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resumo do livro Patologia de Robbins & Cotran

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FACULDADE DE MEDICINA DE LISBOA 
Mestrado Integrado em Medicina 
2008/2009 
 
 
2º ANO – MÓDULO IV.I 
 
BIOPATOLOGIA 
 
 
 
 
 
VITOR MARTINS 
 
 
 
Baseado em: 
 Kumar V., Abbas A. K., Fausto N., “Robbins Patologia Básica”, Saunders, Tradução da 8ª Edição 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 1 
 
Índice 
 
Índice 1 
Capítulo I: Lesão celular, morte celular e adaptações 8 
 Introdução à patologia 8 
 Visão geral das respostas celulares ao stress e aos estímulos nocivos 8 
 Adaptações celulares ao stress 10 
 Hipertrofia 10 
 Relações entre células miocárdicas normais, adaptadas, lesadas de modo 
 Reversível e mortas 10 
 Hiperplasia 11 
 Atrofia 11 
 Metaplasia 12 
 Visão geral da lesão celular e morte celular 13 
 Causas da lesão celular 14 
 Morfologia da lesão celular e da lesão tecidual 14 
 Lesão reversível 15 
 Necrose 16 
 Respostas subcelulares à lesão 18 
 Mecanismos da lesão celular 19 
 Depleção de ATP 19 
 Danos na mitocôndria 20 
 Influxo de cálcio 21 
 Acumulação de radicais livres derivados do oxigénio 21 
 Defeitos na permeabilidade da membrana 23 
 Danos no DNA e nas proteínas 23 
 Exemplos de lesão celular e necrose 24 
 Lesão isquémica e hipóxica 24 
 Lesão de isquémia-reperfusão 24 
 Lesão química 24 
 Apoptose 25 
 Causas da apoptose 25 
 Mecanismos da apoptose 26 
 Acumulação intracelular de substâncias 29 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 2 
 
 Degeneração gordurosa 29 
 Colesterol e ésteres de colesterol 30 
 Proteínas 30 
 Glicogénio 30 
 Pigmentos 31 
 Calcificação patológica 32 
 Calcificação distrófica 32 
 Calcificação metastática 32 
 Envelhecimento celular 33 
Capítulo II: Inflamação aguda e crónica 34 
 Visão geral da inflamação 34 
 Inflamação aguda 35 
 Alterações vasculares 35 
 Alterações no fluxo e calibre vasculares 35 
 Alterações da permeabilidade vascular 35 
 Resposta dos vasos linfáticos 37 
 Eventos celulares: recrutamento e activação dos leucócitos 38 
 Recrutamento dos leucócitos 38 
 Activação dos leucócitos 41 
 Lesão tecidual induzida por leucócitos 43 
 Resolução da inflamação aguda 44 
 Padrões morfológicos da inflamação aguda 46 
 Mediadores químicos da inflamação 47 
 Inflamação crónica 48 
 Células e mediadores da inflamação crónica 48 
 Inflamação granulomatosa 50 
 Efeitos sistémicos da inflamação 50 
Capítulo III: Reparo tecidual: regeneração, cicatrização e fibrose 51 
 O controlo da proliferação celular 51 
 Ciclo celular 51 
 Capacidade proliferativa dos tecidos 52 
 Células-tronco 52 
 A natureza e os mecanismos de acção dos factores de crescimento 53 
 Mecanismos de sinalização dos receptores dos factores de crescimento 53 
 Matriz extracelular e interacções entre a célula e a matriz 54 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 3 
 
 Papéis da matriz extracelular 55 
 Componentes da matriz extracelular 55 
 Célula e regeneração tecidual 55 
 Reparo por tecido conjuntivo 56 
 Angiogénese 56 
 Factores de crescimento envolvidos na angiogénese 57 
 Migração de fibroblastos e deposição da MEC 58 
 Factores de crescimento envolvidos na deposição da MEC 
e a formação de cicatriz 58 
 MEC e remodelação tecidual 59 
 Cicatrização da ferida cutânea 59 
 Aspectos patológicos do reparo 59 
Capítulo IV: Desordens hemodinâmicas, trombose e choque 61 
 Edema 61 
 Hiperemia e congestão 63 
 Hemorragia 64 
 Hemostasia e trombose 65 
 Hemostasia normal 65 
 Endotélio 66 
 Plaquetas 68 
 Cascata da coagulação 69 
 Trombose 70 
 Lesão endotelial 70 
 Alterações do fluxo sanguíneo 70 
 Hipercoagulabilidade 70 
 Morfologia 71 
 Destino do trombo 72 
 Embolia 73 
 Tromboembolia pulmonar 73 
 Tromboembolia sistémica 73 
 Embolia gordurosa 74 
 Embolia gasosa 74 
 Embolia de líquido amniótico 74 
 Enfarto 74 
 Choque 75 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 4 
 
Capítulo V: Doenças do sistema imunológico 77 
 Doenças de hipersensibilidade: mecanismos da lesão mediada pelo SI 77 
 Causas das doenças de hipersensibilidade 77 
 Hipersensibilidade imediata 77 
 Sequência de eventos nas reacções de hipersensibilidade imediata 78 
 Manifestações clínicas e patológicas 79 
 Hipersensibilidade mediada por anticorpos 79 
 Hipersensibilidade mediada por complexos imunes 80 
 Hipersensibilidade mediada pelas células T 81 
 Rejeição de transplantes 83 
 Reconhecimento imunológico dos alotransplantes 83 
 Mecanismos efectores da rejeição dos transplantes 84 
 Rejeição mediada pelas células T 84 
 Rejeição mediada por anticorpos 84 
 Métodos para melhorar a sobrevivência do órgão transplantado 85 
 Transplante de células hematopoiéticas 85 
 Doenças auto-imunes 86 
 Tolerância imunológica 86 
 Mecanismos da auto-imunidade 87 
 Doenças auto-imunes 88 
Capítulo VI: neoplasia 89 
 Nomenclatura 89 
 Tumores benignos 89 
 Tumores malignos 90 
 Características dos neoplasmas benignos e malignos 92 
 Diferenciação e anaplasia 92 
 Taxas de crescimento 93 
 Invasão local 93 
 Metástase 94 
 Epidemiologia 95 
 Carcinogénese: as bases moleculares do cancro 95 
 Auto-suficiência nos sinais de crescimento 96 
 Insensibilidade aos sinais inibidores do crescimento 97 
 Gene RB e o ciclo celular 98 
 Gene p53: guardião do genoma 98 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 5 
 
 Via do factor de crescimento transformante-β 99 
 Via da β-catenina da polipose adenomatosa do cólon 99 
 Evasão da apoptose 100 
 Potencial replicativo ilimitado 100 
 Desenvolvimento da angiogénese sustentada 100 
 Capacidade para invadir e metastatizar 101 
 Instabilidade genómica – capacitação para malignidade 102 
 MicroRNAs e cancro 103 
 Alterações cariotípicas nos tumores 103 
 Etilogia do cancro: agentes carcinogénicos 104 
 Carcinogénios químicos 104
 Carcinogénese por radiação 104
 Oncogénese viral e microbiana 105 
 Vírus oncogénicos de RNA 105 
 Vírus oncogénicos de DNA 105 
 Helicobacter pylori 106 
 Defeitos do hospedeiro contra tumores: imunidade tumoral 107Antigénios tumorais 107 
 Mecanismos efectores antitumorais 108 
 Vigilância imune 109 
 Aspectos clínicos da neoplasia 109 
 Efeitos do tumor no hospedeiro 110 
 Diagnósticos laboratorial do cancro 110 
Capítulo VIII: Doenças ambientais 112 
 Mecanismos gerais de toxicidade 112 
 Poluição ambiental 113 
 Poluição atmosférica 113 
 Metais como poluentes ambientais 114 
 Exposições industriais e na agricultura 115 
 Efeitos do tabaco 115 
 Efeitos do álcool 116 
 Lesões por drogas terapêuticas e drogas de abuso 116 
 Lesão por drogas terapêuticas 116 
 Lesões por agentes tóxicos não-terapêuticos 118 
 Lesão por agentes físicos 118 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 6 
 
 Trauma mecânico 118 
 Lesão térmica 118 
 Queimaduras térmicas 118 
 Hipertermia 119 
 Hipotermia 119 
 Lesão eléctrica 120 
 Lesão produzida por radiação ionizante 120 
Capítulo X: vasos sanguíneos 121 
 Vasos normais 121 
 Anomalias congénitas 123 
 Células da parede vascular e sua resposta à lesão 123 
 Células endoteliais 123 
 Células musculares lisas dos vasos 123 
 Espessamento da íntima: uma resposta estereotipada à lesão vascular 124 
 Arterioesclerose 124 
 Aterosclerose 125 
 Epidemiologia 125 
 Patogenia 126 
 Lesão endotelial 127 
 Proliferação de músculos liso 127 
 Morfologia 128 
 História natural da aterosclerose 129 
 Prevenção da doença vascular aterosclerótica 129 
 Doença vascular hipertensiva 130 
 Regulação pa pressão sanguínea 131 
 Patogenia da hipertensão 131 
 Patologia vascular da hipertensão 132 
 Aneurismas e dissecções 133 
 Aneurisma aórtico abdominal 134 
 Patogenia 134 
 Morfologia 134 
 Curso clínico 135 
 Aneurisma sifilítico 135 
 Dissecção aórtica 136 
 Patogenia 136 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 7 
 
 Morfologia 137 
 Curso clínico 137 
 Vasculite 138 
 Vasculite não-infecciosa 138 
 Vasculite associada a complexo imune 138 
 Anticorpos anticitoplasma de neutrófilos 138 
 Anticorpos anticélulas endoteliais 139 
 Classificação e características de vasculites imunomediadas seleccionadas 140 
 Vasculite infecciosa 141 
 Fenómeno de Raynaud 141 
 Veias e linfáticos 141 
 Veias varicosas 141 
 Tromboflebite e flebotrombose 142 
 Síndromes das veias cavas superior e inferior 142 
 Linfangite e linfedema 143 
 Tumores 143 
 Classificação dos tumores vasculares e condições tumoriformes 144 
 Patologia das intervenções vasculares 145 
 
 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 8 
 
Capítulo 1 
Lesão Celular, Morte Celular e Adaptações 
 
Introdução à Patologia 
 Patologia – estudo do sofrimento. Abrange a ciência básica e a prática clínica e envolve a 
etiologia e patogenia das doenças, que resultam em sinais e sintomas presentes no paciente; 
 
 Os patologistas usam várias técnicas moleculares, microbiológicas e imunológicas para a 
compreensão das alterações bioquímicas, estruturais e funcionais que ocorrem nas células, nos 
tecidos e nos órgãos; 
- Para dar o diagnóstico e orientar a terapia, identificam alterações na aparência macro ou 
microscópica (morfologia) das células e dos tecidos e as alterações bioquímicas nos fluidos 
corporais. 
 
