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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA LICENCIATURA PLENA EM LETRAS ESPANHOL LIBRAS CONHEÇA ESSA LÍNGUA Margareth Torres de Alencar Costa Maria da Luz Ribeiro da Silva FUESPI 2014 Ficha elaborada pelo Serviço de Catalogação da Biblioteca Central da UESP Maria do Socorro de Sousa (Bibliotecária) – CRB-3/1294 Costa, Margareth Torres de Alencar. Libras: conheça essa língua / Margareth Torres de Alencar Costa, Maria da Luz Ribeiro da Silva. – Teresina: FUESPI, 2013. 134p. Material de apoio pedagógico ao curso de Licenciatura Plena em Letras Espanhol do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí – NEAD / UESPI, 2013 . 1. Libras – Estudo e ensino. 2. Deficiência auditiva – Inclusão. 3. Libras - Materiais didáticos I. Silva, Maria da Luz Ribeiro da. II. Título. CDD: 419 C8373l Ficha elaborada pelo Serviço de Catalogação da Biblioteca Central da UESP Maria do Socorro de Sousa (Bibliotecária) – CRB-3/1294 Costa, Margareth Torres de Alencar. Libras: conheça essa língua / Margareth Torres de Alencar Costa, Maria da Luz Ribeiro da Silva. – Teresina: FUESPI, 2013. 134p. Material de apoio pedagógico ao curso de Licenciatura Plena em Letras Espanhol do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí – NEAD / UESPI, 2013 . 1. Libras – Estudo e ensino. 2. Deficiência auditiva – Inclusão. 3. Libras - Materiais didáticos I. Silva, Maria da Luz Ribeiro da. II. Título. CDD: 419 C8373l ISBN 978-85-8320-043-7 2014 2014 Presidente da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação José Henrique Paím Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC Celso José da Costa Governador do Piauí Wilson Nunes Martins Secretário Estadual de Educação e Cultura do Piauí Átila de Freitas Lira Reitor da FUESPI – Fundação Universidade Estadual do Piauí Nouga Cardoso Batista Vice-reitora da FUESPI Bárbara Olímpia Ramos de Melo Pró-reitora de Ensino e Graduação – PREG Ailma do Nascimento Silva Coordenadora da UAB-FUESPI Margareth Torres de Alencar Costa Coordenadora Adjunta da UAB-FUESPI Naira Lopes Moura Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação – PROP Diógenes Buenos Aires de Carvalho Pró-reitor de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX Luís Gonzaga Medeiros Figueredo Júnior Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD Geraldo Eduardo da Luz Junior Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN Benedito Ribeiro da Graça Neto Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Letras Espanhol – EAD Leiliane de Vasconcelos Silva Edição UAB - FNDE - CAPES FUESPI/NEAD Diretora do NEAD Margareth Torres de Alencar Costa Diretora Adjunta Naira Lopes Moura Coordenadora do Curso de Licenciatura Plena em Letras – Espanhol Leiliane de Vasconcelos Silva Coordenador de Tutoria José Cledinaldo dos Santos Coordenadora de Produção de Material Didático Silvana Maria Pantoja dos Santos Autoras do Livro Margareth Torres de Alencar Costa Maria da Luz Ribeiro da Silva Revisão Estélio Silva Barbosa Teresinha de Jesus Ferreira Diagramação Pedro Leonardo de Sousa Magalhães Capa Luiz Paulo de Araújo Freitas Fonte da imagem: <http://inss.nireblog.com> MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/FUESPI UAB/FUESPI/NEAD Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá), NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150, Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182 Web: ead.uespi.br E-mail:eaduespi@hotmail.com SUMÁRIO Unidade 1 - O surdo ................................................................................. 7 1. O surdo ................................................................................................. 9 1.1 Conceito de surdez ........................................................................... 10 1.2 Níveis de surdez ................................................................................ 11 1.2.1 A Classificação do Grau de Perdas Auditivas.................................. 12 1.3 História do surdo ............................................................................... 15 1.4 O surdo na família ............................................................................. 17 1.5 O surdo na sociedade ........................................................................ 19 1.6 As identidades e culturas surdas ....................................................... 20 Unidade 2 - O surdo na educação ........................................................ 27 2 O surdo na educação ........................................................................... 29 2.1 A história da educação do surdo no mundo e no Brasil ..................... 29 2.2 Aspectos Legais pertinentes e vigente sobre LIBRAS ....................... 33 2.3 Métodos ou filosofias educacionais utilizadas na educação do surdos .... 34 2.3.1 O oralismo ...................................................................................... 36 2.3.2 Bilinguismo ..................................................................................... 36 2.3.3 comunicação total ........................................................................... 38 2.4 A importância da Língua de Sinais na educação do surdo ................ 38 2.5 A língua portuguesa na educação do surdo do Brasil ........................ 39 2.6 A lei 10.436 .2002 e o Decreto Lei 5.626.2005 ................................. 41 Unidade 3 - Libras – conceitos e mitos ................................................ 63 3 Libras - conceitos e mitos ......................................................................65 3.1 O que é LIBRAS? .............................................................................. 65 3.2 Mitos sobre a Língua de Sinais ......................................................... 65 3.2.1 A língua de sinais é universal? ........................................................ 66 3.2.3 Surdo, surdo-mudo ou deficiente auditivo? ..................................... 67 3.2.4 O surdo não fala porque não ouve? ................................................ 68 3.2.5 O uso da língua de sinais atrapalha aaprendizagem da língua oral? .... 68 3.2.6 Todos os surdos fazem leitura labial? ............................................. 69 3.2.7 A surdez é um problema para o surdo? .......................................... 70 3.2.8 A surdez é hereditária ...................................................................... 70 3.2.9 Há diferentes tipos e graus de surdez? .......................................... 71 3.2.10 A surdez compromete o desenvolvimento cognitivo-linguístico do in- divíduo? ................................................................................................... 71 3.2.11 Qualquer membro da família de surdo que convive com surdo, pode ser intérprete? .......................................................................................... 72 Unidade 4 - Libras e sua estrutura gramatical .................................... 75 4 Libras e sua estrutura gramatical ......................................................... 77 4.1 Gramática da libras ............................................................................. 77 4.2 Linguística da Libras ........................................................................... 79 4.3 Os parâmetros da língua de sinais são .............................................. 80 4.4. O sistema de transcrição para a libras .............................................. 83 4.5 Alfabeto Manual de LIBRAS .............................................................. 86 4.6 Saudações ......................................................................................... 87 4.7 Numerais ............................................................................................ 88 4.8 Indicadores temporais: Advérbios de tempo e Sinais relacionados ao ano sideral ............................................................................................... 89 4.8.1 Dias da Semana ............................................................................. 89 4.8.2 Advérbios de Tempo ....................................................................... 90 4.8.3 Meses do ano ................................................................................. 91 4.9 Pronomes .......................................................................................... 92 4.9.1 Pronomes Pessoais ........................................................................ 92 4.9.2 Pronomes possessivos ................................................................... 97 4.9.3 Pronomes demonstrativos e advérbio de lugar .............................. 98 4.9.4 Pronomes e expressões interrogativas .......................................... 