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CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 1 ENTRADA EM VIGOR DE UMA NOVA CONSTITUIÇÃO Iniciaremos, hoje, um novo curso on-line de exercícios de Direito Constitucional. A nossa tarefa será árdua, longa, mas prometo que eu farei o possível para torná-la o mais agradável possível. Para mim, tornar agradável o estudo do Direito Constitucional para concursos é simplesmente conseguir desmistificar os principais tópicos da disciplina, tornando-os acessíveis a todo candidato, seja qual for a sua formação acadêmica. É este o papel do professor que leciona Direito para concursos públicos: desmistificar os conceitos jurídicos, tornando- os acessíveis a todos! É isso que eu pretendo fazer em todos os nossos encontros a partir de hoje – especialmente porque, cá entre nós, é só o que eu sei fazer nesse segmento de concursos, quem conhece o meu trabalho sabe da simplicidade dele, seja em aulas presenciais, seja em aulas a distância... Para alcançar esse nosso objetivo, minha metodologia será a seguinte: trazer para o papel exatamente os comentários de sala de aula, com a mesma simplicidade e objetividade; só não trarei para este curso on-line as minhas piadas de sala de aula, porque essas, eu sei, nem presencialmente têm graça... Então, é isso! Vamos transformar este curso on-line num bate-papo, numa troca de experiências em busca do seu sonho de aprovação em concurso! Que Deus nos ilumine nessa caminhada. Vamos ao trabalho. Antes de adentrarmos propriamente no exame dos exercícios, faremos uma breve revisão sobre a entrada em vigor de uma nova Constituição. Para entendermos bem o assunto tratado nesta aula, vamos voltar um pouco no tempo, até 5/10/1988, data da promulgação da Constituição Federal de 1988. Nessa data, quando promulgada a atual Constituição, havia no ordenamento jurídico diversas normas jurídicas em vigor, tais como: a Constituição Federal de 1969, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, decretos legislativos, decretos-leis, resoluções, regimentos dos Tribunais do Poder Judiciário, decretos do Presidente da República – dentre outras. Pois bem, o que teremos que saber, ao final desta aula, é o que aconteceu com todas essas normas pretéritas em virtude da promulgação da nova Constituição de 1988. Teremos que saber o que aconteceu com a Constituição de 1969; teremos que saber o que aconteceu com as demais normas – leis complementares, leis ordinárias, decretos etc. - anteriores a 5/10/1988 e que estavam em vigor no momento da promulgação da Constituição de 1988; o que aconteceu com aquelas normas que estavam no período da vacatio legis CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 2 (vacância da lei) no momento em que foi promulgada a Constituição de 1988 – e assim por diante. Portanto, vamos voltar no tempo, nos imaginar em 5/10/1988 e discutir, ponto a ponto, todos esses aspectos relacionados à força da nova Constituição em relação às normas pretéritas, em relação ao chamado direito pré-constitucional. O primeiro aspecto a examinar é o que acontece com a Constituição pretérita, quando é promulgada a nova Constituição. O que aconteceu com a Constituição de 1969 quando, em 5/10/1988, foi promulgada a Constituição de 1988? O entendimento é muito simples: a nova Constituição revoga integralmente a Constituição pretérita, independentemente da compatibilidade entre os seus dispositivos. A nova Constituição opera a revogação global, de uma só vez, da Constituição antiga; não há nem que se perder tempo examinando se os dispositivos da Constituição pretérita são (ou não) compatíveis com a nova Constituição, pois, de uma forma ou de outra, todos eles serão revogados por esta; ainda que os dispositivos da Constituição pretérita sejam plenamente compatíveis com a nova Constituição, serão eles integralmente revogados por esta. Esse é o entendimento válido no Brasil, que você terá que levar para a sua prova. Entretanto, há países que optam por aproveitar os dispositivos da Constituição pretérita que não são incompatíveis com a nova Constituição. Nesses países, os artigos da Constituição pretérita que não são incompatíveis com a nova Constituição são recepcionados por esta, como se fossem leis. Eles passam pelo fenômeno chamado desconstitucionalização, isto é, perdem o seu status de norma constitucional e ingressam no novo ordenamento como leis, o que significa dizer que, daí por diante, poderão ser revogados por outras leis (não necessitando mais de aprovação de emenda constitucional para a sua revogação). Assim, nos países que adotam a desconstitucionalização, com a promulgação da nova Constituição, teremos que examinar os dispositivos da Constituição pretérita, um a um, para ver quais são compatíveis e quais são incompatíveis com a nova Constituição. Após essa análise, são duas as situações possíveis: (a) os artigos da Constituição pretérita que forem incompatíveis com a nova Constituição serão por esta revogados; (b) os artigos da Constituição pretérita que forem compatíveis com a nova Constituição serão por esta recepcionados, com status de normas infraconstitucionais. Importante: a tese da desconstitucionalização não foi adotada pelo Brasil, valendo, entre nós, o entendimento antes exposto, segundo o CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 3 qual a nova Constituição revoga integralmente a Constituição antiga, ainda que haja compatibilidade entre os seus dispositivos. Visto o que acontece com a Constituição pretérita, falta-nos agora saber o que acontece com as demais normas do ordenamento jurídico pretérito, isto é, com as normas infraconstitucionais pretéritas – o chamado direito ordinário pré-constitucional (leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, decretos legislativos, decretos, portarias, regimentos etc.). Em relação a esse direito ordinário, não podemos dizer que ele será integral e globalmente revogado pela nova Constituição, ainda que com ela compatível. Aliás, se isso acontecesse, teríamos um caos jurídico no Estado, sempre que promulgada uma nova Constituição. Imagine se, com a promulgação da Constituição Federal em 5/10/1988, amanhecêssemos no dia seguinte sem nenhuma lei no nosso ordenamento, sem Código Penal, sem Código Civil etc. Então, para evitar-se esse caos jurídico, são aproveitadas as leis anteriores compatíveis com a nova Constituição, por meio do mecanismo conhecido por recepção do direito pré-constitucional. O efeito da nova Constituição sobre o direito ordinário pré-constitucional pode ser assim resumido: a) leis que estejam em vigor e sejam incompatíveis com a nova Constituição – serão revogadas pela nova Constituição; b) leis que estejam em vigor e sejam compatíveis com a nova Constituição – serão recepcionadas pela nova Constituição; c) leis que estejam no período de vacatio legis no momento da promulgação da nova Constituição – não serão recepcionadas pela nova Constituição, ainda que sejam com esta materialmente compatíveis; d) leis que não integrem o ordenamento jurídico no momento da promulgação da nova Constituição – não serão recepcionadas pela nova Constituição; estas leis poderão ser repristinadas pela nova Constituição, desde que haja disposição expressa nesse sentido no novo texto constitucional (repristinação expressa). Feito esse breve resumo acerca da força da nova Constituição sobre o direito pré-constitucional, passemos ao exame dos exercícios, para, a partir deles, tratarmos dos detalhes faltantes sobre cada um desses aspectos. 1) (ESAF/TRT/7ª REGIÃO/JUIZ SUBSTITUTO/2006) Assinale a opção correta. a) Com o advento de umanova Constituição, normas da Constituição anterior que sejam compatíveis com o novo diploma continuam a vigorar, embora com força de lei. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 4 b) Chama-se Constituição outorgada aquela que é votada pelos representantes do povo especialmente convocados para elaborar o novo Estatuto Político. c) Normas de lei ordinária anteriores à nova Constituição que sejam com essa materialmente compatíveis são tidas como recebidas, mesmo que se revistam de forma legislativa que já não mais é prevista na nova Carta. d) Admite-se pacificamente entre nós a invocação do direito adquirido contra norma provinda do poder constituinte originário. e) Assentou-se a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que as normas anteriores à Constituição com essa materialmente incompatíveis são consideradas inconstitucionais e, não, meramente revogadas. Gabarito: “c” Comentário. A assertiva “a” está errada, pois, com a promulgação de uma nova Constituição, todas as normas da Constituição anterior são integralmente revogadas, ainda que sejam compatíveis com o novo texto constitucional. Ao afirmar que as normas da Constituição anterior que sejam compatíveis com a nova Constituição continuam a vigorar, embora com força de lei, a assertiva faz referência à tese da desconstitucionalização, que, como vimos, não é adotada pelo Brasil. A assertiva “b” não trata propriamente desse assunto, mas vamos comentá-la, a fim de manter a originalidade da questão da Esaf. Constituição outorgada é aquela elaborada sem a participação do povo, isto é, que é elaborada unilateralmente, por um impostor ou agente revolucionário. A Constituição votada pelos representantes do povo é denominada promulgada, popular ou democrática. Portanto, está errada a assertiva “b”. A assertiva “c” está certa. De fato, para que uma lei ordinária seja recepcionada pela nova Constituição, a compatibilidade que se exige diz respeito, exclusivamente, ao conteúdo (compatibilidade material). Significa dizer que não é exigida a chamada compatibilidade formal (que diz respeito aos aspectos formais, ligados à elaboração da norma) entre a lei antiga e a nova Constituição. Assim, no exame da compatibilidade do direito pré-constitucional com a nova Constituição só nos interessa saber se o conteúdo da norma antiga contraria ou não a nova Constituição. Em caso positivo, a norma antiga será revogada; em caso negativo, será ela recepcionada pela nova Constituição. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 5 Enfim, para se saber se uma norma antiga foi recepcionada ou não pela nova Constituição só interessa uma coisa: verificar se há compatibilidade material (de conteúdo) entre elas. Não interessa, em absolutamente nada, o exame da chamada compatibilidade formal entre a norma antiga e a nova Constituição, conforme melhor explicado nos parágrafos seguintes. Não interessa também em nada o fato de o processo legislativo pelo qual foi elaborada a norma antiga ser diferente do processo legislativo atualmente em vigor. Para se ter uma idéia, temos leis da época do Império que foram recepcionadas pela Constituição Federal de 1988! Ora, imaginem vocês as diferenças entre o processo legislativo da época do Império e o atual processo legislativo, disciplinado na CF/88! Não interessa em nada a mudança de espécie legislativa para o tratamento da matéria. Por exemplo: se a Constituição de 1969 exigia lei ordinária para o tratamento da matéria e a Constituição de 1988 passou a exigir lei complementar para disciplinar a mesma matéria, esse fato não prejudicará a recepção da norma antiga. Também não interessa em nada a mudança de competência para o tratamento da matéria. Por exemplo: se na Constituição pretérita a competência para o tratamento da matéria pertencia à União, mas a Constituição de 1988 repassou tal competência aos Estados, esse fato não atrapalhará a recepção da norma federal antiga, editada pela União. Não interessa, ainda, o fato de a espécie normativa antiga não mais existir no novo ordenamento constitucional. É o caso dos decretos-leis. O decreto-lei era uma das espécies integrantes do processo legislativo federal na vigência da Constituição de 1969. Agora, na vigência da Constituição de 1988, o processo legislativo não mais contempla o decreto-lei (ele foi substituído pela medida provisória), mas temos diversos decretos-leis em pleno vigor nos dias atuais, por terem sido recepcionados em razão de sua compatibilidade material com a Constituição de 1988. Veja que todos esses aspectos anteriores não dizem respeito ao conteúdo da norma (compatibilidade material). Logo, não nos interessam para o fim de recepção do direito ordinário pré- constitucional. De volta ao enunciado da assertiva “c”, note-se que ele trata exatamente da hipótese do decreto-lei, pois sabemos que há diversos decretos-leis em pleno vigor nos dias atuais, em razão de sua recepção por compatibilidade material com a Constituição de 1988, mesmo sabendo-se que essa forma legislativa já não mais é prevista na Constituição de 1988. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 6 A assertiva “d” está errada, porque afirma que se admite a invocação de direito adquirido contra norma provinda do poder constituinte originário. Sabemos que o poder constituinte originário é o poder que elabora uma nova Constituição. Logo, falar-se na invocação de direito adquirido “contra norma provinda do poder constituinte originário” é o mesmo que falar-se na invocação de direito adquirido “contra uma nova Constituição”. E, sobre esse assunto, é firme a jurisprudência do STF no sentido de que não há direito adquirido frente a uma nova Constituição. Significa dizer que não há nenhum impedimento a que uma nova Constituição afaste direitos adquiridos sob a vigência da Constituição pretérita. Isso porque uma das características do poder constituinte originário é o seu caráter ilimitado ou autônomo, segundo o qual, na elaboração da nova Constituição, não está ele limitado pelo direito anterior, não tendo que respeitar quaisquer limites postos pelo direito positivo antecessor. A assertiva “e” está errada, porque as normas anteriores à Constituição com esta materialmente incompatíveis são consideradas simplesmente revogadas, e não inconstitucionais. Com efeito, é firme a jurisprudência do STF no sentido de que a nova Constituição revoga as normas ordinárias pretéritas com ela materialmente incompatíveis. Assim, uma lei de 1980, cujo conteúdo é materialmente incompatível com a Constituição de 1988, foi simplesmente revogada por esta em 5/10/1988, data de sua promulgação. Alguns constitucionalistas defendem que nessa hipótese não teríamos propriamente uma revogação, mas sim um caso de inconstitucionalidade superveniente. A Lei de 1980, cujo conteúdo é incompatível com a Constituição Federal de 1988, tornar-se-ia inconstitucional frente a esta em 5/10/1988, data de promulgação do novo texto constitucional. Para esses, teríamos, então, um caso de inconstitucionalidade superveniente, isto é, uma inconstitucionalidade que ocorreria no futuro, em razão da promulgação de um novo texto constitucional em sentido contrário (ou seja: a lei editada em 1980 tornar-se-ia inconstitucional no futuro, em 5/10/1988, em razão da promulgação do novo texto constitucional em sentido contrário). Porém, o STF não admite a tese da inconstitucionalidade superveniente. Para o Tribunal, a nova Constituição simplesmente revoga as leis anteriores com ela materialmente incompatíveis. A fundamentação para esse entendimentodo STF é que a inconstitucionalidade nada mais é do que um desrespeito à Constituição e que, portanto, em 1980 o legislador não tinha como desrespeitar a Constituição Federal de 1988, por uma simples e óbvia razão: ela não CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 7 existia! Logo, para o STF, só se pode falar em inconstitucionalidade de uma norma em face da Constituição de sua época, jamais em relação a uma Constituição futura. O conflito material entre norma antiga e Constituição futura resolve-se pela revogação, e não pela inconstitucionalidade superveniente. Veja que, segundo esse entendimento do STF (que é o válido para a prova, evidentemente!), não podemos jamais falar em inconstitucionalidade de uma norma pré-constitucional, editada antes de 5/10/1988, em face da Constituição Federal de 1988. Mesmo que uma lei pré-constitucional desrespeite a todos os incisos do art. 5º da Constituição Federal de 1988 não poderá ela ser hoje declarada inconstitucional por esse motivo! Por quê? Porque uma norma só pode ser considerada inconstitucional em confronto com a Constituição de sua época, jamais em face de uma Constituição futura. Essa lei antiga materialmente incompatível com o art. 5º da Constituição Federal de 1988 foi simplesmente revogada por esta, em 5/10/1988. Para concluirmos os comentários a essa questão, vamos a uma dúvida que sempre surge nas minhas aulas presenciais. A dúvida é a seguinte: podemos afirmar, então, que o Poder Judiciário não realiza controle de constitucionalidade do direito pré-constitucional em confronto com a Constituição Federal de 1988? Não, não podemos afirmar isso. O Poder Judiciário pode sim realizar, hoje, controle de constitucionalidade do direito pré-constitucional em confronto com a Constituição de 1988. Mas como, se não podemos falar em inconstitucionalidade nesse caso? Muito simples. O Poder Judiciário realizará controle de constitucionalidade do direito pré-constitucional, mas não para declarar a norma antiga “constitucional” ou “inconstitucional” frente à Constituição de 1988. Ao examinar a validade da norma antiga, decidirá o Poder Judiciário se ela foi revogada pela Constituição de 1988 (por incompatibilidade material) ou se foi recepcionada por esta (por compatibilidade material). Entendeu? Há controle de constitucionalidade, mas não para a declaração da constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma pré-constitucional em confronto com a Constituição de 1988 (e sim para o reconhecimento da revogação ou da recepção da norma antiga pela nova Constituição de 1988). Bem, como este curso on-line é de revisão em exercícios (o que pressupõe um pré-conhecimento da disciplina!), podemos avançar um pouco. Vejamos o que acontece com o julgamento de uma argüição de descumprimento de preceito fundamental – ADPF pelo