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Apostila Laboratorio de Redacao

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1 
UniFIAMFAAM 
Centro Universitário das Faculdades Integradas Alcântara Machado 
 
 
 
 
 
 
 
 
LABORATÓRIO DE REDAÇÃO I 
Profa Ma Marlene Arvoredo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGOSTO/2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
A ética das palavras, 5 
 
PARTE I E PARTE II 
 
1. A COMUNICAÇÃO HUMANA: ELEMENTOS DA LINGUAGEM E IMPLÍCITOS, 8 
 
2. SÍGNO LINGUÍSTICO E O TRABALHO COM O SIGNIFICANTE, 12 
2.1 Exploração gráfica do significante 
2.1.1Aspectos visuais 
2.1.2Exploração do significante para criar outros significados 
 
3. SÍGNO LINGUÍSTICO E O TRABALHO COM O SIGNIFICANTE, 15 
3.1 Exploração sonora do significante 
3.1.1Aspectos sonoros 
 
4. DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO - TEXTO LITERÁRIO E TEXTO NÃO LITERÁRIO, 17 
4.1 Texto Literário 
4.2 Texto não literário 
4.3 O que se deve evitar em qualquer tipo de texto 
 
5. MODALIDADES E VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS, 24 
5.1 Modalidades Linguísticas 
 Traços distintivos entre a modalidade oral e a modalidade escrita 
5.2 Variações Linguísticas 
5.3 Variações Dialetais 
5.4 Variações de Registro 
 
6. FATORES DE TEXTUALIDADE E GÊNEROS TEXTUAIS, 30 
 
7. TIPOLOGIA TEXTUAL: O TEXTO DESCRITIVO / ACENTUAÇÃO, 43 e 68. 
7.1. A organização textual descritiva 
7.1.1 Descrição de tipos 
 
8. TIPOLOGIA TEXTUAL: O TEXTO DESCRITIVO / ORTOGRAFIA, 48 e 71. 
8.1. A organização textual descritiva 
8.1.2 Descrição objetiva 
 
9. TIPOLOGIA TEXTUAL: O TEXTO NARRATIVO / ELEMENTOS COESIVOS, 50 e 77. 
9.1. A organização textual narrativa 
 
10. LEITURA DE TEXTO(aferição): ABREU, Antonio Suárez. A arte de argumentar: 
58gerenciando razão e emoção. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008, 58 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
11. O TEXTO DISSERTATIVO / USO DOS PRONOMES, 58 e 80. 
A organização textual narrativa 
 
12 AVALIAÇÃO REGIMENTAL 
 
13. VISTA DE PROVAS / PROVA EM 2ª. CHAMADA 
 
14 . REAVALIAÇÃO 
 
METODOLOGIA 
I. Aulas teóricas e práticas 
II. Pesquisas 
III. Trabalhos individuais e em grupo 
IV. Leitura e discussão de textos selecionados 
AVALIAÇÃO 
I. Continuada (com valor de 3,0 pontos): atividades em aula, pesquisas e aferição de leitura 
do livro A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 
II. Regimental (com valor de 7,0 pontos): conteúdo programático 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
ABREU, A. S. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. São Paulo: Ateliê Editorial, 
2003. 
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed. Rio de 
Janeiro: Lexicon, 2009. 
KOCH, Ingedore. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002. 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
AZEVEDO, Francisco Ferreira dos Santos. Dicionário analógico da língua portuguesa: ideias 
afins/thesaurus. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010. 
CHALHUB, Samira. Funções da linguagem. São Paulo: Ática, 2006. 
DISCINI, Norma. A comunicação nos textos. São Paulo: Contexto, 2005. 
GOLDSTEIN, Norma; LOUZADA, Maria Sílvia; IVAMOTO, Regina. O texto sem mistérios. São 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
Paulo: Ática, 2009. 
OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto & BARROS, Edgard de Oliveira. Quem? Quando? Como? 
Onde? O quê? Por quê? São Paulo: Editora Plêiade, 2010. 
SQUARISI, Dad. A arte de escrever bem: um guia para jornalistas e profissionais do texto 
/Dad Squarisi, Arlete Salvador. 5. ed. – São Paulo: Contexto, 2007. 
 
Meu e-mail para contato: 
profmarlenearvoredo@uol.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
Introdução 
Cuidado com as palavras pronunciadas em discussões e brigas, que revelem 
sentimentos e pensamentos que na realidade você não sente e não pensa... Pois 
minutos depois, quando a raiva passar, você delas não se lembrará mais... Porém, 
aquele a quem tais palavras foram dirigidas, jamais as esquecerá..." 
Charlie Chaplin 
A ética das palavras 
Dad Squarish e Arlete Salvador 
 
A socialite Carmen Mayrink Veiga ficou pobre. Precisou arregaçar as mangas e partir para luta. Para provar 
que daria conta do recado, disse em entrevista que sempre trabalhara como uma negra. 
Tradução: trabalho pesado é coisa de negro. 
Fernando Henrique estava em campanha eleitoral. Num laivo de humildade, confessou que tinha um pé na 
senzala. Para os bons entendedores, ficou claro. O homem não era tão perfeito quanto parecia. Tinha nódoas de origem. 
"Tenho aquilo roxo", vociferou Fernando Collor de Melo. Delfim Netto se encarregou de pôr os pontos nos 
is. "Os brancos”, ironizou ele, "têm aquilo rosa. Se você tem roxo, branco não é". 
Conclusão: o não ser branco constitui defeito que as pessoas precisam esconder. 
As três histórias têm a cara do racismo brasileiro. É disfarçado. Frequenta com tanta naturalidade o dia-a-dia 
que raramente nos damos conta de que estamos reforçando preconceitos. 
Por causa do preconceito, temos dificuldade de dizer que alguém é negro. Parece ofensivo. Criativos, 
inventamos um montão de palavras para designar afrodescendentes. É o caso de mulato, moreno, escurinho, sarará, 
cabo verde, neguinho. 
E por aí vai. 
Muitas delas são eufemísticas. Constituem forma de adocicar o preconceito e torná-lo convenientemente 
invisível. "Desenvolvemos o preconceito de ter preconceito", disse Florestan Fernandes. A razão é simples. A 
legislação é para lá de rigorosa. Crime de racismo figura entre os inafiançáveis. Qualquer bobeira, o jornalista responde 
nos tribunais. 
Aconteceu com o colunista social Cláudio Cabral Ferreira, do jornal Tribuna do Ceará. Ele escreveu: 
"Feijoada é comida de músico baiano, negros e índios — sub-raças, evidente". O caso acabou no Tribunal de Justiça 
do estado. "Foi só uma brincadeira", defendeu-se ele. O juiz aceitou a desculpa. Absolveu o acusado por entender que 
tudo não passara de galhofa. O promotor recorreu. O gozador pode pegar seis anos de xilindró. 
Ser racista explícito tornou-se, além de arriscado, politicamente incorreto. Pega mal. A sociedade patrulha, o 
movimento negro está atento. Mas a discriminação continua presente. 
As palavras, como frisou Camilo José Cela, são mais duradouras que as pedras. Não são, porém, criação da 
imprensa. A mídia apenas as reproduz. 
Expressões impregnadas de preconceitos usadas aqui e ali recorrem ao adjetivo negro. Todas têm conotação 
negativa. Valem os exemplos de câmbio negro, mercado negro, buraco negro, dia negro, lista negra, humor negro, 
magia negra, peste negra, ovelha negra, nuvens negras. 
Cortar negro do dicionário? Claro que não. A palavra é muito bem-vinda para designar africanos ou 
afrodescendentes. Zezé Mota é negra. Não é escurinha, crioula, negrinha, morena, negrona, de cor. Afora isso, xô! 
Quer indicar cor? Use preto. 
O politicamente correto não se restringe a questões raciais. Não é politicamente correto pôr em risco o meio 
ambiente. Não é politicamente correto contar piadinhas sobre mulher. Não é politicamente correto usar termos que, de 
uma forma ou de outra, reforçam preconceitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
Homossexual é homossexual ou gay. Bissexual é bissexual. Travesti é travesti. Lésbica é lésbica. Nada de 
bicha, veado, fresco, boneca, traveco, gilete, sapatão, sapato 45. Cego é cego. Surdo é surdo. Mudo é mudo. Às vezes, 
portador de necessidades especiais. Nunca aleijado, aleijão, defeituoso, deformado, retardado, mongoloide, débil 
mental. 
Pobre é pobre ou pessoa de baixa renda, se possível, dizer a renda. Sem essa de pé-rapado, salário mínimo,roto, pobretão. Idoso é idoso (melhor informar a idade da pessoa). Deixe de fora vovô, velho, decrépito, senil, gagá, 
velhote, titio, mais pra lá do que pra cá, esclerosado, pé na cova, hora extra no mundo. Nordestino é nordestino. 
Paraibano é paraibano. Piauiense é piauiense. Esqueça nortista, paraíba, piauizeiro, retirante, cabeça-chata, pau-de-
arara, baiano cansado. 
Pessoa baixa é baixa (dizer a altura). Nanica, pigmeu, pintor de rodapé, gabiru, anão de jardim, salva-vidas 
de aquário? Tranque as gozações no cofre e jogue a chave fora. Maltratar é maltratar. Desacreditar é desacreditar. Nada 
de judiar, que lembra judeu. Ou denegrir, que remete a negro. 
É isso. Policie a linguagem. E não peque pela omissão. Fale mais, cobre mais. Faça barulho quando 
autoridades, que servem de modelo, recorrerem, mesmo inconscientemente, a expressões preconceituosas. É jeito de 
dar visibilidade ao preconceito envergonhado. 
A luta é difícil porque se trava contra fantasmas. Vale, aí, a receita de Leonel Brizola: para lutar contra o 
diabo, é preciso recorrer a todos os demônios. Afinal, o diabo nunca tira férias. Se necessário, faz hora extra. Quando 
não pode comparecer, manda a sogra. Resistir a ele? Só há uma receita. É a eterna vigilância. 
 
