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Capitulo_2

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II
A ESPÉCIE EM ZOOTECNIA
L’examen des êtres vivants suggère à l’espirit deux notions 
contradictoires, le discontinu manifeste des espèces, qui se présentent 
comme des entités isolées qu’on a designées de tout temps par des noms 
spéciaux, vulgaires ou scientifiques, et le continu non moins évident de 
la série animale, qui presente toutes les sortes de graduations entre les 
êtres les plus simples dits inférieus et les êtres les plus complexes dits 
supérieurs. – L. CUÉNOT.
1 Evolução das espécies
Não se discute mais, se as espécies ou os seres vivos se transformaram, 
evoluindo e dando origem a outras espécies. Ninguém mais perde tempo, nos dias que 
correm, em duvidar da filiação entre as formas vivas, ora mais, ora menos remota. Os 
espíritos imbuídos das idéias mais opostas, escreveu E. RABAUD, admitem que os 
seres vivos organizados descendem uns dos outros. A evolução é um fato que se 
impões, disse MAURICE CAULLERY (1931), somente seu mecanismo permanece 
obscuro.
É que a dúvida, a controvérsia é outra. É quando se procura explicar a evolução 
mesma. De fato, as explicações dadas até aqui, para essa evolução, continuam 
insuficientes, continuam controvertidas. Se não podemos, em boa fé, negar a evolução, 
contar como essa evolução se deu, ou se opera, já é difícil, senão por vezes impossível, 
sem se lançar mão de hipóteses, e estas, como todas as hipóteses, são muito discutidas.
A evolução das espécies parece ser, até certo ponto, explicável pela seleção 
natural, pela mutação e pela hibridação ou mistura de espécies, ou de raças, 
promovendo o fenômeno genético das recombinações.
Este é o ponto de vista que parece dominar, e a afirmação de J. HUXLEY 
(1942), a este respeito, é bastante clara: “Com a reorientação, que a genética moderna 
tornou possível, a evolução é considerada como um produto articulado da mutação, 
recombinação e seleção. Contrariamente ao ponto de vista da escola de WEISMANN, a 
seleção foi julgada incapaz de poder ultrapassar o limite da variação, e desse modo 
incapaz por si mesma de provocar mudanças evolutivas. Contrariamente ao ponto de 
vista da escola de WEISMANN, a seleção foi julgada incapaz de poder ultrapassar o 
limite da variação, e desse modo incapaz por si mesma de provocar mudanças 
evolutivas. Contrariamente ao ponto de vista da maioria dos mutacionistas extremados e 
dos crentes na ortogênese, a mutação por si só foi considerada incapaz de provocar 
mudanças de diretiva, ou de ultrapassar os efeitos seletivos. Os dois processos são 
complementares, sua ação mútua é tão indispensável à evolução como são o hidrogênio 
e o oxigênio para a água. E o terceiro processo, o das recombinações, é quase 
igualmente essencial, não somente por oferecer plasticidade às espécies, permitindo-
lhes certa velocidade de mudanças evolutivas, mas também pelo ajustamento dos efeitos 
das mutações às necessidades do organismo”.
De acordo com J. HUXLEY, a evolução orgânica dos seres vivos é, então, “um 
produto articulado da mutação, da recombinação e seleção”.
Mas a seleção “é incapaz de poder ultrapassar os limites da variabilidade”, daí 
mostrar-se incapaz por si mesma de provocar mudanças evolutivas. Em outras palavras, 
a seleção não cria nada. Sua ação é passiva, como adiante será explicado.
Por sua vez, “a mutação por si só foi considerada incapaz de provocar mudanças 
de diretiva ou de ultrapassar os efeitos seletivos”. Isto mostra o papel limitado desse 
13
fator da evolução, capaz de determinar novas formas. Estas novas formas vivas não têm, 
inatamente, condições de vitória categórica, fatal, certa. Seu destino dependerá das 
condições do ambiente. Ou seja, do resultado da ação da seleção natural sobre ela.
Finalmente, a recombinação (que resulta da mistura de condições hereditárias 
pela mixovariação ou hibridação) é quase igualmente essencial, “por dois motivos: a) 
por oferecer plasticidade às espécies; b) o que lhes permite certa velocidade de 
mudanças evolutivas”. Trata-se, assim, se um fator de progresso (velocidade) no 
processo da evolução, com a produção de novas formas a partir de formas preexistentes 
(plasticidade).
