Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Instituto Serzedello Corrêa Aula 5 Relação entre o orçamento e o planejamento de obras Abril, 2012 AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS Módulo 1 Orçamento de obras RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa 2ª Diretoria de Desenvolvimento de Competências Serviço de Educação a Distância SUPERVISÃO Pedro Koshino CONTEUDISTA André Pachioni Baeta TRATAMENTO PEDAGÓGICO Flávio Sposto Pompeo RESPONSABILIDADE EDITORIAL Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Centro de Documentação Editora do TCU PROJETO GRÁFICO Ismael Soares Miguel Paulo Prudêncio Soares Brandão Filho DIAGRAMAÇÃO Herson Freitas Vanessa Vieira Brasil. Tribunal de Contas da União. Auditoria de obras públicas / Tribunal de Contas da União ; conteudista: André Pachioni Baeta. – Brasília, 2ed. : TCU, Instituto Serzedello Corrêa, 2012. 18 p. Conteúdo: Módulo 1: Orçamento de obras. Aula 5: Relação entre o orçamento e o planejamento de obras. Curso realizado em 2012 no Ambiente Virtual de Educação Corporativa do Tribunal de Contas da União. 1. Obras públicas – orçamento – Brasil. 2. Obras públicas – fiscalização – Brasil. I. Título. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Ministro Ruben Rosa © Copyright 2011, Tribunal de Contas de União <www.tcu.gov.br> Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte e sem fins comerciais. [ 3 ]Aula 5 Relação entre o Orçamento e o Planejamento de Obras Aula 5 – Relação entre Orçamento e Planejamento de Obras Como converter composições de custo unitário em composições de custo de produção horária? Qual a influência do prazo de execução no custo da obra? Como elaborar o cronograma físico-financeiro da obra a partir das composições de custo unitário? Em novembro de 2010, o Presidente Lula inaugurou as eclusas da Hidroelétrica de Tucuruí, uma das grandes obras do Programa de Aceleração do Crescimento. Após quase três décadas de obras, ocorridas durante o mandato de sete Presidentes da República e da gestão de vinte e um Ministros dos Transportes, enfim as eclusas de Tucuruí começaram a operar no Rio Tocantins, no Pará. Símbolo da dificuldade que o setor público tem para tirar obras públicas do papel, o empreendimento consumiu R$ 1,6 bilhões. A obra foi iniciada em 1981, no Governo do Presidente João Figueiredo. De lá pra cá, houve intermináveis interrupções e retomadas. O projeto sofreu, em vários momentos, com a falta de recursos no orçamento público e suspensão das obras por denúncias de irregularidades. A obra, inclusive, chegou a ser listada como prioritária no relatório final da Comissão Temporária das Obras Inacabadas do Senado Federal, instalada em 1995. A referida Comissão do Senado Federal inventariou as obras inacabadas em todo o país, custeadas com recursos federais, e identificou graves falhas em seu gerenciamento. Todavia, nem assim a obras das eclusas de Tucuruí andaram num ritmo adequado! Existem diversos outros exemplos semelhantes de obras concluídas com várias décadas de atraso. Para citar mais um caso, as obras civis da Usina Nuclear de Angra 2 foram contratadas e iniciadas em 1976. Entretanto, a partir de 1983, o empreendimento teve o seu ritmo progressivamente desacelerado devido à redução dos recursos financeiros disponíveis. Em 1991, o Governo decidiu retomar as obras de Angra 2, mas a composição dos recursos financeiros necessários à conclusão do empreendimento somente foi definida ao final de 1994, sendo então realizada em 1995 a concorrência para a contratação da montagem eletromecânica da Usina. Somente em 2001, a Usina de Angra 2 começou a operar comercialmente. [ 4 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS Outras grandes obras públicas ainda não viram luz no fim do túnel ou ficaram esquecidas na nossa história. Exemplos como o da rodovia Transamazônica ou da Ferrovia Madeira-Mamoré. Os atrasos na execução das obras apresentam diversas causas, como problemas ambientais, decisões judiciais embargando obras, problemas com desapropriações, falta de recursos orçamentários etc. Contudo, todos esses empreendimentos têm um problema em comum: a falta de planejamento. Diante do exposto nesta aula, aprofundaremos nosso estudo sobre as