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Comunicação e Psicologia

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UNESCOM - Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional 
São Bernardo do Campo - SP – Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 - Universidade Metodista de São Paulo 1 
Comunicação e Psicologia: algumas interfaces 
 
Sandra Lia Rodrigues Franco 
Universidade Metodista de São Paulo 
E-mail: sanlia@uol.com.br 
 
A Comunicação e a Psicologia, embora pertençam a diferentes campos de atuação 
acadêmica e, conseqüentemente, profissional, entendem o homem enquanto um ser 
biopsicossocial e cultural. Assim como existe proximidade entre diversas ciências, mesmo 
quando portadoras de diferentes objetos de estudo, algumas de suas interfaces merecem 
ser analisadas com o objetivo de valorizar as possibilidades de compreensão interdisciplinar 
desses objetos. Neste momento, ater-se-á, apenas, às intersecções que permeiam as duas 
ciências aqui mencionadas, Comunicação e Psicologia, através das relações intencionais, 
conscientes ou inconscientes, que permeiam seus campos discursivos e,portanto, 
relacionais. No caso da Comunicação, enfatiza-se a relação jornalista-leitor e, quanto à 
Psicologia, a relação terapeuta-paciente. Embora, talvez, não se esgotem as interfaces 
entre as duas, até porque essas intersecções também podem se bifurcar e gerar outras, 
ressalta-se, neste momento, a forma como a linguagem se articula para constituir o 
processo comunicativo de ambas, bem como as implicações nele envolvidas e 
estabelecidas através dessa intencionalidade consciente ou inconsciente. 
Para introduzir o conceito de linguagem, mesmo que de forma resumida, é importante situar, 
no tempo e no espaço, a Teoria da Informação cuja essência é a transmissão da mensagem 
e a relação entre os elementos desta transmissão. Conforme Matterlart (MATTELART; 
MATTELART, 2004, pp.58-59), a Teoria da Informação foi elaborada pelo matemático e 
engenheiro elétrico Shannon, por ocasião de seu trabalho com códigos secretos, durante a 
segunda guerra mundial. Shannon entendia que o sistema geral de comunicação consistia 
na reprodução, em um dado ponto, de uma mensagem selecionada em outro ponto, o que 
significa que o sistema comunicativo funcionava de maneira linear. Aquele sistema era 
formado pela fonte (informação) que produzia uma mensagem (a palavra no telefone), o 
emissor que transformava a mensagem em sinais (telefone), o canal (cabo telefônico), o 
receptor, que reconstruía a mensagem, e, finalmente, a destinação, isto é, a quem a 
mensagem era transmitida. O objetivo de Shannon era delinear o quadro matemático no 
interior do qual se tornava possível quantificar o custo de uma mensagem e obter a 
diminuição desse custo através da redução de seus ruídos, isto é, as perturbações 
aleatórias que poderiam distorcer a correspondência entre os dois pólos. 
Como se pode observar, o processo da comunicação baseado nesse modelo era linear, ou 
seja, a mensagem era emitida pelo emissor e decodificada pelo receptor, sem que fosse 
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levado em conta o sentido que o receptor atribuía à mensagem, tampouco a intenção do 
emissor no momento em que a emitia. O modelo criado por Shannon teve origem em 
diversos estudos, dentre os quais, destacam-se as cadeias de símbolos na literatura 
(Markov), o dígito binário e a oposição binária (Hartley), o esquema para tratar essa 
informação (Turingo), a máquina de calcular eletrônica para medir as trajetórias balísticas 
(Neumann), e os estudos ligados à cibernética (Wiener). Nos anos 40, auxiliado por 
estudiosos de diferentes áreas, o antropólogo Gregory Bateson impulsionou a criação da 
Escola de Palo Alto, nos Estados Unidos; essa escola foi também chamada Colégio Invisível 
e seus estudos culminaram no modelo circular de comunicação, modelo proposto, 
anteriormente, por Wiener. A partir das idéias desse grupo de estudiosos, a comunicação 
deveria, a partir daquele momento, ser estudada pelas ciências humanas com 
embasamento em uma abordagem sistêmica, ou seja, a linearidade da informação daria 
espaço para outros estudos preocupados em entendê-la como um processo mais global e 
interativo; a despeito de algumas críticas que, sem dúvida, foram construtivas porque 
também levam à reflexão e ao aprofundamento da análise, a Escola de Palo Alto foi pioneira 
no entendimento da Comunicação enquanto um processo circular de informação, 
caracterizando o comportamento humano, seja verbal ou não-verbal, como um processo 
contínuo e conjunto. A postura Batesoniana reforça a utilização de uma linguagem que, 
embora manifesta através de gramáticas e regras talvez inconscientes, é calcada em 
escolhas de uma determinada cultura e dentro de um processo sócio-histórico. É esta 
linguagem que permeia o discurso humano e, portanto, acompanha a sua evolução, 
mantendo-se como o elo central que propicia a interface do homem e o meio através dos 
tempos. 