A evolução do gado Holandês, por mutação, no seu ajustamento ao ambiente 
tropical seria demasiado lenta e problemática. Da mesma sorte a evolução do Zebu, no 
sentido de crescente aptidão leiteira, seria também lenta. A mistura Holandês-Zebu dá 
plasticidade às novas formas obtidas e velocidade às mudanças na evolução delas no 
sentido de:
1 adaptação aos trópicos, e
2 da acentuada aptidão leiteira.
2 Seleção natural
Observando-se a natureza, não é possível fugir-se à evidência de três fatos de 
fácil verificação, para se chegar com DARWIN a duas deduções deles, comenta 
HUXLEY (1942):
1º fato – há uma tendência dos seres vivos para aumentar de número numa 
progressão geométrica;
2º fato – apesar disso, o número de indivíduos, de determinada espécie, 
permanece o mesmo;
1ª dedução: deve haver, na natureza, uma luta pela existência.
3º fato – há, nos seres vivos, uma tendência para variarem:
a) por mutação;
b) por mixovariação (hibridação, recombinação);
2ª dedução: seleção natural dos mais aptos para viverem.
Chama-se seleção natural ao fenômeno primeiramente enunciado por DARWIN 
(1859), que nela baseou quase todo o processo evolutivo dos seres vivos. É a escolha 
que se processa na natureza, dos indivíduos mais aptos, e a eliminação dos menos aptos 
para a vida, em determinado meio. É a escolha que se processa na natureza, dos 
indivíduos mais aptos, e a eliminação dos menos aptos para a vida, em determinado 
meio. É a “persistência do mais apto” – concepção esta, aliás, exposta por WELLS 
(1813), e desenvolvida por MATHEW (1831), segundo THOMAS HUXLEY (1854).
Na luta pela existência está fadado ao sobreviver o indivíduo mais bem dotado, 
mais adaptado aos fatores exteriores, que o envolvem. O trabalho de MALTHUS 
(1798), sobre o crescimento da população em relação com o aumento dos recursos de 
alimentação, impressionou ao grande naturalista, daí sua explicação da persistência de 
certas espécies, e da destruição de outras. Enquanto estas seriam inaptas para viver, 
aquelas, ao contrário, se persistem, é que estão dotadas de recursos adaptativos, que lhes 
garantem essa persistência mesma.
Quando se transporta para novo ambiente – explica CUÉNOT (1925) – uma 
população humana ou animal, sabe-se que há, a princípio, mortalidade desusada, e a 
eliminação imediata de certas formas, cujos caracteres estão em contradição direta com 
14
as condições da nova ambiência. É assim, por exemplo, que nos países frios, onde a 
temperatura desce abaixo de 12º C, a crista e a barbela das galinhas, com tais apêndices 
muito desenvolvidos, gelam; assim as raças rústicas desses países (Holanda) não têm 
crista grande, mas o que dá causa, sobretudo, à seleção, na é tal característico visível, 
mas alguma coisa de mais íntimo e de mais importante, isto é, o poder de autoregulação, 
que representa papel capital na sobrevivência do indivíduo e da espécie; resistirão 
apenas os indivíduos, cujo poder de regulação seja tal que lhes permita prosperar na 
nova ambiência, e legar à sua descendência essa propriedade. Enquanto isto, são 
selecionados, indiretamente, todos o caracteres correlativos, com esta resistência geral, e 
que podem ser numerosos (porte, coloração, longevidade, etc.). Estabelece-se então um 
novo tipo social, que difere da antiga população por propriedades íntimas, e às vezes 
também por caracteres morfológicos visíveis (1925).
A seleção não cria atributos novos, nem é fator direto da variação das espécies.Ela deve ser considerada como uma força controladora ou como um crivo: através dele 
só passarão os indivíduos adaptados e, portanto, aptos a viverem e a se reproduzirem no 
ambiente considerado. E “mesmo que pesquisas ulteriores provarem, comentou tão bem 
HUXLEY (1854), que a variabilidade é definida e determinada em certas direções, e 
não em outras, por condições inerentes ao ser que varia, apesar disso a importância da 
seleção natural não será enfraquecida”. É o que se está vendo. Bem compreendida, a 
seleção natural se mostra incontestável, embora hoje se saiba que a evolução é coisa 
inerente ao próprio ser que evolui.
