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Capítulo 1 Números Complexos 1.1 Unidade Imaginária O fato da equação x2 + 1 = 0. (1.1) não ser satisfeita por nenhum número real levou à definição dos números complexos. Para solucionar (1.1) definimos a unidade imaginária, denotada 1 por i, como sendo o número tal que i2 = −1. Obviamente este não é um número real, uma vez que seu quadrado é negativo. 1.2 Números complexos Um número complexo z é um número da forma z = x+ iy. (1.2) Em (1.2) observamos que um número complexo é composto de duas partes: dizemos que x é a parte real de z, e escrevemos Re(z) = x. Por outro lado, y é a parte imaginária de z, e escrevemos Im(z) = y. Exemplo 1.1 Dado o número complexo z = 3 + 2i, temos Re(z) = 3 e Im(z) = 2 Ainda em (1.2), se x = 0, dizemos que z é um número imaginário puro; por outro lado, se y = 0 temos que z é um número real puro (ou simplesmente um número real). 1.3 O Plano Complexo Os números complexos podem ser representados através de pontos em um plano cartesiano. Este plano é denominado plano complexo, ou diagrama de Argand 2 . No plano com- plexo grafamos a parte imaginária do número complexo sobre o eixo vertical (chamado eixo imaginário) e a parte real sobre o eixo horizontal (chamado eixo real). A Figura 1.1 ilustra tal representação. 1 Em textos de Eletricidade a unidade imaginária é normalmente denotada pela letra j, uma vez que a letra i é geralmente utilizada para representar correntes elétricas. 2 Jean Robert Argand (1768-1822), Matemático francês. Seu artigo sobre o plano complexo apareceu em 1806. 1 - 6 ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡µ b a z = a+ bi eixo real eixo imaginário a Figura 1.1: O plano complexo. Assim, cada número complexo z = a + bi está associado biunivocamente3 ao ponto (a, b) do plano complexo. Por esta razão, uma outra maneira de se denotar um número complexo z = x+ iy é através de um par ordenado (x, y), onde fica implícito que a primeira componente é a parte real real do número complexo e a segunda componente é sua parte imaginária. Também é comum associarmos cada número complexo a um vetor do R2. Exemplo 1.2 O número complexo z = 3 + 2i pode ser escrito como z = (3, 2). 1.4 Conjugado de um Número Complexo Dado z = x + iy, seu conjugado, denotado z, é dado por z = x − iy. Ou seja, conjuga-se um número complexo simplesmente mudando o sinal de sua parte imaginária. No plano complexo um número e seu conjugado são simétricos em relação ao eixo real (Figura 1.2). - 6 ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ @ @ @ @ @−b b a a z = a+ bi a z = a− bi eixo real eixo imaginário Figura 1.2: O conjugado de um número complexo. 3 A cada número complexo está associado um único ponto do plano, e a cada ponto do plano está associado um único número complexo. Lembre-se que em coordenadas polares tal associação não é biunívoca, uma vez que um dado ponto do plano possui infinitas coordenadas polares. 