STF. Sabe-se que a ADPF é a ação do controle concentrado perante o STF que admite a aferição da validade de leis federais, estaduais, distritais e CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 8 municipais, inclusive anteriores à Constituição de 1988 (pré- constitucionais). Logo, na ADPF, o STF aprecia a validade do direito pré- constitucional (editado antes de 5/10/1988) ou do direito pós- constitucional (editado após 5/10/1988), mas sempre em confronto com a Constituição Federal de 1988. No julgamento de uma ADPF pelo STF temos, então, o seguinte: a) se a norma objeto da ação é pós-constitucional (editada após 5/10/1988), a decisão do STF reconhecerá a sua constitucionalidade ou a sua inconstitucionalidade; b) se a norma objeto da ação é pré-constitucional (editada em data anterior a 5/10/1988), reconhecerá o STF a sua revogação pela CF/88 (no caso de incompatibilidade material) ou a sua recepção pela CF/88 (no caso de compatibilidade material). Esse mesmo raciocínio é aplicável ao controle concreto ou incidental, realizado pela via difusa. Quando o Poder Judiciário aprecia, diante de um caso concreto, a validade de uma lei em confronto com a Constituição de 1988, temos o seguinte: a) se a lei é pós-constitucional, a decisão reconhece a sua constitucionalidade ou a sua inconstitucionalidade; b) se a lei é pré-constitucional, a decisão reconhece a sua revogação ou a sua recepção. Olha, que questão excelente essa da Esaf! A partir dela, conseguimos revisar praticamente todos os aspectos relevantes sobre a força de uma nova Constituição sobre o direito pré-constitucional. 2) (ESAF/PFN/2006) Considerando o Direito Brasileiro, assinale a opção correta, no que diz respeito às conseqüências da ação do poder constituinte originário. a) Uma lei federal sobre assunto que a nova Constituição entrega à competência privativa dos Municípios fica imediatamente revogada com o advento da nova Carta. b) Uma lei que fere o processo legislativo previsto na Constituição sob cuja regência foi editada, mas que, até o advento da nova Constituição, nunca fora objeto de controle de constitucionalidade, não é considerada recebida por esta, mesmo que com ela guarde plena compatibilidade material e esteja de acordo com o novo processo legislativo. c) Para que a lei anterior à Constituição seja recebida pelo novo Texto Magno, é mister que seja compatível com este, tanto do ponto de vista da forma legislativa como do conteúdo dos seus preceitos. d) Normas não recebidas pela nova Constituição são consideradas, ordinariamente, como sofrendo de inconstitucionalidade superveniente. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 9 e) A Doutrina majoritária e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal convergem para afirmar que normas da Constituição anterior ao novo diploma constitucional, que com este não sejam materialmente incompatíveis, são recebidas como normas infraconstitucionais. Gabarito: “b” Comentário. A assertiva “a” está errada, porque a mudança na competência para o tratamento da matéria não prejudica a recepção da lei pré- constitucional. Na hipótese desta assertiva, a competência para o tratamento da matéria, na vigência da Constituição pretérita, pertencia à União, que, à época, editou a lei federal correspondente. Como a nova Constituição repassou essa competência aos Municípios, se a lei federal pretérita for materialmente compatível com o novo texto constitucional, será ela recepcionada, e continuará sendo utilizada pelos Municípios até que esses venham a editar suas próprias leis locais sobre o assunto. Nesse caso, diz-se que a lei federal foi recepcionada “com status de lei municipal”, significando dizer que, no novo ordenamento constitucional, terá ela “comportamento de lei municipal”, podendo o seu texto ser afastado por leis municipais posteriores. Caso a competência para o tratamento da matéria houvesse sido repassada para os Estados, a lei federal teria sido recepcionada “com status de lei estadual” e, portanto, poderia ser posteriormente afastada por leis estaduais. A assertiva “b” foi considerada certa pela Esaf. Esse assunto é muito polêmico, e depois de dez anos acompanhando provas de concursos, essa é a primeira vez que o vejo sendo cobrado por uma banca examinadora. Mas, como tudo na vida tem a primeira vez, vamos entender a controvérsia que cerca esse assunto. Pelo que estudamos nesta aula até aqui (e muito provavelmente pelo que você aprendeu com os seus professores até aqui também!), são dois os requisitos para que uma lei ordinária pré-constitucional possa ser recepcionada pela nova Constituição: (a) estar em vigor no momento da promulgação da nova Constituição; e (b) ser materialmente compatível com a nova Constituição. Acercadesses dois requisitos não há controvérsia alguma, conforme explicado nos dois parágrafos seguintes. Se a lei pré-constitucional não estiver em vigor no momento da promulgação da nova Constituição, não poderá ela ser recepcionada, em hipótese alguma. Enfim, se a lei pré-constitucional foi retirada do ordenamento jurídico antes da data da promulgação da nova Constituição (pela revogação ou pela declaração de inconstitucionalidade), é certo que ela não poderá mais ser recepcionada. Nesse caso, o que poderá ocorrer será a sua CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 10 repristinação, caso a nova Constituição traga disposição expressa nesse sentido (poderá ocorrer a repristinação expressa). Da mesma forma, se a lei pré-constitucional for incompatível materialmente com a nova Constituição, ela será simplesmente revogada por esta. Portanto, como dito antes, não há nenhuma controvérsia sobre a existência desses dois requisitos para o fim de recepção do direito ordinário pré-constitucional. Onde está, então, a controvérsia? A controvérsia está em saber se há um terceiro requisito para o fim de recepção de uma lei pré- constitucional. Que requisito seria esse? Esse requisito poderia ser assim indicado: “ter sido a lei validamente elaborada em relação à Constituição de sua época”. Ou, ainda, na seguinte pergunta: “uma lei que desrespeita a Constituição de 1969, mas que ainda não foi declarada inconstitucional na data da promulgação da Constituição de 1988, pode ser recepcionada por esta”? Ou, finalmente, assim: “uma lei que esteja em vigor na data da promulgação da Constituição de 1988 e seja materialmente compatível com esta, poderá ser recepcionada, ainda que seja inválida em relação à Constituição de 1969?” Não há consenso sobre esse assunto. Há os que defendem que se a lei ainda não foi retirada do ordenamento jurídico e é materialmente compatível com a nova Constituição, ela será recepcionada e pronto, nada importando a sua relação com a Constituição pretérita (isto é, nada importando se ela desrespeita ou não a Constituição pretérita). Para esses, uma vez promulgada a nova Constituição, daí por diante só interessa a relação da lei pré- constitucional com o novo texto constitucional, não tendo mais nenhuma importância, para o fim de recepção, o fato de a lei desrespeitar a Constituição pretérita. Para outros, a coisa é diferente. Se a lei desrespeita a Constituição de sua época, ainda que esteja em pleno vigor no momento da promulgação da nova Constituição, e seja com esta plenamente compatível, não poderá ela ser recepcionada. Para esses, a validade da lei deve ser aferida levando-se em conta a Constituição em vigor no momento da sua elaboração. Logo, se a lei desrespeita a Constituição que vigorava quando ela foi editada, tal lei já nasceu morta – e, portanto, não poderá ser recepcionada pela nova Constituição. Veja que, nessa questão, a Esaf adotou esse segundo entendimento, segundo o qual uma lei pré-constitucional que desrespeita a Constituição pretérita, que vigorava quando ela foi editada, não pode ser recepcionada, mesmo que ainda esteja no ordenamento jurídico na CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 11 data da promulgação da nova Constituição e seja com esta materialmente compatível. Na prática, seguindo essa posição adotada pela Esaf, seriam três (e não apenas dois!) os requisitos para que uma lei pré-constitucional seja recepcionada, a saber: a) estar em vigor na data da promulgação da nova Constituição; b) ser materialmente compatível com a nova Constituição; c) ter sido validamente elaborada em relação à Constituição pretérita, que vigorava no momento de sua elaboração. Pois é, eu acho uma pena a Esaf cobrar em prova matéria tão polêmica como essa, mas, fazer o quê, não adianta ficarmos brigando com banca examinadora... A assertiva “c” está errada porque, como vimos, para o fim de recepção do direito pré-constitucional só interessa a aferição da compatibilidade material, ligada ao conteúdo da norma. A compatibilidade formal é absolutamente irrelevante. Logo, a menção à necessidade de compatibilidade da forma legislativa invalida essa assertiva. A assertiva “d” está errada porque as normas pré-constitucionais não recebidas (não recepcionadas) pela nova Constituição são consideradas meramente revogadas. Não há que se falar em inconstitucionalidade superveniente, mas sim em mera revogação do direito pré- constitucional não compatível com a nova Constituição. A assertiva “e” está errada, porque todas as normas da Constituição pretérita são integralmente revogadas pela nova Constituição, ainda que supostamente compatíveis com o novo texto constitucional. A assertiva, ao afirmar que as normas da Constituição pretérita que não sejam materialmente incompatíveis com a nova Constituição são recebidas por esta como normas infraconstitucionais, está apresentando a tese da desconstitucionalização, que, como vimos, não é adotada no Brasil. 