99 Unidade 5 - Tipos de frases na libras e sinais relacionados ao dia- a-dia ................................................................................................... 107 5 Tipos de frases na Libras e sinais relacionados ao dia-a-dia ............. 109 5.1 Tipos de frases na LIBRAS ...............................................................109 5.1.1 Forma afirmativa: a expressão facial é neutra ...............................109 5.1.2 Forma interrogativa: sobrancelhas franzidas e um ligeiro movimento da cabeça inclinando-se para cima ........................................................109 5.1.3 Forma exclamativa: sobrancelhas levantadas e um ligeiro movimento da cabeça inclinando--se para cima e para baixo. Pode ainda vir também com um intensificador representado pela boca fechada com um movimento para baixo ............................................................................................... 110 5.1.4 Forma negativa: a negação pode ser feita através de três processos ...110 5.1.5 Forma negativa / interrogativa: sobrancelhas franzidas e aceno da cabeça negando ..................................................................................... 112 5.1.6 Forma exclamativa / interrogativa .................................................. 112 5.1.7 A forma condicional – “si” ( “se” ) .................................................. 112 5.2. Sinais relacionados ao dia-a-dia ..................................................... 113 5.2.1 Sinais relacionados a Escola ........................................................ 113 Referências Bibliográficas ...................................................................129 UNIDADE 1 O SURDO OBJETIVOS • Analisar a origem da palavra surdez e sua repercussão na família, sociedade e seus desdobramentos na sociedade e cultura. • Compreender como se dá a surdez. • Reconhecer os níveis de surdez. • Conhecer a história do surdo e sua repercussão na sociedade e na família. • Conhecer também as identidades e culturas do surdo. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 9 1. O surdo Nessa unidade, nosso foco será o sujeito surdo. De início abordaremos o conceito de surdez enquanto deficiência e seus níveis. Também estudaremos sobre o surdo: sua história, identidades ou culturas, na família e na sociedade. Surdo, de acordo com o Art. 2o do decreto 5.626/2005, considera-se pessoa surda: “...aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras.” http://profsurdogoulao.no.sapo.pt/surdo.jpg Mesmo com a atual expansão da LIBRAS, sabe-se que ainda existem muitos surdos que não sabem se comunicar por este meio, mas usando de sinais chamados de caseiros, ou seja, sinais adequados à família e amigos próximos. Libras - Conheça essa língua 10 1.1 Conceito de surdez Deficiência auditiva ou surdez é a incapacidade parcial ou total de audição. Pode ser de nascença ou causada posteriormente por doenças, como por exemplo, nos casos de: rubéola, sífilis, citomegalovírus, má formação da cabeça a pescoço, herpes simples, hiperbilirrubinemia, baixo peso (< 1500 gr), meningite, hereditário (síndrome e fator familiar). http://1.bp.blogspot.com/__k3tItDbAjM/SF6P7FVUQMI/AAAAAAAAAB0/ es8j6xTuQPg/s400/surdez.jpg Surdez pode ser definida segundo três pontos de vista: médico, educacional ou cultural. Considera-se normal quando a pessoa ouve bem o tic-tac de um despertador (som de zero a 20 decibéis). Em termos médicos, a surdez é categorizada em níveis do ligeiro ao profundo. É também classificada de deficiência auditiva, ou hipoacúsia. Já do ponto de vista educacional, surdez refere-se à incapacidade de a criança aprender a linguagem por via auditiva e ter um desempenho acadêmico. E do ponto de vista cultural, surdez é descrita como diferença linguística e identidade cultural, a qual é partilhada entre indivíduos surdos. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 11 Vejamos os níveis de surdez http://www.ressoar.org.br/images/home_dia_nacional_da_surdez_st.jpg 1.2 Níveis de surdez A revista da série Audiologia do INES (2005, p. 32-34) exalta os tipos de perda auditiva, que é o distúrbio da audição, diminuição da capacidade auditiva em diferentes graus de intensidade, podendo ser de caráter transitório ou definitivo, estacionário ou progressivo. Essas perdas podem ser do tipo: 1- Perda Auditiva Condutiva: Proveniente de patologias na orelha externa e/ou média, sendo, na maioria das vezes, passíveis de tratamento medicamentoso e/ou cirúrgico. Alguns exemplos: otites, otosclerose, perfuração timpânica. 2- Perda Auditiva Sensorioneural: proveniente de lesões na orelha e/ou a nível central, sendo do tipo irreversível 3- Perda Auditiva Mista: Proveniente de alterações nas orelhas externas e/ou média, além da orelha interna. Como alterações, podemos citar a ostosclerose coclear e as otites associadas a lesões de orelha interna. Libras - Conheça essa língua 12 1.2.1A Classificação do Grau de Perdas Auditivas Essa classificação pode-se verificar sobre dois pontos de vista: o médico e o educacional. Do ponto de vista médico, I – Segundo Padrão ANSI (1969) constam as seguintes classificações, conforme revista da série Audiologia (2005, p.35 – 36): CLASSIFICAÇÃO MÉDIA DA PERDA AUDITIVA Normal 0 a 25 dB Leve 26 a 40 dB - não tem efeito significativo no desenvolvimento. Escuta os sons, desde que estejam um pouco mais alto. Moderada 41 a 55 dB - pode interferir no desenvolvimento da fala e linguagem, mas não chega a impedir que o individuo fale. Tem dificuldade de ouvir ao telefone e do tic-tac do despertador. Acentuada 56 a 70 dB - não escuta sons importantes do dia-a-dia. Não consegue ouvir o tocar do telefone, campainha, já a televisão, somente com o som bem elevado ou apoio visual para que haja entendimento. Severa 71 a 90 dB - interfere no desenvolvimento da fala e linguagem, mas com o uso de aparelho auditivo poderá receber informações utilizando a audição para o desenvolvimento da fala e linguagem. Escuta sons fortes como latido do cachorro, avião etc. mas é incapaz de escutar a voz humana. Profunda Acima de 90 dB - sem intervenção a fala e a linguagem dificilmente irão ocorrer. A pessoa só ouve ruídos (vibrações) como os provocados por um a turbina de avião, disparo de revólver e tiro de canhão. Fonte:Revista Série Audiologia do INES (2005) FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 13 Veja a tabela de frequência de ruídos: http://www.aparelhosauditivosecia.com.br/aparelhosauditivos_arquivos/grau- perda-auditivas.jpg Do ponto de vista educacional, ilustramos as informações dadas pelo MEC Educação Especial Deficiência Auditiva Vol. I (1997, p. 53-54), do ponto de vista educacional e com base na classificação do Bureau Internacional d’Audiophonologie-BIAP, e na Portaria Interministerial nº 186 de 10/03/78, considera-se: Libras - Conheça essa língua 14 PARCIALMENTE SURDO SURDO a) Surdez leve a) Surdez severa • Aluno com perda auditiva de até 40 decibéis; • Não distingue igualmente todos os fonemas; • Voz fraca ou distante é imperceptível; • A perda não impede a aquisição normal da linguagem, porém...; • ... pode causar problema articulatório ou dificuldade na leitura e/ou escrita; • Aluno pode ser considerado desatento. • Aluno com perda auditiva entre 70 e 90 decibéis; • Percebe apenas alguns ruídos familiares; • Percebe apenas voz forte; • Pode chegar até aos 4 ou 5 anos sem aprender a falar • A criança pode adquirir a linguagem, se a família estiver bem orientada pela área educacional. • Compreensão verbal dependerá em grande parte da aptidão para utilizar a percepção visual. b) Surdez moderada b) Surdez profunda • Aluno com perda auditiva entre 40 e 70 decibéis; • A voz, para ser percebida, precisa ter certa intensidade; • Pode ocorrer atraso na linguagem e alterações articulatórias; • Em geral, identifica as palavras significativas; • Dificuldade na compreensão de certos termos de relação e/ou frases gramaticais complexas. • Aluno com perda auditiva acima de 90 decibéis. • Perca grave; • Não consegue perceber a voz humana; • Não adquire a linguagem oral de forma natural; • Não adquire a fala como instrumento de comunicação, uma vez que, não a percebe, não se interessa por ela, por não ter “feedback” auditivo; • Aluno precisará receber atendimento especializado. No item anterior, vimos as várias abordagens da surdez, levando em consideração o ponto de vista médico e o educacional. Agora, passaremos aos estudos sobre como era a vida do surdo em várias épocas, no mundo. