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Resumo Filosofia do Direito Alysson Mascaro 6

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RESUMO DO LIVRO “FILOSOFIA DO DIREITO” 
DE ALYSSON MASCARO 
 
2ª FASE TJ/SP 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA DO DIREITO – ALYSSON MASCARO1 
Sumário 
FILOSOFIA GRECO-ROMANA. SÓCRATES. ..................................................................................... 4 
Sócrates. .................................................................................................................................... 4 
FILOSOFIA GRECO-ROMANA. PLATÃO. ..................................................................................... 5 
FILOSOFIA GRECO-ROMANA. ARISTÓTELES. ............................................................................. 7 
FILOSOFIA MEDIEVAL. ................................................................................................................... 9 
Santo Agostinho. ..................................................................................................................... 10 
São Tomás de Aquino. ............................................................................................................. 11 
FILOSOFIA MODERNA.................................................................................................................. 12 
Contextualização ..................................................................................................................... 12 
Thomas Hobbes. ...................................................................................................................... 17 
John Locke. .............................................................................................................................. 18 
Jean-Jacques Rousseau. .......................................................................................................... 19 
KANT ........................................................................................................................................ 20 
JEREMY BENTHAM .................................................................................................................. 28 
Hegel ....................................................................................................................................... 30 
Karl Marx ................................................................................................................................. 36 
A Filosofia do Direito de Marx (1818 — 1883) – Sobre Marx ..................................................... 36 
FILOSOFIA DO DIREITO CONTEMPORÂNEA ................................................................................ 43 
Filosofia do direito Juspositivista ............................................................................................ 46 
Miguel Reale (1910-2005) ................................................................................................... 46 
Kelsen (1881-1973) ............................................................................................................. 49 
HABERMAS .......................................................................................................................... 54 
Filosofia do Direito não positivista .......................................................................................... 55 
Heidegger ............................................................................................................................ 55 
Gadamer .............................................................................................................................. 60 
Schimitt ............................................................................................................................... 65 
Filosofia do Direito Crítica ....................................................................................................... 70 
Gramsci (1891 a 1937) ........................................................................................................ 70 
Escola de Frankfurt .............................................................................................................. 73 
 
1 Organizado por Bibiana Veríssimo Bernardes 
Lukács (1885 – 1971) ........................................................................................................... 77 
BLOCH (1885-1977) ............................................................................................................. 80 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA GRECO-ROMANA. SÓCRATES2. 
Introdução. Nascido em Atenas, Sócrates 
é tradicionalmente considerado um marco 
divisório na história da filosofia grega. Por 
isso os filósofos que o antecederam são 
chamados de pré-socráticos e os que o 
sucederam, de pós-socráticos. Sócrates, 
no entanto, não deixou nada escrito. O 
que dele e de seu pensamento se sabe 
vem de textos de seus discípulos e de seus 
adversários. 
 
Período pré-socrático. O período pré-
socrático foi dominado, em grande parte, 
pela investigação da natureza 
(cosmologia). Nessa especulação inicial, 
muito ligada à physis, à natureza, buscava-
se entender a relação do homem com os 
deuses, o funcionamento do mundo, o 
ciclo da vida etc. 
 Os gregos, porém, não se 
limitavam ao pensamento da natureza. 
Ocupavam-se de questões sociais. O 
homem não é considerado como algo 
diferente do mundo. Ele está mergulhado 
indissociavelmente no mundo. Assim, a 
cosmologia não é uma reflexão somente 
da natureza física, mas também é uma 
preocupação sobre os arranjos e 
princípios políticos e sociais dos homens. 
 
Sofistas. Seguiu-se a esse período uma 
nova fase filosófica, caracterizada pelo 
interesse no próprio homem e nas 
relações do homem com a sociedade. Essa 
nova fase foi marcada pelos sofistas, que 
etimologicamente significa “sábio”. 
Entretanto, com o decorrer do tempo, 
 
2 Por Henrique... 
ganhou sentido de “impostor”, devido, 
sobretudo, às críticas de Platão. 
 As lições dos sofistas tinham como 
objetivo o desenvolvimento do poder de 
argumentação, da habilidade retórica, do 
conhecimento de doutrinas divergentes 
etc. Eles transmitiam, enfim, todo um jogo 
de palavras, raciocínios e concepções que 
seria utilizado na arte de convencer as 
pessoas, driblando as teses dos 
adversários. 
 Todas essas características dos 
ensinamentos sofistas favoreceram o 
surgimento de concepções filosóficas 
relativistas sobre as coisas. Para os 
sofistas, as opiniões humanas são 
infindáveis, diversas e não podem ser 
reduzidas a uma única verdade. Não 
existem valores ou verdades absolutas. 
 Sócrates se recusa a considerar os 
sofistas filósofos, justamente pelo 
desamor destes aos conceitos e ideias, na 
medida em que possibilitavam a venda das 
próprias ideias. Tal moralidade socrática, 
que considera a filosofia como o amor ao 
saber, e, portanto, orienta a busca 
filosófica das argumentações, sempre foi 
muito apreciada pela filosofia medieval e 
moderna. 
 
Sócrates. 
(469-399 aC) 
Desenvolvia o saber filosófico em praças 
públicas, conversando com as pessoas. 
Contrariamente aos sofistas, ele se 
opunha ao relativismo em relação à 
questão da moralidade e ao uso da 
retórica para atingir interesses 
particulares. 
 O essencial, para Sócrates, é a sede 
de razão, a busca pela consciência 
intelectual e consciência moral. É isso que 
distingue o ser humano dos outros seres 
da natureza. “Conheça-te a ti mesmo” era 
a recomendação básica de Sócrates. 
 Sua filosofia era desenvolvida 
mediantediálogos críticos em seus 
interlocutores. Esses diálogos podem ser 
divididos em dois momentos: ironia e 
maiêutica. #CAISEMPRE 
 A ironia, no grego, quer dizer 
interrogação. Sócrates questionava as 
pessoas sobre o que elas pensavam saber. 
No decorrer do diálogo, atacava a resposta 
de seus interlocutores. O objetivo era 
demolir o orgulho, a arrogância e a 
presunção de saber. A virtude era a 
consciência da ignorância. “Sei que nada 
sei”. 
 Libertos do orgulho, era possível 
iniciar o caminho da reconstrução das 
ideias. Sócrates transportava para o 
campo da filosofia o exemplo de sua mãe, 
Fenareta, que, sendo parteira, ajudava a 
trazer crianças ao mundo. Por isso, essa 
face do diálogo socrático, destinado à 
concepção de ideias, era chamada de 
maiêutica, termo grego que significa “arte 
de trazer à luz”. 
 
ATENÇÃO. O ato do jurista muito se 
assemelha ao sistema dialético socrático, 
pois exorta-se o diálogo, normalmente 
num caso concreto; indaga-se sobre os 
institutos e a sua aplicação; por fim, o juízo 
final é apresentado, nascendo uma ideia 
jurídica. 
 
 A mais importante fonte a respeito 
do pensamento de Sócrates sobre o 
direito e o justo está em Platão. São quatro 
os mais importantes textos platônicos 
ligados a esse assunto: Eutífron, Apologia 
de Sócrates, Críton e Fédon. Nos três 
primeiros, Sócrates dá a ideia de respeito 
às instituições jurídicas e à pólis. No 
último, Sócrates reflete sobre a morte e a 
alma. 
 De acordo com os textos, o fato de 
Sócrates não ter fugido não quer 
representar uma admiração aos 
mecanismos de aplicação imediata das 
normas jurídicas. Pelo contrário, Sócrates 
declara a injustiça da pena que contra ele 
se impõe. Contra a ausência de rigidez 
moral e de alcance da verdade dos 
cidadãos ateniense é que ele se opõe, e 
sua submissão à sentença é, na verdade 
uma ação política de abalo e incômodo. 
 
Morte. Sócrates desenvolveu uma bela 
filosofia da ética. No entanto, os gregos 
não tinham esta ética. Sócrates foi 
acusado e condenado à morte. 
 
Síntese. Pré-socráticos; natureza; sofistas; 
relativismo; Sócrates; homem; sociedade; 
razão; consciência intelectual; consciência 
moral; diálogo; ironia; maiêutica; pós-
socráticos. 
 
FILOSOFIA GRECO-ROMANA. PLATÃO. 
428 – 348 a.C. 
Introdução. Nascido em Atenas, Platão foi 
discípulo de Sócrates. A maior parte do 
pensamento platônico foi transmitida por 
meio da fala de Sócrates, nos diálogos 
socráticos, escritos por ele mesmo, Platão. 
 Um dos aspectos mais importantes 
da filosofia de Platão é a sua teoria das 
ideias, que tenta explicar como se 
desenvolve o conhecimento humano. 
Segundo ele, o processo de conhecimento 
se desenvolve por meio da passagem 
progressiva do mundo das sombras e 
aparências para o mundo das ideias e 
essências. #TEMQUESABER 
 
Método dialético. A primeira etapa do 
processo de conhecimento é dominada 
pelas impressões ou sensações advindas 
dos sentidos. Isso gera a opinião. A opinião 
representa o saber que temos sem tê-lo 
procurado metodicamente. O 
conhecimento, entretanto, para ser 
autêntico, deve ultrapassar a esfera das 
impressões sensoriais e penetrar na esfera 
racional da sabedoria, o mundo das ideias. 
O método proposto por Platão para atingir 
o conhecimento autêntico (epistéme) é a 
dialética. 
 Somente no mundo das ideias é 
que moram os seres totais e perfeitos: 
justiça, a bondade, a coragem, a sabedoria 
etc. Fora do mundo das ideias, tudo o que 
captamos por meio de nossos sentidos 
possui apenas uma parte do ser ideal. O 
mundo sensível, portanto, é um mundo de 
seres incompletos e imperfeitos. 
 