 
A expressão “politicamente correto” está associada a discursos baseados no pressuposto de que a 
modificação da linguagem, pela substituição de expressões qualificadoras negativas por outras 
“neutras”, por si só, elimina preconceitos e suaviza o que se pretende dizer. 
 
Eufemismo -tenta atenuar uma verdade desagradável. 
 
Racismo 
Folha de São Paulo - cotidiano 
São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2001 
 
STJ confirma decisão de tribunal do Ceará de que Cláudio Silveira Cabral Ferreira não teve a "intenção deliberada" de 
ofender 
Jornalista que chamou negro de sub-raça é inocentado 
XICO SÁ DA REPORTAGEM LOCAL 
No momento em que se discute a abertura de cotas compensatórias nas universidades, para reduzir os efeitos do 
racismo, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou julgamento do Tribunal de Justiça (TJ) do Ceará e inocentou 
o jornalista Cláudio Silveira Cabral Ferreira, autor de um texto em que definiu índios e negros como sub-raças do país. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
"Feijoada é comida de músico baiano, negros e índios -sub-raças evidentemente", dizia artigo publicado por Ferreira 
no dia 11 de abril de 1997, no jornal "Tribuna do Ceará", de Fortaleza. 
Incomodado com a presença de músicos de Salvador, em temporada de shows na capital cearense, o autor do texto 
escreveu ainda: "Já disse e repito: feijoada não é comida para gente civilizada. É resposta para estes malcheirosos 
músicos baianos que andam por estas terras. Estes, donos de estômago de aço, comem qualquer porcaria e não sentem 
sequer mal-estar estomacal". 
O artigo de Ferreira incomodou grupos e entidades de militantes contra o racismo do Nordeste. O Ministério Público 
cearense propôs uma ação penal contra o jornalista, acusando-o de cometer crime de racismo. O TJ, no entanto, decidiu 
inocentar o autor das palavras, sob a alegação de que não tinha havido intenção deliberada em ofender ninguém. 
O juiz Francisco Pedrosa Teixeira, da 19ª Vara Criminal, de Fortaleza, disse que o texto era de "tremendo mau gosto". 
Não viu, no entanto, preconceito no episódio. 
Na avaliação do juiz, a intolerância só ficaria demonstrada, o que caracterizaria o preconceito e a discriminação racial, 
caso o "descurado (sem cuidados) escriba" -como o jornalista é tratado na sentença- não aceitasse a convivência com 
outra raça. 
Inconformados com a decisão jurídica, os promotores que haviam denunciado o jornalista recorreram ao STJ. Coube 
à sexta turma deste tribunal superior, composta por cinco ministros, examinar o recurso. 
No final da sessão, há uma semana, o grupo decidiu não acatar o pedido do Ministério Público do Ceará, que pretendia 
reabrir o processo, na tentativa de condenar o acusado. 
Segundo o relator do caso no STJ, ministro Fernando Gonçalves, para verificar se ocorreu ou não essa conduta 
criminosa seria necessário o reexame das provas, o que não seria mais tecnicamente possível, segundo o regulamento 
do tribunal. Isso porque, diz o relator, ao absolver o jornalista, o TJ julgou não haver comprovação de dolo -vontade 
livre e consciente de praticar o crime. 
Os promotores tentaram enquadrar o colunista da "Tribuna do Ceará" no artigo 20 da Lei 7.716, de 89, e na Lei 8.01, 
de 90, que tratam de crime de racismo. 
De acordo com a legislação, praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social ou por publicação de 
qualquer natureza, a discriminação ou o preconceito de raça, cor, etnia ou procedência nacional pode resultar em uma 
pena de dois a cinco anos de reclusão e multa. 
Para tentar se retratar, Ferreira disse, no mesmo jornal, depois da polêmica, que o texto era uma "brincadeira". Disse 
que jamais teve a intenção de demonstrar algum pensamento preconceituoso em relação a pessoas da raça negra ou 
indígena, bem como em relação aos músicos baianos. 
 
VEJA - Celebridades 
24 de Novembro de 2012 
Televisão 
Boris Casoy é condenado por ofender gari em telejornal 
Apresentador e Rede Bandeirantes terão que pagar 21.000 reais de indenização. Justiça entendeu que houve 
corresponsabilidade pelos comentários 
Por Jean-Philip Struck 
 
O apresentador Boris Casoy e a TV Bandeirantes foram condenados a pagar indenização de 21.000 reais por danos 
morais a um dos garis que participou de uma vinheta de ano novo veiculada em um dos telejornais do canal, no dia 31 
de dezembro de 2009. 
Na ocasião, após as imagens terem ido ao ar, Casoy, sem saber que o áudio estava sendo transmitido, comentou com 
colegas de estúdio: "Que 'm...': dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo da escala 
do trabalho" (veja vídeo no link). 
 
http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/boris-casoy-e-condenado-por-ofender-gari-em-telejornal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
À época, o comentário de Casoy provocou bastante repercussão. O jornalista pediu desculpas no dia seguinte ao 
episódio. Mas o pedido não foi aceito por vários profissionais, entre eles Francisco Gabriel de Lima, um dos dois garis 
que apareceram nas imagens. Logo após o episódio, ele resolveu processar o apresentador e a emissora. 
A decisão de conceder a indenização ao gari partiu da 8ª Câmara de Direito Privado de São Paulo, e foi publicada na 
quinta-feira. De acordo o desembargador Salles Rossi, relator do caso, o comentário do apresentador causou "evidente 
dano ao autor" da ação. 
Ainda de acordo com os autos do processo, a Rede Bandeirantes chegou a alegar que não era responsável pelos 
comentários ditos por um de seus apresentadores, mas a Justiça entendeu que havia corresponsabilidade. 
"Houve descuido de sua parte [de Boris]. E, ainda que tenha dito tais falas 'em tom de brincadeira’ (...), o fato danoso 
ocorreu e seguramente poderia ter sido evitado", escreveu Salles Rossi. 
A reportagem de VEJA tentou entrar em contato com a Rede Bandeirantes, mas ninguém foi encontrado para comentar 
a decisão. O apresentador e a rede ainda podem recorrer da decisão no Superior Tribunal de Justiça (STJ). 
Além de Francisco Lima, dezenas de garis e até a federação de sindicatos que representam a categoria ingressaram 
com ações contra Casoy, em diferentes estados do país, como a Paraíba e o Rio de Janeiro. Só na Justiça da Paraíba 
tramitam 20 processos contra o jornalista. Um deles foi julgado em abril, com decisão favorável a Casoy. 
 
PARTE I 
 
1. A COMUNICAÇÃO HUMANA 
 O homem utiliza a linguagem para comunicar-se. Ela, além de propiciar o progresso(já que o ser humano, 
através da linguagem, pode codificar e armazenar suas experiências e descobertas para transmiti-las a outras gerações), 
é um fator de interação e coesão social. 
 A linguagem pode ser verbal (o código linguístico) e não verbal (todos os outros códigos: icônico, gestual, 
cromático, etc.). As características inerentes à linguagem verbal são: 
 o dialogismo: a linguagem sempre remete a algo já dito e dirige-se a alguém, ela só é viva porque é orientada para 
o outro com o qual entra em interação; 
 argumentatividade: através da linguagem, o enunciador (emissor) imprime, por meio de palavras, uma direção 
argumentativa a seu texto, indicando como o enunciatário (receptor) deve/pode entendê-lo. 
 A comunicação é um processo que exige determinados fatores, elementos mínimos para poder realizar-se. No 
quadro a seguir, você verá o esquema clássico da comunicação proposto pelo linguista Roman Jakobson: 
 
 
 
Em um CONTEXTO, 
o EMISSOR (codificador) elabora uma MENSAGEM, 
através de um CÓDIGO, 
veiculada por um CANAL 
para um RECEPTOR (decodificador). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
A importância do Contexto 
 
 Em todo esse processo de comunicação, o contexto é de fundamental importância, pois, dependendo dele, um 
mesmo enunciado pode adquirir significados diferentes. Observe a oração: 
A porta está aberta nas seguintes situações: 
 diz a moça num dia de calor: A porta está aberta e, por ela, entra uma brisa fresca. O conteúdo da mensagem 
indica, simplesmente, que a porta está aberta; 
 o barulho do corredor é muito intenso e o professor, incomodado com a situação, queixa-se a um aluno que está 
perto da porta: A porta está aberta. Sua intenção não é constatar que a porta está aberta, mas pedir ao aluno que a 
feche; 
 um aluno está brigando com o professor e diz-lhe que não suporta mais sua aula. O professor responde: A porta 
está aberta, ou seja, Pode sair; 
 um empregado de uma empresa recebe uma proposta para trabalhar num outro lugar, com um salário melhor e 
possibilidade de ascensão na carreira. Seu empregador lhe diz que está feliz com essa perspectiva; mas, se algo 
não correr bem no próximo emprego, A porta está aberta, ou seja, ele poderá voltar. 
 É por isso que se diz que, na comunicação, é preciso sempre levar em consideração o contexto e reconhecer 
a intenção de quem produz a mensagem. Assim, nas frases acima, o leitor deve perceber a força elocutória (a intenção), 
para que a interação se estabeleça. 
 A linguagem também trabalha (e muito) com implícitos, espécie de passageiros clandestinos, que agem sub-
repticiamente, daí a necessidade de saber ler as lacunas. Os implícitos podem ser de duas naturezas: 
 
 pressupostos: mensagens cuja inferência é automática. Em Paulo deixou de fumar, a inferência é 
que ele fumava antes, pois o verbo parar autoriza essa leitura. Ou Jean nasceu na França, mas é bem-
humorado. O mas pressupõe que quem nasce na França é mal-humorado. 
 subentendidos: mensagem que “transfere” ao emissor a responsabilidade de atribuir determinado 
sentido ao texto. É o caso da ironia, em que é difícil provar que o emissor quis dizer tal coisa, isto é, muitas 
vezes não se pode provar, com apoio no texto, a intenção do emissor. Por exemplo, no ano de 2004, uma escola 
de idiomas em sua publicidade veiculou esta frase em cartazes: 
Duas línguas dão mais prazer do que uma 
A primeira leitura marota é erótica, mas o publicitário pode dizer que não foi isso que quis dizer, mas somente que, 
sabendo duas línguas, você pode ter acesso a duas culturas e ter muito mais prazer no aprendizado. 
 
