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IX OS SEXOS E A NEUTRALIÇÃO SEXUAL Dans la plupart des espéces domestiques, le zootechnicien doit s'occuper d'un troisiéme groupe d'individus, les “neutres”, dont l'importance numérique dèpasse souvent celle des individus sexues et dont le rôle éconpmique est des plus étendus. - P. DECHAMBRE 1 Dimorfismo sexual Há certos caracteres individuais, que aparecem sempre normalmente, nos animais do mesmo sexo, somente. Quer dizer que os animais, a maioria dos animais domésticos, por exemplo, apresentam uma caracterização de acordo com seu sexo. Isto é o que se denomina dimorfismo sexual: cada sexo tem caracteres próprios, que o distinguem do outro sexo. Tais caracteres, chamados sexuais, se dividem em dois grupos (para alguns, em três): 1 Caracteres sexuais primários, que são os órgãos genitais, correspondentes a cada sexo ou caracteres genitais. (MARAÑON, 1930); 2 caracteres sexuais secundários, que são aqueles que, sem propriamente determinarem o sexo, têm uma relação fisiológica com os primeiros, e aos quais MARAÑON denominou simplesmente caracteres sexuais. Disse que, para alguns autores, três seriam os grupos de caracteres referentes ao sexo: primários, secundários e terciários. Aos primeiros correspondem as glândulas genitais exclusivamente; aos segundos, os órgãos acessórios dessas glândulas destinadas ao êxito da reprodução; e os terciários seriam os caracteres sexuais externos, morfológicas e fisiológicas. A terminologia de MARAÑON (1930) é mais simples, concisa e natural, e então será preferível falar em caracteres genitais e caracteres sexuais. Os genitais são constituídos pelos próprios órgãos de geração: glândulas germinais ou gônadas e órgãos anexos. Os caracteres sexuais (ou c. s. secundários) são de certo modo uma conseqüência da atividade dos caracteres genitais e, por isso, sua plenitude se dá quando o animal chega a idade adulta. São de natureza morfológica, e se desenvolvem em correspondência com as glândulas germinais. Sem estas (castração), eles não se põem em evidência ou regridem, como se estudará adiante. Essa diversificação dos indivíduos consoante os sexos, ou dimorfismo sexual, varia muito com as espécies consideradas, sendo mais acentuada em umas do que em outras. As espécies domésticas, mais importantes, podem ser seriadas, quanto ao seu dimorfismo sexual, desde aquelas nas quais a diferenciação entre machos e fêmeas é maior, até as de menor diferenciação, assim: Galinha, Carneiro e Boi, Cabra, Porco, Peru, Cão, Cavalo, Jumento, Gato, Pato e Marreco, Coelho e cobaia. Nas aves, certas raças apresentam maior dimorfismo sexual do que outras, dentro da mesma espécie, pela forma da plumagem e em certos casos pela coloração. 2 Os Caracteres sexuais Os caracteres sexuais secundários são de natureza morfológica ou fisiológica, como já ficou dito. Ou por outras palavras, o dimorfismo sexual pode manifestar-se na morfologia e na fisiologia do animal. 131 Sem entrar na apreciação pormenorizada de cada espécie em particular, as modificações verificadas nos animais domésticos, e reguladas pelo sexo, são as seguintes: 1 Na morfologia: No que diz respeito ao “formato” e “peso”, a regra é ser o macho maior e mais pesado, em geral, do que a fêmea. Esta diferença é, porém, tanto menos pronunciada quanto mais aperfeiçoada a raça. Uma seleção natural se exerce, nos rebanhos criados extensivamente, de tal maneira a persistirem de preferência aqueles machos mais fortes, mais valentes, o que quer dizer maiores e mais pesados. Já na criação melhorada, a seleção que age é a artificial, promovendo a uniformização dos sexos, trazendo a diminuição dessa diferença no porte e formato entre machos e fêmeas. Em algarismos diz-se que nas Galinhas a desigualdade em peso, a favor do macho, é de 25 a 40%. No Boi, essa diferença é bem mais sensível algumas vezes, podendo ir de 70 a 600 kg. Nos eqüinos, já se mostra mínima, assim como nos porcos, ovinos e caprina. Mas nessas duas espécies há uma agravação com a idade. Quanto à “ossatura”, o esqueleto do macho se mostra mais forte, os ossos maiores e mais grossos, ao contrário da fêmea, cuja armação óssea é mais delicada, o que lhe dá feição esbelta. As fêmeas, embora não se mostrem com a bacia mais larga, em absoluto, interiormente, têm-na mais ampla, de maior capacidade. Com a idade estabelece-se desequilíbrio entre quartos anteriores e posteriores: nos machos, os anteriores se mostram com aparência mais desenvolvida do que as posteriores; nas fêmeas, é o inverso que se verifica. O crânio do macho é mais reduzido relativamente, em comprimento, contudo se apresenta largo. Na fêmea, mostra-se mais estreito e alongado. Os chifres são mais fortes e mais grossos nos machos; e, em certas espécies, é o apanágio deste sexo: Carneiros e Cabras, com exceção de algumas raças de ovinos, mochas totalmente. As defesas, em geral, são mais desenvolvidas nos machos, ou faltam nas fêmeas: esporão, caninos etc., inclusive os chifres já referidos. Pelo que anteriormente dissemos o macho, sendo mais forte, segue-se possuir “musculatura” mais desenvolvida, principalmente nos quartos anteriores, no pescoço e no peito. De inúmeras observações que fez, NATHUSIUS concluiu que nos eqüinos o peito é mais largo no cavalo, e mais profundo na égua, e a canela (perímetro) é nesta mais fina do que naquele. Formato, esqueleto e músculos dão ao macho feição de masculinidade, como se diz. Enquanto que a fêmea, pelo seu pequeno formato, pela sua conformação às vezes angulosa, e pelo esqueleto mais fino e reduzido, pelo menor desenvolvimento de seus músculos, mostra-se de feição feminil. O macho tem a parte anterior do corpo mais desenvolvida, enquanto que a fêmea já possui mais desenvolvidos os quartos traseiros. O órgão da lactação, se bem que não seja privativo das fêmeas, existe também nos machos, em estado rudimentar. A coloração do macho, comparativamente com a das fêmeas, é mais escura, mais carregada, e a pele, por sua vez, se apresenta nele mais grossa, mais dura, mas pilosa, mais rica em excreções das glândulas sudoríparas, mais untuosas, portanto: os machos têm cheiro ativo, característico: o odor hircino do bode é típico. A barbela se mostra mais desenvolvida no touro do que na vaca, faltando nesta, algumas vezes. No caso dos zebuínos, além da barbela bem maior há que considerar ainda o umbigo e principalmente a giba, do mesmo modo mais desenvolvidos nos machos. 132 2 Fisiologia Com respeito a fisiologia da pele, quase não será preciso repetir o que atrás já ficou explicado. O macho tem as secreções mais abundantes (com exceção da secreção láctea), donde o seu cheiro particular, ativo. No macho, há maior consumo de alimentos: ele queima, durante o mesmo espaço de tempo, muito mais combustível-alimento do que a fêmea, donde eliminar mais resíduos também. A circulação do sangue é mais ativa no macho, e seu sangue é mais rico de hemoglobina, o que concorda com um consumo maior de alimentos. Por isso tudo, a fêmea é um organismo mais resistente a fome, a deficiência ou irregularidade de alimentação, mostrando-se quase sempre mais manteúda, salvo quando em aleitamento. A voz, que varia conforme a espécie, também se diferencia com o sexo do individuo. No Gallus gallus, o galo canta e a galinha cacareja; o Pato grasna, distinguindo-se de sua fêmea; no Equus caballus a voz do macho é bem diferente da égua, que não relincha como o garanhão; no Bos taurus o touro tem um gaiteado, algo diferente do mugido da vaca; no Bos indicus só o macho é que emite um som característico,e raramente; o bode emite sons que não se confundem com os da cabra: finalmente no Carneiro essa distinção é nula, o mesmo acontecendo nos suínos e no Cão. O “temperamento”, no macho, é mais vivo e excitável. A fêmea é mais dócil, mais mansa, mais sociável. Pelo seu temperamento os reprodutores tornam-se facilmente perigosos, agressivos e bravios. Quanto ao "rendimento zootécnico", o macho, por ser talvez mais rústico, e menos produtivo comparado com a fêmea, salvo quanto à produção de carne, de lã e força