Visão geral das respostas celulares ao Stress e aos estímulos nocivos 
 As células tendem a manter o seu meio intracelular dentro de uma faixa razoavelmente estreita 
dos parâmetros fisiológicos, isto é, elas mantêm a homeostase normal; 
 As células ajustam constantemente a sua estrutura e função para se adaptarem à ocorrência de 
alterações e de stress extracelular; 
- Quando encontram um stress fisiológico ou um estímulo patológico, podem sofrer adaptação, 
alcançando um novo estado constante, sendo as principais respostas adaptativas hipertrofia, 
hiperplasia, atrofia e metaplasia; 
- Se a capacidade adaptativa é excedida ou o stress externo é inerentemente nocivo, desenvolve-
se lesão celular (Fig. 1); 
 Lesão reversível – as células retornam a um estado basal estável; 
 Lesão irreversível – stress grave ou persistente leva à morte das células afectadas; 
 
- A morte celular é um dos eventos cruciais na evolução da doença, assim como, um processo 
essencial e normal na embriogénese, no desenvolvimento dos órgãos e na manutenção da 
homeostase; 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 9 
 
 O stress extracelular e a lesão celular não afectam apenas a morfologia, mas também o estado 
funcional das células e dos tecidos; 
Ex.: Miócitos lesados de modo reversível não estão mortos e podem assemelhar-se aos 
miócitos morfologicamente normais. Entretanto, eles estão transitoriamente não-contráteis, 
podendo levar a um impacto clínico letal. 
 
 Qualquer stress extracelular que provoque adaptação ou cause lesão reversível ou irreversível 
nas células e tecidos, vai depender não apenas da natureza e gravidade do stress, mas 
também de várias outras variáveis que incluem o metabolismo celular, o suprimento 
sanguíneo e o estado nutricional. 
 
 
Fig. 1 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 10 
 
Adaptações celulares ao stress 
 As adaptações são alterações reversíveis em número, tamanho, fenótipo, actividade 
metabólica ou das funções celulares, em resposta às alterações no seu ambiente; 
- Adaptações fisiológicas – representam respostas celulares à estimulação normal pelas 
hormonas ou mediadores químicos endógenos (ex.: aumento do útero durante a gravidez); 
- Adaptações patológicas – são respostas ao stress que permitem às células modular a sua 
estrutura e função escapando, assim, à lesão. 
 
Hipertrofia 
 Hipertrofia – é um aumento do tamanho das células que resulta num aumento do tamanho do 
órgão; 
- Não existem células novas, apenas células maiores, aumentadas devido a um aumento da 
quantidade de proteínas estruturais e de organelos; 
 
 Pode ser fisiológica ou patológica e é causada pelo aumento da demanda funcional ou por 
estimulação hormonal específica; 
 A hipertrofia e a hiperplasia podem ocorrer juntas, resultando num órgão aumentado 
(hipertrófico); 
Ex.: Durante a gravidez, o aumento fisiológico maciço do útero ocorre como consequência da 
hipertrofia e hiperplasia do músculo liso estimulado pelo estrogénio. 
 
Relações entre células miocárdicas normais, adaptadas, lesadas de modoreversível e 
mortas 
 O miocárdio submetido a uma carga elevada e persistente, como a hipertensão ou com estenose 
de uma valva, adapta-se sofrendo uma hipertrofia para gerar uma força contrátil maior; 
 Se o aumento da demanda não for atenuado ou se o miocárdio for submetido a um fluxo 
sanguíneo reduzido (isquémia), em virtude de uma oclusão da artéria coronária, as células 
musculares irão sofrer lesão; 
 O miocárdio pode ser lesado de modo reversível, se o stress for leve ou se a oclusão arterial 
foi incompleta ou suficientemente breve, ou de modo irreversível (enfarte) após oclusão 
completa e prolongada. 
 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 11 
 
Hiperplasia 
 Hiperplasia – resposta adaptativa em células capazes de replicação; 
 Pode ser fisiológica ou patológica; 
- Os dois tipos de hiperplasia fisiológica são: 
 Hiperplasia hormonal, por exemplo, proliferação do epitélio glandular da mama 
feminina na puberdade e durante a gravidez; 
 Hiperplasia compensatória, ocorre quando uma porção de um tecido é removido ou 
lesado (ex.: Remoção parcial do fígado); 
 
- A maioria das formas de hiperplasia patogénica é causada por estimulação hormonal 
excessiva ou por factores de crescimento (ex.: Período menstrual anormal); 
 
 A hiperplasia é também uma resposta importante das células do tecido conjuntivo na 
cicatrização de feridas, nas quais os fibroblastos e os vasos sanguíneos que proliferam 
auxiliam o reparo, onde os factores de crescimento são produzidos pelos leucócitos; 
 A estimulação pelos factores de crescimento está envolvida também na hiperplasia 
associadas a certas infecções virais (ex.: Papilomavírus causam verrugas na pele e lesões mucosas 
compostas de massas de epitélio hiperplásico); 
- Em qualquer uma destas situações, o processo hiperplásico permanece controlado; 
 A hiperplasia patológica é um solo fértil no qual a proliferação cancerosa pode surgir mais tarde. 
 
Atrofia 
 Atrofia – diminuição do tamanho da célula pela perda de substância celular; 
 Embora as células atróficas tenham a sua função diminuída, elas não estão mortas; 
 As causas da atrofia incluem a diminuição da carga de trabalho (ex.: imobilização de um 
membro para permitir o reparo de uma fractura), a perda da inervação, a diminuição do 
suprimento sanguíneo, a nutrição inadequada, a perda da estimulação endócrina e o 
envelhecimento (atrofia senil); 
- Embora alguns desses estímulos sejam fisiológicos (ex.: perda da estimulação hormonal na 
menopausa) e outros patológicos (ex.: desnervação), as alterações celulares fundamentais são 
idênticas. Representam uma retracção da célula para um tamanho menor no qual a sobrevivência 
é ainda possível; 
- Um novo equilíbrio é adquirido entre o tamanho da célula e a diminuição do suprimento 
sanguíneo, da nutrição ou da estimulação trófica; 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 12 
 
 A atrofia resulta da: 
- Síntese proteica diminuída (redução da actividade metabólica); 
- Degradação proteica aumentada nas células (ocorre pela via ubiquitina-proteossoma); 
 Acredita-se que esta via seja responsável também pela proteólise acelerada observada em 
várias condições catabólicas, incluindo a caquexia do cancro; 
 Em muitas situações, a atrofia é acompanhada também do aumento da autofagia (processo no 
qual a célula privada de nutrientes digere os seus próprios componentes no intuito de encontrar 
nutrição e sobreviver). 
 
Metaplasia 
 Metaplasia – é uma alteração reversível na qual um tipo celular adulto (epitelial ou 
mesenquimal) é substituído por outro tipo celular adulto; 
 Nesse tipo de adaptação celular, as células sensíveis a um determinado stress são substituídas 
por outros tipos celulares mais capazes de suportar o ambiente hostil; 
 Acredita-se que a metaplasia surja por uma “reprogramação” genética de células-tronco e 
não da transdiferenciação de células já diferenciadas; 
 Exemplo de metaplasia epitelial: epitélio respiratório em fumadores; 
- Mudança de um epitélio pseudo-estratificado cilíndrico ciliado para um epitélio pavimentoso 
estratificado, mais resistente; 
- Deficiência de vitamina A pode induzir também a metaplasia escamosa; 
- Embora o epitélio escamoso metaplásico possua vantagens de sobrevivência, os importantes 
mecanismos de protecção são perdidos, tais como a secreção de muco e a remoção pelos cílios, 
de materiais particulados; 
- As influências que induzem a transformação metaplásica, se persistirem, podem predispor a 
transformação maligna do epitélio . 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 13 
 
RESUMO – Adaptações celulares ao Stress 
Hipertrofia 
 Aumento da célula e do órgão, sempre em resposta à elevação da carga de 
trabalho; 
 Induzida por stress mecânico ou por factores de crescimento; 
 Ocorre em tecidos incapazes de divisão celular. 
Hiperplasia 
 Aumento do número de células em resposta a hormonas e outros factores 
de crescimento; 
 Ocorre em tecidos cujas células são capazes de se dividir. 
Atrofia 
 Diminuição da célula e do órgão, como resultado da diminuição do 
suprimento nutritivo ou por desuso; 
 Associada a diminuição de síntese e a aumento da quebra proteolítica dos 
organelos celulares. 
Metaplasia 
 Alteração do fenótipo em células diferenciadas, sempre em resposta a 
irritação crónica que torna as células mais capazes de suportar o stress; 
 Em geral, induzida por via de diferenciação alterada das células-tronco nos 
tecidos; 
 Pode resultar em redução das funções ou tendência aumentada para 
transformação maligna. 
 