Figura 3 – Bovino nativo, adulto, subdesenvolvido, numa adaptação vitoriosa ao meio 
tropical pobre, por efeito de seleção natural. – Fazenda São Caetano. Buriti dos Lopes. 
Piauí. (Foto do autor em 1958).
Quem exerce essa seleção natural é o meio ambiente compreendido nele todos 
os fatores e circunstâncias: clima, solo, espécies, vegetais, e animais. É uma seleção 
feita pela natureza. “Na natureza, diz BONSMA (1955), o ambiente age como agente 
seletivo; somente os animais possuidores de atributos específicos, morfológicos, e 
fisiológicos, que asseguram a adaptação, possuem a constituição genética necessária 
para sua sobrevivência e propagação”.
Há uma variante da seleção natural. Vem a ser a seleção artificial, que é o 
método de trabalho empregado secularmente pelo homem, na criação dos animais 
domésticos e das plantas de cultura, com o fim de melhorar suas diversas raças. Desse 
trabalho de escolha resulta a constituição de novas raças e melhores, sob o ponto de 
15
vista econômico e humano. A seleção artificial se faz sentir, quase sempre, sobre os 
tipos que se apresentam bem dotado de qualidades mais úteis ao homem, os que são 
mais rendosos ou que surgem com caracteres de valor inesperado e especial (raças de 
luxo, por exemplo). DARWIN inspirou-se também, como se sabe, na observação desse 
trabalho dos criadores e horticultores ingleses, selecionadores por excelência, 
encontrando nele base para sua teoria.
A distinção entre o pensamento de DARWIN e o que hoje deve-se ter não 
invalida a noção fundamental, da seleção natural. Enquanto ele se preocupava demais, e 
enganosamente, com as “pequenas variações” ou variações contínuas, sobre elas 
baseando sua teoria, hoje se sabe que são as mutações, ou variações aos saltos (se assim 
pode-se dizer), que aquelas variações provenientes de recombinações genéticas 
(mixovariações) é que oferecem material, para o processo seletivo da natureza. Ou 
melhor, são as variações hereditárias, e não as flutuações ou pequenas variações, 
devidas à influência do meio que, submetidas à seleção natural, dão margem ao 
processo de evolução das espécies.
NILES ELDRIDGE e STEPHEN JAY GOULD (1990) propuseram a teoria da 
evolução denominada de Equilíbrio Pontuado, sugerindo que o registro fóssil não é tão 
incompleto como se pensava. A história da vida não é um desenvolvimento contínuo, 
mas um registro interrompido por episódios breves, às vezes, geologicamente 
instantâneos, de extinções massivas e subseqüente diversificação. Mais do que numa 
transição gradual, os animais multicelulares modernos apareceram pela primeira vez de 
forma clara no registro fóssil há uns 570 milhões de anos e, explosivamente, não em um 
crescendo prolongado. Esta explosão cambriana marca o surgimento de praticamente 
todos os grupos importantes de animais modernos, e tudo em um minúsculo lapso de 
tempo, geologicamente, falando, de uns poucos milhões de anos. Mas esses autores 
também encontraram o chamado efeito colateral, cujo significado é que nem sempre o 
que existe traz alguma vantagem evolutiva e a evolução pode ocorrer pelo acaso, quer 
dizer, por exemplo, que pode haver uma catástrofe natural e assim influenciar na 
adaptação. Entretanto, ERIC LERNER afirma que GOULD não tem razão quando nega 
o caráter sempre progressista da evolução, uma vez que a evolução mesma provocou 
uma maior complexidade de organismos, isto é, há rupturas, regressões e pausas dentro 
de um progresso geral evolutivo. Algumas espécies se adaptaram ao seu meio ambiente 
e continuam existindo por milhões de anos, outras foram extintas ao perder a 
concorrência evolutiva.
Sua desatenção ao fenômeno da mutação, que ele não desconheceu, 
superestimando o valor das pequenas variações ou flutuações, teve como resultado, 
lembra GUYÉNOT (1930), fazer “retardar de meio século a marcha do transformismo”.
A seleção natural é, pois, um processo passivo. A variabilidade dos seres vivos, 
própria deles, constante e eterna, é que constitui o processo ativo da evolução.