Exercícios de Aplicação1 
1) Tire a conclusão possível: 
a) Na cidade, todos os prédios com mais de três andares ficam na praça da matriz. O Zé Carlos disse que mora 
no 6º andar. Logo, o Zé Carlos... 
b) As marcas dos pneus ficaram a um metro e noventa de distância. Nenhum carro tem uma bitola tão larga. 
Portanto, as marcas de pneus... 
c) Para ser diplomata, era preciso ter o curso do Itamaraty, ou ter se notabilizado por uma obra artística 
considerada de grande expressão. Não me consta que o poeta Vinicius de Moraes tivesse feito o curso do 
Itamaraty. Logo,... 
 
1
Exercícios extraídos de ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica. São Paulo: Contexto, 2001. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
d) Nenhum bolo de aniversário comprado em confeitaria custa hoje menos de 30 reais. Se o João gastou menos 
de 30 reais com o bolo de aniversário do irmãozinho, então... 
e) Na véspera do concerto, o banco mandou convite para cada um dos clientes com mais de cinco mil reais na 
carteira de investimento. Se o Zé Carlos não foi convidado, é que... 
 
2) Em época próxima ao Dia dos Namorados de 1999, a montadora Renault estava promovendo o carro modelo 
Scénic por meio de uma propaganda em que aparecia a frase: 
 “No Dia dos Namorados, a Renault lembra: os bancos do Scénic podem ficar em 97 posições diferentes”. 
Explique-a. 
 
3) Levando em consideração o que é um pressuposto, explique por que estas propagandas são potencialmente 
nocivas a quem as utiliza. 
Não se deixe explorar pela concorrência! 
Compre na nossa loja. 
 
Não caia na armadilha da concorrência! 
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4) Como você interpretaria esta sequência de perguntas (de um juiz) e respostas (de uma acusada) registrada 
durante uma audiência no tribunal? 
 
Pergunta: A senhora passou alguma vez a noite com este homem em Nova York? 
Resposta: Eu me recuso a responder a essa pergunta! 
Pergunta: A senhora passou alguma vez a noite com este homem em Chicago? 
Resposta: Eu me recuso a responder a essa pergunta! 
Pergunta: A senhora passou alguma vez a noite com este homem em Miami? 
Resposta: Não! 
5) Suponha uma notícia esportiva como esta: 
 
 “O jogo de ontem à noite no Pacaembu foi um espetáculo memorável. No gramado, os atletas do São 
Paulo e do Corinthians deram uma exibição de arte. Nas arquibancadas, mesmo a torcida do Corinthians 
se comportou civilizadamente.” 
 
Ao ler a notícia, um torcedor corintiano protestou contra o jornal. 
a) O torcedor tinha motivo para fazer o protesto? Por quê? 
b) Qual é a palavra da notícia mais reveladora da opinião do redator? 
c) Que pressuposto essa palavra estabelece dentro do contexto da notícia? 
 
6) Está circulando na internet uma mensagem que diz o seguinte: 
“Atenção! Os extraterrestres estão chegando para sequestrar todas as pessoas bonitas. Você está 
seguro, só estou escrevendo para me despedir.” 
 
Quais as duas informações que se podem pressupor dessa mensagem? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
7) Observe estas duas frases: 
– Em Cuba, até as universitárias são prostitutas. 
– Em Cuba, até as prostitutas são universitárias. 
a) A primeira frase pressupõe uma crítica ao regime cubano. Qual? 
b) E a segunda? 
Dicas para uma comunicação mais eficaz 
 Ao elaborar seus textos, lembre-se de que sua comunicação será muito mais eficaz se você observar as 
seguintes condições: 
conheça com razoável profundidade aquilo sobre o que vai falar (leia, pesquise, discuta...); 
conheça seu receptor, para adequar a ele sua linguagem. Trata-se de saber a posição do outro, usar 
a linguagem e o nível adequados à hierarquia; 
conheça e domine as possibilidades e as regras do código por meio do qual você vai expressar-se; 
escolha o canal mais eficiente para enviar sua mensagem. 
 
 Lembre-se, no entanto, de que ruídos2 na comunicação podem tornar a mensagem ineficaz. Para 
combatê-los existe a redundância, também conhecida como saber partilhado naRetórica. Trata-se do 
fenômeno que não traz informação nova à mensagem, mas garante sua eficácia. Os meios de comunicação de 
massa, por exemplo, primam pela redundância, pois, para atingir um público amplo e heterogêneo e conquistar 
o máximo de audiência, evitam soluções originais preferindo trabalhar com elementos previsíveis, que fazem 
parte do repertório desse público. 
 No entanto, quando a redundância é exagerada, ao invés de garantir a eficácia da mensagem, torna o 
texto prolixo3, repetitivo, sem coesão. 
 
 
ATIVIDADE 1 – Entregar 
Baseando-se no roteiro a seguir redija, em folha avulsa, um texto de 20 linhas sobre você. 
1) As pessoas geralmente acham que eu ... 
2) Os meus pais esperam que eu ... 
3) Quando eu era pequeno... 
4) Eu morro de medo de ... 
5) Eu odeio... 
6) Eu adoro... 
7) É uma pena que eu não saiba ... 
8) Daqui a uns 20 anos... 
9) A melhor coisa sobre mim é ... 
10) Eu nunca ... 
 
2 Ruído é todo fenômeno que ocasiona perda da informação entre a fonte e o destinatário, ou seja, qualquer perturbação 
que afete a comunicação e pode ser proveniente do canal (letras miúdas demais numa revista), emissor ou receptor 
(distração, semialfabetização, pré-julgamentos), mensagem (ambiguidade, incoerência, obscuridade), código 
(inadaptação aos seus fins). 
3 Prolixo: superabundante, excessivo, demasiado. Antônimo = conciso: sucinto, resumido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
11) Se eu pudesse morar em outro lugar ... 
12) A pior coisa sobre mim ... 
 
2. O SÍGNO LINGUÍSTICO –TRABALHO COM O SIGNIFICANTE 
 
O signo, aquilo que representa algo para alguém, compõe-se de um elemento material, perceptível – o significante – e 
um elemento conceitual, não perceptível, conceitual – o significado. Entre significante e significado se estabelece uma 
relação arbitrária proveniente de um acordo implícito ou explícito entre os usuários de uma mesma língua, assim essa 
relação é convencional e aprendida. 
 
2.1 Exploração gráfica do significante 
 
 
 
"Seriam os anagramas como esses rostos que se leem nas manchas de tinta? (...) Por que não existiria uma iteração, 
uma palilalia geradoras que projetariam e redobrariam, no discurso, os materiais de uma primeira palavra, ao 
mesmo tempo não pronunciada e não calada?" 
 As palavras sob as palavras 
Jean Starobinski 
 
Você sabe qual a diferença entre "iterativo" e "interativo"? 
• Iterativo: que serve para iterar; repetido 
• Iteração: repetição 
• Iterar: tornar a fazer; repetir 
• Interativo: que interage; que permite comunicação em dois sentidos 
• Interagir: agir mutuamente (uma entidade agindo sobre outra e vice-versa) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
Epitáfio para um banqueiro 
 
n e g ó c i o 
e g o 
ó c i o 
c i o 
0 (José Paulo Paes) 
 
A XÍCARA 
 
(SEXUGI, Fábio A. Xícara. http://pluralinguagem.autonomia.g12.br/?p=100) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
2.2 Exploração do significante para criar outros significados 
Muitas vezes, para criar um efeito-surpresa, alguns autores conseguem gerar significações novas por meio da 
montagem/invenção de palavras, a partir de duas ou três já existentes; ou da desmontagem de palavras já existentes, 
criando outro significado. Veja: 
 
Montagem Desmontagem 
abusufruto (abuso+uso+usufruto) amor tece dor (amortecedor) 
propriotário (proprietário+otário) ali é nação (alienação) 
festivaia (festival+vaia) carrega a dor (carregador) 
tranquilometragem (tranquilidade+quilometragem) feliz ardo (felizardo) 
 
Observe como estes autores forçam a desautomatização de sua percepção (porque se utilizam dos procedimentos 
acima descritos) para que você consiga realizar a intelecção destes textos: 
 
 
REALIDADE 
 É 
 A 
 IDA 
REAL 
 DA 
 IDADE 
sem volta 
 (Fábio L. Silva — FiamFaam) 
Outras Palavras 
 
(...)Parafinsgatinsalphaluzsexonheilaguerrapaz 
Ouraxépalávorasdrizokêcrisexpacial 
projeitinhoimansociumortevidavidavid 
lambetelhofrúturoorgasmaravalha-meLogun 
homeninanelparaís de felicidadania: 
outras palavras. 
 (Caetano Veloso) 
 http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/caetano-veloso/outras-palavras/2470666 
 
ETERNAMENTE (fragmento) 
 eternamente 
 é ter na mente 
 ternamente 
 eternamente 
 éter na mente (Walter Franco) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
De palavra em palavra 
 SOM 
 MAR 
 AMARELANIL 
 MARÉ 
 ANILINA 
 AMARANILANILINALINARAMA 
 SOM 
 MAR 
 SILÊNCIO 
 NÃO 
 SOM 
 (Caetano Veloso) 
https://www.youtube.com/watch?v=jz4QD23DVpA 
 
Agora tente criar um texto em que o significado esteja em busca de novos significantes. 
 