composições de custo unitário e verificaremos como o orçamento de uma obra se torna um dos principais insumos para o planejamento da sua execução. Por outro lado, decisões tomadas na fase do planejamento têm impacto direto no orçamento da obra. Pode-se dizer que a programação e a orçamentação da obra são atividades intimamente interdependentes. Aliás, o orçamento nada mais é do que uma das ferramentas do planejamento voltada para a previsão de receitas e despesas futuras. Enfim, será demonstrado como os cronogramas físico-financeiros das obras podem ser montados a partir do estudo das composições de custo unitário dos serviços. Além disso, também trataremos da importante relação entre o custo de uma obra e o prazo de execução. É de senso comum que quanto maior o prazo de execução de uma dada obra, maior será o preço total dela. Contudo, obras com prazo de execução exíguos também consomem mais recursos financeiros durante a fase de construção. Portanto, planejar é poupar dinheiro. Para facilitar o estudo, este tópico está organizado da seguinte forma: Aula 5 – Relação entre Orçamento e Planejamento de Obras ���������������������������3 1. Conversão de Composições de Custos Unitárias em Composições de Cus- tos de Produção Horária ���������������������������������������������������������������������������������������������������������6 2. A Importância das Composições de Custo Unitário para o Planejamento da Obra �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 13 3. O Impacto do Prazo de Execução no Custo da Obra ������������������������������������������ 18 Síntese �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 21 Referências bibliográficas ������������������������������������������������������������������������������������������������ 22 Existem diversas ferramentas e técnicas para a programação e planejamento de obras: redes Pert/CPM, Gráficos de Gantt, Curva S, Método da Linha do Balanço, Histogramas, etc. Não é o objetivo desta aula apresentar tais técnicas. Para aprofundamento no assunto, recomendamos a leitura do Livro “Planejamento, Orçamentação e Controle de Projetos e Obras”, de Carl Limmer, indicado na bibliografia desta aula. [ 5 ]Aula 5 Relação entre o Orçamento e o Planejamento de Obras Ao final desta aula, esperamos que você tenha condições de: • converter composições de custo horário em composições de custo unitário e vice-versa; • compreender o impacto do prazo de execução da obra no seu custo; e • elaborar cronogramas físico-financeiros de obras a partir das composições de custo unitário. Pronto para começar? Então, vamos. [ 6 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS 1. Conversão de Composições de Custos Unitárias em Composições de Custos de Produção Horária Composições de custo unitário são demonstrativos de como interagem os fatores de produção para a formação de um preço (venda) ou custo (produção). No Sicro-2 ou na tabela do DNOCS, por exemplo, as composições de custo unitário são compostas pela demonstração adicional do custo horário para equipamentos e mão de obra, posteriormente transformados para custo unitário por meio da divisão com a produção horária dessas equipes. Materiais, serviços agregadose transportes são considerados na sua forma unitária clássica. Por outro lado, em outros sistemas referenciais de preços, a exemplo do Sicro-3 ou do SINAPI, as composições de custo são puramente unitárias. As composições de custo com indicação da produção horária são bastante didáticas e permitem a fácil identificação da composição das equipes. Eventualmente, pode surgir a necessidade de se comparar composições de custo elaboradas com estas duas sistemáticas distintas. As composições de custo com produção horária também são mais adequadas para serem utilizadas na elaboração do cronograma físico- financeiro da obra, assunto abordado no tópico seguinte desta aula. Dessa forma, é apresentado um roteiro para obter as equipes mecânicas e as produções horárias a partir de composições de custo puramente unitárias. Tomando-se como exemplo a composição do Sicro-3 “Escav. Carga Transporte Mat.1ª Cat. DMT 1400 a 1600m – Cam. Serv. Em Leito Natural com carregamento e caminhão basculante de 10m³”, conforme tabela abaixo: Atenção! [ 7 ]Aula 