Tanto a seleção artificial como a natural não criam atributos ou formas novas. A 
seleção insula, e oferece oportunidade para que se fixem, na descendência, esses 
atributos novos, aparecidos em certos indivíduos da população. O aparecimento, 
propriamente, de tais formas diferentes da antiga – ou melhor, essa variação dos 
animais, resulta, convém repetir, de uma faculdade própria do ser vivo, que é capaz de 
variar fundamentalmente, dando origem a novas formas, que se multiplicam 
hereditariamente. Tal variabilidade é de duas naturezas: pode ser espontânea, por 
mutação, e pode ser por hibridação, ou melhor, por recombinações genéticas 
decorrentes da mistura de espécies, e, mais comumente, de raças diferentes.
Então pode-se concluir que “o grosso do material disponível para a evolução, 
pela seleção natural, distribui-se em duas categorias – mutação e recombinação. A 
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mutação é a única originada de mudanças intrínsecas, isoladamente, nas unidades da 
constituição hereditária: com ela se altera a natureza dos genes. A recombinação, por 
outro lado, ainda que possa dar origem a combinações inteiramente, novas, com novos 
efeitos completos, nos caracteres, somente trabalha com genes preexistentes. É, 
entretanto, quase tão importante para a evolução” – é o que afiança J. HUXLEY.
3 A variabilidade
Variar no processo de crescimento individual e no suceder das gerações é uma 
constante do ser vivo. Daí aquele trocadilho axiomático de WALTER (1947): “A 
variação é a coisa mais invariável da natureza”.
Essa variabilidade do ser vivo não tem a mesma origem. Segundo o esquema 
consagrado de E. BAUR (1919) as variações são de três naturezas:
1 Variações originadas por fatores ambientes ou modificações.
2 Variações por mudanças germinais, operadas, portanto na herança do 
indivíduo ou mutações.
3 Variações devidas a misturas de heranças diversas ou combinações.
As primeiras são variações somáticas, e por isto não são hereditárias. Não 
podem, então, intervir no processo evolutivo.
As mutações e as combinações, sim, tendo em vista sua natureza hereditária, é 
que tomam parte na evolução orgânica. Foi o que se viu anteriormente. A mutação e as 
combinações é que constituem fatores, que agem na evolução.
Em uma população sem mescla, reproduzindo-se dentro dela mesma, é possível 
ocorrer variação que não se origina da ação do meio. Variação espontânea, brusca, sem 
preparação e sem qualquer causa aparente. A essa variação de natureza hereditária foi 
que se deu o nome de mutação (De VRIES, 1900)1.
Se em uma população insulada, depara-se um, dois ou mais indivíduos mutantes 
será muito simples a formação de um novo agrupamento diferenciado, raça ou espécie 
diversificada da primitiva. Se esses indivíduos forem naturalmente segregados numa 
ilha, ou no recanto de um vale, darão origem a descendentes semelhantes, com o novo 
atributo fixado. Tem-se então um novo agrupamento: raça ou espécie, como já foi dito.
As mutações,explica GUYÉNOT (1930), são relativamente raras, mas são 
encontradas cada vez que um ser vivo é criado de modo a permitir a observação de um 
número suficientemente grande de indivíduos. É mesmo mais numerosos do que seria 
necessário par explicar as transformações evolutivas, e as espécies seriam 
perpetuamente pulverizadas em uma massa de tipos novos, se a imensa maioria dos que 
surgem não fosse eliminada, a cada instante.
O acaso é um elemento a considerar no conceito de mutação. Em verdade, como 
diz SERRA (1949) “até agora as mutações têm sido encaradas como um acontecimento 
que se dá ao acaso, e a mutabilidade experimentalmente provocada pelas radiações mais 
veio arraigar este conceito de mutação como um ato quântico de ordem estatística, que 
individualmente se não pode prever”.
Finalmente, relembra-se que a mutação é um dos dois materiais, com que 
trabalha a seleção natural (o outro é a recombinação). É uma forma de variação 
intrínseca dos seres vivos. Como se verá no estudo da hereditariedade, quando se 
cruzam indivíduos de heranças biológicas diferentes, a descendência poderá apresentar 
indivíduos constituindo formas novas. Estas, como as mutações, sob a ação da seleção 
natural ou artificial, subsistirão, dando origem à nova raça ou espécie, caso tragam 
qualidades naturais de vitória, no meio onde surgiram.