3. O SÍGNO LINGUÍSTICO – TRABALHO COM O SIGNIFICANTE 
3.1 Exploração sonora do significante 
 
Ouça: 
 “Ondulou de mansinho alguns passos denunciados apenas na branda alavanca das ancas.” (Otto Lara 
Rezende) 
 “Amor morto motor da saudade” (Caetano Veloso) 
 “Acho que a chuva ajuda a gente a se ver...” (Caetano Veloso) 
 “Toda gente homenageia Januária na janela, 
 Até o mar faz maré cheia pra chegar mais perto dela.” (Chico Buarque) 
 Pompom com Protex protege o nenê 
 Sinta a suave sensação de Nívea Loção 
 
 
ATIVIDADE 2 – Entregar 
 
PALAVRAS E IDEIAS 
O trabalho com as palavras requer sensibilidade. 
1. Concentre-se, separadamente, em cada uma das palavras seguintes e escreva outras palavras que, para você, 
tenham alguma relação com elas. 
a) Asfalto 
b) Pátria 
 
2. Relacione com cada uma das palavras seguintes outras que tenham sonoridade semelhante. 
a) Assim 
b) Sussurro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
3. Invente 2 palavras através de duas ou três palavras existentes. 
 
4.Desmonte duas palavras já existentes criando outros significados. 
 
5. Crie metáforas visuais desenhando palavras. 
 
6. Construa imagens com o uso de palavras que tenham alguma relação com o desenho. 
 
Exercícios de aplicação 
 
1. Crie imagens concretas para os seguintes substantivos abstratos. Não utilize verbos. 
Felicidade: 
Dificuldade: 
Dúvida: 
Apreensão: 
Medo: 
Coragem: 
Amor: 
Paz: 
OBSERVAÇÃO: 
 
SUBSTANTIVO CONCRETO: quando um substantivo se refere a algo que se pode tocar ou imaginar, ou seja, 
conferir-lhe uma imagem comum a todos. Palavras que designam seres inexistentes (fictícios),mas que possuem um 
conceito conhecido por todos, também são consideradas substantivos concretos. 
Faculdade 
Dinheiro 
Carro 
Livro 
Papai Noel 
Duende 
Bruxa 
Fada 
Coelhinho da Páscoa 
 
SUBSTANTIVO ABSTRATO: quando se refere a algo imaginário, sentimental, que não pode ser tocado nem se pode 
formar uma imagem representativa. Designa seres que dependem de outros para se manifestar ou existir. 
Eles designam estados, qualidades, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser abstraídos, e sem os quais não 
podem existir. 
 
vida (estado) 
rapidez (qualidade) 
viagem (ação) 
saudade (sentimento). 
tristeza 
alegria 
vontade 
amor 
pênalti 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
2 .O que os textos a seguir têm em comum? 
 
RIO-NITERÓI 
 Apito, guichê, aperto, cotovelo, 
 gente, fila, salto e perigo.Rostos em tensão. Suor no corrimão. 
 Escada pro saguão. Banco, 
 cheiro de óleo, urina e peixe. 
 Fuligem nos olhos e fumaça. 
 Olho no catarro e no estômago... 
 Enjoo! 
 Verde profundo em gaivota rasa. 
 Espuma e poeira. 
 Balanço e boia e boto. 
 Motor e conversa e rádio de pilha. 
 Pequena paz em alerta ao apito, ao povo, à pressa. 
 Saída longe dos passos. 
 Tinta, corrosão, tonta multidão 
 em confusão, tábua solta no assoalho. 
 Barca barriguda, aborto social. 
 Cordas, amarras, âncoras, armazéns. 
 Marinha, porto e chegada. 
 (Theóphilo Augusto de Barros Neto — Fiam/84) 
 
VIDA VIDINHA 
 
A solteirona e seu pé de begônia 
a solteirona e seu gato cinzento 
a solteirona e seu bolo de amêndoas 
a solteirona e sua renda de bilro 
a solteirona e seu jornal de modas 
a solteirona e seu livro de missa 
a solteirona e seu armário fechado 
a solteirona e sua janela 
 
a solteirona e seu olhar vazio 
a solteirona e seus bandós grisalhos 
a solteirona e seu bandolim 
a solteirona e seu noivo-retrato 
a solteirona e seu tempo infinito 
a solteirona e seu travesseiro 
 ardente, molhado 
 de soluços. 
(Carlos Drummond de Andrade
3.Após a leitura, volte ao seu material anterior 1 e organize-o num texto poético em que não haja 
verbos. 
 
4. DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO - TEXTO LITERÁRIO E TEXTO NÃO LITERÁRIO 
 
A PALAVRA NO CONTEXTO 
Uma palavra não possui um só significado: tem uma gama rica de significações que unicamente o contexto pode 
determinar. Assim, sem antes ler o texto, não podemos traduzir com segurança, o significado de uma palavra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
DENOTAÇÃO e CONOTAÇÃO 
Sentido referencial e Sentido afetivo. 
 
Estas noções dizem respeito ao sentido das palavras dentro da língua. Por mais variados que sejam, os sentidos das 
palavras situam-se em dois níveis ou planos: o da denotação e o da conotação. 
Denotação é o sentido comum, habitual e preciso de uma palavra, aquele que consta nos dicionários. 
Conotação é o sentido figurado que uma palavra pode assumir no contexto em que é empregada. 
 
Denotação - do latim "denotatione", é a simples designação do objeto ao qual remete o significante. O sentido 
denotado de um termo é, em linhas gerais, aquele dado nos dicionários, sentido real da palavra 
 
Conotação-do latim vulgar "connotare", sentido translato, ou subjacente, às vezes 
de teor subjetivo, que uma palavra ou expressão pode apresentar paralelamente à acepção em que é empregada, ou seja, 
designa tudo que um termo possa evocar, sugerir, clara ou vagamente, variando de pessoa para pessoa, de época para época, 
etc. Sentido figurado da palavra. 
Exemplos: 
Denotativo 
O portão de sua casa é de ferro. 
João quebrou a cara. 
Já arrumei toda a bagagem para viajar. 
 
Conotativo 
Essa moça tem uma vontade de ferro. 
João quebrou a cara. 
Aquele professor demonstra possuir vasta bagagem. 
 
Exercícios de aplicação 
 
1. Discuta o emprego da palavra galhos no texto I e II. 
 
Texto I 
 
[...] as duas mãos esverdeavam com o limo das mangueiras, e calejavam na palma, mais a esquerda que a direita: 
com uma a gente se agarrava nos galhos, com a outra pegava as mangas e descascava no dente, balançando no vento. 
(Domingos Pellegrini, “Minha estação de mar”). 
 
 
Texto II 
 
Adolescência, Obsolescência 
 
Nos criam tão, simplesmente! 
Mal crescemos podam os galhos 
Puxam a raiz e, se bobear, 
Nos plantam novamente. 
(Ulisses Tavares, “Caindo na real.”) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
2. Em dois dos textos seguintes foi empregada linguagem conotativa. Identifique-os. 
a) “Virou a capanga de cabeça para baixo, e os peixes espalharam-se pela pia. Ele ficou olhando, e foi então que 
notou que a traíra ainda estava viva.” (Luiz Vilela) 
b) “O amor é um grande laço/ um passo pra uma armadilha.” (Djavan) 
c) A UNICEF, em parceria com a TV do Canadá, prepara série dedicada ao público infantil. Geração 2000 focaliza 
os sonhos da garotada para o novo século. ”(O Estado de São Paulo) 
d) “Ä cavalo dado não se olham os dentes.” 
 
3. Dê o sentido denotativo e o sentido conotativo do seguinte provérbio: 
 
“Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.” 
 
4.Comente os dois anúncios seguintes: 
 
 
 
5. As palavras destacadas nas expressões a seguir têm sentido denotativo. Construa frases ou textos em que elas sejam 
empregadas em sentido conotativo. 
 
a) O calor do sol c) A corrente do relógio 
b) A raiz da árvore d) O sangue das veias 
 
UNIVOCIDADE 
Em algumas situações de uso referencial, os vocábulos devem ser entendidos com exatidão, numa relação única de 
sentido, de maneira a possibilitar eficácia na comunicação e compreensão da mensagem. 
 
Quando isto não acontece, a eficácia da comunicação fica comprometida, podendo resultar daí ambiguidades, 
incompreensões, erros de interpretação. 
Exemplos de situações em que a UNIVOCIDADE é requisito fundamental: 
 instruções do uso de um aparelho; 
 receitas médicas, de cozinha; 
 bula de remédio; 
 ofício, requerimento, ou outro texto em linguagem técnica; 
 definição de dicionário. 
 
Bula de remédio 
 
"Pacientes com história de reação de hipersensibilidade a outras drogas ou substâncias podem constituir um 
grupo de maior risco e apresentar efeitos colaterais mais intensos, até mesmo choque. Neste caso, o tratamento 
deve ser imediatamente suspenso e tomadas as providências médicas adequadas: colocar o paciente deitado 
com as pernas elevadas e as vias aéreas livres." 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
Do mesmo modo que no folheto de instruções, há vocábulos que devem ser entendidos univocamente, sob o risco de 
prejudicar a compreensão do texto. 
 
 
TEXTO LITERÁRIO E TEXTO NÃO LITERÁRIO 
 
4.1 Texto Literário 
 
Texto1: 
“Fotossíntese – Da ação da luz sobre os vegetais verdes depende o mais importante de todos os fenômenos 
vitais, a fotossíntese, à qual estão direta ou indiretamente escravizados todos os seres vivos. Exteriormente, a 
fotossíntese se manifesta pela troca de gases entre o vegetal e a atmosfera: o vegetal absorve CO2 e elimina 
oxigênio. Duas condições são necessárias para que o fenômeno se realize: uma é a presença de clorofila; outra, 
a presença de luz. O papel da clorofila consiste em absorver uma parte das radiações solares, cuja energia é 
então aproveitada para reações químicas no interior da planta. Nessa função, as radiações vermelhas são as mais 
eficazes, vindo depois o alaranjado, o amarelo, e, na outra extremidade do espectro, o violeta. Na faixa 
correspondente ao verde, o fenômeno é quase nulo. O mais importante, porém, é que, graças à energia solar 
absorvida, a planta verde decompõe o CO2 em seus elementos (carbono e oxigênio), devolve o oxigênio à 
atmosfera, e, unindo o carbono aos materiais da seiva, fabrica substância orgânica. Esta síntese, efetuada sob a 
ação da luz, é que justifica a denominação de fotossíntese dada ao fenômeno. 
(ALMEIDA Jr., A. Biologia Educacional. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1965. p. 201.) 
 