Reis-filósofos. Para Platão, somente os 
filósofos, eternos amantes da verdade, 
teriam condições de libertar-se da caverna 
das ilusões e atingir o mundo luminoso da 
realidade e sabedoria. Por isso, no seu 
livro, A república, imaginou uma 
sociedade ideal, governada por reis-
filósofos. Seriam pessoas capazes de 
atingir o mais alto conhecimento do 
mundo das ideias, que consiste na ideia do 
bem. 
 Tal ideia limita a liberdade, é 
autoritária, pois cria a figura do soberano, 
clarividente, que direciona a atividade dos 
demais. É inviável numa sociedade 
populosa e plural. 
 
Mito da caverna. Platão criou uma 
alegoria, conhecida como mito da 
caverna, que serve para explicar a 
evolução do processo de conhecimento. A 
maioria dos seres humanos se encontra 
prisioneira dentro duma caverna, 
permanecendo de costas para a abertura 
luminosa e de frente para a parede escura 
do fundo. Devido a uma luz que entra na 
caverna, o prisioneiro contempla na 
parede a projeção dos seres que 
compõem a realidade. Acostumado a ver 
somente essas projeções, assume a ilusão 
do que vê como se fosse a verdadeira 
realidade. Se escapar da caverna e 
alcançar o mundo luminoso da realidade, 
fica livre da ilusão. Ao chegar ao exterior, 
cega-se, num primeiro momento, com a 
luz solar que brilhava. Mas, após se 
acostumar a enxergar sob a claridade da 
luz, passa a compreender que as sombras 
que via projetadas na caverna, na verdade, 
eram imagens distorcidas. A verdade não 
estava naquilo que suas percepções 
corrompidas viam a partir das sombras. A 
luminosidade do ser só brilhou quando da 
libertação das imagens e dos conceitos 
imperfeitos. 
 
Prisão. Platão desenvolveu uma bela 
filosofia da ética. No entanto, os gregos 
não tinham esta ética. Platão foi acusado 
e preso. 
 
Síntese. Platão; diálogos socráticos; teoria 
das ideias; mundo das sombras; mundo 
das ideias; dialética; opinião; 
conhecimento; reis-filósofos. 
 
 FILOSOFIA GRECO-ROMANA. 
ARISTÓTELES. 
384-322 a.C. 
Introdução. Aristóteles representa o 
apogeu do pensamento filosófico grego, e 
o mesmo se pode dizer para a filosofia do 
direito. Após a sua morte, durante toda a 
Antiguidade e a Idade Média, suas 
reflexões foram tidas como o mais alto 
patamar de ideias sobre o direito e o justo 
já construídas. 
 
Justiça universal e particular. A justiça 
universal é a manifestação geral de uma 
virtude. É possível que uma lei se aproprie 
dessa virtude. A lei produzida na pólis a 
partir de um princípio ético é diretamente 
relacionada ao justo, mas não por conta de 
sua forma, mas sim em razão de seu 
conteúdo. Para Aristóteles, uma má lei 
não é lei. Sendo a lei somente a lei justa, a 
justiça tomada no seu sentido universal 
não deixa de ser, também, o cumprimento 
da lei. 
 No entanto, estudar o que vem a 
ser justiça em si é tomá-la então no seu 
sentido particular. Aristóteles considera a 
justiça a ação de dar a cada um o que é 
seu, sendo essa a regra de ouro sobre o 
justo. 
 No livro Ética a Nicômaco, 
Aristóteles chama a atenção para duas 
grandes manifestações da justiça 
particular: a justiça distributiva e a justiça 
corretiva, que se subdivide em voluntária 
e involuntária. 
 
 A justiça distributiva trata da 
distribuição de riquezas, benefícios e 
honrarias. O critério fundamental para tal 
distribuição justa é o mérito. A justiça 
distributiva utiliza como parâmetro o dar a 
cada um de acordo com o seu mérito, 
ainda que Aristóteles reconheça que o 
critério do mérito possa ser variável. 
 Ex.: Um professor, quando aplica 
uma prova a uma turma de alunos, será 
considerado justo em sua correção 
quando distribuir notas de acordo com 
uma proporção, tendo por vista o mérito. 
De uma prova com cinco questões valendo 
cada qualdois pontos, o aluno que acerta 
quatro questões merece a nota oito. O 
aluno que acerta duas questões merece a 
nota quatro. Qualquer outra nota 
diferente dessa para cada um desses 
alunos rompe com a proporção entre seus 
méritos e suas notas, e, portanto, a 
distribuição meritória de notas demonstra 
a justiça do professor. 
 
 A justiça corretiva, por sua vez, é 
bem menos complexa que a distributiva. A 
justiça é tratada como uma reparação do 
quinhão que foi, voluntária ou 
involuntariamente, subtraído de alguém 
por outrem. Por isso as questões de ordem 
penal são tratadas como justiça corretiva, 
na medida daquilo que representou a 
perda e o ganho. No caso penal, mais do 
que a pena, a justiça corretiva trata da 
reparação civil dos danos causados pelo 
crime. Também no caso das transações 
entre sujeitos privados a justiça corretiva 
se apresenta. Os contratos, a troca, a 
compra-e-venda, e mesmo a 
responsabilidade civil, podem ser 
pensados a partir da justiça corretiva. À 
perda de alguém corresponde uma 
correção equivalente. 
 
Aristóteles, no entanto, chama a 
atenção para uma outra forma de justiça, 
que ele não enquadra nem na justiça 
distributiva nem na corretiva, e que 
denomina reciprocidade. A sua aplicação 
mais importante se dá no caso da 
produção. As trocas entre um sapateiro, 
um pedreiro, um médico e um fazendeiro, 
para serem consideradas justas, devem 
alcançar uma certa reciprocidade. Não se 
pode imaginar que a produção de um 
sapato valha o mesmo que a construção 
de uma casa, ou que a colheita de um quilo 
de determinada planta equivalha a uma 
certa cirurgia. Aristóteles, para isso, 
aponta que o dinheiro faz o papel de uma 
equivalência universal entre produtos e 
serviços. Ele possibilita a reciprocidade 
entre tais elementos. 
 
No entanto, a justiça, enquanto 
proporção, somente se dá entre os 
semelhantes. Aristóteles, com isso, afasta 
os escravos, os filhos, as mulheres etc. do 
âmbito de aplicação do justo. A justiça se 
mede, para Aristóteles, entre os cidadãos 
da pólis. Tal posição é altamente 
conservadora. Mas, afastando-se a 
aplicação que fazia ao seu tempo, a ideia 
aristotélica revela, por via reversa, um 
grande potencial crítico. Entre os 
desiguais, a justiça não é meramente 
matemática. Não se pode auferir por 
mérito. Assim sendo, Aristóteles dá 
margem a construir uma outra 
manifestação de justiça, ativa e 
transformadora, que limite os excessos e 
que abrande as carências, a fim de que, 
posteriormente, em uma situação mínima 
de igualdade, se faça valer uma régua de 
justiça de tipo matemático. 
 
 
 
Equidade. Para Aristóteles, acima da 
justiça da lei, há a justiça do caso, do bom 
julgamento de cada caso concreto, e a 
essa adaptação do geral ao específico dá 
ele o nome de equidade. 
 O pensamento jurídico moderno e 
contemporâneo constitui-se num modelo 
exacerbado de juspositivismo. A lei posta 
pelo Estado deve ser obedecida, sem 
grandes discussões. Para Aristóteles, o 
sentido da lei é outro. 
Na estrutura política dos gregos, e 
em especial dos atenienses, a lei era a 
manifestação básica da unificação da 
vontade dos cidadãos, que, ao tempo da 
democracia, deliberavam coletivamente, 
e de maneira direta, em razão de suas 
intenções concretas. Por isso, para 
Aristóteles, a lei é boa. Segui-la é fazer 
concretizar o interesse de todos, da pólis. 
Desrespeitá-la é fazer com que o interesse 
particular desarranje a organização 
Justiça em 
Aristóteles
Distributiva
Corretiva
Reciprocidade
política. Aristóteles reconhece que, no 
sentido geral, a lei é justa. No entanto, há 
uma manifestação de justiça ainda mais 
alta que a lei, a própria equidade. Dirá 
Aristóteles que a equidade, sendo justa, 
não é distinta da própria lei, sendo esta 
justa também. Não perfazem duas 
espécies de justiça opostas, mas, pelo 
contrário, são complementares. O 
equitativo é justo não como negação da 
justiça da lei, mas sim como corretivo da 
justiça legal. Sendo a lei uma previsão 
ampla, que alcança uma série de fatos e 
hipóteses, a lei só pode tratar desses casos 
num nível amplo. Nessa casuística, que em 
geral não consegue se previamente 
regulada, dada a generalidade da lei, a 
equidade faz um papel de corrigir 
omissões, estendendo o justo até as 
minúcias. Aristóteles compara o ofício do 
juiz, na equidade, àquele de quem julga 
conforme a Régua de Lesbos. Nessa ilha do 
mundo grego, os construtores se valiam 
de uma régua flexível, que se adaptava à 
forma das pedras, sem ser rígida. Também 
a equidade demanda do jurista uma 
flexibilidade. Não pode ser o homem justo 
um mero cumpridor cego das normas, sem 
atentar para as especificidades de cada 
caso concreto. 
Na filosofia do direito de 
Aristóteles, o juiz revela-se um humilde 
artesão, que abandona a universalidade 
objetiva e fria, e trata do caso concreto, 
reconhecendo o justo com humildade. 
 