2 1.5 Operações com Números Complexos Considerando os números complexos z1 = x1 + iy1 e z2 = x2 + iy2, temos: • Igualdade4: dizemos que z1 = z2 se suas respectivas partes real e imaginária são iguais, ou seja, se x1 = x2 e y1 = y2. • Adição: a soma z1+ z2 é obtida pelas somas das respectivas partes real e imaginária, ou seja z1 + z2 = (x1 + x2) + i(y1 + y2). • Subtração: de modo análogo à adição, temos z1 − z2 = (x1 − x2) + i(y1 − y2). • Multiplicação: aplicamos a distributividade e agrupamos as partes real e imaginária (lembrar que i2 = −1) z1z2 = (x1 + iy1)(x2 + iy2) = x1x2 + ix1y2 + iy1x2 + i2y1y1 = (x1x2 − y1y2) + i(x1y2 + x2y1) • Divisão: a razão z1z2 é obtida multiplicando-se o numerador e o denominador pelo conjugado do denominador 5 , isto é z1 z2 = z1z2 z2z2 = (x1 + iy1)(x2 − iy2) (x2 + iy2)(x2 − iy2) = (x1x2 + y1y2) + i(x2y1 − x1y2) x22 + y 2 2 = x1x2 + y1y2 x22 + y 2 2 + i x2y1 − x1y2 x22 + y 2 2 (1.3) Evidentemente não é necessário memorizar a fórmula em (1.3); a razão deve ser obtida simplesmente multiplicando-se o numerador e o denominador pelo conjugado do de- nominador e simplificando-se ao máximo o resultado. Exemplo 1.3 Dados z1 = 3 + 2i e z2 = 4− i, temos (a) z1 + z2 = (3 + 2i) + (4− i) = 7 + i (b) z1 − z2 = (3 + 2i)− (4− i) = −1 + 3i (c) z1z2 = (3 + 2i)(4− i) = 12− 3i+ 8i− 2i2 = 14 + 5i (d) z1 z2 = 3+2i4−i = (3+2i)(4+i) (4−i)(4+i) = 12+3i+8i+2i2 16−i2 = 10 17 + i 11 17 4 Atenção: para números complexos não se define relações de ordem, ou seja, desigualdades do tipo z1 < z2 ou z1 ≥ z2 não possuem qualquer significado. 5 A prova deste resultado será deixada a cargo do leitor. 3 1.6 Propriedades Dados z1, z2 e z3, temos • comutatividade z1 + z2 = z2 + z1 (1.4) z1z2 = z2z1 (1.5) • associatividade (z1 + z2) + z3 = z1 + (z2 + z3) (1.6) (z1z2)z3 = z1(z2z3) (1.7) • distributividade z1(z2 + z3) = z1z2 + z1z3 (1.8) Estas leis seguem imediatamente das correspondentes leis para números reais e das operações algébricas definidas anteriormente para os números complexos. 1.7 Problemas Propostos (1) Sejam z1 = 5 + 2i e z2 = 1 + 3i. Reduza cada expressão a seguir à forma a+ ib (a) z1 + z2 (b) z1 − z2 (c) z1z2 (d) (2− 4i)z1 (e) z2 z1 (f) z21 (g) (z1 + z2)2 (h) z1 z2 (i) ( z1z2 ) 2 (10) Reduza cada expressão a seguir a forma a+ ib (a) (1 + i)2 (b) ( 1+i1−i ) 2 (c) ( 1+i1−i ) 2 − ( 1−i1+i )2 (4) Resolva as equações (a) z2 + 9 = 0 (b) z2 − 2z + 2 = 0 (c) z2 + 2z + 5 = 0 (d) z2 + z + 9 = 0 (5) Prove que (a) o conjugado da soma é a soma dos conjugados, isto é (z1 + z2) = z1 + z2. (b) o conjugado da diferença é a diferença dos conjugados, isto é (z1 − z2) = z1− z2. (c) o conjugado do produto é o produto dos conjugados, isto é (z1z2) = z1z2. (d) o conjugado da razão é a razão dos conjugados, isto é (z1 z2 ) = z1z2 . (6) Represente os números z1 = 2+ 4i, z2 = 2− 4i, z1 = −2 + 4i e z1 = −2− 4i no plano complexo. (7) Calcule (a) 1 i (b) i3 (c) i4 (d) i5 (e) i6 (f) i7 (g) i8 (h) i9 (i) i26 (j) i31 (k) i54 (l) i87 4 (13) Seja z = x+ iy. Determine (a) Re( 1z ) (b) Im( 1z ) (c) Im(z3) (d) Im( 1z2 ) (e) Re(z2 + z) (f) Re(−iz2) (g) Im(4iz2−6z+ 8i) (h) Re( 1z−i ) (9) Prove o resultado em (1.3). Sugestão: faça z1 z2 = z, onde z = u+ iv e resolva a equação