Texto2: Luz do Sol(Caetano Veloso) 
Luz do sol 
Que a folha traga e traduz 
Em verdenovo 
Em folha, em graça, 
Em vida, em força, em luz. 
 
Céu azul 
Que venha até 
Onde os pés 
Tocam a terra 
E a terra inspira 
E exala seus azuis... 
 
Reza, reza o rio 
Córrego pro rio 
Rio pro mar 
Rezacorrenteza 
Roça a beira 
A doura areia... 
 
Marcha um homem 
Sobre o chão 
Leva no coração 
Uma ferida acesa 
Dono do sim e do não 
Diante da visão 
Da infinita beleza... 
 
Finda por ferir com a mão 
Essa delicadeza 
A coisa mais querida 
A glória, da vida... 
 
(Caetano Veloso, Luz do Sol. In: Meu bem, meu mal. LP Fontana 826162-1. 1985. L.2, f.1.) 
http://letras.mus.br/caetano-veloso/44742/ 
 
Como você percebeu, o tema do primeiro texto e do segundo (na parte destacada) é o mesmo: a fotossíntese. Mas, por 
suas intenções e características, cada um deles pode ser classificado como não literário e literário, respectivamente. 
Vejamos por quê. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
No primeiro texto predomina a função referencial. O objetivo do autor é, pura e simplesmente, informar de maneira 
precisa e objetiva. Para atingir essa meta, ele utilizou a denotação, isto é, valeu-se do sentido próprio ou referencial da 
palavra. Privilegiou, portanto, o significado, seu valor utilitário, ou seja, o plano do conteúdo. Por isso, pode-se fazer 
um resumo das ideias do texto e apreender o essencial da informação. O plano da expressão (exploração dos recursos 
do significante) não é trabalhado nesse texto, isto é, a linguagem é transparente, só veicula conteúdos. Como 
consequência o texto é univalente: apresenta uma única interpretação4. 
 
No segundo texto, ao contrário, predomina a função poética, pois a organização da mensagem privilegia a própria 
mensagem, o plano da expressão, o trabalho com a parte concreta do signo (significante): o que se destaca é o trabalho 
com a linguagem. A predominância no texto de Caetano é da linguagem em função estética, conotativa, que permite o 
aparecimento de um sentido figurado. Observe o uso conotativo, metafórico, dos verbos tragar e traduzir: houve uma 
associação por similaridade, em outras palavras, associou-se o ato de fumar e de tragar à ação do vegetal absorvendo 
a luz e, em seguida, transformando essa luz em substância orgânica. Ou, nas palavras do autor, traduzindo uma 
informação em outra. 
 
Além dessa utilização de metáforas, percebe-se na seleção desses verbos o trabalho com o significante: a repetição dos 
fonemas tr (traga e traduz) e a enumeração em verde novo, em folha, em graça, em vida, em força, em luz. 
Essas observações referem-se somente à parte destacada do texto, mas, no restante, a presença do trabalho no nível da 
mensagem repete-se. Na segunda estrofe, a repetição do fonema r sugere o movimento das águas e, na terceira estrofe, 
o uso de metáforas (ferida acesa, dono do sim e do não) indica o trabalho com uma linguagem subjetiva. É o domínio 
da conotação, da interpretação afetiva, do sentido figurado, metafórico. Neste exemplo, vemos claramente como, ao 
plano do conteúdo, superpõe-se o plano da expressão, resultando daí a plurissignificância do texto. 
 
É importante aqui fazer uma distinção de muita relevância: se o texto não literário é passível de ser resumido porque 
tem uma função utilitária (informar), porque trabalha basicamente o plano do conteúdo, o mesmo não acontece com o 
texto literário. Resumir o texto literário é perder o essencial. No ato de resumir pode-se saber o enredo da história, mas 
perdem-se as sabedorias e minúcias do estilo. 
 
Esquematizando o que foi dito, teremos predominantemente: 
Texto Literário 
(plurissignificante = várias interpretações) 
Texto Não Literário 
(univalente = uma única interpretação) 
 
Subjetivo Objetivo 
Conotativo Denotativo 
Intuitivo/Criativo Racional 
Relevância do plano da expressão Relevância do plano do conteúdo 
 
4 O texto jornalístico informativo pertence a essa classe de textos. Embora se possa questionar a objetividade do texto 
jornalístico, uma vez que, no simples ato de selecionar palavras, há a presença da subjetividade do autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
Feijoada À Minha Moda 
Vinicius de Moraes 
 
Amiga Helena Sangirardi 
Conforme um dia eu prometi 
Onde, confesso que esqueci 
E embora - perdoe - tão tarde 
(Melhor do que nunca!) este poeta 
Segundo manda a boa ética 
Envia-lhe a receita (poética) 
De sua feijoada completa. 
Em atenção ao adiantado 
Da hora em que abrimos o olho 
O feijão deve, já catado 
Nos esperar, feliz, de molho. 
E a cozinheira, por respeito 
À nossa mestria na arte 
Já deve ter tacado peito 
E preparado e posto à parte 
Os elementos componentes 
De um saboroso refogado 
Tais: cebolas, tomates, dentes 
De alho - e o que mais for azado 
Tudo picado desde cedo 
De feição a sempre evitar 
Qualquer contato mais... vulgar 
Às nossas nobres mãos de aedo 
Enquanto nós, a dar uns toques 
No que não nos seja a contento 
Vigiaremos o cozimento 
Tomando o nosso uísque on the rocks. 
Uma vez cozido o feijão 
(Umas quatro horas, fogo médio) 
Nós, bocejando o nosso tédio 
Nos chegaremos ao fogão 
E em elegante curvatura: 
Um pé adiante e o braço às costas 
Provaremos a rica negrura 
Por onde devem boiar postas 
De carne-seca suculenta 
Gordos paios, nédio toucinho 
(Nunca orelhas de bacorinho 
Que a tornam em excesso opulenta!) 
E - atenção! - segredo modesto 
Mas meu, no tocante à feijoada: 
Uma língua fresca pelada 
Posta a cozer com todo o resto. 
Feito o quê, retire-se caroço 
Bastante, que bem amassado 
Junta-se ao belo refogado 
De modo a ter-se um molho grosso 
Que vai de volta ao caldeirão 
No qual o poeta, em bom agouro 
Deve esparzir folhas de louro 
Com um gesto clássico e pagão. 
Inútil dizer que, entrementes 
Em chama à parte desta liça 
Devem fritar, todas contentes 
Lindas rodelas de linguiça 
Enquanto ao lado, em fogo brando 
Desmilinguindo-se de gozo 
Deve também se estar fritando 
O torresminho delicioso 
Em cuja gordura, de resto 
(Melhor gordura nunca houve!) 
Deve depois frigir a couve 
Picada, em fogo alegre e presto. 
Uma farofa? - tem seus dias... 
Porém que seja na manteiga! 
A laranja gelada, em fatias 
(Seleta ou da Bahia) - e chega. 
Só na última cozedura 
Para levar à mesa, deixa-se 
Cair um pouco da gordura 
Da linguiça na iguaria - e mexa-se. 
Que prazer mais um corpo pede 
Após comido um tal feijão? 
- Evidentemente uma rede 
E um gato para passar a mão... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
Texto extraído do livro "Para viver um grande amor", Livraria José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 97. 
FEIJOADA À MINHA MODA - Vinicius de Moraes (letra e vídeo) 
http://letras.mus.br/vinicius-de-moraes/87169/ 
 4.2 Texto Não Literário 
 
Textos não literários privilegiam a função referencial, portanto concisão, objetividade, clareza, coerência e adequação 
ao nível hierárquico do destinatário são suas principais características. 
 Concisão: expressar o máximo de informações com o mínimo necessário de palavras. 
 Objetividade: para que o texto seja objetivo, é preciso determinar com precisão quais são as informações 
realmente relevantes que dele devem constar. 
 Clareza: para que o texto seja claro, deve estar conceitualmente bem organizado e redigido em bom português. 
 Coerência: para que o texto seja coerente, deve ter nexo, lógica, isto é, deve apresentar harmonia entre situações, 
acontecimentos ou ideias. 
 Linguagem formal: respeitar as normas gramaticais. O grau de formalidade, maior ou menor, deverá ser 
adequado à posição hierárquica do destinatário. 
 