dinâmica em geral. A fêmea é mais precoce, engorda mais facilmente, e mais cedo fornece renda ao criador. Até na função dinâmica da velocidade que, a primeira vista pareceria poder constituir apanágio do macho, a fêmea lhe é comparável por vezes mesmo sobrepujando-o. 3 Origem dos caracteres sexuais A maioria dos caracteres sexuais, aqueles mais evidentes tem sua origem numa correlação fisiológica entre eles e os órgãos genitais, ou melhor, entre eles e certas secreções de tais órgãos. Começam a se manifestar já nos animais novos, porém de modo mais ou menos discreto ou velado, de tal maneira que dificulta, senão impede (em algumas espécies) a separação sexual dos indivíduos, de tenra idade, baseada neles. Na puberdade pronunciam-se, e somente em plena maturidade, quando o indivíduo completou seu desenvolvimento, é que tem concluída sua manifestação, com o funcionamento ativo das glândulas sexuais. Sua manifestação pode tornar-se imperfeita se o macho ou a fêmea forem retardados em sua reprodução, porquanto é com funções genésicas as normaliza-se que se processa o pleno desenvolvimento do corpo do animal e, portanto, nessa ocasião é que fêmea e macho adquirem todos seus atributos sexuais. Impedir a manifestação das funções genésicas pode acarretar embaraço na plena formação de tais caracteres. Uma fêmea, que nunca procriou, conserva de algum modo, certos caracteres neutros da puberdade. O macho, em grau mais atenuado, pode não apresentar uma manifestação completa dos atributos de seu sexo, se nunca fecundou, se seu aparelho genital não entrou em regular e normal funcionamento. Fecundar e ser fecundado, isto é, fazer funcionar seus órgãos genitais, eis a garantia mais completa para o aparecimento dos caracteres secundários do sexo, pelos 133 quais a diferenciação entre machos e fêmeas se torna facílima mesmo naquelas espécies de mais difícil distinção. Do funcionamento, pois, das glândulas sexuais - testículo no macho, e ovário, na fêmea é que depende a aparecimento daqueles caracteres secundários de sexualidade. Há, portanto uma relação fisiológica entre ambos, como ficou dito. E fisiologicamente se explica o fenômeno dizendo que testículo e o ovário, funcionando, produzem secreções que provocam esse dimorfismo sexual. São os hormônios, que têm uma ação importante sobre a conformação do animal, dai expressão de GLEY: "São substâncias morfogenéticas, de ação morfogênica". Do exposto ressalta-se que as influências hormônicas podem, variar de intensidade, e de algum modo em qualidade, no processo de caracterização ao do indivíduo. Por isso, os sexos embora opostos podem apresentar-se ora mais afastados, ora mais aproximados em sua morfologia e fisiologia. Isto é, há na realidade transições entre macho e fêmea, podendo acontecer mesmo que os órgãos do macho e da fêmea não se achem mutuamente excluídos no mesmo indivíduo (LIPSCHÜTZ, 1928). Ou, em outras palavras, da atividade hormônica pode depender maior ou menor aproximação do indivíduo a este ou aquele sexo. Podendo mesmo coexistirem, no mesmo indivíduo, os órgãos do macho e da fêmea, como é o caso da galinha, embora esta possua um testículo rudimentar a direita. Estudando os efeitos, da castração, chegou-se ao que sabemos: os hormônios determinantes dos caracteres sexuais secundários se originam no testículo ou no ovário, descobrindo-se a estreita relação entre glândulas do sexo e caracteres sexuais. A supressão do testículo, por exemplo, acarreta a regressão de certos caracteres dessa natureza ou uma paralisação no seu desenvolvimento, tudo dependendo da época e do modo de operar essa supressão. Como veremos adiante, ao estudarmos os efeitos da castração, os caracteres próprios do macho - que lhe dão feição masculina, e os da fêmea, que lhe conferem a feminilidade estão dependendo ou da presença de tais glândulas ou da sua integridade. Por outro lado, a injeção de extratos dessas glândulas, em castrados, demonstra a influência de tais substâncias na formação de certos caracteres próprios do sexo. A partir de certo peso