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J PÚBLICO E PRIVADO Os conceitos de "público" e "privado" podem ser interpretados como a tradução em termos espaciais de ' "coletivo" e "individual"\ Num sentido mais absoluto, podemos dizer:•público é uma área acessível a todos a qualquer momento; a responsabilidade por sua manutenção é assumida coletivamente. Privada é uma área cujo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que tem a responsabilidade de mantê-la .! Esta oposição extremo entre o público e o privado - como o oposição entre o coletivo e o individual - resultou num clichê, e é tão sem matizes e falsa como o suposto oposição entre o geral e o específico, o objetivo e o subjetivo. Tais oposições são sintomas da desintegração das relações humanos básicos. Todo mundo quer ser aceito, quer se inserir, quer ter um lugar seu. Todo comportamento no sociedade em geral é, na verdade, determinado por papéis, nos quais a personalidade de cada indivíduo é afirmada pelo que os outros vêem nele. No nosso mundo, experimentamos uma polarização entre a individualidade exagerado, de um lodo, e o coletividade exagerado, de outro. Coloco-se excessiva ênfase nestes dois pólos, embora não exista uma único relação humano que nos interesse como arquitetos que se concentre exclusivamente em um indivíduo ou em um grupo, ou mesmo que se concentre de modo exclusivo em todos os outros, ou seja, no "mundo externo". É sempre uma questão de pessoas e grupos em inter-relação e compromisso mútuo, i.e., é sempre uma questão de coletividade e indivíduo, um em face do outro. 12 liÇÕES DE ARQUITETURA 'Wenn aber der lndividualismus nur einen Teil des Menschen erfassf so erfassf der Koflektivismus nur den Menschen ais Teil: zur Ganzheif des Menschen, zum Menschen ais Ganzes dringen beide nicht vor. Der lndividualismus sieht den Menschen nu r in der Bezogenheif auf sich selbst, aber der Kollektivismus sieht den Menschen überhaupt nicht, er sieht nur die "Gesetlschaft", Beide Lebensanschauungen sind Ergebnisse oder Aeusserungen des gleichen menschlichen Zustands. Dieser Zusfand ist durch das Zusammensfromen von kosmischer und sozialer Heimlosigkeif, von Weltangsf und Lebensangst, zu einer Daseinsverfassung der Einsamkeit gekennzeichnet, wie es sie in diesem Ausmass vermutlich noch nie zuvor gegeben hat. Um sich vor der VerzweiRung zu relfen, mil der ihn siene Vereinsamung bedroht, ergrei& der Mensch den Ausweg, diese zu glorifizieren. Der moderne lndividualismus hat im wesentlichen eine imaginare Grundlage. An diesem Charakter scheitert er, denn di e lmagination reicht nicht zu, die gegebene Situation faktisch zu bewiiltigen. Der moderne Kollektivismus ist die letzte Schranke, die der Mensch vor der Begegnung mil sich selbst aufgerichtet hat .. . ; im Kollektivismus gibt sie, mil dem Verzicht auf die Unmiitelbarkeit persõnh"cher Entscheiclung und Veranfwortung, sich selber auf In beiden Falfen ist sie unfahig, den Durchbruch zum Anderen zu volfziehen: nur zwischen echten Personen gibt es echte Beziehung. Hier gibt es keinen anderen Ausweg ais den Aufstand der Person um der Befreiung der Beziehung willen. lch sehe am Horizont, mil der Langsamkeit a/ler Vorgange der wahren Menschengeschichte, eine grosse Unzufriedenheit heraufkommen. Man wird sich nicht mehr b/oss wie bisher gegen eine bestimmte herrschende Tendenz um anderer Tendenz willen emporen, sondem gegen die falsche Realisierung eines grossen Strebens, des Strebens zur Gemeinschah, um der echten Realisierung witlen. Man wird gegen die Verzerrung und für die reine Gesta/f kiimpfen. lhr ersfer Schritf muss die Zerschlagung einer falschen Alternafive sein, der Alternafive "lndividualismus oder Kollektivismus".; (Marlin Buber, Das Problem des Menschen, Heidelberg, 1948, também publicado em Forum 7·1959, p. 249) I"Se, porém, o individualismo compreende apenas parte da • humanidade, o coletivismo só compreende a humanidade como parte; nenhum deles apreende o todo da humanidade, a humanidade como um todo. O individualismo vê a humanidade apenas na relação consigo mesmo, mas o coletivismo não vê o homem de maneira nenhuma, vê apenas a 'sociedade'. Ambas as visões de mundo são produtos ou expressões da mesma condição humana. Esta condição caracteriza-se pela confluência de um desamparo cósmico e social, de uma angústia diante do mundo e da vida, por um estado existencial de solidão, que provavelmente nunca se manifestaram antes nesse nível. )Na tentativa de fugir do desespero trazido pelo isolament~,.., o homem, como escapatória, procura glorificá-lo. O individualismo moderno possui um fundamento imaginário. Neste aspecto, ele fracassa, pois a imaginação é incapaz de lidar factualmente com uma situação dada. O coletivismo moderno é a última barreira que o homem construiu para evitar o encontro consigo mesmo { ... ]; no coletivismo, com a renúncia à imediaticidade da decisão e da responsabilidade pessoal, ela se rende. Em ambos os casos é incapaz de efetuar uma abertura para o outro: só entre pessoas reais pode haver uma relação real. Não há alternativa, neste caso, a não ser a rebelião do indivíduo em favor da libertação do relacionamento. Veio surgir no horizonte, com a lentidão de todos os processos da história humana, um grande descontentamento. As pessoas não mais se levantarão como fizeram no possàóo conlra cer'la lendência predominante e a favor de uma tendência diferente, mas contra a falsa realização de um grande anseio, o anseio pelo comunitário, em nome da verdadeira realização. As pessoas lutarão contra a distorção e pela pureza. O pníneiro passo deve ser a destruição de uma Falsa escolha, a escolha: 'individualismo ou coletivismo'." - Os conceitos de "público" e "privado" podem ser vistos e compreendidos em termos relativos como uma série de qualidades espaciais que, diferindo gradualmente, referem-se ao acesso, à responsabilidade, à relação entre a propriedade privada e a supervisão de unidades espaciais específicas. DOM ÍNIO PÚBLICO 13 -2 DEMARCACOES I TERRITORIAIS Uma área aberta, um quarto ou um espaço podem ser concebidos como um lugar mais ou menos privado ou como uma área pública, dependendo do grau de acesso, da forma de supervisão, de quem o utiliza, de quem toma conta dele e de suas respectivas responsabilidades. O seu quarto, por exemplo, é um espaço privado em comparação com a sala de estar e a cozinha da casa em que mora. Você tem a chave do seu quarto, do qual você mesmo cuida. O cuidado e a manutenção da sala de estar e da cozinha são basicamente uma responsabilidade compartilhada por todos os que moram na casa, que têm a chave da porta de entrada. Numa escola, cada sala de aula é privada em comparação com o ha/1 comunitário. Este ha/1, por sua vez, é, como a escola em sua totalidade, privado em comparação com a rua. RUAS E RESIDÊNCIAS, BALI (1 ·41 Os quartos de várias habitações em Bali são muitas vezes pequenas casas construídas separadamente, agrupadas em volta de uma espécie de pátio interno, no qual se entra por um portão. Depois que atravessamos o portão, não temos a sensação de que estamos entrando numa residência, embora isso seja o que acontece de fato. As unidades separadas da residência - área de cozinha, dormitórios e, às vezes, uma câmara mortuária e um berçário - possuem uma intimidade maior e são, certamente, de acesso menos fácil para um estranho. Deste modo, a casa abrange uma seqüência de gradações distintas de acesso. 14 LIÇÕES DE ARQUI TE TU RA • ~ • HJ I 2 • r=r=ll ~ ~lei ~~ 1. Dormitório para os pais 5. Dormitório 2. Altar 6. Cozinha 3. Templo fami liar 4. Área de estar/convidados 7. Depósito de arroz 8. Eira Muitos ruas em Boli constituem o território de uma família extenso.Nessas ruas estão situados os cosas dos diversos unidades familiares, que juntos compõem o família extenso. Essas ruas têm um portão de entrado, que é muitos vezes provido de uma pequeno cerco de bambu encarregado de manter os crianças e os animais do lodo de dentro, e, embora sejam basicamente acessíveis o qualquer um, tendemos o nos sentir como intrusos ou, no máximo, como visitantes. Além das diversos nuances nos demarcações territoriais, os balineses fazem uma distinção dentro do espaço público: o área do templo, que compreende uma série de recintos sucessivos com entrados claramente marcados, aberturas nas cercos ou portões de pedra (conhecidos como tjandi bentar). Esta área do templo serve como ruo e como pfayground poro os crianças. Poro o visitante também é acessível como ruo - pelo menos quando não estão acontecendo manifestações religiosos - , mos, mesmo assim, o visitante sente certo relutância. Como alguém estranho ao lugar, sente-se honrado por ter permissão de entrar. No mundo inteiro encontramos gradações de demarcações territoriais, acompanhadas pela sensação de acesso. Às vezes o grau de acesso é uma questão de legislação, mas, em geral, é exclusivamente uma questão de convenção, que é respeitada por todos. EDIFÍCIOS PúBLICOS Os chamados edifícios públicos, tais como o ha/1 do correio central ou uma estação ferroviário , podem (pelo menos durante os horas em que ficam abertos) ser vistos como um espaço de ruo no sentido territoria l. Outros exemplos de graus diferenciados de acesso ao públ ico estão listados abaixo, mos o listo, naturalmente, pode ser ampliado poro incluir outros experiências pessoais: • os pátios quadrangulares dos universidades no Inglaterra, como em Oxford e Combridge; são acessíveis o todos pelos pórticos, formando uma espécie de subsistema de caminhos poro pedestres que atravesso todo o centro do cidade. • edifícios públicos, como, por exemplo, o ha/1 do correio, o estação ferroviário, etc. • os pátios de blocos de moradia em Paris, onde o concierge em geral reino supremo. • ruas "fechados", encontrados em grande variedade por todo o mundo, às vezes patrulhados por guardas de segurança privado. DOMÍN IO PÚBL ICO 15 Estação Centro/, Hoorlem, Holanda ""'"" ç 6 7 lO I I Ruo holandesa, século XIX I . I tl81\l•t ,.,............ . .. UD.JITllJJillU ~\\~i\'ii~ltfr.1 J ... ... ~~ ·~ P!l~'l''~1W'"\l! . ' • • lt.-l ~':.~· •• . •• ' . ' .. " .-.. .. ' . ... 10 :.· ·.:· I .. ·. ·. ALDEIA DE MóRBISCH, ÁUSTRIA {6·81 As ruas na aldeia austríaca de Morbisch, perto da fronteira húngaro (publicado em Forum 9-1959), têm portões largos, como os que dão acesso a fazendas - mas aqui dão acesso a ruas laterais ao longo das quais se situam residências, estábulos, celeiros e hortas. .... Estes exemplos mostram como são inadequados os termos público e privado, enquanto as áreas chamadas semiprivadas ou semipúblicas, que muitas vezes estão espremidas no zona intermediária, são equívocas demais para acomodar as sutilezas que devem ser levadas em conta ao projetar cada espaço e cada área., • Onde quer que indivíduos ou grupos tenham a oportunidade de usar partes do espaço público para seus próprios interesses, e apenas indiretamente no interesse dos outros, o caráter público do espaço é temporária ou permanentemente colocado em questão por meio do uso. Exemplos desse tipo podem ser encontrados em qualquer parte do mundo. Em Bali - mais uma vez usada como exemplo - o arroz é espalhado para secar em amplas áreas dos caminhos 16 d(Õ fS DE AROU TE'UiA públicos e até mesmo no meio-fio das estradas de macadame, onde permanece intocado pelos veículos e pelos pedestres, pois todos estão conscientes da importância da contribuição de cada membro da comunidade para a colheita de arroz. 191 Um outro exemplo de mistura do público com o privado é o roupa pendurada para secar nas ruas estreitas de cidades do sul da Europa: uma expressão coletiva de simpatia pelo lavagem de roupa de cada família, que fica pendurada numa rede de cabos que atravessa a rua de uma casa a outra. Nápoles Outros exemplos são as redes e navios sendo reparados nos cais de aldeias e portos pesqueiros, e o Dogon: a lã estirado no praça da aldeia. O uso do espaço público por residentes, como se fosse "privado", fortalece a demarcação por parte do usuário desta área aos olhos dos outros. A dimensão extra dada ao espaço público por essa demarcação sob a forma de uso para objetivos privados será discutida detalhadamente mais adiante, mas antes devemos procurar saber quais as conseqüências que traz para o arquiteto. BIBLIOTECA NACIONAL, PARIS, 1862-1868 I H. lABROUSTE (12) No principal sala de leitura da Biblioteca Nacional em Paris, os espaços de trabalho individual, dispostos um em frente ao outro, são separados por uma "zona" média mais elevada; as lâmpadas no centro dessa prancha fornecem luz paro as quatro superfícies de trabalho diretamente adjacentes. Esta zona central é mais acessível do que os espaços de trabalho individual, mais baixos, e tem como claro objetivo o uso compartilhado por aqueles que se sentam de ambos os lados. EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS (ENTRAAL BEHEER ( 13·19) Há muitos anos, antes de se estabelecer a moda de "escrivaninha lisa", as escrivaninhas dos escritórios eram providas de pranchas que, quando as escrivaninhas eram colocadas uma contra a outra, formavam uma zona central semelhante às que dividem as mesas de leitura da Biblioteca Nacional em Paris. Por meio dessa articulação, reserva-se um lugar para os objetos compartilhados por diversos usuários, tais como telefones e vasos. O espaço sob as pranchas cria uma área maior de armazenamento privado para cada usuário individual. A articulação em termos de maior ou menor acesso (público) também pode revelar sua utilidade nos detalhes. T.U..PO l Af(AAl E lAioiPQ t FIAS( IAO 13 12 14 DOM ÍNIO PÚBliCO 17 16 7 18 18 liÇÕES DE ARQUITETURA Portas de vidro entre espaços igualmente públicos e portanto igualmente acessíveis, por exemplo, proporcionam ampla visibilidade de ambos os lados, de modo que as colisões podem ser facilmente evitadas. Portas sem painéis transparentes têm de dar acesso a espaços mais privados, menos acessíveis. Quando um código desse tipo é adotado coerentemente em todo o edifício, é entendido racional ou intuitivamente por todos os usuários do prédio e assim pode contribuir paro esclarecer os conceitos subjacentes à organização do acesso. Uma classificação adicional pode ser obtida mediante a forma dos painéis de vidro, o tipo do vidro empregado: semitransparente ou opaco, ou a meia-porta . Quando, ao projetar cada espaço e segmento, temos consciência do grau de relevância da demarcação territorial e das formas concomitantes das possibilidades de "acesso" aos espaços vizinhos, podemos expressar essas diferenças pela articulação de forma, material, luz e cor, e introduzir certo ordenamento no projeto como um todo. Isto, por sua vez, pode aumentar a consciência dos moradores e visitantes quanto à composição do edificio, formado por ambientes diferentes na que diz respeito ao acesso. O grau de acesso de espaços e lugares fornece padrões para o projeto. A escolha de motivos arquitetônicos, sua articulação, forma e material são determinados, em parte, pelo grau de acesso exigido por um espaço. DO MÍNIO PÚBl iCO 19 -3 DIFERENCIACAO , TERRITORIAL 20 21 22 23 24 I ' I l .n·~ ' ~I' I, . .. _L~ I ' ~~ -~ J . I ~~j 'f'~D Escola Montessori Delft v ... -. .. / ,.. ~ ..~- - --...... ------ .... -- --......._~- ' 1 20 llÇÕES DE ARQUITETURA Holel Solvoy, Bruxelas, 1896/V. Horlo {ver lambém página84) Ao marcar as gradações de acesso público às diferentes áreas e partes de um edifício em uma planta, obtemos uma espécie de mapa mostrando a "diferenciação territorial" . Este mapa mostrará claramente que aspectos de acesso existem na arquitetura, quais são a s demarcações de áreas específicas e a quem se destinam, e que espécie de divisão de responsabilidades pode ser esperada no que diz respeito aos cuidados e à manutenção dos diferentes espaços, de modo que essas forças possam ser intensificadas (ou atenuadas) na elaboração posterior da planta . DOM ÍNIO PÚ BLICO 21 25 26 27 28 29 4 ZONEAMENTO TERRITORIAL 30 22 l iÇÕES DE ARQU ITETURA O caráter de cada área dependerá em grande parte de quem determina o guarnecimento e o ordenamento do espaço, de quem está encarregado, de quem zela e de quem é ou se sente responsável por ele. EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS (ENTRAAL BEHEER (30, 31) Os efeitos surpreendentes obtidos pelos funcionários do Centraal Beheer na maneira como ordenaram e personalizaram o espaço de seus escritórios com cores de sua escolha, vasos e objetos de estimação, não são apenas a conseqüência lógica do fato de o acabamento dos interiores ter sido deliberadamente entregue aos usuários do edifício. Embora a nudez do interior severo e cinzento seja um convite DOMÍNIO PUBliCO 23 31 32 33 óbvio para que os usuários dêem os toques de acabamento ao espaço de acordo com seus gostos pessoais, isto, por si só, não é garantia de que irão fazê-lo. É preciso algo mais para que isso aconteça: para começar, a própria forma do espaço deve oferecer as oportunidades, incluindo os acessórios básicos, etc., para que os usuários preencham os espaços de acordo com suas necessidades e desejos pessoais. Mas, além disso, é essencial que a liberdade de tomar iniciativas pessoais esteja presente na estrutura organizacional da instituição, e este aspecto tem 24 l iÇÕES DE ARQUITETURA conseqüências muito maiores do que se pode pensar à primeira vista. Pois a questão fundamental é saber quanta responsabilidade a alta direção está disposta a delegar, isto é, quanta responsabilidade será dada aos usuários individuais dos escalões mais baixos. É importante ter em mente que, neste caso, um empenho tão excepcional para investir amor e cuidado no ambiente de trabalho só se tornou possível porque a responsabilidade de ordenamento e acabamento dos espaços foi deixada aos usuários, de maneira muito explícita. Foi graças a isso que os oportunidades oferecidas pelo arquiteto foram efetivamente aproveitadas, gerando um resultado de êxito surpreendente. Mas, se este edifício foi originalmente construído como uma expressão espacial da necessidade de um ambiente mais humano (embora muitos suspeitassem que isso teria sido motivado por considerações relativas ao recrutamento de pessoal), há no momento uma tendência para a desumanização, em grande parte decorrente de cortes nos custos, que afetam particularmente o quadro de funcionários. Mas pelo menos pode-se dizer que o edifício oferece uma resistência louvávél a essa tendência, e que, com um pouco de sorte, conseguirão conservar o seu estilo. O que desaponta é que o que pensávamos ser um passo inicial rumo a uma responsabilidade maior para com os usuários revelou ser apenas o último passo que pode ser dado no momento. Hoje, isto é, em 1990, restou muito pouco da decoração expressiva e colorida dos ambientes de trabalho. O apogeu da expressividade pessoal da década de 1970 deu lugar à limpeza e à ordem. Parece que o impulso de expressão pessoal desapareceu e que neste momento as pessoas tendem mais .ao conformismo. Talvez em razão do medo diante do crescente desemprego da década de 1980, considera-se mais sensato assumir uma posição menos extrovertida, e os efeitos dessa situação já podem ser vistos na atmosfera fria e