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Duas peças sobre Murdoch estreiam — mas por que não temos nenhuma sobre Roberto 
Marinho?
Postado em 07 out 2013por : Roberto Amado
A trajetória de Roberto Marinho daria alguns filmes, algumas peças, alguns livros. Mas o que sai são 
produções chapa branca normalmente financiadas pela própria Globo, pela família ou pela Fundação Roberto 
Marinho. A razão é relativamente simples: é uma fria para quem se mete nessa empreitada.
Veja o caso do australiano Rupert Murdoch, uma espécie de RM do mundo desenvolvido, dono de um 
império de mídia que inclui a Fox e mais 800 empresas em 50 países. A peça “Rupert”, escrita por um dos 
mais conhecidos dramaturgos da Austrália, David Williamson, estava em cartaz em Melbourne. É meio 
musical, meio cabaré, e foi sucesso de público. Outro autor, o britânico Richard Bean, anunciou também uma 
peça, a ser encenada no National Theatre, em Londres, sobre o magnata e a prática de grampear o celular de 
celebridades utilizada por alguns de seus jornalistas no sensacionalista News Of The World.
Assim como Randolph Hearst, o homem que inspirou “Cidadão Kane”, Murdoch não é nenhum santo. 
Construiu o seu império usando as estratégias de praxe, engolindo empresas concorrentes, influenciando 
pesadamente na política australiana, conquistando espaço e poder. Teve uma competição duríssima, ao 
contrário do doutor Roberto. Um personagem e tanto. E é capaz de tolerar que seja motivo de risadas no 
seriado ‘Simpsons’, em que aparece como um poderoso inescrupuloso, algumas vezes emprestando sua 
própria voz. Detalhe: o seriado é produzido pela Fox.
Mas com Roberto Marinho, não. Fora do Brasil, nos Estados Unidos, por exemplo, a Globo é considerada 
apenas uma produtora de telenovelas latinas para um público saudoso de dramalhões. Por que não um 
espetáculo teatral sobre ele? Há uma ameaça sub-reptícia de que não se pode tocar no homem sem pagar caro 
pelas consequências, sejam elas quais forem — por exemplo, não arrumar patrocinador, não ter seu trabalho 
divulgado, não conseguir mais emprego.
É possível imaginar que um ator aceite o papel de interpretar um Sr. Marinho que chama os empregados de 
inúteis, faz negociações políticas para obter concessões de rádio e TV e tem uma tartaruga de estimação? Ou 
um diretor de cinema que retrata um Sr. Marinho sonhando em ser o dono do mundo? Não.
E se por acaso houver algum destemido que resolva ir a fundo na história de Roberto Marinho, será com a 
consciência de que sua peça não terá financiamento, patrocinadores, divulgação e, muito possivelmente, 
onde ser exibida. Isso é um dos preços que se paga pelo monopólio da Globo.
Sobre o Autor
Jornalista, escritor, cineasta e advogado.

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