resultante em termos de u e v. 1.8 Valor Absoluto ou Módulo Dado o número complexo z = x + iy, seu valor absoluto (ou módulo), denotado |z| ou r, é dado por |z| = r = √ x2 + y2 (1.9) Geometricamente o valor absoluto de um número complexo nos dá a distância do ponto que o representa à origem do plano complexo (Aplique o Teorema de Pitágoras na Figura 1.3). É interessante observar que: • o módulo de um número complexo é igual ao módulo de seu conjugado: |z| = |z|; (1.10) • o produto de um número complexo pelo seu conjugado é igual ao quadrado de seu módulo: zz = |z|2. (1.11) As provas destes resultados são imediatas e ficam como exercício para o leitor. 1.9 Forma Polar Introduzindo as coordenadas polares r e θ no plano complexo (Figura 1.3), de modo que x = rcos(θ) e y = rsen(θ), o número z = x+ iy pode ser reescrito como z = rcos(θ) + irsen(θ) = r[cos(θ) + isen(θ)] (1.12) chamada forma polar ou trigonométrica de um número complexo. Em (1.12) o valor r é o valor absoluto de z, enquanto o ângulo θ é o argumento de z. Denota-se arg(z) = θ. Geometricamente, o argumento é o ângulo formado pelo semi-eixo real positivo e pelo segmento de reta que representa r, e pode ser obtido pela expressão θ = arctg ( y x ) , x 6= 0, y 6= 0. (1.13) Evidentemente o argumento de um número complexo é definido a menos de múltiplos inteiros de 2pi, no sentido que, se arg(z) = α, então arg(z) = α+ 2kpi, k ∈ Z. Se a parte realx ou a parte imaginária y de um número complexo z = x+ iy for nula, a determinação de sua fase torna-se um pouco mais sutil. Vejamos as possibilidades (a) Se x = 0 nosso número complexo é da forma z = 0 + iy = iy, ou seja é um número imaginário puro e o ponto que o representa está sobre o eixo imaginário. O valor de sua fase depende do sinal da parte imaginária y: 5 - 6 ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡µ r θ y x z = x+ iy = r [cos(θ) + isen(θ)] eixo real eixo imaginário a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 1.3: A forma polar. (i) se y > 0, então arg(z) = θ = pi2 (veja o número z1 na Figura 1.4); (ii) se y < 0, então arg(z) = θ = −pi2 (veja o número z2 na Figura 1.4). (b) Se y = 0 nosso número complexo é da forma z = x+ i0 = x, ou seja é um número real puro e o ponto que o representa está sobre o eixo real. O valor de sua fase depende do sinal da parte real x: (i) se x > 0, então arg(z) = θ = 0 (veja o número z3 na Figura 1.4); (ii) se x < 0, então arg(z) = θ = −pi (veja o número z4 na Figura 1.4). - 6 eixo real eixo imaginário bz1 = i, θ = pi2 bz2 = −2i, θ = −pi2 bz3 = 4, θ = 0bz4 = −7, θ = pi Figura 1.4: Alguns números complexos e seus respectivos argumentos. Agrupando estes resultados com a equação (1.13), a fase de um número complexo z = x+ iy é dada por: θ = arctg ( y x ) , se x 6= 0 e y 6= 0 pi 2 , se x = 0 e y > 0−pi2 , se x = 0 e y < 0 0 , se y = 0 e x > 0 pi , se y = 0 e x < 0 . (1.14) Exemplo 1.4 Dado z = 1 + i, temos |z| = √2 e arg(z) = arctg 11 = pi4 + 2kpi, onde k ∈ Z. Assim z = 1 + i = √ 2 [ cos ( pi 4 ± 2kpi ) + isen ( pi 4 + 2kpi )] , k ∈ Z, ou simplesmente z = 1 + i = √ 2 [ cos ( pi 4 ) + isen ( pi 4 )] . 