazer reflexão filosófica.
Paradigmas:
        I.            Ontológico
Caracteriza a filosofia antiga e a medieval.
      II.            Epistemológico
Da filosofia da consciência ou da filosofia da subjetividade.
    III.            Da Linguagem
Caracteriza o modo de fazer filosofia.
ONTOLOGIA
Ontologia: Ramo da filosofia que quer estudar os constituintes últimos e o mobiliário do real. “Do que uma realidade é feita?”
Há várias formas de ontologia:
-        Fisicalista (a realidade é só composta de coisas corpóreas)
-        Metafísica (para além das coisas corpóreas tem também outros entes reais, mas são não físicos).
Acreditava-se que toda reflexão filosófica para ter chance de sucesso se parte de uma reflexão ontológica. Pois, é ela que vai nos dar base para responder as demais questões.
Na modernidade ocorre uma ruptura com esse jeito de fazer filosofia. O que gera essa ruptura? Gera um novo objeto de investigação filosófica que os filósofos consideram ser extremamente frutífero: conhecimento das estruturas e do funcionamento da consciência dos sujeitos racionais.
	Para uma melhor compreensão de Kant é importante ter o conhecimento do contexto de época dele. Esse contexto está situado depois de uma ruptura no modo de fazer filosofia. O que caracterizava o modo de fazer filosofia antes de Kant era a prioridade da ontologia. Ou seja, as investigações de cunho ontológico precediam as demais investigações. Primeiro tentava-se esclarecer os primeiros princípios da realidade, do que ela é composta, quais são os seus constituintes básicos para, a partir daí, colher elementos, conceitos, argumentos para se estudar os demais campos do conhecimento. Com a modernidade, há uma ruptura e uma mudança nisso. Porque se descobre um novo objeto de investigação que é a subjetividade racional, a consciência racional (Descarte).
O que é ser um ente racional para o Descartes? É ser capaz de possuir ideias, ou estados mentais, ou representações com as características de:
        I.            Privilégio direto de 1ª pessoa
      II.            Incorrigibilidade
    III.            Reflexibilidade
O que caracteriza esse jeito de fazer filosofia que é típico da modernidade depois de sua ruptura do jeito de fazer filosofia típica da antiguidade? Continua havendo um campo considerado prioritário em face de outros. Mas, não mais é a ontologia, seja ela fisicalista ou metafísica. Mas, agora, o que entra no lugar é o conhecimento do funcionamentoda subjetividade, de como funciona o conhecimento a mente, a subjetividade racional.
O jeito de fazer filosofia que caracteriza o período do Kant, no qual Descartes está inserido, Locke está inserido e todos os outros filósofos dessa filosofia da consciência, primeiro é a descoberta da consciência enquanto objeto alvo, depois o comprometimento com a seguinte estratégia de investigação filosófica: primeiro eu tento desvendar ou compreender o funcionamento da consciência para a partir daí, os elementos, os conceitos, as estratégias explicativas eu responder as demais perguntas filosóficas de outros tipos. Essa segunda característica, chama-se paradigma da consciência.
Mas, tem ainda mais duas coisas que caracterizam essa abordagem. E aí já começamos a ver que são características que já atuam de certa forma presentes de modo talvez incidente, talvez não plenamente desenvolvido, mas que vão adquirir, ou vão ganhar todo o seu desenvolvimento mais sofisticado mais pleno, mais aprofundado com o Kant. Quais são essas duas últimas características? A ideia de que essa consciência de que eu tenho de conhecer, ela se caracteriza por estruturas e processos. Isso, Descarte não tinha ainda tratado, ou não tinha ainda pensado nessa questão. Já está num certo sentido implícito na filosofia do Descarte que existem certos processos que acontecem na consciência, que isso só é tornado possível por certas estruturas, mas ele não tem clareza exatamente disso. Mas ele não tinha ainda levado isso às ultimas consequências e tentado desvendar essas estruturas, esses processos. O Kant é que vai fazer isso.
Então, se pudéssemos usar esse o modelo cartesiano do “teatro da consciência” e fossemos comparar ele com o modelo Kantiano, o que teríamos de acrescentar? Já temos presente o “olho da mente” que nos leva a entender aquelas três características que é o privilégio de direto de 1ª pessoa, a incorrigibilidade e a reflexibilidade.
Obs.: Há dois tipos de estados mentais. Estados mentais que querem ou que pretendem ter uma relação de correspondência com o que está fora. Ex.: crenças. No caso das crenças eu posso ser corrigido. Mas, tem um aspecto no qual eu não posso ser corrigido. O que eu acho pode estar errado, mas ninguém pode dizer que eu não acho, que eu não creio, ou que eu não desejo, ou que eu não sinto essa dor, ou que eu não tenha essa raiva. Eu posso ser corrigido a cerca da verdade do meu estado mental, sobre uma relação de correspondência entre esse estado mental, quando ele é um estado mental que quer ser representado lá fora adequadamente. Mas, não posso ser corrigido sobre possuir ou não possuir determinado estado mental. Isso é a incorrigibilidade.
Características do paradigma da consciência ou paradigma da subjetividade (modo tipicamente moderno de se fazer filosofia):
-        Primeira e segunda: A existência de uma consciência e o mergulho de introspecção para conhecer o funcionamento dessa consciência como sendo prioritária para os demais campos de pesquisa.
As outras duas características, que estão apenas implícitas ali, é o fato de que essa consciência tem estruturas e processos e estas estruturas e processos são os mesmos para todos da mesma espécie, no mínimo. Ou seja, seja lá quais são as estruturas e o modo como elas se associam, os processo sempre vão originar como resultados conhecimentos e ações. Efeitos ou consequências teóricas: conhecimento. Efeitos ou consequências práticas: ação.
-        Terceira: Então, essa característica da filosofia da consciência é que a consciência é dotada de estruturas e essas estruturas se associam resultando num processo e esses processos, por sua vez resultam em conhecimentos. Mas, essas estruturas desses processos são compartilhadas por nós. Ou seja, minha consciência funciona igual à sua consciência, embora não tenhamos os mesmo afetos, as mesmas preferências, os mesmo desejos e nem os mesmos conhecimentos. Mas, o meu jeito de conhecer é diferente do seu jeito de conhecer. O jeito de desencadear ações que atuam em mim, não é diferente do jeito de desencadear ações que atuam em você, o mecanismo funciona igual. Pode até acontecer que um tenha um mecanismo pior ou melhor que o outro, mas o jeito de funcionar é o mesmo.
A terceira e a quarta característica estão implícitas no paradigma da consciência nos demais filósofos, mas estarão bem claros no paradigma da consciência de Kant.
-        Quarta: Essas estruturas e esses processos eles têm um modo de funcionamento que é fixo e constante, não se tornam melhores ou piores com o passar do tempo. Essas estruturas internas da consciência são estruturas a priori (anterior e independente da experiência, pois não se deterioram e nem se aprimoram com as experiências).
Todos os filósofos da modernidade partem dos mesmos pressupostos acima para fazer a filosofia. Tudo isso vai contra os pensamentos de Aristóteles.
O que é consciência? É a mesma coisa que mente, que subjetividade racional, racional. É a capacidade de construir estados mentais, ou seja, ideias (conteúdos intramentais ou conteúdos intrapsíquicos – crença, desejos, afetos, dores, sensações, estados mentas com privilégio de 1ª pessoa, incorrigibilidade e reflexibilidade).
Os modernos achavam que os animais não tinham sensações, dores, nada disso. Os primeiros racionalistas modernos não pensavam isso. Para eles, o animal era uma maquininha de carnes.
Pode-se dizer que a consciência racional é a alma para os modernos? Sim. Embora haja diferenças na forma de sua concepção para os antigos e para os modernos.
Usamos essas palavras diferentes, almas para falar dos antigos e consciência para falar dos modernos. Porque quando usamos consciência estamos referindo a uma alma com capacidade de construir estados mentais de modo incorrigível, com privilégio de 1ª pessoa e reflexibilidade, ou seja, para denotar estas características em específico. Os gregos não achavam que quando conhecíamos algo produzíamos um estado mental interno que quer copiar o que está lá fora. Eles não tinham essa ideia da subjetividade racional. A alma humana não era compreendida por eles como na modernidade. Conclusão: poderíamos dizer que a consciência, o eu racional é a alma pros modernos.
