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VIII OS CARACTERES ECONÔMICOS L’appréciation d’un animal doit nécessairement porter sur deux ordres de caracteres, les uns se rapportant aux formes extérieurs, les autres au fonctionnement de l’organisme, car l’animal le plus heureusement conformé n’est pas forcément le meilleur. - MARCH e LAHAYE. Os caracteres econômicos, como vimos, são atributos fisiológicos dos quais o homem tira vários proveitos, dai sua grande importância, pelo que vão aqui discutidos em capitulo próprio. Constituem as funções produtivas ou zootécnicas arroladas no capitulo V, onde foi feita uma síntese da utilizaçao dos animais domésticos. Trata-se de atributos hereditários que caracterizam certas espécies, e dentro destas, certas raças. São caracteres hereditários, porém muito influenciados pelas condições ambientes: clima, alimentação, sistema de criação, condições higiênicas dos animais. Mostram-se muito variáveis, por isto, visto como resultam do balanço de influências entre herança e meio. 1 Prolificidade A prolificldadc vem a ser a faculdade de produzir numerosos filhos. Ou é a produção numerosa de filhos. Ela caracteriza certas espécies domésticas. A Coelha, a Cobaia, a Porca são animais prolíficos. Pelo exemplo verifica-se que o têrmo prolificidade aplica-se a fêmeas das espécies multíparas. Porém pode-se aplicá-lo a grupos como a espécie, a raça, a certas linhagens. A ligação da idéia, às fêmeas, parte do princípio de que o macho produz um número demasiadamente grande de espermatozóides, e desde que estes sejam normais, a prole maior ou menor depende diretamente do número de óvulos disponíveis a serem fecundados. O tamanho da leitegada1 está na dependência da porca, e assim é sobre está que se excerce a seleção afim de provodar aumento da prolificidade. No caso da ovelha ou da cobra, o parto duplo ou triplo depende, do mesmo modo, da fêmea. Porém o macho pode até influir, desde que seja de uma linhagem prolífica, e em tal caso só na geração seguinte (e não na imediata) é que se manifestará essa influência através do varrasco, ou do carneiro, ou do bode. Por essa razão os machos dessas espécies devem ser escolhidos nas proles mais numerosas de bácoros, borrégos ou cabritos. O aparecimento de gêmeos em Bovinos não é muito rara, havendo sido registrado tanto em Bos taurus como em B. indicos. Ela não vai além de 5%. E mostra-se maior (4,5%) nas raças de corte, e menor nas leiteiras (2%). Vários são os distúrbios causados pelos nascimentos múltiplos em Bovinos, de onde não se recomenda que sejam estimulados por meios artificiais, ou por seleção dos reprodutores. Deve-se, porém, estar ciente de que a influência da fêmea é imediata, pois se trata de caracter hereditário: e a do macho só se fará sentir na outra geração, caso 1 Expressão correta para substituir “ninhada”, que deve ser reservada à “ninhada” de galinha. 115 se exerça tal influência. A gestação de gêmeos é sempre mais dilatada do que a normal da espécie unípara (Bovinos), cerca de uns 17 dias. Nos partos duplos os indivíduos são do mesmo sexo em mais de 50% dos casos; e a proporção dos monozigóticos é cerca de 6%.Monozigóticos são aqueles gêmeos verdadeiros, provenientes de apenas um só óvulo fecundado, o qual dá origem a dois indivíduos do mesmo sexo e absolutamente semelhantes, visto terem a mesma carga genética. Os termos fertilidade, fecundidade e prolificidade são tecnicamente distintos, porém na prática podem se confundir. A idéia de fertilidade é a de formação de filhos vivos, de ovos de chocabilidade normal, no caso de aves. A fecundidade já diz respeito à capacidade potencial de gerar. Para distinguir fertilidade, de fecundidade, costuma-se tomar o caso das aves: se a Galinha põe muitos ovos diz-se que ela é fecunda, não importando se seus ovos são férteis ou não. Se forem férteis, ela tem, então, boa fertilidade, que é a faculdade do animal se reproduzir. E o oposto de esterilidade. Quanto a prolificidade, vimos, refere-se ao número maior ou menor de filhos, gerados em determinados acasalamentos; ou de certa fêmea. Em geral as fêmeas das raças melhoradas são mais prolíficas. Se se tratar de espécie unípara, dão cria todos os anos. Se pluriparas dão barrigadas mais numerosas. Tudo dependendo, sensivelmente, do manejo do gado a ser bem conduzido. No processo de dornesticação, uma das transformações mais importantes foi justamente a prolificidade, que culminou na Galinha, capaz de gerar duas e três centenas de ovos durante um ano, quando a espécie selvagem tinha limitada sua postura apenas a uma estação do ano, a primavera, e a alguns poucos ovos. A esterilidade pode ser de origem hereditária, porém há outras causas não genéticas, mais freqüentes, que levam a esterilidade ou pelo menos ao abaixamento da prolificidade tais como anomalias ou doenças do aparelho genital, distúrbios provocados pela alimentação defeituosa (deficiência de proteína ou de vitaminas, ou de certos minerais), e ainda por influência do clima: altas temperaturas ambientes. 2 Crescimento, precocidade, engorda O crescimento é uma manifestação da vida, que começa com a formação da célula-ovo e termina na idade adulta, Durante ele o animal aumenta de volume e peso, o que representa uma vantagem para o homem, seja na criação do animal para consumo, seja para tirar dele um serviço. A velocidade de crescimento pode ser maior ou menor, o que pode caracterizar as raças, e dentro destas, as famílias e linhagens. Trata-se, portanto de um caráter hereditário, de muita importância nas espécies e raças exploradas para carne, nas quais o ganho-de-peso é uma qualidade essencial. Quanto mais depressa o animal atingir determinado peso, mais cedo se dará seu aproveitamento para consumo. O rápido crescimento, tão desejado – pode ser ou não acompanhado de precocidade, que consiste no acabamento do esqueleto, prematuramente, pela soldadura das epífises com a diáfase dos ossos longos; justamente dos quais depende o crescimento. É a chegada prematura ao estado adulto, quando o animal para de crescer, mas não de ganhar peso. Os alemães dão-lhe o nome de frühreise, que se pode traduzir ao pé da letra por “maturidade precoce”, o que realmente é. A chegada ao estado adulto dá-se com a paralisação do crescimento. A 116 precocidade é, pois, um desenvolvimento rápido com a paralisação antecipada do crescimento (estado adulto). Os ossos longos têm suas extremidades (epífises) ligadas, uma a outra, pela diáfase, que é a parte mediana do osso. Entre a diáfise e as epífises há a zona de