impessoal da maioria dos escritórios de hoje. FACULDADE DE ARQUITETURA DO M IT, (AMBRIDGE, USA OFICINA DE TRABALHO 1967 (32, 33) O grau de influência que os usuários podem exercer, em casos extremos, sobre seu ambiente de trabalho ou de moradia é claramente demonstrado nos ajustes feitos à arquitetura existente pelos estudantes de arquitetura do MIT. Os estudantes opuseram-se a ter de trabalhar em pranchetas de desenho arrumadas em filas longas e rígidas, todas voltadas na mesma direção. Usando restos de material de construção, eles construíram o tipo de espaço que queriam - no qual podiam trabalhar, comer, dormir e receber seus orientadores. Seria de esperar que cada novo grupo de estudantes desejasse fazer seu próprio ajuste, mas a situação evoluiu de outra maneira. O resultado da feroz disputa com as autoridades loca is de prevenção a incêndios foi que todos as estruturas teriam de ser derrubadas, a menos que um sistema completo de sprinklers fosse instalado. Depois que essa providência foi tomada, a situação tornou-se permanente, e o ambiente, se é que ainda existe, pode ser visto como um monumento ao entusiasmo de um grupo de estudantes de arquitetura. Mas não devemos nos surpreender se tudo já não foi eliminado (ou venha a sê-lo) - a burocracia da administração centralizadora voltou a assumir o controle. A influência dos usuários pode ser estimulada, pelo menos nos lugares certos, i.e., onde se pode esperar o envolvimento necessário; e como isto depende do grau de acesso, das demarcações territoriais, da organização da manutenção e da divisão de responsabilidades, é essencial que o projetista esteja plenamente consciente desses fatores nas suas gradações adequadas. Nos casos em que a estrutura organizacional impede os usuários de exercerem qualquer influência pessoal em seu ambiente, ou quando a natureza de determinado espaço é tão pública que ninguém se sente inclinado a exercerem influência nele, não há motivo para que o arquiteto tente fazer uma contribuição nesse sentido. No entanto, o arquiteto ainda assim pode tirar vantagem da reorganização que o ato de ocupar um novo edifício sempre requer e tentar exercer alguma influência na reavaliação da divisão de responsabilidades, pelo menos no que diz respeito ao ambiente físico. Uma coisa pode levar à outra. Pelo simples fato de apresentar argumentos capazes de assegurar à alta direção de que delegar responsabilidades pelo ambiente aos usuários não resulta necessariamente em caos, o arquiteto coloca-se em posição de contribuir para melhorar as coisas, e certamente é seu dever fazer pelo menos uma tentativa nesse sentido. ESCOLA MONTESSORI, DELFT (34, 35) Uma prancha de madeira acima da porta, com uma largura extra para que sobre ela possam ser colocados objetos - como neste caso entre a sala de aula e o ha/1-, presta-se mais a ser usada se for acessível pelo lado adequado, i.e. , pelo lado de dentro da sala de aula. A estante acima pode criar um efeito estético agradável se a vidraça for recuada, mas é improvável que seja usada. EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS (ENTRAAL BEHEER (36·39) Embora o cuidado pelos espaços dos escritórios no edifício Centraal Beheer, nos quais cada funcionário tem sua própria ilha particular para trabalhar, seja da responsabilidade dos usuários, nenhum membro do quadro de funcionários sente-se diretamente responsável pelo espaço central do edifício. A área verde neste espaço central é mantida por uma equipe especial (cf. Obras DOMÍNIO PÚBLICO 25 3A 35 36 37 38 39 40 Públicas), e os quadros nas paredes são colocados por uma equipe de profissionais. Estes empregados também fazem seu trabalho com grande dedicação e cuidado, mas há uma diferença de atmosfera marcante entre a área comunitária e os espaços individuais de trabalho com toda a sua diversidade. Nos balcões de lanches deste espaço central, o serviçoé feito pela mesma moça todo dia; o serviço de lanches foi organizado de tal modo que cada garçonete foi alocada num balcão específico. Ela se sentia responsável por aquele balcão e, com o tempo, acabou por considerá-lo seu 26 liÇÕE S DE ARQUITETUR A domínio, dando-lhe um toque pessoal. Estes balcões de café já foram removidos, e bancos e máquinas de café foram instalados em seu lugar. Todo o edifício está passando por uma renovação e uma limpeza, e durante este processo um grande número de ajustes será feito para atender aos requisitos de um local de trabalho contemporâneo. (ENTRO MUSICAL VREDENBURG 140) A idéia subjacente que teve êxito no Centraal Beheer não se aplica aos balcões de lanches do Centro Musical em Utrecht. Ali a situação varia consideravelmente de um concerto para outro, com diferentes balcões e diferentes balconistas servindo o público. Já que, no caso, não se esperava uma afinidade especial entre os empregados e os espaços específicos de trabalho, havia motivo suficiente para que as áreas de lanches fossem completadas e inteiramente mobiliadas pelo arquiteto. Em ambos os edifícios - no Centraal Beheer e no Centro Musical - as paredes dos fundos são providas de espelhos. No primeiro, porém, eles foram instalados pelos funcionários e no segundo foram escolhidos pelo arquiteto de acordo com os mesmos princípios gerais que regem todo o edifício. Os espelhos da parede dos fundos permitem que se possa ver quem está à frente, atrás e perto de nós. Eles evocam as pinturas de teatro de Manet 141), que usou espelhos para desenhar o espaço dentro do plano do quadro e, assim, definir o espaço mostrando as pessoas e como estão agrupadas. O Centro Musical tem um quadro de funcionários competente e dedicado que cuida do lugar. O mesmo não pode ser dito, por exemplo, dos vagões de refeição das ferrovias holandesas: os garçons constantemente trocam de trem. Seu único compromisso consiste em deixar o vagão limpo e asseado para o turno seguinte. Imagine como as coisas seriam diferentes se o mesmo garçom trabalhasse sempre no mesmo trem. Embora o vagão-restaurante tenha desaparecido - dos trens holandeses pelo menos-, uma nova forma de serviço surgiu nas viagens aéreas. Mas as refeições servidas nos aviões são mais uma imposição ao passageiro do que um serviço; são servidas em horas que convêm mais à companhia do que ao passageiro (além de serem muito caros, pois estão incluídas no preço já bastante alto da passagem). Do lufthansa Bordbuch, 6/88 41 42 43 44 S DE USUÁRIO A MORADOR A tradução dos conceitos de "público" e "privado" à luz de responsabilidades diferenciadas torna mais fácil para o arquiteto decidir onde devem ser tomadas medidas para que os usuários/ habitantes possam dar suas contribuições ao projeto do ambiente e onde isto é menos relevante. Na organização de um projeto em função de plantas-baixa s e de cortes, e também de acordo com o princípio das instalações, podem-se criar as condições para um maior senso de responsabilidade e, conseqüentemente, também um ma ior envolvimento no arranjo e no mobiliamento de uma á rea. Deste modo os usuários tornam-se moradores. EsCOLA MONTESSORI, DELFT 144-47) As solos de aula desta escalo são concebidos como unidades autônomos, pequenos lares, por assim dizer, já que todas estão situados ao longo do ha/1 do escola, como uma ruo comunitária. A professora, a "tia", de cada casa decide, junto com os crianças, que aparência terá o lugar e, portanto, qual será o seu tipo de atmosfera. Cada solo de aula também tem seu pequeno vestíbulo, em vez do usual espaço comunitário para toda a escola, que em geral sign ifica a ocupação total do espaço por filas de cabides e suo inutilizoção para qualquer outro fim. E, se cada sala de aula tivesse seu próprio banheiro, isto também 28 LIÇÕES DE ARQUITEIURA contribuiria para aprimorar o sentido de responsabilidade da criança (a proposto foi rejeitada pelas autoridades educacionais sob o pretexto de que seriam necessários banheiros separados paro meninos e meninos- como se fosse assim na cosa deles-, o que exigiria o dobro de banheiros]. É perfeitamente concebível que os crianças de cada solo mantenham seu "lar" limpo, como os pássaros fazem com seu ninho, dando deste modo expressão à ligação emocional com seu ambiente diário. A idéia Montessori, no verdade, compreende os chamados deveres domésticos como porte do programa diário para todas as crianças. Assim, dó-se muito ênfase ao cuidado com o ambiente, fortalecendo com isso o afinidade emocional das crianças com o espaço à suo volta. Cada criança também pode trazer suo próprio planto para a sala de aula e cuidar dela. (A consciência do ambiente e a necessidade de cuidar dele ocupam um lugar proeminente no conceito de Montessori. Exemplos típicos são o tradição de trabalhar no assoalho sobre tapetes especiais - pequenas áreas temporárias de trabalho que são respeitadas pelos outros -e a importância atribuída ao hábito de arrumar as coisas em armários abertos.] Um passo à frente, no sentido de uma abordagem mais pessoal poro os espaços que circundam diariamente os crianças, incluiria o possibilidade de regular o aquecimento central de cada solo. Isso aumentaria o consciência das crianças quanto ao fenômeno do calor e ao cuidado que temos de tomar para nos mantermos aquecidos, ao mesmo tempo em que os tornaria mais conscientes dos usos do energia. Um "ninho seguro" - um espaço conhecido à nossa volta, onde sabemos que nossa s coisas estão seguras e onde podemos nos concentra r sem sermos perturbados pelos outros - é a lgo de que cada indivíduo preciso tanto quanto o grupo. Sem isso, não pode haver colaboração com os outros. Se você não tem um lugar que possa chamar seu, você não sabe onde está! Não pode haver aventura sem uma base para onde retornar: todo mundo precisa de a lguma espécie de ninho para pousar. O domínio de um grupo particular de pessoas deveria ser respeitado tanto quanto possível pelos "estranhos". Por esta razão, há certos riscos ligados ao chamado uso multifuncional. Vamos tomar como exemplo uma sala de aula: se é usado poro outros finalidades foro do horário escolar, por exemplo, para atividades do vizinhança, toda a mobília tem de ser deslocado temporariamente e, claro, nem sempre é colocada de volto a seu lugar adequado. Em ta is circunstâncias, figuras de borro modelado deixados para secar, por exemplo, podem ser quebradas "acidentalmente" com facilidade, ou então o apontador de lápis de alguém pode desaparecer. 