6 Multiplicação e divisão A forma polar é particularmente útil para a multiplicação e divisão dos números complexos. Consideremos os números z1 = x1 + iy1 = r1 [ cos(θ1) + isen(θ1) ] e z2 = x2 + iy2 = r2 [ cos(θ2) + isen(θ2) ] . • O produto z1z2 fica z1z2 = r1 � cos(θ1) + isen(θ1) � r2 � cos(θ2) + isen(θ2) � = r1r2 � cos(θ1) + isen(θ1) � � cos(θ2) + isen(θ2) � = r1r2 � cos(θ1)cos(θ2) + icos(θ1)sen(θ2) + isen(θ1)cos(θ2)− sen(θ1)sen(θ2) � = r1r2 � � cos(θ1)cos(θ2)− sen(θ1)sen(θ2) � + i � cos(θ1)sen(θ2) + sen(θ1)cos(θ2) � � , e finalmente, utilizando as identidades trigonométricas cos(θ1 + θ2) = cos(θ1)cos(θ2)− sen(θ1)sen(θ2) sen(θ1 + θ2) = cos(θ1)sen(θ2) + sen(θ1)cos(θ2), obtemos z1z2 = r1r2 [ cos(θ1 + θ2) + isen(θ1 + θ2) ] (1.15) A partir de (1.15), observamos que o módulo do produto é o produto dos módulos, ou seja, |z1z2| = r1r2 = |z1||z2|, e que o argumento do produto é a soma dos argumentos, ou seja, arg(z1z2) = θ1 + θ2 = arg(z1) + arg(z2). • A razão z1z2 fica z1z2 z2z2 = r1r2 r22 � cos(θ1) + isen(θ1) � � cos(θ2)− isen(θ2) � = r1 r2 � cos(θ1)cos(θ2)− icos(θ1)sen(θ2) + isen(θ1)cos(θ2) + sen(θ1)sen(θ2) � = r1r2 � � cos(θ1)cos(θ2) + sen(θ1)sen(θ2) � + i � sen(θ1)cos(θ2)− cos(θ1)sen(θ2) � � , e finalmente, utilizando as identidades trigonométricas cos(θ1 − θ2) = cos(θ1)cos(θ2) + sen(θ1)sen(θ2) sen(θ1 − θ2) = sen(θ1)cos(θ2)− cos(θ1)sen(θ2), obtemos z1 z2 = r1 r2 [cos(θ1 − θ2) + isen(θ1 − θ2) (1.16) A partir de (1.16), observamos que o módulo da razão é a razão dos módulos, ou seja, |z1 z2 | = |z1||z2| , e que o argumento da razão é a diferença dos argumentos, ou seja, arg( z1 z2 ) = arg(z1)− arg(z2). 7 Potências Utilizando (1.15) e indução matemática, observamos que zn = rn[cos(nθ) + isen(nθ)], (1.17) expressão válida para todo n ∈ Z. A partir de (1.17) podemos escrever{ r[cos(θ) + isen(θ)] }n = rn[cos(nθ) + isen(nθ)] da qual, fazendo r = 1, obtemos a fórmula de de Moivre6 [cos(θ) + isen(θ)]n = cos(nθ) + isen(nθ) (1.18) 1.10 Problemas Propostos (1) Prove as equações 1.10 e 1.11. (2) Escreva os seguintes números complexos na forma polar (a) 2− 2i (b) i (c) 3 + 4i (d) 5 + 5i (e) −5+5i (f) −5−5i (7) Dados os números z1 = 1 + i, z2 = 1 − i e z3 = −2i, efetue as operações a seguir e represente os resultados no plano complexo. (a) z1 z2z3 (b) z81 z42 (c) z3 z1+z3 (4) Mostre que arg(z) = −arg(z) (a menos de múltiplos inteiros de 2pi). (5) Mostre que arg(1/z) = −arg(z) (a menos de múltiplos inteiros de 2pi). (6) Encontre o valor absoluto dos seguintes números (a) 1 + √ 3i (b) −9i (c) 2 + i √ 5 (d) 2− i√5 (e) 2 + 3i (f) (4 + i)3 (7) Encontre o valor absoluto e o argumento dos seguintes números (a) (−1 + i)(1−√3i) (b) 1+i 2+ √ 3i (c) (3+3i)(−2i) 2−√3i (d) (4−3i)( 12+i)4 (1− 3i4 )2(−3+4i) . (e) ( 1+i1−i ) 8 . (f) (3 + 4i)3(−1− i)6. (8) Represente no plano complexo a região representada pelas seguintes equações e ine- quações (a) |z| = 1. (b) |z − 1| = 1. (c) Re(z2) = −1. (d) Im(2z) = −1. (e) pi 4 ≤ arg(z) ≤ pi4 . (9) Utilize a fórmula de de Moivre para estabelecer as seguintes identidades (a) cos(3θ) = cos3(θ)− 3cos(θ)sen2(θ). (b) sen(3θ) = 3cos2(θ)sen(θ)− sen3(θ). (10) Encontre identidades similares às do problema anterior para cos(2θ) e cos(4θ). 