crescimento do osso, que para isto é cartilaginosa. Enquanto esta zona não se ossifica o osso cresce, e com isto também cresce o animal. E, uma vez ossificada a zona de crescimento, o osso para de crescer, e conseqüentemente o animal. Assim, o animal precoce tem, por isto, pouca altura, pois seus membros são menores. Se isto se dá antes do tempo normal da espécie, diz-se que o animal (ou sua raça) é precoce. Os ossos do animal precoce não sofrem nenhuma modificação histológica. Ficam, porém, mais densos, compactos, de textura cerrada. E o esqueleto se apresenta forte, embora reduzido em comprimento e grossura de suas partes, ou seja com ossos mais curtos e mais densos. Conseqüentemente o animal se mostrará com membros encurtados, mais sólidos, capazes de susterem uma carnadura abundante. A densidade do osso, do animal precoce, é assim maior que a do animal tardio. Sua composição mineral é maisrica. Apenas para fazer uma idéia dessa textura cerrada, do osso precoce, diremos que ele tem cerca de 68% de matéria mineral, enquanto que o osso do animal não precoce tem aproximadadamente pouco mais de 61%. Outra conseqüencia da precocidade, assim estabelecida, é a dentição completar- se mais cedo, e os chifres se reduzirem. O animal precoce faz a muda dentária mais cedo e, portanto, mais cedo têm nascidos e completos seus dentes permanentes. Considerando-se a dentição, como um indício de precocidade, poderemos dizer que o Boi é a espécie na qual está se manifestou em maior grau. O Boi comum tem suas mudas completadas aos 4½ ou 5 anos, enquanto que nas raças precoces, aos 2½ anos já se deu a muda de todos os dentes. Segue-se o Carneiro, cuja dentição comum se completa aos 3½ anos, e a dentição precoce aos 24-27 meses. O Porco, cuja muda dos dentes, nas raças comuns, só está terminada aos 22 meses, nas raças precoces ela termina nos 16 meses. Finalmente o Cavalo, não selecionado quanto a precocidade, tem pouca diferença entre as raças comuns (dentição aos 5 anos) e as raças precoces (4½ anos). Isto não quer dizer, porém, que precocidade e dentição sejam fenômenos estritamente correlatos. Uma prova disto é que a precocidade não se deixa influenciar tão prontamente pela alimentação, quanto à dentição. Todavia a precocidade é um atributo do gado de corte, que exige clima e alimentação adequados para sua manifestação: clima temperado, próprio das raças precoces; e quanto á alimentação, esta será equilibrada e intensiva; aleitamento copioso e desmama retardada, arraçoamento ininterrupto e balanceado, sem nenhum período de escassez. O que significa uma verdadeira ginástica funcional do aparelho digestivo, para perfeita realização da alta capacidade digestiva do animal, caráter de natureza hereditária. Temos, pois, que distinguir duas coisas aqui estudadas: a precocidade e a velocidade de crescimento ou ganho-de-peso. Elas não devem ser tomadas, como as vezes erroneamente se faz – como expressões sinônimas. Certamente que o animal precoce possui, fundamentalmente, grande velocidade de crescimento. Porém, o animal pode crescer rapidamente e não ser 117 precoce. O Zebu é uma espécie que apresenta em algumas raças (Indubrasil, Guzerá, Nelore) notável velocidade de crescimento ponderal. Tais raças, todavia, não são precoces. Por quê? Porque não apresentam um acabamento prematuro de seu esqueleto. Ou por outras palavras, seus ossos longos (através dos quais se dá o crescimento do animal), não se ossificam cedo, prematuramente. A soldadura entre as epífises e a diáfise respectiva, do osso, não se verifica tão cedo como nos animais precoces. Aliás, o mais importante, hoje, na exploração do gado de corte, na área tropical, é a velocidade de crescimento, de ganhar peso, que depende de sua capacidade de conversão dos alimentos. Dois atributos econômicos hereditários que valorizam um rebanho de corte. Finalmente, um último argumento: os autores americanos não se referem à precocidade do gado de corte. Isto porque o importante mesmo é ganhar peso o mais rápidamente possível. Convém não confundir a precocidade somática, que acabamos de explicar um tanto pormenorizadamente – com a precocidade sexual ou genésica, que tem outra origem, como seu próprio nome indica. A raça Jersey é um bom exemplo para se estabelecer tal distinção. Os indivíduos dessa raça mostram notável madureza sexual precoce, mas não apresenta nenhuma precocidade somática, nenhuma das características anteriormente descritas, e próprias das raças bovinas ditas precoces. De modo geral as raças bovinas melhoradas têm precocidade genésica. O mesmo já não se pode dizer das raças zebuínas. Para se verificar se o animal possui boa velocidade de crescimento deve-se submetê-lo a Prova de ganho-depeso (Feeding test) imaginado pelos americanos, e que desde 1951 vem sendo aplicada no Brasil (São Paulo) por iniciativa do Departamento da Produção Animal desse estado. Submetendo animais novos de boa origem, a tais provas, determinam-se aqueles com maior capacidade de ganho-de-peso, ou seja, maior velocidade de crescimento, de importancia fundamental na exploração do gado de corte. Se eles revelaram tal capacidade de natureza hereditária, é porque a receberam de seus progenitores, que se mostraram capazes de gerar melhores animais de corte. Em outras palavras, os reprodutores, cujos descendentes respondem ou reagem melhor à prova do ganho-de-peso é que devem ser conservados para multiplicação dos rebanhos para produção de carne. A isto se chama escolha de reprodutores pelo teste de progênie. Pelo exame do exterior dos animais não é possível descobrir aqueles com maior capacidade de crescimento rápido. Somente a Prova do ganho-de-peso é que nos permite isto. Assim além de determinar os melhores reprodutores de corte, por meio dessa prova, ela nos indicará, bem cedo, quais os animais ainda jovens a conservar, para futuros reprodutores. Em linhas gerais, a Prova de ganho-de-peso consiste em submeter animais novos (9-13 meses) a um regime intensivo de alimentação e manejo adequado, durante 168 dias, ou seja, 24 semanas. Eles são alimentados à vontade, com ração de concentrados. Para isto ficam em estabulação permanente (confinamento) não tendo acesso ao pasto. As quantidades consumidas são registradas para se verificar também a economia do ganho-de-peso. As duas primeiras semanas destinam-se a adaptação do animal ao regime de alimentação intensiva. 