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 15 1.3 História do surdo A abordagem de Márcia Honora e Mary Frizanco (2009:19 a 21) afirma que o surdo era tratado como um ser sem alma. Antiguidade A educação dos surdos variava de acordo com a concepção que se tinha deles. Para os gregos e romanos, em linhas gerais, o Surdo não era considerado humano, pois a fala era resultado do pensamento. Logo, quem não pensava não era humano. Não tinha direito a testamentos, à escolarização e a frequentar os mesmo lugares que os ouvintes. Até o século XII, os surdos eram privados até mesmo de se casarem. Idade Média A Igreja Católica teve papel fundamental na discriminação no que se refere às pessoas com deficiência, já que para ela o homem foi criado à “imagem e semelhança de Deus”. Portanto, os que não se encaixavam neste padrão eram postos à margem da sociedade, não sendo considerados humanos. Entretanto, isso incomodava a Igreja, principalmente em relação às famílias abastadas. http://4.bp.blogspot.com/_ o4qow7OuiIs/TAGm8t9ClaI/ AAAAAAAAAjc/XAU8UnuCozo/ s640/2009_11_HS_01.jpg http://4.bp.blogspot.com/_TmjZEaJB7wk/ SwxrZ0-GA0I/AAAAAAAAAMk/-4le9KUx- mjY/s1600/enfant_sauvage.jpg Libras - Conheça essa língua 16 Para que o circulo não fosse rompido, a Igreja passou a se preocupar em instruir os Surdos nobres. Possuindo uma língua, eles poderiam participar dos ritos, dizer os sacramentos e, conseqüentemente, manter suas almas imortais. Além disso, não perderiam suas posições e poderiam continuar ajudando a Santa Madre Igreja. Idade Moderna Os nobres, que tinham em sua família um descendente surdo, começaram a educá-lo, pois os primogênitos surdos não tinham direito à herança se não aprendessem a falar, o que colocava em risco toda a nobreza da família. Se falassem teriam garantidos sua posição e seu reconhecimento como cidadão. Até o século XV, os Surdos – bem como todos os outros deficientes – tornaram- se alvo da Medicina e da religião. A primeira estava mais interessada em suas pesquisas e a segunda, em promover a caridade com pessoas tão desafortunadas, pois para ela a doença representava punição. No século XVI, a grande revolução se deu pela concepção de que a compreensão da idéia não dependia da audição de palavras. No século XVII, era percebido o grande interesse que os estudiosos tinham pela educação dos Surdos, principalmente porque tinham descoberto que esse tipo de educação possibilitava ganhos financeiros, pois as famílias abastadas que tinham descendentes Surdos pagavam grandes fortunas para que seus filhos aprendessem a falar e escrever. http://1.bp.blogspot.com/_ mobhLXJIvbI/SYUOohXnmLI/ AAAAAAAAAGI/2B75BgtvviA/s320/ AbbeEpee01g.jpg FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 17 Idade Contemporânea O médico-cirurgião francês, Jean-Marc Itard (1775-1838), residente do Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris, em 1814, seguia as concepções do filósofo Condillac, dentre elas, tem-se a de que exigia a erradicação ou a “diminuição” da surdez para que o surdo tivesse acesso ao conhecimento. Com essa visão, Itard passou 16 anos tentando entender as causas da surdez e nessa busca incessante, de início, descobriu que a causa não era visível, depois dessa descoberta passou a dissecar cadáveres de Surdos, como também, a dar descargas elétricas em seus ouvidos, usar sanguessugas para provocar sangramentos e furar as membranas timpânicas de alunos, fazendo com que um deles fosse levado à morte e outros tivessem fraturas cranianas e infecções devido às suas intervenções. Somente depois de todas essas tentativas para tentar oralizar o surdo é que Itard viu que só através da língua de sinais é que poderiam ser educados. Por conta da história dramática ou calvário por que passaram no passado, em que algumas vezes, foram usados, por se sentirem deslocados ou postos em situações desconfortáveis diante da sociedade, é que os surdos em sua maioria, são desconfiados com ouvintes,convivem em guetos, preferem estudar com os iguais e casar entre si. A família é a base para o bom desenvolvimento cognitivo, afetivo e social de qualquer ser humano. O apoio familiar é tudo para a vida da pessoa. Vejamos a seguir a importância da família na vida do surdo quando os membros aprendem a lidar com o problema. 1.4 O surdo na família Quando os pais estão à espera do bebê que vai nascer, geralmente ficam na maior expectativa de como será, se nascerá saudável etc. Porém quando se descobre que aquele bebezinho que mesmo aparentando ser perfeito tem surdez, nem toda família consegue manter-se unida, podendo assim, passar por várias mudanças, geralmente pela falta de conhecimento a respeito da surdez, como ilustra o trecho que trata da educação especial. Libras - Conheça essa língua 18 Quando um dos membros da família nasce surdo, essas mudanças podem ser acrescidas de outras, às vezes muito mais traumáticas: muita tensão e ansiedade, possibilidade de surgimento de conflitos e até mesmo a desintegração familiar. (MEC- Educação Especial: Série Deficiência Auditiva – Vol I - fascículo 2: 1997: 100) De acordo com (MEC 1997: 101 - 103) as fases por que passa a família são: - Choque: sentimento que os pais experimentam quando são informados que o filho é surdo, passando por vários sentimentos fortes e opostos, ficam confusos e sem ação. Nessa fase geralmente ocorre: a ansiedade, raiva e/ou negação, culpa, depressão, preconceito e a rejeição ou superproteção. - A reação: é quando surgem vários sentimentos de conflitos psíquicos – decepção, frustração, ansiedade, impotência, incapacidade, revolta, culpa, entre outras. É fácil perceber esta realidade lendo o depoimento de Armando, um surdo, que nasceu com paralisia facial e sem as orelhas. Conforme Ângela e Armando, (2008, p. 59) Havia muita tristeza em casa quando de minha chegada da maternidade. Apesar de ser um caso raro na medicina da época, recebi alta dois dias depois do nascimento. Segundo o relato de minha mãe, o silêncio médico... uma constante... um silêncio barulhento, denotava a falta da necessária e fundamental sensibilidade para a situação e do conhecimento que promove as mudanças no mundo. Era uma incerteza atroz diante do inesperado; enfim, não se sabia o que realmente fazer em relação à minha pessoa. - A adaptação: fase na qual a família do surdo começa a receber informações de fonoaudiólogos, psicólogos, professores, outros pais, professores, etc, e com isso, aprendem a lidar com a criança e a encarar o problema de forma mais realista. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 19 - A fase da orientação: com as orientações recebidas por vários profissionais e a própria experiência, os pais começam assimilar conhecimentos e já procuram serviços oferecidos pela comunidade em que possa ajudar no desenvolvimento cognitivo, educacional, afetivo e social, como também os direitos dos surdos. Os pais precisam de apoio profissional para lidar com a situação e apoiar o filho com os problemas que terá que enfrentar, seja no meio familiar, educacional, profissional ou social, desde o preconceito até as suas limitações, conforme ilustra o trecho retirado do MEC- Educação Especial: Série Deficiência Auditiva – Vol I - fascículo 2. (1997, p. 111): “Os membros da família, quando conscientes das questões relacionadas à deficiência auditiva, aprendem a lidar com as dificuldades dela decorrentes, buscando formas alternativas de ajustamento.” O item a seguir, tratará de expor as dificuldades que os surdos passam para se socializarem. 1.5 O surdo na sociedade É comum as pessoas consideradas “normais” não se aproximarem de alguém que seja surdo, geralmente não por medo, mas pelo fato do desconhecimento com a surdez, ou por não saberem como lidar com eles, como se comunicar, porém existe também em algumas situações o preconceito e com isso tudo acaba gerando o afastamento do surdo do meio social, passando a se isolarem ou mesmo a viverem em grupos, em guetos. A rejeição se dá mais ainda quando o surdo não tem apoio familiar ou recursos para prover-lhes bons fonoaudiólogos que lhes ajudarão na aquisição da fala ou mesma da língua de sinais. Hoje em dia com expansão do conhecimento da LIBRAS, essa barreira de o surdo se comunicar com o ouvinte está sendo quebrada, pois muitas pessoas, tanto surdos como ouvintes, já começaram a adquirir esse conhecimento e com isso ajudando-os a se entenderem, ou seja, essa comunicação já está mais acessível, lendo o relato de Armando, surdo, relata sobre a importância da sua família para ajudá-lo a superar os problemas causados pelos preconceitos e limitações: Libras - Conheça essa língua 20 Se há algo que eu posso destacar, mais fortemente, com relação à família quando da época de minha primeira infância, segundo o relato da professora Adyr Thereza, é o sentimento que a acompanhava no sentido de minimizar os problemas que poderiam advir de minha condição de diferente. Até