1 Sur la mutabilité de l’Oenothera Lamarckiana. Compt. Rend. Acad. Sci. Paris 131:561-563.
17
Um exemplo concreto, e eles são inúmeros, da possibilidade de surgir uma nova 
forma diferente, a partir da cruza de duas outras, temos entre as galinhas: sempre que se 
cruzar um indivíduo de crista de “ervilha” com outro de crista de “rosa”, serão obtidos 
descendentes com crista de “noz”, forma esta fixável a partir da segunda geração, capaz 
de originar nova variedade. Claro é que, da mistura de espécies (hibridação), também 
podem surgir outras formas novas, que se fixarão hereditariamente. Assim este deve e 
pode ser, portanto, um meio ou um fator da evolução dos seres vivos. Aliás, para J. P. 
LOTSY (1916), a hibridação seria o processo fundamental da diversificação dos seres 
vivos, diversificação – origem da evolução. Na verdade, assim parece ser: a 
contribuição da mutação, provavelmente, foi ou tem sido menos do que aquela das 
recombinações genéticas mais fáceis de ocorrerem e de apresentarem material mais 
abundante para a ação seletiva da natureza (seleção natural).
4 A preadaptação
Mas, entre o aparecimento das novas formas e a vitória da mais apta, diz-se que 
se processou a “adaptação”. Esta não é mais do que um nome dado a uma situação 
verificada, quando ela já é um fato, realidade, e não um processo em marcha. Adaptação 
é o ajustamento do ser vivo ao meio onde vive e prospera. Mas, mudando de meio, não 
serão os seres capazes de nova adaptação? Parece que sim, graças ao que CUÉNOT 
(1914) denominou preadaptação.
Com este nome, o notável professor da Faculdade de Ciências de Nancy 
pretende explicar o fenômeno biológico, hoje comprovado, de que “o órgão e a 
necessidade é que criam a função”. Para cada função biológica deve preexistir 
provavelmente o órgão a ela adaptável. E ele frisa: “As adaptações necessárias e úteis 
apareceram independentes da ambiência”. “Na verdade, como diz GUYÉNOT (1930): É 
preciso renunciar à idéia de que a função cria o órgão. As variações aparecem ao acaso: 
segundo as condições de vida, elas permitem ou não ao funcionamento necessário à 
persistência das formas novas. A ordem aparente na evolução da matéria viva é apenas 
o resultado da soma das desordens, provocadas pelas variações germinais, e os azares 
que determinam suas possibilidades de desenvolvimento”.
A passagem de uma espécie para um ambiente, que não o seu, só terá bom êxito 
se, para o novo ambiente, ela levar as propriedades que lhes permitam prosperar nele. A 
essas propriedades latentes, quase “proféticas”, é que CUÉNOT (1925) deu o nome de 
preadaptações. Desta sorte, os animais com certos e determinados caracteres só 
persistirão, ou só persistem, na natureza, se postos fortuitamente, ou não, nestas ou 
naquelas condições determinadas de meio ambiente. “No caso de uma mudança, nas 
condições de meio – escreve ele – só persistem as formas que, por acaso, apresentam 
preadaptação suficiente para essa mudança. Ou, exprimindo-se de outra maneira: a 
adaptação necessária e suficiente a certo meio constitui-se independentemente desse 
meio, e parece sempre como preestabelecida, como antecedente à ocupação do meio” 
(1925).
Tomando a citação de HUXLEY (1942), de um caso sobre preadaptação, 
interessante particularmente para o zootecnista. Trata-se do caso estudado por 
LAMOUREUX e HUTT (1939), que verificaram ser a Legorne branca (do galinhame 
Legorne por eles estudado) sensivelmente mais resistente a uma deficiência de vitamina 
B1 do que outras raças, como a Rhode Island vermelha, a Plymouth Rock carijó. Num 
arraçoamento normal, essa distinção não se verifica, mas em regime de carência ela se 
põe em evidência. Exemplos de preadaptação também podem ser consideradas as 
diferenças de resistência ao calor tropical, verificada nas galinhas e nas raças bovinas 
européias.
18
5 A espécie
Não se deve esquecer que a noção de espécie representa uma herança, que nos 
vem do Criacionismo. Este reparo de GUYÉNOT (1947), na verdade, precisa estar 
presente ao espírito, quando se pretende definir a noção de espécie, ou quando se 
pretende discutir se determinado grupo constitui ou não uma espécie diferente daquele 
outro.