118 Cada animal é rigorosamente pesado ao entrar na prova, e a seguir, cada 28 dias. O peso da última pesagem, depois dos 168 dias de prova, dará o ganho total, depois de deduzido o peso inicial. O animal de corte, além de crescer rápidamente, deve engordar. Depois de desmamado o garrote entra na recria, e a seguir na engorda. Os animais precoces, como vimos, param de crescer, e passam a engordar, assim continuando a aumentar de peso. Por isto sua carne, seu tecido muscular é recoberto e invadido de gordura, bem como suas vísceras. Chama-se aptidão cevatriz a esse acúmulo de gordura corporal, ou obesidade, e que, como foi dito acima, acompanha a precocidade, até certo ponto, e ao temperamento linfático. Decorre de uma desenvolvida capacidade digestiva. Ela acompanha a precocidade, até certo ponto, porque ela se manifesta em animais que não são precoces. E então um atributo, que se depara também nas raças não melhoradas. Constituem um exemplo disto às raças de suínos Tatu, Carunchinho e outras, de Minas Gerais; e o porco Baé, do Norte. Há raças especializadas na produção de carne, outras, na de gordura, entre os Suinos. No primeiro caso, a gordura aparece mais moderadamente. No outro, o tecido conjuntivo frouxo se deixa invadir de gordura, que se deposita intramuscularmente, dando a carne uma coloração clara. Nos Bovinos, essa invasão intramuscular de gordura dá a carne o chamado aspecto jaspeado (marbling). Trata-se de atributos fundamentalmente hereditários, e acertados, portanto, é aquela afirmativa de BERILLON (1915): “A raça porcina Chinesa, que é obesa, serviu para a formação das raças mestiças igualmente obesas”. A degeneração gordurosa do fígado é um distintivo de certa raça de Ganso: o Ganso de Toulouse, criado especialmente para a produção de foie gras, e que resultou de seleção realizada no sul da França - foie gras, base do fabrico de paté. A formação de gordura, no boi de engorda, processa-se em certo ritmo, e o exame exterior doanimal gordo pode nos permitir a verificação de como se deu a deposição dessa gordura, em certas partes do animal. Esses depósitos de gordura são os chamados maneios, que assim não se desenvolvem ao mesmo tempo, embora a ordem de sua formação não seja tão rigorosa. Os primeiros, que aparecem, são orelha, peito, paleta, costelas, cimeiro ou bordos, e gordinho. Os últimos a aparecer são: escroto e entrenádegas ou cordão. A gordura sob a forma de sebo é indicada pelos seguintes maneios: baixolíngua, escroto, gordinho e anteleite. Outros maneios da formação irregular são: flanco, anca, lombeíro, coração e contra-coração, coleira. No caso das raças não precoces, raças zebuinas, por exemplo – a formação de gordura é retardada, e ela não atinge ao exagero das raças inglesas de corte. Isto constitui hoje uma vantagem, visto a tendência de se produzir carne magra, que decorre de certa exigência, agora, dos consumidores. Estes, como medida de higiene alimentar, estão procurando diminuir ou eliminar, de sua alimentação, as gorduras de origem animal, com o propósito de evitar um alto teor de colesterol no sangue, capaz, diz-se, de determinar ou agravar a arteriosclerose. A facilidade de engorda é um caráter hereditário, próprio de certas espécies e não de outras. Tal é o caso dos Suínos. Na verdade o Sus domesticus tem a mais elevada aptidão de engordar, que herdou do S. indicus que, como vimos, tem no S. vittatus a forma sobrevivente. As raças bovinas britânicas melhoradas para carne (Polled Angus, Shorthorn) 119 possuem carne muito mais rica de gordura do que a raça francesa Charolesa, razão por que esta está merecendo preferência nos cruzamentos para gado de corte na própria Inglaterra. O gado Canchim deve ser considerado, então, uma raça de Carne magra, por se ter originado de cruzamento do Charolês com o Zebu. 3 Lactação O leite, primeiro alimento da cria, forma-se, como sabemos, nas glândulas mamárias, que na vaca, na cabra, na ovelha e na égua constituem o UBRE, com seus músculos, ligamentos e pele localizados na região inguinal da ré. São glândulas epitelial-cutâneas, de atividade exócrina e apócrina2. O ubre da vaca é constituídoo por quatro glândulas mamárias, independentes, duas de cada lado, anatomicamente separadas, cada uma com sua teta excretora, seu canal galatóforo e respectiva cisterna aonde o leite vai se depositando a medida que desce da glândula. O da ovelha e égua é formado por um par de glândulas, cada uma com sua teta. Na porca, coelha, gata e cadela as glândulas mamarias individuais se estendem aos pares, em duas filas, ao longo da região torácica posterior até a inguinal. O macho também possui glândulas mamárias não funcionais, salvo excepcional e anormalmente. Quando se aproxima a puberdade, as glândulas mamárias mostram visível desenvolvimento nas fêmeas virgens, o qual é mais acentuado nas fêmeas das raças leiteiras. É que a formação do leite está estreitamente ligada a reprodução. Durante a última fase da gestação dá-se o desenvolvimento das glândulas mamárias, e seu despertar para entrarem em função. É quando os práticos dizem que a rês está amojando. Não é apenas o ubre da fêmea jovem, que vai parir pela primeira vez, que passa por esse desenvolvimento preparatório. Terminada a lactação, as glândulas cessam sua atividade, para reatá-la novamente com a parição seguinte, após novo processo preparatório. A preparação da glândula mamária bem como sua atividade secretora são processos de fundo hormônico. O desenvolvimento mamário dá-se sob ínfluência do ovário, que é um órgão gametógeno e endócrino. O ovário age através dos estrógenos (estradiol), hormônios esses secretados pelo foliculo de Graaf, e pela progesterona, secretada pelo corpo lúteo. Inicialmente processa-se o desenvolvimento do sistema de dutos mamários (estrógenos); e a seguir pela proliferação do sistema alveolar da glândula (progesterona). Há certa controvérsia a respeito do modo de agir, desses hormônios, no desenvolvimento mamário. Não se sabe, com segurança, se se trata de uma ação direta ou através da hipófise anterior. O que é certo é que a gestação é condição necessária para estimular a glândula mamaria, preparando-a para a lactação. TURNER (1955) acha que os estrógenos não têm ação especifica no crescimento do tecido mamário; sua ação é no sentido de intensificar a vascularização de modo que assim é facilitado o crescimento da glâmdula. Essa preparação do ubre convém ressaltar, dá-se em cada gestação, visto que o aspecto histológico da glândula, for à de atividade, numa vaca não gestante, 2 Diz-se apócrina a glândula que no processo de secreção tem suas células parcialmente destuidas, apenas na porção apical. 