esteticamente, eu tinha nítido o diferencia. Por onde eu andava, era notado. Eu era o diferente... Evidentemente diferente. Como eu ainda não tinha a devida noção disso, o problema era vivenciado, única e exclusivamente, por meus familiares e seus amigos que apareciam, vez por outra, antever o maior dos problemas, que não tardaria a chegar. A minha consciência da diferença... de ser diferente. Preocupavam-se com o fato de eu vir a sofrer por causa disso. E, de fato, sofri. (Angela e Armando, Ouvindo o silêncio: 2008: 60) Refletindo sobre o depoimento do Armando, pode-se constatar o quanto é importante o apoio familiar na vida do surdo para lidar com a surdez, e sua inserção na sociedade. Atualmente os surdos já estão começando a conquistar seu espaço na sociedade, com mais direitos na área da educação, saúde e trabalho, isso pode ser constatado pela quantidade de surdos que já encontramos pelas ruas, nas escolas, faculdades, etc, coisas que até pouco tempo era raro, pois muitas vezes por vergonha ou por falta de conhecimentos, a maioria das famílias mantinha seus filhos surdos afastados da sociedade. Por conta dessas mudanças é que Gladis Perlin (1998), surda não nativa, descreve as várias identidades e culturas dos surdos de acordo com a vivência deles ou não na sociedade, ou seja, ela descreve e subdivide as múltiplas identidades surdas em cinco categorias. Vejamos. 1.6 As identidades e culturas surdas De acordo com Perlin (1998 apud Skliar (org.) 2005, p. 62-67) mesmo existindo múltiplas identidades surdas, observa-se http://4.bp.blogspot.com/_e_ C1T44oI7o/TQkl2bG0nEI/ AAAAAAAAAAc/BtDzNc2GkPc/ s1600/Surdo-01.jpg FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 21 que a existência de uma heterogeneidade nas mesmas, e que são facetas diferentes que podem ser facilmente classificadas da seguinte forma: • Identidades surdas: nessa categoria os representantes seriam os surdos filhos de pais também surdos. Pois sua vivência e experiência são a visual, ou seja, com a língua de sinais. Criam espaços culturais visuais em espaços culturais diversos. Aceitam-se como surdo, são militantes pela causa surda, cria associações e que luta pelos direitos dos surdos. • Identidades surdas híbridas: refere-se aos surdos que nasceram ouvintes. Utilizam as duas línguas, a que adquiriram quando ouvintes e por alguma circunstância perderam a audição e aprenderam a língua de sinais, utilizam as duas línguas, porém a sua identidade vai ao encontro das identidades surdas. • Identidades surdas de transição: são os surdos filhos de pais ouvintes. São os que foram mantidos sob experiência ouvinte e passaram para a comunidade surda. Quando começa a conhecer a e utilizar a língua de sinais, esse é o momentoda transição, que é a passagem do mundo ouvinte para a identidade surda de experiência mais visual. Ao começar a ter contato com surdo e se estabelece contato com a comunidade surda, ocorre o que é chamado de des-ouvintização da representação da identidade, mas que não ocorre sem deixar seqüelas da representação, evidenciada em sua identidade em reconstrução ao longo da vida. • Identidade surda incompleta: refere-se aos surdos que vivem sob a ideologia ouvintista, onde é imposto que o surdo seja socializado de forma compatível à cultura dos ouvintes. Essa identidade nega a representação surda ou a própria identidade surda. • Identidades surdas flutuantes: Assim como na Libras - Conheça essa língua 22 categoria citada anterior, esses surdos também são considerados vítimas da ideologia ouvintista. Eles vivem e se manifestam a partir da hegemonia dos ouvintes. Querem ser ouvintizados a todo custo, desprezando a cultura surda e não assumem nenhum compromisso com a comunidade surda. A abordagem da categorização das identidades surdas é proposta por Perlin, sob o prisma da ideologia que impera nas relações de poder com relação ao ouvinte x surdo, tomando também por base o envolvimento ou não do surdo com a LIBRAS. Resumo Nessa unidade, foi abordado o tema “surdo”, definindo-o de acordo com o art. 2º do decreto 5.626/2005. Partimos então para a questão da Surdez ou deficiência auditiva, que é definida de acordo com o ponto de vista: médico, educacional e cultural. Vimos que, para a medicina, a surdez é caracterizada em níveis, que vai da surdez leve a surdez profunda. Do ponto de vista educacional, surdez é a incapacidade de a criança aprender a língua por via auditiva e ter um desempenho acadêmico. Já do ponto de vista cultural, a surdez é descrita como diferença lingüística e identidade cultural. Com relação às perdas auditivas, elas podem ser do tipo: condutiva, sensorioneural e mista. Quanto ao grau de perdas auditivas, as mesmas podem ser classificadas: - Do ponto de vista médico: normal (0 a 25 dB), leve (26 a 40 dB), moderado (41 a 55 dB), acentuada (56 a 70 dB), severa (71 a 90 dB) e profunda (acima de 90 dB) - Do ponto de vista educacional: Parcialmente surdo (a surdez vai do grau leve ao moderado) e o surdo ( a surdez vai da severa à profunda). Quanto à história do surdo, ou calvário, por que passaram ao longo dos séculos, vimos que na Antiguidade os gregos e romanos nem FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 23 os consideravam humanos, sendo que na Idade Média a igreja católica também tinha essa mesma visão discriminatória, porém quando se tratava de filhos de famílias abastadas, passaram a instruí-los, com o intuito dos surdos não perderem suas posições na família, e por conseqüência, a igreja poderia continua recebendo ajuda financeira. Na Idade Moderna os surdos começaram a serem educados para que não corressem o risco de perderem sua herança, já na Idade Contemporânea o médico-cirurgião Francês Jean-Marc Itard, com suas várias tentativas absurdas de oralizar o surdo, chegando a causar a morte de um deles, somente após 16 anos é que reconheceu que somente com a língua de sinais é que poderiam ser educados. Com relação à família, geralmente quando os pais, ao receber a notícia que o filho nasceu surdo, passam pelas fases: choque, reação, adaptação e orientação. Normalmente por não saberem lidar com a situação, a família se desintegra, por isso se faz necessário que tenham um acompanhamento psicológico para poderem aprender a superar o trauma para que possam ajudar o filho no desenvolvimento psicológico, educacional e social. De acordo com a ideologia de poder nas relações ouvinte x surdo, Gladis Perlin classifica a identidade e cultura surda em: Identidades Surdas, identidades surdas híbridas, identidades surdas de transição, identidade surda incompleta e identidades surdas flutuantes. Atividades de aprendizagem 1- Faça um pequeno texto que aborde sobre a surdez, discutindo os principais aspectos que chamou sua atenção nesta unidade. 2- Faça uma pesquisa na internet sobre surdos famosos e troque ideias no fórum da unidade com seus colegas de classe. 3- Leia o texto e faça um resumo sobre a história do surdo no passado. Dê sua opinião de como os surdos são tratados hoje. 4- Comente como pode ser a perda auditiva quanto ao grau e ao tipo. Libras - Conheça essa língua 24 5- Faça um texto dissertativo abordando a educação do surdo da antiguidade aos dias atuais. 6- O filme “Meu adorável professor” aborda o comportamento da família frente ao sentimento de luto, pela existência de uma criança surda. Assista ao filme e descreva sobre o comportamento da família, descrevendo a reação do pai e da mãe perante o filho surdo. Fóruns ou questões para debates 1- O que a sociedade pode fazer, frente à deficiência auditiva, levando em consideração que a mesma tem o papel preventivo? 2- Qual concepção da religião frente à deficiência auditiva na idade média? 