Prudência. Para Aristóteles, a justiça se 
manifesta e se completa com prudência. A 
prudência é uma virtude prática. Não se 
trata do cumprimento do dever pelo 
próprio dever, como será o caso, na 
modernidade, com Kant, para quem o 
imperativo do dever se apresenta como 
categórico, sem possibilidade para 
flexibilização. 
 
Exílio. Aristóteles desenvolveu uma bela 
filosofia da ética. No entanto, os gregos 
não tinham esta ética. Aristóteles foi 
acusado e exilado. A maior filosofia ética 
feita naquele tempo o povo não aceitava. 
Há certo descolamento da realidade 
histórica e o pensamento daquilo que é a 
ética na realidade histórica. 
#ALYSSONAMAARISTÓTELES 
 
FILOSOFIA MEDIEVAL. 
 
Introdução. Em meio ao esfacelamento do 
Império Romano, decorrente, em grande 
parte, das invasões germânicas, a Igreja 
católica conseguiu manter-se como 
instituição social. Surgiram diversos 
pensadores que, com apoio na filosofia 
grega, difundiam o pensamento cristão. 
Não se trata, porém, de um diálogo, mas 
sim de uma subordinação da filosofia à 
religião. O cristianismo se constitui, a 
princípio, não como um pensamento 
filosófico, mas como uma visão de mundo, 
que pode encontrar na filosofia um apoio. 
 Nota-se uma diferença 
fundamental entre o cristianismo e a 
filosofia grega: para esta, a verdade deve 
ser buscada livremente. O amor ao saber 
leva o filósofo a especular sobre tudo, 
podendo refletir a partir de qualquer 
ângulo sobre qualquer questão. Já para o 
cristianismo há uma verdade revelada, 
oriunda de Deus e de seus enviados, sendo 
Jesus Cristo o enviado maior. Ela não 
comporta crítica nem indagação. 
 O Deus aristotélico é perfeito, 
estável e não interfere no mundo. O Deus 
judaico-cristão, também reputado 
perfeito, é construído, no entanto, a partir 
de atributos humanos: interfere na 
realidade do mundo, julga, persegue, faz 
alianças, salva e condena. 
 
Paulo de Tarso. De modo indireto, Paulo 
de Tarso, São Paulo, será o primeiro 
responsável por toda a filosofia cristã do 
final da Idade Antiga e de toda a Idade 
Média. Sua mais importante afirmação 
sobre o poder se encontra na Epístola aos 
romanos. Nela, Paulo reconhece a justiça 
a partir de uma visão distinta daquela da 
filosofia grega. O homem justo não é o que 
age com justiça, e sim aquele que está sob 
a graça de Deus. 
Paulo de Tarso, assim sendo, 
instaura, para o cristianismo, a noção da 
submissão à autoridade, o que ocasionará, 
para o direito medieval, um efeito 
altamente conservador.Não se trata mais 
de discutir o bom governo, a justa ação do 
soberano, aquilo que é melhor ou pior 
para a sociedade. Ao contrário de 
Aristóteles, para quem o bom regime de 
governo é aquele que faz o bem a todos, 
para Paulo de Tarso não há que se pensar 
em um agir político buscando o justo. A 
submissão aos poderosos, escolhidos por 
Deus, é o sinal dessa nova justiça. 
 
Santo Agostinho. 
(354-430) 
Na sua principal obra, A cidade de Deus, 
Agostinho estabelece uma distinção entre 
a cidade humana, eivada dos vícios, 
instabilidades e injustiças próprios dos 
homens, que são pecadores a partir do 
pecado original de Adão e Eva, e a cidade 
de Deus, que se estabelece na vida pós-
morte, junto aos santos e salvos. 
Por conta dessa distinção, na Terra, 
sua ordem, seus arranjos sociais, sua lei e 
seus julgamentos são injustos, na medida 
da falibilidade e do pecado dos homens. 
Em Deus reside a justiça. A chave para o 
justo passa a ser, então, a fé, a justiça não 
dos atos, mas do íntimo do crente. 
 
Direito natural. Inaugura-se, com 
Agostinho, uma outra visão daquilo que se 
possa chamar por direito natural. Para os 
gregos, o direito natural era a busca da 
natureza das coisas, flexível, histórica, 
social, de cada caso. Para a tradição 
medieval, o direito natural – se é que 
assim se pode chama-lo na visão 
agostiniana – é um rol de regras inflexíveis, 
não naturais no sentido de que não se 
veem na natureza nem na sociedade, mas 
que são oriundas do desígnio divino 
 
Poder e obediência. Sendo a justiça uma 
expressão divina e os homens pecadores, 
as ações do homem, na Terra, são injustas. 
O mesmo se pode então pensar sobre as 
leis humanas. Por extensão, os poderes 
humanos são defeituosos. Isso levaria a 
uma insubordinação à ordem terrena, mas 
será justamente o contrário que proporá 
Agostinho. 
 
Assim sendo, a escravidão e a 
servidão, na prática imediata, encontram-
se respaldadas e legitimadas por 
Agostinho. Pela vontade de Deus, os 
homens têm certa posição na sociedade, e 
os mais altos devem mandar, e os 
subordinados devem se submeter. 
 
São Tomás de Aquino. 
(1225-1274) 
Para Alysson Mascaro, Tomás de Aquino 
foi o encarregado de aristotelizar o 
cristianismo. Se para Agostinho a razão era 
um substrato menor no concerto da 
salvação, sempre ofuscado pela fé e pela 
graça, para Tomás de Aquino os atos e a 
razão passam a ter um papel relevante. 
 Agostinho não deixava margem à 
ação política e social dos homens. Para ele, 
o homem, pecador por natureza, estava 
eivado de um vício mortal. Tomás de 
Aquino, reabilitando os atos, considera o 
pecado original não uma condenação, mas 
sim uma doença, da qual se pode 
conseguir cura. Os homens podem, ainda 
que decaídos pelo pecado original, se 
soerguer tanto pela graça quanto pelos 
atos bons e justos. Assim sendo, Tomás de 
Aquino, embora não retorne plenamente 
à filosofia das virtudes do mundo antigo, 
atenua o afastamento teológico em 
relação às ações do homem na sociedade. 
 
O tratado das leis. Sem abandonar a graça 
e a fé, Tomás insiste no fato de que há 
possibilidade de o homem descobrir, na 
natureza, atos, comportamentos e 
medidas justos. Tais apreciações da 
natureza são mensuráveis pelo homem, 
mas se devem indiretamente a Deus. 
Assim, além dos mandamentos divinos 
obtidos por meio da revelação e da fé, há 
um espaço para leis naturais, que são 
divinas porque a natureza é criação de 
Deus, mas são passíveis do conhecimento 
humano. 
Tomás de Aquino distingue os 
seguintes tipos de lei, que dirigem a 
comunidade ao bem comum: a) lei eterna. 
É a expressão da razão divina, que governa 
todo o universo, de ninguém conhecida 
inteiramente em si, mas da qual o homem 
pode obter conhecimento parcial através 
de suas manifestações; b) lei divina. É a 
verdade revelada, ou seja, expressão da lei 
eterna; c) lei natural. Pode ser conhecida 
pelo homem por meio da razão; d) lei 
escrita. É a lei humana que determina o 
justo com base na lei natural e dirigida à 
utilidade comum. 
 
O tratado da justiça. Ao lado das leis, há a 
questão da justiça. Tomás de Aquino 
segue, em linhas gerais, a esse respeito, o 
De acordo com Alysson Mascaro, 
nessa época, todo o poder nasce de 
Deus. Deus faz um contrato com os 
monarcas e com a Igreja. Trata-se de 
um contrato de procuração ou 
mandato, sem reserva de poderes, 
pelo qual Deus delega poderes ao 
monarca e à Igreja. O contrato de 
procuração foi criado para justificar 
os poderes absolutistas. Sendo assim, 
o absolutismo só se sustenta em 
sociedades cujos súditos creiam num 
Deus de raiz cristã que delega as 
coisas 
 
pensamento de Aristóteles na Ética a 
Nicômaco. A justiça será por ele 
considerada o bem do outro, e sua 
manifestação específica é distributiva e 
retributiva. Nesse ponto, Tomás de 
Aquino ressalta o caráter casual e não 
taxativo do direito natural. Não é um 
direito extraído diretamente da teologia. É 
aprendiz da natureza. Tomás de Aquino, 
com resgate de Aristóteles, mantém a 
ideia de que o direito natural é 
distribuição do justo entre os iguais. 
 
FILOSOFIA MODERNA. 
 
Introdução. De acordo com Alysson 
Mascaro, a filosofia do direito na Idade 
Moderna tem três grandes movimentos: o 
renascimento, o absolutismo e o 
iluminismo. 
 
Renascimento. O final da Idade Média 
marca, para a filosofia e para a filosofia do 
direito, uma dupla frente de reflexões. De 
um lado, o debate teológico, que dominou 
o mundo medieval europeu, ainda 
prospera. De outro lado, no entanto, uma 
liberdade crescente em face da teologia, 
somada ao resgate do pensamento 
clássico grego e romano, dá surgimento a 
uma filosofia muito distinta, o 
Renascimento. Chama-se renascentista a 
esse movimento por conta da inspiração 
buscada junto aos clássicos, que, 
parecendo terem sido mortos pelos 
medievais, renasciam então pelas mãos 
dos novos pensadores. Em termos 
filosóficos, o Renascimento representou 
um deslocamento do eixo dos 
 
3 Por Nayla Costa 
fundamentos teóricos, de Deus para o 
homem. Por tal razão, costuma-se 
denominar tal movimento também por 
Humanismo. 
 