da glândula, o aparecimento e desenvolvimento desses caracteres são completos, mas abaixo de certo mínimo não há nenhuma manifestação. Por exemplo, num galo, 04 decigramas de testículo são suficientes para que se formem todos os seus atributos de macho. Este é o limiar hormônico (em tal caso) abaixo do qual continuarão ausentes aqueles caracteres de galo. Mas se for ultrapassada a massa limite de hormônios, nem por isso haverá exageração da masculinidade. É a lei muito falada do "tudo ou nada". Mas nem todos os caracteres precisam da mesma quantidade de hormônio, para sua expressão: uns mais e outras menos. Todavia essas diferenças são mínimas, ficando entre limites próximos, dentro do limiar hormônico, correspondente aquele mínimo. Por isso, uma vez atingido o mínimo suficiente, são despertados todos os caracteres sexuais, donde sua completa expressão. Deve ainda ser lembrado que o desenvolvimento e a função das glândulas sexuais são dirigidos pelos hormônios gonadotrópicos da hipófise anterior. Fala-se numa predominância do hormônio testicular sobre o do ovário. No caso dos gêmeos bissexuados, da vaca, sabe-se que a fêmea (o chamado freemartin) é estéril, e apresenta uma conformação mais ou menos neutra. Isso resulta da mistura do sangue, que circula em ambos os fetos, devido à anastomose dos vasos sangüíneos; dai uma influência do hormônio masculino (produzido pelo feto masculino) sobre o feto feminino. Tal influência não decorre do predomínio, propriamente, desse hormônio 134 sobre o outro, mas devido a sua formação antecipada. Formando-se primeiramente o hormônio masculino, este fica com a vantagem de agir mais cedo sobre ambos os fetos, dai determinar no feto masculino sua caracterização de macho, e no feminino uma aproximação ao sexo oposto, indo até a uma inibição do normal desenvolvimento da glândula correspondente, que se achava ainda em fase atrasada de crescimento. Como se vê, trata-se de uma ação antecipada de hormônio, em relação á do outro. A intersexualidade pode ser interpretada também como a falta de predominância absoluta de um hormônio sexual sobre o outro. E que ela é causada, não pela presença simultânea de células germinais masculinas e femininas, mas sim pela presença de células de atividade hormônicas, de ambos os sexos. Quando não seja de natureza genética, segundo a hipótese de R. GOLDSCHMIDT, tão bem demonstrada com a Lymantria dispar. A origem dos hormônios sexuais está esclarecida, e sabemos que, nos machos, o tecido intersticial do testículo (células de Leydig) é o responsável pela formação do hormônio masculino (testosterona). Estas células de Leydig, por isso, são alcunhadas de “glândula da puberdade” Assim, no testículo, está bem distinta a atividade dos tecidos que o constituem: a função seminal ou externa é exercida pelos canais seminíferos; a função endócrina, pelo tecido intersticial. Quanto aos hormônios femininos, os estrógenos, são produtos do folículo de Graaf. Como se sabe, no ovário háo tecido folicular e o intersticial. O primeiro, de natureza epitelial, é formado pelos folículos de Graaf, portadores de urna célula caracteristicamente diferenciada: o óvulo ou gameta feminino. O tecido intersticial é constituído de células epitelióides, em grupos esparsos entre as vesículas de Graaf. Quando o folículo termina seu desenvolvimento ou amadurece, rompe-se libertando o óvulo, e no lugar da ruptura forma-se uma cicatrícula, de células especiais, que recebeu o nome de corno amarelo. Os hormônios originam-se do próprio folículo. Em resumo, formam-se no testículo e no ovário os hormônios, com marcada influência sobre a caracterização dos indivíduos, de acordo com seu sexo. Tanto é assim que se pede feminizar um macho castrado, com a implantação de um ovário nele (ou injeções de hormônios femininos); assim como masculinizar uma fêmea castrada, enxertando nela um testículo, ou injetando-lhe hormônio masculino. Isto tem sido comprovado desde STEINACH (1920) e VERA DANTCHAKOFF (1938), esta com sua famosa “Hitstoire d’un Coq” (Paris, 