120 assemelha-se ao de uma novilha virgem. A formação do leite, propriamente, resulta da atividade de outro hormônio, a prolatina, também chamado galatinas e mesmo mamotropina. Este hormônio tem origem na hipófise anterior, e foi isolado, pela primeira vez, por RIDDLE, BATES e DYKSHORNR (1932-1933). A causa de sua secreção até agora é objeto de debate (COLE 1962). O importante é que, segundo a maioria dos pesquisadores, qualquer mudança na proporção dos estrógenos e (ou) da progesterona no sangue, verifica-se uma influência na secreção da prolatina. Uma verificação valiosa e definidora é que no gado leiteiro este hormônio latogênico (prolatina) é produzido em maior escala, do que no gado de corte; além de sua presença ser maior nas vacas penhes. Todavia existe nos machos e nas fêmeas, e ainda nas Aves como nos Mamíferos (RICE e AL, 1957). Demais, a diminuição da secreção do leite faz-se acompanhar do destinto, da secreção da prolatina. Assim, este hormônio seve ser considerado como responsável não só pela iniciação da lactação, como pela sua persistência, do que há evidência experimental, embora a exata natureza desse mecanismo controlador não se ache inteiramente compreendido (RICE, Idem). Como se sabe, a ordenha e a sucção do bezerro quando mama constituem estímulos para o ubre produzir mais leite. E se o leite não é convenientemente ordenhado, a vaca seca o leite suspendendo mais depressa a lactação. Sem ovário pode haver lactação (por isso a castração da fêmea lactante provoca o prolongamento da lactação). Mas, sem a hipófise ou pituitária anterior, não haverá leite. Com a presença dela, a simples massagem ou a sucção das mamas será capaz de provocar, em determinados indivíduos, sua formação. Daí se conclui haver marcada influência da ação física sobre as mamas, com reflexo nervoso sobre a hipófise. Tanto isso é verdade que em Ratas, as mamas isoladas da inervação geral não produzem leite apesar de energicamente sugadas pelos ratinhos recém- nascidos. Mas se estes sugarem as mamas ligadas à inervação, verifica-se a formação de leite também nas mamas isoladas, insensíveis por se acharem desligadas da inervação, isto é, com seus nervos mortos. Outros fatores parecem influir no processo da lactação. Assim a ablação das adrenais faz cessar a formação do leite, que se recupera com injeção de extrato do cortex dessa glândula. Com isto é permitido admitir que ésse órgão endócrino (cortéx das adrenais) comanda de algum modo à fisiologia da lactação (BROWELL, ASDELL, 1955). A tireóide é outra glândula interna, que colabora na secreção do leite. Tanto é assim que a ablação dessa glândula provoca uma queda brusca, na lactação. Quando se administra o hormôniopor ela secretado, a tiroxina, as vacas que se acham no período final, de declínio da produção, verifica-se não somente aumento desta, como do teor do leite em gordura. A tiroproteína, ou seja, a caseína iodada, é que contém cerca de 3% de tiroxina,quando adicionada a ração de vacas, no período de declineo de lactação, pode provocar um aumento desta, de mais ou menos 20%, e, no teor butiroso do leite, de 25%. Isto devido ao aceleramento que provoca, no metabolismo animal. Certas vacas, diz RICE e AL (1957), reagem melhor que outras, e algumas não reagem ou o fazem negativamente. Mas o destino da tiroproteína, na prática da produção de leite, não é ainda claro, adverte ele. É preciso dizer ainda que a sucção aumenta a secreção e a descarga da 121 prolactina, pela hipófise anterior, e assim ajudando a manter a atividade da glândula mamária. Falta lembrar, agora, que a distensão do útero provoca a diminuição do leite, mesmo até seu desaparecimento. No caso da vaca, é depois do quinto mês de gestação que esse fator negativo da lactação começa a influir, provocando a queda do leite. A formação do leite, como se vê, é processo hormônico, que ocorre no intervalo das ordenhas. Deste modo o leite, que se extrai do ubre, numa ordenha, já está quase todo nele contido, quando esta começa. Antigamente, pensava-se que parte do leite já estava no ubre, mas que outra parte era secretada, rapidamente, durante a ordenha. Isto não parece correto. Abatendo vacas em lactação, e operando a ablação do ubre, para extrair o leite, que nele se acha, e sem que seja possível a formação de mais leite, experimentadores americanos verificaram que a quantidade de leite, assim obtida, era a mesma que aquela antes conseguida normalmente3. A chamada “descida do leite” é outro fato, que é preciso ser examinado. Nem sempre o leite é facilmente extraído do ubre. Por meio da ordenha. Então deve de haver um fator que facilita a saída do leite, e outro capaz de dificultá-la. A princípio, pensava-se que fosse uma ação nervosa, direta. Mas, cortando- se a inervação, que permitiria um mecanismo dessa natureza, verificou-se que tudo ocorria normalmente, provando a não interferência direta do sistema nervoso, na descida do leite. Sua influência é indireta, como veremos a seguir. Recorrendo-se aos hormônios, diz PETERSEN, achou-se que a oxitocina ou pitocina (um dos hormônios da hipófise posterior) é que age sobre as fibras musculares, lisas, determinando a contraçao destas, na glândula mamária, o que permite a saída do leite, por meio da ordenha. A formação da oxitocina e intermitente, e, uma vez saída da circulaçâo, cessam seus efeitos. Então a ordenha já se torna difícil, senão impossível. Para que se de a formação do hormônio, a hipófise é ativada pela excitação exercida pelo ordenhador, ao preparar o ubre para a ordenha. O fenômeno oposto, ou seja, a suspensão da saída do leite, que leva a dizer-se que “a vaca escondeu o leite”, resulta da ação da adrenalina (produto das adrenais), também chamada epinefrina, que age impedindo a ação do hormônio da hipófise posterior (oxitocina), de efeitos contrários sobre os músculos lisos. Dai se conclui que a ordenha bem feita deve ser precedida de uma preparação do ubre: lavagem com água morna (nos dias de baixa temperatura), enxugar fazendo massagem, deve ser rápida, e sob as melhores condições de não excitação, de calma das vacas. Todo o barulho deve ser rigorosamente evitado, bem como maus tratos, pancadas, troca de ordenhador, e de local da ordenha. Barulho, pancada, mau trato, enfim qualquer mal estar da vaca provoca uma descarga indesejável de adrenalina, acarretando o endurecimento das tetas. Tanto maior será essa reação negativa da vaca, quanto mais excitável seja ela. Daí a necessidade de se explorarem vacas de temperamento linfático. Quem lida com o Zebu bem conhece os extremos e a importância de tais reações, durante a ordenha. Isto se reflete até na rês meio sangue indiana. A ordenha em diagonal é mais vantajosa porque torna mais rápida a tiragem do leite, enquanto age o hormônio que faz descer o leite, que tem ação brusta, porque logo desaparece da circulação. Sua ação regula ser de 3 a 4 minutos, tempo durante o qual deve ser feita a ordenha. Uma demonstração de 3 PETERSEN, PALMER e ECKLES, 1929. 