Visão geral da lesão celular e da morte celular 
 Lesão celular reversível – nos estádios iniciais ou nas 
formas leves de lesão, as alterações morfológicas e 
funcionais são reversíveis, se o estímulo for removido; 
- Embora existam anomalias estruturais e funcionais 
graves, não há a progressão característica lesão para 
dano significativo à membrana e dissolução nuclear; 
 
 Morte celular – com a continuação do dano, a lesão 
torna-se irreversível, neste período, a célula não 
recupera e morre; 
- Há dois tipos de morte celular: necrose e apoptose 
(Fig. 2). 
Fig. 2 
 
 
 
 
 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 14 
 
Característica Necrose Apoptose 
Tamanho da célula Aumentado (tumefacção) Reduzido (retracção) 
Núcleo Picnose  cariorrexe  cariólise Fragmentação em fragmentos do 
tamanho de nucleossomas 
Membrana plasmática Rompida Intacta; estrutura alterada, 
especialmente a orientação dos 
lípidos 
Conteúdos celulares Digestão enzimática; extravasam 
da célula 
Intactos; podem ser libertados 
nos corpos apoptóticos 
Inflamação adjacente Frequente Não 
Papel fisiológico ou 
patológico 
Invariavelmente patológica 
(finalização da lesão celular 
irreversível) 
Sempre fisiológica, eliminação de 
células não desejadas; pode ser 
patológica após algumas formas 
de lesão celular, sobretudo lesão 
de DNA 
 
Causas da lesão celular 
 Privação de oxigénio: a isquémia é a causa mais comum de hipóxia. A deficiência de oxigénio 
também pode resultar da oxigenação inadequada do sangue (ex.: pneumonia) ou da redução da 
capacidade do sangue em transportar oxigénio (ex.: anemia, envenenamento por CO); 
 Agentes químicos; 
 Agentes infecciosos; 
 Reacções imunológicas: doenças auto-imunes e reacções alérgicas; 
 Defeitos genéticos; 
 Desequilíbrios nutricionais: as deficiências nutricionais permanecem como a maior causa delesão celular; 
 Agentes físicos; 
 Envelhecimento. 
 
Morfologia da lesão celular e da lesão tecidual 
 A função celular pode ser perdida antes de ocorrer a 
morte celular e as alterações morfológicas na lesão 
(ou morte) celular surgem mais tarde que ambas; 
 Os desarranjos celulares da lesão reversível podem 
ser reparados e, se o estímulo nocivo cessa, a célula 
retorna à sua normalidade; 
 Entretanto, a lesão persistente ou excessiva faz com 
que as células passem do nebuloso “ponto de não-
retorno” para a lesão irreversível e morte celular; Fig. 3 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 15 
 
 Existem dois fenómenos que caracterizam de forma consistente a irreversibilidade: a 
incapacidade de reverter a disfunção mitocondrial (perda da fosforilação oxidativa e 
geração de ATP) mesmo depois da resolução da lesão original e os profundos distúrbios na 
função da membrana. 
 
Lesão reversível 
 As duas principais características morfológicas da lesão celular reversível são: 
- Tumefacção celular – é resultado da falência das bombas de iões na membrana 
plasmática, dependentes de energia, levando a uma incapacidade de manter a homeostase 
iónica e de fluido; 
 É a primeira manifestação de quase todas as formas de lesão celular; 
 Quando afecta muitas células de um órgão, causa alguma palidez e aumento do turgor e 
do peso do órgão; 
 Em microscopia pode revelar vacúolos pequenos e claros no citoplasma (segmentos 
distendidos e separados do RE). Não é letal e designa-se por alteração hidrópica ou 
degeneração vacuolar; 
 
- Degeneração gordurosa – ocorre na lesão hipóxica e em várias formas de lesão metabólica 
ou tóxica e manifesta-se pelo surgimento de vacúolos lipídicos, grandes ou pequenos, no 
citoplasma; 
 Esta ocorre sobretudo em células envolvidas e dependentes do metabolismo de gordura 
(ex.: hepatócitos e miócitos); 
 As células lesadas podem exibir uma coloração eosinofílica que se torna muito mais 
pronunciada com a progressão para necrose; 
 
 Alterações ultra-estruturais da lesão celular reversível (Fig. 4): 
1. Alterações na membrana plasmática, como bolhas, apagamento ou distorção das 
microvilosidades e a perda das adesões intercelulares; 
2. Alterações mitocondriais com tumefacção e a presença de densidades amorfas ricas em 
fosfolípidos; 
3. Dilatação do RE com destacamento dos ribossomas e a dissociação dos polissomas; 
4. Alterações nucleares, com condensação da cromatina. 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 16 
 
Necrose 
 Necrose – alteração que acompanha a morte celular, que resulta da acção degradativa de 
enzimas nas células lesadas letalmente; 
 As células necróticas exibem um aumento da eosinofilia (aumento da ligação da eosina às 
proteínas citoplasmáticas desnaturadas e perda de basofilia conferida pelo RNA no citoplasma); 
 As células mortas são substituídas por grandes massas espiraladas compostas por fosfolípidos, 
chamadas figuras de mielina, as quais são derivadas das membranas celulares danificadas; 
 As células mortas podem tornar-se calcificadas (precipitados fosfolipídicos posteriormente 
degradados em ácidos gordos, que calcificam e originam os sabões de cálcio); 
 As alterações nucleares assumem um dos três padrões, todos devidos à quebra da cromatina e 
do DNA: 
- Cariólise: basofilia da 
cromatina pode 
empalidecer; 
- Picnose: retracção 
nuclear e aumento da 
basofilia. O DNA 
condensa-se; 
- Cariorrexe: núcleo 
picnótico sofre 
fragmentação. 
 
 
 
Fig. 4 
 
RESUMO – Alterações morfológicas nas células lesadas 
Lesão celular 
reversível 
 Tumefacção celular, alteração gordurosa, bolhas na membrana plasmática e 
perda das microvilosidades, tumefacção das mitocôndrias, dilatação do RE, 
eosinofilia. 
Necrose 
 Aumento da eosinofilia; retracção, fragmentação e dissolução nuclear; 
rompimento da membrana plasmática e das membranas dos organelos; 
extravasamento e digestão enzimática dos conteúdos celulares. 
Apoptose 
 Condensação da cromatina nuclear e formação dos corpos apoptóticos 
(fragmentos de núcleo e citoplasma). 
 
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Padrões de necrose tecidual 
Necrose coagulativa 
 As células componentes estão mortas, mas a estrutura básica do 
tecido é preservada (pelo menos alguns dias); 
 Os tecidos afectados adquirem uma textura firme; 
 Desnaturação das proteínas estruturais e enzimáticas, 
bloqueando assim a proteólise das células mortas (anucleadas e 
eosinófilas); 
 Por fim, as células necróticas são removidas por fagocitose; 
 É característica de enfartos (áreas de necrose isquémica) em todos os 
órgãos sólidos, excepto o cérebro. 
Necrose liquefactiva 
 Observada em infecções bacterianas focais ou fúngicas (estimulam 
a acumulação de células inflamatórias e as enzimas dos leucócitos a 
digerirem o tecido); 
 A liquefacção digere por completo as células mortas, o que resulta 
num tecido de massa viscosa, líquida; 
 Se o processo foi iniciado por inflamação aguda, o material é quase 
sempre amarelo-cremoso – pús; 
 É comum a morte por hipóxia de células do SNC ocasionar este padrão 
de necrose. 
Necrose gangrenosa 
 Não é um padrão distintivo de morte celular; 
 É aplicado comumente à perna, que perdeu o seu suprimento sanguíneo 
e que sofreu necrose coagulativa; 
 Quando uma infecção bacteriana se sobrepõe, a necrose coagulativa é 
modificada – gangrena húmida. 
Necrose caseosa 
 Encontrada com mais frequência em focos de infecção tuberculosa; 
 Aparência friável branco-amarelada; 
 A estrutura do tecido é completamente obliterada e os 
contornos celulares não podem ser distinguidos (células 
fragmentadas, com aparência granular amorfa); 
 É quase sempre encerrada dentro de uma nítida borda inflamatória 
(granuloma). 
Necrose gordurosa 
 Áreas focais de destruição gordurosa, tipicamente resultante da 
libertação de lipases pancreáticas activadas na substância do pâncreas e 
na cavidade peritoneal – pancreatite aguda; 
 Áreas brancas gredosas macroscopicamente visíveis (saponificação da 
gordura), provocadas pela combinação dos ácidos gordos libertados 
com o cálcio. 
Necrose fibrinóide 
 Em geral, observada nas reacções imunes que envolvem os vasos 
sanguíneos; 
 É proeminente quando complexos antigénio-anticorpo são depositados 
nas paredes das artérias; 
 Aparência amorfa e róseo-brilhante (combinação dos imunocomplexos 
com a fibrina); 
 Ex.: poliartrite nodular. 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
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 O extravasamento de proteínas intracelulares através da membrana celular rompida e, por fim, 
para a circulação, fornece meios de detectar a necrose tecido-específica, usando-se amostras de 
sangue ou de soro. 
 
