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Enzimas: conceito, funções e aplicações Aurenívia Bonifácio UFT - Gurupi Enzimologia - o estudo das enzimas Breve Histórico "enzima" >> do Grego: "dentro", em; "zima", levedo) Louis Pasteur Sistemas vivos são dotados de uma força vital que lhes permite fugir das leis da natureza que regem a matéria inanimada. Justus von Liebig Os processos biológicos são provocados pela ação de substâncias químicas então denominadas de "fermentos". Eduard Buchner Mostrou que um extrato de levedura livre de células pode de fato executar a síntese de etanol a partir de glicose (fermentação alcoólica). James Sumner Cristalizou a Urease – enzima que catalisa a hidrólise da ureia em NH3 and CO2 – e determinou a constituição como sendo de proteína. Enzimas Características gerais - Catalisadores biológicos >> substâncias de origem biológica que aceleram reações químicas “Toda enzima é uma proteína, mas nem toda proteína é uma enzima” - Peso molecular variando de 12.000 a mais que 1 milhão; - Pode ou não possuir grupos adicionais: Cofatores = íons metálicos; Coenzimas = moléculas orgânicas. Enzimas Características gerais - Altas taxas de reação As enzimas podem acelerar as reações numa ordem de 106 a 1012 vezes - Condições de reação mais suaves As enzimas conduzem suas reações em temperaturas abaixo de 100 °C, pressão atmosférica e em pH próximo ao neutro - Grande especificidade de reação As enzimas possuem grande especificidade com relação aos substratos - Capacidade de regulação As enzimas possuem podem ser reguladas pelo controle alostérico, modificações covalentes e variação na quantidade de enzimas sintetizadas Especificidade enzima substrato - Complementaridade geométrica O substrato é complementar na forma com a enzima - Complementaridade eletrônica Os aminoácidos formam sítios de ligação que são arranjados para atrair o substrato - As enzimas são estereoespecíficas As enzimas são especificas na ligação com o substrato e nas suas reações Exemplos da ligação enzima-substrato Cofatores Algumas enzimas requerem cofatores Cu+2, Fe+3ou Zn+2 Forma oxidada da coenzima nicotinamida Cofatores Íons metálicos Coenzimas Co-substratos Grupos prostéticos Moléculas orgânicas Agregadas transientemente à enzima Permanentemen te associadas à enzima Enzima e suas partes Cofator Coenzima Sítio catalítico Holoenzima Apoenzima Complexo enzima ativa + cofator Enzima inativa (sem cofator) Classe Nome Tipo de reação catalisada Classe 1 Oxidoredutases Reações de oxido-redução Classe 2 Transferases Transferência de grupos funcionais Classe 3 Hidrolases Reações de hidrólise Classe 4 Liases Eliminação de grupos para formar duplas ligações Classe 5 Isomerases Isomerização Classe 6 Ligases Formação de ligações acoplado com hidrólise de ATP Enzimas Classificação - De acordo com a natureza química de suas reações; - “International Union of Biochemistry and Molecular Biology” (IUBMB) Enzimas Como as enzimas trabalham? Reduzem a quantidade de energia de ativação necessária para a atividade enzimática acontecer. As enzimas realizam, muitas vezes, as reações nos dois sentidos A concentração de substratos e produtos é o que define a velocidade das reações Poder catalítico das enzimas vem da energia livre liberada na formação de ligações fracas quando da interação enzima-substrato Interações fracas entre ES são otimizadas no estado de transição Equilíbrio químico Bastonase Pauling (1946): Enzima deve ser complementar ao Estado de transição (ET), não ao substrato ET não é forma estável Interações fracas entre a enzima e o substrato propulsionam a catálise enzimática Necessidade de múltiplas interações fracas explica pq algumas proteínas são tão grandes Estabiliza o substrato Enzimas Reações em um passo e em dois passos Reação em um passo Reagentes Produtos Reação