1936). A síntese de substâncias com propriedades dos estrógenos já foi conseguida, e muitos desses produtos já focam preparados, em geral sob fórmulas simples. Mas nenhum deles foi encontrado ira natura (S. A. ASDELL, 1955). Diferem dos estrógenos naturais pelo fato de não serem destruídos quando ingeridos por via bucal, o que veio permitir serem administrados com a ração. O mais conhecido é o dietilatilbestrol ou estilbestrol, que tem sido experimentado na engorda de frangos (ANDREWS & BOHREN 1947, e outros) e para acelerar o crescimento de bovinos, e carneiros (DINNUSSON ET AL 1949, e ANDREWS et al 1919). 4 As modificações provocadas pela castração No sexo masculino, as modificações, que a emasculação provoca, são as seguintes: Morfologicamente, o macho castrado apresenta-se com os órgãos da geração, tais como o pênis, a próstata, glândula de Cowper etc. menos desenvolvidos; as tetas se mostram, todavia, maiores e engrossadas. 135 O crescimento corporal prolonga-se até os 5 a 6 anos, quando sabemos que o animal não emasculado (bovinos) cresce ate os quatro anos e meio, nos tardios. A altura é maior, os quartos traseiros são mais desenvolvidos, havendo um quase equilíbrio entre éster e os anteriores. A bacia fica mais ampla, quase tanto quanto a da fêmea. De modo geral, o corpo se apresenta mais curto e engrossado. O crânio torna-se alongado e fino, os chifres maiores, razão porque não é possível estudar a craniologia dos neutros. O efeito mais comum da castração é uma tendência ao alongamento da cabeça, sobretudo ao nível da face. Os chifres dos bois se alongam, mas não engrossam. A marrafa do boi é menos alta do que a do touro. Entre os ovinos, quando os chifres são atributos do macho apenas a castração impede seu aparecimento ou faz paralisar seu desenvolvimento; mas se são comuns aos dois sexos, então os chifres, nos castrados, tomam a conformação dos da fêmea. Embora mais desenvolvidos, o esqueleto do emasculado pesa menos e os ossos são mais densos. As formações epidérmicas (inclusive as crinas) tornam-se mais finas, mais abundantes e algo mais brilhantes. A lã do Carneiro castrado cedo é de peso intermédio entre a do macho (tosão mais pesada) e a da fêmea (tosão menos pesada). Qualitativamente ela se aproxima da lã da ovelha. A pele afina-se, o couro conseqüentemente pesará menos. Nas Aves, as modificações morfológicas refletem-se do seguinte modo. No galo, verifica-se, com a castração, um decréscimo da crista e da barbeia, que se mostram também mais anêmicas e delgadas. Esses dois apêndices da cabeça não alcançam nem o desenvolvimento do galo, nem o da galinha, parando na forma infantil. A plumagem do capão não se altera, propriamente. Há apenas intensificação de seu desenvolvimento, dentro das linhas masculinas; por exemplo, as penas caudais são mais longas e de coloração mais viva, o que em geral se dá com as demais penas. Os esporões não são influenciados; se eles mal se formam é que se trata de raça de esporão reduzido. Quanto ao formato, o capão é maior, com maior largura corporal, talvez uns 25%, de peso a mais, o que é resultado de um acúmulo de gordura. O Marreco castrado conserva sua plumagem de macho, mas quando ocorre a muda não vem à plumagem de verão (normalmente desaparece com a muda seguinte, do outono). É que a muda se desregulariza com a castração. Fisiologicamente, as transformações do macho castrado são apreciáveis, a começar pela nutrição geral; quase toda a fisiologia animal é influenciada, máxime se for completa a emasculação. Sabemos que o ovário e o testículo são órgãos reguladores do consumo de gordura, e sem eles essa gordura tende a se acumular. Favorece ainda a formação de depósitos de gordura duas outras modificações acarretadas pela castração, e que são o temperamento calmo, linfático, do castrado e uma notação não perturbada pelas funções genésicas. O temperamento calmo é uma fiança para a economia de energia corporal, e energia economizada e gordura que se acumulará. Daí uma carne de melhor qualidade. A voz sofre também modificações, porquanto no boi o mugido nada lembra o gaitear do touro, vibrante e enérgico, e no cavalo castrado quase desaparece o relincho, tão próprio e denunciador do vigor genésico do garanhão. O capão perde também o canto do galo, e as demais atitudes psicosexuais deste para com as galinhas, Nas outras espécies, inclusive no Marreco, não se dá nenhuma modificação quanto à voz, apenas quanto ao comportamento psicosexual, pois desaparece a corte à fêmea. 