Respostas subcelulares à lesão 
 Autofagia 
- Refere-se à digestão lisossómica dos componentes da célula e contrasta com heterofagia, na 
qual a célula ingere substâncias do meio exterior para destruição intracelular; 
- Ocorre em células privadas de nutrientes, os organelos estão inseridos em vacúolos 
autofágicos que se fundem com os lisossomas (autofagolisossoma); 
- Os organelos são digeridos, mas em alguns casos permanecem pigmentos indigeríveis (ex.: 
lipofuscina). 
 
 Indução (Hipertrofia) do REL 
- As células expostas às toxinas que são metabolizadas no REL exibem hipertrofia do RE, um 
mecanismo compensatório para maximizar a remoção de toxinas. 
 
 Alterações mitocôndriais 
- As alterações em número,tamanho e forma das mitocôndrias são vistas em diversas 
adaptações e respostas à lesão crónica (ex.: Hipertrofia celular há aumento do número de 
mitocôndrias; atrofia celular há redução do número de mitocôndrias; na doença hepática 
alcoólica, as mitocôndrias têm uma forma muito aumentada). 
 
 Anormalidades cito-esqueléticas 
- Algumas drogas e toxinas interferem no arranjo e nas funções dos filamentos do cito-esqueleto 
(ex.: Colchicina impede a polimerização dos microtúbulos e é útil no tratamento da gota) ou 
resultam na acumulação anormal de filamentos (ex.: Síndrome de Kartagener, resulta do defeito 
da mobilidade do cílios no epitélio respiratório). 
 
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Mecanismos da lesão celular 
 Vários princípios gerais são relevantes para a maioria das formas de lesão celular: 
- A resposta celular ao estímulo nocivo depende do tipo de lesão, da sua duração e da sua 
gravidade; 
- As consequências de um estímulo nocivo dependem do tipo, status, adaptabilidade e do 
fenótipo genético da células lesada; 
- A lesão celular resulta de alterações bioquímicas e funcionais num ou mais dos vários 
componentes celulares essenciais (mitocôndrias, membranas celulares, síntese de proteínas, cito-
esqueleto e DNA nuclear) – Fig. 5. 
 
 
Fig. 5 
Depleção de ATP 
 As principais causas de depleção de ATP são a redução do suprimento de oxigénio e 
nutrientes, o dano mitocondrial e as acções de algumas toxinas (ex.: cianeto); 
 Os tecidos com maior capacidade glicolítica (ex.: fígado) são capazes de sobreviver melhor à 
perda de oxigénio e ao decréscimo de fosforilação oxidativa do que os tecidos com capacidade 
limitada para a glicólise (ex.: cérebro) 
 A depleção de ATP a menos que 5% a 10% dos níveirs normais tem amplos efeitos em muitos 
sistemas celulares críticos (Fig. 6): 
- A actividade da bomba de sódio na membrana plasmática dependente de energia é 
reduzida, resultando num acumular intracelular de sódio e o efluxo de potássio; 
 O ganho de soluto é acompanhado de um ganho isosmótico de água, causando 
tumefacção celular e dilatação do RE; 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
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- Há um aumento compensatório na glicólise anaeróbica, na tentativa de manter as fontes 
de energia celular; 
 Como consequência, o stock de 
glicogénio intracelular é 
rapidamente depletado e o 
ácido láctico acumula-se, 
levando à diminuição do pH 
intracelular e da actividade de 
muitas enzimas celulares; 
 
- A falência na bomba de Ca2+ ocasiona 
influxo de Ca2+, com efeitos nefastos 
em vários componentes celulares; 
 
Fig. 6 
- A depleção prolongada ou crescente de ATP causa rompimento estrutural do aparelho 
de síntese proteica, manifestado como desprendimento dos ribossomas do RER e 
dissociação dos polissomas em monossomas, com consequente redução da síntese proteica; 
- Por fim, há um dano irreversível nas membranas mitocondriais e lisossomais e a 
células sofre necrose. 
 
Danos na mitocôndria 
 As mitocôndrias podem ser danificadas por aumento 
de CA2+ citosólico, por espécies reactivas de oxigénio 
e privação de oxigénio, sendo sensíveis a virtualmente 
todos os estímulos nocivos, incluindo hipóxia e 
toxinas; 
 Há duas consequências principais aos danos 
mitocondriais (Fig. 7): 
- É comum a lesão mitocondrial resultar na formação 
de um canal de alta condutância na membrana 
mitocondrial (poro de transição de 
permeabilidade mitocondrial); 
Fig. 7 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
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 A abertura desse canal determina a perda do potencial de membrana da 
mitocôndria e alteração do pH, resultando numa falha na fosforilação oxidativa e 
depleção progressiva do ATP, culminando na necrose da célula; 
- As mitocôndrias contêm várias proteínas que activam as vias apoptóticas, incluindo o 
citocromo C (principal proteína envolvida no transporte de electrões); 
 O aumento da permeabilidade da membrana mitocondrial pode resultar em 
extravasamento dessas proteínas para o citosol e morte por apoptose. 
 
Influxo de cálcio 
 A isquémia e certas toxinas causam um aumento da 
concentração do cálcio citosólico, de início por 
causa da libertação de Ca2+ armazenado 
intracelularmente e, mais tarde, do cálcio que resulta 
do influxo aumentado através da membrana 
plasmática; 
- O aumento do cálcio citosólico activa um 
número de enzimas, com efeitos celulares 
potencialmente prejudiciais (Fig. 8); 
 O aumento dos níveis de Ca2+ intracelular resultam, 
também, na indução da apoptose; Fig. 8 
 A importância do Ca2+ na lesão celular foi estabelecida na descoberta de que a depleção de 
Ca2+ extracelular retarda a morte celular após hipóxia e exposição a certas toxinas. 
 
Acumulação de radicais livres derivados do oxigénio (Stress oxidativo) 
 Os radicais livres são espécies químicas que têm um único electrão desemparelhado numa das 
órbitas externas; 
- Quando são gerados nas células, atacam com intensidade os ácidos nucleicos, assim como uma 
variedade de proteínas e lípidos celularas; 
- Além disso, os radicais livres iniciam reacções autocatalíticas; 
 As espécies reactivas do oxigénio (ERO) são um tipo de radical livre derivado do oxigénio; 
- São produzidas nas células durante a respiração e geração de energia mitocondrial, mas são 
degradadas e removidas pelos sistemas celulares de defesa; 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
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- Quando a produção de ERRO aumenta ou quando os sistemas de remoção são ineficientes, o 
resultado é um excesso desses radicais livres que levam a uma condição chamada de stress 
oxidativo; 
- Em muitas circunstâncias, a lesão celular envolve danos causados pelos radicais livres, que 
incluem: lesão de isquémia-reperfusão, lesão química e por radiação, toxicidade do oxigénio e 
outros gases, envelhecimento celular, destruição dos micróbios pelas células fagocíticas e lesão 
tecidular causada por células inflamatórias; 
 
 Várias reacções são responsáveis pela geração de radicais livres: 
- As reacções redox que ocorrem durante o metabolismo mitocondrial normal; 
- Absorção de energia radiante; 
- Metabolismo enzimático de substâncias químicas exógenas; 
- Inflamação; 
- Óxido nítrico (NO) pode actuar como radical livre ou ser convertido em espécies de nitrito 
altamente reactivas. 
 
 Há vários sistemas enzimáticos e não-enzimáticos que contribuem para a inactivação das 
reacções de radicais livres: superóxido dismutases, glutatião peroxidase, catalase, anti-oxidantes 
endógenos e exógenos, o ferro e o cobre (Fig. 9); 
 
Fig. 9 
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 Existem três reacções particularmente relevantes para a lesão celular mediada por radicais livres: 
- Peroxidação lipídica das membranas; 
- Ligação cruzada das proteínas: resulta no aumento na perda de actividade enzimática; 
- Fragmentação do DNA. 
 
Defeitos na permeabilidade da membrana 
 Vários mecanismos bioquímicos podem contribuir para os danos na membrana (Fig. 10): 
- Diminuição da síntese de fosfolípidos, 
devido a uma queda dos níveis de ATP; 
- Aumento da degradação dos 
fosfolípidos, devido à activação de 
fosfolipases endógenas por elevação dos níveis 
de Ca2+ citosólico; 
- Espécies reactivas de oxigénio 
(peroxidação lipídica das membranas); 
- Alterações do cito-esqueleto, devido à 
activação de proteases pelo Ca2+ citosólico 
aumentado; Fig. 10- Produtos de degradação de lípidos, em consequência da degradação fosfolipídica; 
 
 Os sítios mais importantes de membrana, durante a lesão celular, são: 
- Membranas mitocondriais: decréscimo de ATP, necrose e libertação de proteínas 
(apoptose); 
- Membranas plasmáticas: perda do equilíbrio osmótico, influxo de fluidos e iões, perda de 
conteúdos celulares e perda de metabolitos; 
- Membranas lisossomais: extravasamento das suas enzimas para o citoplasma, activação de 
hidrolases ácidas (em pH ácida da célula lesada), digestão enzimática dos componentes celulares 
e necrose. 
 
Danos no DNA e nas proteínas 
 A acumulação de DNA danificado e proteínas mal dobradas dispara a apoptose. 
 
 
 
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Exemplos de lesão celular e necrose 
Lesão isquémica e hipóxica (Fig. 4) 
 A isquémia ou diminuição do fluxo sanguíneo para um tecido, é a causa mais comum de 
lesão celular em medicina clínica; 
 Ao contrário da hipóxia, na qual a produção de energia pela glicólise anaeróbia continua, a 
isquémia também compromete a distribuição de substratos para a glicólise; 
 A isquémia lesa os tecidos com mais rapidez que a hipóxia. 
 