Absolutismo. Representa uma solução 
político-jurídica original lastreada em uma 
longa trajetória de apoio filosófico. A 
noção de que o poder humano é derivado 
do poder divino volta à carga. Tal teoria, 
na Idade Média, serviu como respaldo do 
poder do senhor feudal. Agora, servirá ao 
poder dos reis. Ao contrário dos 
renascentistas, para quem a preocupação 
era com a explicação humana e social do 
poder, o Absolutismo parte de uma teoria 
da legitimação do poder real por meio 
teológico. O monarca soberano, por essa 
teoria, tem dois corpos, um secular, 
humano, e outro teológico, divino. 
 
Iluminismo. Toda essa etapa absolutista 
da filosofia moderna terá um contraponto 
posterior com os movimentos filosóficos 
dos séculos XVII e XVIII, com Locke na 
Inglaterra, Voltaire, Rousseau e 
Montesquieu na França e Kant na 
Alemanha, dentre outros. Trata-se do 
Iluminismo. 
 
Contextualização3 
INTRODUÇÃO 
A filosofia direito da idade moderna vão 
dos séculos XV ao XVIII, sendo que durante 
esse período há três grandes movimentos. 
(1) Renascimento – séc. XV | (2) 
Absolutismo – séc. XVI; (3) Iluminismo 
séc. XVII ao XVIII. 
Renascimento: 
No final da idade média marca para 
filosofia do direito epara filosofia duas 
frentes de reflexões: 1ª- Debate 
teológico (teologia é usada para limitar os 
problemas filosóficos e jurídicos); 2ª 
Liberdade (resgate do pensamento 
clássico grego e romano). – Surge o 
renascimento. 
Renascimento  Deslocamento dos eixos 
fundamentais teóricos: De Deus para o 
Homem, por isso, o movimento também é 
chamado de humanismo. O poder 
pertence ao homem, ao seu engenho 
astúcia e a capacidade! 
#HomemNoCentro 
Nicolau Maquiavel (1469 a 
1527): Nasceu em Florença, 
obra de destaque O Príncipe. 
Rompe a visão tradicional da teologia 
metafísica. O eixo da filosofia política 
passa para campo da ação humana. A ação 
o político é a diretriz do governo, o agente 
político por suas qualidades, capacidades 
e empreendimento é que determina o 
encaminhamento da sociedade. PODER 
NÃO É MAIS DÁDIVA DIVINA! 
#HomemNoComando. A ordem social e o 
bom governo são seus horizontes; mas os 
meios, ao invés de teológicos, são 
humanamente realistas. 
OBS.: O propósito de Maquiavel é pautado 
pelo renascimento e pelo humanismo, no 
entanto, a sua tentativa de aconselhar o 
príncipe a manter a ordem e o poder é o 
marco para o absolutismo. 
Absolutismo 
Marca o retorno de que o poder humano 
é derivado do poder divino, o poder 
monarca é legitimado pelo meio teológico. 
O rei é soberano, pois possui dois corpos 
(1) Humano e (2) Teológico/Divino. 
O rei está acima dos reclames morais, uma 
vez que o seu poder era advindo de Deus 
de modo absoluto #ReiPodeTudo. 
Consequências: 1ª- Deslocamento da 
filosofia do direito do campo da moral 
política prática (do Renascimento) para o 
campo da fundamentação moral do 
poder. 2ª - A discussão sobre a moral e a 
justiça da filosofia do direito se desloca do 
conteúdo para a forma 
Iluminismo – Séc. XVII a XVIII 
Não é um movimento unificado, porque os 
seus pensadores não compactuavam 
sempre com premissas comuns. 
Caracteriza grandes modos abertos de 
pensar sobre determinados problemas. 
No Iluminismo os pensadores debatem 
entre si sobre pontos fundamentais, mas 
entre eles há uma identidade: a busca pela 
razão. 
Outra característica comum é a base 
econômico-social que se desenvolvem os 
pensamentos filosóficos e jurídicos: a do 
surgimento e da consolidação do 
capitalismo. Consequentemente, o 
Estado que antes era enaltecido pelos 
primeiros pensadores (Hobbes) acaba 
sendo limitado por outros. O 
individualismo reflete nas relações entre a 
sociedade e do Estado. Fica evidenciado o 
interesse da burguesia, época que assenta 
no arrojo individual na busca do lucro, 
propriedade individual, privada. 
O Capitalismo e a modernidade 
A atividade mercantil deu a base ao 
capitalismo e dessa atividade, o comércio 
está estritamente relacionado. Todavia, a 
sociedade feudal não permitia a sua 
prática, devido ao segregacionismo dos 
feudos. Por isso, a formação dos Estados 
era útil à burguesia, pois poderia propagar 
as atividades comerciais. – Inicialmente, o 
Absolutismo foi de interesse da burguesia 
(o fortalecimento do Estado, por meio das 
unidades territoriais, ampliaria a atividade 
burguesa). Conclusão De início, o 
ABSOLUTISMO foi útil: à nobreza e à 
burguesia. 
Absolutismo: É formado pelo direito 
divino e por estamentos – nobreza, clero e 
o povo – A burguesia está incluída na 
noção de povo e por não ter privilégios, 
impedia os avanços capitalista. 
O excesso de poder que o monarca 
detinha e os privilégios dado apenas aos 
nobres, ocasionou a reflexão sobre a 
liberdade individual burguesa, sobre as 
possibilidades do indivíduo em face do 
Estado, engendra toda uma tradição a 
respeito dos direitos (noção de direito 
subjetivo) e, consequentemente, o início 
do absolutismo. 
A luta da burguesia e as liberdades 
burguesas contra os privilégios 
absolutistas darão início ao Iluminismo, 
que por sua vez, ressaltará como termo 
teórico os direitos individuais, bem como 
permitirá a noção de direitos subjetivos, a 
qual será fundamental para o 
desenvolvimento do capitalismo, bem 
como permitiram a limitação aos poderes 
do Estado e de seu governo. 
 
 
 
 
 
 
Johannes Althusius (1557-1638) foi um 
dos primeiros teóricos modernos a 
manifestar-se contra o absolutismo. 
Afirmava que a soberania é do povo 
reunido, não do rei, por isso, a poder do 
Estado não deveria ser ilimitado e 
absoluto. Nas palavras do autor: 
“Reconheço no príncipe o administrador, o 
supervisor e o governador dos direitos de 
soberania. Mas o proprietário e 
usufrutuário da soberania não pode ser 
diferente do povo total. Quem permitiria 
que em tal estado perfeito se concedesse 
ao rei esse pleníssimo poder de mandar 
chamado de absoluto? Já dissemos que o 
poder absoluto é tirânico”. 
Na Idade moderna, com o Capitalismo 
permite grande matrizes do pensamento 
filosóficos: (1) individualismo; (2) direitos 
subjetivos; (3) limitação do Estado pelo 
direito; (4) universalidade de direitos; (5) 
antiabsolutismo (6) Contratualismo. 
Conclusão! A filosofia moderna tem início 
no século XVI, com o Absolutismo 
(unificação do Estado). O Iluminismo, fará 
crítica ao Estado em sua forma absolutista, 
cuja a finalidade será o combate de 
privilégios. A limitação do Estado passa a 
ser o corolário final da filosofia do direito, 
no século XVIII. Para a burguesia, o Estado 
deve estar subordinado ao interesse 
individual, e não o indivíduo jungido 
absolutamente pelo Estado. 
O individualismo 
É umas das ideias mais importantes da 
filosofia iluminista. O indivíduo é a origem 
do fenômeno político. O Estado está em 
função do indivíduo e de seus direitos 
fundamentais (propriedade privada), 
portanto, as leis morais e jurídicas deverão 
ser pensadas racionalmente pelo homem, 
visando atender o individualismo 
ILUMINISMO Ascensão da 
burguesia 
Direitos individuais 
+ 
direitos subjetivos 
Desenvolvimento 
do CAPITALISMO 
originário, de igualdade formal entre 
todos, em atenção à liberdade individual. 
O individualismo pode ser visto como: 
a) Programa político da burguesia 
b) Filosofia moderna iluminista: 
Defesa da propriedade privada. 
Acumulação de bens é um direito 
do indivíduo sendo oponível erga 
omnes – A riqueza não é 
compartilhada por todos. 
O individualismo está interligado ao 
capitalismo. 
A filosofia moderna iluminista institui 
problemas que só foram típicos de seu 
tempo. A filosofia política e suas 
características peculiares (em especial o 
contratualismo), a filosofia do direito 
(principalmente o tema do direito natural 
racionalista) e a questão do conhecimento 
(seus métodos de apreensão: empirismo e 
racionalismo) constituem três grandes 
objetos de análise da filosofia moderna. 
A questão do conhecimento 
A marca da filosofia moderna é a 
preocupação da razão. Teoria do 
conhecimento é um problema criado 
fundamentalmente pelos modernos. 
Para os modernos o conhecimento não se 
situa na natureza (filosofia antiga) e nem 
no campo da fé (filosofia medieval). O 
problema específico do conhecimento 
está no próprio sujeito. 
A razão está centrada no sujeito, 
apresenta mais uma exigência para os 
modernos: precisa ser universal. 
 
 
 
Como conhecemos? Os filósofos 
modernos levantaram duas respostas: a 
do empirismo e a do racionalismo. – O 
ponto comum entre ambas é que sempre 
formulam métodos que se centralizam no 
indivíduo, o sujeito do conhecimento. 
1) Do racionalismo: conhecimentose 
faria por métodos ou categorias racionais 
que todo sujeito, por si próprio, formularia 
por meio do mero uso de sua razão. 
(Filósofo Descarte). 
Busca pela verdade estável, eterna e 
universal, racional. Para Descartes, todos 
teriam a aptidão de bem julgar e de 
conhecer o verdadeiro do falso. Por isso, 
então, seria possível a universalidade do 
conhecimento: 
2) Do empirismo: o conhecimento 
advém da experiência originada na 
percepção concreta das coisas e dos fatos 
(Filósofo Hume). O método só vem depois 
da experiência, e não antes. O 
conhecimento se faz das coisas reais, 
sentidas, experienciadas. 
 