3) (ESAF/PROMOTOR/CE/2001) A respeito do poder constituinte originário, assinale a opção que consigna a assertiva correta. a) De acordo com a opinião predominante, as normas da Constituição anterior, não incompatíveis com a nova Lei Maior, continuam válidas e em vigor, embora com status infraconstitucional. b) Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as normas ordinárias anteriores à nova Constituição, com esta materialmente compatíveis, mas elaboradas por procedimento diverso do previsto pela nova Carta, tornam-se constitucionalmente inválidas. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 12 c) Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a superveniência de norma constitucional materialmente incompatível com o direito ordinário anterior opera a revogação deste. d) De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o advento de nova Constituição não pode afetar negativamente direitos adquiridos sob o regime constitucional anterior. e) Dá-se o nome de repristinação ao fenômeno da novação de fontes, que garante a continuidade da vigência, sob certas condições, do direito ordinário em vigor imediatamente antes da nova Constituição. Gabarito: “c” Comentário. A letra “a” está errada, porque afirma que as normas da Constituição antiga que não forem incompatíveis com a nova Constituição continuam válidas, com status infraconstitucional. O entendimento válido entre nós é que a nova Constituição revoga integralmente a Constituição antiga, ainda que haja compatibilidade entre os seus dispositivos. Na verdade, esse enunciado está defendendo a aplicação da tese da desconstitucionalização, que, como vimos, não é adotada no Brasil. A letra “b” está errada porque afirma que normas ordinárias antigas materialmente compatíveis com a nova Constituição, mas elaboradas por procedimento diverso do previsto pela nova Carta, tornam-se constitucionalmente inválidas. No exame da compatibilidade do direito pré-constitucional com a nova Constituição só nos interessa a chamada compatibilidade material, isto é, o conteúdo da norma. Só interessa saber se o conteúdo da norma antiga contraria ou não a nova Constituição. Em caso positivo, a norma antiga será revogada; em caso negativo, será ela recepcionada pela nova Constituição. Enfim, para se saber se uma norma antiga foi recepcionada ou não pela nova Constituição só interessa verificar se há compatibilidade material (de conteúdo) entre elas. Não interessa, em absolutamente nada, o exame da compatibilidade formal entre a norma antiga e a nova Constituição. Veja que o enunciado afirmaque o fato de a norma antiga ter sido elaborada por procedimento diverso do previsto na nova Constituição a invalidaria, o que não é verdade, pois se trata de aspecto meramente formal, que não prejudica a recepção. A assertiva “c” está certa. Segundo a jurisprudência do STF, a nova Constituição revoga as normas ordinárias antigas com ela materialmente incompatíveis. Uma lei de 1980, cujo conteúdo é incompatível com a Constituição Federal de 1988, foi simplesmente revogada por esta em 5/10/1988, data de promulgação do novo texto constitucional. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 13 A assertiva “d” está errada porque afirma que uma nova Constituição não pode afetar direito adquirido sob o regime constitucional anterior. Ora, sabe-se que uma nova Constituição é obra do poder constituinte originário, que é um poder ilimitado ou autônomo, isto é, que não está sujeito a nenhum limite imposto pelo direito positivo anterior. Significa dizer, em simples palavras, que o poder constituinte originário, ao elaborar uma nova Constituição, não se submete à observância de nenhuma regra do ordenamento constitucional anterior, podendo criar o novo Estado de acordo com sua exclusiva conveniência, mesmo que, para isso, tenha que afastar direitos adquiridos na vigência do texto constitucional pretérito. Em 1988, por exemplo, a Assembléia Nacional Constituinte, no exercício do poder constituinte originário, poderia construir o novo Estado brasileiro sem obediência a nenhum limite imposto pela Constituição de 1969. Enfim, não há nenhum impedimento a que uma nova Constituição afaste direitos adquiridos sob a vigência da Constituição pretérita. Nesse sentido, é firme a jurisprudência do STF de que não há direito adquirido frente a uma nova Constituição. A assertiva “e” está errada porque confunde os conceitos de recepção e repristinação do direito pré-constitucional. A recepção é o fenômeno que garante a continuidade da vigência do direito ordinário pré-constitucional em vigor no momento da promulgação da nova Constituição, desde que presente a chamada compatibilidade material (de conteúdo). A repristinação é o fenômeno que garante o revigoramento do direito pré-constitucional que não estava em vigor no momento da promulgação da nova Constituição. No Brasil, a repristinação do direito anterior não-vigente no momento da promulgação da nova Constituição só ocorrerá se houver disposição expressa nesta (poderá ocorrer repristinação expressa). Se a nova Constituição nada disser a respeito, não haverá repristinação desse direito não-vigente (não há, em nosso ordenamento jurídico, repristinação tácita). Recepção Repristinação Para normas pré-constitucionais em vigor no momento da promulgação da nova Constituição Para normas pré-constitucionais não-vigentes no momento da promulgação da nova Constituição É fenômeno tácito, que não exige disposição expressa na nova Constituição Apenas ocorre se houver disposição expressa no texto da nova Constituição CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 14 4) (ESAF/PROCURADOR/DF/2004) Suponha a existência de uma lei ordinária regularmente aprovada com base no texto constitucional de 1969, a qual veicula matéria que, pela Constituição de 1988, deve ser disciplinada por lei complementar. Com base nesses elementos, pode-se dizer que tal lei a) foi revogada por incompatibilidade formal com a Constituição de 1988. b) incorreu no vício de inconstitucionalidade superveniente em face da nova Constituição. c) pode ser revogada por outra lei ordinária. d) foi recepcionada com força de lei ordinária, mas somente pode ser modificada por lei complementar. e) pode ser revogada por emenda à Constituição Federal. Gabarito: “e” Comentário. Vimos que o fato de a Constituição pretérita exigir lei ordinária e a nova Constituição passar a exigir lei complementar não prejudica em nada a recepção da norma, pois essa distinção diz respeito à compatibilidade formal. Nesse caso, a lei ordinária será recepcionada normalmente, mas assumirá, no novo ordenamento constitucional, status de lei complementar. Significa dizer que, no novo ordenamento constitucional, a lei ordinária antiga não mais poderá ser revogada por outra lei ordinária, mas somente por outra lei complementar ou por norma de hierarquia superior (emenda constitucional). Com base nesse entendimento, passemos ao exame das assertivas. A assertiva “a” está errada porque, como dito, no conflito entre norma pré-constitucional e Constituição futura só interessa a compatibilidade material (conteúdo da norma), sendo absolutamente irrelevante a compatibilidade formal (aspectos formais de elaboração da norma). A assertiva “b” está errada porque afirma que haveria, na hipótese, vício de inconstitucionalidade superveniente. Já vimos que essa mudança de natureza formal – exigência de lei complementar para matéria até então disciplinada por lei ordinária – não prejudica em nada a recepção da norma antiga e que, também, a tese da inconstitucionalidade superveniente não é aceita no Brasil. A assertiva “c” está errada porque afirma que a lei ordinária antiga pode ser revogada por outra lei ordinária. Ora, se a nova Constituição exige lei complementar para o tratamento da matéria, significa dizer que a lei antiga foi recepcionada com força (status) de lei complementar, só podendo ser revogada no novo ordenamento constitucional por outra lei CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 15 complementar ou por emenda constitucional, que é norma de hierarquia superior à lei complementar A assertiva “d” está errada porque afirma que a lei antiga foi recepcionada com força de lei ordinária, o que não é correto. Se a nova Constituição exige lei complementar para o tratamento da matéria, a lei ordinária pré-constitucional foi recepcionada com força de lei complementar. A assertiva “e” está certa. Se a nova Constituição exige lei complementar para o tratamento da matéria, a lei ordinária antiga foi recepcionada com status de lei complementar, só podendo daí por diante ser revogada por outra lei complementar ou por emenda constitucional. Sobre esse aspecto, um comentário importante. Não é correto afirmar que uma lei ordinária pré-constitucional recepcionada com status de lei complementar “só pode ser revogada por outra lei complementar”. Poderá ela ser revogada por outra lei complementar ou por outra norma de hierarquia superior, que é o caso da emenda constitucional. Da mesma forma, não é correto afirmar que uma norma recepcionada com força de lei ordinária “só pode ser revogada por outra lei ordinária”. Ora, se a norma foi recepcionada com força de lei ordinária, poderá ser revogada por outra lei ordinária, por lei complementar, por lei delegada (se não se tratar de matéria vedada à lei delegada), por medida provisória (se não se tratar de matéria vedada à medida provisória) e por emenda constitucional. 