	Quando o Kant vai fazer sua filosofia, vai desenvolver sua filosofia moral, ele também vai se apropriar desse modelo, mas ele vai sofisticar esse modelo. Porque o Descarte não tinha clareza de quais são essas estruturas, esses processos.
O Kant percebe que não tem acesso direto a essas estruturas, a esses processos. Pois tem muitas coisas que acontecem em minha consciência que têm de acontecer para que eu possa, por exemplo, agir, mas que eu desconheço. É como se olho da mente só captasse as ideias que estão lá dentro à medida que elas já estão prontas. Mas o modo pelo qual elas se formam já não se conhece.
Perguntas como: Deus existe? O que acontece conosco depois que morremos? Como ser livre num mundo de causalidades? Estabelecem uma grande disputa entre os empiristas e os racionalistas.
Qual a diferença entre racionalistas e empiristas? São duas concepções teóricas. Os empiristas acreditam que todo o conhecimento tem origem nos sentidos. Os racionalistas tem uma postura inversa. Eles acreditam que alguns conhecimentos podem ter origem na razão sem que esta razão se associe com os sentidos. Se os racionalistas estiverem certos, é possível conhecer os entes metafísicos. Pois, os entes metafísicos (Deus, a alma, a liberdade) não nos podem causar impressões sensíveis. Ou seja, eu não posso ver Deus, enxergar a alma, sentir o cheiro da liberdade. Então, se for possível conhecer qualquer coisa sem a participação dos sentidos, os racionalistas vão dizer que é possível conhecer os entes metafísicos. Nesse caso, o fato da filosofia não ter chegado a uma conclusão a cerca de se Deus existe, se a alma é imortal, se é possível a liberdade num mundo de causalidade, seria por falta de competência, falta de garra, falta de empenho filosófico. Agora, se os empiristas estivessem corretos, e de fatotodos os conhecimentos tivessem de ter a participação dos sentidos, isso significa que esses entes seriam impossíveis de serem concluídos.
A metafísica é um impulso racional que todos os seres racionais têm. Mas, será que estamos equipados para responder? Essa é que é a pergunta de Kant no final. O que Kant quer saber? Se nós podemos conhecer os entes metafísicos. Mas, o que preciso fazer para responder? Primeiro, por que eu preciso responder essa questão? O que Kant percebeu é que não adianta ficar quebrando a cabeça nessa disputa de se Deus existe ou não existe. O fato de não ter sido provado pode ser sintomas de duas coisas: Não há consenso porque o povo é ruim de serviço, e não desenvolveu uma teoria boa até agora; Ou, não há consenso por que, se os empiristas estiverem certos, não faz parte do nosso jeito de conhecer, nosso maquinário não é de um tipo que dê conta de conhecer sem que haja a participação de ao menos de um dos nossos sentidos. Como é que vamos saber isso?
Eu tenho que parar de preocupar com Deus, com a liberdade e com a alma humana e preocupar comigo, com o meu jeito de conhecer, como as estruturas e os processos funcionam. É o conhecimento disso que vai me permitir responder a questão sobre o porquê não conseguimos chegar a uma resposta sobre Deus, liberdade, etc. Essa constatação do Kant significa que temos de parar de fazer perguntas sobre essas coisas, eu tenho de dar um passo para trás para poder dar dois para frente. O que é esse passo para trás? Mudar o foco de atenção e procurar conhecer o sujeito e o jeito de conhecer o sujeito. Mas, qual era o problema do modelo cartesiano? Que o meu eu subjetivo só tinha acesso aos meus conhecimentos depois que eles estão formados. Mas, eu não vejo as estruturas que estão em jogo.
No final da obra dele, Estrutura critica da razão pura, que é onde ele vai tratar destas questões... A gente não vê essas estruturas. Como eu chego a formular o conhecimento? Não sabemos. E para conhecer os entes metafísicos, teríamos de saber como funcionam essas estruturas, a formulação do conhecimento. Mas, eu não os conheço. Se eu não tenho acesso aos processos, às estruturas, mas eu tenho acesso ao resultado desses processos e estruturas, eu tenho como desvendar essas estruturas e esses processos? SIM. Ex.: Pelo tipo de escultura produzida é possível deduzir a estrutura do atelier do artista e os processos utilizados. Quando se faz a dedução reversa, o resultado mostra como as estruturas e processos da consciência já são e tem de ser para produzir aquele conhecimento. É assim que Kant revela os processos da consciência, a partir da dedução reversa dos conhecimentos que ela gera. Descarte não se preocupou em fazer essa dedução reversa. Ele não atinou para importância disso. Esse é o jeito mais sofisticado de Kant para responder perguntas de outras esferas.
Eu quero saber se é possível conhecer os entes metafísicos. Kant dá um passo pra trás para conhecer as estruturas da consciência. Ele parte das características de um conhecimento que ninguém questiona para saber se nossa consciência é capaz de produzir conhecimentos sobre Deus, ou seja, as estruturas e processos que tem que ter para produzir conhecimentos sobre os entes metafísicos. E a resposta do Kant é NEGATIVA. A resposta final do Kant não é nem empirista (todo conhecimento origina dos sentidos) e nem racionalista (o conhecimento pode ser produzido sem a participação dos sentidos, pode ser produzido apenas com a razão). O Kant vai deduzir que todo o conhecimento humano... O nosso modo de conhecer tem 2 etapas. Essas duas etapas são exercidas por 2 estruturas. Quais são essas estruturas. Uma é uma estrutura receptiva, passiva, chamada sensibilidade, que parece em alguma medida com a tábua de cera (capaz de ser impactado e reter uma imagem, um registro do mundo por meio dos sentidos). A outra parte não é receptiva, é ativa, que é a nossa razão, que recebe o nome específico de entendimento (nesse caso), que é nossa capacidade de aplicar conceitos pra poder ligar, ou conectar essas impressões sensíveis. Por que eu só tenho consciência de alguma coisa, a partir dessa síntese. Eu não tenho conhecimento de cada vez que “minha tábua de cera” é impactada. Eu tenho conhecimento do todo, dessas impressões já conectadas. Então, algo faz essas conexões. Nem todas as impressões sensíveis são importantes, precisam ser conectadas. Algumas impressões não serão utilizadas. Nunca se usa todas as impressões sensíveis que se tem, pois tem impressões demais. Diante de todas as conclusões que Kant tira, quem estava certo? Os empiristas ou os racionalistas? A conclusão de Kant é uma conclusão que não dá ganho de causa total nem para empirista, nem pra racionalista. Ele dá ganho de causa parcial para ambos. Por quê? Se todo conhecimento de coisas é resultado de uma síntese conceitual, de uma multiplicidade sensorial, a matéria prima é a impressão sensível de algo. Mas, eu consigo ter impressão sensível de Deus? Não. Então, não há o que sintetizar, não há o que ligar. Então aí, parece que o ganho de causa foi dos empiristas. Pois eles diziam que todo o conhecimento começa com base nos sentidos. (Impressão sensível = capacidade de ser impactado pelo mundo através dos sentidos.) A rigor, eu não posso ter conhecimento dos entes metafísicos por que eu não posso ter impressão sensível deles. Então, significa que os empiristas ganharam a parada? Que todos os conhecimentos tem origem nos dados dos sentidos?  Sim. Se estivermos falando de conhecimento de objetos de coisas de eventos ou de fatos. Mas, para ganhar direito a essa conclusão, não foi preciso desvendar o funcionamento da consciência? Sim. Mas, como fiquei sabendo o jeito que a consciência funcionava? Através do resultado, da dedução reversa, o que na filosofia é chamado de reflexão transcendental. E isso não precisou de dados do sentido, pois não senti o gosto do meu entendimento funcionando, ou vi, ou ouvi, ou senti o cheiro do meu entendimento funcionando. Eu usei apenas a razão para fazer a dedução reversa. Então, não se pode dizer que empiristas ou racionalistas ganharam. Kant diz que para conhecer objetos, para conhecer eventos, fatos, etc. a minha razão não consegue atuar sozinha. Tem de se associar com os sentidos para processar. Mas, quando se trata de conhecer o jeito de funcionar do sujeito, aí a razão não precisa dos sentidos. Então, temos um ganho de causa parcial para empiristas e racionalistas.