45 DOMIN10 PÚBliCO 29 46 47 É importante que as crianças possam exibir as coisas que fizeram, digamos, na aula de trabalhos manuais, sem medo de que possam ser destruídas, e que possam também deixar trabalhos inacabados sem que haja o perigo de serem retirados ou "arrumados" por "estranhos". Afinal de contas, uma faxina completa feita por outra pessoa pode fazer 30 liÇÕES DE ARQUITETURA alguém sentir-se perdido em seu próprio espaço na manhã seguinte. Uma sala de aula, concebida como o domínio de um grupo, pode mostrar sua própria identidade ao resto da escola se lhe for dada a oportunidade de fazer umo exposição das coisas com as quais o grupo estó especialmente envolvido (coisas que as crianças fizeram dentro ou fora da sala de aula). Isto pode ser executado de modo informal usando-se a divisória entre o ha/1 e a sala de aula como espaço de exposição e abrindo-se muitas janelas com peitoris generosos na divisório. Um pequeno mostruário (neste caso, até iluminado) é um desafio para o grupo apresentar-se de maneira mais formal. O exterior da sala de aula pode então funcionar como uma espécie de "vitrine" que mostra o que o grupo tem a "oferecer". Desse modo, cadaturma pode apresentar uma imagem com que os outros podem se relacionar e que marca a transição entre cada sala de aula e o espaço comunitário do ha/1. 1 ESCOlAS APOLLO 148-50) Se o espaço entre as solas de aula foi usado para criar áreas semelhantes a alpendres, como na escola Montessori de Amsterdom, essas áreas podem servir como lugares de trabalho adequados onde se pode estudar sozinho, i.e. , sem estar na sala de aula mas também sem ficar isolado desta. Esses lugares consistem numa superfície de trabalho com iluminação própria e num banco encostado a uma parede baixa. Para regular o contato entre a sala de aula e o ha/1 da maneira mais sutil possível, foram instaladas meias-portas, cuja ambigüidade pode gerar o grau adequado de abertura para o ha/1 e, ao mesmo tempo, oferecer o isolamento necessário a cada situação. Aqui encontramos mais uma vez (como na escola de Delft) o mostruário de vidro contendo o museu-miniatura e a exposição da sala de aula. r ~--- - ~· ----------1-------- r-~~ I I I I I I I I I I I !I ; : DOM NIO PUBL CO 31 48 49 50 51 6 O "INTERVALO" O significado mais amplo do conceito de intervalo foi introduzido em Forum 7, 1959 (lo plus grande réolité du seuil) e em Forum 8, 1959 (Dos Gestolt gewordene Zwischen: the concretizotion of the in-between) A soleira fornece o chove poro o transição e o conexão entre áreas com demarcações territoriais divergentes e, no qualidade de um lugar por direito próprio, constitui, essencialmente, o condição espacial poro o encontro e o diálogo entre áreas de ordens diferentes. 32 LIÇÕ ES DE AROUIHIURA O valor deste conceito é mais explícito no soleira por excellence, o entrado de uma coso . Estamos lidando aqui com o encontro e o reconciliação entre o ruo, de um lodo, e o domínio privado, de outro. A criança sentada no degrau em frente à sua casa está suficientemente longe da mãe para se sentir independente, para sentir a excitação e a aventura do grande desconhecido. Mas, ao mesmo tempo, sentada ali no degrau, que é parte da rua assim como da casa, ela se sente segura, pois sabe que sua mãe está por perto. A criança se sente em casa e ao mesmo tempo no mundo exterior. Esta dualidade existe graças à qualidade espacial da soleira como uma plataforma, um lugar em que os dois mundos se superpõem em vez de estarem rigidamente demarcados. . ~ ~ . . . '!!'P'- ~ """"'"' j,._~ ~~. ESCOLA MONTESSORI, DELFT (52·56) A entrada de uma escola primária devia ser mais do que uma mera abertura através da qual as crianças são engolidos quando as aulas começam e expelidas quando elas terminam. Deveria ser um lugar que oferecesse algum tipo de conforto para as crianças que chegam cedo e para os alunos que não querem ir logo para casa depois das aulas. As crianças também têm seus encontros e compromissos. Muros baixos em que se possa sentar são o mínimo a se oferecer; um canto bem abrigado é melhor, mas o melhor mesma seria uma área coberta para quando chove. A entrada de um jardim-de-infância é freqüentada pelos pais- ali eles se despedem de seus filhos e esperam por eles quando as aulas terminam. Os pais que esperam os filhos têm assim uma bela oportunidade para se conhecer e poro combinar visitas das crianças às casas dos colegas. Em suma, este pequeno espaço público, como local de encontro para pessoas com interesses comuns, cumpre uma importante função social. Como resultado da mais recente transformação, em 1981 (56), esta entrada não mais existe. DOMINIO PUBliCO 33 52 51 53 55 56 57 59 58 DE ÜVERLOOP, lAR PARA IDOSOS 157, 58) Uma área coberta na porta da frente, o começo da "5oleira", é o lugar em que dizemo5 olá ou adeu5 ao5 vi5itante5, limpamo5 a neve da5 bota5 e penduramo5 o guarda-chuva. A5 entrada5 coberta5 para 05 apartamento5 do abrigo De Overloop, em Almere, 5Õo equipada5 com banco5 perto da5 porta5 da frente. A5 porta5 da frente e5tão di5po5ta5 de dua5 em dua5 para formar um alpendre combinado, o qual, porém, é dividido em entrada5 5eparada5 por uma divi5ória vertical que se projeta a partir da fachada. A5 meia5-portas permitem a quem e5teja 5entado do lado de fora manter contato com o interior do apartamento, de modo que 5e pode pelo meno5 ouvir o telefone tocar. E5ta zona de entrada é vi5ta como uma exlen5Õo da ca5a, como 5e pode perceber pelos capachos colocado5 do lado de fora. 34 LIÇOES Ot AR OUITEIURA Graça5 à saliência da cobertura, ninguém preci5a e5pero1 na chuva até que a porta 5eja aberta, enquanto a atmo5fera ho5pitaleira do lugar dó a quem chega a 5en5ação de que já está qua5e dentro da ca5a. Pode-se dizer que o banco na porta da frente é um motive tipicamente holandê5 - pode ser vi5to em muita5 pinturas antiga5, mas, no no550 5éculo, Rietveld, por exemplo, cri01 o mesmo arranjo, completado por uma meia-porta, em sut famo5a ca5a Schroder. Utrecht, 1924 159). DE DRIE HOVEN, lAR PARA IDOSOS (60) Em situações nos quais posso ser necessário um contato entre o interior e o exterior - num lar poro idosos, por exemplo, alguns dos moradores possam boa porte de seu tempo no solidão de seus próprios quartos por causo do mobilidade reduzido, esperando que alguém vá visitá-los, enquanto outros moradores que ficam do lodo de foro também gostariam de algum contato-, em tais situações, uma boa idéio é instalar portos com duas seções, de maneiro que o porte de cimo posso ser mantido aberto e o porte de baixo fechado. Essas "meio-portos" constituem um cloro gesto de convite: o porto está aberto e fechado ao mesmo tempo, i.e. , suficientemente fechado para evitar que os intenções dos que estão lá dentro fiquem demasiadamente explícitos, mos aberto o bastante poro facilitar o converso casual com quem está passando, o que pode levar o um contato mais íntimo. A concretização do sole ira como intervalo significa, em primeiro lugar e acima de tudo, criar um espaço para as boas-vindas e as despedidas, e, portanto, é a tradução em termos arquitetônicos da hospitalidade. Além disso, a soleira é tão importante para o contato social quanto as paredes grossas para a privacidade. Condições para a privacidade e condições para manter os contatos sociais com os outros são igualmente necessárias. Entradas, alpendres e muitas outras formas de espaços de intervalo fornecem uma oportunidade para a "acomodação" entre mundos contíguos. Esta espécie de dispositivo dá margem o certa articulação do edifício em foco, o que requer espaço e dinheiro, sem que sua função possa ser facilmente demonstrável - e ainda menos quantificável -, e, por esse motivo, torna-se muitas vezes difícil de realizar, exigindo esforço e trabalho de persuasão constante durante a fase de planejamento. RESIDÊNCIAS DOCUMENTA URBANA (61 -70) O edifício em formo de meandro, denominado "serpente", é composto de segmentos, cada um deles projetado por arquitetos diferentes. As escadas comunitários foram colocados numa situação de amplo luminosidade, bem maior que o do espaço residual costumeiro, em geral de pouco luminosidade. Numa residência poro vários famílias, o ênfase não deve recair exclusivamente sobre medidos arquitetônicos destinadas o prevenir o barulho excessivo e o inconveniência dos vizinhos; uma atenção especial deve ser dado em particular à disposição espacial, que pode conduzir aos contatos sociais esperados entre os vários ocupantes de um mesmo edifício. Por conseguinte, atribuímos às escadas mais importância do que de costume. As escadas comunitários não devem ser apenas uma fonte de aborrecimento no que diz respeito ao acúmulo de sujeira e à limpeza - devem servir também, por exemplo, como um ployground poro os crianças de famílias vizinhos. Por este motivo, foram projetados com o máximo deluz e abertura, como ruas com telhado de vidro, e podem ser avistados dos cozinhas. Os alpendres de entrado abertos, com duas portos, uma após o outro, expõem ao território comunitário um pouco mais de seus moradores do que os portos fechados tradicionais. Embora, naturalmente, tenho-se tomado cuidado poro assegurar o privacidade adequado nos terraços, os famílias vizinhos não estão de todo isolados umas dos outros. Procuramos projetor os espaços exteriores de tal modo que o vedação necessário roube o mínimo possível dos DOMINIO PUBliCO 35 60 61 36 l i ÇÕES DE ARQUITETURA 1':'1 ....... . _. .... .,~"~•• •••• :J1188 ~~········ II:::J~··Orãlial ........ .,~··· 62 63 64 65 66 67 condições espaciais paro contatos entre os vizinhos. Tal expansão do espaço mínimo requerido poro "finalidades de circulação" mostrou-se capaz não apenas de atrair os crianças - serve também como um lugar em que os vizinhos podem se sentar e conversor. Neste coso os moradores também providenciaram os equipamentos. Edificio à direito. O. Steid/e, arquiteto. .......,._,~-~ ) '\f 1 \ r 1 \01\f ~il!i/ r:---~ DOMÍNIO PÚBliCO 37 68 69 70 Além da tradicional porta da frente, as moradias têm uma segunda porta de vidro que também pode ser trancada e que conduz à escada, obtendo-se assim um espaço de entrada aberto. Uma vez que esse espaço intermediário entre a escada e a porta da frente é interpretado de maneira diferente por pessoas diferentes- i.e. , não apenas como parte das escadas mas também como uma extensão da casa - , é usado por alguns como um ho/1 aberto, no qual a atmosfera da casa pode penetrar. Deste modo, dependendo de qual das duas portas é considerada como a verdadeira porta da frente, os moradores podem expor sua 38 liCÕES DE ARQUITETURA individualidade, em geral restrita à intimidade do lar, ao mesmo tempo em que a escadaria perde algo de suo característica de terra-de-ninguém e pode até adquirir un:: atmosfera autenticamente comunitária. O princípio do caminho vertical para o pedestre, tal como aplicado no projeto habitacional de Kassel, foi posteriormente elaborado no conjunto habitacional LiMa em Berlim. As escadas desse conjunto conduzem a terraços comunitários nos telhados. No final, decidiu-se que não seria necessário incorporar as varandas para lazer previstas no projeto de Kassel , já que o pátio isolado oferecia o espaço de lazer adequado, especialmente pore . . as cnanças ma1s novas. CITÉ NAPOLEON, PARIS, 1849 IM. H. VEUGNY (71·74) A Cité Nopoléon, em Paris, foi uma dos primeiros tentativas, e certamente o mais notável, de solução razoável poro o problema do distância entre o ruo e o porto da hnte num prédio residencial de muitos andores. Este espoço interior, com suas escadas e passarelas, evoco as edificações de vários andares de uma aldeia nas montanhas. Uma razoável quantidade de luz alcança os andores mais altos através do telhado de vidro. Os moradores dos andores de cima abrem suas janelas poro este espaço interior, e o presença de vasos de plantas mostro, pelo menos, que os pessoas dão valor a esse detalhe. Embora não tenho sido possível - em que pesem as boas intenções dos construtores - transformar esse espaço interior (fechado como é em relação à ruo lá foro) numa ruo interna verdadeiramente funcional segundo nossos podrões, não há dúvida de que este exemplo se destaca de maneiro brilhante, sobretudo quando se penso em todas aquelas sombrios escadarias construídas desde 1849. 1.···.··--~••uHu••l .. :·.•. ,······~········· ,_, ::::::~::·_·:: o 5 10 I L..J'tJ DOMÍNIO PUBLICO 39 71 72 73 74 75 76 77 7 DEMARCACOES PRIVADAS I NO ESPACO PÚBLICO I O conceito de intervalo é o chove para eliminar a divisão rígida entre áreas com diferentes demarcações territoriais. A questão está, portanto, em criar espaços intermediários que, embora do ponto de vista administrativo possam pertencer quer ao domínio público quer ao privado, sejam igualmente acessíveis para ambos os lados, isto é, quando é inteiramente aceitável, para ambos os lados, que o "outro" também possa usá-lo. DE DRIE HOVEN, lAR PARA IDOSOS (75·77) Os corredores servem como ruas num edifício que deve funcionar como uma cidade para seus moradores, afetados por sérias limitações, já que o maior porte deles é incapaz de deixar o área sem ajudo. As unidades de habitação situadas ao longo desta "ruo" têm, aos pares, áreas semelhantes a alpendres, que, por um lado, pertencem às habitações, mos, por outro, também fazem porte da "rua". Os moradores colocam suas coisas ali, cuidam deste espaço e com freqüência criam plantas e flores ali , como se este fosse parte de sua próprio cosa, uma espécie de varando no nível da rua. Embora a área do alpendre seja completamente acessível aos transeuntes, permanece como porte da rua. É extremamente difícil reservar os poucos metros quadrados necessários a um objetivo como esse dentro da infinito rede de regulamentos e normas que se referem às dimensões mínimas e máximas que governam cada um dos aspectos do projeto arquitetônico. No caso dos abrigos sociais, esse aspecto é considerado, 40 liÇÕ ES O E A RQ UI TE! U R A do ponto de vista administrativo, como uma redução indevida do tamanho da unidade domiciliar, ou como uma expansão indevida do corredor: a funcionalidade de cada metro quadrado é, afinal, medida de acordo com a utilidade quantificável. O amor e o cuidado que os moradores investem neste espaço, que, estritamente, não é porte do apartamento, dependem de um detalhe aparentemente menor, ou seja, a janela que lhes permite vigiar os objetos que foram colocados lá fora , não só como uma precaução contra o roubo, mas simplesmente porque é agradável poder ver os próprias coisas ou verificar como 01 plantas vão indo. O arquiteto precisa de uma dose incomum de engenhosidade para que esta idéia consigo passar pela vigilância cuidadoso dos autoridades responsáveis pela prevenção de incêndios. Os quadros de luz no "De Drie Hoven" perto das portos do frente foram instalados em pequenas muretas salientes, de tal modo que se pode colocar facilmente um tapete ao lodo. o o Usando pedaços de tapete, os moradores se apropriam do pequeno espaço assim criado e o equipam, estendendo desta moneira os limites de sua casa além da porta da frente. Se incorporamos os sugestões espaciais adequados e m nosso projeto, os moradores sentem-se mais inclinados a expandir suo esfera de influência em di reção à área pública. Até mesmo um pequeno ajustamento, no forma de uma articulação espacial do entrado, pode ser o bastante poro estimular a expansão do esfera de influência pessoal , e, deste modo, o qualidade do espaço público será consideravelmente aprimorado no interesse comum. RESIDÊNCIAS DIAGOON (78·83) O que poderia ser feito com os calçados nos "ruas residenciais", se coubesse aos moradores a responsabilidade pelo espaço, pode ser imaginado com base na experiência com as calçadas em frente às residências Diagoon, em Delh. A área em frente às moradias não foi projetada como jardim; foi simplesmente pavimentada como uma calçada comum e, conseqüentemente, como parte do domínio público, embora, de modo estrito, não o seja. As áreas pertencentes às diversas casos não foram demarcadas, e o loyouf não contém nenhuma sugestão de demarcação privada. A pavimentação foi leito com blocos de concreto comum, o que desperta automaticamente associações com uma rua pública porque as calçadas em geral são pavimentadas com o mesmo material. Os moradores então começaram a remover alguns dos blocos de concreto para colocar plantas no lugar. "Dessous les pavés la plage." O resto dos blocos foi deixado intactopara proporcionar um caminho até a porta ou um espaço para estacionar o corro da família perto da casa. Cada morador uso a área em frente à sua casa de acordo com suas necessidades e desejos, incorporando a parte da área de que necessita e deixando o resto acessível para o uso público. Se o layouf tivesse partido da idéia de áreas separados, privadas, então sem dúvida todos iriam usá-las ao máximo em seu próprio benefício, mas surgiria uma divisão irreversivelmente abrupta entre o espaço público e o privado, em vez da zona intermediária que foi criada, uma fusão do território estritamente privado das casas e da área público do rua. Nesta área de intervalo, entre o público e o privado, demarcações individuais e coletivas podem superpor-se e os conflitos resultantes devem ser resolvidos mediante um acordo entre os portes. É aqui que cada morador desempenha o papel que revela o tipo de pessoa que quer ser e, por conseguinte, como desejo que os outros o vejam. Aqui se decide também o que o indivíduo e a coletividade podem oferecer um ao outro. DOMINIO PÚBliCO 41 78 79 80 81 82 83 84 85 86 MORADIAS LIMA (84-89) O conjunto de moradias LiMo está localizado no ponto de uma área triangular, cujo esquina é ocupado por uma igreja. Os volumes desta igreja não se relacionam claramente com o alinhamento arquitetônico geral. 