5 Relação entre o Orçamento e o Planejamento de Obras Para obter as equipes mecânicas e as produções horárias devem ser executados os seguintes procedimentos: • identificar o equipamento líder, ou seja, aquele que comanda a produção. No caso em questão, é fácil perceber que a carregadeira de pneus é o equipamento líder, pois os caminhões só podem operar se forem carregados e o trator de esteira não pode trabalhar de forma independente e isolada das carregadeiras e caminhões, caso contrário o volume do material removido pelo trator pode acumular inviabilizando a continuidade dos trabalhos de escavação; • adotar para o equipamento líder a quantidade de uma unidade e utilização operativa de 100%, correspondendo a uma utilização improdutiva de 0%; • estimar a produção horária da equipe através da inversão do coeficiente do equipamento líder: 1 / 0,0047 = 212,8 m3/hora • multiplicar todos os coeficientes unitários pela produção adotada para encontrar as quantidades necessárias de equipamentos e mão de obra. Com os produtos calculados anteriormente, deve- se arredondar os números encontrados para maior e adotá-los como quantidade: Trator =>0,0043 x 212,8= 0,9149, adotar a quantidade de 1; Caminhão =>0,0278 x 212,8= 5,9149, adotar a quantidade de 6; Servente =>0,0140 x 212,8= 2,9787, adotar a quantidade de 3. • calcular a utilização operativa e improdutiva dos demais equipamentos, de acordo com as fórmulas: UO = CU . PA / Q UI = 1-UO Onde: UO - utilização operativa do equipamento; UI - utilização improdutiva do equipamento; CU - coeficiente unitário da composição em análise; PA - produção adotada na composição de custo unitário; Q - quantidade calculada de equipamentos. [ 8 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS Para o Trator: UOtrator = CU.PA/Q UOtrator = 0,0043 x 212,8/1 UOtrator = 0,9149 Então a utilização operativa do trator será de 0,91. UItrator = 1 - UOtrator adotada UItrator = 1 – 0,91 UItrator = 0,09 Então a utilização improdutiva do trator será de 0,09. Para o Caminhão: UOcaminhão = CU.PA/Q UOcaminhão = 0,0278 x 212,8/6 UOcaminhão = 0,9858 Então a utilização operativa do caminhão será de 0,99. UIcaminhão = 1 - UOcaminhão adotada UIcaminhão = 1 – 0,99 UIcaminhão = 0,01 Então a utilização improdutiva do caminhão será de 0,01. [ 9 ]Aula 5 Relação entre o Orçamento e o Planejamento de Obras O próximo passo é obter os custos operativos e improdutivos dos equipamentos, observando-se que os preços unitários apresentados na composição de custo unitário dado como exemplo são obtidos pela ponderação dos custos operativos e improdutivos dos equipamentos, multiplicados pelos respectivos coeficientes operativos e improdutivos. O custo horário operativo de cada equipamento pode ser obtido a partir da seguinte equação: Assim, para a carregadeira de pneus temos a seguinte equação (adotamos o custo improdutivo da carregadeira igual a R$ 12,00, correspondendo ao salário-hora do seu operador): 0,0047 x R$ 146,12 =1 x (1 x custo operativo + 0 x R$ 12,00) / 212,80 Resolvendo a equação obtemos o custo horário operativo da carregadeira de pneus igual a R$ 146,12. Realizando procedimento análogo para o caminhão basculante (adotamos o custo improdutivo da carregadeira igual a R$ 12,00, correspondendo ao salário horário do motorista): 0,0278 x R$ 100,01 = 6 caminhões x (0,99 x custo operativo + 0,01 x R$ 12.00) / 212,80 Resolvendo a equação, temos um custo horário operativo de R$ 99,48 para o caminhão. Para o trator de esteiras, realizando procedimento análogo, obtêm- se um custo horário operativo de R$ 279,84. Com base nos coeficientes operativos e improdutivos e respectivos custos operativos e improdutivos obtidos nos parágrafos precedentes, pode-se montar uma composição de custo com produção horária para o serviço “Escav. Carga Transporte Mat.1ª Cat. DMT 1400 a 1600m – Cam. Serv. Em Leito Natural com carregamento e caminhão basculante de 10m³”: [ 10 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS [ 11 ]Aula 5 Relação entre o Orçamento e o Planejamento de Obras O custo direto unitário obtido (R$ 4,76) difere ligeiramente do apresentado na composição de custo unitário do exemplo (R$ 4,74). Tal fato se deve a alguns arredondamentos e aproximações realizadas nos