Podem-se conhecer os entes metafísicos? = A razão pura pode conhecer algo? Não. Os entes metafísicos são coisas que não posso ter acesso sensorial. Se eu puder reconhecê-los, terá de ser pelo uso exclusivo da razão. Se os entes metafísicos são metafísicos, ou seja, não são físicos, a única forma de conhecê-los seria através da razão. Isso é um exemplo de como Kant aplica o paradigma da filosofia da consciência.*
FILOSOFIA MORAL KANTIANA - Início
O Kant acha que o que nos permite conhecer a diferença entre uma ação moral e uma ação não moral é a motivação. A diferença entre elas é a motivação. Mas, o que Kant chama de motivação? Motivação = Como que uma ação originou. O que distingue uma ação moral de uma ação não moral de Kant, não é o resultado, o efeito dessa ação. Por que ação pro Kant não é só comportamento. Ação inclui motivação e comportamento. Ações que possuem um comportamento observado igual podem ser ações diferentes se tiver uma motivação diferente. A ação de um indivíduo que a praticou por princípio, por que acha aquilo correto é mais valorosa do que a de um indivíduo que a realizou para satisfazer um desejo. A diferença entre elas não é o resultado concreto, e sim, a motivação (estruturas e processos internos desencadeados). Sendo assim, como a motivação será diferente entre as pessoas se as estruturas internas são as mesmas?
Quais são as obras mais importantes do Kant?
Crítica da razão pura é a obra mais importante do Kant. A qual foi publicada quando ele tinha quase 50 anos. Essaobra é de filosofia teórica e está relacionada com metafísica.
Obra de Kant a ser estudada: Fundamentação da metafísica dos costumes (prova).
Há outra obra de Kant que se chama “Crítica da razão prática”. Trata-se de uma obra de filosofia prática, mais especificamente de filosofia moral.
Muito cuidado com os títulos das obras de Kant, por que Crítica não é falar mal. Crítica para o Kant é investigar os limites, o alcance, as possibilidades e as capacidades de determinada coisa.
Conclusão de Kant: A razão pura serve para entender o funcionamento das estruturas e processos internos da consciência.
Parece que tem duas razões: pura e prática. Mas, não há 2 razões. Há 1 única razão. Mas, elas receberão nomes diferentes dependendo de 2 coisas: dependendo da dimensão do emprego ou do modo de emprego.
Dimensões de emprego (a razão pode ser empregada para quê?): produzir conhecimento e para agir.
Diferença fundamental entre Kant e Aristóteles: Para Kant, o desejo não é o motor da ação. Quando empregamos a razão para conhecer será nomeada de razão teórica. E quando a empregamos para agir, será nomeada de razão prática.
Modo de emprego: a razão pode ser empregada associada com os sentidos/experiência, sendo nomeada de razão empiricamente condicionada (a qual pode conhecer objetos acontecimentos e fatos); ou sem associação com os sentidos/experiência, sendo nomeada de razão pura (a qual pode conhecer somente as estruturas e processos internos (do consciente).
Sendo assim, temos 4 classificações da razão:
        I.            Razão prática pura
      II.            Razão prática empiricamente condicionada
    III.            Razão teórica pura
    IV.            Razão teórica empiricamente condicionada
A razão prática pura e a empiricamente condicionada são as que nos interessam.
Crítica da razão pura (teórica) = Investigação a cerca dos limites, do alcance, das capacidades, das potencialidades da razão sem se associar com a experiência. Na produção do conhecimento ou na produção da ação?
Até onde que a razão teórica pura é capaz de ir na produção de conhecimento? Compreensão das estruturas internas da consciência.
Até onde que a razão teórica empiricamente condicionada é capaz de ir? Produção de conhecimento de objetos, eventos, coisas e acontecimentos.
Quando a razão é empregada para produzir ação sem se associar com nenhum elemento da experiência, as ações desencadeadas são ações morais.
Quando a razão prática empiricamente condicionada desencadeia uma ação, ou seja, a razão ela desencadeia minha ação, mas associada com dados, elementos da experiência, as ações que ela desencadeia são ações não morais.
Sendo assim, como a motivação será diferente entre as pessoas se as estruturas internas são as mesmas?
Nós temos dois tipos de motivação para o Kant:
        I.            Motivações que caracterizam ações não morais, que são a motivações formadas na experiência. Essas motivações podem ser chamadas de móbiles empíricos. Móbiles empíricos referem-se a todas as motivações que decorrem das vivências, experiências que nós temos. Ex.: Desejos, afetos, expectativas sociais de comportamento. Essas motivações variam de pessoa para pessoa. Móbiles empíricos = inclinações. Mas, nossas estruturas não são análogas? Idênticas?
      II.            Motivações que caracterizam ações morais, que são as motivações de agir por que é certo, agir por que tal coisa é a coisa racionalmente correta a fazer. Quando afastamos o que nos diferenciam, que são as nossas inclinações, acabamos por identificar as mesmas coisas como aquilo que é racionalmente correto a fazer. Quando agirmos moralmente, nosso comportamento tende a convergir. Agora, por que esse comportamento é divergente como agimos de modo não moral se nossas estruturas são iguais? É por que desejos, afetos, expectativas sociais de comportamento, emoções são coisas que todos os seres humanos tem a capacidade de vivenciar. É por isso que apesar de termos as estruturas e funcionamento da consciência de forma análoga que nossos comportamentos são diferentes quando agirmos movidos pelas inclinações (nossas experiências são diferentes, e elas levam a desejar coisas diferentes).
A questão da moralidade de Kant está associada com a motivação.
Tem uma diferença muito grande da sua filosofia moral de Kant para a reflexão sobre ação, sobre quando uma ação é valorosa ou não valorosa, ou ação sobre o que constitui vida boa. Essas questões éticas tradicionais na verdade elas ganham outro tratamento quando a gente vai pensá-las a partir da filosofia moral Kantiana. Por quê? Por que o que é central no Kant na atribuição de valor da ação, o que vai distinguir sobre se uma ação é moral ou não moral é o tipo de motivação que dá origem a essa ação. Só que quando o Kant fala do tipo de motivação, ele não está falando de qual é a motivação específica. Ele faz uma distinção e ele percebe que existem dois tipos de motivação possíveis:
1.      Agir movido por um conjunto de motivações que é formado a partir da experiência, ou seja, as inclinações.
2.      Sermos motivados a fazermos algo a partir da razão.
O que desejo, afeto, emoções, afinidade, expectativas sociais de comportamento têm em comum? São todas motivações e caem na mesma categoria de motivação, as quais o Kant chama de inclinações, ou então, de móbiles empíricos.
móbil à aquilo que move alguém à alguma coisa
empírico à relacionado à experiência
O que são essas inclinações, esses móbiles empíricos? São motivações formadas na experiência, ou na vivência e recebem o nome de inclinações. O que está incluído nessas inclinações? Desejos, afetos, expectativas sociais de comportamento, afinidades, etc. Várias coisas diferentes poderiam configurar essas inclinações, esses móbiles empíricos. Porque que são inclinações forjadas a partir da experiência? Por que na perspectiva kantiana, eu não posso ser movido por desejos? Ou seja, esses desejos não podem motivar uma ação? Porque que elas são mobílies empíricos? Na verdade, o melhor modo de entender isso do Kant, seria entender o seguinte: todos nós desejamos, não é? Todos nós que vivemos em sociedade nos sentimos movidos pela expectativa do outro em relação ao nosso comportamento. Todos nós tempos afetos. Mas, os mesmos? Os mesmos desejos? Os mesmos afetos? As mesmas expectativas de comportamentos sociais? Alguns sim, outros não. O que é que vai determinar qual é o desejo que me move a agir, qual é a expectativa de comportamento, qual é conjuntos de vivencias que eu tive que me mova a realizar uma ação? Com relação ao desejo de chupar um picolé de cajamanga. O que possibilitou esse desejo? A experiência interior. Todas essas motivações que vão entrar no Kant, nessa categoria de motivações empíricas, motivações que nós temos por causa das vivências, por causa das experiências que temos. Essas vivências, experiências são diferentes para nós, por que não somos do mesmo tipo, mas o desejo específico que vai me mover a fazer é diferente do desejo específico que pode te mover. A expectativa social de comportamento que pode me mover é diferente da expectativa social de comportamento que pode te mover.