A linguagem, veículo da comunicação, tem sido, há muito tempo, estudada enquanto 
elemento de interação social, sendo Ferdinand de Saussure, no início do século XX, o 
precursor do estudo sistematizado da linguagem humana, a Lingüística. Ainda, por volta de 
1930, encontra-se Pierce que, através de estudos na área da Semiologia, apresenta uma 
preocupação voltada não só à linguagem humana, como também animal; no que se refere à 
comunicação, preocupa-se com a dinâmica existente entre emissor e receptor, não no 
sentido de uma simples transferência da informação entre os dois, mas numa transferência 
do sistema de um para o sistema do outro (TEMER; NERY, 2004, p.128); isto significa que a 
Comunicação precisa levar em conta não apenas “o quê”, mas “de que forma” e “sob que 
condições” as mensagens são elaboradas e emitidas, pois se trata de uma ciência voltada 
aos signos e à forma como esses signos se inserem nos aspectos humanos, sejam eles 
culturais ou psicológicos. 
Esse constructo teórico remete à idéia de uma ligação intrínseca e circular entre homem-
discurso-mundo-homem, isto é, a comunicação só se torna produtiva na medida em que 
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consegue perceber e respeitar a presença e a atuação do homem no ambiente que o cerca; 
no que tange à mídia impressa, por exemplo, um fato ocorrido, ao ser narrado ou analisado 
de forma alheia a um contexto sócio-cultural, seria, possivelmente, apenas um fato estanque 
e, talvez, não se tornasse notícia. Na Psicologia, no que concerne à relação terapeuta-
cliente, há, também, que se entender o contexto em que as mensagens são manifestadas, 
mas não apenas o contexto enquanto “assunto abordado”, mas a realidade individual e 
também contextual do paciente, isto é, qual o sentido por ele atribuído a uma determinada 
situação e de que forma ele, paciente, se comporta ao manifestá-la. Poder-se-ia, então, 
afirmar que a linguagem perpassa as questões lingüísticas, sendo constituída, desde a sua 
mais antiga utilização, por outras duas dimensões: uma dimensão psicológica e uma 
dimensão social. Em seu aspecto psicológico, a linguagem é vista como uma forma de 
conhecimento, ou seja, uma forma de cognição; em seu aspecto social, a linguagem é 
concebida como um instrumento do qual o indivíduo se vale para interagir com o mundo que 
o rodeia. 
Transcendendo as origens do estudo da linguagem e, de certa maneira, também rompendo 
com a tradição estruturalista de Saussure e de Pierce, em que o processo de comunicação 
tinha como base as formas gramaticais e o entendimentode códigos lingüísticos, 
começaram a surgir outros autores, que entendem o processo comunicativo como um 
fenômeno social. Bakhtin, por exemplo, faz uma crítica à função apenas comunicativa da 
linguagem e julga necessário que a comunicação seja entendida como um “processo” 
calcado num enunciado vivo, por parte do emissor e numa atitude responsiva ativa, por 
parte do receptor (BAKHTIN, 1997, p.290). Isto significa que, em detrimento da passividade 
do receptor, como rezava o esquema estruturalista anterior, faz-se necessário que o 
processo implique em um “todo” comunicativo porque o receptor, ao receber a mensagem, 
concorda ou discorda, completa, adapta-se, enfim, seu papel é tão ativo quanto o do 
emissor. 