3- Como a filosofia concebia o deficiente auditivo? Referências na Web bsderdic@pucsp.br http://www.acessobrasil.org.br/libras/ http://www.saopaulo.sp.gov.br http://michellemartins.wordpress.com/libras- linguagem-brasileira-de- sinais/ http://www.iesdelibras.com. WWW.feneis.com.br WWW.entreamigos.com.br (rede de informações sobre deficiência) Sugestões de filmes Filme: Adorável Professor - Em 1964 um músico (Richard Dreyfuss) decide começar a lecionar, para ter mais dinheiro e assim se dedicar a compôr uma sinfonia. Inicialmente ele sente grande dificuldade em fazer com que seus alunos se interessem pela música e as coisas se complicam ainda mais quando sua mulher (Glenne Headly) dá a luz a um filho, que FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 25 o casal vem a descobrir mais tarde que é surdo. Para poder financiar os estudos especiais e o tratamento do filho, ele se envolve cada vez mais com a escola e seus alunos, deixando de lado seu sonho de tornar-se um grande compositor. Filme: Seu nome é Jonas. Esse filme retrata a vida de Jonas, um menino surdo, que ficou três anos internado em uma instituição para deficientes mentais. Durante este período, com um diagnóstico errado, o menino que não se comunicava com o mundo e nem com as pessoas por simplesmente não escutar era considerado retardado e não teve, enquanto internado, nenhum preparo para aperfeiçoar sua comunicação. Saiba mais O surdo não tem distúrbio intelectual e sim atraso no desenvolvimento cognitivo, devido à grande barreira de comunicação. Sua educação está a cada dia sendo repensada devido ao reconhecimento da LIBRAS e a mudança de postura frente a surdez. O surdo não deve ser visto como aquele cuja falta de audição significa ineficiência, mas sim um ser eficiente, que se desenvolve integralmente e se comunica por outro canal, tendo consequentemente, uma outra língua a LIBRAS. Uma língua com suas regras morfológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas que possibilita o desenvolvimento cognitivo da pessoa surda. UNIDADE 2 O SURDO NA EDUCAÇÃO OBJETIVOS • Conhecer a história da educação do surdo no mundo e no Brasil. • Reconhecer filosofias e/ou tendências educacionais surgidas no ensino- aprendizado do surdo. • Conhecer os direitos e deveres do surdo. • Descrever os métodos ou filosofias da educação do surdo. • Falar sobre a lei e o decreto que instituíram a LIBRAS como língua e sua obrigatoriedade nas escolas; • Refletir sobre a realidade local e nacional da inserção do surdo em todas as atividades. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 29 2 O surdo na educação Nessa unidade, abordaremos a educação do surdo, como e com quem iniciou, a diversas abordagensmetodológicas de ensino- aprendizagem, o ensino da língua portuguesa como L2 e a importância do ensino da LIBRAS para a educação do surdo. 2.1 A história da educação do surdo no mundo e no Brasil KORIMA, Catarina Kiguti. SEGALA, Sueli Ramalho. LIBRAS – LÍNGUA BRA- SILEIRA DE SINAIS – A Imagem do Pensamen- to- vol. 3, São Paulo : Ed. Escala, 2008 – p. 6 Libras - Conheça essa língua 30 O sujeito surdo por muitos séculos passou por uma via crucix, sendo menosprezado pela família e sociedade, até aparecer alguém que se interessou a tentar ensiná-los a ler e escrever, por entender que apesar da falta da audição, seriam capazes de aprender e a conviverem no meio da sociedade. Somente a partir do final da Idade Média que os dados com relação à educação e à vida do Surdo tornam-se mais disponíveis. É exatamente nesta época que começam a surgir os primeiros trabalhos no sentido de educar a criança surda e de integrá-la (ainda não é inclusão) na sociedade. O século XVIII é considerado por muitos o período mais próspero da educação dos Surdos. Neste século, houve a fundação de várias escolas para Surdos. Além disso, qualitativamente, a educação do Surdo também evoluiu, já que, através da Língua de Sinais, eles podiam aprender e dominar diversos assuntos e exercer diversas profissões. A educação do surdo ocorreu inicialmente com o Monge beneditino espanhol Pedro Ponce de León, em 1520, que viu no uso da leitura dos lábios e da datilologia, no qual era usado pelos monges de sua congregação como meio de comunicação já que eles não podiam falar oralmente devido aos votos de silêncio, uma possibilidade de educar os surdos, usando esses métodos para que alguns deles falassem e fizessem leitura labial e assim seriam educados e poderiam se desenvolverem linguística e cognitivamente. Então apareceu um homem que a diferença 40 anos depois de Pedro Ponce de León, surgiu Juan Pablo Bonet que fazia uso do alfabeto manual, no qual utilizava junto com a datilologia e incorporava também os sinais para melhorar a explicação de significados de palavras. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 31 Com o passar dos tempos foram surgindo outros estudiosos que se destacaram na educação de surdos, como: John Bulwer e George Dalgarno, o Abade Charles Michael de L’Epée, na França em 1712-1789, Samuel Heinicke e Moritz Hill, em 1729 – 1789 na Alemanha; em Paris surgiu o Abade Sicard que sucedeu L’Epée na direção do Instituto Nacional para Surdos-Mudos. Na Inglaterra foi Thomas Hopkins Gallaudet que fundou nos EUA em 1917 a Casa Americana para a Educação e Instrução de Surdos- Mudos e no século XX Alexandre Graham Bell inventou do telefone, e a partir deste foram surgindo outros aparelhos de grande utilidade para a educação dos surdos, como: o audiômetro e as próteses auditivas. No Congresso Mundial de Professores de Surdos ocorrido em Milão - Itália (1880), decidiu-se pelo uso do método do oralismo puro. Porém de acordo com pesquisas recentes apontam para a filosofia de uma educação bilíngue, sendo que essa filosofia já faz parte da realidade de muitos países, onde desde cedo as crianças surdas tem a oportunidade de adquirir o conhecimento além da língua oral de seu país também a de sinais, com isso eles estão tendo êxito no desenvolvimento cognitivo, e consequentemente na educação e na vida pessoal e profissional. Conforme Rinaldi (1997, p. 285): [...] Mais recentemente, os avanços nas pesquisas sobre as línguas de sinais preconizam o acesso da criança, o mais precocemente possível, a duas línguas: à língua de sinais e à língua oral de seu país – filosofia de educação bilíngue. A partir dos séculos XX, a educação do surdo tem tido grandes avanços em todo o mundo e com o Brasil não foi tão diferente, mesmo não alcançando o avanço de outros países, mas têm-se visualizado muitas melhorias, principalmente nesta última década. No Brasil a educação do surdo iniciou com o professor surdo, o francês Ernest Huet, em 1855, que veio ao Brasil a convite do Imperador Dom Pedro II, em 26 de setembro de 1857 inaugurou o Imperial Instituto de Surdos Mudos, que atualmente é Instituto Nacional do Surdo (INES), sendo que o método de educação usado naquela época era pela linguagem escrita, articulada e falada, datilologia e sinais. Libras - Conheça essa língua 32 Em 1896 A. J. de Moura e Silva professor do INES, a pedido do governo brasileiro, viaja para o Instituto Francês de Surdos para avaliar o congresso de Milão, nesse congresso decidiram que o método usado para educação do surdo seria o oralismo, no entanto o referido professor conclui que este método oral puro não era bom para todos os surdos. Em 1957, a língua de sinais foi proibida em sala de aula pela então diretora do INES, Ana Rimola de Faria Doria. http://csjonline.web.br.com/Imagem/Fundador_Primeira_Escola_Surdo.jpg A comunicação total chega ao Brasil com a visita da educadora de surdos da Universidade de Gallaut, Ivete Vasconcelos, no final da década de 70. Além do INES, surgiram posteriormente no Brasil, já no século XX, várias escolas destinadas à educação de surdos. Em São Paulo, o Instituto Santa Terezinha, em Porto Alegre (RS) a Escola de Surdos de Vitória, em Brasília (DF), o Centro de Audição e Linguagem Ludovico Pavoni – CEAL/LP. Nos últimos anos, os governos federal, estadual e municipal têm investido em projetos para a educação dos surdos. Mesmo com os FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 33 erros e acertos, tem-se tentado melhorar, seja em cursos de formação de educadores, com a colocação de intérpretes em sala, criação de salas, recursos ou apoio pedagógico etc. Observa-se que, pelo menos, está-se buscando fazer com que os surdos conquistem seu espaço na sociedade, principalmente, com a ajuda da expansão do conhecimento da LIBRAS pelo país, não só pelos próprios surdos, mas também por educadores, profissionais de várias áreas. Até mesmo já se vê o interesse por esse aprendizado por pessoas que não trabalham diretamente com surdos. Agora vamos falar um pouco sobre os direitos e os deveres do surdo. 