O que representa a questão do 
conhecimento, racionalista ou empirista, 
para a filosofia do direito? 
• Racionalista: A burguesia moderna 
buscava a afirmação dos direitos naturais, 
também, fossem direitos universais. Desse 
modo, o justo não está no arbítrio da 
vontade ou do bel-prazer. Traz a ideia de 
universalidade – a classe burguesa 
objetiva universalizar o próprio interesse. 
O conhecimento deve se fundar em 
esquemas universais, que se originam ou 
que estejam disponíveis aos indivíduos, 
isoladamente; um a um, mas a todos. – A 
conjugação da dupla exigência das teorias 
do conhecimento modernas – individual e 
universal. É abominado o uso da cultura 
RAZÃO 
Sujeito Universalidade 
como fonte da razão.  Busca-se o direito 
subjetivo universal 
O racionalismo dá mais ênfase às normas 
impostas pela razão que aos fatos e os 
costumes. A perspectiva filosófica adotada 
por toda a Europa continental e por outros 
país, inclusive o Brasil. No campo jurídico 
consolidou a civil law (instrumentalização 
das normas criadas e estabelecidas) 
• Empirismo: O conhecimento é 
prévio e direto. Valoriza mais o que é 
conhecido pela experiência, do que as 
novidades legislativas (costumes e fatos). 
Movimento filosófico característico da 
Inglaterra. No final da Idade Média e início 
da Idade Moderna, foi-se consolidando: a 
common law (direito costumeiro, - 
baseado na existência dos precedentes). 
 PONTO EM COMUM  Busca sempre a 
justiça universal e inflexível do interesse 
burguês. 
 
Filosofia Política Moderna 
Conceito oposto ao de Aristóteles, que 
defina a sociedade como uma ampliação 
dos laços familiares. – A base natural do 
homem é a natureza individual (zoon 
politikon). 
Para os filósofos modernos a sociedade é 
união de indivíduos (nota-se a presença 
do individualismo). – Surge a teoria do 
contrato social. A vida social é uma mera 
deliberação de vontade, sendo nesse caso 
a vida social um acidente e não necessária. 
A base natural do homem é a natureza 
individual. Três grandes filósofos marcam 
a explicação do contrato social: Hobbes, 
Locke e Rousseau (deixo a explicação para 
a abordagem futura do tema). A vida social 
é artificial, gerada que foi por um contrato 
e não por um dado natural, impõe-se um 
respeito mútuo às regras acordadas, por 
isso, para a filosofia política moderna 
iluminista, somente a vontade dos 
indivíduos pode gerar o poder político 
legítimo. 
Filosofia do Direito Moderna 
Na visão iluminista o tema mais 
importante é a postulação de um direito 
natural da razão, também chamando de 
jusracionalismo (jusnaturalismo 
moderno). Os modernos iluministas se 
preocupam com a questão do direito 
natural buscando proceder, nesse tema, 
tal como os cientistas com as leis da 
natureza, como a Física, ou então como a 
Matemática – todas ciências com leis 
estáveis. 
O individualismo é uma das características 
mais relevantes do direito natural 
moderno. O direito natural é um direito 
do sujeito, sua razão está no indivíduo e 
não na coisa ou na sociedade. São direitos 
que delimitam o interesse do indivíduo. O 
caráter do direito natural é ser individual, 
colocando-se de antemão contra o Estado 
e contra a sociedade, e não um resultante 
destes (“erga omnes”), por exemplo, a 
sociedade privada que é um direito 
subjetivo e erga omnes. 
O jusnaturalismo moderno, sendo 
tipicamente um jusracionalismo, 
presume-se apenas um direito de 
resultantes racionais 
OBS.: A tolerância em face do que seja 
distinto é um impasse com o 
jusnaturalismo moderno. Há uma tensão 
irresoluta entre a tolerância e o direito à 
distinção, o que leva à dificuldade de se 
fincar uma razão jurídica que se pretenda 
universal. 
A tolerância justificaria o relativismo, 
todavia, o relativismo de direito em face 
de circunstância variáveis não é oportuno 
para filosofia moderna, pois poderia trazer 
de volta o Absolutismo. Por isso, a 
necessidade de um direito natural – a 
existência de um direito único e racional. 
O qual se possa julgar o Absolutismo e dele 
dizer-se injusto, porque irracional. 
CERTEZA RACIONAL DE CERTOS DIREITOS 
 Liberdade 
 Igualdade Formal 
 Propriedade privada 
 Segurança das relações jurídicas 
A filosofia moderna se relaciona com a 
filosofia do direito por meio de duas 
implicações: 
(1) A filosofia como método do 
conhecimento: Alicerçando-se 
fundamentalmente na razão, fará 
com que a filosofia do direito 
também abandone os antigos 
corolários romanísticos ou as 
definições aristotélico-tomistas e 
passe a estabelecer fontes novas 
para os princípios e normas de 
direito, dando forma individual, 
laica, cerebrina, universalista e a-
histórica ao modelo de direito que 
se formava. 
(2) A filosofia política – de cunho 
liberal, individualista e burguês: 
Centrada no sujeito apartado do 
objeto e no indivíduo apartado da 
natureza e da sociedade – 
redundará numa filosofia do 
direito também de matriz 
burguesa liberal, afirmadora dos 
direitos subjetivos da liberdade 
negocial e da igualdade formal 
(isonomia), os dois principais 
alicerces teóricos nos quais se 
 
4 Por Henrique... 
funda o direito da passagem da 
época moderna para a 
contemporânea 
CRÍTICA DO ALYSSON O combate à 
visão de mundo teológica e absolutista fez 
da filosofia do direito moderna iluminista 
uma filosofia progressista em face do 
passado. Ao mesmo tempo, seu 
individualismo formalmente universalista 
e seu caráter burguês dela fizeram uma 
filosofia conservadora em face do futuro. 
 
 
Thomas Hobbes.4 
(1588 a 1679) 
Se o fundamento do pensamento 
político de Aristóteles era o de considerar 
o homem um ser social, e, portanto, por 
natureza tendente a um viver em conjunto 
com os demais, Hobbes inicia sua filosofia 
política de um ponto exatamente 
contrário: não é natural que cada homem 
tenha por fim a associação com outros 
homens. Se assim o é, somente um 
contrato, um pacto, enseja que os 
homens, que vivem em função de seus 
interesses pessoais, passem a viver em 
conjunto. 
 E não é devido à virtude que os 
homens se associam, mas sim devido ao 
medo. Como a vida solitária gera 
preocupações, fragilidades e medo, 
porque não é possível sempre se defender 
sozinho de todos, então, por causa desse 
medo, os homens se associam, para que 
seja mais difícil a sua destruição por 
outrem. Nas palavras de Hobbes, “o 
homem é o lobo do próprio homem”. 
 A associação entre os homens, 
assim, leva a uma renúncia de seus plenos 
poderes em favor da paz. Ocorre que as 
pessoas não agem com constância ou 
suficiência para alcançarem a paz 
duradoura. Há discórdia, e, por isso, é 
necessário mais que um pacto: é preciso 
transferir todo o poder a um homem ou 
uma assembleia,de tal modo que seja 
feita então uma só vontade e ela seja a 
vontade única, levando à paz e à 
segurança. 
 
O direito natural hobbesiano. Para 
Hobbes, a mais alta expressão de justiça é 
o cumprimento das determinações do 
soberano, na medida em que os homens 
alienaram seus interesses pessoais àquele, 
que lhes dá em troca a segurança e a paz. 
Mas, ao mesmo tempo, essa submissão ao 
poder estatal não nega o fato de que haja 
uma lei da natureza: o direito à própria 
existência. Caso o soberano se volte 
contra o indivíduo, é possível que este haja 
em desobediência civil. 
 
Crítica. A postura política hobbesiana é 
muito peculiar e original. Em sua obra, o 
soberano, como vontade única acima da 
sociedade, é o representante mais 
cristalino do regime absolutista vigente ao 
seu tempo. Hobbes assim desponta como 
um dos mais importantes teóricos do 
Absolutismo. No entanto, ao mesmo 
tempo, a origem do poder absoluto não é 
divina. Toda a tradição absolutista hauria 
a fonte do poder dos reis de um mandato 
divino. Por procuração, o poder terreno 
era representante do poder divino. Nesse 
ponto, Hobbes inova. O poder absoluto é 
extraído de um contrato social. Os 
indivíduos, que vivem em natureza uma 
situação de medo e conflito, submetem-se 
voluntariamente ao poder do Estado. 
 
Síntese. Medo; contrato; alienação de 
parte da liberdade; liberdade regrada; 
soberano; Estado de Direito; paz; 
segurança. 
 
John Locke. 
(1632-1704) 
Para ele, assim como não existem ideias 
inatas, também não deve existir poder 
inato (ou de origem divina), como 
defendiam os adeptos do absolutismo 
monárquico. 
 
Contrato social em Locke. Revelando 
preocupação com a liberdade, defendia 
que o poder social deveria nascer de um 
pacto entre as pessoas. O fundamento da 
vida em sociedade civil é, portanto, o 
consentimento dos próprios cidadãos. 
Nesse aspecto, aparenta com a filosofia de 
Hobbes. No entanto, dela também se 
diferencia. Em Locke, o estado de natureza 
é pacífico, pois o homem, mesmo nessa 
condição, tem meios de compreensão da 
lei natural. O homem não tem, no 
pensamento de Locke, uma inclinação de 
natureza a ser o lobo do homem. 
 Para Locke, os homens, em estado 
natural, são iguais e desfrutam da 
liberdade. Não são irrefreáveis, porém, no 
uso da liberdade. A liberdade natural não 
impede que exista guerra, resultado do 
desrespeito a essa lei natural. Para evitar 
isso que os indivíduos escolhem viver em 
sociedade. A guerra é um risco e não uma 
realidade. 
Adversário da tirania, do abuso de 
poder, Locke, em razão de suas ideias 
políticas, é considerado por muitos 
historiadores como o “pai do iluminismo”. 
 