Com base nesses aspectos da linguagem, e de que forma ela se articula para constituir a 
comunicação é que se desenvolve este trabalho. Neste caso, a articulação da linguagem 
não deve ser entendida como relativa à clareza que propicia uma compreensão adequada 
de mensagens, mas como a ligação entre duas coisas (O'SULLIVAN; HARTLEY; 
SAUNDERS; MONTGOMERY; FISKE, 2001, p.28), isto é, a linguagem e suas interfaces 
em cada discurso. Partindo-se da premissa que o processo comunicativo possui um modelo 
circular, seja no discurso escrito ou falado, infere-se que a comunicação da mídia impressa 
também se constitui dessa maneira. O jornalista, ao se manifestar, tem a intenção de atingir 
um determinado público, ou seja, manifesta-se ativa e intencionalmente. O leitor, por sua 
vez, reage de maneira favorável ou não e, conforme citado, este receptor se posiciona de 
forma tão ativa quanto o emissor, no caso, o jornalista; é, pois, esta circularidade que 
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mantém ativo o processo comunicativo. Neste caso específico, quanto ao processo de 
comunicação jornalista-notícia-leitor, pode-se inferir que o jornalista, ao noticiar determinado 
assunto, traz em seu discurso uma fala que, embora técnica, tem como autor não apenas o 
jornalista enquanto “profissional”, mas o “ser humano” jornalista, um ser biopsicossocial e 
cultural que recebe e, conseqüentemente, exterioriza interferências, conscientes ou não, 
relativas ao seu modo de ser, pensar, agir e, naturalmente, redigir. 
O leitor, por sua vez, ao receber a mensagem, compreende-a não só do ponto de vista da 
decodificação lingüística, mas a recepção desta mensagem também perpassa este “homem” 
leitor, um ser biopsicossocial e cultural e, conseqüentemente, faz emergir uma reação que é 
apenas sua, particular, individual; assim, leva-se em conta a subjetividade de cada um e dos 
diferentes grupos sociais que têm acesso a essa leitura. Na realidade, a própria mídia acaba 
construindo algumas identidades sociais que condicionam e refletem a maneira como os 
membros de uma sociedade categorizam as pessoas, bem como a forma com que essa 
sociedade é reproduzida ou modificada (GOMES, 2003). Pode-se dizer que esses discursos 
transcendem a esfera da linguagem enquanto “instrumento” de comunicação para alcançar 
a dimensão de uma “prática social”; em alusão a esta prática, o jornalista necessita atingir 
leitores de diferentes níveis e interesses, o que significa que sua preocupação se volta não 
apenas à acessibilidade léxica dos leitores dessa mídia específica, mas necessita 
apresentar um discurso através de enfoques sociais que despertem o interesse de diversos 
leitores, em detrimento de outras posturas que embora, por vezes, abstraídas da ciência, 
precisam ser transformadas em teor de interesse público. Como exemplo, alude-se às 
notícias de catástrofe, onde o teor poderá ser um terremoto, uma chuva mais intensa ou 
mesmo um clima exaustivamente quente; ora, se estas situações não forem 
contextualizadas, isto é, colocadas como precursoras de um risco social local, nacional ou 
mesmo internacional, o fato estanque, por si só, parece ficar sem sentido; porém, na medida 
em que este fato é apresentado na relação com os riscos sociais que poderá provocar, 
acontece, então, a notícia. Se um jovem, por exemplo, é noticiado como usuário de drogas, 
será o contexto social que sustentará esta notícia, o que significa adjetivá-lo como 
“estudante”, “trabalhador”, “morador de determinado bairro”, “filho ou neto de fulano” etc, 
enfim, são-lhe atribuídas características sociais que formam o todo desse jovem e que o 
categorizam. 