Feijoada do Bolinha 
Ingredientes: 
 200g carne seca bovina (lagarto, coxão duro) 
 200g costela de porco 
 200g pé de porco salgado 
 100g rabo suíno salgado 
 100g orelha de porcosalgada 
 150g lombo de porco defumado ou salgado 
 100g língua bovina defumada 
 100g paio fatiado 
 100g linguiça portuguesa fatiada 
 50g bacon em cubos 
 1 kg feijão preto 
 2 cebolas picadinhas 
 100g alho picado 
 6 folhas louro 
 2 laranjas com cascas cortadas ao meio 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
Modo de preparo 
Limpe bem as carnes salgadas, tirando o excesso de gorduras e nervuras, limpando os pelos e colocando-as de molho 
em água por 24 horas, trocando-se a água três a quatro vezes durante este período. 
Ferva as carnes salgadas em peças inteiras, durante mais ou menos 20 minutos em fogo forte, e jogue a água fora, 
pois nela está todo o excesso de gordura. 
Coloque então as carnes para cozinhar de forma definitiva, já com o feijão, as folhas de louro e as laranjas cortadas 
em metades, na seguinte ordem: carne seca, pé e orelha. 
Meia hora depois coloque a língua, o rabo e a costela, e após meia hora, coloque o lombo, a linguiça, o paio e o 
bacon, cuidando para tirar e jogar fora, durante todo o cozimento, a gordura que for subindo à superfície. 
Em uma frigideira, doure bem a cebola e o alho em duas xícaras de óleo previamente aquecido, colocando na panela 
do cozimento, junto com as últimas carnes para cozinhar, retirando antes as metades das laranjas, que já cumpriram a 
sua missão de ajudar a cortar a gordura das carnes. 
Após duas horas comece a testar o grau de cozimento das carnes com o garfo, pois nem todas chegam ao grau de 
maciez ao mesmo tempo, retirando e reservando as que já estiverem no ponto. 
Quando todas as carnes e o feijão estiverem no ponto, retire e corte as carnes em pedaços pequenos para servir, 
voltando para a panela com o feijão e cozinhando por mais 10 a 15 minutos em fogo brando. 
Sirva com arroz branco e couve refogada no azeite e alho, e uma bela farofa de mandioca. 
http://www.almanaqueculinario.com.br/receita/prato-unico/feijoada-do-bolinha-5145.html 
 
4.3 O que se deve evitar em qualquer tipo de texto 
 escrita rebuscada e difícil; 
 emprego de construções em desuso 
ainda que gramaticalmente corretas; 
 abuso de estrangeirismos; 
 erros gramaticais; 
 utilização de modismos linguísticos; 
 rimas e má ordenação de palavras na frase 
 
5. MODALIDADES E VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS 
 
5.1 Modalidades Linguísticas 
O português, como qualquer outra língua, tem uma modalidade oral e uma modalidade escrita. Trata-se, 
praticamente, de duas línguas com gramáticas diferentes, o que não impede que certos textos escritos apresentem traços 
de oralidade ou que determinadas realizações orais se pautem pela gramática normativa a qual rege, na maioria das 
vezes, a modalidade escrita. Exemplos disso são o radiojornal e o telejornal que, apesar de falados, têm como base um 
texto escrito, que tenta aproximar-se da linguagem oral. 
 A modalidade oral pressupõe o contato direto entre os falantes, o que a torna mais concreta e econômica 
(porque os elementos a que se refere estão presentes na situação do diálogo e porque gestos e olhares desempenham, 
ao lado da linguagem verbal, um papel importante). Existe ainda na modalidade oral um jogo de cadências e pausas 
que dá o ritmo à fala e auxilia na decodificação de mensagem. Essa modalidade caracteriza-se pela fragmentação 
(hesitações, repetições, correções, truncamentos), pela presença de marcadores conversacionais (né, então, daí, 
entendeu?) e pelo envolvimento devido à alta taxa de feedback. Constituída por jatos cujo comprimento é de 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
aproximadamente sete palavras (quantidade de informação que o falante consegue controlar na memória), a 
modalidade oral prefere a coordenação (situação em que as unidades de pensamento são independentes). 
 Ao contrário da modalidade oral, a escrita é um ato de produção solitário, lento, planejado, que possibilita 
alterações, ou seja, ela é editável. A modalidade escrita caracteriza-se pela integração e pelo distanciamento, preferindo 
a subordinação. Nesta modalidade, o jogo de cadências e pausas deve ser recriado pela pontuação e pelos caracteres 
gráficos (maiúsculas, negrito, itálico, etc.). Como tem de recuperar todos esses elementos, a modalidade escrita resulta 
menos econômica, mas mais precisa que a oral. 
 
Traços distintivos entre a modalidade oral e a modalidade escrita 
Modalidade oral Modalidade escrita 
Ocorre num ambiente de interação social, onde existe 
a copresença dos enunciadores 
Não tem o apoio do ambiente da copresença dos 
enunciadores 
Altamente dialógica Ato solitário 
Fragmentária Não fragmentária 
Incompleta Completa 
Pouco elaborada, com a presença de marcadores 
conversacionais (né, então, daí), expressões coloquiais 
e gírias 
Elaborada 
Não planejada Planejada 
Predominância de frases curtas, simples ou 
coordenadas. 
Predominância de frases complexas, subordinação 
abundante 
Não-editável Editável 
 
Exercício de Aplicação 
(Unicamp - SP) O trecho seguinte foi extraído do debate que se seguiu à palestra do poeta Paulo Leminski (“Poesia: 
a paixão da linguagem”), proferida durante o curso “Os sentidos da paixão” (Funarte, 1986). Observe que nele é 
possível identificar palavras e construções características da linguagem coloquial oral. Reescreva-o de forma a adequá-
lo à modalidade escrita culta. 
 
“Estudei durante seis anos muito a vida de um paulista e fiz um filme sobre ele, que é o Mário de Andrade, um 
puta poeta muito pouco falado pelas ditas vanguardas modernistas. [...] Hoje em dia, felizmente, já existem vários 
trabalhos, há muita gente reavaliando a poética do Mário, que ela é muito mais importante e profunda do que 
aparentemente pareceu nestes últimos anos. Estudando o Mário, eu descobri que o Mário foi um exemplo do cara 
que morreu de amor, mas de amor pelo seu povo, pelo seu país, pela sua cultura [...] Um outro cara que também 
fiz um filme é o Câmara Cascudo. Um cara como o Câmara Cascudo morre, os jornais dão uma notinha desse 
tamanhinho, escondidinho, um cara que deveria ter estátua em praça pública, deveria ser lido, recitado.” (Os 
sentidos da paixão, p. 301). 
 
5.2 Variações Linguísticas 
Em nossa sociedade (como, aliás, em qualquer outra), existe uma pluralidade de discursos, ou seja, nossa 
língua não é homogênea: os brasileiros não se expressam todos da mesma forma, apesar de todos falarem português. 
Cada um de nós – segundo o nível de instrução, idade, sexo, região, situação em que ocorre a comunicação, destinatário 
da mensagem, etc. – usa a língua de uma determinada forma. Assim, existem variações dialetais, que ocorrem em 
função dos emissores, e variações de registro, que dependem dos receptores, da mensagem ou da situação5. 
 
5A distinção entre variações dialetais e variações de registro, no entanto, é puramente didática, uma vez que no ato de 
comunicação elas se superpõem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
O extinto jornal Notícias Populares(NP) de São Paulo, na edição de 11/9/2000, apresentou a seguinte 
manchete seguida da linha fina (explicação sucinta da manchete): 
 
ROLO NO INSS MELA APOSENTADORIA 
NP explica mais essa treta pra você não comer bola 
 
Observe que a seleção de palavras – rolo, mela, treta, comer bola – exemplifica, ao mesmo tempo, uma variante 
social da linguagem e uma variação de registro (tentativa de adequar-se à linguagem do receptor). 
Com certeza, o mesmo fato teria outra manchete em um jornal como O Estado de S.Pauloou Folha de S.Paulo, 
por exemplo, pois seu público é outro. Poderia ser algo como: 
 
SUSPEITA DE FRAUDE NO INSS ADIA CONCESSÃO DE BENEFÍCIO 
oque, certamente, seria incompreensível (ou menos legível) para o leitor do NP. 
 
5.3 Variações Dialetais 
 Estas variações presentes na fala ou na escrita revelam muito sobre o emissor da mensagem. É nelas que o 
preconceito linguístico se manifesta com maior intensidade, porque há certas variantes que desfrutam de maior 
prestígio social. Elas podem ser: 
√ territoriais ou regionais: ocorrem entre pessoas de diferentes regiões onde se fala a mesma língua e são 
determinadas por influências históricas, sociais, econômicas, culturais, políticas. Marcam-se, sobretudo na 
fonética (observe como é diferente o sotaque de um carioca, de um baiano, de um mineiro) e no léxico (a mandioca 
do Sudeste do Brasil é chamada macaxeira no Nordeste e aipim no Sul); 
√ sociais: representadas pelos jargões (linguagem técnica, profissional) ou pela gíria; 
√ etárias: dependem da idade dos interlocutores. Observe que um jovem não fala como uma pessoa de 70 anos; 
√ de sexo: há palavras permitidas aos homens, mas inadmissíveis na boca de mulheres; 
√ de geração ou históricas: devidas à evolução do idioma, são mais percebidas na língua escrita. Caetano 
Veloso, na música Língua, em que trata das variantes, conseguiu com mestria sintetizar essa variação neste verso: 
 “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões” 
(Atenção que, provocativamente, o autor sugeriu uma conotação sexual ao texto escolhendo no código a palavra 
roçar (tocar de leve, brandamente). 
5.4 Variações de Registro 
 
Pronominais 
Oswald de Andrade 
 
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
Do professor e do aluno 
E do mulato sabido 
Mas o bom negro e o bom branco 
Da Nação Brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso camarada 
Me dá um cigarro 
Estas variações representam a necessidade de o emissor adaptar-se ao seu interlocutor, à situação ou à 
mensagem. Assim, obras científicas ou obras literárias clássicas apresentarão um cuidado maior com a linguagem e 
utilizarão a norma culta, enquanto obras do Modernismo, bate-papos na Internet, revistas para jovens e adolescentes 
vão aproximar-se do coloquial. A situação vai também determinar o registro a ser usado: um professor não fala da 
mesma forma em uma palestra e num bate-papo em um barzinho ao lado de uma turma de jovens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
Em qualquer situação sociocomunicativa, o emissor deve estar atento ao grau de formalismo (representado 
pelo cuidado com a linguagem e pela aproximação da língua padrão e culta) e à sintonia com seu receptor – neste 
último item 
√ selecionando os recursos de expressão de acordo com o status do receptor, variando o volume de 
informações ou conhecimentos com o que presume que o seu leitor / ouvinte tenha; 
√ ajustando o nível de cortesia segundo a dignidade que considera adequada aos seus interlocutores (que 
varia da blasfêmia à obscenidade e ao eufemismo, veja como João Gordo (ex-Ratos do Porão) trata seus 
entrevistados); 
√ escolhendo o registro a ser utilizado em dado contexto, o que é considerado “bom” para determinada 
situação. 
 
Assim, em função de diversos fatores, as pessoas falam “línguas diferentes”, o que levou o linguista Evanildo 
Bechara a dizer que devemos ser poliglotas dentro da própria língua, pois o conhecimento das variações e modalidades 
linguísticas facilita a eficácia da comunicação. 
Podem-se delinear três principais níveis de linguagem: a linguagem culta (ou variante-padrão), a linguagem 
familiar (ou coloquial) e a linguagem popular. 
 