122 PETERSEN (1945) bem provou isto para sempre. Consistiu ela em ordenhar uma teta de cada vez. Nota-se sensível diferença entre as quantidades ordenhadas. Muito mais na primeira teta, menos na segunda, menos ainda na terceira, e menos finalmente na quarta. Em observações procedidas nos Estados Unidos (Cornell University), com 286 vacas das raças leiteiras, verificou-se que o tempo médio de ordenha foi de 35 minutos, utilizando-se ordenhadeiras mecânicas. E mais – que 36%, das vacas estavam ordenhadas aos 3 minutos; 38% entre 3 e 4 minutos; 17% entre 4 e 5; 9% gastaram mais de 5 minutos. A média de 3,5 minutos justifica a recomendação prática de fazer-se a ordenha em torno de 4-5 minutos, assim todas as vacas estão dentro desse tempo. A lactação é um processo hormônico, que começa com a preparação do próprio ubre (ovário e hipófise anterior), e que se desenvolve sob a ação ainda da hipófise anterior, das adrenais e da tíreoíde. E que é influenciada pela sucção (ação indireta), e ainda pela distensão do útero, e finalmente temos na ordenha a influencia hormônica (hipófise posterior e adrenais). Assim ela não pode ser atribuída a um simples fator seja de natureza genética, seja de natureza hormônica (quantidade de prolatina secretada), seja ao volume de glândulas (ubre), a nutrição ou a capacidade da fêmea em se alimentar. Outra noção, que precisa ficar clara, é que o leite resulta de verdadeiro processo secretório. Ou em outras palavras, é produto de fabricação da glândula mamária, o que se mostra evidente pela composição química diferente daquela do sangue, de cujos elementos se formam por elaboração da glândula. Isto é verdade no que diz respeito à caseína, lactose e gordura do leite. Quanto aos sais minerais, são os que se encontram no sangue mesmo. A lactação e uma atividade fisiológica que se desenvolve na fêmea parida, durante alguns meses, variando o número destes conforme a espécie animal. Nos Bovinos, procura-se mante-la em torno de 300 dias. Os casos de fêmeas virgens, e até de machos, produzindo leite, são raros, mas ocorrem. Na bibliografia comum encontram-se citações como a de WAGEMANS (poldra recenascida), GIROTTI (mula), PAILHOUX (1928) (novilha Normanda) e outros. Bode dando leite encontra-se citado a partir de Aristóteles, o famoso bode de Lemnos, o de Mellis, o de Barbazan, que dava leite (função feminina) e cobria as cabras (função de macho). Um dos mais famosos, porém, e aquele da Espanha, cuja lactação se prolongou por quatro anos, e que também exercia suas atribuições de macho cobrindo cabras. No Brasil, temos o de Sobral, que também cobria normalmente as cabras, observado pelo Dr. P. Sanford, e o da Fazenda Capivara (Goiânia), citado pelo Suplemento Agricola de “O Estado de São Paulo” (6-2-1963). A produção experimental, de leite, em machos, é fato sabido, podendo- se citar, em abono, TURNER e MOSS (1934) que, por meio de hormônios ovarianos e prolatina, conseguiram despertar as glândulas mamárias, em gatos. Assim, como se vê a galactopoese é uma atividade complexissima, cuja última palavra ainda não foi dada.São diversos os materiais de natureza galactopoética, o que dificulta o conhecimento mais completo ou menos incompleto desse mecanismo fisiológico. A qualidade do leite é outra face do problema. Mas aqui temos que reduzi-lo a considerar apenas um dos seus elementos componentes. Fundamentalmente o leite é uma emulsão contendo partículas fínissimas de gordura em suspensão, cuja composição é: água, caseína, gordura, lactose, sais 123 minerais, vitaminas – em proporções variáveis, conforme a fêmea doméstica considerada. A composição normal do leite só se verifica mais ou menos depois do 5º dia de lactação. Até o 5º dia o leite tem uma composição particular, e é chamado colostro, não servindo para alimentação humana. O colostro é por demais rico em globulinas (tao necessárias ao recenascido) e em vitaminas A e D, sais de ferro, cálcio, magnésio, fosfatos, clorina e menos em lactose e potássio. COMPOSIÇÃO MÉDIA DO LEITE PORCENTUALMENTE Espécies Água Proteína Gordura Lactose Minerais Sólidos totais Vacas Cabra Egua Ovelhas Porca 87,0 86,88 90,58 84,0 81,0 3,4 3,7 2,0 5,0 6,2 3,8 4,0 1,14 4,0 7,0 4,9 4,6 5,87 4,0 4,75 0,72 0,85 0,36 0,9 1,1 12,0 13,0 9,4 16,0 19,0 Segundo DUKES (1960) – Fisiologia de los Animales Domesticos. 1960. Trad de The Phisiology of Domestic Animals (7 th ed.). Segundo MALOSSINI (1964), a composição do leite de Búfala, criada na Itália, é a seguinte: Gordura - 7,87; Proteína - 4,28; Matéria seca - 18,06. Em Schneider et Al encontramos os seguintes dados que complementam as anteriores: lactose 4,9; minerais 0,78. Mas o que usualmente dá qualidade ao leite é seu teor em gordura. Ele varia com as espécies, como se pode averiguar com as indicações acima, nas quais temos a porcentagem de gordura das várias espécies domésticas. A mais alta porcentagem é oferecida pela fêmea do Bubalus bubalis, a qual chega a oscilar, segundo PHILLIPS (1948) entre 7 e 12,6%. Dentro da mesma espécie é também grande sua variabilidade, consoante a raça, a ponto de em Bos taurus haver raças ditas mantegueiras, justamente pelo teor mais alto de gordura, de seu leite. Tais são as raças Jersey (5-6%) e Guernsey (4,5-5,5%), cujo leite além de mais gordo do que o das outras raças leiteiras, apresenta uma característica bem definida: a gordura é rica de caroteno, dai a coloração típicamente amarela da manteiga com ela fabricada. A Búfala, cujo leite, vimos, é altamente rico de gordura, já produz um leite de gordura branca. E a manteiga com ela fabricada, embora apresente o odor característico, faz lembrar, pela sua coloração, a banha de porco. Até a gordura da carne do Búfalo é branca. As raças zebuínas (Guzerá, Gir) devem ser obrigatoriamente incluídas entre as raças manteigueiras, pois a taxa de gordura, de seu leite, está no nível das duas citadas raças européias manteigueiras, por vezes ultrapassando-o. Dentro de cada raça a variação também se verifica, havendo famílias de leite mais rico de gordura, isto, todavia, dentro de restritos limites. Na mesma vaca o teor butiroso do leite varia de diversos modos. A