5) (ESAF/PROCURADOR/FORTALEZA/2002/MODIFICADA) Assinale a opção correta. a) A lei anterior à Constituição Federal incompatível, no seu conteúdo, com a nova Carta da República, deve ser declarada, por meio de ação direta de inconstitucionalidade, supervenientemente inconstitucional. b) As normas da Constituição de 1967/1969, que não entram, quanto ao seu conteúdo, em linha colidente com a Constituição de 1988, são consideradas como recebidas pela nova ordem, com status de lei complementar. c) A lei posterior à Constituição de 1988, mas anterior à reforma desta Carta validamente promovida por emenda constitucionalcom a qual referida lei é materialmente incompatível, é considerada revogada para todos os efeitos apenas a partir do instante em que o Supremo Tribunal Federal reconhece tal situação em decisão definitiva, e não a partir da entrada em vigor daquela emenda. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 16 d) Todo Decreto-Lei editado antes da Constituição de 1988 perdeu eficácia depois da promulgação desta, uma vez que a ordem constitucional em vigor não previu tal instrumento normativo. e) Lei ordinária anterior à Constituição de 1988, com ela materialmente compatível, é tida como recebida pela nova ordem constitucional, mesmo que esta exija lei complementar para regular o assunto. Gabarito: “e” Comentário. A assertiva “a” afirma que uma lei pré-constitucional materialmente incompatível com a nova Constituição deve ser declarada, por meio de ação direta de inconstitucionalidade, supervenientemente inconstitucional. Vimos que o STF não admite a tese da ocorrência da inconstitucionalidade superveniente, segundo a qual uma lei tornar-se-ia supervenientemente inconstitucional em razão da promulgação de um novo texto constitucional em sentido contrário. Para o STF, a lei pré- constitucional materialmente incompatível com a nova Constituição é simplesmente revogada por esta. Portanto, só esse aspecto já invalida a assertiva, pois não é juridicamente possível declarar a inconstitucionalidade de norma pré-constitucional frente à Constituição futura. Há um outro erro na assertiva que é a menção à ação direta de inconstitucionalidade – ADIN como meio para a declaração da inconstitucionalidade do direito pré-constitucional. Conforme veremos mais adiante, no exame do controle de constitucionalidade, a ADIN não admite como seu objeto direito pré-constitucional. Em hipótese alguma uma norma pré-constitucional (editada antes de 5/10/1988) poderá ser impugnada em ação direta de inconstitucionalidade perante o STF. Há, portanto, dois erros na assertiva “a”: (i) no caso de incompatibilidade material entre lei antiga e a nova Constituição não temos inconstitucionalidade superveniente, mas sim mera revogação da norma pré-constitucional; (ii) não caberia ação direta de inconstitucionalidade contra a lei, porque essa ação não admite como seu objeto normas pré-constitucionais. A assertiva “b” está errada porque a nova Constituição revoga integralmente a Constituição antiga, independentemente da compatibilidade entre os seus dispositivos. A tese da desconstitucionalização – que admite a recepção de dispositivos da Constituição pretérita com força de lei – não é adotada no Brasil. A assertiva “c” está errada. Sempre que entra em vigor um novo texto constitucional (isto é, sempre que entra em vigor uma nova Constituição ou uma nova emenda constitucional), a lei anterior materialmente CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 17 incompatível com esse novo texto constitucional é considerada tacitamente revogada nessa mesma data (data de entrada em vigor do novo texto constitucional). Exemplificando: se a Constituição de 1988 entrou em vigor em 5/10/1988, nessa data todas as leis anteriores com ela materialmente incompatíveis foram revogadas. Da mesma forma, se determinada emenda constitucional entrou em vigor em 20/12/2004, nesta mesma data as leis anteriores com ela materialmente incompatíveis foram tacitamente revogadas. Importantíssimo esse ponto. Sempre que entra em vigor um novo texto constitucional, opera-se, nessa mesma data, a revogação das leis anteriores com ele materialmente incompatíveis e a recepção das leis anteriores com ele materialmente compatíveis. Esses fenômenos – recepção ou revogação do direito pré-constitucional pela nova Constituição – ocorrem tacitamente, com a simples entrada em vigor do novo texto constitucional. Isso não significa que no futuro não possamos ter dúvida sobre a recepção de determinada lei pré-constitucional. Podemos? Sem dúvida. Ainda hoje, diante de um caso concreto, é possível que tenhamos dúvida se determinada lei foi recepcionada ou revogada pela Constituição de 1988. Em que situação? Suponha um contrato celebrado no ano de 2006, sobre o qual supostamente incida determinada lei publicada no ano de 1985. Nesse caso, um dos sujeitos pode entender que essa lei pré-constitucional não é aplicável ao contrato, por ter sido revogada pela Constituição de 1988, em face de sua incompatibilidade material. Por sua vez, o outro sujeito pode entender que referida lei pré-constitucional foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, por ser com ela materialmente compatível. Diante dessa controvérsia, caberá ao sujeito que se sentir prejudicado recorrer ao Poder Judiciário para que este decida se referida lei de 1985 foi revogada ou recepcionada pela Constituição Federal de 1988. Mas, qualquer decisão proferida pelo Poder Judiciário terá efeitos retroativos a 5/10/1988 (data da promulgação da CF/88). Assim, se o Poder Judiciário decidir, em 2007, que essa lei de 1985 foi revogada, essa revogação ocorreu em 5/10/1988 (data da entrada em vigor da vigente Constituição), e não na data da decisão judicial. O mesmo raciocínio vale para a hipótese do reconhecimento da recepção da norma. Enfim: a revogação (ou a recepção) do direito pré-constitucional ocorre sempre na data da entrada em vigor do novo texto constitucional (nova Constituição ou nova emenda constitucional). Mesmo que o Poder CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 18 Judiciário só reconheça formalmente a revogação (ou a recepção) em momento futuro, a decisão judicial retroagirá àquela data. Portanto, a assertiva “c” está errada porque afirma que a norma só é considerada revogada a partir da decisão do STF, o que não é verdade. Essa norma, materialmente incompatível com a nova emenda constitucional, é considerada revogada a partir da data de entrada em vigor da emenda. A assertiva “d” está errada porque afirma que todo o decreto-lei perdeu sua eficácia com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que não prevê essa espécie normativa. De fato, a Constituição de 1988 não prevê o instrumento normativo decreto-lei, haja vista sua substituição pela medida provisória. Porém, esse fato em nada retira a eficácia daqueles decretos-leis antigos materialmente compatíveis com a Constituição de 1988. Trata-se de aspecto meramente formal, que, como vimos, não prejudica a recepção do direito pré-constitucional. Assim, com a promulgação da Constituição de 1988, os decretos-leis com ela materialmente incompatíveis foram revogados e, aqueles materialmente compatíveis, foram por ela recepcionados e estão hoje em pleno vigor. Uma dúvida que sempre surge em sala de aula: se atualmente não temos a figura do decreto-lei no nosso processo legislativo, qual a força (status) que têm hoje os antigos decretos-leis que foram recepcionados? Depende. A força desses decretos-leis depende do novo tratamento dado à matéria pela Constituição Federal de 1988. Se a Constituição de 1988 passou a exigir lei complementar para o tratamento da matéria disciplinada no decreto-lei antigo, este tem hoje status de lei complementar; se a Constituição Federal de 1988 exige lei ordinária para o tratamento da mesma matéria, o decreto-lei antigo tem hoje força de lei ordinária – e assim por diante. A assertiva “e” está certa, pois o fato de a Constituição de 1988 passar a exigir lei complementar para o tratamento de matéria até então disciplinada em lei ordinária não prejudica em nada a recepção dessa lei ordinária. Trata-se de aspecto meramente formal, irrelevantepara o fim de recepção. Nesse caso, se houver compatibilidade material, a lei ordinária antiga será recepcionada normalmente e assumirá, no novo ordenamento constitucional, status de lei complementar, só podendo ser revogada daí por diante por outra lei complementar ou por emenda constitucional. 