6 Abraham de Moivre (1667-1754) - Matemático francês. Introduziu quantidades imaginárias na trigonometria. 8 Capítulo 2 Funções complexas 2.1 Problemas Propostos (1) Dada f(z) = z2 − 3z determine (a) f(2− i) (b) f(−i) (c) f(−4 + 2i) (2) Dada f(z) = z−1z+i determine (a) f(2− i) (b) f(−i) (c) f(−4 + 2i) (3) Dada f(z) = z 2−1 z2+1 determine (a) f(2− i) (b) f(−i) (c) f(−4 + 2i) (4) Determine as partes real e imaginária das funções a seguir (a) f(z) = z2 − 3z + 4− i (b) f(z) = 3z2 − 2z (c) f(z) = z3 − z2 (d) f(z) = 1z−1 (e) f(z) = zz+1 (f) f(z) = z−1z+1 (5) Suponha que z varie em uma região R do plano complexo. Determine a região S cor- respondente às imagens de w = f(z). Esboce as duas regiões sobre o plano complexo. (a) f(z) = iz, onde R = { z ∈ C | Re[z] ≥ 0} (b) f(z) = 3z − 1, onde R = {z ∈ C | − 1 < Re[z] < 1} (c) f(z) = z2, onde R = { z ∈ C | 0 ≤ arg[z] ≤ pi/4, |z| ≤ 1} (d) f(z) = z2, onde R = { z ∈ C | 0 ≤ arg[z] ≤ pi/2, 1 ≤ |z| ≤ 2} (6) Determine todos os valores das raízes a seguir e represente-as no plano complexo. (a) √ i (b) 3 √−1 (c) √−i (d) √−25 (e) 3 √ i (f) 4 √ 1 (g) 3 √−i (h) 8 √ 1 (i) 7 √−128 (j) √ 1 + i (k) 3 √ 1 + i (l) √ 1−√3 i (7) Determine todos as soluções das equações a seguir e represente-as no plano complexo. 9 (a) z4 + 81 = 0 (b) z3 − 64 = 0 (c) z2 − 6z + 13 = 0 (d) z4 + 5z2 − 36 = 0 (e) z6 − 7z3 − 8 = 0 (f) z4−(1−4i)z2+4i = 0 2.2 A derivada de uma função complexa Dizemos que f é diferenciável (derivável) em z se existir o limite f ′(z) = lim ∆z→0 f(z +∆z)− f(z) ∆z . (2.1) Exemplo 2.1 Usando a definição (2.1) a derivada da função complexa f(z) = z2 fica f ′(z) = lim ∆z→0 (z +∆z)2 − z2 ∆z = lim ∆z→0 z2 + 2z∆z + (∆z)2 − z2 ∆z = lim ∆z→0 2z∆z + (∆z)2 ∆z = 2z = lim ∆z→0 ∆Z(2z +∆z) ∆z = 2z. É importante observar que∆z pode tender a zero por qualquer caminho (Figura 2.1); logo a existência da derivada em (2.1) implica que o valor deste limite é o mesmo, independente do caminho tomado. - 6 rr x x+∆x y y +∆y z = x+ iy z +∆z = (x+∆x) + i(y +∆y) Re Im . ...... ..... ...... .. ................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... .... ..... .... . ................ . .... .... .... .... .... .... .... .... . .............................. ............................. ........................... ........... .............. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ............. ............ .. .. .. .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.1: ∆z → 0 por vários caminhos diferentes. Observação: todas as regras familiares de derivação - derivada de uma constante, derivada da soma (diferença), regra da potência, regra do produto, regra do quociente e regra da cadeia - são válidas para a derivação das funções complexas. Por outro lado algumas funções complexas relativamente simples não são deriváveis. O Exemplo 2.2 ilustra uma função não derivável Exemplo 2.2 Usando a definição (2.1) a derivada da função complexa f(z) = z = x − iy fica f ′(z) = lim ∆x,∆y→0 (x+∆x)− i(y +∆y)− (x− iy) ∆x+ i∆y = lim ∆x,∆y→0 ∆x− i∆y ∆x+ i∆y (2.2) Pelo caminho I da Figura 2.2 inicialmente ∆y → 0 e a derivada da equação (2.2) fica f ′(z) = lim ∆x→0 ∆x ∆x = 1. 