em dois passos Reagentes Produto intermediário Produto final Especificidade enzimática • Deriva da formação de múltiplas interações fracas entre a enzima e a molécula do substrato específico • Redução da entropia pela ligação • Dessolvatação do substrato • Ajuste induzido – a proteína também muda de conformação Grupos catalíticos -Catálise geral ácido-base • Transferência de prótons -Catálise covalente • Formação de lig. covalente transitória entre E e S • -Ativação do substrato -Catálise por íons metálicos • -Estabilizam estados de transição • -1/3 das enzimas conhecidas usam íons metálicos nas reações catalíticas Enzimas muitas vezes usam as três estratégias de catálise em conjunto Ex.: Quimiotripsina Catálise ácido-básica Catalise ácida >> Processo onde a transferência de prótons de um ácido baixa a energia livre do estado de transição da reação Catálise básica >> Processo onde a abstração de prótons por uma base baixa a energia livre do estado de transição da reação Catálise ácido-básica Catalise ácida >> Processo onde a transferência de prótons de um ácido baixa a energia livre do estado de transição da reação Catálise básica >> Processo onde a abstração de prótons por uma base baixa a energia livre do estado de transição da reação Catálise covalente A reação é acelerada através da formação de transitória de uma ligação covalente catalisador (enzima)- substrato. A reação segue em três estágios: 1. A reação nucleofílica entre o catalisador e o substrato forma uma ligação covalente; 2. A retirada dos elétrons do centro de reação pelo catalisador eletrofílico; 3. A eliminação do catalisador. Reação de hidrólise Catálise com íons metálicos Metaloenzimas – possuem como cofatores íons metálicos (Fe+2, Fe+3, Cu+2, Mn+2 ou Co+2) Íons Na+, K+ ou Ca+2 >> estruturais Íons Mg+2 e Zn+2 >> estrutural/catalítico Catálise com íons metálicos Os íons metálicos participam do processo catalítico de três formas: 1. Pela ligação ao substrato para orientá-lo apropriadamente para a reação; 2. Pela mediação das reações de oxidação-reação através de mudanças reversíveis no estado de oxidação do íon metálico; 3. Pela estabilização eletrostática ou proteção das cargas negativas. Fatores que afetam a atividade enzimática Temperatura pH Fatores que afetam a atividade enzimática Concentração da enzima Concentração do substrato Cinética enzimática Breve Histórico Estuda a velocidade de reação e como ela se altera em resposta a modificações experimentais Postularam que as enzimas aumentam a velocidade da reação e não o equilíbrio da reação Equação de Michaelis-Menten Leonor Michaelis 1875-1949 Maud Menten 1879-1960 Cinética enzimática Experimentos de mutagênese sítio-dirigida permite que os pesquisadores investiguem o papel de cada aminoácido na função protéica A concentração do substrato [S] influi na velocidade das reações catalisadas por enzimas Velocidade máxima é abstraída para concentrações excessivas de Substrato Constante de Michaelis -kM = [S] correspondente a ½ Vmax; Constante de equilíbrio K’eq = [S] ―[P] Constante de equilíbrio está relacionada com energia livre padrão (ΔGꞌ○) ΔGꞌ○ = - RT lnK’eq R = 8,135 J/mol.K T = 298 K ΔGꞌ○ negativo A reação é favorável ΔGꞌ○ positivo A reação é desfavorável Cinética enzimática Estado basal Estado de transição Energia livre Energia de ativação Condições padrão 298K (25°C); 1 atm (101,3 Kpa); 1M de soluto Reação S P Energia de ativação Energia necessária parao alinhamento dos grupos que reagem, formação de cargas transitórias, rearranjos de ligação e outras transformações requeridas. A velocidade da reação é afetada pela energia de ativação ΔGꞌ○ Velocidade da reação A velocidade da reação (V) é determinada pela concentração do(s) reagente(s) e por uma constante de velocidade (k) Numa reação de primeira ordem: V = k[S] Depende apenas