136 Figura 32 - Crista de Legorne normal e castrado: a - galo adulto; b e c – galinha adulta; d – capão adulto (de Godale). Figura 33- Galinha Legorne transformada em galo devido à ablação do ovário esquerdo, e evolução da gônoda direita em testículo (J. Benoit, do livro Vie et Reproduction, de M. Aron, 1929). No sexo feminino, em geral as modificações morfológicas são atenuadas em relação com aquelas verificadas nos machos, mormente se a castração for praticada já na idade adulta. Quando nova ainda, seus órgãos genitais e anexos pouco se desenvolvem, e neste caso até as próprias glândulas mamárias. Nos bovinos, a conformação da fêmea, precocemente ovariotomizada, assemelha-se a de um macho castrado, isto é, a de um boi, embora não atinja as dimensões deste, ficando, todavia maior do que uma novilha de idade igual. As novilhas estéreis, chamadas “maninhas”, apresentam-se com a forma de boi pequeno, todavia mais cheias de carne, mais gordos e pesadas do que as novilhas normais da mesma idade. A cabeça da fêmea castrada alonga-se e afina-se semelhantemente ao que seda com o macho emasculado. Os chifres tornam-se mais grossos e maiores. 137 Figura 34 – Perfil de uma vaca normal (maior) e de uma vaca castrada (menor) – Média de cem animais normais e de onze castrados (de Tandler e Keller) Nas Aves, as modificações verificadas, no caso da fêmea, são muito maiores do que nas outras espécies. Há uma influência especial sobre a plumagem que se torna mais brilhante, e, além disso, aparecem esporões rudimentares. O volume da galinha castrada aumenta, e esta sensivelmente se aproxima, em tudo, do macho neutralizado, chegando-se a estabelecer certa contusão entre ela e o capão. A marreca castrada, cedo, adquire a plumagem do macho, até as penas caudais eriçadas, características do sexo masculino. Quando adulta, a ave castrada não mostra nenhuma modificação em seu esqueleto, tal como se passa nos machos. A plumagem é alterada, assim como a musculatura, de modo geral, e ainda os acessórios genitais,mas em termos. Tudo menos pronunciadamente. As modificações fisiológicas são reduzidas aos impulsos sexuais e as suas conseqüências. O cio desaparece, o temperamento torna-se mais calmo, dando-se certo acúmulo de gordura, em vista da ausência do órgão regulador do consumo das matérias graxas orgânicas, e que são os órgãos genitais. A lactação, nos mamíferos domésticos, se prolonga com a ovariotomia. Mas quando esta é feita fora da época da produção, ou antes, da idade desta, acarreta a falência completa da aptidão e produtiva correspondente. Ainda mais, o leite da fêmea castrada é de composição mais uniforme, e quantitativamente não sofre também a influência modificadora do cio, que desapareceu. Em geral todos os efeitos da castração serão tanto maiores quanto mais novo for o animal; conseqüentemente, no adulto, muito menores hão de ser as modificações, muito menos sensíveis. A castração unilateral da fêmea, ou do macho, conduz ao desenvolvimento exagerado do órgão que se não eliminou, e o animal não perde nem a potência, nem a fecundidade de procriar. A galinha faz exceções, porquanto só tem um ovário normal, de lado esquerdo. Só muito raramente se há verificado a presença de dois ovários ativos. Se a operação produziu a eliminação do ovário normal, o ovário direito passa por um processo de crescimento, apresentando a aparência de testículo. Neste caso a galinha toma a plumagem de galo, formando-se até esporões. Quando se removem os dois ovários, só então se verifica o aspecto de capão. Tem sido registrado, entretanto o fato de galinhas