No que concerne à Psicologia, situação semelhante acontece na relação terapeuta-cliente, 
isto é, a contextualização de cada situação é imprescindível para que o terapeuta absorva o 
máximo da intencionalidade consciente e inconsciente de seu paciente e a interprete de 
forma individual, ou seja, relativa à história de vida daquela pessoa específica. Ao analisar 
as diversas práticas na relação terapeuta-paciente, especificamente, no que tange à terapia, 
Marilene Grandesso define-a (terapia), dentre outros atributos, também como uma prática 
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social onde o terapeuta deve trabalhar a serviço da diversidade e da legitimação de seu 
paciente, em sua alteridade (GRANDESSO, 2000, p. 286). Isto significa que a realidade 
individual de cada paciente, isto é, o conjunto resultante do ambiente em que vive, do 
processo sócio-histórico que o envolve e do momento e forma como ele manifesta aquela 
mensagem, enfim, todos os fatos que fazem emergir seu discurso devem ser levados em 
conta, objetivando trabalhar num clima contextualizado e, portanto, coeso. Faz-se, então, 
um paralelo entre Comunicação e Psicologia: a necessidade de se observar a 
intencionalidade das mensagens, seja esta intencionalidade consciente ou inconsciente em 
ambos os processos, isto é, na relação jornalista-leitor, e na relação terapeuta-paciente. 
Quanto à Comunicação, talvez a intencionalidade “consciente” de que se encontram 
imbuídas as mensagens, seja um aspecto mais difundido na relação jornalista-leitor do que 
a intencionalidade “inconsciente” que permeia essa mesma relação; mas, é importante 
chamar a atenção para o fato de que essas mensagens apresentam, por trás de seu 
conteúdo manifesto, neste caso, o discurso escrito, uma manifestação interna, psíquica, 
tanto por parte do “ser humano” jornalista, como por parte do “ser humano” leitor; essa 
manifestação tem por base as experiências de vida orgânica e psíquica de cada um, isto é, 
as diversas situações que os componentes dessa dupla vivenciam no decorrer de suas 
histórias de vida. Levando-se em conta o conceito de Freud sobre o material que compõe o 
conteúdo do sonho como pertencente à experiência de quem o sonha (FREUD, 1987, p. 
48), ousa-se fazer uma analogia com os sonhos para exemplificar esta situação: uma 
pessoa, ao narrar um sonho em que perde uma pessoa que lhe é querida, pode estar se 
referindo à real perda de alguém da família como, por exemplo, uma avó a quem muito 
amava. Outra pessoa, em cujo sonho há a perda de alguém do mesmo grau de parentesco, 
a avó, pode estar se referindo, inconscientemente, a uma situação de amadurecimento, em 
que se vê obrigado a tomar decisões por conta própria, como uma mudança de emprego, 
um caminho novo seguir, etc. Neste caso, a perda da avó é apenas simbólica e, 
possivelmente, representa algum momento de sua vida em que se sente desprotegido por 
ter que tomar, sozinho, uma grande decisão. Relativamente à Comunicação, o discurso 
contido em uma notícia também vem arraigado da forma de ser, pensar e sentir de cada 
profissional que a elabora, isto é, embora sejam observadas algumas diferenças nos 
aspectos lingüísticos de um jornalista para outro, ou mesmo deum jornal para outro, enfim, 
aspectos técnico-burocráticos redacionais, retoma-se a idéia de que o discurso apresentado 
numa determinada notícia, também pode se encontrar imbuído de conteúdos inconscientes 
de quem a redige e também de quem a lê. 
Parece mais natural que esses aspectos inconscientes sejam, comumente, observados e 
trabalhados na relação terapeuta-paciente; aí, então, requer-se cautela quanto à forma de 
lidar com tais conteúdos, implicando neutralidade por parte do primeiro e, acima de tudo, um 
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certo distanciamento para evitar envolvimento com a situação, o que poderia levá-lo a 
perder o foco do discurso da pessoa que está atendendo. É o que Benetton chama de 
eqüidistância, caracterizando-a como o espaço necessário que o terapeuta necessita para 
não perder este foco, afirmando, por conseguinte, que uma aproximação ansiosa poderia 
interferir na qualidade de sua visão sobre a situação e, por outro lado, um afastamento 
temeroso também seria prejudicial para a compreensão de seu paciente (BENETTON, 2002, 
p.75). Como se pode observar, a intencionalidade inconsciente, em se tratando da relação 
terapeuta-paciente, é bastante complexa e, desta forma, requer teoria, técnica e, acima de 
tudo, bom senso, devido à delicadeza da situação e aos problemas que podem decorrer de 
uma interpretação inocente, ou mesmo, precipitada. Embora o foco da relação jornalista-
leitor tenha objetivos bastante diferentes daqueles encontrados na relação terapeuta-
paciente, não havendo, portanto, preocupação em analisar ou trabalhar os aspectos 
inconscientes dessa relação da forma como faz a Psicologia, não se pode fechar os olhos 
para o fato; outrossim, negar a existência de fatores inconscientes no ambiente relacional da 
dupla jornalista-leitor, em que os dois pólos se constituem de um “ser humano” jornalista e 
de um “ser humano” leitor, seria, indubitavelmente, eximir esses dois componentes da 
subjetividade inerente à categoria humana. 