10 Pelo caminho II da Figura 2.2 inicialmente ∆x→ 0 e a derivada da equação (2.2) fica f ′(z) = lim ∆y→0 −i∆y i∆y = −1. Logo, como o limite por caminhos diferentes resulta em valores diferentes a derivada não existe. - 6 r rff ? ?ff x x+∆x y y +∆y z = x+ iy z +∆z = (x+∆x)+ i(y +∆y)II I Re Im Figura 2.2: ∆z → 0 por dois caminhos poligonais. 2.3 Equações de Cauchy-Riemann Um conceito importante na teoria das funções complexas é o de analiticidade. Definição 1 (Analiticidade) Um função complexa f é dita analítica em um domínio D se ela é definida e diferenciável em cada ponto deste domínio. Estabeleceremos agora um critério simples para verificar se uma dada função complexa f(z) = u(x, y) + iv(x, y) é analítica, isto é, se possui derivada. Inicialmente supomos que nossa função f é analítica em um certo domínio D, logo sua derivada f ′(z) = lim ∆z→0 f(z +∆z)− f(z) ∆z existe para todos os pontos em D. Reescrevendo esta derivada usando as partes real e imaginária de f obtemos f ′(z) = lim ∆x,∆y→0 u(x+∆x, y +∆y) + iv(x+∆x, y +∆y)− u(x, y)− iv(x, v) ∆x+ i∆y . (2.3) Pelo caminho I da Figura 2.2 inicialmente ∆y → 0 e a derivada dada pela equação (2.3) fica f ′(z) = lim ∆x→0 u(x+∆x, y) + iv(x+∆x, y)− u(x, y)− iv(x, v) ∆x = lim ∆x→0 u(x+∆x, y)− u(x, y) ∆x + i v(x+∆x, y)− v(x, v) ∆x = ∂u ∂x + i ∂v ∂x . (2.4a) 11 Pelo caminho II da Figura 2.2 inicialmente ∆x → 0 e a derivada dada pela equação (2.3) fica f ′(z) = lim ∆y→0 u(x, y +∆y) + iv(x, y +∆y)− u(x, y)− iv(x, v) i∆y = lim ∆y→0 u(x, y +∆y)− u(x, y) i∆y + i v(x, y +∆y)− v(x, v) i∆y = ∂v ∂y − i∂u ∂y . (2.4b) Pela hipótese de f ser analítica f ′ existe e é única, independente do caminho tomado, logo os resultados dados pelas equações (2.4a) e (2.4b) são iguais. Igualando as partes real e imaginária de (2.4a) e (2.4b) obtemos ∂u ∂x = ∂v ∂y e ∂v ∂x = −∂u ∂y ou, usando uma notação mais econômica, ux = vy e vx = −uy (2.5) chamadas equações diferenciais de Cauchy-Riemann. Observe que o raciocínio que acabamos de desenvolver nos mostra que as partes real e imaginária de uma função complexa f(z) = u(x, y)+iv(x, y) satisfazem as equações de Cauchy-Riemann em todos os pontos onde f é analítica. A grande importância das equações de Cauchy-Riemann é no sentido recíproco: elas nos fornecem um critério simples sobre as partes real e imaginária de uma função complexa para verificar sua analiticidade. Este fato é formalizado no Teorema 2. Teorema 2 Para todos os pontos onde as funções reais u = u(x, y) e v = v(x, y) possuem derivadas parciais de primeira ordem contínuas e satisfazem as equações de Cauchy-Riemann a função complexa f(z) = u(x, y) + iv(x, y) é analítica. Exemplo 2.3 Verificar a analiticidade da função complexa f(z) = z2. Decompondo f em suas partes real e imaginária obtemos f(z) = z2 = x2 − y2 + 2ixy, logo u(x, y) = x2 − y2 e v(x, y) = 2xy. Assim temos: ux = 2x e vy = 2x, vx = 