Lesão de isquémia-reperfusão 
 A restauração do fluxo sanguíneo pode resultar em restauração das células se forem lesadas de 
modo reversível; 
 No entanto, sob certas circunstâncias, essa restauração para tecidos isquémicos, 
mas viáveis, resulta, paradoxalmente, em lesão acentuada e acelerada; 
 Como resultado, os tecidos continuam a perder células, além daquelas que foram lesadas de 
modo irreversível no fim do episódio isquémico; 
 Vários mecanismos podem ser responsáveis pela exacerbação da lesão celular resultante da 
reperfusão dentro dos tecidos isquémicos: 
- Uma nova lesão pode ser iniciada durante a reoxigenação em virtude de uma 
produção aumentada de ERO pelas células endoteliais, do parênquima e dos leucócitos 
infiltrantes sobretudo porque a lesão mitocondrial leva a uma redução incompleta do oxigénio e 
também por causa da acção das oxidases dos leucócitos, das células endoteliais ou do 
parênquima; 
- Os mecanismos de defesa anti-oxidantes celulares podem, também, ser 
comprometidos pela isquémia; 
- A lesão isquémica está associada a inflamação, a qual pode aumentar com a reperfusão 
devido ao influxo aumentado de leucócitos e proteínas plasmáticas; 
 A activação do sistema complemento também contribui para a lesão isquémia-
reperfusão. 
 
Lesão química (tóxica) 
 As substâncias químicas induzem lesão celular por um dos dois mecanismos gerais: 
- Algumas substâncias químicas actuam directamente pela combinação com um componente 
molecular crítico ou com um organelo celular (ex.: cloreto de mercúrio); 
- Muitas outras substâncias químicas não são intrinsicamente activas sob o aspecto biológico, mas 
devem ser primeiro convertidas a metabolitos tóxicos reactivos, que então agem sobre as 
células-alvo (ex.: tetracloreto de carbono e acetoaminofeno). 
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Apoptose 
 Apoptose – via de morte celular, induzida por um programa de suicídio rigorosamente 
regulado, no qual as células destinadas a morrer activam enzimas capazes de degradar o seu 
próprio DNA e as proteínas nucleares e citoplasmáticas; 
 A membrana plasmática da célula apoptótica permanece intacta, mas é alterada de tal maneira 
que a célula e os seus fragmentos tornam-se alvo para os macrófagos; 
 Rapidamente a célula morta é removida, antes que o seu conteúdo extravase e, por isso, a morte 
celular por essa via não induz uma reacção inflamatória. 
 
Causas da apoptose 
 Apoptose em situações fisiológicas 
- A morte por apoptose é um fenómeno normal que funciona para eliminar as células que não 
são mais necessárias e para manter, nos tecidos, um número constante das várias populações 
celulares, sendo importante nas seguintes situações fisiológicas: 
 Destruição programada de células durante a embriogénese; 
 Involução de tecidos hormono-dependentes sobr privação da hormona (ex.: células 
endometriais); 
 Perda celular em populações celulares proliferativas (ex.: epitélio de cripta intestinal); 
 Morte de células que já tenham cumprido o seu papel (ex.: neutrófilos); 
 Eliminação de linfócitos auto-reactivos potencialmente nocivos; 
 Morte celular induzida por linfócitos T citotóxicos. 
 
 Apoptose em condições patológicas 
- A apoptose elimina células que estão alteradas sob o aspecto genético ou lesadas de tal modo 
que não podem ser reparadas, sem iniciar uma reacção acentuada no hospedeiro, mantendo, 
assim, a lesão tão contida quanto possível; 
- A morte por apoptose é responsável pela perda de células, em vários estados patológicos: 
 Lesão de DNA; 
 Acumulação de proteínas mal dobradas (stress do RE); 
 Lesão celular em certas infecções (sobretudo virais); 
 Atrofia patológica no parênquima de órgãos após obstrução do ducto (ex.: pâncreas, 
parótida e rim). 
 
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Mecanismos da apoptose 
 Morfologia 
- Em tecidos corados pelo H&E, as células apoptóticas aparecem como massas ovais ou 
redondas com citoplasma intensamente eosinófilo; 
- Os núcleos exibem vários estágios de condensação e agregração da cromatina e, finalmente, 
carriorrexe (fragmentação do DNA); 
- Rapidamente as células retraem, formando brotos citoplasmáticos e fragmenta-se em corpos 
apoptóticos compostos por vesículas envolvidas por membrana contendo citosol e organelos 
(Fig. 2), que rapidamente são expulsos e fagocitados. 
 
 O evento fundamental na apoptose é a activação de enzimas denominadas caspases, que 
activadas clivam numerosos alvos, culminando na activação de nucleases que degradam o DNA e 
outras enzimas que provavelmente destroem nucleoproteínas e proteínas do cito-esqueleto; 
 Duas vias distintas convergem para a activação das caspases (Fig. 11): 
 
 
Fig. 11 
 
 
 
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- Via Mitocondrial (Intrínseca) da apoptose 
 As mitocôndrias contêm uma série de proteínas, capazes de induzir a apoptose, que 
incluem o citocromo C e antagonistas de inibidores de apoptose citosólicos 
endógenos; 
 A escolha entre a sobrevivência e a morte celular é determinada pela permeabilidade da 
mitocôndria, controlada pela Bcl-2; 
 Quando as células são privadas de factores de crescimento e hormonas tróficas 
ou são expostas a agentes que lesam DNA ou ainda acumulam quantidades 
inaceitáveis de proteínas mal dobradas, um grupo de sensores é activado, sendo 
que alguns desses sensores, membros da família do Bcl-2, activam, por sua vez, dois 
membros pró-apoptóticos da família chamada Bax e Bak, que se dimerizam e se inserem 
no interior da membrana mitocondrial, formando canais através dos quais o citocromo C 
e outras proteínas mitocondriais extravasam para o citosol; 
 Outros sensores relacionados inibem as moléculas anti-apoptóticas Bcl-2 e Bcl-x, 
com o mesmo resultado final – extravasamento de proteínas mitocondriais; 
 O citocromo C, em conjunto com alguns co-factores, activam a caspase-9; 
 O resultado final é a activação da cascata de caspases, levando, por fim, à 
fragmentação nuclear; 
 Esta via parece ser a via responsável pela maioria das situações de apoptose. 
 
- Via receptor de morte (Extrínseca) da apoptose 
 Os receptores membranares da família do TNF contêm um “domínio de morte” 
conservado, sendo esses receptores do tipo TNF I e Fas (CD95); 
 O liganteFas (Fas-L) é uma proteína de membrana expressa sobretudo em linfócitos T 
activados; 
 Quando essas células T reconhecem os alvos que expressam Fas, as moléculas Fas são 
ligadas em reacção cruzada pelo Fas-L e suas proteínas de ligação adaptadoras que, 
por sua vez, se ligam à caspase-8; 
 O agrupamento de muitas moléculas de caspases leva à sua activação, iniciando, assim, a 
cascata de caspases; 
 Em muitos tipos celulares, a caspase-8 pode clivar e activar um membro pró-apoptótico 
da família Bcl-2, chamado Bid; 
 As proteínas celulares, notadamente um antagonista de caspase chamada FLIP, bloqueia a 
activação das caspases em direcção aos receptores de morte; 
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 Esta via está envolvida na eliminação de linfócitos auto-reactivos e na eliminação 
de células-alvo por alguns linfócitos T citotóxicos. 
 
 Remoção das células apoptóticas 
- Em células normais, a fosfatidilserina está presente no folheto interno da membrana plasmática, 
mas nas células apoptóticas esse fosfolípido move-se para fora e está expresso na camada 
externa da membrana, onde é reconhecido pelos macrófagos; 
- As células apoptóticas secretam factores solúveis que recrutam fagócitos; 
- Alguns corpos apoptóticos expressam glicoproteínas adesivas que são reconhecidas pelos 
fagócitos; 
- Os macrófagos podem produzir proteínas que se ligam às células apoptóticas. 
 
 A necrose e a apoptose podem coexistir e estar relacionadas mecanicamente; 
- Ex.: Lesão de DNA activa uma enzima chamada poli-ADP polimerase (ribose) que depleta os 
suprimentos celulares do nucleótido adenina nicotinamida, levando à quade dos níveis de ATP e, 
por fim, à necrose. 
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Acumulação intracelular de substâncias 
 As células podem acumular quantidades anormais de várias substâncias; 
 A substância pode estar localizada no citoplasma, no interior de organelos (tipicamente os 
lisossomas) ou no núcleo e pode ser sintetizada pelas células afectadas ou produzida em qualquer 
outro lugar; 
 Existem várias vias principais de acumulações intracelulares: 
1. Metabolismo anormal, como na degeneração gordurosa do fígado; 
2. Mutações que causam alterações no dobramento e transporte de proteína, tal 
que moléculas defeituosas acumulam-se intracelularmente; 
3. Deficiência de enzimas cruciais, responsáveis pela quebra de certos compostos, 
causando substratos que se acumulam nos lisossomas, como nas doenças de 
armazenamento lisossómico; 
4. Incapacidade de degradar partículas fagocitadas, como na acumulação do pigmento 
carbono. 
 