Para além disso nós temos um outro tipo de motivação possível. Qual que é o segundo tipo de motivação. É sermos motivados a fazermos algo a partir da razão.
Como já vimos na aula passada, a ação se desdobra em dois momentos, que é a motivação e o desdobramento externo do espaço temporal da ação que é o comportamento. Para o Kant nós temos então essas motivações que incidem sobre nós e nos movem a realizar os comportamentos que nós adotamos daqui pra frente. Só que, para além da possibilidade de agir movido por desejo, afetos, expectativas social de comportamento, simpatia e todas essas coisas, para o Kant existe também a possibilidade de que nós realizemos uma ação não para satisfazer o meu desejo, mas é a minha capacidade de me sentir atraído a um determinado curso de ação, por que aquilo é a coisa racionalmente correta a fazer. O Kant acredita que essa possibilidadeé real. Não é sempre que agimos assim, mas as nossas ações só são morais quando esse tipo de motivação determina a realização de minhas ações. Podemos chamar de agir por princípio, ou agir movido pela boa vontade.
Então, quais seriam os dois tipos de motivação diferentes para o Kant:
1.      Agir pelas inclinações
2.      Agir movidos pela razão
O que caracteriza a moralidade da ação é o tipo de ação. O tipo de motivação que caracteriza as ações morais é agir por princípio, ou seja, fazer algo apenas por que eu reconheço que aquilo é a coisa racionalmente correta a fazer.
Esses dois tipos de motivação, no entanto, requerem uma incidência da razão. Mesmo quando o que me move são desejos, afetos, expectativas sociais, ou seja, motivações formadas a partir da experiência, ainda assim, a razão não está completamente ausente da minha ação. Por que não? Por que eu não passo, de modo imediato, do desejo de tomar picolé de graviola para a ação (o picolé não aparece na minha mão). É preciso algo entre o desejo de tomar o picolé de graviola e a ação, o desdobramento externo. E esse algo é a deliberação de meios e por em movimento esses meios. Nesse caso, quem é que é capaz de deliberar meios? A razão. E quem é capaz de coordenar o início dos atos executivos que põem em movimento esses meios para concretizar os fins? Então, mesmo quando as inclinações nos movem a agir, a uma divisão de trabalho entre a razão e as inclinações no processo de motivação. Como é que fica essa divisão? As inclinações fornecem os fins e a razão fornece os meios e coloca em movimento esses meios. A razão faz a demonstração de necessidade, ou seja, mostra o modo mais eficaz de chegar lá. E ao me mostra isso a razão me apresenta então uma espécie de necessidade de uma obrigação de agir desse modo.
Nesse primeiro tipo de motivação, as inclinações, elas não vão determinar diretamente o desdobramento da ação. Pois, é necessária a deliberação de meios e cursos de ação inevitável que se deve tomar, e é a demonstração dessa necessidade que me move a agir. Então, as inclinações arregimentam a ação. Razão e inclinação cooperam para produzir uma determinada ação.
Tipo de motivação A: agir por inclinação ou ação não moral.
Há uma divisão de trabalho. Algo fornece os fins e algo fornece os meios e põe os meios em movimento ao me apresentar certas ações como devidas. Também cabe a própria razão me mostrar que, se eu realmente desejo, não há outro caminho de alcançar isso senão, fazendo tal coisa. É essa demonstração de que determinado curso de ação é necessário para a concretização daquela realidade é que me move a agir. É o reconhecimento de que determinadas ações são necessárias para concretizar o fim que faz com que eu compreenda que eu devo fazer tal coisa. Então, é a apresentação desse dever que me move a agir. O que me leva a agir é o reconhecimento racional que, se eu quero A, e o jeito pra concretizar A é B, então se eu quero mesmo A, eu devo fazer B (meio que eu tenho).
Isso já marca uma diferença muito grande entre Kant e Aristóteles.
O outro tipo de motivação é o que Kant chama de agir por princípios, que caracterizam as ações morais. Se agir por inclinação significa que estarei agindo por uma motivação empírica, o que poderia significar uma ação movida só pela razão? Fazer algo por que é certo. Sem qualquer finalidade, pois a ação moral tem um fim em si mesmo. Isso é o que caracteriza uma ação moral.
Lembremos que a ação se divide em motivação e comportamento. O simples fato de 2 ações se desdobrarem com o mesmo comportamento, não quer dizer que ela seja a mesma ação. Pois elas podem ter motivações diferentes.
Como ficaria então o processo das ações feitas por princípio (ações morais)?
Para poder fazer isso, é necessário afastar suas inclinações. Para Kant, o hábito não tem a força de transformar nossos desejos nem pra piores e nem pra melhores. Para Kant, o sujeito que age moralmente, ele não transforma as inclinações para melhor, ele se recusa a escutá-las no momento de agir. Não que as inclinações sejam imutáveis, mas sim heterônimas (formadas de fora para dentro, a partir da experiência, e cujo processo de surgimento está fora do controle do sujeito), ou seja, elas são transformadas pelas experiências vividas.
Quem faz o que quer, de seguir as inclinações, não é livre, mas escravo dessas inclinações.
O que acontece quando afasto as inclinações? Vou agir movido pela razão. Nesse caso, a razão delibera os meios, me mostra a necessidade de algo. Nas 2 motivações, algo se mantém: a deliberação dos meios e o colocar os meios em movimento ao me apresentar certas ações como devidas. No primeiro, quem dá os fins é a inclinação. Na segunda, quem da os fins é a razão. Ou seja, em uma ação moral, a razão dá os fins e os meios.
******Promissória 1:
Muitos autores vão dizer que não é possível que a razão diga e motive o q se deve fazer. Para D. Hume, a razão é, foi e sempre será escravo das paixões. Acredita que a razão não é capaz de propor fins. Kant não concorda com ele. Quando tira todas as inclinações, ainda encontra-se lá no fundo o fim posto pela razão, ou fim racional.
Que tipo de capacidade de propor fins tem a razão? Como ela é capaz de realizar essa tarefa que a inclinação faz. Mas, por que é capaz de fazer isso e como?
Agir por inclinações x Agir por moral (princípios)
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Comparações com Aristóteles
Qual a diferença entre ética e moral? Não há consenso entre todos os filósofos acerca do que significa cada um desses termos. Normalmente se deixa ética para um tipo de reflexão sobre o que é viver bem e felicidade. Moral para o tipo de reflexão de que tipo de ações está de acordo com a regra que distingue o que é moral e não moral.
A moral não é costume para Kant. A moral deriva da razão.
Comparações
Para Aristóteles, o que é valoroso coincide com as expectativas dos cidadãos. Para Kant não. Uma ação pode ser considerada valorosa para toda a sociedade e ainda sim não ser moral. Pois a sociedade tem acesso somente ao resultado e não à motivação.
Nós somos diferentes uns dos outros e fazemos coisas diferentes por que temos inclinações diferentes. Quando afastamos todas elas, o que propõe o fim da ação é a razão. A razão funciona igual em todos nós. O q difere entre nós são as nossas inclinações. Afastando-se as inclinações, a ação é a mesma. Para Kant, a moral é objetiva. Não varia de acordo com o que as pessoas acham.
Ha um dissociação entre o que é moral e o que todo mundo acha certo. O q é realmente moral, é moral para todos, pois é totalmente baseado na razão. Não tem influência das inclinações.
Habermans faz a reinterpretação de Kant. Desenvolve um conceito de moralidade que admite revisão. Não significa também que moralidade é questão de gosto. O avanço do modelo Kantiano, admiti-se a fatalidade e a temporalidade da moral.
Moralidade não necessariamente coincide com aprovação social.
Qual é a relação entre moralidade e felicidade?
Para Kant não há relação. Para Aristóteles, sim.
As ideias platônicas são parte de um real. Estão fora da cabeça. No caso da filosofia Kantiana as determinações morais são internas ao sujeito.
A moralidade por Kant é objetiva por que agir correto está de acordo com a razão.