da concentração do substrato Reação de primeira ordem S P Numa reação de segunda ordem: V = k[S1][S2] Depende de dois compostos diferentes ou de duas moléculas do mesmo composto Reação de segunda ordem S1 + S2 P k >> unidade: s-1 k >> unidade: M-1s-1 Velocidade da reação A velocidade da reação (V) é determinada pela concentração do(s) reagente(s) e por uma constante de velocidade (k) Constante de Boltzann k = KT e -ΔGǂ /RT ― ɦ Constante de Planck ΔGǂ = - RT lnK’eq A relação entre constante de velocidade (k) e energia de ativação (ΔGǂ) é inversa e exponencial Para calcular a velocidade da reação... Deve-se assumir que: 1. O primeiro passo da reação atinge o equilíbrio com a formação do complexo ES (Complexo Michaelis); 2. Estado estacionário - momento onde a concentração do ES permanece constante com o tempo. Cinética do estado estacionário Cinética do estado estacionário Vmáx É atingida quando toda a enzima se encontra como complexo ES e [E] for pequena. A enzima está “saturada” de forma que aumentos na [S] não afetam a velocidade. Equação de Michaelis-Menten: Vo = Vmáx[S] Km + [S] [S] = substrato Vo = velocidade inicial da reação Km = constante de Michaelis Equação de Michaelis-Menten Vo = Vmáx[S] Km + [S] [S] Vo Vo = ½ Vmáx Vmáx = Vmáx[S] Km + [S] Vmáx 2 = [S] Km + [S] 1 2 = 2[S]Km + [S] Km = [S] Quando o Vo é igual a metade do Vmáx >> o Km é igual a [S] Km Enzimas com cinética de Michaelis-Menten exibem dependência hiperbólica de Vo em função da [S] Diagrama do duplo recíproco Inclinação da reta Vo Vo = Vmáx[S] Km + [S] Vo Vmáx[S] Km = 1 + [S] 1 Equação de Michaelis-Menten Equação de Lineweaver-Burk Permite a determinação mais acurada de Vmáx Mecanismos de reação enzimática Dois tipos: 1. Com formação do complexo ternário aleatória ordenada 2. Sem a formação do complexo ternário também chamada de ‘ping-pong’ Inibição enzimática Inibidores enzimáticos Agentes moleculares que interferem com a catálise, diminuindo ou parando a reação. Classes: -Reversíveis -Irreversíveis Inibição competitiva O inibidor compete com o substrato pelo sitio ativo da enzima. Impede a ligação do substrato. Pode ser revertida adicionando-se mais substrato Inibição incompetitiva O inibidor não se combina com o enzima livre nem interfere com a ligação entre enzima e substrato; porém, combina-se com o complexo enzima-substrato para formar um complexo ESI inativo Diminui a medida do Vmáx por um fator α Inibição mista O inibidor pode se ligar tanto em E quanto em ES no sitio ativo Inibição irreversível O inibidor forma ligações covalentes com ou destroem o grupo funcional de uma enzima que é essencial para a sua atividade; ou forma uma associação covalente particularmente estável. Inibidor suicida sofre a primeira de muitas etapas da reação e é então convertido em um produto químico que quando liberado se combina irreversivelmente à enzima. Exemplos de reações enzimáticas • Hexocinase • Enolase • Proteases do HIV A hexoquinase • Sofre um ajuste induzido quando ligada ao substrato • Fosforila um resíduo de glicose • Primeiro passo da via glicolítica A hexoquinase • Adição de Xilose “engana” a enzima e faz com que ela fosforile a água A enolase • Realiza desidratação reversível de 2-fosfoglicertato a fosfoenolpiruvato – Dímero com 436aa • Catálise geral ácido base + estabilização do estado de transição – Interações estabilizam intermediário (enolato) – Ligações de H com outros aa’s do sítio ativo contribuem para o mecanismo geral Os antivirais: o que é um vírus? • Anatomia molecular viral – Ácido nucléico envolto por uma capa protetora feita de proteínas (capsídeo) – Uma única molécula de ácido nucléico de fita simples ou dupla (fita positiva ou negativa) • Genomas compactos – Contêm apenas as proteínas necessárias à replicação viral – Genomas da ordem de Kb Parasitismo intra-celular • O