cálculos. Em outro exemplo, considera-se a composição de custo unitário extraída do Sicro-3 para o serviço de preparo e lançamento de um concreto Fck = 15 MPa: Vamos apresentar uma composição de custo com produção horária para o referido serviço, pois nesse exemplo, o método de resolução é ligeiramente diferente. Verifica-se haver uma proporção de 1:4 entre as horas de pedreiro e de servente. A equipe deve ser montada de forma a manter esta proporção com o menor número inteiro possível (não é possível alocar um número fracionário de profissionais para a equipe). Assim, a equipe ideal deve ser composta por 1 pedreiro e 4 serventes. É fácil constatar que uma equipe formada por uma proporção diferente terá algum profissional ocioso durante certo período. Uma equipe composta por 1 pedreiro e 3 serventes para o serviço em questão resultaria em serventes sobrecarregados e provavelmente em um pedreiro com algum período ocioso. Ao contrário, uma equipe composta por 1 pedreiro e 5 serventes, teria o pedreiro sobrecarregado e os serventes com algum período improdutivo. A produção horária da equipe de 1 pedreiro e 4 serventes é obtida de forma quase instantânea. Se 2 horas de pedreiro produzem 1 m3 de concreto, 1 hora de pedreiro resulta em 0,5 m3 de concreto. Essa é a produção horária da equipe. [ 12 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS A composição de custo com produção horária do referido serviço encontra-se apresentada a seguir: Observamos que o custo horário improdutivo da betoneira é zero, pois é um equipamento operado pelo servente, cujo custo já se encontra discriminado na composição de custo unitário. Os custos horários dos equipamentos serão tratados em outra aula. [ 13 ]Aula 5 Relação entre o Orçamento e o Planejamento de Obras 2. A Importância das Composições de Custo Unitário para o Planejamento da Obra O tempo de duração (ou prazo) de um empreendimento se reveste em um dos elementos fundamentais do seu planejamento. Ele é definido com base na duração de cada uma das atividades que compõe o empreendimento e no inter-relacionamento entre elas, que resulta da metodologia de execução definida. A duração de cada atividade é definida em função do tipo e da quantidade de serviço que a compõe, bem como em função da produtividade da equipe que a executa. Também pode ser estimada por profissional experiente, tomando como base obras similares executadas anteriormente. A duração de determinado serviço ou atividade “i”pode ser obtido a partir da fórmula: Ti = Qi/Pi, em que: Ti é a duração da atividade “i”; Qi é a quantidade de serviço a ser executado, obtido a partir do projeto ou do orçamento; Pi é a produtividade da equipe (mão de obra e equipamentos) que executa a atividade. Tomando-se, por exemplo, uma obra rodoviária na qual uma de suas etapas consiste em fazer a escavação de 254.000 m3 de material de segunda categoria, pode-se elaborar o planejamento da execução deste serviço a partir da seguinte composição de custo unitário extraída do Sicro2 do DNIT: [ 14 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS A produção horária da equipe mecânica é de 127 m3/hora. Assim, estima-se que uma equipe composta por uma motoniveladora, uma escavadeira hidráulica, cinco caminhões basculantes de 20 toneladas, um encarregado e três serventes execute o quantitativo contratual previsto para o serviço em aproximadamente duas mil horas de trabalho (254 mil m3 / 127 m3/hora). Se a equipe trabalha em média 200 horas por mês, serão necessários 10 meses para executar o quantitativo de serviço previsto com uma única equipe. Com base nos aspectos contratuais a serem observados pelo construtor, em especial os prazos contratuais de execução, deve ser elaborado o planejamento global da obra com base em técnicas consagradas: rede PERT/CPM, gráfico de Gantt, etc. Tal procedimento permitirá obter uma abordagem ótima de execução de toda a obra pelo construtor, observando-se a relação de precedência entre todos os serviços contratuais e o caminho crítico das atividades, composto pelos serviços cujo atraso na execução impacta no prazo de conclusão de todos os serviços subsequentes. Não é nosso objetivo apresentar as técnicas de planejamento geralmente empregadas na execução de