Para Kant alguém pode agir moralmente e ser feliz ou não. Agir de modo não moral e ser ou não feliz. Não há relação entre moralidade e felicidade.
Felicidade para Kant não é o mesmo q era para Aristóteles. Para Kant, felicidade é satisfação, bem estar e segurança.
Semelhante a Temperança / Continência / Incontinência / Intemperante
Kant quase não usa a palavra caráter, pq o habito não tem o poder transformador que tinha na filosofia Aristotélica.
Ações pontuais => Morais ou não morais => Morais quando a razão da o fim e os meios => não moral quando a inclinação fornece os fins e a razão fornece os meios.
Para Kant, os hábitos não transformam o desejo, por isso não existe a figura do temperante, intemperante, etc. O máximoque se pode fazer é barrar ou não barrar as inclinações.
Para Kant não existe a figura do Temperante e nem do Intemperante. Para Kant todos nos vivenciamos um conflito (razão x inclinação). Não é um conflito de desejo com desejo. Todas as vezes, para agir moralmente é necessário deixar as inclinações de lado.
Kant não é fatalista como Aristóteles. Para Kant é sempre possível a conversão moral, o que não era possível para Aristóteles.
Conclusão: Kant => a ação moral esta disponível para qualquer sujeito em qualquer momento de sua vida.
Kant x Aristóteles
	Kant
	Aristóteles
	O hábito não tem a força e a capacidade de transformar os desejos. Sendo assim, não há espaço moral para figuras como o temperante e o intemperante.
A pessoa deverá afastar os desejos, uma vez que não é possível educá-lo.
	O hábito tem força e capacidade de transformar os desejos.
	Não há nenhuma relação entre moralidade de felicidade.
	Há relação entre moralidade e felicidade.
	O conceito de felicidade está relacionado a bem-estar, satisfação e segurança.
	Aquilo que é condutível à felicidade (indicado pela bulis) sempre coincide com aquilo que é esperado de mim pela minha comunidade e com o conteúdo das leis.
	O motor da ação é a razão.
	O motor da ação é o desejo.
Para Aristóteles o motor da ação é sempre o desejo.
Para Kant o desejo não é o motor da ação, porque o desejo não está presente em todas as ações possíveis.
Lembrando que para Kant, a motivação é o que define se a ação será moral ou não. Motivação é agir por inclinação ou por princípios. Quem age por princípios é por que a ação praticada é o certo a fazer. Nesse caso, não há nenhum desejo presente. Há a presença apenas da razão.
A ação se dá em dois tempos, os quais são motivação e comportamento.
Ex.: Duas pessoas, cada uma encontra uma carteira. O primeiro devolve a carteira ao dono por ficar com medo de ter problemas ficando com aquilo que não o pertence. O segundo devolve a carteira por que aquilo é o certo a fazer. Os dois praticaram a mesma ação? Não. O comportamento foi o mesmo e as motivações foram diferentes. Como ação é a soma da motivação mais o comportamento, as ações são consideradas diferentes. A ação praticada pelo primeiro foi não moral. A ação praticada pelo o segundo foi moral.
Há duas possibilidades de motivação:
1.    Agir por inclinação.
Motivações empíricas formadas na experiência a partir das vivências que tivemos. Desejos, afetos, emoções, expectativas sociais de comportamento.
Inclinação à indica o que fazer (fins)
Razão à delibera os meios para chegar aos fins
A inclinação é capaz apenas de propor fins, ela não é capaz de deliberar meios necessários para alcançar estes mesmos fins. Quem faz essa deliberação é a razão. Ao deliberar os meios, a razão também apresenta condutas como possuindo uma necessidade condicionada expressa sob a forma de um dever, um imperativo, uma norma. E é essa apresentação de conduta como um dever que nos move a agir. Sendo assim, concluímos que a razão sempre será o motor da ação.
           A necessidade condicionada é apresentada pela razão como uma estrutura formal que tem a seguinte configuração:
Se queres A(fim), deves B(meios autoimpostos sob a forma do dever + reconhecimento desse dever movendo-nos a agir para alcançar o fim).
Imperativo Hipotético / Condicionado
(Obs.: Há 2 subdivisões desse imperativo)
Dever imperativo elaborado e seguido pela nossa razão. É condicionado por que só deve enquanto você quer. Se deixar de querer, deixa de dever.
2.    Agir por princípio.
Razão à indica o que fazer (fins)
Razão à delibera os meios para chegar aos fins + move a agir apresentando os meios como algo necessário para alcançar os fins
Nesse caso, a necessidade de agir apresentada pela razão não será condicionada, mas sim, absoluta.
Sem desejo algum, ainda sobra uma força que nos move a agir. Agimos de determinada forma por que esse é o racional a fazer e eu sou um ser racional.
Quando a razão apresenta algo a fazer por que é o racional a fazer não há antecedente condicional. Sendo assim, essa necessidade é apresentada pela razão como uma estrutura formal que tem a seguinte configuração:
Deves B(meios autoimpostos sob a forma do dever + reconhecimento desse dever movendo-nos a agir para alcançar o fim).
Deves B é um dever incondicionado e vale para todo e qualquer ser racional possível. Esse “Deves B” conjuga tanto os fins quanto os meios – ambos determinados pela razão. Ex.: Devolve-se a carteira achada na rua, a qual não o pertence, por que tem de devolver.
Imperativo Categórico
A única possibilidade de deixar de dever (de fazer as coisas) é ser irracional. Ele comanda categoricamente, definitivamente, absolutamente.
Nem sempre a razão vai indicar algo a fazer. Há casos em que é indiferente para a razão. Ex.: Cavalheirismo.
O que difere a ação moral da não moral para Kant é a motivação (estruturas da consciência (razão / inclinação) que estão envolvidas e qual o processo é desencadeado (imperativo categórico / hipotético).
Os dois tipos de “deveres” que podem me mover quando ajo são:
      I.        Se queres A, então “deves” B. à ação não moral
    II.        “Deves” B. à ação moral
Quando ajo por inclinação, deixo de ser plenamente racional, mas nunca deixo de ser racional, pois o que me move a agir é a deliberação de meios e a apresentação desses meios como a uma necessidade condicionada que é feita pela razão. Ou seja, funcionando de um jeito ou de outro, a razão está sempre presente.
Se o dever de fazer as coisas racionais está sempre presente, por que não ajo moralmente sempre?
Por que essa norma que nos ordena o tempo todo a fazer o que é moral, é racional está soterrada por um “caminhão” de imperativos hipotéticos.
Não podemos nos desobrigar do dever moral por que está intrínseco na razão.
Para Kant, há sempre a possibilidade, a qualquer momento, de queda quanto de elevação moral, diferentemente de Aristóteles. Pois, o imperativo categórico sempre está presente em todo ser racional.
Agir moralmente não significa agir contra as inclinações. Agir moralmente é agir independentemente das inclinações. Pode ocorrer de uma inclinação apontar num determinado sentido, e a ação moral também apontar nesse mesmo sentido. Observar que os processos não se misturam mesmo nesses casos. Algum processo prevalece. Ou o agir por princípio ou o agir por inclinação. Pode ser que hora um, hora outro.
ESTUDO DO TEXTO KANT
Boa Vontade: é um tipo de motivação. Agir com Boa Vontade é a mesma coisa que agir por princípios, agir moralmente, agir por imperativo categórico, agir por um processo de motivação no qual a razão dá o fim e os meios.
Só existem dois tipos de motivação: agir por princípios e agir por inclinação.
O valor incondicional de uma Boa Vontade
A Boa Vontade é a única coisa que tem valor moral em si mesma. Todas as outras coisas as quais todas as outras teorias morais ou éticas, medievais, antigas ou mesmo no começo da modernidade indicavam como sendo valorosas, como boas, só o são por associação com a Boa Vontade.
A única coisa que é boa no mundo, sem limites e sem condições é a Boa Vontade.
Várias concepções de filosofia moral, várias concepções de ética anteriores achavam que tinha algumas coisas que eram consideradas como boas ou valorosas por elas mesmas. Alguns talentos intelectuais como discernimento e capacidade de julgar. Isso é bom sim, mas só se associado à boa vontade. Caso contrário, não têm valor algum. Ex.: Um serial killer inteligente, ágil, com autocontrole é muito pior que um serial killer burro, lento e impulsivo. Ou seja, as características inteligente, ágil e autocontrolado não têm valor por si só.