Propriedade. A finalidade precípua do 
contrato social é, para Locke, a garantia da 
propriedade privada: “o fim maior e 
principal para os homens unirem-se em 
sociedades políticas e submeterem-se a 
um governo é, portanto, a conservação de 
sua propriedade”. 
#ABurguesiaAma 
Sociedade política. O contrato social dá 
ensejo à formação da sociedade civil 
(sociedade política, por Locke designada) 
e esta gerará, por escolha da comunidade, 
uma determinada forma de governo. Em 
qualquer forma de governo deve-se 
buscar a conservação da propriedade. 
 Locke também estabelece uma 
distinção entre os poderes na sociedade 
política, destacando três: o legislativo, o 
executivo e o federativo – este, um poder 
encarregado das relações exteriores. Para 
Locke, no balanço entre tais poderes, o 
poder legislativo, escolhido pela maioria, 
tem um poder supremo em relação aos 
demais: “Em todos os casos, enquanto 
subsistir o governo, o legislativo é o poder 
supremo. Pois o que pode legislar para 
outrem deve por força ser-lhe superior”. 
 A divisão de poderes é 
fundamental como modo de evitar a 
concentração de poderes nas mãos de um 
apenas. 
 
Jean-Jacques Rousseau. 
(1712-1778) 
Ele critica os contratualistas. De acordo 
com ele, na vida natural, a apropriação de 
bens da natureza era possível a todos os 
homens. Pescar, talhar, fazer cabanas etc. 
Mas a associação dos homens, com a 
metalurgia e a agricultura – 
conhecimentos que alguns passaram a ter 
e outros não –, e a consequente divisão do 
trabalho fazem com que haja soberba, 
poder de uns sobre os outros, e a partir daí 
os bens da natureza passam a ser 
propriedade de alguns. Nesse momento, 
vê-se germinar a escravidão e a miséria. 
 Com esse estado instaurado, os 
próprios ricos pensam em ludibriar os 
pobres, dando-lhes a promessa de que 
instituições seriam construídas para dar 
garantias a todos. O Estado e o direito daí 
então se levantam, como enganação 
coletiva possibilitada por um contrato 
social. 
 
O contrato social. Pensa na possibilidade 
de se levantar outra ordem política, 
jurídica e social. Trata-se, então, de um 
movimento de transformação da 
sociedade já existente. 
 Vendo-se os homens em condições 
sociais prejudiciais à sua própria 
conservação, só lhes resta uma associação 
de forças, a fim de que possam, 
conjuntamente, eregir uma instituição 
que se direcione ao bem comum. 
 O contrato social de Rousseau 
permitirá que todos os homens 
constituam um corpo no qual sua força 
individual passa a ser força da 
coletividade. Indivíduos associam-se, no 
todo, como legisladores, e, ao mesmo 
tempo, passam a ser súditos desse mesmo 
todo. O homem é legislador de si mesmo. 
Ele está submetido à lei que é fruto de sua 
própria vontade. Liberdade e obediência 
encontram uma fórmula de conjugação no 
pensamento de Rousseau. 
 A originalidade do pensamento de 
Rousseau, em face da tradição 
contratualistas moderna, está no fato de 
que o homem não é mais tratado como 
um indivíduo isolado, mas sim um 
membro do todo. Isso porque ninguém 
renuncia a seus direitos para dar a um 
monarca ou a um soberano. A teoria de 
Rousseau não é absolutista; pelo 
contrário, é radicalmente democrática. 
Sendo membros de tal coletividade 
surgida do contrato, os indivíduos 
entregam os seus direitos a uma 
totalidade da qual são parte, portanto 
sendo elementos ativos dessa mesma 
entidade política. Trata-se da cidadania 
ativa. Ao contrário de Hobbes e Locke, que 
enxergam o indivíduo como uma espécie 
de elemento isolado, cujos direitos lhe 
seriam atribuídos ou retirados 
passivamente (por meio de um soberano 
que seria um terceiro), Rousseau enxerga 
o indivíduo como membro ativo da 
comunidade. Trata-se de um súdito das 
leis do Estado, mas, ao mesmo tempo, de 
um cidadão, que participa ativamente da 
autoridade soberana. 
 
A lei. Será a lei que consubstanciará a 
vontade geral. Não é a vontade de um 
indivíduo com poderes absolutos que 
ditará as regras do bem comum. A vontade 
geral é fixada em conjunto pelos membros 
do Estado. 
 Rousseau aponta o caráter de 
universalidade necessário às leis, a fim de 
 
5 Por Gabriel Texeira e Juliana Silva Freitas 
que se orientem em busca da vontade 
geral. Devem as leis ser impessoais, gerais 
e universais. Ao mesmo tempo, não 
bastam seus atributos meramente 
formais. É necessário que as leis, para 
serem instrumentos diretivos da vontade 
geral, atendam para determinados 
objetivos. Rousseau exprime tais objetivos 
na fórmula da busca da liberdade e da 
igualdade. 
 
 
KANT5 
(1724-1804) 
A Filosofia do Direito em Kant 
Kant produziu um sistema de pensamento 
liberal que deriva emnosso legalismo. É 
admirador confesso de Rousseau e das 
ideias do Iluminismo. 
 
O pensamento filosófico kantiano. 
Kant formulou suas ideias num momento 
de ascensão da burguesia e dos ideais 
liberais na Europa, em que o Iluminismo já 
havia entrado na Alemanha. No início da 
sua trajetória, Kant tinha estabelecido 
uma ligação com as ciências naturais. Ele 
criticou o idealismo alemão, dominado 
por sistemas metafísicos. Privilegiava as 
comprovações empíricas, em detrimento 
dos sistemas filosóficos. O despertar 
crítico da filosofia kantiana ocorre a partir 
de seu contato com a obra de Hume, que 
o despertou de seu “sono dogmático”. 
Nessa linha, Kant passa a criticar aqueles 
que defendiam que o conhecimento 
derivaria de ideias plenas ou de sistemas 
de pensamento, afirmando a experiência 
como única fonte de apreensão de 
conteúdos e demonstrando a 
impossibilidade de um conhecimento 
ideal e prévio dos fenômenos. 
Já que, pela premissa do empirismo, só 
seria possível extrair “leis” do 
conhecimento perceptível, Kant passou a 
se interessar pelo modo como o homem 
construía conhecimento, a partir da 
percepção. 
 
A razão pura. 
A obra de Kant contempla uma reflexão 
sobre o conhecimento (Crítica da razão 
pura), e sobre os juízos de valor e sua 
aplicação à realidade, incluindo-se a 
questão da justiça (Crítica da razão 
prática). Para conhecer, precisamos 
utilizar estruturas de pensamento. Por 
isso, Kant refuta a ideia de que a mera 
percepção possa permitir o conhecimento 
das coisas “em si”. As estruturas de 
pensamento não são da coisa, e sim do 
sujeito que conhece. Por isso, não 
podemos conhecer uma coisa 
diretamente, porque ela, sozinha, não nos 
mostra a sua essência quando a 
apreendemos. Além disso, o que 
conhecemos sobre as coisas não é 
descolado das nossas estruturas de 
pensamento. Aquilo que conhecemos, 
como um fenômeno da realidade, na 
verdade, é a relação que o sujeito de 
conhecimento tem com a experiência. “Já 
que não há o conhecimento das coisas em 
si, só dos fenômenos, não há a 
possibilidade de universalização do 
conhecimento por meio da realidade 
objetiva, na medida em que esta não pode 
ser conhecida em si mesma.” 
Portanto, há que ser encontrada outra 
forma de universalização do 
conhecimento, que não através da 
realidade objetiva. Kant passa a explicar 
quais seriam as condições de possibilidade 
de um conhecimento universal. O 
conhecimento implica não somente 
apreender os fenômenos mas, sobretudo, 
pensar sobre eles, com a ajuda de 
categorias de intelecção (por ex.: 
quantidade, qualidade). 
“A apreensão dos fenômenos só é racional 
porque há no sujeito estruturas prévias, 
chamadas então por a priori, que 
possibilitam perfazer o conhecimento. 
Qualquer fenômeno que seja percebido só 
o será porque há essas estruturas 
apriorísticas no sujeito do conhecimento.” 
O ato de aplicação das categorias de 
intelecção, para Kant, é um ato de 
julgamento da empiria. “Por isso, todo 
pensamento, para Kant, é na verdade um 
julgamento, é um juízo.” 
Entre os juízos de conhecimento, há os 
juízos sintéticos (a priori e a posteriori) e 
os juízos analíticos. Os juízos analíticos não 
são de interesse da filosofia. “Ao contrário 
desses, no entanto, os juízos sintéticos, 
que juntam elementos e que, portanto, 
produzem conhecimentos novos, a priori 
ou a posteriori, têm mais interesse para a 
filosofia.” Os juízos sintéticos a posteriori 
são aqueles que acrescentam algum 
predicado, como resultado da percepção 
do objeto, pelo sujeito. 
Juízos sintéticos a priori são as categorias 
universais que possibilitam o 
conhecimento dos fenômenos. Tais juízos 
são universais e necessários, embora não 
sejam inatos. “As estruturas que 
possibilitam o conhecimento empírico 
direto, Kant as denominará formas da 
sensibilidade. As estruturas que 
possibilitam o conhecimento intelectivo, o 
entendimento, Kant as denominará 
categorias.” São exemplos de categorias 
apriorísticas: quantidade, qualidade, 
causalidade, necessidade. 
“Justamente porque [os juízos sintéticos] 
são categorias necessárias, Kant dirá que 
são universais. Todos, para perceberem os 
fenômenos, hão de se valer de juízos 
sintéticos a priori. Se as categorias são as 
mesmas a todos, o conhecimento é 
universal, não porque a coisa em si seja a 
mesma, mas porque as ferramentas do 
conhecimento são universais.” 
“Como os indivíduos, sozinhos, podem 
conhecer de modo igual, universal? A 
resposta tradicional diria isso ser possível 
ou porque todos nasceriam com as 
mesmas ideias inatas – racionalistas – ou 
porque o objeto é em si o mesmo para 
todos – empiristas. (…) Em face de tal 
dilema, propõe Kant que o conhecimento 
é universal porque as ferramentas do 
conhecimento são universais a todo 
sujeito do conhecimento. (...) Kant 
constrói, ao cabo de sua empreitada na 
Crítica da razão pura, um conhecimento 
que é calcado na subjetividade mas que é 
universal, com categorias prévias à 
experiência. A universalização de Kant, 
antes que pelo objeto, que não se 
alcançava, era pelo sujeito do 
conhecimento, porque contava este com 
categorias necessárias e universais.” 
 