2y e uy = −2y. Uma vez que as derivadas parcias ux, vy, vx e uy são contínuas para todo ponto (x, y) ∈ R2 e também satisfazem as equações de Cauchy-Riemann, ux = vy e vx = −uy, a função f(z) = z2 é analítica para todo z ∈ C. Exemplo 2.4 Verificar a analiticidade da função complexa f(z) = z = x− iy. Como u(x, y) = x e v(x, y) = −y, temos: ux = 1 e vy = −1. Uma vez que ux 6= vy todo ponto (x, y) ∈ R2 a função f(z) = z não é analítica para todo z ∈ C. 2.3.1 Equações de Cauchy-Riemann - Forma Polar Seja f(z) = u(x, y) + iv(x, y) analítica, onde x = r cos(θ) e y = r sen(θ). Usando a regra da cadeia obtemos ∂u ∂θ = ∂u ∂x ∂x ∂θ + ∂u ∂y ∂y ∂θ = −∂u ∂x r sen(θ) + ∂u ∂y r cos(θ) (2.6a) 12 ∂v ∂θ = ∂v ∂x ∂x ∂θ + ∂v ∂y ∂y ∂θ = −∂v ∂x r sen(θ) + ∂v ∂y r cos(θ) (2.6b) ∂u ∂r = ∂u ∂x ∂x ∂r + ∂u ∂y ∂y ∂r = ∂u ∂x cos(θ) + ∂u ∂y sen(θ) (2.6c) ∂v ∂r = ∂v ∂x ∂x ∂r + ∂v ∂y ∂y ∂r = ∂v ∂x cos(θ) + ∂v ∂y sen(θ) (2.6d) Fazendo (2.6a) + r(2.6d) obtemos ∂u ∂θ + r ∂v ∂r = −∂u ∂x r sen(θ) + ∂u ∂y r cos(θ) + ∂v ∂x r cos(θ) + ∂v ∂y r sen(θ) = r sen(θ) [ − ∂u ∂x + ∂v ∂y ] + r cos(θ) [ ∂u ∂y + ∂v ∂x ] = 0, pois ux = vy e vx = −uy. Logo ∂v ∂r = −1 r ∂u ∂θ ∴ vr = −1 r uθ. (2.6e) Fazendo (2.6b) - r(2.6c) obtemos ∂v ∂θ − r ∂u ∂r = −∂v ∂x r sen(θ) + ∂v ∂y r cos(θ)− ∂u ∂x r cos(θ)− ∂u ∂y r sen(θ) = r sen(θ) [ − ∂v ∂x − ∂u ∂y ] + r cos(θ) [ ∂v ∂y − ∂u ∂x ] = 0, pois ux = vy e vx = −uy. Logo ∂u ∂r = 1 r ∂v ∂θ ∴ ur = 1 r vθ. (2.6f) As equações (2.6e) e (2.6f) são as Equações de Cauchy-Riemann na forma polar. Exemplo 2.5 Verificar a analiticidade da função complexa f(z) = z6. Reescrevendo f na forma polar obtemos f(z) = r6 [ cos(6θ) + isen(6θ) ] , onde r = |z| e θ = Arg(z). Temos u(r, θ) = r6 cos(6θ) e v(r, θ) = r6 sen(6θ), donde: ur = 6r5 cos(6θ) e vθ = 6r6cos(6θ), uθ = −6r6 sen(6θ) e vr = 6r5 sen(6θ). Uma vez que as derivadas parcias ur, vθ, uθ e vr são contínuas para todo ponto (r, θ) ∈ R2 e também satisfazem as equações de Cauchy-Riemann, ur = 1r vθ e vr = − 1r uθ, a função f(z) = z6 é analítica para todo z ∈ C. 2.4 Funções harmônicas Definição 3 (Laplaciano) Seja u = u(x, y) uma função real com derivadas parciais de segunda ordem contínuas. Define-se seu laplaciano, denotado ∇2u, como ∇2u = ∂ 2u ∂x2 + ∂2u ∂y2 = uxx + uyy . (2.7) Teorema 4 As partes real e imaginária de uma função complexa f(z) = u(x, y) + iv(x, y) analítica em um domínio D têm laplaciano nulo em D, isto é, se f é analítica, então ∇2u = uxx + uyy = 0 e ∇2v = vxx + vyy = 0 . 13 Prova: pelas equações de Cauchy-Riemann temos ux = vy ∴ uxx = vyx , uy = −vx ∴ uyy = −vxy , logo ∇2u = uxx + uyy = vyx − vxy = 0 pela igualdade das derivadas parciais mistas. A prova para v é análoga. Definição 5 Uma função u = u(x, y) é dita harmônica se ∇2u = 0. Observe que pelo Teorema 4 as partes real e imaginária de uma função complexa f(z) = u(x, y) + iv(x, y) analítica são funções harmônicas. Neste caso dizemos que v = v(x, y) é a função harmônica conjugada 1 de u = u(x, y). Dada uma função harmônica podemos encontrar sua conjugada utilizando as equações de Cauchy-Riemann. o Exemplo 2.6 ilustra este processo. Exemplo 