Para Kant, tudo o que é valoroso é valoroso em função da Boa Vontade.
Kant não tem nenhuma preocupação em ser fiel às concepções aristotélicas.
Dons da Fortuna
Ele observa alguém observando a ação do outro. Ele faz uma determinada análise sobre como que uma pessoa julgaria a ação de um terceiro que ele observa.
Oque Kant chama de fortuna não é o dinheiro. Fortuna, aqui, significa boa sorte. São os dons, coisas que nos acometem por sorte e que são consideradas como boas, desejáveis, valorosas. Ex.: Ser bonito, inteligente, rico, poderoso, ser reconhecido pela comunidade, saúde, força, agilidade, etc. São coisas como estas e que você não fez nada para merecer, teve a sorte de ser agraciado com elas.
Os dons da fortuna trazem felicidade? Não necessariamente.
Mas, podem trazer felicidade? Podem.
Para Aristóteles os dons da fortuna não poderiam trazer felicidade. Por que não? Por causa do conceito de felicidade que está em jogo. Para Aristóteles, o conceito da felicidade é a realização plena. O conceito de felicidade do Kant é bem-estar, satisfação e segurança.
Ter dinheiro aumenta minha segurança, meu bem estar, minha satisfação? Sim.
Os dons das fortunas são coisas que em tese poderiam trazer felicidade.
Quando Kant está falando dos dons da fortuna, ele apela para outro recurso. Ele pensa o seguinte: Imagine uma pessoa como nós (racional, razoável), que observa a ação de um terceiro que ele não conhece e cujo resultado de sua ação não altera em nada pra nós, o qual tem os dons da fortuna, mas que não possui Boa Vontade. O que o observador pensaria da pessoa que possui esses dons da fortuna, mas que não possui Boa Vontade? A sensação do observador seria de frustração. Que sorte mais injusta!
Kant diz que os dons da fortuna, na ausência da Boa Vontade, coloca em risco grande de deteriorar em arrogância, prepotência, defeitos morais e éticos muito graves. Mas, se por outro lado, você vê que a pessoa acometida pelos dons da fortuna é uma pessoa bacana, moral, com Boa Vontade, o observador sentir-se-ia feliz, contente.
Qualquer sujeito racional e razoável como nós reconhece que a motivação moral torna a pessoa merecedora dos dons da fortuna. Ser merecedor dos dons da fortuna não é merecer aquilo que poderia trazer boa vontade? A presença da Boa Vontade é o que torna a pessoa merecedora da felicidade.
A felicidade de uma pessoa é independente do fato de ela ser merecedora ou não.
Razão Vulgar: é a razão do homem não erudito, não instruído.
A moralidade não está disponível apenas ao homem culto e erudito. Ela está disponível a todo e qualquer sujeito.
O que torna alguém merecedor dos dons da fortuna é possuir a Boa Vontade. Porém, possuir ou não a Boa Vontade não significa que esse alguém será feliz ou infeliz.
Anticonseqüencialismo: É a forma Kantiana de pensar de pensar a moralidade, a qual remete o valor da ação à sua motivação e não às consequências produzidas por ela.
Essa irrelevância das consequências pode ser pensada em dois níveis:
      I.        A ação não produz o resultado esperado ou até mesmo contrário.
    II.        A ação não produz qualquer resultado, ou seja, foi ineficaz.
Ex1.: Rapaz atropelado pelo carro ao desviar de ser atropelado pela bicicleta devido ao fato de ter sido alertado por alguém que praticou essa ação por que era o correto a fazer. A motivação do praticante da ação foi moralmente correta, valorosa.
Ex2.: Tentativa ineficaz de salvar um rapaz que estava se afogando. Tendo o praticante da ação agido por uma motivação moralmente correta, mesmo não tendo produzido nenhum resultado, foi uma ação valorosa.
Desde que estas ações tenha tido uma motivação principiológica, apesar do resultado diferente, ineficaz e, até mesmo, contrário, elas serão consideradas moralmente corretas, valorosas.
ação = motivação + comportamento
Ações com motivações diferentes, mesmo produzindo o mesmo comportamento, são consideradas diferentes. A ação que é produzida partindo do imperativo categórico é uma ação moral. A ação produzida por um imperativo hipotético é uma ação não moral.
Então, para Kant, o valor moral da ação está na intenção?
Não. Não podemos afirmar que a filosofia moral de Kant, ao ser anticonsequencialista, seja intencionalista.
Obs.: Intenção pode ser, simplesmente, uma ideia abstrata que não me põe em movimento. Querer algo, mas não se colocar em movimento em direção a isso não é suficiente para que se tenha valor moral. É preciso produzir ação.
Ex.: Coitado, está afogando! Eu queria ir lá ajudá-lo. Ah! Mas a água está muito fria. Vou ficar por aqui mesmo.
“De boas intenções o inferno está cheio.’”
Ter somente uma boa intenção não basta. Ter uma boa intenção é muito diferente de ter uma motivação principiológica. A motivação leva à ação. A intenção, nem sempre leva à ação.
Para Kant, não há nenhuma conexão entre felicidade e moralidade. Diferentemente de Aristóteles, para Kant, agir moralmente pode ou não levar a ser feliz. Agir moralmente implicará em felicidade somente quando essa ação moral estiver de acordo com as inclinações de quem agi.
Ex.: Ajudar uma velhinha a atravessar a rua quando se tem boas experiências passadas com velhinhas causa felicidade. Caso as experiências passadas com velhinhas sejam ruins, isso não irá causar felicidade, pois agir moralmente está atuando contra suas inclinações.
Há alguma espécie de sensação positiva quando se age moralmente?
Sim. Existe uma espécie de sensação positiva, a qual é denominada por Kant desatisfação racional. Mas, essa satisfação racional não é a mesma coisa que felicidade. Pois, felicidade é um acréscimo no bem estar, satisfação ou segurança. Essa satisfação racional sempre acompanha as ações morais.
Podemos entender a satisfação racional como um subproduto da ação moral. Mas, nunca, como a causa da ação moral. Pois, se uma ação for praticada com o objetivo de ter essa satisfação racional, ela deixa de ser uma ação por princípio e passa a ser uma ação por inclinação, ou seja, ela deixa de ser uma ação moral e passa a ser uma ação não moral.
O argumento final de Kant, o qual justifica a separação entre moralidade e felicidade, é complexo. Kant o apresenta de forma bem resumida, mas bastante denso. Não é um bom argumento atualmente, mas o era para os contemporâneos de Kant. Isso por que entre o período de Kant e o atual, surgiu outro argumento que tornou o de Kant inapropriado. Esse argumento tem um nome:
Argumento do Propósito Especial da Natureza para a Estrutura Prática Racional dos Agentes Racionais
Estrutura Prática Racional dos Agentes Racionais = vontade
Envolve a forma como Kant compreende as estruturas capazes de nos mover à ação. Lembrando que, o que é capaz de nos mover à ação é a razão, deliberando meios e apresentando esses meios como necessários para concretizar os fins.
No caso da ação não moral, é essa sensação de que tem de colocar esses meios em prática para alcançar o fim proposto pelas inclinações que resulta na formulação do imperativo hipotético: “Se queres A, deves B.” É o reconhecimento de que tenho de fazer B para alcançar A que nos move a agir. Isso é a razão criando uma norma, um imperativo, um comando ou um dever que nos move a agir. No caso
No caso da ação moral, é um pouco diferente. A ação é movida pelo comando “Deves B”, simplesmente.
Seja quando a ação for moral ou não moral o que provoca a ação é o reconhecimento de que devo fazer algo. A capacidade de impor deveres ao sujeito é uma capacidade racional. É por isso que a razão é o motor da ação.
Razão Prática: Razão empregada para agir. É a capacidade autonormativa da razão de mover o indivíduo a agir.
Razão Teórica: Razão empregada para conhecer.
Quando movido tanto pelo imperativo hipotético quanto pelo categórico, é a razão prática que está movendo.
Qual a diferença entre os dois casos, então?