2.2 Aspectos Legais pertinentes e vigente sobre LIBRAS Em 22 de abril de 2002, a LIBRAS foi reconhecida oficialmente como língua de uso dos surdos brasileira, através da lei 10.436. Esta lei não só oficializa a LIBRAS como língua e sua difusão por parte do poder público e empresas concessionárias de serviços públicos, como também lhes garante o atendimento e tratamento adequado em instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde. Com o decreto lei 5.626 de 22 de dezembro de 2005, a LIBRAS torna- se disciplina obrigatória no ensino médio como parte da grade curricular e nas IES nos cursos de Licenciaturas, pedagogia, fonoaudiologia. Também faz referência à formação de professores e interpretes de libras e a inclusão de interpretes e tradutores de libras nos estabelecimentos municipais, estaduais e federais de educação para que viabilize a comunicação, a informação e a educação de alunos surdos. Segundo Novaes (2010, pág. 55), com a legalização da LIBRAS como língua oficial, quebrou-se mitos, crenças e tabus que se tinha do uso seja pela comunidade surda ou pelos ouvintes: profissionais interpretes/ tradutores, familiares, amigos etc, inseridos na referida comunidade. Para se chegar à conquista desses direitos, o surdo teve que lutar por muitos anos, mas antes de ocorrer a oficialização da LIBRAS por parte do governo federal, muitos estados já havia se adiantado e tomado Libras - Conheça essa língua 34 as providências. Novaes (2010, pág. 55) afirma que: “o reconhecimento oficialmente da Língua Brasileira de Sinais, como meio de comunicação objetiva e de uso corrente das comunidades surdas, ocorreumuitos anos antes em vários estados do Brasil” Segundo Novaes (2010, pág. 55), os estados que primeiro adotaram a língua de sinais e a difundiram foram: - Minas Gerais – Lei estadual nº 10.379, de 10/01/1991. - Alagoas – Lei Estadual nº 6.0060, de 15/09/1998. - Ceará – Lei Estadual nº 13.100, de 12/01/2001. - Distrito Federal – Lei 2.532, de 02/03/2000. - Espírito Santo – Lei Estadual nº 5.198, de 1999. - Goiás – Lei Estadual nº 12.081, de 30/08/1993. - Mato Grosso – Lei Estadual nº 7.831, de 13/12/2002 - Mato Grosso do Sul – Lei Estadual nº 1.693, de 12/09/1996. - Pernambuco – Lei Estadual nº 11.686, de 18/10/1999. - Santa Catarina, Lei Estadual nº 11.869, de 06/09/2001. - Paraná, Lei nº 12.095, de 11/03/1998. Foi então que foram surgindo muitos métodos e filosofias para se ensinar o surdo. 2.3 Métodos ou filosofias educacionais utilizadas na educação do surdos Em 1620, o padre espanhol Juan Pablo Bonet (1579-1633). Filósofo e soldado a serviço secreto do rei, considerado um dos primeiros FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 35 preceptores de Surdos, criou o primeiro tratado de ensino de surdos- mudos1 que iniciava a escrita sistematizada pelo alfabeto, que foi editado na França com o nome de Redação das Letras e Artes de Ensinar Mudos a Falar. Bonet foi quem primeiro idealizou e desenhou o alfabeto manual. Ele, em seu livro, destaca como ideia principal que seria mais fácil para o Surdo aprender a ler se cada som da fala fosse substituído por uma forma visível. Alguns estudiosos da língua também se dedicaram ao ensino dos Surdos e um exemplo é o holandês Van Helmont (1614-1699) que propunha a oralização do Surdo por meio do alfabeto da língua hebraica, pois, segundo ele, as letras hebraicas indicavam a posição da laringe e da língua ao reproduzir cada som. Helmont foi quem primeiro descreveu a leitura labial e o uso do espelho, que posteriormente foi aperfeiçoado por Amman (médico e educador de Surdos), tendo este como seu foco de trabalho o oralismo, pois acreditava que os Surdos eram pouco diferentes dos animais, devido à incapacidade de falar Jacob Rodrigues Pereira (1715-1780) foi um educador de Surdos português, que embora usasse a Língua de Sinais com fluência, defendia a oralização dos Surdos. Seu trabalho consistia na desmutização por meio da visão (usava um alfabeto digital especial e manipulava os órgãos da fala de seus alunos). Educou doze alunos, todos eles usuários de linguagem oral. Segundo relatos ele ensinou somente alunos que não eram totalmente surdos para não colocar em risco o seu método. O uso da língua de sinais sempre foi um entrave na questão do desenvolvimento do surdo, pois tinha-se a idéia que ao usar a língua de sinais, os surdos não desenvolveria o falar ou fazer a leitura labial, ou seja, teria preguiça de tentar falar. No congresso de Milão (Conferência Internacional de Educadores de Surdos), ocorrido em de 6 a 11 de setembro de 1880, ficou decido que o método educacional usado na educação do surdo, seria o oralismo, sendo que nesse congresso só havia um surdo 1 Esse termo sempre que aparecer, refere-se ao usado na época e que atualmente caiu em desuso. Libras - Conheça essa língua 36 e esse ainda foi convidado a se retirado do local no momento da votação onde decidiriam o método que deveria ser adotado, sendo assim, o surdo que deveriam ser os mais interessados na metodologia mais adequada à sua educação, não teve vez e nem “voz” para decidir o que seria melhor para eles, na pessoa de seu único representante. As reflexões realizadas até aqui nos revelam que houve sempre dúvidas quanto à melhor tendência educacional a ser usada na educação do surdo, seja o oralismo, bilinguismo ou comunicação total. 2.3.1 O oralismo O oralismo é o aprendizado que se dá apenas pela língua oral. Esse método é o mais defendido principalmente pelos fonoaudiólogos, que ainda tem a visão de que o uso da lingua de sinais atrapalharia no desenvolvimento da fala. Como explica Novaes (2010: 47): Na prática do oralismo, o objetivo é aproximar o surdo na forma máxima possível do modelo ouvinte, por meio da aprendizagem da lingua, sendo esta analisada como instrumento de integração social e de aprendizado global e da comunicação. Sua proposta incide sobre a “recuperação” da pessoa surda, denominada de “deficiente auditivo”, seguindo critérios clínicos. A defesa do oralismo foi tão ferrenha, que durante aproximadamente 100 anos em muitas escolas para surdos foi terminantemente proibido o uso de sinais, e para isso chegavam a amarrar as mãos dos surdos para que não usasse sinais. 2.3.2 Bilinguismo O Bilinguismo é o ensino-aprendizado com a utilização de uma língua oral com a língua de sinais. Novaes (2010: 47) esclarece que nesta tendência: [...] a língua é considerada um meio para o desenvolvimento do ser em seu todo, capaz de propiciar a comunicação das pessoas FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 37 surdas com os ouvintes, bem como com seus pares, além de desempenhar também o papel de suporte do desenvolvimento cognitivo. A educação bilíngue para surdos é uma realidade em muitos países, mas no Brasil isto não se aplica a todos os surdos, porém a maioria deles são bilíngues, principalmente, por terem que viver entre duas culturas: a dos surdos e a dos ouvintes. Mais ainda por esta última ser a que tem a língua dominante no país, e os surdos necessitam comunicar-se por meio de ambas. De acordo com Honora e Frizanco (2009, p. 26), atualmente o método mais usado em escolas que trabalham com alunos com surdez é o bilinguismo, que usa como língua materna a Língua Brasileira de Sinais e como segunda língua, a Língua Portuguesa, no entanto esta última, devendo ser tratada como língua estrangeira. Mas o que realmente poderia ser considerado Língua Materna (L1), Segunda Língua (L2) e Língua Estrangeira (LE)? Do ponto de vista de Spinassé (2006, p. 7), não existe uma receita para definir o conceito de L1, L2 e LE porque depende de vários fatores, no entanto ele dar uma breve explicação do que poderia ser cada uma delas levando-se em conta algumas situações. No caso, Língua Materna seria a língua da qual ele tem mais domínio e que usa em seu dia a dia, que pode ser modificada ou ser adquirida depois, sendo que não seria necessariamente a língua dos pais, a língua adquirida no início de sua vida ou de 1º contato, dependendo da situação. A Segunda Língua é adquirida pela necessidade de uma comunicação ou socialização e para ser aprendida tem de haver um contato intenso, já na Língua Estrangeira sua aquisição não seria necessariamente por uma necessidade de uma comunicação e também não se faz necessário ter um contato tão grande e sua importância é relevante, ou seja, não é de suma importância para uma integração social. No Brasil, a Língua portuguesa é tratada, ou pelo menos deve ser considerada, como L2 e a LIBRAS como L1 e no caso a Língua Estrangeira seriam as outras línguas, como por exemplo, o inglês ou o espanhol, quando inseridos na grade curricular escolar. Libras - Conheça essa língua 38 2.3.3 comunicação total A comunicação total se dá quando se recorrem a todos aos métodos de ensino-aprendizagem, ou seja, usando o bilinguismo, língua de sinais, gestos, escrita, pantomima etc. contanto que se consiga transmitir o que se deseja e haja entendimento por parte do surdo, conforme exalta Ângela e Armando (2008, p. 62) Minha casa estava sempre cheia. Sempre havia gente para ficar comigo e brincar comigo. A grande sacada de minha educação, nesta época, além do conhecimento (minha mãe afirma que tudo foi uma questão de bom senso; para mim houve muito mais que isso), foi a utilização do amor e da paciência inesgotáveis, além do interesse pelo meu desenvolvimento.Particularmente, tenho a convicção de que nenhuma abordagem educacional dará certo se, nela, não estiverem embutidas, além do conhecimento, doses extras de amor e de paciência. A metodologia pela qual hoje os surdos lutam para que seja adotada nas escolas do Brasil é o bilinguismo, porém cada surdo deve escolher a metodologia que ele ache a que melhor se adapte, porque, mesmo que o que os surdos tenham em comum seja a surdez, cada um pode sentir ou saber qual o que é mais adequado ao seu aprendizado. 