 A linguagem culta é utilizada pelas classes intelectuais da sociedade. É a variante de maior prestígio e 
aquela ensinada nas escolas. Sua sintaxe é mais complexa, seu vocabulário mais amplo e há, nela, maior 
obediência à gramática e à língua dos escritores clássicos. 
 
 A linguagem coloquial é utilizada pelas pessoas que fazem uso de um nível menos formal, mais cotidiano. 
O padrão coloquial faz referência à utilização da linguagem em contextos informais, íntimos e familiares, 
que permitem maior liberdade de expressão. Esse padrão mais informal também é encontrado em 
propagandas, programas de televisão ou de rádio, etc. 
Quando comparada à linguagem culta, apresenta limitação vocabular, revelando-se incapaz para a 
comunicação do conhecimento filosófico, científico etc. Apresenta maior liberdade de expressão, 
sobretudo no que se refere à gramática normativa. 
 
 A linguagem popular é aquela utilizada por pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade. Esse nível 
raramente aparece na forma escrita e caracteriza-se como um subpadrão linguístico. Nele, o vocabulário 
é bem mais restrito, com muitas gírias, onomatopeias e formas gramaticalmente incorretas (pobrema, 
nóis vai, nóis fumo, tauba, etc.). Não há, aqui, preocupação com as regras gramaticais. 
 
Como em comunicação a questão não é de certo ou errado, mas de adequação ao contexto sociocomunicativo, 
essas variações nos fazem entender e aceitar construções da linguagem publicitária decalcadas na modalidade oral, 
como: 
A empresa que você fala com o dono, em lugar da forma gramaticalmente correta: A empresa em que você 
fala com o dono. 
 
O slogan da Caixa Econômica Federal – Vem pra Caixa você também, vem– em lugar de Venha para a Caixa 
você também, venha ou de Vem para a Caixa tu também, vem, é outro exemplo dessas variações, pois opta 
pela mistura de tratamento tu/ você, típica do registro coloquial, para chegar mais próximo de seu público. 
Ao contrário, este título de outro texto publicitário publicado há cerca de 20 anos numa importante revista 
semanal não quer com seus erros aproximar-se de seus leitores nem procura criar nenhum efeito de sentido, ele só 
revela que seu autor não conseguiu adequar a mensagem nem ao seu público nem à situação: 
 
“More no Pacaembú como a 60 anos atrás”. Analisando: 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
√ até um corretor ortográfico do Word indicaria que Pacaembu não tem acento por tratar-se de palavra 
oxítona terminada em u; 
√ como se trata de 60 anos passados, o há deve ser assim grafado; 
√ e, se já se grafou há 60 anos, o atrás é dispensável (embora, no nível coloquial as pessoas não o 
omitam). 
 
Não teria sido mais fácil e conciso o redator ter escrito: “More no Pacaembu como há 60 anos”? 
 
Características do dialeto culto Características do dialeto popular 
Indicação precisa de gênero, número e pessoa: 
Essas pessoas não fazem nada. 
Economia nas marcas de gênero, número e pessoa: 
Essas pessoas não faz nada. 
Correlação verbal entre tempos e modos: 
Se a encontrasse agora, contaria tudo. 
Falta de correlação verbal: 
Se encontrasse ela agora, contava tudo. 
Largo uso da coordenação e da subordinação: 
Não sei se já lhe disse que, quando terminei o curso, 
fui trabalhar, porque não tinha mais dinheiro. 
Redução do processo de subordinação, em 
benefício da frase simples e da coordenação: 
Já disse pra você, não disse? Quando eu acabei o 
curso, não tinha mais dinheiro. Aí, então, fui 
trabalhar. 
Maior utilização da voz passiva: 
Foi atropelada por um carro. 
Maior emprego da voz ativa: 
Um carro atropelou ela. 
 
Exercícios de Aplicação: 
 
1) Leia o texto a seguir para responder à questão 1. 
Pronomes 
Antes de apresentar o Carlinhos para a turma, Carolina pediu: 
— Me faz um favor? 
— O quê? 
— Você não vai ficar chateado? 
— O que é? 
— Não fala tão certo? 
— Como assim? 
— Você fala certo demais. Fica esquisito. 
— Por quê? 
— É que a turma repara. Sei lá, parece... 
— Soberba? 
— Olha aí, “soberba”. Se você falar “soberba” ninguém vai saber o que é. Não fala “soberba”. Nem “todavia”. 
Nem “outrossim”. E cuidado com os pronomes.— Os pronomes? Não posso usá-los corretamente? 
— Está vendo? Usar eles. Usar eles! 
O Carlinhos ficou tão chateado que, junto com a turma, não falou nem certo nem errado. Não falou nada. Até 
comentaram: 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
— Ó Carol, teu namorado é mudo? 
Ele ia dizer “Não, é que, falando, sentir-me-ia vexado”, mas se conteve a tempo. Depois, quando estavam sozinhos, a 
Carolina agradeceu, com aquela voz que ele gostava. 
— Comigo você pode botar os pronomes onde quiser, Carlinhos. 
Aquela voz de cobertura de caramelo. 
VERISSIMO, Luis Fernando. Contos de verão. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 16 jan. 2000. 
 
Exercícios de aplicação 
1) Carolina pede ao namorado que não fale “certo demais” porque “a turma repara”. É possível afirmar que, segundo 
a namorada, a maneira de Carlinhos falar poderia parecer esnobe aos amigos dela, uma demonstração de 
“superioridade linguística”. Poderíamos dizer que este juízo sobre a maneira de falar de Carlinhos é a manifestação 
de “um preconceito linguístico às avessas”. em que ele se baseia? 
 
2) (FUVEST - SP) 
“A princesa Diana já passou por poucas e boas. Tipo quando seu ex-marido Charles teve um love affair com 
lady Camille revelado para Deus e o mundo.” (Folha de S.Paulo, 5/11/93) 
 
No texto acima, há expressões que fogem ao padrão culto da língua escrita. 
Identifique-as. Reescreva-as conforme o padrão culto. 
 
3) “É massa! Dessa vez a Atrevida arrepiou. Foi da hora a matéria NA PONTA DA LÍNGUA, com as gírias maneiras 
de todos os lugares. É por isso que me amarro cada vez mais nesta revista: descolada, divertida, diferente e trilegal.” 
(Mariana Alves Manso, Atrevida, set. 1996, p.18) 
Reescreva como se a leitora estivesse escrevendo para a revista Veja. 
 
Texto para leitura: Assalto à brasileira 
 
Assaltante mineiro 
"Ô sô, prestenção. Issé um assarto, uai. Levantusbraçu e fiketinquiémióprucê. Esse trem na minha mão tá 
cheindi bala... Miópassá logo os trocado que eu num tobão hoje. Vai andano, uai ! Tá esperanuquê, sô?!" 
Assaltante baiano 
"Ô meu rei... (pausa). Isso é um assalto... (longa pausa). Levanta os braços, mas não se avexe não... (outra 
pausa). Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado Vai passando a grana, bem devagarinho 
(pausa pra pausa ) Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado (pausa maior 
ainda). Não esquenta, meu irmãozinho (pausa). Vou deixar teus documentos na encruzilhada." 
Assaltante carioca 
"Aí, perdeu, mermão! Seguiiiinnte, bicho. Isso é um assalto, sacô? Passa a grana e levanta os braço rapá ... 
Não fica de caô que eu te passo o cerol.... Vai andando e se olhar pra trás vira presunto ..." 
Assaltante paulista 
"Isto é um assalto! Erga os braços! Passa logo a grana, meu. Mais rápido, mais rápido, meu, que eu ainda 
preciso pegar a bilheteria aberta pru jogo do Curintias, meu ... Pô, agora se manda, meu, vai... vai..." 
Assaltante gaúcho 
"O guri, ficas atento... isso é um assalto. Levanta os braços e te aquieta, tchê ! Não tentes nada e cuidado que 
esse facão corta uma barbariiidaaade, tchê. Passa as pilas prá cá ! Trilegal! Agora, te 
mandas, senão o quarenta e quatro fala." 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
Assaltante de Brasília 
"Companheiros, estou aqui no horário nobre da TV para dizer que no final do mês, aumentaremos as seguintes 
tarifas: energia, água, esgoto, gás, passagem de ônibus, imposto de renda, licenciamento de veículos, seguro 
obrigatório, gasolina, álcool, IPTU, IPVA, IPI, ICMS, PIS, Cofins." 
 
6. FATORES DE TEXTUALIDADE E GÊNEROS TEXTUAIS 
 
O texto é uma manifestação linguística produzida por alguém, em alguma situação concreta (contexto), com 
alguma intenção. Independentemente de sua extensão, o texto deve dar a sensação de completude6, do contrário não 
será um texto. 
Por exemplo, alguém sai correndo de um edifício e grita: “Fogo!” Percebe-se que nessa circunstância a 
palavra “fogo” adquire um significado diferente de uma mera referência a um processo de combustão. A interpretação 
será de que há um incêndio naquele prédio e a pessoa está querendo alertar outras e, se possível, conseguir ajuda. Logo, 
nessa situação específica, a palavra “fogo” é um texto. 
Além da noção de completude, estes fatores são responsáveis pela textualidade (conjunto de características 
que fazem de um texto um texto e não um amontoado de frases): 
 
FATORES PRAGMÁTICOS 
Intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade – dizem respeito aos fatores 
contextuais que determinam os usos linguísticos nas situações de comunicação e contribuem para a construção do 
sentido do texto. 
 