A razão prática. 
A teoria kantiana sobre a valoração e o 
julgamento humano tem por base a crítica 
da razão prática, passando pela análise do 
dever e da moralidade, até a formulação 
dos imperativos categóricos, núcleo do 
pensamento kantiano sobre a moralidade, 
uma “orientação para o agir moral 
racional”. 
 
Boa vontade e dever. 
O dever se distingue da moralidade, 
consiste em seguir os trâmites de uma 
determinada legalidade; nada tem a ver 
com a moral. Moralidade, por sua vez, é a 
predisposição para cumprir um dever, 
tendo por único fundamento o querer. A 
moralidade não se mede pelo seu 
resultado. A moralidade, portanto, se 
instaura no campo da vontade. Esse 
querer que atende a uma determinada 
legalidade, sem qualquer outro fim, a não 
ser o de cumprir um dever, é a boa 
vontade. 
 
O imperativo categórico. #ÉFamoso 
Kant distingue entre os imperativos 
hipotéticos e os imperativos categóricos. 
Imperativo hipotético é uma técnica, que 
visa a certo fim. Trata-se de um modo de 
ação típico do pragmatismo. 
O imperativo categórico é uma diretiva 
que tem em vista a ação. É mais que um 
saber que orienta a moral e é mais que um 
dever. “A vontade, se dominada pela 
inteligência, será conduzida então por 
meio do imperativo categórico.” “É um 
dever que obriga sem condicionantes nem 
limitações nem finalidades outras que o 
cumprimento desse próprio dever.” 
Independe de condicionantes concretas e, 
por isso, é universal. Vale dizer que 
somente poderão ser universalizadas as 
ações boas, isto é, as ações dirigidas pela 
boa vontade, orientadas tão somente ao 
cumprimento do dever. 
“O imperativo categórico é 
portanto só um único, que é este: 
Age apenas segundo uma máxima 
tal que possas ao mesmo tempo 
querer que ela se torne lei 
universal. 
[...] Age como se a máxima da tua 
ação se devesse tornar, pela tua 
vontade, em lei universal da razão. 
[...] Age de tal maneira que uses a 
humanidade, tanto na sua pessoa 
como na pessoa de qualquer 
outro, sempre e simultaneamente 
como fim e nunca simplesmente 
como meio.” 
Tanto o indivíduo que pensa o imperativo, 
como aquele que sofre os seus efeitos são 
pensados como fins, e não como meios. 
Observação: a doutrina jurídica aponta 
que a definiçãode “dignidade da pessoa 
humana” tem origem na formulação de 
Kant, de que o indivíduo é um fim em si 
mesmo. 
Kant não admite a possibilidade de 
flexibilizar o imperativo categórico na vida 
prática. Apreende-se daí, a forma como 
Kant trata a moralidade. Na visão do autor 
(Mascaro), a construção da moralidade, 
em Kant, é frágil, porque se sustenta em 
premissas ideais e não permite 
reconhecer as situações de sujeitos que se 
encontrem em diferentes posições. 
“A transposição da filosofia prática de 
Kant para o problema moderno do direito 
natural é imediata: somente poderão ser 
de direito natural (somente poderão ser 
direitos justos e racionais) os imperativos 
universalizados. Representa tal 
concepção, ao mesmo tempo, uma 
postura revolucionária – o fim dos 
privilégios do Absolutismo, tendo em vista 
que tais privilégios são particulares a um 
só estamento – e uma postura 
conservadora – a legitimação da 
universalidade sem qualquer flexibilização 
ou contestação dos direitos subjetivos 
burgueses, principalmente o 
 
Direito e moralidade 
 
Na filosofia de Kant, o direito 
possui um papel que é próximo, mas que 
não se confunde com o da moralidade. O 
campo do direito independe da motivação 
pessoal do sujeito. As razões pelas quais 
alguém cumpre a lei não são tão 
importantes quanto o simples fato de 
cumpri-la; por sua vez, no campo moral, 
não importa apenas cumprir, mas sim 
querer cumprir. 
Para Kant, o direito se distingue da 
moral porque esta última busca uma 
espécie de prática da lei por si mesma, 
tendo seu âmago na vontade interna do 
sujeito, enquanto o direito se impõe como 
uma ação exterior, concretizando-se no 
seu cumprimento, ainda que as razões do 
sujeito não sejam morais. 
Embora tal distinção, há, no 
entanto, um núcleo comum ao direito e à 
moralidade. Para Kant, a forma do direito 
é semelhante à forma da moralidade, o 
que é tratado na obra "Metafísica dos 
Costumes". No pensamento kantiano, não 
há diferenciação entre o direito racional e 
a moral no que diz respeito ao conteúdo 
das normas em si, tendo em vista que as 
normas jurídicas racionais e as morais são 
pensadas todas a partir de uma mesma 
forma – imperativos categóricos 
Os imperativos categóricos são 
base da moral. O seu lastro está na 
universalidade das normas. Também o 
direito é pensado a partir de uma 
universalidade. Somente as normas 
universais podem ser pensadas como 
justas. 
Há uma articulação entre deveres, 
de forma que poderíamos dizer que os 
deveres de virtude e os jurídicos 
subordinam-se aos ético-gerais. Direito e 
virtude participam da doutrina dos 
costumes e têm os mesmos fundamentos 
últimos, o que é consequência da unidade 
da razão prática, pois as duas legislações 
são provenientes da autonomia da 
vontade. Esta é o fundamento das duas 
legislações; o princípio supremo da 
doutrina dos costumes é o imperativo 
categórico. 
Com base nessa forma comum, 
Kant propõe um direito da razão, que se 
pode considerar legítimo, servindo de 
contraste ao direito posto, quando este 
afrontar os ditames da própria 
racionalidade. Trata-se, ainda, do direito 
natural ao molde moderno, agora elevado 
às últimas consequências: também para 
Kant, o direito natural não é o da natureza. 
Como os demais burgueses modernos, 
para ele o direito natural é da razão, 
extraído como possibilidade do 
pensamento do sujeito. Não é necessário 
que se o meça na realidade. Basta a sua 
forma pensada, apriorística, para que se 
afirme. Por isso, Kant representa a mais 
radical ruptura com o pensamento jurídico 
antigo, clássico, cujo maior propositor fora 
Aristóteles. Para este, a natureza 
ensinava, servia de guia e mensuração. 
Para Kant, o direito justo é pensado, e não 
necessita nem de confirmação nem de 
correções na realidade. 
O direito justo e racional para Kant 
não visa ao bem comum nem à felicidade 
daqueles aos quais se destina, mas é 
identificado pela pura razão de justiça que 
se possa pensar. Apenas a forma da 
relação entre livres e iguais é o que 
importa 
Em um decisivo trecho da 
Metafísica dos costumes, Kant 
conceituará o direito como uma esfera 
exterior do dever (e não interior, como no 
caso da moralidade), e dirá que o direito 
não se mede pelos proveitos, 
necessidades e explorações concretos da 
relação, e sim apenas pela forma que seja 
presumida livre e igual da própria relação. 
O direito é, portanto, a soma das 
condições sob as quais a escolha de 
alguém pode ser unida à escolha de 
outrem de acordo com uma lei universal 
de liberdade. 
 
Ainda, para Kant, sendo o 
imperativo o mesmo para a moralidade e 
para o direito, a moral se cumpre por um 
querer interior ao sujeito e o direito se 
revela por meio da coerção externa ao 
sujeito, promovida pelo Estado. Os 
deveres jurídicos, no entanto, não são 
apenas promovidos pela coerção. Eles 
também podem ser indiretamente éticos. 
Como divisão da doutrina dos 
costumes (da moral), o direito se opõe à 
ética (doutrina da virtude), e não à moral, 
que é mais ampla que esta. Para Kant, 
alguns conceitos são comuns às duas 
partes da metafísica dos costumes, entre 
eles, os conceitos de Dever e de 
Obrigação. Há deveres que são 
diretamente éticos, mas os deveres 
jurídicos, na medida em que também são 
deveres e dizem respeito também à 
legislação interior, são indiretamente 
éticos. Por exemplo, cumprir um contrato. 
A grande dificuldade da filosofia do 
direito burguesa moderna, que era a de 
conciliar a liberdade do indivíduo com a 
coerção estatal, é resolvida por Kant sem 
qualquer embaraço: há uma necessidade 
imperiosa da coerção estatal para a 
garantia da liberdade individual. A 
liberdade plena do indivíduo é perdida em 
favor do Estado para que este, então, 
guarde-a e a permita: tudo que é injusto é 
um obstáculo à liberdade de acordo com 
leis universais. Mas a coerção é um 
obstáculo ou resistência à liberdade. 
Consequentemente, se um certo uso da 
liberdade é ele próprio um obstáculo à 
liberdade de acordo com leis universais 
(isto é, é injusto), a coerção que a isso se 
opõe (como um impedimento de um 
obstáculo à liberdade) é conforme à 
liberdade de acordo com leis universais 
(isto é, é justa). 
Ao campo do direito, a legislação 
tem por motivo não a moralidade em si 
mesma, mas um princípio externo, vale 
dizer, lastreado em último caso pela 
sanção, e isso é diverso do campo da 
moral, no qual o bem tem um fim em si e 
para si. 
 