6) (ESAF/PROCURADOR/DF/2004) A legislação federal anterior à Constituição de 1988 e regularmente aprovada com base na CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 19 competência da União definida no texto constitucional pretérito é considerada recebida como estadual ou municipal se a matéria por ela disciplinada passou segundo a nova Constituição para o âmbito de competência dos Estados ou dos Municípios, conforme o caso, não se podendo falar em revogação daquela legislação em virtude dessa mudança de competência promovida pelo novo texto constitucional. Item CERTO. Comentário. A questão é muito simples, senão vejamos. No regime constitucional anterior, a competência sobre determinada matéria pertencia à União, que havia editado lei federal sobre o assunto. Se a Constituição futura repassar a competência sobre a matéria para os estados-membros, a lei federal antiga será recepcionada com força de lei estadual e,daí por diante, poderá ser afastada por lei estadual. Ou, se a Constituição futura repassar a competência sobre a matéria para os Municípios, a lei federal antiga será recepcionada com força de lei municipal edaí por diante, poderá ser afastada por lei municipal. Enfim, a mudança da competência para o tratamento da matéria – da União para os Estados ou para os Municípios - não prejudica a recepção, apenas altera o status da norma. 7) (ESAF/AFRF/2000) Sabe-se que a Constituição em vigor não prevê a figura do Decreto-Lei. Sobre um Decreto-Lei, editado antes da Constituição em vigor, cujo conteúdo é compatível com esta, é possível afirmar: a) Continua a produzir efeitos na vigência da nova Carta, por força do mecanismo da recepção. b) Deve ser considerado formalmente inconstitucional e, por isso, insuscetível de produzir efeitos, pelo menos a partir da Constituição de 1988. c) Deve ser considerado revogado com o advento da nova Constituição. d) Deve ser considerado repristinado, podendo produzir efeitos parciais. e) Passa a valer como decreto autônomo, perdendo a sua eficácia com relação às matérias submetidas ao princípio da legalidade. Gabarito: “a” Comentário. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 20 Vimos que, para o fim de recepção do direito pré-constitucional, só é relevante a compatibilidade material (conteúdo da norma). Logo, se houver compatibilidade material (de conteúdo) entre a norma antiga e a nova Constituição, a norma antiga será recepcionada, nada importando os aspectos meramente formais (processo legislativo, forma legislativa da norma antiga etc.). Como a assertiva diz que o conteúdo do decreto-lei antigo é compatível com a Constituição Federal de 1988, será ele por esta recepcionado (mesmo sabendo-se que a Constituição Federal de 1988 não prevê o instrumento normativo decreto-lei em seu processo legislativo). 8) (ESAF/ANALISTA/BACEN/2001) Não se pode discutir em juízo a validade de uma lei em face da Constituição que vigorava quando o diploma foi editado, se a lei é plenamente compatível com a Constituição que se encontra atualmente em vigor. Item ERRADO. Comentário. Esse enunciado, de altíssimo nível, nos remete ao assunto controle de constitucionalidade do direito pré-constitucional. Vejam que o examinador quer saber se é possível hoje, na vigência da Constituição de 1988, discutir perante o Poder Judiciário a validade de uma lei antiga em face da Constituição antiga (vigente na época da elaboração da lei), mesmo sabendo que essa lei antiga é plenamente compatível com a Constituição Federal de 1988. Imaginem uma lei pré-constitucional publicada no ano de 1985, sob a vigência da Constituição de 1969. O examinador quer saber se é possível hoje, na vigência da Constituição de 1988, discutir a validade dessa lei de 1985 em face da Constituição de 1969, sabendo-se que a lei é plenamente compatível com a Constituição de 1988. Observem que não se quer discutir a validade da lei pré-constitucional em confronto com a Constituição futura, de 1988. Não, não é isso. O próprio enunciado já afirma que a lei antiga é plenamente compatível com a Constituição de 1988. A discussão é se a lei é válida (ou não) em face da Constituição de 1969, em vigor no ano de 1985, quando a lei foi editada. E então, pode hoje o indivíduo recorrer ao Poder Judiciário pleiteando a declaração da inconstitucionalidade de uma lei de 1985 por desrespeito à Constituição de 1969, mesmo sabendo que essa lei é compatível com a Constituição de 1988? A resposta é afirmativa. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 21 Se a lei é pré-constitucional, podemos afirmar que até 4/10/1988 (último dia da vigência da Constituição de 1969) a sua validade foi regulada pela Constituição de 1969. Vale dizer, até 4/10/1988 a validade da lei estava sujeita à observância do texto e princípios da Constituição de 1969. Concordam? Logo, se nesse período o indivíduo foi prejudicado por essa lei (na celebração de determinado contrato, por exemplo), poderá requerer hoje ao Poder Judiciário a declaração de sua inconstitucionalidade em confronto com a Constituição de 1969, com o fim de afastar a sua aplicação ao caso concreto. Se o indivíduo quer afastar a aplicação da lei àquele período pretérito, deverá discutir a sua validade em face da Constituição de 1969, pois era esta que regulava a validade da lei naquele período. Ainda sobre esse assunto, três aspectos merecem destaque. O primeiro é que, nesse caso, o Poder Judiciário declarará a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei antiga em face da Constituição de sua época. Não é caso para reconhecimento da revogação ou da recepção da lei pré-constitucional, pois o confronto não é com Constituição futura, mas sim com a Constituição da época da publicação da lei. O segundo é que o Poder Judiciário apreciará a compatibilidade material e formal da lei antiga em confronto com a Constituição de sua época, e não somente a Compatibilidade material, como ocorre no confronto com uma Constituição futura. É que a lei deve obediência material (de conteúdo) e também formal (processo de elaboração) em relação à Constituição de sua época. Diferentemente do confronto com Constituição futura, em que só há relevância no exame da compatibilidade material (conteúdo da norma). O terceiro é que esse controle de constitucionalidade em confronto com Constituição pretérita só é possível diante de um caso concreto. Só poderá impugnar a lei pré-constitucional em face da Constituição pretérita aquele que houver sido prejudicado por ela, em um caso concreto. Não existe controle abstrato em confronto com Constituição pretérita. Todo o controle abstrato só se presta à aferição da validade de normas em confronto com a Constituição Federal de 1988 – jamais frente a Constituição pretérita! A partir dessas considerações, podemos concluir que o direito pré- constitucional pode ser objeto de controle de constitucionalidade em face da Constituição de sua época e, também, em face da Constituição futura, conforme síntese apresentada no quadro abaixo: CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 22 Controle de constitucionalidade do direito pré-constitucional Em face da Constituiçãode sua época Em face da Constituição futura Para o reconhecimento da constitucionalidade ou da inconstitucionalidade Para o reconhecimento da recepção ou da revogação Exame da compatibilidade material e formal Exame somente da compatibilidade material Somente controle concreto Controle concreto ou abstrato, na via da argüição de descumprimento de preceito fundamental - ADPF 9) (ESAF/PROCURADOR/DF/2004) É possível em recurso extraordinário julgado na vigência da Constituição de 1988 declarar a inconstitucionalidade de lei anterior a essa Carta por incompatibilidade material ou formal com a Constituição pretérita. Item CERTO. Comentário. A assertiva trata do mesmo assunto do item anterior, no qual vimos que é possível, sob a vigência da Constituição de 1988, discutir a validade do direito pré-constitucional em confronto com a Constituição pretérita. O recurso extraordinário é o meio idôneo para se levar à apreciação do STF controvérsia constitucional suscitada em casos concretos, apreciados pelos juízos inferiores. É o meio pelo qual o STF poderá ser provocado para decidir sobre a validade do direito pré-constitucional em confronto com Constituição pretérita. Importante notar que o examinador fez expressa menção à incompatibilidade material e formal, deixando claro que, no confronto do direito pré-constitucional com a Constituição de sua época, interessa- nos não só a compatibilidade material (de conteúdo), mas também a compatibilidade formal (de forma, de processo de elaboração). Bem, até agora só vimos questões da Esaf sobre esse assunto. Vamos, daqui por diante, dar uma olhada em alguns exercícios do Cespe/Unb e da Fundação Carlos Chagas – FCC, a fim de que você tenha uma idéia de como essas bancas abordam em seus concursos os mesmos pontos até aqui estudados. 