Embora não se ignore o velho axioma de LINEU: Species tot numeramus quod 
diversae formae in princípio sunt create, ainda é ele que domina nosso espírito, com a 
força das idéias que primeiro foram recebidas. A vitória do evolucionismo foi dura, 
justamente porque dividir os seres em espécies, era noção fácil, cômoda e como que 
fatal ao observador da natureza. Continuando com LINEU, a ver os seres de longe, 
lembrando o viajante, que percebe no horizonte os altos cumes duma cadeia de 
montanhas, e que descreve as formas bem definidas de cada um deles, sem reparar que 
todos constituem um todo, ligados que se acham em suas bases, como lembrou 
LANESSAN (1914).
De um casal de cães, só nascem cães; de um casal de pombos, só nascem 
pombos, e assim por diante. Logo, o que há são espécies. O grupo fundamental deve ser 
a espécie. O que surgiu primeiro foi a espécie. A espécie, pois, é que importa. Deve-se 
procurar distingui-las, cataloga-las, e ainda buscar suas origens.
DARWIN, se houvesse se antecipado a LINEU, talvez não tivesse tido tanta 
dificuldade em demonstrar que a “variação” é a suprema expressão dos seres vivos, e 
que a natureza viva é constituída de formas diferentes, que se sucedem variando num 
sentido ou noutro, ora mais, ora menos. A concepção de espécie, que devemos a 
LINEU, se serviu ao progresso da sistemática, ao progresso do estudo dos seres vivos, 
pondo ordem onde esta faltava, foi de certo modo um embaraço à compreensão da vida 
e dos seres vivos, em sua natureza íntima. Foi um embaraço à biologia, propriamente.
Quando o naturalista ganhou certo conhecimento suficiente para afirmar: “a 
natureza estabelece traços de união por toda a parte onde desejaríamos encontrar 
intervalos, e fazer separações” (BUFFON), com a idéia preconcebida da existência real 
de espécies, a concepção evolucionista surgiu. Foi o que se deu com BUFFON2, após a 
convicção de que “na natureza não há nem classes, nem gêneros, nela o que há são 
indivíduos somente; esses gêneros e essas classes são produtos do espírito humano, são 
princípios convencionais”,e com LAMARCK, quando afirmou ousadamente: “Por 
muito tempo pensei que havia espécies constantes na natureza, e que elas eram 
constituídas pelos indivíduos pertencentes a cada uma delas. Agora estou convencido 
que estava em erro sobre isto, e que não há, na natureza, senão indivíduos”, ou quando 
escreveu: “Pode assegurar-se que entre suas produções, a natureza realmente não 
formou nem classes, nem espécies constantes, mas somente indivíduos, que se sucedem 
uns aos outros, e que se assemelham aos que os produziram” (1809).
A noção de espécie tanto é, de certo modo, artificial, que até aqui não se logrou 
defini-la com propriedade. E por isso é móvel e nada positiva, donde as inúmeras 
reformas, na sistemática. Tanto é arbitrária, e não natural que são comuns os casos de 
grupos animais e vegetais, que não podem ser distinguidos em espécies, a não ser 
mediante convenção. É que ela nasceu de uma necessidade prática, como lembra 
CUÉNOT, e não de uma evidência biológica. Ou como disse LOUIS ROULE: “Temos, 
neste caso, que obedecer à razão prática”. Tal é a conclusão a que se chega, numa 
revisão imparcial da questão: dar a espécie, de LINEU, como queriam CUÉNOT e 
GUÉYNOT, valor prático indiscutível, na classificação dos seres vivos. CUÉNOT 
2 Histoire naturelle, générale et particulière, publicada em Paris, de 1749 a 1804; omocoaç,emte e, 15 
volumes, com a colaboração de Daubenton, depois de Montbéilliard e outros.
19
chega a ser muito franco até: “Não sei se, com todo o rigor, a espécie é uma realidade 
completa, mas estou bem certo de que é uma necessidade prática” (1936).
É que têm sido impotentes todas as tentativas de definição dela. “Sua definição 
biológica não foi dada ainda”, assevera GUYÉNOT. E talvez não haja um conceito mais 
repetidamente definido, pelos autores, do que tem sido a espécie. BARON conseguiu 
reunir cerca de cinqüenta definições de “espécie” (isto até 1888, data de seu trabalho), e, 
percorrendo-as, verifica-se que a noção fundamental prevalecedora é a que “a mesma 
espécie pertencem os indivíduos mais ou menos semelhantes entre si, e ligados pela 
interfecundidade no espaço e no tempo”. A isto é o que CUÉNOT (1936) chama uma 
definição clássica, na qual ressaltam duas coisas: semelhança de formas e fecundidade 
indefinida.