Além dessas situações mencionadas, outro aspecto da linguagem referente à 
intencionalidade merece destaque nos dois ambientes relacionais: o silêncio. Ora, se o 
silêncio é, geralmente, conceituado como o estado de quem se cala, ou também costuma 
significar a interrupção de qualquer ruído, presume-se que o silêncio seja a situação inversa 
da fala. No caso da Comunicação, o silêncio entendido desta forma, isto é, enquanto 
interrupção da fala, significaria a suspensão do discurso escrito ou mesmo a ausência de 
notícia; no caso da Psicologia, mais especificamente, na relação terapeuta-paciente, o 
silêncio seria a própria ausência da fala, quer do terapeuta, ou do paciente. Em ambas as 
situações, se o vocábulo silêncio fosse, lingüisticamente, entendido apenas quanto ao seu 
significado, tanto na Comunicação como na Psicologia, ele (silêncio) não poderia coexistir 
com a fala, salvo de forma intercalada, isto é, ora se faria a fala (ou notícia), ora se faria o 
silêncio (ausência ou suspensão da notícia). Porém, ao se entender o silêncio como uma 
manifestação psicossocial e, portanto, inerente ao ser humano, sua existência deixa de 
significar apenas a ausência de discurso escrito ou falado enquanto manifestação da 
linguagem, isto é, ele deixa de ser a simples interrupção de um ruído (fala ou notícia), mas 
se encontra repleto de intencionalidade, consciente ou mesmo inconsciente. A propósito, 
conforme expressa Orlandi, o silêncio deve ser visto como pleno de significado: 
... o real da significação é o silêncio ... o homem está ‘condenado’ a significar. Com ou sem 
palavras, diante do mundo, há uma injunção à interpretação: tudo tem que fazer sentido. 
(ORLANDI, 2002, pp.31-39) 
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Nesta mesma linha de pensamento, Mahony entende que a comunicação entre duas ou 
mais pessoas deve ser compreendida levando-se em conta também o seu oposto, isto é, a 
contracomunicação ou, como ele diz, a comunicação errada, em seus três níveis: 
intrapessoal, interpessoal e intercultural (MAHONY, 1990, p. 69) . Esses três níveis podem 
ser estudados do ponto de vista da subjetividade humana, isto é, o nível intrapessoal diz 
respeito aos mecanismos que impedem que o material inconsciente se torne consciente, o 
nível interpessoal leva em conta as resistências tão comuns que permeiam as mais diversas 
situações e, finalmente, o nível intercultural concerne às diversas informações transmitidas 
através da cultura. A existência de tais ocorrências leva a refletir sobre as questões da 
intencionalidade, em especial, relativa aos seus aspectos inconscientes, neste caso, o 
silêncio inconsciente. Da mesma forma que a veiculação de uma notícia pode refletir a 
intencionalidade do jornalista no sentido publicá-la, o seu silêncio, ou seja, a “não 
publicação” da notícia, a “não continuidade” de sua publicação, ou ainda, a “permanência da 
publicação” de uma notícia em detrimento de outra, também podem refletir outras intenções 
inconscientes que não costumam ser analisadas ou explicadas pela empresa jornalística. O 
leitor, por sua vez, poderá apenas “perceber” que alguma notícia não teve continuidade 
porque outras foram mais importantes ou também poderá fazer inferências sobre a “não 
publicação” ou a “permanência da publicação”, de acordo com o seu parecer (técnico ou 
leigo), ou mesmo a sua subjetividade; ainda, tendo em vista o momento existencial em que 
se encontra, poderá se identificar tão intensamente com esta ou aquela notícia, que atribuirá 
à mesma, um valor maior, mais intenso do que a repercussão que ela (notícia) causaria em 
outros leitores. O fato de não se ater a essas intempéries do discurso silencioso pode 
apenas significar um despretensioso desejo da redação editorial, isto é, a notícia é suspensa 
ou mantida devido à necessidade do contexto atual, social, histórico ou cultural, conforme 
acima pontuado. Por outro lado, esta atitude, que também é silenciosa, pois, em geral, o 
leitor desconhece os motivos que a originaram, também pode estar calcada nas entrelinhas 
inconscientes que mereceriam um estudo mais aprofundado. Retomando estas questões no 
âmbito da Psicologia, especificamente, na relação terapeuta-paciente, o silêncio pode, 
muitas vezes, expressar a aceitação ou a não aceitação de uma determinada situação; 
outrossim, pode respaldar alguns momentos de introspecção e elaboração do paciente, ou, 
ainda, pode ser indício de que o paciente, incomodado com um determinado assunto, 
busca, na interrupção da fala, outras alternativas de pensamento e, desta forma, consegue, 
aparentemente, se ver “livre” daquele momento que lhe parece constrangedor. 