obras. Contudo, espera-se demonstrar no presente tópico a utilização das composições de custo unitário no planejamento global da obra. Digamos que o planejamento da obra rodoviária indicou que o serviço de escavação de material de segunda categoria tem que ser concluído em apenas dois meses. Com base na composição de custo unitário do serviço, verificou-se que são necessários 10 meses de uma única equipe para concluir o serviço. Então, o construtor terá que optar entre mobilizar cinco equipes para execução deste serviço ou trabalhar com um número menor de equipes, porém, em vários turnos de trabalho. Nesse último caso, o arranjo escolhido pode contemplar uma série de alternativas. Se uma única equipe, trabalhando em um turno de trabalho, executa 25.400 m3 de escavação em um mês, pode produzir 50.800 m3 trabalhando em dois turnos ou 76.200 m3 trabalhando em três turnos de trabalho. Assim, o quantitativo de serviço contratual poderia ser executado integralmente por três equipes trabalhando em dois turnos de trabalho durante um mês e por duas equipes trabalhando em turno duplo durante o outro mês. Poderia também ser executado por duas equipes trabalhando em três turnos durante dois meses e por outra equipe trabalhando em turno único durante os dois meses. [ 15 ]Aula 5 Relação entre o Orçamento e o Planejamento de Obras A escolha entre a alternativa de mobilizar mais equipes ou de trabalhar em vários turnos envolve análises econômicas com vistas a minimizar o custo de execução dos serviços. O resultado ótimo a ser obtido depende dos seguintes dados: • o custo de mobilização de cada equipe; • o custo de manutenção das equipes no canteiro, incluindo custos com implantação de alojamentos, oficinas para equipamentos, alimentação, transporte e EPIs dos trabalhadores; e • encargos adicionais incidentes sobre os salários dos trabalhadores no segundo e terceiro turnos, em especial adicional noturno e horas-extras. Se o exercício aqui realizado para o serviço de escavação for repetido para todos os demais serviços da obra, será obtido o cronograma físico financeiro dela. A elaboração do cronograma físico-financeiro é obrigatória pela Lei 8.666/93, pois tal peça apresenta informações vitais para o acompanhamento contratual, influindo inclusive na programação orçamentária e financeira do órgão contratante. A figura a seguir apresenta um exemplo sintético de um cronograma físico-financeiro para uma obra de edificação: [ 16 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS Na figura apresentada, observa-se que as linhas apresentam os serviços ou atividades a serem realizadas na obra, já as colunas apresentam os meses de duração dela. A última coluna e a última linha da primeira tabela apresentam a totalização por atividade e por mês, respectivamente. Nessa primeira tabela, as colunas mensais apresentam duas informações: o percentual de execução do serviço e o valor executado no mês. Na segunda tabela, é apresentado um cronograma de barras (ou gráfico de Gantt), em que as células na cor azul apresentam os serviços em execução no mês e as células na cor amarela indicam que não há previsão de execução da atividade no mês. A análise conjunta de todos os serviços da obra também permite conhecer os efetivos de todos os profissionais e a relação de equipamentos a serem mobilizados para a obra. Tais dados revestem-se de importância fundamental para o dimensionamento das diversas instalações do canteiro de obras e para a elaboração do próprio orçamento, pois as estimativas dos custos de administração local da obra e de mobilização e desmobilização são alimentadas com base nos efetivos de mão de obra e de equipamentos obtidos com base no procedimento apresentado. Também serão obtidos os quantitativos totais de cada um dos materiais a serem aplicados na obra para cada mês de execução, permitindo que a gerência da obra elabore um plano de aquisição de insumos e inicie negociações de preços e prazos junto aos fornecedores. A representação gráfica dos contingentes de mão de obra, materiais ou equipamentos a serem mobilizados para execução dos serviços se dá por meio de histogramas. A figura a seguir apresenta um exemplo de histograma de mão de obra tipicamente observado em uma obra de grande