vírus não tem metabolismo próprio – Não é um organismo de vida-livre – Parasita intra-celular obrigatório • Forma de cristal • Sequestra a maquinaria molecular da célula – Mecanismo moleculares de produção preferencial dos genes virais (fator sigma próprio e específico) Variedades virais • Vírus de DNA – Precisam chegar ao núcleo para serem primeiramente transcritos em RNA • Vírus de RNA – Podem atuar no citoplasma • Vírus de RNA com transcrição reversa – Acontece a transcrição reversa do RNA em DNA e o DNA é normalmente integrado ao genoma do hospedeiro HIV • SIDA: Síndrome da imunodeficiência humana – Pandemia – Matou 25 milhões de pessoas nos últimos 25 anos • Retrovírus (lentivirus) – 2 cópias de um RNA fita simples (fita +) – Nove genes – Capsídeo é formado por cerca de 2000 proteínas p24 • 0,6% da população humana está infectada HIV Micrografia eletrônica de varredura de HIV-1, em cor verde, saindo de um linfócito cultivado AZT (azidotimidina) • Mimetiza um nucleotídeo de timina – Azida no lugar de hidroxila • Prejudica a ação da transcriptase reversa • Atrasa o desenvolvimento dos vírus, ainda que, aos poucos o vírus se torne resistente Transcriptase reversa mutante passa a não reconhecer mais o AZT Outros tratamentos • Inibidores de protease – Impedem a protease do HIV de clivar as proteínas produzindo componentes maduros • Inibidores de integrase – Impedem o vírus de integrar seu DNA no genoma do hospedeiro • Inibidores de fusão – Interferem nas proteínas gp120 e gp41 ou bloqueiam receptores celulares de ligação ao HIV • Coquetel anti-AIDS – dificulta a adaptação do vírus a várias frentes moleculares de ataque, diminui comprovadamente o número de vírus no sangue Proteases do HIV • O RNA do vírus é traduzido em grandes proteínas Essas proteínas precisam ser hidrolisadas em proteínas individuais do capsídeo Proteases do HIV • A protease do HIV é uma aspartil-protease – 2 resíduos de Asp facilitam ataque da água à ligação peptídica Enzimas regulatórias • Possui atividade catalítica aumentada ou diminuída em resposta a certos sinais – Ajustes na velocidade da via metabólica permite que as células se adaptem a condições em variação • Tipos mais comuns – Enzimas alostéricas (ligações reversíveis a compostos) – Modificações covalentes – Ativadas por remoção de segmentos peptídicos (irreversível) • Subunidade regulatória é normalmente diferente da subunidade catalítica Enzimas alostéricas • Homotrópicas: o ativador é o próprio substrato (hemoglobina) • Heterotrópicas: outro ativador • Enzimas alostéricas – Mais de um sítio regulatório • Cada um específico para um regulador • Aspartato-transcarbamoilase – 12 cadeias polipeptídicas – Azul: catalíticas – Vermelho/Amarelo: regulatórias Enzimas alostéricas são reguladoras • ... de vias bioquímicas • Normalmente são o primeiro passo da via– “economiza” a execução das outras reações – Único passo de regulação da via • Inibição por retroalimentação: São inibidas pelo produto do último passo • Inibição alostérica heterotrópica Regulação por modificações covalentes • 500 tipos diferentes Modificações pós- traducionais covalentes já foram descritos • Proteínas inteiras podem ser adicionados como a ubiquitina e a sumo – Ubiquitinilação marca proteína para degradação – Sumoilação é encontrada em proteínas nucleares • Mudanças substanciais afetam de forma significativa a função da enzima • Fosforilação é a mudança mais comum – Podem haver vários sítios fosforiláveis Proteólise de precursores • Proteases não podem ser produzidas em estado ativo – Do contrário destruiriam as proteínas celulares... • Zimogênios são precursores das proteínases – Só funcionam depois da ativação por proteínas – Ativação irreversível • Mecanismo de produção de pró-proteínas ou pró- enzimas
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