Embora todos esses aspectos psicológicos permeiem o ato comunicativo, nem sempre são 
claramente percebidos ou trabalhados por seus protagonistas, isto é, a dupla jornalista-
leitor. Esta dicotomia ação-percepção, embora, a priori, possa ser vista como reflexo da 
rapidez com que ocorrem os processos da comunicação, também se subsidia nos fatores 
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inconscientes já apontados. É, justamente, aí que acontece a grande interface 
Comunicação-Psicologia, ou seja, a presença de aspectos inconscientes que interferem 
sobremaneira em suas diversas linguagens relacionais, chamando a atenção para o 
seguinte fato: enquanto a Comunicação faz uso de aspectos inconscientes sem, muitas 
vezes, perceber ou até mesmo acreditar que eles interferempositiva ou negativamente em 
seu dia a dia, a Psicologia parte do princípio de que esses fatores são, genericamente, a 
sustentação de diversos estudos sobre as relações humanas. A abordagem teórica que 
analisa esses conteúdos inconscientes das relações humanas é a Psicanálise que, dentre 
os infindáveis trabalhos publicados na área psicológica e afins, também pode oferecer 
embasamento teórico-prático à pesquisa de outras áreas. Conforme apontado por Kernberg 
(KERNBERG, 2006, p. 923), torna-se mister o elo Psicanálise-universidade, particularmente 
junto aos departamentos de Psiquiatria e Psicologia Clínica, onde existem interesses 
interdisciplinares, pois ela poderia facilitar o intercâmbio com a ciências humanas e sociais 
e, desta forma, estreitar os laços entre as diversas ciências. Atendo-se à constatação de 
Kernberg e aos grandes trabalhos desenvolvidos nessa abordagem teórica, infere-se que a 
Psicanálise poderia ampliar os estudos de mediação entre as ciências e desta forma 
desmistificar a aparente distância que existe entre as ciências humanas e sociais e, quem 
sabe, entre as outras, levando-se em conta que todas elas possuem homem como seu 
grande criador. 
Embora a Psicanálise seja mundialmente difundida, em especial, com referência ao 
embasamento teórico que originou diferentes linhas de trabalho psicoterápico, cabe, de 
maneira breve, discorrer sobre sua origem e aplicabilidade, visando desmistificar possíveis 
conceitos equivocados e, desta forma, levar o leitor a participar da linha de pensamento que 
delineia essas interfaces entre a Comunicação e a Psicologia. O termo Psicanálise foi usado 
pela primeira vez em 1896, por Sigmund Freud, e se apresenta de três formas diferentes, 
isto é, método de investigação do inconsciente, método psicoterápico e conjunto de teorias 
psicológicas e psicopatológicas de investigação e tratamento (LAPLANCHE; PONTALIS, 
1997, pp. 384-385). Talvez, por datar de longos anos com reconhecimento mundial, a 
Psicanálise permanece viva, sendo uma das teorias psicológicas mais difundidas e, 
portanto, conhecidas tanto na comunidade clínica e acadêmica, através de estudos 
científicos, e até no senso comum, haja vista a constante menção do nome de seu criador 
nos mais diversos ambientes. Resumidamente, sabe-se que dentre seus inúmeros estudos, 
Freud elaborou uma teoria sobre a formação do aparelho psíquico, apresentando-o dividido, 
para fins didáticos, em três regiões. a) consciente: área onde estão os conteúdos a que 
temos acesso; b) pré-consciente: área onde se encontram os conteúdos não presentes na 
consciência, mas que, frente ao nosso desejo, podem se tornar conscientes; c) inconsciente: 
área onde estão os conteúdos inacessíveis à consciência. Anos mais tarde, Freud 
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reelaborou esta teoria, compondo-a da seguinte forma: a) id: reservatório de energia 
psíquica, onde estão localizadas as pulsões de vida e de morte; b) ego: sistema que 
estabelece o equilíbrio entre as exigências do id e do superego; c) superego: representado 
pelas nossas exigências sociais e culturais (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p. 77). 