10) (CESPE/PROCURADOR/TCPE/2004) Considere a seguinte situação hipotética. Uma lei foi publicada na vigência da Constituição anterior e CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 23 se encontrava no prazo de vacatio legis. Durante esse prazo, foi promulgada uma nova Constituição. Nessa situação, segundo a doutrina, a lei não poderá entrar em vigor. Item CERTO. Comentário. Sabe-se que cabe ao legislador a fixação do momento de entrada em vigor da lei. Como regra, o legislador fixa para o início da vigência a data da publicação da lei. Por isso é comum, no texto da lei, a presença do seguinte comando: “Esta lei entra em vigor na data de sua publicação”. Porém, nem sempre é assim. O legislador poderá diferir o início da vigência da lei para um momento futuro à sua publicação. Publica-se a lei em janeiro de 2006, mas difere- se a sua entrada em vigor para julho de 2006, por exemplo. O legislador poderá, ainda, ser omisso quanto ao início da entrada em vigor da lei (isto é, o texto da lei pode não fixar a data de início da sua vigência). Nesse caso – omissão do legislador quanto à data do início da vigência da lei -, aplica-se o disposto no art. 1º da Lei de Introdução do Código Civil – LICC, segundo o qual a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente publicada, e nos Estados estrangeiros depois de 3 meses da publicação oficial. Em todos esses casos, o período compreendido entre a publicação e a entrada em vigor da lei é chamado de vacatio legis (vacância da lei). Diz-se “vacância da lei” porque a lei já integra o ordenamento jurídico, mas permanece em estado de vacância, sem incidência, sem força obrigatória em relação aos seus destinatários. Fixada essa breve noção sobre a vacatio legis, passemos ao exame do exercício: o que acontece se for publicada uma nova Constituição no período de vacatio legis? A norma vacante entrará em vigor no novo ordenamento constitucional que se inicia? Imagine uma lei publicada em setembro de 1988, omissa quanto à data de sua entrada em vigor. Diante da omissão, essa lei só entraria em vigor no país após 45 dias de sua publicação. Logo, na data da promulgação da Constituição Federal de 1988 (5/10/1988) a lei estaria durante o período da vacatio legis. Poderia essa lei entrar em vigor no novo ordenamento constitucional que se inicia? Embora não exista consenso a respeito, o entendimento doutrinário dominante é no sentido negativo, de que a norma vacante não entrará em vigor no novo ordenamento constitucional que se inicia, vale dizer, não poderá ela ser recepcionada pela nova Constituição. Por que não? CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 24 Porque a norma não estava em vigor na data da promulgação do novo texto constitucional e, como vimos, a recepção do direito pré- constitucional materialmente compatível só alcança as normas “em vigor” no momento da promulgação da nova Constituição. 11) (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2005) No caso brasileiro, os efeitos do exercício do poder constituinte derivado sobre a legislação anterior à promulgação do novo texto constitucional são de duas naturezas: ou as normas são recepcionadas, por estarem formal e materialmente em conformidade com o novo texto constitucional, ou são consideradas revogadas por inconstitucionalidade. Item ERRADO. Comentário. Todas as afirmações desse item estão erradas! Sabe-se que o poder constituinte originário é aquele que elabora uma nova Constituição. Ora, conforme estudamos exaustivamente nesta aula, os efeitos do poder constituinte originário sobre a legislação anterior à promulgação do novo texto constitucional são os seguintes: (a) ou as normas são recepcionadas, por estarem materialmente em conformidade com o novo texto constitucional; ou (b) são consideradas revogadas, por incompatibilidade material com o novo texto constitucional. Logo, o enunciado está errado por dois motivos: primeiro, porque, no caso da recepção, não há necessidade de compatibilidade formal, basta que haja compatibilidade material; segundo, porque a revogação do direito pré-constitucional não se dá em razão de inconstitucionalidade, mas sim de mera incompatibilidade material. 12) (FCC/AUDITOR/TCE-MG/2005) A legislação infraconstitucional editada anteriormente à Constituição de 1988 (A) perdeu eficácia 180 dias após a sua promulgação. (B) foi implicitamente revogada e, na seqüência, repristinada. (C) continua integralmente válida. (D) foi republicada a fim de ter validade formal. (E) foi recepcionada nos aspectos que não contrariam as novas normas constitucionais. Gabarito: “e” Comentário. O enunciado nos traz uma indagação genérica sobre o destino do direito infraconstitucional editado em data anterior à promulgação da Constituição de 1988. Sabemos que o direito infraconstitucional pré- CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 25 constitucional: (a) foi recepcionado pela Constituição de 1988, no caso de compatibilidade material com o novo texto constitucional; ou (b) foi revogado pela nova Constituição, em razão de incompatibilidade material com o novo texto constitucional. A assertiva que responde ao enunciado da questão é, portanto, a letra “e”. 13) (FCC/PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-PE/2002) A Constituição considerava que uma determinada matéria podia ser regulada por lei ordinária, sendo certo que a nova Constituição exige lei complementar. Nesse caso, a lei ordinária votada sob a vigência do anterior texto constitucional é considerada, havendo compatibilidade com o texto atual, (A) revogada, por inconstitucionalidade material, uma vez que essa matéria só pode ser regulada por lei complementar. (B) revogada, por defeito formal, devendo uma leicomplementar ser votada com preferência absoluta de tramitação pelo Congresso Nacional. (C) repristinada, visto que, mesmo votada em época anterior à Constituição, mantém sua vigência por não conflitar com o novo texto. (D) recepcionada, porque recebida pela Constituição nova, mas será sempre uma lei ordinária e por outra lei ordinária poderá ser revogada. (E) recepcionada, agora com status de lei complementar, tanto que só poderá ser revogada por uma lei desse tipo. Gabarito: “e” Comentário. O enunciado é muito simples. A Constituição pretérita exigia lei ordinária para disciplinar determinada matéria, ao passo que a nova Constituição passou a exigir lei complementar. Nesse caso, caso haja compatibilidade material, a lei ordinária editada na vigência da Constituição pretérita será recepcionada pela nova Constituição, mas com status de lei complementar. Afirmar que a lei ordinária pré-constitucional será recepcionada “com status de lei complementar” significa dizer que, na vigência da nova Constituição, tal lei não mais poderá ser revogada por lei ordinária, mas somente por outra lei complementar ou por norma de hierarquia superior, que é o caso de emenda à Constituição. Essa questão da Fundação Carlos Chagas não está bem formulada, pois tal lei não só poderá ser revogada por lei complementar, mas, também, por normas de hierarquia superior (emendas constitucionais). Mas, como eu disse anteriormente, não podemos “brigar” com a banca examinadora! Temos que, nesses casos, marcar a opção “mais correta”. Bem, de qualquer forma, por eliminação, podemos verificar que as CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 26 outras assertivas apresentadas na questão estão nitidamente erradas, o que nos levaria a marcarmos a letra “e” como resposta desta questão. Bons estudos! Valorize esse tema, pois ele tem sido cobrado em concursos de forma bastante avançada. Caso remanesçam dúvidas, trocaremos idéias no fórum criado para esse fim. Vicente Paulo CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 27 LISTA DAS QUESTÕES COMENTADAS NESTA AULA 1) (ESAF/TRT/7ª REGIÃO/JUIZ SUBSTITUTO/2006) Assinale a opção correta. a) Com o advento de uma nova Constituição, normas da Constituição anterior que sejam compatíveis com o novo diploma continuam a vigorar, embora com força de lei. b) Chama-se Constituição outorgada aquela que é votada pelos representantes do povo especialmente convocados para elaborar o novo Estatuto Político. c) Normas de lei ordinária anteriores à nova Constituição que sejam com essa materialmente compatíveis são tidas como recebidas, mesmo que se revistam de forma legislativa que já não mais é prevista na nova Carta. d) Admite-se pacificamente entre nós a invocação do direito adquirido contra norma provinda do poder constituinte originário. e) Assentou-se a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que as normas anteriores à Constituição com essa materialmente incompatíveis são consideradas inconstitucionais e, não, meramente revogadas. 