porte. O diagrama de Gantt é um instrumento que permite modelar a planificação de tarefas necessárias para a realização de um projeto. Num diagrama de Gantt cada tarefa é representada por uma linha, enquanto as colunas representam os dias, semanas ou meses do calendário de acordo com a duração do projeto. O tempo atribuído a uma tarefa modela-se por uma barra horizontal cuja extremidade esquerda é posicionadas sobre a data prevista de início e a extremidade direita sobre a data prevista para o fim da atividade. As tarefas podem ligar-se sequencialmente ou ser executadas em paralelo. Histograma de mão de obra 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Mês Q ua nt id ad e de tr ab al ha do re s [ 17 ]Aula 5 Relação entre o Orçamento e o Planejamento de Obras No início da obra, o contingente de mão de obra começa pequeno, pois o canteiro da obra ainda está em implantação e apenas alguns serviços preliminares estão em execução. Com o desenvolvimento dos projetos e a abertura de novas frentes de serviço, o contingente de mão de obra tende ir aumentando gradativamente até atingir um máximo. A partir daí, na medida em que as parcelas e etapas da obra forem sendo finalizadas, o contingente de trabalhadores vai sendo dispensado, caso não seja alocado em outras atividades, reduzindo-se a zero até o término completo da obra. É comum a apresentação de histogramas de mão de obras com duas barras mensais, uma indicando o contingente previsto e outra indicando o contingente efetivamente realizado. A figura a seguir apresenta esse tipo de histograma. Observa-se, também, que concavidades devemser evitadas na execução do planejamento da obra e na montagem dos histogramas. Uma concavidade significa que, após atingir um máximo relativo, parte do contingente de trabalhadores teve que ser demitido e, após alguns meses, recontratado. Trata-se, assim, de um gasto inútil com mobilização/ desmobilização ou demissão/contratação de trabalhadores que poderia ser evitado com um rearranjo no planejamento da obra. No gráfico a seguir, pode-se visualizar que houve dispensas de trabalhadores nos meses de outubro/2008 a março/2009 e julho/2009 a março/2010. [ 18 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS 3. O Impacto do Prazo de Execução no Custo da Obra O custo de um projeto varia em função do tempo, sendo interessante conhecer esta variação a fim de computá-la no orçamento do projeto. No processo de execução de uma obra existem custos variáveis e custos fixos. Os custos variáveis oscilam, de forma linear, em função da quantidade produzida, dentro de uma determinada escala de produção. Os custos fixos ocorrem independentemente da quantidade produzida. Alguns autores ainda apresentam uma terceira classificação dos custos de acordo com o volume de produção. Os denominados custos semivariáveis oscilam em função da quantidade produzida, porém de forma não linear. Assim, um acréscimo de 20% na quantidade produzida de um determinado produto corresponde a uma variação diferente de 20% no custo de produção. Esse tipo de custo tem características tanto de custo fixo como de custo variável, sendo, por isso, o tipo mais frequente em projetos de construção civil. Para se executar uma atividade em menor prazo, devem-se utilizar mais certos recursos, tais como mão de obra. Pode-se lançar mão de horas extras, prolongando a jornada diária de trabalho, ou realizar a atividade em mais de um turno de trabalho. O custo variável da mão de obra aumentará, não só porque o número de obras trabalhadas aumentará, mas também porque incidirão encargos sociais maiores sobre as obras trabalhadas (horas-extras e adicional noturno). Também, conforme será visto na próxima aula, espera-se que a produtividade da mão de obra decresça um pouco, em função da fadiga da mão de obra. A execução de uma obra em menor prazo pode ensejar a necessidade de mobilização de maior contingente de mão de obra ou de equipamentos para a execução dos serviços, aumentando a parcela de custo com mobilização/desmobilização da obra, bem com exigindo a construção de um canteiro de obras dotado de maior quantidade de alojamentos e demais aparatos para comportar o aumento da mão de obra. A aglomeração de grande contingente de trabalhadores