Quando a razão atua sozinha, ela é denominada razão prática pura / vontade pura.
Quando a razão atua buscando o fim proposto pelas inclinações, ela é denominada razão prática empiricamente condicionada / vontade empiricamente condicionada. Com relação às ações não morais, o “Dever” só é devido por que quero e enquanto quero.
Estrutura prática racional é o jeito típico dos entes racionais se moverem a agir, que é a razão prática.
Razão prática = vontade (capacidade autonormativa da razão / capacidade de movero indivíduo a agir por meio de deveres autoimpostos) ≠ desejo.
A natureza nos deu essa estrutura, esse jeito de nos levar a agir, essa capacidade de cumprir normas autoimpostas com qual finalidade? Para ser feliz?
Não. Não é para ser feliz. Se o objetivo fosse para ser feliz, existem outros meios muito mais eficientes que nos dotar de uma estrutura desse tipo.
Argumento do Propósito Especial da Natureza para a Estrutura Prática Racional dos Agentes Racionais = Argumento da finalidade da natureza ter nos dotado com a capacidade de nos movermos a agir por meio de normas autoimpostas.
Kant parte de três afirmações para tentar fazer essa demonstração. Ele vai tentar demonstrar a incompatibilidade entre essas três afirmações e a partir dessa incompatibilidade, provar que a natureza não nos deu essa razão prática para que sejamos felizes.
Obs.: natureza = o que nos fez como somos
Há incompatibilidade em sustentar as três ao mesmo tempo.
      I.        A natureza é inteligente
ser inteligente = atuar teleologicamente (telos = meta, objetivo, finalidade) de modo eficiente = identificação de uma finalidade para o homem + dotar o homem dos meios e capacidades mais eficazes para alcançar este fim
Essa é uma concepção que vem desde Aristóteles, mas que preserva a sua razoabilidade para muitos contemporâneos.
SIM
Darwin rompe com esse modelo. A natureza não atua teleologicamente. As características que temos surgiram da seleção natural. Porém, Kant não tinha essa concepção.
O argumento “a natureza é inteligente”, não é um bom argumento para nós contemporâneos devido ao rompimento feito por Darwin. Mas, não era um argumento frágil para os contemporâneos de Kant.
    II.        A natureza nos deu uma razão prática
SIM
Sim. Pois a origem de todas as nossas ações é a razão prática. Mesmo quando somos levados a agir por inclinação.
   III.        A natureza nos fez para que sejamos felizes
NÃO
Se os argumento I e II são aceitos, não podemos aceitar o argumento III. Pois,...
Tudo tem haver com a noção de felicidade do Kant, que consiste na satisfação, bem estar e segurança.
A questão é: agir movidos por autocomandos que dou a mim mesmo, ou seja, pela razão prática, é o modo mais eficiente, mais eficaz de alcançar a felicidade? Não. O meio mais eficiente e eficaz é através do instinto (que é uma programação biológica não possível de ser afastada). O instinto realiza as ações de forma automática.
Se a natureza é inteligente, ou seja, nos dota dos meios mais eficazes para alcançar os fins, e se a natureza nos fez para ser feliz e não nos dotou de instinto para isso e sim de uma razão prática, ela então não é inteligente. Ela é burra. Pois a razão prática nos proporciona a possibilidade de agir contrariando nossas inclinações e fazer algo pelo simples fato de ser o correto a fazer. Agir contrário à satisfação de nossas inclinações é agir contrário à nossa felicidade.
Se a natureza nos fez para sermos felizes e para isso nos deu a razão prática, ela não é inteligente, pois o meio mais eficaz seria o instinto. Ou seja, ao aceitar os argumentos I e III não é possível aceitar o argumento II.
Se aceitarmos que é natureza é inteligente e nos fez para ser feliz, não podemos aceitar o argumento II, ou seja, não podemos aceitar que a natureza nos deu a razão prática. Pois, a razão prática não é a ferramenta mais adequada para alcançarmos a felicidade.
Kant concorda que a natureza é inteligente e que nos deu uma razão prática. Se ela tem uma meta para nós e nos deu a razão prática, que é o meio mais eficaz para agir moralmente, então, a única conclusão possível é que a natureza nos fez para que sejamos morais e não necessariamente felizes. Se vamos ser felizes ou não ao agir moralmente, depende de nossas inclinações.
Conclusão: A natureza NÃO nos fez para sermos FELIZES. A natureza nos fez para AGIR MORALMENTE, para sermos morais, dignos de felicidade, MERECEDORES da felicidade.
Prova: Reconstrua a demonstração de Kant de por que não somos feitos para ser feliz.
Ver página 47 (à mão) ou 24 do texto.
O que Kant ainda mantém de Aristóteles é a ideia de uma natureza orientada pela finalidade.
Kant acredita que somos capazes de fazer algo somente por que esse algo é a coisa racionalmente correta a fazer. Para Hume, a razão sempre foi, é, e sempre será escrava da paixão, ou seja, a razão nunca pode me levar a fazer algo me indicando um fim e me fazendo sentir atraído por esse fim. Kant mostra como, mesmo afastando todas as inclinações, a razão ainda consegue também propor os fins da ação.
Kant acredita que existe uma repulsa inerente entre racionalidade e contradição. Toda vez que se cai em contradição evidencia-se uma queda da sua racionalidade. Por outro lado, toda vez que se tem uma afirmação racional significa que isso anula ou reduz as chances dessa posição ser contraditória.
Nem todo filósofo considera que a razão está sempre tendo aversão à contradição. Alguns filósofos que a contradição vai muito bem com a razão. Pois a razão, ao invés de rejeitar a contradição, supõe a contradição. Os chamados filósofos modernos dialéticos: Marx e Hegel. Eles não entendem a razão como algo estático como o Kant entende. Acreditam que a razão é um processo que se desdobra em um processo de crescimento e automanifestação cada vez maior, o qual requer que apareça uma contradição e que essa contradição seja superada. Pois, consideram que a razão só avança por meio de superação de contradições.
Ex.: Marx à Contradição entre forças produtivas (a capacidade instalada em uma sociedade, em um determinado momento, de intervir na natureza e transformar essa natureza para satisfação das minhas necessidades) e relações sociais de produção (relação homem-homem refletiva pela distribuição de tarefas, papéis, das atividades produtivas). Adotamos certa relação social de produção por que ela se adéqua melhor à nossa força produtiva. No decorrer do tempo, essa relação precisa sofrer readequações, as quais Marx chama de revoluções. Há, então, o avanço da racionalidade. Chegou-se nesse avanço superando a contradição entre o nosso nível técnico e a distribuição de papéis.
Hegel também adotava essa postura contrária à de Kant.
Ex.: Criança que quase não vai a casa do avô. Aqui em casa... lá em casa descreve a casa do vovô... Ao atender o telefonema na casa do avô diz que está lá em casa. Pois ele não entendeu o valor posicional dessas expressões. Ele vai entender e ter um ganho de racionalidade quando ele consegue superar a contradição e entender que as coisas que são aparentemente contraditórias podem ser conciliadas numa compreensão maior... que aqui e lá pode referir-se ao mesmo lugar. Há a superação de uma contradição conceitual.
Mas, essa não é a posição Kantiana. Acredita que há uma rejeição entre contradição e razão.
 Toda a teoria moral do Kant está apoiada na hipótese de que quando afasto as inclinações, a razão efetivamente domina todos os passos da ação. Não só calculando os meios e apresentando-os como necessários, mas também, indicando o que fazer de forma atrativa. Como é possível a razão fazer isso? É que a razão, do ponto de vista da ação, é fundamentalmente algo que tem repulsa por todas as formas de contradição.
Quando agimos moralmente, essa repulsa está em jogo, pois ela faz parte do sujeito racional. Porém isso não tem força o suficiente para nos fazermos agir moralmente, quando as inclinações estão atuando. Mas, essa rejeição ao contraditório pode emergir e me fazer agir moralmente.
O que é uma ação contraditória? Como a contradição pode se manifestar na ação?
Máxima de ação é uma descrição do modo como os homens (não todos) habitualmente agem. Ela não diz como o homem deve agir. O que diz como o homem deve agir são os imperativos, tanto os categóricos quanto os hipotéticos. Ela apenas é uma descrição do modo como os homens frequentemente agem. Então, os imperativos têm caráter prescritivo e as máximas têm caráter descritivo. Elas são abstratas, de caráter geral, de forma a aplicar-se a váriassituações diferentes.