2) (ESAF/PFN/2006) Considerando o Direito Brasileiro, assinale a opção correta, no que diz respeito às conseqüências da ação do poder constituinte originário. a) Uma lei federal sobre assunto que a nova Constituição entrega à competência privativa dos Municípios fica imediatamente revogada com o advento da nova Carta. b) Uma lei que fere o processo legislativo previsto na Constituição sob cuja regência foi editada, mas que, até o advento da nova Constituição, nunca fora objeto de controle de constitucionalidade, não é considerada recebida por esta, mesmo que com ela guarde plena compatibilidade material e esteja de acordo com o novo processo legislativo. c) Para que a lei anterior à Constituição seja recebida pelo novo Texto Magno, é mister que seja compatível com este, tanto do ponto de vista da forma legislativa como do conteúdo dos seus preceitos. d) Normas não recebidas pela nova Constituição são consideradas, ordinariamente, como sofrendo de inconstitucionalidade superveniente. e) A Doutrina majoritária e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal convergem para afirmar que normas da Constituição anterior ao CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 28 novo diploma constitucional, que com este não sejam materialmente incompatíveis, são recebidas como normas infraconstitucionais. 3) (ESAF/PROMOTOR/CE/2001) A respeito do poder constituinte originário, assinale a opção que consigna a assertiva correta. a) De acordo com a opinião predominante, as normas da Constituição anterior, não incompatíveis com a nova Lei Maior, continuam válidas e em vigor, embora com status infraconstitucional. b) Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as normas ordinárias anteriores à nova Constituição, com esta materialmente compatíveis, mas elaboradas por procedimento diverso do previsto pela nova Carta, tornam-se constitucionalmente inválidas. c) Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a superveniência de norma constitucional materialmente incompatível com o direito ordinário anterior opera a revogação deste. d) De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o advento de nova Constituição não pode afetar negativamente direitos adquiridos sob o regime constitucional anterior. e) Dá-se o nome de repristinação ao fenômeno da novação de fontes, que garante a continuidade da vigência, sob certas condições, do direito ordinário em vigor imediatamente antes da nova Constituição. 4) (ESAF/PROCURADOR/DF/2004) Suponha a existência de uma lei ordinária regularmente aprovada com base no texto constitucional de 1969, a qual veicula matéria que, pela Constituição de 1988, deve ser disciplinada por lei complementar. Com base nesses elementos, pode-se dizer que tal lei a) foi revogada por incompatibilidade formal com a Constituição de 1988. b) incorreu no vício de inconstitucionalidade superveniente em face da nova Constituição. c) pode ser revogada por outra lei ordinária. d) foi recepcionada com força de lei ordinária, mas somente pode ser modificada por lei complementar. e) pode ser revogada por emenda à Constituição Federal. 5) (ESAF/PROCURADOR/FORTALEZA/2002/MODIFICADA) Assinale a opção correta. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 29 a) A lei anterior à Constituição Federal incompatível, no seu conteúdo, com a nova Carta da República, deve ser declarada, por meio de ação direta de inconstitucionalidade, supervenientemente inconstitucional. b) As normas da Constituição de 1967/1969, que não entram, quanto ao seu conteúdo, em linha colidente com a Constituição de 1988, são consideradas como recebidas pela nova ordem, com status de lei complementar. c) A lei posterior à Constituição de 1988, mas anterior à reforma desta Carta validamente promovida por emenda constitucional com a qual referida lei é materialmente incompatível, é considerada revogada para todos os efeitos apenas a partir do instante em que o Supremo Tribunal Federal reconhece tal situação em decisão definitiva, e não a partir da entrada em vigor daquela emenda. d) Todo Decreto-Lei editado antes da Constituição de 1988 perdeu eficácia depois da promulgação desta, uma vez que a ordem constitucional em vigor não previu tal instrumento normativo. e) Lei ordinária anterior à Constituição de 1988, com ela materialmente compatível, é tida como recebida pela nova ordem constitucional, mesmo que esta exija lei complementar para regularo assunto. 6) (ESAF/PROCURADOR/DF/2004) A legislação federal anterior à Constituição de 1988 e regularmente aprovada com base na competência da União definida no texto constitucional pretérito é considerada recebida como estadual ou municipal se a matéria por ela disciplinada passou segundo a nova Constituição para o âmbito de competência dos Estados ou dos Municípios, conforme o caso, não se podendo falar em revogação daquela legislação em virtude dessa mudança de competência promovida pelo novo texto constitucional. 7) (ESAF/AFRF/2000) Sabe-se que a Constituição em vigor não prevê a figura do Decreto-Lei. Sobre um Decreto-Lei, editado antes da Constituição em vigor, cujo conteúdo é compatível com esta, é possível afirmar: a) Continua a produzir efeitos na vigência da nova Carta, por força do mecanismo da recepção. b) Deve ser considerado formalmente inconstitucional e, por isso, insuscetível de produzir efeitos, pelo menos a partir da Constituição de 1988. c) Deve ser considerado revogado com o advento da nova Constituição. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 30 d) Deve ser considerado repristinado, podendo produzir efeitos parciais. e) Passa a valer como decreto autônomo, perdendo a sua eficácia com relação às matérias submetidas ao princípio da legalidade. 8) (ESAF/ANALISTA/BACEN/2001) Não se pode discutir em juízo a validade de uma lei em face da Constituição que vigorava quando o diploma foi editado, se a lei é plenamente compatível com a Constituição que se encontra atualmente em vigor. 9) (ESAF/PROCURADOR/DF/2004) É possível em recurso extraordinário julgado na vigência da Constituição de 1988 declarar a inconstitucionalidade de lei anterior a essa Carta por incompatibilidade material ou formal com a Constituição pretérita. 10) (CESPE/PROCURADOR/TCPE/2004) Considere a seguinte situação hipotética. Uma lei foi publicada na vigência da Constituição anterior e se encontrava no prazo de vacatio legis. Durante esse prazo, foi promulgada uma nova Constituição. Nessa situação, segundo a doutrina, a lei não poderá entrar em vigor. 11) (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2005) No caso brasileiro, os efeitos do exercício do poder constituinte derivado sobre a legislação anterior à promulgação do novo texto constitucional são de duas naturezas: ou as normas são recepcionadas, por estarem formal e materialmente em conformidade com o novo texto constitucional, ou são consideradas revogadas por inconstitucionalidade. 12) (FCC/AUDITOR/TCE-MG/2005) A legislação infraconstitucional editada anteriormente à Constituição de 1988 (A) perdeu eficácia 180 dias após a sua promulgação. (B) foi implicitamente revogada e, na seqüência, repristinada. (C) continua integralmente válida. (D) foi republicada a fim de ter validade formal. (E) foi recepcionada nos aspectos que não contrariam as novas normas constitucionais. 13) (FCC/PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-PE/2002) A Constituição considerava que uma determinada matéria podia ser regulada por lei CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 31 ordinária, sendo certo que a nova Constituição exige lei complementar. Nesse caso, a lei ordinária votada sob a vigência do anterior texto constitucional é considerada, havendo compatibilidade com o texto atual, (A) revogada, por inconstitucionalidade material, uma vez que essa matéria só pode ser regulada por lei complementar. (B) revogada, por defeito formal, devendo uma lei complementar ser votada com preferência absoluta de tramitação pelo Congresso Nacional. (C) repristinada, visto que, mesmo votada em época anterior à Constituição, mantém sua vigência por não conflitar com o novo texto. (D) recepcionada, porque recebida pela Constituição nova, mas será sempre uma lei ordinária e por outra lei ordinária poderá ser revogada. (E) recepcionada, agora com status de lei complementar, tanto que só poderá ser revogada por uma lei desse tipo. CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR VICENTE PAULO WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 32 GABARITO 1) C 2) B 3) C 4) E 5) E 6) CERTO 7) A 8) ERRADO 9) CERTO 10) CERTO 11) ERRADO 12) E 13) E
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