e equipamentos também é fator que causa perda de produtividade da mão de obra, ajudando a incrementar os custos da obra. Em contrapartida, espera-se que a diminuição do prazo de execução de uma tarefa traga economia aos custos fixos da obra, sendo o mais relevante deles o custo de administração local da obra, abrangendo as [ 19 ]Aula 5 Relação entre o Orçamento e o Planejamento de Obras despesas de toda a mão de obra indireta do canteiro de obras, os custos com alimentação, transporte e equipamentos de proteção individual e coletiva dos trabalhadores, bem como despesas com consumos do canteiro de obras (água, luz, gás, telefone, material de limpeza etc.). Por outro lado, o aumento do prazo de execução de uma obra proporciona redução dos custos variáveis, ao passo que ocorre um incremento dos custos fixos. A relação tempo-custo em projetos encontra-se representada na figura a seguir: Assim, observa-se haver um prazo ótimo para execução do empreendimento, no qual o custo de execução é mínimo. A aceleração da obra a partir deste prazo ótimo de execução causa um incremento no seu custo devido aos fatores já elencados acima: • maiores despesas com mobilização/desmobilização; • perdas de produtividade da mão de obra devido à fadiga e aglomeração de trabalhadores; • aumento dos encargos sociais decorrentes do pagamento de horas extras e adicional noturno; e • aumento dos custos de instalação do canteiro de obras. [ 20 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS Ressalte-se que o gráfico anterior não considera os ganhos de receita decorrentes da antecipação do empreendimento. Em alguns tipos de projetos é economicamente vantajoso antecipar ao máximo o prazo de implantação, mesmo que o custo do investimento aumente significativamente. É o que se verifica rotineiramente em obras da indústria petrolífera ou em obras do setor elétrico, pois ambos os tipos de empreendimento geram grandes receitas operacionais, compensando com ampla margem o aumento do custo de implantação. Outras tipologias de obras públicas, notadamente aquelas que não geram receitas ou algum outro tipo de benefício social relevante, deveriam ser executadas no prazo ótimo, quando o custo de implantação é mínimo. Jamais se deve planejar a execução de uma obra além do prazo ótimo, pois há um aumento do custo e do prazo de implantação do projeto. Infelizmente, porém, é nesse cenário que as obras públicas no Brasil são efetivamente executadas. Aumentar o prazo de execução a partir do seu ótimo, causa o aumento do custo da obra principalmente por conta da manutenção dos custos fixos, em especial os custos com a administração local da obra e com a manutenção e operação do canteiro de obras. A interrupção e retomada da obra pode gerar um efeito ainda mais nefasto sobre o custo, obrigando o contratante a arcar com o ônus de nova mobilização/desmobilização da obra e de deterioração de serviços já concluídos. [ 21 ]Aula 5 Relação entre o Orçamento e o Planejamento de Obras Síntese Nesta aula, demonstramos como o processo de planejamento da obra está associado ao processo de orçamentação. Apresentamos o processo de conversão de composições de custo unitário em composições de custo com produção horária e como estas últimas podem ser utilizadas para a montagem do cronograma físico- financeiro e dos histogramas de insumos. Também apresentamos a relação existente entre o custo e o prazo de execução da obra. Agora é hora de exercitar os conceitos aprendidos e de discuti-los no nosso fórum. [ 22 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS Referências bibliográficas Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Manual de Custos de Infraestrutura de Transportes, 2008, Volume 1 – METODOLOGIA E CONCEITOS. Departamento Nacional de Obras contra as Secas – DNOCS, Elaboração e Implantação de Composições de Custos Unitários de Obras e Serviços de Engenharia Executados pelo DNOCS, Dezembro/2003. LIMMER, Carl V., Planejamento, Orçamentação e Controle de Projetos e Obras. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1997. Senado Federal, Comissão Temporária das Obras Inacabadas, Relatório final nº 2/1995, disponível em http://www.senado.gov.br/atividade/ materia/getPDF.asp?t=56461&tp=1.
Compartilhar