que, espontaneamente, tomam as características de galo. MC CANE e WALTON (1930) referem que uma Ligth Sussex, 138 depois uma postura normal no seu primeiro ano de vida, passou por uma radical transformação, no segundo ano, apresentando plumagem e esporões de galo, chegando mesmo a festejar uma das outras galinhas, suas antigas companheiras. No terceiro ano, nova modificação – essa galinha com feição de galo – procura o ninho, chocando uma dúzia de ovos, de outra, postos ali, dos quais saíram onze pintinhos. No quarto ano recomeça a postura interrompida por dois anos, entra em muda adquirindo a plumagem de galinha, finalmente. 5 Quando é indicada a castração Como complemento, vamos apontar as eventualidades nas quais o criador deve ocorrer à neutralização sexual de seus animais, e elas não são poucas. 1 Para preparar animais de açougue, gordos, de carne mais saborosa (bois, chibarros, capados, capões) eliminando-se ainda o odor desagradável do macho fecundante (bode e varrasco). 2 Para obter fêmeas de açougue, eliminando-se o cio e conseqüentemente as perturbações que ele acarreta a fácil engorda das porcas. 3 Para afastar da reprodução certos indivíduos indesejáveis, numa seleção racial bem conduzida. 4 Para conseguir animais de trabalho, com temperamento calmo e dócil: boi de trabalho, cavalo e burro quartaus. 5 Para corrigir o mau temperamento de animais de sela ou de trabalho, tornando- os dóceis e fáceis de utilizar. 6 Para prolongar o período de lactação, de fêmeas que vão ser afastadas da reprodução. O desaparecimento do cio nas vacas castradas tem como conseqüência o prolongamento do período de lactação; prática, aliás, que não ocorre devido aos riscos da operação laboriosa, e por não compensar economicamente tais riscos e despesas. 7 Para obter produtos de melhor qualidade, no caso de certas espécies cuja função zootécnica principal, senão única, é a produção de peles, plumas etc.. Quais sejam o Coelho, a Avestruz etc. Aplicação esta ainda no campo experimental. 8 Enfim, para curar de satiríase ou de ninfomania, respectivamente, machos ou fêmeas com tais exaltações. 139 Questionário Nº 9 1 - Que é dimorfismo sexual? 2 - Há caracteres sexuais? Explique. 3 - Como podem ser os caracteres sexuais? 4 - Serie as espécies domésticas, tendo em vista a acentuação do dimorfismo sexual. 5 - Como variam os sexos morfologicamente e cite os caracteres sexuais morfológicos mais importantes. 6 - Fale sobre o que há a respeito do formato e do peso. 7 - Idem, da ossatura e do crânio, das defesas naturais e da musculatura. 8 - Idem, das mamas, da pelagem e da barbeia. 9 - Que há na fisiologia geral e no rendimento zootécnico, entre macho e fêmea? 10 - Idem, na voz e no temperamento. 11 - Como se manifesta a correlação fisiológica entre caracteres sexuais e sexo, cedo, tarde? 12 - Quando mais se acentua essa correlação? 13 - Quais as glândulas endócrinas que influem no estabelecimento do dimorfismo sexual e como se verifica essa in- fluência? 14 - Que relação há entre o caráter sexual e a quantidade de hormônio secretado, e que vem a ser limiar harmônico? 15 – Como agem os hormônios sexuais, qualitativa ou quantitativamente? 16 – Que é free-martim, como se forma e por que é estéril? 17 - Haverá predominância de um hormônio sexual sobre o outro? Explique. 18 - Como explicar a intersexualidade sob o conto de vista hormônico? 19 - Onde se origina o hormônio sexual no macho? 20 - Na fêmea? 21 - Modificações do macho castrado: nos órgãos acessórios da geração. 22 - Idem, no crescimento corporal e no esqueleto. 23 - idem, na pele, pelos, crinas, couro. 24 - Idem. nas aves. 25 - Modificações fisiológicas do macho castrado. 26 - Como são as modificações morfológicas na fêmea castrada? 27 - E as fisiológicas? 28 - Quando se mostram mais pronunciados os efeitos da Castração? 29 - Quando se indica a castração? 30 - Há hormônios sexuais sintéticos, quais suas características que permite seu emprego na criação para que possam ser usadas? 140
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