 
 
Não tem jeito mesmo... 
Bruno Gideon 
Ficção 
 “Trinta palavras no máximo; não há espaço para mais”, disse o chefe da redação ao jornalista. Por isso a 
matéria que apareceu no jornal foi: 
 Uma mulher escorregou numa casca de banana, numa faixa de pedestres da Bahnhofstrasse. Foi 
imediatamente transportada para a clínica da universidade, onde foi diagnosticada uma perna quebrada. 
 A primeira reação surgiu imediatamente, numa carta registrada em que um importador de bananas escrevia: 
“Protestamos veementemente contra o descrédito dado ao nosso produto. Considerando que, nos últimos meses, 
vocês publicaram pelo menos 14 comentários negativos sobre países produtores de bananas, não podemos 
deixar de inferir uma intenção de difamação deliberada de sua parte”. 
 Por sua vez, o diretor da clínica da universidade também se pronunciou, alegando que a expressão “foi 
transportada” poderia significar “o transporte de seres humanos como se se tratasse de carga”, o que contrariava 
totalmente os hábitos de seu hospital. “Além disso”, salientou, “posso provar que a fratura da perna resultou da 
queda e não, como foi sugerido com intenção malévola, do transporte para o hospital”. 
 Para finalizar, um membro do Departamento Municipal de Engenharia Civil telefonou, informando ao jornal 
que a causa do tombo não deveria ser atribuída ao estado da faixa de pedestres. Além disso, como o Comitê de 
Defesa das Faixas para Pedestres estava prestes a concluir seu relatório, após seis anos de trabalho, perguntava 
se era possível – para evitar prováveis consequências políticas – não fazer qualquer alusão a tais passagens nos 
próximos meses. 
 A notícia foi revista e, na manhã seguinte, apareceu com o seguinte texto: Uma mulher caiu na rua e quebrou 
a perna. 
 No dia seguinte, os editores receberam apenas duas cartas a respeito. Uma, indignada, era da Associação Não-
Lucrativa dos Direitos das Mulheres, cuja porta-voz repudiava “vivamente e em definitivo” o texto 
 
6 Caráter do que é, ou está completo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
discriminatório uma mulher caiu, o qual evocava uma associação infeliz com “mulheres caídas” e constituía 
uma prova de que “mais uma vez, neste mundo dominado pelo homem, a imagem da mulher estava sendo 
manipulada da maneira mais pérfida e chauvinista7!” A carta ameaçava com um processo judicial, boicote e 
outras medidas. 
 A outra reação veio de um leitor que cancelava sua assinatura, alegando o número cada vez maior de notícias 
triviais e sem interesse (Seleções do Reader´sDigest, apud op. cit., p. 33, 34). 
 
 
Intertextualidade 
 “(...) um discurso não vem ao mundo numa inocente solitude, 
mas constrói-se através de um já-dito em relação ao qual ele toma 
posição.” (Dominique Maingueneau) 
 
Refere-se ao diálogo entre textos. A produção e compreensão de textos dependem do conhecimento de outros textos. 
Exemplificando: 
 
Canção do exílio facilitada 
lá? 
ah!sabiá... 
papá... 
maná... 
sofá... 
sinhá... 
 
cá? 
bah! (José Paulo Paes) 
 
Esse texto pode parecer um amontoado de palavras sem sentido se o leitor não perceber as intenções do autor, se não 
aceitá-lo como um texto coerente. Mas, para isso, ele deve ter em seu repertório a informação de que este texto refere-
se a outro (dialoga com outro) do Romantismo brasileiro – Canção do exílio, de Gonçalves Dias – e dirige-se a leitores 
de um tempo moderno, caracterizado pela pressa, daí seu título. 
 
Muitos textos só fazem sentido quando entendidos em relação a outros textos que funcionam como seu contexto. A 
intertextualidade é, pois, a relação entre dois textos em que um cita o outro. É evidente que este recurso, para ter 
eficácia, depende de o leitor ter, em seu repertório, conhecimento do outro texto a que o autor se refere. 
 
A intertextualidade pode ocorrer afirmando as mesmas ideias da obra citada ou contestando-as. Há duas formas: a 
Paráfrase e a Paródia. 
 
Paráfrase 
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para 
atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi dito. Temos 
um exemplo citado por Affonso Romano Sant'Anna em seu livro "Paródia, paráfrase & Cia" (p. 23): 
 
 
7 Chauvinista: que assume posição extremada, exacerbada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
Texto Original 
 
Minha terra tem palmeiras 
 Onde canta o sabiá, 
 As aves que aqui gorjeiam 
 Não gorjeiam como lá. 
 (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”). 
 
 
 
Paráfrase 
 
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos 
 Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’. 
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’? 
Eu tão esquecido de minha terra... 
 Ai terra que tem palmeiras 
 Onde canta o sabiá! 
 (Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e 
Bahia”). 
 
Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, é muito utilizado como exemplo de paráfrase e de paródia, aqui o 
poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o texto primitivo conservando suas ideias, não há mudança do sentido 
principal do texto que é a saudade da terra natal. 
 
Paródia 
A paródia tem como elemento principal, na maioria das vezes, a comédia, ou seja, a partir da estrutura de um poema, 
música, filme, obras de arte ou qualquer gênero que tenha um enredo que possa ser modificado. Mantém-se o esqueleto, 
isto é, características que remetam à produção original, como por exemplo o ritmo – no caso de canções – mas 
modifica-se o sentido. Com cunho, em muitos casos, cômico, provocativo e/ou retratação de algum tema que esteja 
em alta no contexto abordado (Brasil, mundo política, esporte, entre outros). 
 
Jingle ( Assolan) 
Assista no link: www.youtube.com/watch?v=oTgOchYHYDU 
Festa no Apê (Latino) 
A família não para de crescer/ 
usou, passou, limpou/ 
É Assolan fenómeno/ 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
lã de aço/ tem esponjas/ 
panos multiuso/ saponáceos/ 
hoje é festa na casa e no apê 
/ usou, passou, limpou/ 
É Assolan fenómeno//. 
 
Esse é o Jingle da família Assolan, interpretado pelo cantor Latino. O essencial, que faz este Jingle ter sentido é a 
intertextualidade com a música "Festa no Apê” do cantor Latino. Assim que a marca começou a ter produtos novos, 
em 2005, esse entrou no ar. 
Esta campanha da Assolan, baseada na música Festa no Apê, do cantor Latino, apresenta no Jingle vários produtos 
da marca: esponjas, panos multiusos, saponáceos a fim de mostrar como a marca cresceu em variedade de produtos, 
usando a voz do próprio cantor Latino para chamar mais a atenção. 
 
Exercícios de Aplicação 
1) Leia os seguintes textos e correlacione-os com a situacionalidade (o momento sociocomunicativo em que foram 
escritos) 
 
Canção de Exílio (Gonçalves Dias) 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores. 
Em cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
Minha terra tem primores, 
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar - sozinho, à noite - 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
Não permita Deus que eu morra, 
Sem que eu volte para lá; 
Sem que desfrute os primores 
Que não encontro por cá; 
Sem qu'inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
(Coimbra, julho de 1843) 
 
Outra canção do exílio 
(COSTA, Eduardo Alves da.Salamargo. São Paulo:MassaoOhno&¨M. Lydia Pires e Albuquerque, 1982.) 
 
Minha terra tem Palmeiras, 
Corínthians e outros times 
de copas exuberantes 
que ocultam muitos crimes. 
As aves que aqui revoam 
são corvos do nunca mais, 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
a povoar nossa noite 
com duros olhos de açoite 
que os anos esquecem jamais. 
 
Em cismar sozinho, ao relento, 
sob um céu poluído, em estrelas, 
nenhum prazer tenho eu cá; 
porque me lembro do tempo 
em que livre na campina 
pulsava meu coração, voava, 
como livre sabiá; ciscando 
nas capoeiras, onde hoje a morte 
tem mais flores, nossa vida 
mais terrores, noturnos, 
de mil suores fatais. 
 
Minha terra tem primores, 
requintes de boçalidade, 
que fazem da mocidade 
um delírio amordaçado: 
acrobacia impossível 
de saltimbanco esquizóide, 
equilibrado no risível sonho 
de grandeza que se esgarça e rompe, 
roído pelo matreiro cupim da safadeza. 
 
Minha terra tem encantos 
de recantos naturais, 
praias de areias monazíticas, 
subsolos minerais 
que se vão e não voltam mais. 
 
A chorar sozinho, aflito, 
penso, medito e reflito, 
sem encontrar solução; 
a não ser voar para dentro, 
voltar as costas à miséria, 
à doença e ao sofrimento, 
que transcendem o quanto possam 
o pensamento conceber 
e a consciência suportar. 
Minha terra tem palmeiras 
a baloiçar indiferentes 
aos poetas e dementes 
que sonham de olhos abertos, 
a rilhar os dentes. 
 
Não permita Deus que eu morra 
pelo crime de estar atento; 
e possa chegar à velhice 
com os cabelos ao vento 
de melhor momento. 
Que eu desfrute os primores 
do canto do sabiá, 
onde gorjeia a liberdade 
que não encontro por cá.
 
Canto do regresso à pátria (Oswald de Andrade) 
 
Minha terra tem palmares 
Onde gorjeia o mar 
Os passarinhos aqui 
Não cantam como os de lá 
Minha terra tem mais rosas 
E quase que mais amores 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
Minha terra tem mais ouro 
Minha terra tem mais terra (...) 
 
Não permita Deus que eu morra 
Sem que eu volte para são Paulo 
Sem que eu veja a rua 15 
E o progresso de São Paulo 
 
Exercícios de Aplicação 
1) Apoiando-se em “Canção do exílio”, crie uma paródia do texto de Gonçalves Dias 
2) Por que Jô Soares deu este título ao texto seguinte: 
 
Perguntas idiotas (Jô Soares) 
 
Garçom: (para o casal que senta à mesa) – É para dois? 
Homem – Não, eu vou comer e ela só vai ficar assistindo. 
Maître (ao freguês que chega) – É pra jantar? 
Freguês – Não, é pra jogar tênis. (Pausa) Tem raquete? Não?! Então a gente aproveita e janta.. 
Mulher (ao marido chegando em casa todo molhado) – Está chovendo? 
Marido – Não, é que todo mundo na rua resolveu cuspir em mim. 
Amigo 1 (encontrando outro na rua) – Cortou

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