Degeneração gordurosa (esteatose) 
 Degeneração gordurosa – qualquer acumulação de triglicéridos dentro das células do 
parênquima (mais observada no fígado); 
 A esteatose pode ser causada por toxinas (alteram a função das mitocôndrias e do REL), 
desnutrição proteica (diminui a síntese de apoproteínas), diabetes melltus, obesidade e anóxia 
(inibe a oxidação dos ácidos gordos); 
 O abuso de álcool e o diabetes associado com a obesidade são as causas mais 
comuns da degeneração gordurosa do fígado nos países industrializados; 
 A alteração gordurosa mais acentuada pode de forma transitória prejudicar a função celular, 
porém a menos que algum processo intracelular vital seja irreversivelmente danificado, a 
degeneração gordurosa é reversível. 
 Morfologia 
- A acumulação gordurosa aparece como vacúolos claros no interior das células 
parenquimatosas; 
- A gordura é identificada pela coloração com Sudan IV ou Oil Red O (coram a gordura 
em vermelho-alaranjado); 
- O glicogénio pode ser identificado pela coloração para polissacáridos, utilizando-se o 
corante ácido periódico-Schiff (cora o glicogénio de vermelho-violeta). 
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Colesterol e ésteres de colesterol 
 Os macrófagos em contacto com restos de lípidos das células necróticas ou formas anormais de 
lipoproteínas (ex.: oxidadas) podem tornar-se cheios de lípido fagocitado, tornando-se 
preenchidos com pequenos vacúolos de lípidos revestidos por membrana, conferindo uma 
aparência espumosa no seu citoplasma (células espumosas); 
 Ex.: aterosclerose e xantomas. 
 
Proteínas 
 Podem ocorrer acumulações de proteínas porque os excessos são apresentados às células ou 
porque as células sintetizam quantidades excessivas; 
 Ex.: 
- Síndrome nefrótica: gotículas de reabsorção de proteína nos túbulos contornados proximais de 
cor hialina rósea; 
- Acumulação de imunoglobulinas recentemente sintetizadas nos RER de alguns plasmócitos – 
corpúsculos de Russell (redondos e eosinófilos). 
 
Glicogénio 
 Excessivos depósitos intracelulares de glicogénio estão associados a anormalidades no 
metabolismo da glicose ou do glicogénio; 
 Ex.: Diabetes mellitus: acumula-se no epitélio tubular renal, nos miócitos e nas células β dos 
Ilhéus de Langerhans. 
 
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Pigmentos 
 São substâncias coloridas que são exógenas, originando-se fora do corpo ou endógenas, 
sintetizadas dentro do próprio corpo; 
 
Pigmentos 
Carbono 
(indigerível) 
 Pigmento exógeno mais comum; 
 Quando inalado, é fagocitado pelos macrófagos alveolares e transportado 
através de canais linfáticos para os nódulos linfáticos tráqueo-brônquicos; 
 Os agregados do pigmento escurecem os nódulos e o parênquima pulmonar 
(antracose). 
Lipofuscina 
(indigerível) 
 Pigmento endógeno, designado por “pigmento do desgaste”; 
 Produto de degradação da peroxidação lipídica; 
 Material intracelular granular, castanhi-amarelado, que se acumula em vários 
tecidos (ex.: coração, fígado e cérebro) como consequência do 
envelhecimento ou da atrofia; 
 Não é nociva à célula, mas é importante como marcador de lesão antiga 
por radical livre; 
 O pigmento marrom, quando presente em grandes quantidades, confere ao 
tecido uma aparência que é chamada de atrofia marrom. 
Melanina 
 Pigmento endógeno, preto-acastanhado; 
 Sintetizada exclusivamente pelos melanócitos localizados na 
epiderme e actua como protector contra a radiação UV prejudicial; 
 Os queratinócitos basais adjacentes da pele podem acumular o pigmento (ex.: 
sardas), assim como os macrófagos da derme. 
Hemossiderina 
 Pigmento granular derivado da hemoglobina, amarelo a castanho-
dourado, que se acumula nos tecidos onde há um excesso de ferro, local ou 
sistémico; 
 Normalmente, o ferro é armazenado no interior das células em associação 
com a aproferritina, formando as micelas de ferritina; 
 Este pigmento representa grandes agregados dessas micelas de ferritina, 
facilmente visualizados em MO pela reacção histoquímica do azul-da-prússia; 
 Os excessos locais de ferro e, consequentemente, de hemossiderina, resultam 
de hemorragia; 
 Ex.: Equimose comum: 
- Os iões ferro da hemoglobina acumulam-se como hemossiderina amarelo-
dourado; 
 Sempre que há uma sobrecarga sistémica de ferro, a hemossiderina é 
depositada em muitos órgãos e tecidos – hemossiderose (com a progressão 
da acumulação, as células parenquimatosas tornam-se “bronzeadas” (fígado, 
pâncreas, coração e órgãos endócrinos, sem lesão no tecido); 
- Ocorre nas condições de absorção aumentada de ferro alimentar, uso 
comprometido de ferro, anemias hemolíticas e transfusões; 
 Acumulação de ferro mais extensa é visto na hemocromatose hereditária, 
com lesão no tecido, incluindo fibrose hepática, falência cardíaca e diabetes 
mellitus. 
Robbins, Patologia Básica2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 32 
 
Calcificação patológica 
 Implica o depósito anormal de sais de cálcio, em combinação com pequenas quantidades de 
ferro, magnésio e outros minerais; 
 Existem dois tipos de calcificação: calcificação distrófica e calcificação metastática; 
 
Calcificação distrófica 
 O depósito de cálcio ocorre nos tecidos mortos ou que estão morrendo, que ocorre na 
ausência de desarranjos metabólicos do cálcio (ex.: com níveis séricos normais de cálcio); 
 É encontrada em áreas de necrose de qualquer tipo 
 Ex.: Ateromas da aterosclerose avançada; 
 Calcificação distrófica das valvas aórticas é causa importante da estenose aórtica nos idosos; 
 A patogenia da calcificação distrófica envolve a iniciação (ou nucleação) e a propagação, 
ambos podendo ser intra ou extracelulares, sendo o produto final a formação de fosfato de 
cálcio cristalino; 
- A iniciação extracelular ocorre em vesículas revestidas por membrana originadas de células 
degeneradas, na calcificação patológica; 
- A iniciação intracelular ocorre nas mitocôndrias de células mortas ou que estão morrendo; 
- A formação dos cristais depende da concentração de Ca2+ e do PO4
- nos espaços 
extracelulares, da presença de inibidores do mineral e do grau de colagenização, o qual aumenta 
a taxa de crescimento do cristal; 
 Morfologia 
- Os sais de cálcio são vistos macroscopicamente como grânulos finos brancos ou 
agregados, muitas vezes palpáveis como depósitos arenosos; 
- Histologicamente, a calcificação aparece como depósitos basófilos intra ou 
extracelulares; 
- Com o tempo, pode ser formado osso heterotípico no foco da calcificação. 
 
Calcificação metastática 
 Depósito de sais de cálcio em tecidos normais, reflectindo quase sempre algum distúrbio 
no metabolismo do cálcio (hipercalcemia); 
 As quatro principais causas da hipercalcemia são: secreção aumentada da hormona da 
paratiróide, destruição óssea, distúrbios relacionados com a vitamina D e insuficiência renal; 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 33 
 
 Morfologia 
- Pode ocorrer em todo o corpo, mas afecta sobretudo os tecidos intersticiais da mucosa 
gástrica, rins, pulmões e da vasculariação; 
- Os depósitos de cálcio lembram os descritos na calcificação distrófica; 
- Não costumam causar disfunção clínica, mas calcificações maciças nos pulmões podem gerar 
déficits respiratórios e nos rins (nefrocalcinose) podem causar lesão renal. 
 
Envelhecimento celular 
 Envelhecimento celular – é o resultado do declínio progressivo do tempo de vida e da 
capacidade proliferativa das células e dos efeitos da exposição contínua a factores exógenos que 
causam acumulação de lesões moleculares e celulares; 
 Vários são os mecanismos conhecidos ou suspeitos de serem responsáveis pelo envelhecimento 
celular (Fig. 12): 
- Lesão do DNA: defeitos no mecanismo de reparo de DNA; o reparo do DNA pode ser 
activado pela restrição calórica (conhecida por prolongar o envelhecimento em organismos-
modelo, mais propriamente, impõe um nível de stress que activa as proteínas Sir2, que 
funcionam como uma diacetilase de histona); 
- Decréscimo da replicação celular: conhecido por senescência replicativa, consiste na 
capacidade reduzida de divisão celular resultante de quantidades descrescentes de telomerase e 
encurtamento progressivo dos telómeros; 
- Capacidade regenerativa reduzida das células-tronco nos tecidos: acumulação da 
proteína p16 nas células-tronco, fazendo com que elas percam progressivamente a capacidade 
de auto-renovação; 
- Acumulação de lesões metabólicas: radicais livres; 
- Outros factores: prováveis papéis dos factores de crescimento que promovem 
envelhecimento em organismos-modelo. 
Fig. 12 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 34 
 
Capítulo 1I 
Inflamação Aguda e Crónica 
 
Visão geral da inflamação 
 Inflamação – é uma resposta protectora do hospedeiro a invasores estranhos e tecidos 
necróticos, porém ela mesma pode causar lesão tecidual; 
 Os principais componentes da inflamção são a reacção vascular e a resposta celular. Ambas 
são activadas por mediadores derivados das proteínas plasmáticas e de várias células; 
- As manifestações externas da inflamação, chamadas de sinais cardinais, que resultam da 
reacção vascular e resposta celular, são: calor, rubor e tumor; 
- Os dois sinais cardinais adicionais da inflamação aguda, dor e perda de função, 
ocorrem como consequência da elaboração do mediador e da lesão mediada por leucócitos; 
 As etapas da resposta inflamatória podem ser lembradas com os cinco Rs: 
1. Reconhecimento do agente lesivo; 
2. Recrutamento dos leucócitos; 
3. Remoção do agente; 
4. Regulação (controlo) da resposta; 
5. Resolução (reparo). 
 