Ora, há grupos específicos que fogem ora a um, ora a outro desses dois 
fundamentos da espécie. O Jaguar (Panthera onça), e a Pantera ou Leopardo (Panthera 
pardus), duas espécies morfologicamente diferentes, vivendo uma, na América do Sul, e 
a outra, na África e Ásia, são, entretanto interfecundas, e seus híbridos também o são. 
Falta-lhes, pois uma característica fundamental para dividi-las em duas espécies 
diversas – a infecundidade. Os Faisões (Chrysolophus pictus – Faisão dourado e 
Chrysolophus amherstiae – Faisão de lady Amherst) bem distintos morfologicamente, 
dão, contudo, híbridos férteis indefinidamente. Aliás, as espécies de Faisões são 
fecundas entre si, todas elas, embora sejam diferentes suas origens geográficas. E como 
este, outros exemplos podem ser citados: o dos Ratos, do gênero Mus – Mus musculus, 
Mus spicilegus e Mus bactrianus; o caso do Lobo, do Chacal e do Canis familiaris; o do 
gênero Bos, cujas espécies domésticas e semidomésticas ou quase são interfecundas: 
Bos taurus taurus, Bos taurus indicus, Bos grunniens, Bos gaurus, Bos frontalis; o da 
Cavia aperea (selvagem) e Cavia cobaya (doméstica).
Há ainda o oposto disso: a Notonecta glauca e Notonecta furcata, dois 
Hemípteros europeus, que são infecundos entre si no Norte da Europa, onde não há 
intermediários entre eles; mas que no Sul o são, segundo as observações de 
DELCOURT. Baseando-se no critério de espécie, explica CUÉNOT, glauca e furcata 
formariam uma espécie única, no Sul; e duas espécies legítimas, no Norte da Europa.
Como fazer então? Abolir o critério de espécie? Só mantê-los nos casos 
rigorosamente legítimos, e proceder-se, então, a destruição de milhares de grupos 
específicos?
CUÉNOT opina pela manutenção do statuo quo, o que aliás já ficou dito 
anteriormente. Para o eminente biólogo francês “seria incômodo reunir, numa imensa 
espécie coletiva, todos os Canis do globo, ou os dois Chrysolophus (e mais outros 
faisões interfecundos), pois é necessário, sob o ponto de vista prático, distinguir 
especificamente, um Lobo, um Coiote, um Chacal, um Cão, e por outro lado, um Faisão 
dourado de um faisão de Lady Amherst”.
Daí procurou ele estabelecer o critério de espécie (embora artificial) em três 
bases:
1 Critério da morfologia e da fisiologia, que pode ser simbolizado por M.
2 Critério da ecologia e da distribuição geográfica, símbolo E.
3 Critério da fecundidade interior e da infertilidade exterior, símbolo I.
Uma espécie legítima corresponderia à fórmula M E I (em francês MÊS – s, de 
stérilité). Seria o caso da maioria. Nos casos litigiosos, CUÉNOT recomenda tomar os 
três elementos, dois a dois, mantendo-se as espécies separadamente, assim: quando duas 
formas animais, bem separadas pela sua morfologia e fisiologia, e pela sua ecologia, são 
interfrecundas (falhando o critério I), a fórmula definidoras será M E; agora, se tiverem 
uma morfologia semelhante, mas são estéreis, embora tenham a mesma ecologia, sua 
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fórmula passará a ser E I (falhou o critério M).
Em autor mais recente, ERNST MAYR (1944), encontra-se idéia semelhante. 
Para MAYR as espécies bem definidas se caracterizam por:
1 diferenças morfológicas e fisiológicas
2 isolamento reprodutivo
3 diferenças ecológicas
No esquema de CUÉNOT, todavia, há uma ligeira diferença, que consiste, como 
se viu, no critério de admitir espécies distintas, nos casos litigiosos, com o auxílio 
apenas de dois elementos: M E ou E I.