2.4 A importância da Língua de Sinais na educação do surdo O abade Charles-Michel de L’Epeé (1712-1789) foi um educador filantrópico francês que ficou conhecido como “Pai dos Surdos” e também um dos primeiros que defendeu o uso da Língua de Sinais. “Reconheceu que a língua existia, desenvolvia-se e servia de base comunicativa essencial entre os Surdos”. L’Epée teve a disponibilidade de aprender a Língua de Sinais para poder se comunicar com os Surdos. Criou a primeira escola pública no mundo para Surdos em Paris, o Instituto Nacional para Surdos-Mudos, em 1760. L’Epée fazia demonstrações de seus alunos em praça pública, assim arrecadava dinheiro para continuar seu trabalho. Estas apresentações consistiam em perguntas feitas por escrito aos Surdos, confirmando que seu método era eficaz. L’Epée tinha grande interesse na educação religiosa dos FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 39 Surdos e sabia que para isso era importante que fosse desenvolvida uma forma de comunicação que fizesse os conhecimentos sagrados possíveis. No Brasil, a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS foi instituída como língua oficial da comunidade surda do Brasil, a partir de 24 de abril de 2002, através da lei 10.436, segundo: (QUADROS, 2004, p.15) “Art. 1º É reconhecida como meio de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados.” A LIBRAS é muito importante para a educação e desenvolvimento do surdo não oralizado, pois é através dela que ele poderá receber e transmitir conhecimentos, porém se faz necessário que as escolas tenham profissionais preparados para isso. Conforme exalta (DORZIAT, 2009, p. 50) A importância da LS, como primeira língua, está associada ao desenvolvimento global dos Surdos, inclusive ao emocional. O bloqueio de comunicação truncada do Surdo com outros Surdos ou com ouvintes tem gerado inúmeros problemas de ordem emocional. Nervosismo, insegurança e autorrejeição dão alguns deles. A LIBRAS, mesmo já sendo reconhecida como língua desde 2002 e tornada obrigatória nas escolas e nas empresas públicas ou privadas, no entanto a maioria das pessoas e representações publicas e privadas de um modo geral ainda não cumprem a lei, no que se trata da existência de pessoas preparadas para atender o surdo, com formação adequada e com conhecimento em LIBRAS, e também na questão de interpretes em salas de aula, essa é uma realidade que ainda está um pouco distante de se concretizar, na sua totalidade apesar que algumas escolas já possuem interprete e professor de LIBRAS, no entanto os surdos já estão mais conscientes de seus direitos e já fazem exigências neste aspecto. A quantidade de pessoas qualificadas ainda é muito pouca e não atende à demanda necessária para a inclusão social do surdo em todas as esferas da vida em sociedade. 2.5 A língua portuguesa na educação do surdo do Brasil A língua portuguesa, além de ser a língua oficial do país, é a língua falada pela maioria absoluta da população que é composta de ouvintes e Libras - Conheça essa língua 40 consequentemente é a língua de instrução da educação dos brasileiros e também usada como base para o ensino-aprendizado da LIBRAS. Este fato não torna fácil o aprendizado do aluno surdo, no entanto a aquisição desse conhecimento é necessária para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, sendo que é importante que se adquira pelo menos na sua forma escrita. A aquisição da língua portuguesa por surdos como L2, pelo menos na modalidade escrita, e em alguns casos na oral, é defendida por muitos teóricos como fundamental para o desenvolvimento cognitivo do surdo e por ser a língua majoritária da sociedade e devido a língua de sinais ainda não ter uma forma escrita, levando-se em consideração que o Signwriting (escrita de sinais) ainda se encontra em estudo. A esse respeito, concordamos com Dorziat, (2009, p. 51) quando ela afirma: A aquisição da segunda língua, sobretudo na sua forma escrita é fundamental para a pessoa surda, uma vez que, diferente de outras línguas orais, a LS não possui forma escrita de expressão, e a previsão para que os Surdos adquiram a linguagem oral é limitada. O desenvolvimento da oralidade, como critério básico e indispensável para a aquisição da forma escrita ou a visão de escrita como simples transcrição da linguagem oral é superada. Signwriting (escrita de sinais) http://4.bp.blogspot.com/_lncSVT-0FuE/TNIXtIm7O4I/AAAAAAAAAC8/ xzoW_NKYb0M/s1600/Alfabeto%252520Escrita%252520de%252520Sinais.JPG FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 41 De acordo com Quadros e Schmiedt (2006, p. 23) “O português ainda é a língua significada por meio da escrita nos espaços educacionais que se apresentam à criança surda. A sua aquisição dependerá de sua apresentação enquanto língua com funções relacionadas ao acesso às informações e comunicação entre seus pares por meio da escrita.” Os alunos surdos, quando vão à escola regular, deparam-se com uma realidade muito dura, pelo menos na maioria das escolas públicas, que geralmente não têm professores preparados adequadamente e nem interprete em sala de aula. Conforme Rinaldi (1997, p. 148-149): No caso do surdo brasileiro, o problema que se coloca é o seguinte: pelo fato de ser surdo, ele não adquire a língua oral, ou seja, o português falado de forma espontânea e, assim, seu desempenho nessa modalidade da língua portuguesa é, em geral, extremamente precária. (...), e as palavras, geralmente, são apresentadas descontextualizadas e sem ênfase no significado, o desempenho do surdo em português escrito, que poderia ser excelente, acaba sendo precário ou quase nulo. Na verdade pela grande dificuldade no aprendizado, o surdo torna- se um estrangeiro dentro do próprio país e para que isso mude, faz-se necessário que haja mais investimento na educação direcionada a essas pessoas, como também que ocorra mais um desempenho por parte dos governantes, sociedade, educadores, família, como também do próprio surdo que deseja e se esforça em aprender. 2.6 A lei 10.436 .2002 e o Decreto Lei 5.626.2005 A língua de sinais existe há muitos anos, porém somente em 2002 foi reconhecida legalmente como língua, isso quer dizer que o Brasil possui duas línguas oficialmente reconhecidas, podendo assim dizer que é bilíngue, apesar de a grande maioria da população brasileira nem saber o que é LIBRAS e muito menos que se trata de uma língua que faz parte do nosso país. Libras - Conheça essa língua 42 Diversas leis foram e são criadas para dar mais sustentabilidade às práticas inclusivas dos deficientes auditivos, sejam leis na esfera social, trabalhista, educacional e outras, a realidade é que essas leis através de uma legislação vigente asseguram a prática da inclusão do surdo na sociedade. Em se tratando dos aspectos legais que regulamentam a LIBRAS, encontraremos a lei 10.436/02,que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais –LIBRAS e dá outras providências: O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafoúnico. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual- motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e ver o FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 43 difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da Independência e 114o da República. (http://www.planalto. gov.br). A presente lei enfoca a importância do conhecimento da LIBRAS, e sua aplicabilidade aos órgãos públicos principalmente educacionais, de participação da comunidade surda,que fazem uso da língua de sinais. É interessante a forma alusiva que a lei faz em seu parágrafo único, ao afirmar que a LIBRAS não pode substituir a modalidade escrita da língua portuguesa, ou seja, o surdo não pode pelo simples fato de ter sua língua reconhecida oficialmente através dessa lei, acreditar que não precisa ter conhecimento da língua portuguesa, a língua majoritária do Brasil, e seu uso através da forma oral ou escrita. Sendo que ele precisa dessa língua portuguesa para exercer sua cidadania como qualquer pessoa. Libras - Conheça essa língua 44 A LIBRAS caracteriza-se como uma língua de natureza visual- motora; visual, porque é através da visão que o sinal e interpretado, decodificado e entendido; motora, porque através dos membros superiores ou inferiores é que os sinais serão produzidos. É claro como qualquer outra língua a LIBRAS possui sua estrutura gramatical própria. A lei 10.436 favoreceu não somente a valorização e inclusão da LIBRAS, na sociedade surda e ouvinte,como também corroborou para a efetivação de outras leis, ainda pertinentes à educação de surdos. Nesse aspecto, é importante ressaltar o decreto 5.626,que em seu “longo”texto traz informações precisas e úteis sobre a inclusão da LIBRAS, como disciplina curricular, à formação de professores em LIBRAS, a educação de surdos: Ainda encontraremos o decreto N°5.626 de dezembro de 2005, que regulamenta a lei 10.436, ao afirmar que: DECRETO N°5.626 de Dezembro de 2005. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e no art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, DECRETA: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002,e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 45 CAPÍTULO II DA INCLUSÃO DA LIBRAS COMO DISCIPLINA CURRICULAR Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. § 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério. § 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto. CAPÍTULO III DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LIBRAS E DO INSTRUTOR DE LIBRAS Art. 4o A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua. Parágrafo único. As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 5o A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngue. Libras - Conheça essa língua 46 § 1o Admite-se como formação mínima de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a formação ofertada em nível médio na modalidade normal, que viabilizar a formação bilíngue, referida no caput. § 2o As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 6o A formação de instrutor de Libras, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; II - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições credenciadas por secretarias de educação. § 1o A formação do instrutor de Libras pode ser realizada também por organizações da sociedade civil representativa da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por pelo menos uma das instituições referidas nos incisos II e III. § 2o As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 7o Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja docente com título de pós-graduação ou de graduação em Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis: I - professor de Libras, usuário dessa língua com curso de pós-graduação ou com formação superior e certificado de proficiência em Libras, obtido por meio de exame promovido pelo Ministério da Educação; II - instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de nível médio e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministérioda Educação; III - professor ouvinte bilíngue: Libras - Língua Portuguesa, com pós-graduação ou formação superior e FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 47 com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação. § 1o Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas surdas terão prioridade para ministrar a disciplina de Libras. § 2o A partir de um ano da publicação deste Decreto, os sistemas e as instituições de ensino da educação básica e as de educação superior devem incluir o professor de Libras em seu quadro do magistério. Art. 8o O exame de proficiência em Libras, referido no art. 7o, deve avaliar a fluência no uso, o conhecimento e a competência para o ensino dessa língua. § 1o O exame de proficiência em Libras deve ser promovido, anualmente, pelo Ministério da Educação e instituições de educação superior por ele credenciadas para essa finalidade. § 2o A certificação de proficiência em Libras habilitará o instrutor ou o professor para a função docente. § 3o O exame de proficiência em Libras deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento em Libras, constituída por docentes surdos e linguistas de instituições de educação superior. Art. 9o A partir da publicação deste Decreto, as instituições de ensino médio que oferecem cursos de formação para o magistério na modalidade normal e as instituições de educação superior que oferecem cursos de Fonoaudiologia ou de formação de professores devem incluir Libras como disciplina curricular, nos seguintes prazos e percentuais mínimos: I - até três anos, em vinte por cento dos cursos da instituição; II - até cinco anos, em sessenta por cento dos cursos da instituição; III - até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da instituição; e IV - dez anos, em cem por cento dos cursos da instituição. Libras - Conheça essa língua 48 Parágrafo único. O processo de inclusão da Libras como disciplina curricular deve iniciar-se nos cursos de Educação Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras, ampliando-se progressivamente para as demais licenciaturas. Art. 10. As instituições de educação superior devem incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos cursos de formação de professores para a educação básica, nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 11. O Ministério da Educação promoverá, a partir da publicação deste Decreto, programas específicos para a criação de cursos de graduação: I - para formação de professores surdos e ouvintes, para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, que viabilize a educação bilíngue: Libras - Língua Portuguesa como segunda língua; II - de licenciatura em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa, como segunda língua para surdos; III - de formação em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 12. As instituições de educação superior, principalmente as que ofertam cursos de Educação Especial, Pedagogia e Letras, devem viabilizar cursos de pós-graduação para a formação de professores para o ensino de Libras e sua interpretação, a partir de um ano da publicação deste Decreto. Art. 13. O ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, de nível médio e superior, bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa. Parágrafo único. O tema sobre a modalidade FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 49 escrita da língua portuguesa para surdos deve ser incluído como conteúdo nos cursos de Fonoaudiologia. CAPÍTULO IV DO USO E DA DIFUSÃO DA LIBRAS E DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ACESSO DAS PESSOAS SURDAS À EDUCAÇÃO Art. 14. As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior. § 1o Para garantir o atendimento educacional especializado e o acesso previsto no caput, as instituições federais de ensino devem: I - promover cursos de formação de professores para: a) o ensino e uso da Libras; b) a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa; e c) o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas; II - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos; III - prover as escolas com: a) professor de Libras ou instrutor de Libras; b) tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa; c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas surdas; e d) professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos; IV - garantir o atendimento às necessidades Libras - Conheça essa língua 50 educacionais especiais de alunos surdos, desde a educação infantil, nas salas de aula e, também, em salas de recursos, em turno contrário ao da escolarização; V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a difusão de Libras entre professores, alunos, funcionários, direção da escola e familiares, inclusive por meio da oferta de cursos; VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a singularidade linguística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa; VII - desenvolver e adotar mecanismos alternativos para a avaliação de conhecimentos expressos em Libras, desde que devidamente registrados em vídeo ou em outros meios eletrônicos e tecnológicos; VIII - disponibilizar equipamentos, acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, bem como recursos didáticos para apoiar a educação de alunos surdos ou com deficiência auditiva. § 2o O professor da educação básica, bilíngue, aprovado em exame de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, pode exercer a função de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, cuja função é distinta da função de professor docente. § 3o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar atendimento educacional especializado aos alunos surdos ou com deficiência auditiva. Art. 15. Para complementar o currículo da base nacional comum, o ensino de Libras e o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialógica, funcional e instrumental, como: FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Espanhol 51 I - atividades ou complementação curricular específica na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental; e II - áreas de conhecimento, como disciplinas curriculares, nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior. Art. 16. A modalidade oral da Língua Portuguesa, na
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