 O resultado da inflamação aguda é a eliminação do estímulo nocivo, seguida do declínio da 
reacção e o reparo do tecido lesado ou lesão persistente que resulta em inflamação crónica. 
 Fig.13 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 35 
 
Inflamação aguda 
 Inflamação aguda – é uma resposta rápida e de curta duração à lesão ou a micróbios e outras 
substâncias estranhas, que é designada a levar leucócitos e proteínas plasmáticas para os locais da 
lesão; 
 A inflamação aguda possui dois componentes principais: alterações vasculares e eventos 
celulares. 
 Estímulos para a inflamação aguda: infecções, trauma, agentes químicos e físicos, necrose 
tecidual, corpos estranhos e reacções imunológicas. 
 
Alterações vasculares 
 Alterações vasculares: alterações do calibre vascular que resultam num aumento do fluxo 
sanguíneo (vasodilatação) e alterações estruturais que permitem que as proteínas plasmáticas 
deixem a circulação (aumento da permeabilidade vascular). 
 
Alterações no fluxo e calibre vasculares 
 Iniciam-se rapidamente após a lesão ou infecção, mas desenvolvem-se em velocidades variáveis, 
dependendo da natureza e gravidade do estímulo inflamatório original: 
1. Após uma vasoconstricção transitória, ocorre vasodilatação das arteríolas, 
resultando num aumento do fluxo sanguíneo e abertura dos leitos capilares (eritema e 
calor); 
2. Como a microcirculação torna-se mais permeável, ocorre o extravasamento e deposição de 
líquido e proteínas plasmáticas (edema). A perda de líquido faz com que os eritrócitos 
fiquem mais concentrados, aumentando a viscosidade do sangue e diminuindo a velocidade 
da circulação (estase); 
3. Quando a estase se desenvolve, os leucócitos (principalmente os neutrófilos) começam a 
acumular-se ao longo da superfície endotelial vascular (marginação) que se caracteriza pela 
primeira etapa da migração e acumulação dos leucócitos no local da lesão. 
 
Alterações da permeabilidade vascular 
 A vasodilatação das arteríolas e o volume do fluxo sanguíneo aumentado provocam um aumento 
da pressão hidrostática intravascular, resultando na saída de líquido dos capilares para os tecidos; 
- Transudato: líquido que é essencialmente um ultrafiltrado do plasma sanguíneo e contém 
poucas proteínas; 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 36 
 
- Entretanto, a transudação é logo superada pelo aumento da permeabilidade vascular, que 
permite a saída de líquido rico em proteínas e células (exsudato) para o tecido intersticial – 
líquido típico da inflamação; 
- A perda de proteína do plasma reduz a pressão osmótica intravascular e eleva a pressão 
osmótica do líquido intersticial, resultando no efluxo de água e de iões para os tecidos 
extravasculares; 
 
Fig. 14 Vários mecanismos podem contribuir para o aumento da permeabilidade vascular nas reacções 
inflamatórias agudas: 
- Contracção da célula endotelial, formando lacunas intercelulares nas vénulas pós-
capilares: 
 Causa mais comum do aumento da permeabilidade vascular, sendo um processo 
reversível; 
 Resposta transitória imediata: contracção rápida após a ligação dos mediadores 
histamina, bradicinina, leucotrienos e outros aos receptores específicos, geralmente de 
curta duração; 
 Alterações do cito-esqueleto induzidas por citocinas (TNF e IL-1), provocam uma 
contraação mais lenta e prolongada; 
 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 37 
 
- Lesão endotelial: 
 Resulta no extravasamento vascular, causado por necrose e desprendimento da célula 
endotelial; 
 Resposta contínua imediata: o extravasamento começa imediatamente após a lesão e 
persiste por várias horas (ou dias) até que os vasos danificados sejam trombosados ou 
reparados; 
 Extravasamento prolongado tardio: começa após um certo tempo (de 2 a 12 horas), 
durando várias horas ou dias, e envolve vénulas e capilares (ex.: queimadura solar que 
aparece ao anoitecer, após um dia no sol); 
 
- Lesão endotelial mediada por leucócitos: 
 Acumulação de leucócitos que libertam muitos mediadores tóxicos; 
 
- Trancitose aumentada: 
 Ocorre via canais formados pela fusão de vesículas intracelulares, aumentando a 
permeabilidade vascular após exposição a certos mediadores (ex.: VEGF); 
 
- Extravasamento de novos vasos sanguíneos: 
 O reparo do tecido envolve a formação de novos vasos (angiogénese). 
 
Respostas dos vasos linfáticos 
 A pequena quantidade de líquido intersticial normalmente formada é removida por 
drenagem linfática; 
 Na inflamação, o fluxo da linfa é aumentado e auxilia a drenagem do fluido do edema do espaço 
extravascular; 
 Além do líquido, os leucócitos e os restos celulares podem caminhar na linfa; 
 Nas reacções inflamatórias mais severas (ex.: micróbios), os linfáticos podem transportar o 
agente lesivo, tornando-se inflamados secundariamente (linfagite), bem como os nódulos 
linfáticos de drenagem (linfadenite), estes últimos estando frequentemente aumentados. 
 
 
 
 
 
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Vitor Martins FMUL/UMa 38 
 
RESUMO – Reacções vasculares na inflamação aguda 
Vasodilatação 
 É induzida por mediadores químicos como a histamina e é a causa do 
eritema e estase do fluxo sanguíneo. 
Aumento da 
permeabilidade 
vascular 
 É induzido pela histamina, cininas e outras mediadores que produzem 
aberturas entre as células endoteliais, por lesão endotelial directa ou 
induzida por leucócitos e pelo aumento da passagem de líquidos através do 
endotélio; 
 O aumento da permeabilidade vascular permite a entrada de leucócitos e 
proteínas plasmáticas nos locais da infecção ou da lesão do tecido; 
 O líquido que extravesa dos vasos sanguíneos resulta em edema. 
 
Eventos celulares: recrutamento e activação dos leucócitos 
 Eventos celulares: emigração dos leucócitos da microcirculação e sua acumulação no foco de 
lesão (recrutamento e activação celulares). Os principais leucócitos na inflamação aguda são so 
neutrófilos (leucócitos polimorfonucleares). 
 
Recrutamento dos leucócitos (Fig. 15) 
1. Marginação e rolagem 
- Os eritrócitos menores tendem a se mover mais rápido do que os grandes leucócitos, daí, 
estes últimos serem empurrados para fora da coluna axial, possibilitando uma oportunidade 
melhor de interagir com as células endoteliais de revestimento, especialmente quando 
ocorre estase – marginação (acumulação de leucócitos na periferia dos vasos); 
- Subsequentemente, os leucócitos rolam na superfície endotelial, aderindo transitoriamente ao 
longo do caminho a um processo chamado rolagem. Estas adesões fracas são mediadas pelas 
moléculas de adesão da família das selectinas; 
- Normalmente, as selectinas endoteliais são expressas em níveis baixos ou não estão presentes 
em todas as células normais, sendo hiper-reguladas após estimulação por mediadores específicos; 
- Portanto, a ligação dos leucócitos é grandemente restrita ao endotélio, nos locais da 
infecção ou lesão, onde os mediadores são produzidos. 
 
2. Adesão e transmigração 
- A adesão firme às superfícies endoteliais é mediada pelas integrinas expressas nas 
superfícies celulares dos leucócitos; 
 Têm baixa afinidade até que haja activação dos leucócitos por quimiocinas 
(citocinas quimioatraentes secretadas por várias células, nos locais de inflamação, e ligam-
se a proteoglicanos na superfície do endotélio); 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 39 
 
 Quando os leucócitos aderentes encontram as quimiocinas, as células são activadas e as 
suas integrinas sofrem mudanças conformacionais, agrupam-se e convertem-se a um 
estado de alta afinidade; 
- Ao mesmo tempo, outras citocinas (TNF e IL-1), activam as células endoteliais para aumentar a 
sua expressão de ligantes para integrinas (ICAM-1 e VCAM-1); 
- Após a aderência na superfície endotelial, os leucócitos migram pela parede do vaso 
(principalmente nas vénulas da circulação sistémica), espremendo-se entre as células ao nível das 
junções intercelulares (diapedese); 
 A migração é orientada pelas quimiocinas produzidas nos tecidos extravasculares, as quais 
estimulam a movimentação dos leucócitos em direcção aos seus gradientes químicos; 
 Além disso, a PECAM-1 (CD31), uma molécula de adesão celular expressa em 
leucócitos e células endoteliais, medeia os eventos de ligação necessários para os 
leucócitos atravessarem o endotélio; 
- Após a passagem pelo endotélio, os leucócitos secretam colagenases que degradam 
focalmente a membrana basal dos vasos, atravessando-a. 
 