O caso litigioso do Boi europeu e do Zebu, Boi indiano, que uns consideram 
duas espécies diferentes, e outros pretendem reunir numa mesma espécie, pode bem ser 
esclarecido pelo esquema de CUÉNOT. Trata-se de duas espécies interfecundas, de 
modo completo, logo o critério I falhou entre Bos taurus taurus e Bos taurus indicus. 
Mas sua morfologia é bem distinta uma da outra, e por isso qualquer raça de Boi 
europeu se aproxima mais do Bos taurus taurus do que qualquer outra raça zebuína, e 
vice-versa. A essa distinção morfológica, temos que unir certos caracteres fisiológicos 
marcantes: a voz, o temperamento, a rusticidade ou resistência orgânica, donde a 
imunidade comprovada a certas moléstias (peste bovina, tristeza), a adaptação 
hereditária ao clima tropical e mais outros que serão adiante estudados. Temos, 
finalmente, a ecologia: Bos taurus taurus é europeu, e Bos taurus indicus é asiático e 
africano. Ou melhor, um é de região temperada; o outro, de regiões tropicais.
Por estas razões, isto é, pelo critério M E, essas duas espécies deveriam 
continuar a ser consideradas diferentes e distintas, tais como as distinguiu a Sistemática 
zoológica. Entretanto, prevaleceu a distinção de subespécies e não espécies.
Quanto possa haver confusão, entre formas que se aproximam 
morfologicamente: certas raças de Carneiro e Cabra verificam-se que o critério I se 
mantém, - esses animais são infecundos, logo se trata de duas espécies a manter 
distintas.
Para DOBZHANSKY o que é preciso considerar é se as espécies trocam ou não 
genes, entre si. Se não trocam, há necessidade de se verificar se isto decorre de causas 
fisiológicas (infecundidade) ou de isolamento (ecologia). Como se vê, cai-se no 
esquema de CUÉNOT M E I, embora indiretamente.
DOBZHANSKY (1943), então, dividiu as espécies em simpátridas e 
alopádridas.As primeiras seriam espécies convivendo no mesmo território. Se 
infecundas entre si, constituem boas espécies. Entre os Bovinos temos o Búfalo 
(Bubalus bubalis) e o Boi (Bos taurus taurus) ou o Zebu (Bos taurus indicus). Estes 
dois últimos são infecundos com o primeiro, o Búfalo.
As alopátridas seriam espécies separadas geograficamente. Então o isolamento 
ecológico permite considerá-las ainda espécies diferentes. Seria o caso de Bos taurus e 
Bos indicus.
Assim o insulamento entre espécies pode ser considerado, segundo 
DOBZHANSKY, sob dois aspectos: 1 o que se verifica através do afastamento 
geográfico; e 2 o que decorre do mecanismo reprodutivo. Ao primeiro chamou ele 
insulamento extrínseco, e ao segundo intrínseco.
Tal noção de espécie em Zootecnia que, aliás, não trabalha bem com espécies, 
mas sim com raças, e especialmente com variedades, famílias, linhagens, genótipos e 
fenótipos.
Pode-se então formular uma definição de espécie: é o conjunto de indivíduos, do 
mesmo gênero, descendentes uns dos outros, com caracteres semelhantes, 
hereditariamente transmissíveis, e separados de outros grupos específicos, por 
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infecundidade ou por separação geográfica.
Questionário N° 2
1- Quais os fatores prováveis de evolução das espécies? 2- Que vem a ser seleção 
natural, e qual sua influência na evolução? 3- Que é mutação, e como intervém no 
processo evolutivo? 4- Que esperar da hibridação, na variabilidade das formas vivas? 5- 
Que se entende por preadaptação? 6- Há ou não espécies naturais? 7- Cite os elementos 
para o estabelecimento da espécie, em Zootecnia. 8- Por que se pode considerar Bos 
taurus taurus e Bos taurus indicus como subespécies distintas? 9- Cite três exemplos de 
espécies diferentes fecundas. 10- O que justifica a fecundidade entre espécies distintas? 
11- Que são espécies simpátridas e espécies alopátridas? 12- Com que a Zootecnia mais 
trabalha? Por que? 13- Como pode ser o insulamento entre espécies, segundo 
DOBZHANSKY? 14- Qual foi a discordância de STEPHEN JAY GOULD com 
DARWIN em relação à evolução? 15- Qual a discordância de ERIC LERNER com 
GOULD sobre a evolução das espécies?
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