quantidade de leite produzido e o teor butiroso, dos quatro quartos do ubre, não são os mesmos. Cada quarto guarda sua individualidade, mostrando 124 tratar-se, como vimos de quatro glândulas distintas. Em geral os quartos anteriores produzem 40% do total do leite fabricado pelo ubre, e os 60% restantes saem dos quartos posteriores. A porcentagem de gordura entre os quatro quartos varia menos, cerca de 2%. Então a ordenha em diagonal anula essa diferença, parcialmente. Durante a ordenha é bem sensível a variação na porcentagem de gordura, entre o primeiro leite tirado e o último. Principalmente se a vaca permanecer estabulada, algumas horas antes da ordenha. Assim verificou-se em vacas da raça Jersey que essa variação é da ordem de 1 a 12%. Reduzir-se-á tal diferença se a vaca se movimenta, entre 6 e 8%. Não se completando a ordenha, a taxa butírica é mais baixa, pois o leite mais gordo não foi tirado. Por outro lado desprezando-se parte do primeiro leite, uma vaca de leite magro poderá apresentar uma taxa maior de gordura, no leite ordenhado. A percentagem de gordura da vaca, a tarde, é maior, e procura-se explicar isto pela movimentação da vaca, que pastou durante o dia. A boa condição e trato, da vaca, ao se iniciar a lactação, podem determinar uma variação de 25% a mais na quantidade de leite produzido. O estado de gordura da vaca pode determinar maior teor de gordura, no começo da lactação. A gestação, é fato bem conhecido, exerce certo efeito inibitório sobre a atividade mamária; isto a partir dos 5° mês. Verifica-se um duplo efeito: 1 - hormônico, mais importante; 2 - dos nutrimentos recebidos pela vaca, que são repartidos entre o feto e a lactação. A idada da vaca tem influência, e assim a novilha de primeira cria produz apenas 70-77% do que virá a produzir na idade adulta. Quanto ao teor butiroso, a influência da idade é pequena na sua variação; mas ele tende a diminuir. E além dos 10 anos há sensível declínio da taxa de gordura do leite. A quantidade de gordura pode chegar a reduzir-se a metade da produção máxima verificada na idade madura. Dai os fatores de correção que se utilizam no estudo comparativo das lactações. Sabe-se também que o corte do animal influi, no sentido positivo, sobre a quantidade de leite e quantidade de gordura. Exige, porém, arraçoamento mais copioso e adequado - o que pode tornar menos rendosa a exploração econômica. Este é um argumento dos criadores de gado Jersey. A intensidade da lactação é maior no primeiro mês, quando a vaca tem seu máximo de produção, tudo correndo normalmente. Ou dizendo melhor, no período das 4-8 primeiras semanas. Dai por diante a lactação vai diminuindo, em geral sendo, cada mês, 90% do mês imediatamente anterior, se é boa a persistência lactifera da vaca. Não é preciso lembrar a importância que tem a alimentação, na lactação. E um fato óbvio, pela própria natureza da operação fisiológica mesma. Assim a lactação é um fenômeno por demais complexo, sujeito, a uma variedade de fatores como sejam: a raça, o porte do animal, dentro da raça, o intervalo entre-partos, o intervalo entre as ordenhas, a temperatura ambiente (ótima em torno de 10°C para o gado europeu), a idade da vaca, o mês de lactação e finalmente a alimentação adequada do animal. 4 Aptidão lanígera Esta é a qualidade fundamental das raças Ovinas exploradas para lã. Sim 125 porque há Ovinos que não são lanígeros. Ovinos das regioes tropicais secas, entre os quais temos que salientar o Carneiro Deslanado do Nordeste. A aptidão lanigera manifesta-se sob dois aspectos: quantidade e qualidade da lã, ambos os atributos tipicamente étnicos. Há raças de carneiros de lã média, fina, frisada, dando tosões de peso mediano (Merina); outras há de lã comprida, sedosa, ondulada, dando tosquias pesadas (Lincoln, Lecester); outras ainda há de lã medianamente sedosa e medianamente comprida; enfim outras de lã curta e encrespada. A mutação da lã sedosa, dos Merinos de Mauchamp, é um caso típico de variabilidade com fundo hereditário, desse atributo, e, pois de feição étnica. 5 Aptidão oveira É a aptidão que determina a postura de ovos, das Aves, particularmente da Galinha, onde tomou um desenvolvimento inimaginável. Já foi anteriormente citada, a propósito do atributo prolificidade, porquanto ela resulta, na verdade, deste atributo fisiológico doanimal, mas que aqui nas Aves, na Galinha, especialmente tomou importância econômica muito grande, constituindo a principal função produtiva dessa espécie doméstica. A variação da aptidão oveira não é somente de ordem quantitativa. Há também as de ordem qualitativa: tamanho do ovo, coloração e até a forma, como caracteres ligados a certas raças ou famílias e linhagens. Quantitativamente, as raças podem ser divididas em taças de grande postura, como a Legorne branca, cuja produção comum dessa ave doméstica é em torno de 150 a 180 ovos. Esse caráter, todavia, oscila muito dentro de cada raça, havendo más poedeiras, médias e excepcionais, dentro do mesmo tipo étnico. Mas o certo é que o número de poedeiras excelentes é, indiscutivelmente maior, na Legorne branca do que nas outras raças, onde há também grandes poedeiras, porém, em freqüencia muito pequena. Em outras palavras, a média de produção, por cabeça, da Legorne branca, é maior do que a de qualquer raça. Qualitativamente, a variação permite a formação de raças de ovos grandes (60 g ou mais), como as chamadas raças do Mediterrâneo: Legorne, Minorca, Bresse; ao passo que as raças de dupla utilidade - Orpington, Plymouth Rock, Rhode Island, New Hampshire já são produtoras de ovos médios (50-56 g) ou pequenos. No geral, as raças maiores, como as asiáticas, são poedeiras medíocres, de ovos pequenos (30-40 g). Dentre as Aves domésticas a Avestruz é a que tem ovos maiores, cerca de 1,360 kg cada, cuja incubação demora aproximadamente seis semanas. Segue-se, na ordem decrescente, o Ganso cujos ovos são também grandes, porém muito menores, com apenas 190 gr. Depois temos o Peru, cujo ovo pesa 100 gr; depois o Marreco, com 87 gr; depois a Galinha, cujos ovos variam de 40 gr. a mais de 60; e finalmente o Faisão, cujo ovo é de pequeno peso, umas 33 gr. A classificação comercial do ovo, oficial, baseada no peso, é a seguinte: ovos grandes quando pesam mais de 56 gr; médios, de 50 a 55,99 gr; pequenos, de 45 a 49,99 gr; industriais, menos de 45 gr. Quanto à coloração, sabemos que há raças de Galinha de ovos brancos, como as do Mediterrâneo. Mas há outras de ovos rosados, mais ou menos escuros, como as de dupla utilidade - Rhode Island, Orpington, New Hampshire, Gigante de Jersey, Plymouth Rock. Há também galinhas de ovos azuis, não selecionadas em 126 raça particular, e que se encontram no galinhame comum. Parece tratar-se de mutação, não estudada ainda, ou de descendentes de galinhas chilenas, étnícamentea não bem definidas4. 