42 LIÇÕES DE ARQUITETURA Construir nesta ilha triangular implico manter o igreja à porte como uma estruturo destacado e autônomo . O pátio bastante diferente do tradicional e muitos vezes deprimente pátio berlinense, e suo concepção é o de um espaço público com seis caminhos de acesso para os pedestres, incluindo conexões com a ruo e com o pátio vizinho. Estes caminhos para pedestres constituem parte dos escadarias comunitárias. No centro do pátio há um amplo tanque de areia dividido em segmentos, cujas laterais foram decorados com mosaicos pelas próprias famílias dos moradores. Não foi difícil despertar o entusiasmo dos moradores - os quais já estavam profundamente interessados no projeto do pátio- especialmente depois que eles viram as fotografias do parque de Gaudí e as Torres Watt. A ajuda técnico e organizacional foi fornecida por Akelei Hertzberger, que empreendeu vários projetos semelhantes no passado com resultados igualmente bem-sucedidos. No começo, foram principalmente as crianças que contribuíram com seus "ladrilhos", mas logo em seguida os adultos aderiram, trazendo qualquer pedaço de cerâmica que pudessem obter. Nenhum arquiteto hoje seria capaz de dedicar tonto atenção o um tanque de areia, nem isto seria necessário, porque é algo que pode ser deixado poro os próprios moradores. É difícil imaginar uma maneiro melhor de responder ao incentivo oferecido. Mos ainda mais importante é o foto de que o tanque de areia se tornou algo que pertencia o eles e um objeto de seus cuidados: se um fragmento do mosaico cai ou revelo ser pontudo demais, por exemplo, algo será feito sem que haja necessidade de reuniões especia is, cartas oficiais ou processos contra o arquiteto. Uma área de rua com o qual os moradores estão envolvidos, onde marcos individuais são criados por eles próprios, é apropriado conjuntamente e transformado num espaço comunitário. DOMiNIO PÚBLICO 43 87 88 89 8 CONCEITO DE OBRA PÚBLICA Coniunto residencial Biilmermeer, Amsterdam 90 91 92 Fotomontagem 44 liÇÕES OE ARQUITETURA Proieto residencial Familistere, Guise, França O segredo é dor aos espaços públicos uma formo tal que a comunidade se sinto pessoalmente responsável por eles, fazendo com que cada membro da comunidade contribuo à suo maneira para um ambiente com o qual posso se relacionar e se identificar. O grande paradoxo do conceito de bem-estar coletivo, tal qual se desenvolveu lodo a lodo com os ideais do socialismo, é que ele acabo subordinando as pessoas ao sistema que foi construído para libertá-las. Os serviços prestados pelos departamentos de Obras Públicas Municipais são vistos, por aqueles em cujo benefício esses departamentos foram criados, como uma abstração opressivo; é como se as obras públicas fossem uma imposição vindo de cimo; o homem comum sente que "não tem nado o ver com ele", e, deste modo, o sistema produz um sentimento generalizado de alienação. o~ jordin$ público$ e O$ cinturÕe$ verdes em volto do$ bloco~ de oportomento$ no$ novo$ área$ urbano$ $ãO de responsabilidade dos departamentos de Obrm Público$, que fazem o que podem poro tornar e$SO$ áreas tão atraente$ quanto possível -dentro dos limites dos orçamento$ alocados - em benefício do comunidade. Mo$ os resultados conseguidos desta maneiro não deixam de ser rígidos, impessoais e ontieconômicos, comparados com os que poderiam ser alcançados se todos os moradores dos apartamentos tivessem o oportunidade de usar um pequeno pedaço de terra (mesmo que fosse apenas do tamanho de uma vogo de estacionamento) poro seus próprios objetivos. O que foi negado à coletividade poderio ter sido o contribuição de cada morador do comun idade. O espaço poderio ser usado de modo mais intensivo se nele fossem investidos amor e cuidado pessoal. Um exemplo desta afirmação pode ser visto no Fomilistere em Guise, no França, um projeto de moradias construído poro o fábrica de fogões Godin: uma comunidade de moradores e trabalhadores moldado de acordo com os idéias de Fourier. Embora construído no século XIX, ainda conservo seu interesse como um exemplo do que pode ser feito. MORADIAS VROESENLAAN, RomRDAM, 1931-34 I J. H. VAN DEN BROEK (93, 94) As áreas de lazer e conforto comunitários só podem florescer pelo esforço comunitário dos usuários. Essa deve ter sido o idéio subjacente aos espaços comunitários interiores - sem cerCO$ e divi$órios - que foram projetado$ no$ ano$ 20 e nos anO$ 30. DOMÍNIO PUBliCO 45 93 94 95 DE DRIE HOVEN, LAR PARA IDOSOS (95) O espaço cercado contendo animais, que deve suo existência à iniciativa de um membro do equipe do "De Drie Hoven", desenvolveu-se até tornor·se um zoológico em miniatura, com um faisão, um povão, golinhos, cobras, uma porção de patos num logo cheio de peixes. Poro os idosos que moram no Lar, os animais compõem uma visto agradável e interessante, e os quartos com visto poro o menagerie são os mais procurados. Abrigos de fabricação caseiro para os animais passarem a noite foram providenciados por entusiastas, mas, logo que esse esquema popular virou um sucesso e a expansão se tornou necessária, o Departamento de Inspeção de Moradias decidiu que os coisas não podiam mais continuar assim; estipularam então que era preciso submeter à aprovação de autoridades e comissões competentes uma planta de construção elaborada por profissionais. Para a população local, a menagerie representa um convite ao envolvimento nos cuidados com os animais ou simplesmente um passeio para ver como eles estão. Quando é que as crianças da cidade vêem animais? Os únicos que a maioria delas vê em seu ambiente são animais domésticos de estimação, cachorros presos em coleiras, já que parece impossível organizar formas de posse coletiva de animais com divisão de responsabilidades pela sua manutenção. Uma idéia dessa natureza nem sequer é sugerida - os moradores locais, afinal, normalmente não exercem nenhuma influência na maneira como seus espaços comunitários são organizados e usados. Mas não podemos 46 liÇÕES DE ARQUITETURA esperar que o setor de Obras Públicas vá cuidar de animais por toda a cidade. Para isso, seria necessário um novo departamento com funcionários especializados, para não falar dos milhares de avisos dizendo "Não dê comida aos • • 11 an1ma1s . A distribuição dos espaços e os animais no "De Drie Hoven" constituemum fator de indução natural para o contato social entre os seus idosos moradores e a população local - dois grupos com limitações diferentes. Os moradores do Lar são fo rçados pelas circunstâncias a ser estranhos na cidade, mas graças a "seu" jardim podem oferecer alguma compensação para os outros - os quais, por suo vez, são estranhos na área do "De Drie Hoven". Estes exemplos servem para ilustrar como as melhores intenções podem levar à desilusão e à indiferença. As coisas começam a dar errado quando as escalas se tornam grandes demais, quando a conservação e a administração de uma área comunitária não podem mais ser entregues àqueles que estão diretamente envolvidos e se torna necessária uma organização especial, com sua equipe especializada, com interesses e preocupações próprios quanto à sua continuidade e, possivelmente, à sua expansão. Quando se atinge o ponto em que a principal preocupação de uma organização é assegurar a continuidade de sua existência - independente dos objetivos para as quais foi criada, ou seja, fazer pelos outros o que não se pode esperar que eles mesmos façam -, neste momento a burocracia assume o controle. As regras tornam-se uma camisa-de-força de regulamentos. O sentido de responsabi lidade pessoal perde-se numa burocracia sufocante de responsabilidades para com superiores. Embora não exista nada de errado com as intenções do elo individua l nesta interminável cadeia de interdependências, elas se tornam virtua lmente irrelevantes porque estão demasiado afastadas daqueles em cujo benefício todo o sistema foi inventado. A razão pela qual os habitantes da cidade se tornam estra nhos em seu próprio ambiente de vida é porque o potencial da iniciativa coletiva foi grosseiramente superestimado ou porque a participação e o envolvimento foram subestimados. Os moradores de uma casa não estão de fato preocupados com o espaço fora de seus lares, mas também não podem ignorá-lo. Esta oposição conduz à alienação diante de seu ambie nte e - na medida em que suas relações com os outros são influenciadas por ele - conduz também à alienação diante dos moradores vizinhos. O crescimento do nível de controle imposto de cima poro baixo está tornando o mundo à nossa volta cada vez mais inexorável: e isso abre caminho para a agressividade que, por sua vez, conduz a um enrijecimento ainda maior da teia de regulamentos. O resultado é um círculo vicioso, a falta de comprometimento e o medo exagerado do caos alimentando-se mutuamente. A incrível destruição da propriedade pública, destruição que está aumentando nas principais cidades do mundo, pode ser provavelmente imputada à alienação diante do ambiente de vida. O fato de que os abrigos de transporte público e os telefones públicos venham sendo, semana após semana, completamente destruídos é na verdade uma alarmante acusação à nossa sociedade como um todo. Quose tão alarmante, no enta nto, é que essa tendência - e sua escala - é enfrentada como se fosse um mero problema de organização: por meio do expediente de reparos periódicos, como se tudo não passasse de uma questão rotineira de manutenção, e da aplicação de reforços-extras l"à prova de vândalos") . Desta maneira, a situação parece estar sendo aceita como "apenas mais uma dessas coisas". Todo o sistema repressivo da ordem estabelecida é gerado para evitar conflitos, para proteger os membros individuais da comunidade das incursões de outros membros da mesma comunidade, sem o envolvimento direto dos indivíduos em questão. Isso expl ica por que há um medo profundo da desordem, do caos e do inesperado, e por que os regulamentos impessoais, "objetivos", são sempre preferidos ao envolvimento pessoal. É como se tudo devesse ser regulamentado e quantificável, de modo que permitisse um controle total e criasse as condições para que o sistema repressivo da ordem nos torne locatários em vez de co-proprietários, subordinados