Molécula endotelial Molécula leucocitária Principal papel 
P-selectina Proteínas modificadas de Sialil-
Lewis X 
Rolagem (neutrófilos, monócitos, 
linfócitos) 
E-selectina Proteínas modificadas de Sialil-
Lewis X 
Rolagem e adesão (neutrófilos, 
monócitos, linfócitos T) 
GlyCam-1, CD34 L-selectina Rolagem (neutrófilos, monócitos)* 
ICAM-1 (família das 
imunoglobulinas) 
Integrinas CD11/CD18 (LFA-1, 
Mac-1) 
Adesão, parada, transmigração 
(neutrófilos, monócitos, linfócitos) 
VCAM-1 (família das 
imunoglobulinas) 
Integrina VLA-4 Adesão (eosinófilos, monócitos, 
linfócitos) 
CD31 (PECAM-1) CD31 Transmigração (todos os leucócitos) 
*As interacções CD34-L-selectina estão também envolvidas na “migração” dos linfócitos circulantes para as vénulas de 
endotélio alto dos nódulos linfáticos. 
 
3. Quimiotaxia 
- Após o extravasamento, os leucócitos migram em direcção ao local da lesão ou infecção, ao 
longo de um gradiente químico (quimiotaxia); 
- Substâncias exógenas e endógenas podem actuar como factores quimiotáticos para os 
leucócitos e incluem: produtos bacterianos (N-formilmetionina); citocinas (quimiocinas); 
componentes do sistema complemento (C5a); produtos do metabolismo do ácido araquidónico 
(leucotrieno B4); 
- A ligação dos quimioatraentes aos receptores específicos na superfície celular resulta em 
eventos de transdução de sinal mediados pela proteína G-7, alguns dos quais elevam o cálcio 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 40 
 
citosólico, que suscita a montagem dos elementos contrácteis do cito-esqueleto, 
necessários para o movimento; 
- Os leucócitos movem-se projectando pseudópodes que se ancoram na MEC e que puxam a 
célula na direcção da projecção; 
 A direcção deste movimento é especificadapela alta densidade de interacções ligante 
quimiotático-receptor, na margem dianteira da célula. 
 
 Na maioria das formas de inflamação aguda, os neutrófilos predominam no infiltrado inflamatório 
durante as primeiras 6 a 24 horas, sendo substituídos por monócitos em 24 a 48 horas; 
 Algumas excepções: infecções por Pseudomonas (recrutamento contínuo de neutrófilos, por 
vários dias); infecções virais (linfócitos são os primeiros a chegar); algumas reacções de 
hipersensibilidade (granulócitos eosinófilos podem ser o principal tipo celular); 
 Resumindo: O recrutamento dos leucócitos é um processo de múltiplas etapas consistindo na 
aderência fraca e rolagem no endotélio (mediadas por selectinas); aderência firme ao endotélio 
(mediada por integrinas); e migração por entre os espaços interendoteliais. 
 
Fig. 15 
 
 
 
 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 41 
 
Activação dos leucócitos 
 Os estímulos para a activação dos leucócitos incluem os micróbios, os produtos das células 
necróticas e vários mediadores; 
 Os leucócitos expressam nas suas superfícies diferentes classes de receptores que percebem a 
presença de micróbios e incluem: TLRs (receptor semelhante a Toll) reconhecem endotoxina 
(LPS); receptores transmembranares acoplados à proteína G-7; e outras famílias de receptores; 
 A activação leucocitária resulta em muitas funções ampliadas: fagocitose, produção de 
substâncias que destroem os micróbios fagocitados e removem tecidos mortos; e produção de 
mediadores que amplificam a reacção inflamatória. 
 
1. Fagocitose 
- A fagocitose consiste em três etapas distintas, mas inter-relacionadas (Fig. 16): 
1. Reconhecimento e fixação da partícula ao linfócito fagocítico; 
 Os leucócitos possuem receptores de superfície específicos que reconhecem os 
componentes do micróbios e células mortas ou as proteínas do hospedeiro (opsoninas), 
que revestem os micróbios e os torna alvos para a fagocitose (opsonização); 
 Principais opsoninas: IgG (ligam-se ao receptor Fc, chamado de FcγRI); fragmentos 1 e 
3 do complemento (ligam-se aos receptores CR1 e 3); colectinas (ligam-se a 
receptores C1q); 
2. Invaginação, com subsequente formação de um vacúolo fagocítico; 
 A ligação de partículas opsonizadas desencadeia a invaginação e induzem a activação 
celular que aumenta a degradação dos micróbios ingeridos; 
 Os pseudópodes estendem-se em torno do material, formando um vacúolo 
fagocítico; 
 De seguida, a membrana do vacúolo funde-se com a membrana de um grânulo 
lisossómico, formando um fagolisossoma; 
3. Destruição e degradação do material ingerido; 
 As etapas-chave nesta reacção são a produção de substâncias microbicidas dentro 
dos lisossomas e a fusão dos lisossomas com os fagossomas, expondo, 
selectivamente, as partículas ingeridas aos mecanismos destruidores dos leucócitos; 
 As substâncias microbicidas mais importantes são as espécies reactivas do oxigénio e 
as enzimas lisossómicas; 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 42 
 
 A fagocitose estimula um surto oxidativo caracterizado por um súbito aumento do 
consumo de oxigénio, do catabolismo do glicogénio (glicogenólise), do aumento da 
oxidação de glicose e da produção de ERO; 
 Os lisossomas dos neutrófilos (grânulos azurófilos) contêm a enzima mieloperoxidase 
(MPO), que na presença de um halóide como o Cl-, converte H2O2 em HOCl
., que é um 
potente oxidante e agente antimicrobiano que destrói bactérias por halogenação 
ou por peroxidação de proteínas e lípidos; 
 Após o surto oxidativo, o H2O2 é degradado pela acção da catalase em água e O2 e as 
outras ERO também são degradadas; 
 Os microrganismos mortos são então degradados pela acção de hidrolases 
lisossómicas (provavelmente a mais importante é a elastase); 
 Vários outros componentes dos grânulos dos leucócitos são capazes de destruir 
patogénios infecciosos: proteína por aumento da permeabilidade bactericida; 
lisozima; proteína básica principal; e defensinas. 
 
 
Fig. 16 
 
Robbins, Patologia Básica 2008/2009 
Vitor Martins FMUL/UMa 43 
 
Lesão tecidual induzida por leucócitos 
 Os leucócitos podem eliminar micróbios e células mortas através de fagocitose seguida de 
destruição nos fagolisossomas; 
 A destruição é causada por radicais livres (ERO, NO) gerados nos leucócitos activados e nas 
enzimas lisossómicas; 
 As enzimas e as ERO podem ser libertadas para o meio extracelular, por vários mecanismos: 
- Se o vacúolo fagocítico permanecer temporariamente aberto para fora, antes do fechamento 
completo do fagolisossoma (regurgitação durante a alimentação); 
- Se as células encontrarem materiais que não podem ser facilmente ingeridos (ex.: 
imunocomplexos depositados na membrana basal glomerular), a tentativa de fagocitar estas 
substâncias (fagocitose frustrada) inicia uma forte activação dos leucócitos e as enzimas são 
libertadas dentro do tecido circundante ou no lúmen; 
- Depois da fagocitose de susbtâncias potencialmente nocivas (ex.: cristais de urato), que lesam a 
membrana do fagolisossoma. 
 
Exemplos clínicos de lesão induzida por leucócitos: distúrbios inflamatórios 
Distúrbios Células e moléculas envolvidas na lesão 
Aguda 
Síndrome de angústia 
respiratória aguda 
Neutrófilos 
Rejeição aguda de transplante Linfócitos; anticorpos e complemento 
Asma Eosinófilos; anticorpos IgE 
Glomerulonefrite Anticorpos e complemento; neutrófilos e 
monócitos 
Choque séptico citocinas 
Vasculite Anticorpos e complemento; neutrófilos 
Crónica 
Artrite Linfócitos, macrófagos; anticorpos 
Asma Eosinófilos, outros leucócitos; anticorpos IgE 
Aterosclerose Macrófagos; linfócitos? 
Rejeição crónica ao 
transplante 
Linfócitos; citocinas 
Fibrose pulmonar Macrófagos, fibroblastos 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Defeitos das funções leucoitárias 
Doença Defeito 
Adquiridas 
Supressão da medula óssea: 
tumores, radiação, quimioterapia 
Produção de leucócitos 
Lesão térmica, diabetes, malignidade, 
sépsis, imunodeficiências 
Quimiotaxia 
Hemodiálise, diabetes mellitus Aderência 
Leucemia, anemia, sépsis, diabetes, 
neonatos, desnutrição 
Fagocitose e actividade microbiana 
Genéticas 
Deficiência da adesão leucocitária 1 Cadeia β das integrinas CD11/CD18 
Deficiência da adesão leucocitária 2 Fucosil transferase necessária para a 
síntese do oligossacárido sialilado 
(receptor para selectinas) 
Doença granulomatosa crónica 
 Ligada ao X 
 Autossómica recessiva 
Diminuição do surto oxidativo 
NADPH-oxidase (comp. memb.) 
NADPH-oxidase (comp. citoplasm.) 
Deficiência de mieloperoxidade 
(MPO) 
Ausência do sistema MPO-H2O2 
Síndrome de Chédiak-Higashi Proteína associada à membrana 
envolvida na atracção e fusão à 
membrana do organelo 
 
Resolução da inflamação aguda (Fig. 17) 
 
Fig. 17 
 
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Vitor Martins FMUL/UMa 45 
 
RESUMO – Sequência de eventos na inflamação aguda 
  As alterações vasculares na inflamação aguda são caracterizadas por um fluxo 
sanguíneo aumentado devido à dilatação das arteríolas e do leito capilar (eritema e 
calor); 
 A permeabilidade vascular aumentada, através das junções celulares interendoteliais 
afastadas ou por lesão directa da célula endotelial, resulta num exsudato de líquido 
extravascular rico em proteínas (edema tecidual); 
 Os leucócitos, no início predominantemente neutrófilos, aderem ao endotélio

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