6 Aptidão dinâmica A aptidão dinâmica é atributo mais próprio dos eqüinos, sob duas formas: velocidade e força. Os Bovinos, o Zebu, o Búfalo e até o Cão também são explorados em pequena escala, na sua força motriz. A velocidade e a força resultando da conformação adequada das alavancas ósseas do animal, e essa conformação sendo hereditária, como se sabe, segue-se que indiretamente a aptidão para maior ou menor rendimento dinâmico é atributo étnico. Daí ser falsa a noção de que a ginástica funcional é que cria raças de animais velozes ou muito fortes. Sem a predisposição, ou melhor, a aptidão, isto é, sem conformação adequada, e sem as qualidades fisiológicas necessárias, como o temperamento, nunca se obterão animais de muita velocidade ou de muita força motora. E conformação e temperamento são qualidades hereditárias. O fim da ginástica funcional é apenas por em evidência os indivíduos onde se acham em grau acentuado tais predisposições. O rendimento dinâmico caracteriza as raças, tanto assim é que temos raças para velocidade: Puro-sangue-de-corrida, Anglo-Árabe; raças para tração: Percheron, Belga, Clydesdale. O aparelho locomotor, destinado a movimentação e ao deslocamento do animal, compreende duas partes: a) uma ativa, que são os músculos e nervos; b) outra passiva, que são os raios ósseos, articulações e tendões. O trabalho locomotor do animal é o resultado de três fatores: a) força muscular; b) comprimento e posição das alavancas ósseas; c) excitabilidade nervosa. O exercício do músculo acarreta seu desenvolvimento em diâmetro e em comprimento, e, peso e em volume, donde o aumento do trabalho motor. Maso funcionamento do músculo resulta da energia que o alimento produz. Logo para que ele funcione bem, precise ser bem alimentado, bem provido de alimentos para transformar em energia. “O melhor desenvolvimento muscular escreveu ADAMETZ (1926), como conseqüencia do exercício, deve-se ao fato de que os músculos, que trabalham, contêm quantidade muito maior de sangue do que os músculos em repouso”. O alimento, que se transforma em energia, produz resíduos que, se não eliminados, provocam o desequilíbrio dos elementos musculares. Isto é, sua intoxicação. Logo se faz mister garantir a rápida eliminação desses resíduos (uréia, ácido láctico). Daí se conclui que duas são as condições fisiológicas, básicas para o bom funcionamento desse aparelho: 1 - Nutrição suficiente e apropriada; 2 - Eliminação fácil das matérias residuárias. Pelo exposto, os efeitos do exercício do aparelho locomotor são generalizados, influenciando vários órgãos, senão todo o organismo. Assim ela se faz 4 Veja DOMINGUES – Galinhas de ovos azuis, in Chac. E Quintais, 1930. 127 sentir sobre: a) aparelho locomotor, propriamente; b) aparelhos digestivo e circulatório (arterial), os quais devem manter ou garantir a pronta nutrição dos músculos; c) aparelho respiratório e, ainda, sobre o circulatório (venoso) e sobre a pele - órgãos esses que devem garantir a fácil eliminação rápida dos resíduos formados na transformação da energia potencial do alimento, em energia dinâmica. A ação dessa ginástica será tanto mais intensa quanto mais cedo se fizer sua aplicação; por isso é que, nos animais, quanto mais jovem, mais pronunciados seus efeitos. Precisamos, porém, dividir esses efeitos em dois grupos: gerais e particulares. Dentre os efeitos gerais, cataremos os que se fazem sentir sobre o tubo digestivo, coração, pulmões e pele, e mais a conseqüência destes, ou seja, a resistência à fadiga ou “fundo”. O aumento gradual e continuo da alimentação - necessária para garantir a despesa de energia com o exercício - certamente provocará modificação do tubo digestivo, no sentido do aperfeiçoamento de suas funções, tornando-se cada vez mais apto no digerir os aumentos. Os animais, assim exercitados, chegam a consumir porções maiores de alimento, demasiadamente grandes para outros mantidos em repouso. O coração, como órgão propulsor da circulação, modifica-se, aumentando de volume nos animais submetidos a exercícios. Numa experiencia de KÜLBES (1912), dois cães, irmãos da mesma parição, apresentavam na idade adulta sensível diferença no peso desse órgão. Num, o coração pesava 152 g, e no outro, apenas 99 g. É que este último fora mantido em inação desde seu nascimento, enquanto que o primeiro, ao contrário, foi posto a exercitar-se continuamente, numa escada móvel, sem fim. Demais, sabemos que o peso normal do coração de um Cavalo é de 3-5 kg; no entanto, os cavalos de corrida podem ter o coração ate com 8 kg. Os pulmões sofrem a ação do exercício, quando este é praticado, em animais jovens, principalmente. Em tal caso, há o desenvolvimento da caixa torácica e, conseqüentemente, dos pulmões, quando o animal é submetido a uma atividade mais intensa. Assim, a eliminação rápida e eficiente do gás carbônico,formado por via do trabalho muscular, estará garantida. Eliminação facilitada não somente pelo aumento da superfície eliminatória do pulmão, como pela rapidez mecânica da inspiração e da expiração. Na citada experiência, de KÜLBES, a diferença entre os pulmões dos dois cães foi: o do cão exercitado pesava 179 g, o do outro 120. Sobre a pele, a ação do exercício é também muito natural, porquanto ela é o órgão de eliminação residuária, como sabemos. Então, torna-se flexível, untuosa, de pelos mais escassos, curtos e finos, que é garantia de uma eliminação franca dos resíduos orgânicos, inclusive do calor corporal, que é também um resíduo do trabalho muscular. A pele dissipa esse calor, pela radiação corporal. Do aperfeiçoamento do processo fisiológico, de eliminação residual e de nutrição do tecido muscular (do organismo, enfim), resulta um efeito geral importante e notável, do ponto de vista do aproveitamento econômico da função locomotora dos animais, assim exercitada. Resulta o que se chama “fundo”, em hipologia, e que consiste na pronunciada resistência do organismo animal, a fadiga. A fadiga vem a ser o acumulo de substâncias residuárias nos elementos musculares, no organismo, impedindo ou dificultando a utilização de mais substâncias nutritivas, que devem ser transformadas em energia. posta a 128 disposição do músculo. A eliminação pronta e a nutrição facilitada evitam esse acúmulo