Assim sendo, a relação entre o 
direito e a moralidade, para Kant, é 
estreita e complementar, para o que isso 
aponte de mais frágil na própria 
moralidade, que não consegue se assentar 
como campo fundamental da 
sociabilidade, e também no próprio 
direito, que está preso aos ditames da 
moralidade individualista burguesa. Por 
isso, o despotismo, embora se organize a 
partir de um Estado, não é artífice 
suficiente do Estado de direito. 
 
O contratualismo kantiano 
 
Na ideia do contrato social, e na 
verdade na pressuposição da vontade 
O modelo de direito de Kant merece 
críticas, pois a mera forma da relação 
presumida livre e igual corresponde 
ao apogeu da legitimação da relação 
de exploração capitalista, sem 
considerações maiores a respeito da 
sua injustiça estrutural. As 
necessidades concretas das pessoas 
e da sociedade não orientam o 
direito segundo sua visão filosófica 
geral do povo, é que reside para Kant a 
legitimidade do direito.Sua teoria não 
pressupõe o contrato social como 
realidade histórica. Não se o há de buscar 
em algum evento concreto do passado. 
Pelo contrário, o contrato social é uma 
necessidade do pensamento, tendo em 
vista que o Estado de direito se funda 
nesse nível de racionalidade que 
pressupõe o resguardo institucional da 
liberdade dos indivíduos em convívio. Para 
Kant, não há um estado de natureza como 
um fato. Ele também é uma ideia. 
A justiça tem dificuldade de se 
assentar no estado de natureza, pois a 
possibilidade do direito não se faz 
presente nessa hipótese de pensamento. 
A superação do estado de natureza, no 
entanto, não é simplesmente o 
estabelecimento do Estado. Para Kant, 
somente numa forma republicana se 
alcança uma soberania da organização 
social e política tal que a liberdade seja 
garantida. 
O arbítrio, para Kant, é o 
fundamento de sociedades anárquicas e 
despóticas. O direito é o fundamento das 
sociedades republicanas. Para Kant, 
peculiarmente, o Estado de direito 
garante apenas a justiça para todos, não o 
bem-estar dos seus cidadãos ou direito de 
cidadania ativa. 
Numa posição altamente liberal, os 
indivíduos, por si próprios, são 
responsáveis pela sua felicidade. O Estado 
apenas garante as possibilidades da 
liberdade dos indivíduos, por isso sua 
função é assegurar, nas palavras de Kant, 
apenas a justiça. Para Kant, em uma 
perspectiva muito refratária ao que se 
possa pensar como crítica das 
desigualdades sociais, o direito não deve 
se ocupar do eventual sofrimento do 
povo. O contrato social, na sua opinião, é 
tão somente uma ideia que organiza a 
concretização da justiça enquanto 
garantia da liberdade. 
 
O direito privado e o direito público 
 
Na Metafísica dos costumes, Kant 
expõe sua “Doutrina universal do direito” 
em duas partes, sendo a primeira delas 
sobre o direito privado e a segunda sobre 
o direito público. Tal apresentação não é 
aleatória: para Kant, o fundamento do 
direito reside primeiro no direito privado, 
e só depois no direito público. A 
propriedade privada e o contrato são 
elementos inscritos já no estado de 
natureza, antes mesmo da posterior 
transformação de tal situação natural em 
civil. 
Para Kant, não há de se indagar 
sobre as origens de cada propriedade 
específica, devendo antes haver, como 
corolário da razão, o respeito absoluto à 
posse originária já constituída. Veja que 
esse pensamento de Kant serve aos 
interesses burgueses e 
conservadores. Kant erige a garantia da 
propriedade privada como um inabalável 
direito da razão, um direito natural. 
Para Kant, a posse, que é um 
pressuposto verificado já no estado de 
natureza, somente se torna propriedade 
privada quando de sua garantia por meio 
do Estado. Assim sendo, em Kant, o direito 
público é uma decorrência necessária da 
própria atividade e dos interesses privados 
– de modo radicalmente burguês, o 
privado fala mais alto que o público. 
O direito público é aquele haurido 
do Estado, que dá condições para a 
liberdade dos indivíduos na convivência 
entre si, dos povos entre si e mesmo dos 
Estados e de seus indivíduos entre si. Por 
isso, Kant estrutura-o, na Metafísica dos 
costumes, em três partes: direito do 
Estado; direito das gentes; direito 
cosmopolita. 
No que diz respeito à sua visão 
sobre a cidadania, Kant reconhece, no 
poder legislativo, uma ligação com a 
vontade do povo, que se expressa por 
meio das eleições. Ocorre que, na sua 
teoria, eleitor deve ser o proprietário, 
aquele que tem meios próprios para viver 
e não se submete ao trabalho controlado 
por um terceiro. Trata-se, 
surpreendentemente, de uma visão 
absolutamente não universalista. O 
próprio Kant busca matizar sua posição, 
ressaltando que o trabalhador 
subordinado é também um cidadão, mas, 
não sendo proprietário nem dono de seus 
próprios meios de subsistência, é um 
cidadão passivo, ao contrário do cidadão 
ativo, aquele apto ao voto. 
Kant, em termos políticos, expõe 
ao máximo suas fragilidades teóricas, com 
uma teoria da democracia muito mais 
conservadora que a dos demais filósofos 
burgueses modernos. Em sua concepção 
restrita, a cidadania é somente um 
atributo formal, ou seja, meramente a 
aptidão a votar. Além disso, sua 
abominável distinção entre cidadãos 
ativos e passivos – que segrega o 
trabalhador e a mulher – revela o quanto 
sua filosofia política e do direito não 
representa um marco de rompimento, 
mas sim de conservação do já dado. 
Além da questão da cidadania, 
Kant, na sua reflexão sobre o direito 
público, trata também a respeito do poder 
do soberano e do direito à revolução. 
Também aqui demonstrará sua visão 
filosófica conservadora. Para Kant, ainda 
que o soberano seja um tirano, injusto, 
não há um direito de resistência do povo, 
que deve se conformar à condição jurídica 
dada, sem postular uma revolução. Se o 
direito natural se consubstancia num 
direito positivo que garanta a liberdade 
recíproca dos indivíduos, atentar contra 
tal ordem é injusto. 
 
O direito das gentes e o direito 
cosmopolita 
 
O direito das gentes e o direito 
cosmopolita O projeto kantiano de fundar 
uma sociedade calcada no direito público 
que respeita a liberdade individual não 
para apenas no plano interno de cada 
Estado - projeto de paz perpétua. 
No seu projeto de paz perpétua, 
Kant estatui as convenções e as normas a 
serem seguidas pelas nações entre si a fim 
de que o projeto jusnaturalista 
racionalista levasse à harmonia universal 
sustentada pelo direito. Apesar disso, ele 
reconhece criticamente que essa paz 
perpétua nunca se completará. São artigos 
desse projeto: 
 
Primeiro Artigo – A Constituição 
civil em cada Estado deve ser 
republicana. 
Segundo Artigo – O direito das 
gentes deve fundar-se numa 
federação de Estados livres. 
Terceiro Artigo – O direito 
cosmopolita deve limitar-se às 
condições da hospitalidade 
universal. 
 
No que tange ao direito das gentes, 
Kant constata que os Estados encontram-
se nas relações entre si, muitas vezes 
numa situação ou de guerra ou de 
hostilidade, semelhante ao estado de 
natureza entre os indivíduos. A fim de 
superar tal estágio, não se há de pensar 
num poder soberano por sobre os Estados, 
pois isso acabaria com suas 
independências e se encaminharia a uma 
tirania de um Estado mais forte sobre os 
outros. A proposta kantiana é de uma 
federação de Estados. Muitos vislumbram, 
em tal proposta kantiana, o primeiro 
embrião teórico de uma entidade 
supranacional como a Organização das 
Nações Unidas. 
Além de um direito das gentes, 
Kant aponta em direção a um direito 
cosmopolita. Pode-se dizer que o direito 
cosmopolita é um avanço proposto por 
Kant em relação ao já tradicional direito 
das gentes. Não se trata apenas de 
analisar o direito que é dado a cada 
cidadão a partir de seu Estado. Trata-se do 
direito do cidadão numa sociedade 
internacional. O direito cosmopolita 
aponta, ao mesmo tempo, para os Estados 
e os indivíduos. 
 
Direito, história e paz perpétua 
 
Perpassa, pela filosofia de Kant, um 
certo otimismo do direito como potencial 
futuro de melhoria da sociedade, a partir 
 
6 Por Carina e Felipe 
de certas proposições, a partir das quais 
Kant propõe uma leitura das 
possibilidades humanas tendo em vista o 
uso da razão, sem se basear em fatos 
empíricos ou buscar um percurso 
histórico.

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