em vez de participantes. Assim, o próprio sistema cria a alienação e, embora afirme representar o povo, na verdade impede o desenvolvimento de condições que poderiam resultar num ambiente mais hospitaleiro. • O arquiteto pode contribuir para criar um ambiente que ofereça muito mais oportunidades para que as pessoas deixem suas marcas e identificações pessoais, que possa ser apropriado e anexado por todos como um lugar que realmente lhes "pertença". O mundo que é controlado e administrado por todos e para todos terá de ser construído com entidades pequenas e funcionais, não maiores do que as capacidades de cada um para mantê-las. Cada componente espacial será usado mais intensamente (o que valoriza o espaço), ao mesmo tempo em que se espera que os usuários demonstrem suas intenções. Mais emancipação gera mais m.otivação, e deste modo pode-se liberar a energia represada pelo sistema de decisões centralizadas. Isto constitui um apelo em favor da descentralização das responsabilidades, de suo restituição onde for possível, e em favor da delegação de responsabilidade a quem de direito- para que possam ser tomadas medidas eficazes, para resolver os problemas da inevitável alienação diante do "deserto urbano". DOM INIO PUBl i CO 47 96 9 A RUA Amsterdam, bairro operário, a vida nas ruas: bem diferente de hoje, mas lembre-se de como as moradias eram apertadas e inadequadas naquele tempo 97 9B Gioggia, Itália. Rua de convivência, sem trânsito. Procurando um lugar na sombra 48 L I Ç Õ E S DE A RQU I TETU RA Para além de nossa porta ou do portão do jardim, começa um mundo com o qual pouco temos a ver, um mundo sobre o qual praticamente não conseguimos • • exercer influência. Há um sentimento crescente de que 1114 o mundo para além de nossa porta é um mundo hostil, de de vandalismo e agressão, onde nos sentimos gal ameaçados, nunca em casa. No entanto, tomar esse int sentimento generalizado como ponto de partida para o di1 planejamento urbano seria fatal. • c Certamente seria bem melhor voltar ao conceito otimista ca1 e utópico da "rua reconquistada", que podíamos ver tão • c claramente diante de nós há menos de duas décadas. nÚI Nesta visão, inspirada pelo prazer existencialista diante aa da vida no pós-guerra (especialmente o Provo, no caso POI da Holanda), a rua é de novo concebida como o que &Sf deve ter sido originalmente, ou seja, um lugar onde o rue contato social entre os moradores pode ser estabelecido: est como uma sala de estar comunitária. E o conceito de dis que as relações sociais podem até ser estimuladas pelo ma aplicação eficiente de recursos arquitetônicos pode ser de1 encontrado em Team X e especialmente em Forum, • C! onde, como um tema central, esta questão era pel repetidamente levantada. a f. A desvalorização desse conceito de rua pode ser A F atribuído aos seguintes fatores: esti • o aumento do tráfego motorizado e a prioridade que recebe; • o organização sem critérios de áreas de acesso às moradias, em particular as portas da frente, por causa de vias indiretas e impessoais de acesso, tais como galerias, elevadores, passagens cobertas (os inevitáveis subprodutos de construções muito altas) que diminuem o contato com o nível da rua; • a anulação da rua como espaço comunitária por causa do assentamento dos blocos; • densidades reduzidas de moradias, enquanto o número de moradores por unidade também diminui acentuadamente. Assim, a queda da densidade populacional vem acompanhada por um acréscimo no espaço de habitações por moradores e na largura das ruas. A conseqüência inevitável é que as ruas de hoje estão bem mais vazias do que as do passado; além disso, a melhoria no tamanho e na qualidade das moradias significa que as pessoas passam mais tempo dentro de casa e menos na rua; • quanto melhoresas condições econômicas das pessoas, menos ela necessitam dos vizinhos, e tendem a fazer menos coisas juntas. A prosperidade crescente parece, por um lado, ter estimulado o individualismo, enquanto, por outro lado, pe rmite que o coletivismo assuma proporções além da nossa compreensão. Devemos tentar lidar com esses fatores - ainda que o arquiteto seja incapaz de fazer mais do que exercer uma influência incidental nos aspectos fundamentais de mudança social mencionados acima - criando condições para uma área mais viável de rua onde quer que seja possível. O que significa que isto deve ser feito no âmbito da organização espacial, isto é , por meios arquitetônicos. • Situações em que a rua serve como uma extensão comunitária das moradias são familiares a todos nós. Dependendo do clima, as partes ensolaradas ou as partes com sombra são as mais populares, mas o tráfego motorizado está sempre ausente ou pelo menos longe o bastante para não impedir que os moradores vejam uns aos outros e possam ser ouvidos. As ruas de convivência, que não servem mais exclusivamente como via de tráfego e que estão organizadas de tal modo que há também espaço para as crianças brincarem, estão se tornando uma presença cada vez mais familiar tanto nos novos conjuntos habitacionais quanto nos projetos de renovação - pelo menos na Holanda. Os interesses do 99 Moradias Spangen. Rotterdam, 1919/ M. Brinkman. Rua de convivência, sem trânsito. Procurando um lugar aa sol DOMINIO PÚBLICO 49 IOI 100 102 pedestre estão sendo finalmente levados em consideração, e com a instituição da woonerf (área residencial com severas restrições ao tráfego e prioridade total para os pedestres) com base jurídica, ele está reconquistando seu lugar ou, pelo menos, não é mais tratado como um fora-da-lei. No entanto, ainda que os motoristas sejam obrigados a se comportar de modo mais disciplinado, seus veículos ainda constituem um embaraço, pois são tão grandes e, em especial, tão numerosos, que ocupam cada vez mais o espaço público. MORADIAS HAARLEMMER HOUTIUINEN ( 100-1 09) O tema central no Haarlemmer Houttuinen é a rua como espaço de convivência, elaborada em associação com Van Herk e Nagelkerke. A decisão de reservar uma área de 27 metros para o trânsito - mais relacionada com política do que com planejamento urbano- obrigou-nos a construir dentro desse limite de alinhamento imposto; como resultado, não sobrou espaço para jardins nos fundos (que, de qualquer modo, ficariam permanentemente na sombra). Em suma, essas circunstâncias desfavoráveis- i.e. , orientação indesejável e ruído de trânsito - deixavam claro que o lado norte deveria acomodar a parede de fundo, e, deste modo, toda a ênfase recaiu automaticamente na rua de convivência do lado sul. Esta rua de convivência é acessível apenas para os carros dos próprios moradores e para os veículos de entregas; o fato de estar fechada ao tráfego motorizado em geral e também a sua largura de sete metros - um perfil inusitadamente estreito pelos padrões modernos - criaram uma situação capaz de evocar a antiga cidade. Os equipamentos necessários à rua, tais como luzes, estacionamentos de bicicletas, cercas baixas e bancos públicos, estão distribuídos de tal modo que apenas uns poucos carros estacionados já são o bastante para 50 liÇÕES DE ARQUITETURA ,i:l 1~<-?.,lfii\"t ::; :::::;::::::::::::::::::: ~:::::::::::::::::: : ::::::::::::::::::::::::::::::::: : :::::::::::::::::::::::::::::::: '\0... . SI r 1 ' ' • 1 (/\J obstruir a passagem de qualquer tráfego adicional. Foram plantados árvores para formar um centro a meio-caminho entre as duas seções da rua. As estruturas que se projetam a partir dos fachadas - as escadas externas e as varandas -articulam o perfil da rua, fazendo-a parecer menos ampla do que os sete metros da frente de uma casa até a frente de outro. A conseqüência é uma zona que proporciono espaço poro os terraços das residências térreos. Estes canteiros com muros baixos não são maiores do que as varandas do primeiro andar; é claro que não podiam ser menores, mas o questão é saber se ficariam melhores se fossem maiores. Como oferecem bem menos privacidade do que as sacadas, podemos nos perguntar se os moradores do andar térreo não ficam em desvantagem, mas, por outro lado, o contato imediato com os transeuntes e com as atividades gerais da rua parece ser atraente para muitas pessoas, especialmente quando a rua readquire algo de sua antiga qualidade comunitária. Foram deixadas faixas em aberto ao lado dos espaços privados externos; deliberadamente, ficou indefinida a organização dessas faixas. O departamento de obras públicas não resistiu à oportunidade de pavimentar esses espaços. Os moradores, por suo vez, estão colocando plantas ali, apropriando-se gradativamente dessa área basicamente pública. A construção civil na Holanda tem a tradição de dedicar muita atenção aos problemas de acesso aos andares mais altos, e uma grande variedade de soluções foi desenvolvida no país - todas com o objetivo de dar a cada residência uma porta de entrada com o máximo de acesso possível pela rua. No verdade, a solução que adotamos é apenas uma outra variação de um tema essencialmente antigo: a escadaria externa de ferro conduz o um patamar no primeiro andar, onde fica a porta da frente da moradia do andar de cima; daí a escadaria continua por dentro do DOMÍNIO PÚBLICO 51 103 104 Reiinier Vinkeleskade, Amslerdam, 1924 I J. C. van Epen 105 IOó 107a 107b 108 107c 109 edifício, passando pelos dormitórios do moradia do andar térreo até a moradia do andar de cima. As entrados para os moradias dos andares de cima, localizadas em "varandas públicas" com vista para a rua, não constituem obstáculo para as moradias do andar térreo, mas dão a estas uma espécie de abrigo para suas próprias entradas. Como as escadas