residuário, o animal cansar-se-á menos, resistira mais a fadiga. Diz-se então que tem muito "fundo". Conclui-se, pois, que a resistência à fadiga depende de umbom aparelho eliminatório, bem como de nutrição pronta. Essa condição é inata, porém revela-se pelo exercício. Assim os cavalos de corrida podem ser divididos em flyers e stayers, conforme sua capacidade de "fundo". Sfayer é o corredor para longas distâncias (p.ex. 3.000 m), e flyers é aquele mais veloz somente a pequenas distâncias (p.ex. 1.800, 2.000 m), devido a não ter “fundo”. Os efeitos particulares se mostram no esqueleto, nos músculos e sua inervação. Os animais entregues muito cedo a exercícios metódicos, continuados e progressivos, desenvolvem facilmente seus raios ósseos, modificando-se até a posição deles. Assim, as alavancas ósseas dos membros e da garupa (órgao essencial da locomoção por ser onde se origina o impulso locomotor) crescem, arranjando-se de modo a facilitar a função locomotora. Os músculos, por sua vez, acompanham o crescimento dos ossos e aumentam o diámetro, engrossam, desengorduram-se. Mas, se o músculo engrossa, não quer dizer que houve aumento no número de fibras musculares, que é sempre o mesmo. O que se dá é o engrossamento das fibras, propria-mente; mas, esse aumento de diâmetro é desigual, pois as fibras grossas pouco aumento sofrem, enquanto que as finas engrossam consideravelmente mais, e teriam permanecido finas se não fosse o exercício. A inervação também se aperfeiçoa, pois é ela que determina as contrações musculares. O animal exercitado regula seus movimentas, executando somente aqueles que são úteis a função econômica. E o treino, em última análise, não é mais do que a execução pronta e perfeita de movimentos úteis, não sendo a energia dissipada, desperdiçada com aqueles movimentos chamados parasitários, inúteis ou nocivos mesmo. Dos ossos alongados e bem dirigidos; dos músculos compridos, grossos e secos; da eliminação pronta e da nutrição garantida; dos movimentos educados no sentido de seu máximo aproveitamento resulta o que se chama per formance do animal para velocidade. A conformação especial quer do animal de "tiro" (tração), quer do animal de "corrida" (velocidade), é acentuada, pronunciando-se pelo exercício a que desde cedo é submetido o animal, embora a tendência para essa conformação, massuda num caso e longilínea no outro - seja uma conseqüência da hereditariedade, da raça. Por outro lado “nenhum sistema de alimentação e de exercício será suficiente para tornar um cavalo de tiro capaz de correr contra um Puro- sangue-inglês com vantagem” (DOBZHANSKY, 1941). Embora sejam bem grandes os efeitos dessa ginástica do aparelho locomotor, eles não são de origem apenas hereditária. Carecem, para se manifestarem, da ação do exercício. Pois são a expressão da herança sob a ação exterior do exercício e da alimentação adequados. Eles se mostram e se afirmam nos animais que herdaram uma predisposição para a função locomotora: Cavalo, principalmente: Boi, Zebu, Jumento, Burro. Questionário Nº 8 129 1 - Distinga caracter fisiológico, de caracter econômico. 2 - Por que os caracteres econômicos se mostram tão variáveis? 3 - Que é prolificidade? 4 - De que depende a prole mais numerosa - do macho ou da fêmea? Por quê? 5 - Onde é maior o aparecimento de gêmeos, em Bovinos? 6 - A gestação de gêmeos é mais prolongada? 7 - Distinga os termos fertilidade, fecundidade e proficidade. 8 - Em que espécie doméstica foi mais espantoso o desenvolvimento da proficidade. 9 - A velocidade de crescimento é a mesma, dentro da espécie? Explique. 10 - Distinga velocidade de crescimento, de precocidade. 11 - Explique a osteologia da precocidade. 12 - Há alguma relação entre dentição e precocidade? 13 - Cite, na ordem decrescente, as espécies domésticas, quanto à precocidade. 14 - Cite es fatores favoráveis a manifestação da precocidade. 15 - O Zebu é precoce? Explique. 16 - Distinga precocidade somatica, de precocidade sexual, exemplificando. 17 - Que é Prova de ganha-de-peso? 18 - Por que é muito importante esta Prova, no melhoramento do gado de corte? 19 - Que e aptidão cevatriz? 20 - A aptidão, cevatriz acompanha a precocidade? 21 - Que é degeneração gordurosa do fígado? 22 - Que é maneio e cite os principais. 23 - Defina o ubre como glândula. 24 - Explique, ligeiramente, a anatomia do ubre da vaca. 25 - Como se dá a preparação do ubre para produzir leite? 26 - Qual o hormônio que age na formação do leite? 27 - Onde é secretada a prolactina e devido a que causa? 28 - Qual a diferença entre o gado leiteiro e o de corte, quanto a prolactina? 29 - A sucção das mamas age, na formação da prolactina, diretamente ou através da hipófise? Explique. 30 - Pode haver lactação sem hipófise? E sem ovário? 31 - Quais as outras glândulas que agem na lactação. 32 - Por que se diz que a lactação é um processo secretório? 33 - Que é tireoproteína? 34 - Como influi o útero na persistência da lactação? 35 - Que e oxitocina ou pitocina? 36 - Explique como a vaca "esconde o leite". 37 - Quais as normas de boa ordenha? 38 - Uma fêmea virgem pode dar leite? E um macho? 39 - Que é o leite? 40 - Que é colostro? 41 - Qual o teor médio de gordura, do leite das várias espécies domésticas? 42 - Que são raças manteigueiras? 43 - Há diferença nos quartos do ubre, quanto à produção de leite? Explique. 44 - Como influi a gestação no processo de lactação? 45 - Qual a influência da idade? 46 - Do porte, da vaca? 47 - Quando é mais intensa a lactação, e qual sua persistência? 48 - Há lanígeros que não produzem lã? Exemplos. 49 - Como se manifesta este caracter, distinguindo as raças? 50 - Quais as variações da aptidão oveira? 51 - Qual o peso médio do ovo, das Aves domésticas? 52 - Como se classificam, comercialmente, os ovos pelo peso? 53 - Como varia o ovo, quanto a coloração, motivado por quê? 54 - Como se classificam as raçaseqüinas, quanto ao ren-dimento dinâmico? 55 - Quais as duas partes que constituem o aparelho locomotor? 56 - Quais os três fatores que determinam o trabalho locomotor? 57 - Quais as duas condições fisiológicas básicas para o bom funcionamento do aparelho de locomoção? 58 - Qual o efeito do exercício da locomoção sobre o coração? 59 - Que é “fundo”? 60 - Como podem ser divididos os cavalos de corrida quanto ao "fundo"? 61 - Qual o conformação do cavalo conforme sua utilização? Ela pode ser "criada" pelo exercício? 62 - Só a hereditariedade é suficiente para se fazer um bom corredor? Explique. 130 VIII
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