Ex.: Máxima de furtar os objetos que se tem interesse em possuir. Quem emprega essa máxima, furta balinhas nas Lojas Americanas, furta livros, etc. / Máxima de não furtar. / Máxima de tratar todas as pessoas com civilidade, respeito, etc. Quem emprega essa máxima cumprimenta o porteiro, os alunos na sala de aula, tem o hábito de agradecer, etc.
Há máximas que são consideradas melhores que outras.
Temos ações contraditórias e ações não contraditórias.
O que distingue as ações contraditórias das ações não contraditórias?
O tipo de máxima na qual elas estão apoiadas. As ações contraditórias estão apoiadas em máximas inerentemente contraditórias.
As máximas contraditórias são máximas que têm defeitos de racionalidade. Esse defeito de racionalidade é que elas exigem daquele que se dispões a empregá-la em uma ação e ele reconheça a validade e a aplicabilidade simultânea da máxima contrária a ela.
Ex.: Uma pessoa que pratica uma ação apoiada em uma máxima X, para seguir essa máxima, não tem alternativa a não ser acreditar que uma máxima Y, que descreve um comportamento oposto ao da máxima X, também é válida e adequada para aquela mesma situação. Ou seja, ela obriga quem está seguindo-a a entrar em contradição.
O problema está na máxima.
Ações contraditórias são apoiadas em máximas inerentemente contraditórias. As máximas contraditórias têm certo defeito de racionalidade, ou seja, exigem daquele que se dispõe a emprega-la em uma ação que ele reconheça a validade e a aplicabilidade simultânea da máxima contraria a ela.
Ex.: Promessas insinceras para me livrar de situações desagradáveis.
Quem realiza uma promessa insincera, visa obter algo. Mas ele só vai fazer isso se ele achar que as pessoas vão aceitar como verdadeiro o que ele prometeu. Para isso, é necessário que ele acredite na aceitação das pessoas. Então tem de supor a validade simultânea das máximas opostas (Promessas sinceras são cumpridas. / Promessas sinceras não são cumpridas). Hipócritas - Ex.: Máxima do furto. Quem furta não é contra a propriedade. Ele viola a propriedade para obter a propriedade. A máxima dele é furtar.
Mentira - Mas acha que ninguém deve mentir. Mas ele mesmo mente justamente por que acredita que ninguém deve mentir. Essas máximas (mentir, furar fila) tem defeito de racionalidade. Numa circunstância, a máxima que estou usando é aquela que eu acho que todos devem fazer. Por que se você supuser que todo mundo mente, você não vai mentir por que ninguém vai acreditar. Essa máxima só pode ser seguida como exceção.
Que tipo de suposição o cara tem de fazer para seguir a máxima contraditória?
Que essa máxima só é descumprida na exceção. O que importa é o que o cara que usa a máxima tem de pressupor. Ele tem de pressupor que o outro está usando a máxima contraria.
Ações não contraditórias: Ao usar as máximas como não mentir, não furar fila, etc. eu não preciso supor que os outros façam o contrario de mim. Não há contradição. A razão aprova.
Kant diz que essas contradições (2 pesos e 2 medidas - hipocrisia) SEMPRE causam repulsa à nossa razão. Existem várias máximas que têm esse tipo de problema. Outro exemplo é o do furto. Se todos seguirem a mesma máxima do furto, a propriedade deixa de existir e o furto perde o sentido. Para conseguir agir com base nessa máxima, ele precisa pressupor que todos os outros seguem a máxima contrária.
A máxima contraditória só pode ser seguida como exceção. Ela não poderia ser empregada como máxima se o sujeito supusesse que todos os demais a seguem.
A razão exige que façamos o contrário da máxima contraditória.
A moral de Kant é inconsequencialista. A consequência não importa. O que vale é a motivação. A diferença entre uma ação moral e uma ação não moral é fazer por que está de acordo com a razão, ou por inclinação. O que está de acordo com a razão é o que é o oposto do contraditório. Então, moral é SEMPRE não mentir. Quando a verdade causa muita dor, existe uma saída Kantiana. Essa saída Kantiana está... que se chama: sob o pretenso dever de mentir por motivos morais. Kant diz que a minha obrigação de não mentir e de sempre falar o que é verdadeiro não significa uma obrigação de falar tudo para a outra pessoa. Omitir e mentir tem muita diferença na teoria moral de Kant. Ex.: do Bill Clinton em sua resposta sobre ter usado ou não drogas.
Como a razão pode assumir o papel da inclinação nas ações não morais e não só apenas deliberar os meios e autocomandar a execução desses meios, como também assumir o papel de indicar os fins e ao mesmo tempo fazer com que eu me sinta atraído por esse curso de ação? Ou seja, como a razão pode propor fins, ou nos mover a agir?
Ela pode fazer isso por meio do dever de não contradição que é inerente a todo o sujeito racional. É a repulsa intuitiva que sentimos pela ação contraditória é a rejeição à contradição que caracteriza todos nós. Quando afastamos a inclinação e paramos de abrir exceções por que é pra nós, esse incômodo é capaz de nos fazer agir de um modo oposto a esse e adotar, por tanto, uma ação moral.
Quando agimos pelo dever de não contradição, estamos agindo de forma moral.
Ação = motivação + comportamento
Por que mentir é errado? Por que está apoiado em uma máxima contraditória.
O que me move a agir? A aversão ao contraditório ou atração racional por umamáxima universalizável?
Máxima universalizável: máxima que qualquer pessoa pode seguir ao mesmo tempo em que supõe que todas as outras pessoas a seguem. Máxima passível de seguimento universal.
Qual a diferença de universalizável para universal?
Máxima universal é o que todo mundo de fato faz. Máxima universalizávelé a máxima que está de acordo com a razão, que o sujeito pode fazer ao mesmo tempo em que todo mundo faz (que você aceita fazer mesmo que todo mundo faça).
Talvez não exista nenhuma máxima universal.
A máxima que nos interessa são as universalizáveis.
As máximas contraditórias não são universalizáveis.
A máxima que atrai nossa razão é a universalizável. A máxima que causa repulsa à nossa razão é a inerentemente contraditória.
Tanto faz dizermos que a força motriz que move um homem a agir quando ele age moralmente é o sentimento de atração por uma máxima universalizável ou o sentimento de repulsão pela máxima inerentemente contraditória.
Quando todas as inclinações são afastadas, o que move o sujeito a agir é o sentimento de repulsa por ações contraditórias ou o sentimento de atração racional por máximas universalizáveis.
A rejeição à contradição tem um pouco mais de peso do que a atratividade que as máximas universalizáveis exercem sobre o ser racional. Por quê? Imaginem duas máximas contrárias. Uma delas é a máxima do cavalheirismo. A outra é a máxima da igualdade radical feminista. Entre as duas máximas, o que é que a razão exige? Nenhuma das duas. Pois, nenhuma delas é contraditória. Posso ser cavalheiro quando suponho que todos os outros são (máxima universalizável). Posso adotar uma igualdade plena, completa entre gêneros ao mesmo tempo em que todos os demais o façam (máxima universalizável). Então, para a razão, qualquer uma das duas está de acordo com a moralidade. Nesse caso, temos uma faculdade moral. Tenho a faculdade de fazer tanto uma quanto outra. Saber que uma máxima é universalizável me diz o que a razão permite. E para saber o que a razão ordena? Não basta achar uma máxima universalizável. Para saber o que a razão ordena, primeiro tenho de achar o que ela proíbe, para saber que o oposto dela é o que estará de acordo com a razão. Por isso que a força motriz da ação moral, para Kant, pode ser pensada como a atratividade que exerce uma máxima universalizável quanto a repulsa que exerce uma máxima contraditória. Mas, no final das contas, é mais a repulsa que a atratividade. Por que ao ser universalizável, uma máxima é aceitável pela razão. Mas, não quer dizer que ela seja obrigatória no contexto da razão. Para ser obrigatória no contexto da razão, ela tem de ser universalizável e, além disso, contrária à máxima contraditória.

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