são leves e transparentes, o espaço que fica embaixo delas pode ser totalmente usado para caixas de correio, bicicletas e para as brincadeiras das crianças. Houve um esforço considerável para separar os áreas de acesso às habitações dos andares de cima e os espaços de jardim em frente das habitações do andar térreo. Isso se reflete na definição clara das responsabilidades dos moradores quanto à limpeza de suas áreas de acesso. A ausência de uma definição assim tão clara resultaria sem dúvida numa utilização menos intensa do espaço disponível para cada morador. O conceito da rua de convivência está baseado na idéia de que os moradores têm algo em comum, que têm expectativas mútuas, mesmo que seja apenas porque estão conscientes de que necessitam um do outro. Este sentimento, no entanto, parece estar desaparecendo rapidamente de nossas vidas. A afinidade entre os moradores parece diminuir à medida que aumenta a independência proporcionada pela prosperidade. Tal anonimato chega mesmo a ser elogiado pelos adeptos do coletivismo e da centralização: se as pessoas se relacionam muito entre 52 liÇÕES DE ARQUITETURA Segunda andar Primeiro andar Andar térreo DOMÍNIO PÚH ICO 53 110 111 si, há o perigo de um excesso de "controle social", eles argumentam. Na verdade, quanto mais isoladas e alienadas a s pessoas se tornarem em seu ambiente diá rio, mais fácil será controlá-las com decisões autoritárias. Embora o "controle social" não tenho de ser nega tivo por definição, ele sem dúvida existe e seus efe itos negativos são sentidos quando não podemos fazer nado sem que sejamos julgados e vigiados pelos outros, como em toda comunidade muito concentrado, uma vila , por exemplo. Devemos aproveitar todas as oportunidades possíveis poro evitar uma separação rígida entre habitações e para estimular o que restou do sentimentode participar de algo que nos é comum. Em primeiro lugar, esse sentimento de comunidade está presente em qualquer interação social do cotidia no, tal como nos brincadeiras dos crianças, no hábito de revezar-se poro tomar conta das crianças, na preocupação em manter-se informado sobre o saúde do outro, em sumo, em todos esses cuidados e alegrias que talvez pareçam tão evidentes que tendemos a subestimar sua importância. • As unidades de habitação funcionam melhor quando as ruas em que estão localizadas funcionam bem como espaços de convivência , o que por suo vez depende particularmente de verificar o quanto são receptivos, i.e., em que medida o atmosfera dentro dos cosas pode se integrar à atmosfera comunitário do rua lá fora. Isto 54 LIÇÕES DE ARQUITETURA é determinado em grande parte pelo planejamento e pelo detalhamento do /ayout do vizinhança. CoNJUNTO HABITACIONAL SPANGEN, RomRDAM, 1919 I M. BRINKMAN (110, 111) As galerias de acesso no conjunto habitacional Spanger Rotterdom ( 1919) ainda não foram superados no que diz respeito ao que oferecem aos moradores. Como só existe portos do frente em um lodo dessa "ruo de convivência·. moradores têm como companhia apenas seus vizinhos imediatos. Isso é uma desvantagem em comparação cor uma ruo normal, onde naturalmente encontramos os vizinhos também do outro lado da ruo. No entanto, em Um Spongen, o contato entre vizinhos é excepcionalmenle intenso, o que mostro como é importante o ausência do trânsito. Ainda assim, o interação que ocorre nos acesSO\ do galeria não se estende à ruo abaixo, onde ficam os fundos dos residências. Não se pode estar em dois lu gar~ ao mesmo tempo. ALOJAMENTO PARA ESTUDANTES WEESPERSTRAAT (112·115 As unidades de habitação poro os estudantes casados o quarto andor induziram à construção de uma rua·golerio que poderio ser visto como um protótipo para uma ruo de convivência, livre do trânsito e com visto poro os telhodol do cidade velho. É um lugar seguro mesmo para as crianças pequenos, que podem brincar ali enquanto seus pois podem ficar sentados em frente às suas cosas. O exemplo em que esse projeto se baseou foi, na verdooe o complexo Spongen de 45 anos atrás. r ~ 1·x r~ -~ ... ~ -1·· l .ld ' i 1 j ~ 1 ~. IJ : - · · • • · a ~ 1 ~ I -- .J ,. • . ~ ~ . <f: • ~ C-1 - ' -' Um dos problemas nas ruas-galerias é a colocação das janelas dos quartos de dormir: se se abrem para a galeria, surge a desvantagem de uma privacidade insuficiente. Essa situação pode ser melhorada ao se erguer o nível do chão do quarto de dormir, de modo que os que estão dentro passam olhar pela janela com sua visão acima das cabeças dos pessoas que estão do lado de fora, ao mesmo tempo em que o janela é alta demais para que os que estão do lado de fora possam olhar para dentro do quarto. O edifício como um todo acabou se tornando muito menos aberto, e, em conseqüência, a rua-galeria não é mais acessível ao público. PRINCÍPIOS DE ASSENTAMENTO (I I 6) Pode·se ver como isto funciona, de uma forma elementar, nos princípios de assentamento adotados de um modo ou de outro em todos os projetos de moradia recentemente construídos. . ' I I 1~11[] A procura por mais espaço e luz solar para todas as unidades habitacionais conduziu, no planejamento urbano do século XX, ao abandono do até então habitual assentamento de quadras dentro do perímetro. O resultado foi a perda do contraste entre a reclusão tranqüila dos pólios cercados e a agitação e o barulho do DOMÍ NIO PÚSL CO SS 112 113 114 115 116obc 117 118 119 trânsito da rua adjacente. As fachadas dando para as ruas eram as frentes (e por isso os arquitetos concentraram seus esforços nelas), enquanto as fachadas mais informais dos fundos, com suas varandas e varais de roupa - algumas favorecidas por sua orientação, outras muito ao contrário-, formavam o chamado lado de convivência. Este arranjo foi superado pelo assentamento em faixas, com habitações de · duas frentes, o que criou a possibilidade de colocar todos os jardins ao lado (diagrama a). É importante compreender, porém, que com esse tipo de fayout todas as portas da frente de uma fileira de casas dão para os jardins da próxima fileira. Assim, todo o mundo vive numa meia-rua, por assim dizer, com os espaços entre os blocos sendo essencialmente os mesmos em vez de se alternarem entre o espaço do jardim e o espaço da rua. Incidentalmente, o princípio de assentamento em faixa permite esta forma de alternância na medida em que a orientação seja adequada (diagrama b), mas, mesmo se este não for o caso, vale a pena esforçar-se para assegurar que as frentes dos blocos (isto é, onde as portas da frente estão localizadas) fiquem uma em frente à outra (diagrama c) . Se as entradas das habitações ficam uma em frente à outra, todos olham poro o mesmo espaço comunitário - você pode ver as crianças 56 liÇÕES DE ARQUITETURA do vizinho saindo apressadas de manhã para a escolo seu relógio está atrasado de novo?). Mos ter uma visão completa de seus vizinhos também estimular a bisbilhotice, motivo pelo qual, com esse tipo assentamento, é ainda mais importante, do que com o que as janelas e os portas da frente sejam posicionados bastante cuidado em relação às da cosa oposta, de tal que se possa oferecer a cada entrada pelo menos alguma privacidade, capaz de protegê-la contra a indiscrição excessiva. No caso dos tradicionais esquemas de quadros fechadas de moradias, todos os jardins e todas as ficam uns em frente aos outros. As áreas dos jardins têm portanto uma natureza diferente daquela das áreas do RoYAL CRESCENTS, BATH, INGLATERRA 1767 I J. Wooo, J. (11 7· 119) Embora certamente não tenham sido projetadas com o objetivo de contribuir para a interação de vizinhos, os fachadas curvas dos "crescentes" de Bath são particularmente interessantes nesse aspecto. Por causa da concavidade da curva, as casas dão uma para as outras. É o mesmo efeito de quando estamos trem e os trilhos descrevem uma curva: por um momento podemos ver os outros vagões cheios de passageiros, presença não tínhamos notado ainda. Uma fachada com as casas voltadas para a mesmo área contribui natureza comunitária da área. Enquanto o lado côncavo de uma fachada pode o sentimento de comunidade, o lado convexo dos fundos faz com que as casas, por assim dizer, se distanciem das outras, contribuindo assim paro o privacidade dos jardins. A solução dos crescentes contempla os dois aspectos. RóMERSTADT, FRANKFURT, ALEMANHA, 1927-28 I E. MAY (120-123) Ernst Moy, como seu colega mais famoso, Bruno Taut, está entre os mais importantes pioneiros da construção de moradias no Alemanha. Os numerosos complexos habitacionais que construiu em Frankfurt no período 1926-1930 mostram como tinha uma percepção aguçada dos detalhes urbanos que podem melhorar as condições de vida. A lição que ele ensina é que plantas muito monótonas de loteamento, que em geral resultam dos orçamentos limitados poro a habitação social, podem ser transformadas num excelente ambiente de moradia, apesar dos meios limitados, no medida em que as plantas sejam desenvolvidos com um sentido adequado de orientação e de proporção. Naturalmente, é importante compreender que a arquitetura das moradias e o projeto do ambiente à sua volta foram entregues à responsabilidade do mesmo homem, que, além disso, não fez nenhuma distinção entre a arquitetura e o planejamento urbano, conseguindo assim ajustar moradias e ambiente de tal modo que se tornaram partes complementares de um todo único. O conjunto habitacional Rõmerstadt está situado num suave declive às margens do rio Nidda. As ruas paralelas seguem o direção do vale. Embora pudesse parecer evidente, neste coso, com ruas em terraço, planejar coerentemente
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