Para afastar situações que possam gerar angústia no homem, o aparelho psíquico, mais 
especificamente, a parte inconsciente do ego, cria diversas formas para se defender, ou 
seja, produz os chamados mecanismos de defesa. Dentre os diversos tipos de mecanismos, 
optou-se por apontar e conceituar apenas alguns que, talvez por serem os mais comumente 
utilizados pelo ser humano, também podem ilustrar algumas situações comentadas neste 
trabalho, seja na relação jornalista-leitor ou na relação terapeuta-paciente. Estes 
mecanismos de defesa são: a) repressão: é o fato de impedir que pensamentos dolorosos 
ou perigosos cheguem à nossa consciência; b) cisão: sentimentos ambíguos de amor e ódio 
em relação a uma mesma pessoa ou objeto; c) negação: impossibilidade de perceber 
situações que possam nos magoar ou que possam ser dolorosas; d) projeção: atribuição ao 
outro de sentimentos, pensamentos e ações que não admitimos em nós mesmos; c) 
racionalização: ato de encontrar justificativas para explicar sentimentos ou vivências afetivas 
que não nos são agradáveis; d) formação reativa: atitude ou hábito oposto ao nosso desejo 
recalcado; e) regressão: volta a níveis anteriores do desenvolvimento, através de 
comportamentos infantilizados (RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981, pp. 30-31). 
As vivências do ser humano são, constantemente, permeadas por esses mecanismos, 
porém, o seu uso exacerbado pode ser prejudicial, pois, no intuito de evitar sofrimento, o 
homem pode, inconscientemente, acostumar-se a distorcer a realidade. Desta forma, passa 
a enxergar apenas o que “quer” ou o que “consegue” ver, aumentando a dificuldade para 
entrar em contato com suas falhas; distancia-se, então, do próprio “eu”, podendo, 
eventualmente, perder a oportunidade de rever alguns de seus caminhos tortuosos na busca 
de algo melhor. Em se tratando de relações midiáticas, neste caso, jornalista-notícia-leitor, 
esta tendência humana de utilizar os mecanismos inconscientes acima apontados, sugere a 
existência de distorções inconscientes nessa relação, reforçando, desta forma, a 
necessidade de se investigar as questões da intencionalidade inconsciente. 
As idéias aqui descritas apenas pincelam algumas aproximações entre a Comunicação e a 
Psicologia, mais especificamente, no que tange aos aspectos inconscientes das duplas 
jornalista-leitor e terapeuta-paciente. Ora, se esses aspectos inconscientes são os pilares da 
Psicologia utilizados para conhecer o homem intrapsíquico e relacional, poderão, 
certamente, subsidiar outros estudos da Comunicação voltados à constituição das relações 
midiáticas. Indubitavelmente, buscando interseccionar as duas ciências, outras 
investigações merecem ser feitas com a utilização da teoria psicanalítica; ainda, levando-se 
em conta o espírito científico dos dois campos acadêmicos, Comunicação e Psicologia, 
UNESCOM - Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional 
São Bernardo do Campo - SP – Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 - Universidade Metodista de São Paulo 10 
sugere-se que ambos estejam atentos e disponíveis para uma investigação conjunta, 
ampliando e aprofundando as suas possibilidades interdisciplinares. 
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