2.6 Consideremos a função u(x, y) = x2 − y2 + 1. (a) Verifique se u é harmônica. ux = 2x ∴ uxx = 2 ; uy = −2y ∴ uyy = −2 logo ∇2u = uxx + uyy = 2− 2 = 0. Assim, como ∇2u = 0, temos que u é harmônica. (b) Determine sua harmônica conjugada v = v(x, y). Como ux = vy temos que vy = 2x, donde v(x, y) = ∫ 2x ∂y = 2xy +H(x). Por outro lado vx = −uy, donde 2y +H ′(x) = −(−2y) ∴ H ′(x) = 0 ∴ H(x) = c. Assim v(x, y) = 2xy + c. 2.5 Problemas Propostos - Derivadas de funções com- plexas (1) Calcule a derivada da função (a) f(z) = z3+8z2−4z+2 (b) f(z) = z4 − z2 + 3− i (c) f(z) = (z2 − 3z)3 (d) f(z) = √ z2 − z + 3i (e) f(z) = 11−z (f) f(z) = z 2−1 z2+1 (2) Determine a derivada da função no ponto zo 1 O termo conjugada empregado aqui não tem nhenhuma relação com o conjugado de um número complexo 14 (a) f(z) = 3iz2 + 8z + 4i, zo = 1 + 2i (b) f(z) = (z2 − i)2, zo = 3− 2i (c) f(z) = 11−z , zo = 1 (d) f(z) = z−1z+1 , zo = 2− 4i (3) Para cada função a seguir calcule a derivada usando (2.4a) e também usando (2.4b). Verifique se os resultados coincidem. (a) f(z) = 3z + 2i (b) f(z) = z + 1z (c) f(z) = z3 − 32 + z (d) f(z) = 11−z (e) f(z) = z+1z−1 (f) f(z) = (z2 + 3z)2 (4) Verifique quais funções são analíticas (a) f(z) = z2 + 2Re[z] (b) f(z) = 11−z , z 6= 1 (c) f(z) = z + z (d) f(z) = |z|2 (e) f(z) = Im[z] + z2 (f) f(z) = ex [ cos(y) + isen(y) ] (5) Determine uma função analítica f(z) = u(x, y) + iv(x, y) para a qual (a) u(x, y) = x (b) v(x, y) = y (c) v(x, y) = xy (d) u(x, y) = xy (e) u(x, y) = 2x3 − 6xy2 (f) u(x, y) = excos(y) (6) Mostre que cada função a seguiré harmônica e determine a função analítica f(z) = u(x, y) + iv(x, y) correspondente (a) v(x, y) = 2xy + 2y (b) u(x, y) = ln(x2 + y2) (c) v(x, y) = cos(x)senh(y) (7) Mostre que as funções são analíticas (sugestão: use a forma polar das Equações de Cauchy-Riemann) (a) f(z) = z4 (b) f(z) = 1z4 , z 6= 0 (c) f(z) = ln(r) + iθ (8) Para quais valores da constante k a função u(x, y) = sen(x)cos(ky) é harmônica? Para cada um destes valores determine uma função complexa analítica tal que f(z) = u(x, y) + iv(x, y). 15 Capítulo 3 Função exponencial complexa 3.1 Problemas Propostos (1) Use as Equações de Cauchy-Riemann para mostrar que a função exponencial complexa f(z) = ez é analítica para todo z ∈ C. (2) Calcule ez para (a) z = ipi4 (b) z = −ipi4 (c) z = i 3pi4 (d) z = ipi3 (e) z = −ipi3 (f) z = 2+ipi4 (g) z = 1 + i (h) z = 2 + i5pi (3) Determine as partes real e imaginária da função (a) f(z) = e3z (b) f(z) = ez 2 (c) f(z) = ez 3 (d) f(z) = ee z (4) Mostre que ez e ez são conjugadas. (5) Escreva cada número complexo a seguir na forma exponencial z = r [ cos(θ) + isen(θ) ] = reiθ. (a) z = i (b) z = −i (c) z = √ i (d) z = √−i (e) z = 1 + i (f) z = 1− i (g) z = 2 + i √ 3 (h) z = −2 + i√2 (6) Mostre que f(z) = f(x+ iy) = ex [ cos(ky)+ isen(ky) ] é analítica se somente se k = 1. (7) Verifique se a função é harmônica. Caso seja determine sua conjugada. (a) u(x, y) = 2excos(y) (b) u(x, y) = e x2− y2 2 cos(xy) (c) u(x, y) = exycos ( x2− y2 2 ) 16
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