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EXPEDIENTE EDITORIAL PRESIDENTE DA ABOMI Coronel Dentista Aer Evandro Robin de Lima 1º VICE-PRESIDENTE Coronel Dentista Aer José Alexandre Credmann Brottrel 2º VICE-PRESIDENTE Capitão de Mar e Guerra Dentista Luiz Antonio Lopes Schettini 3º VICE-PRESIDENTE Major BM Dentista Alexandre Barboza de Lemos DIRETOR CIENTÍFICO Coronel Dentista Ex José Henrique Cavalcanti Lima DIRETOR DE PUBLICAÇÕES Prof. Dr. William Nívio dos Santos CONSELHO EDITORIAL Cel Ex Hélio Pereira Lopes (Endodontia); Prof. Dr. José Francisco de Souza Filho (Endodon- tia); Cel Ex José Henrique Cavalcanti Lima (Implantodontia); Ten Cel Ex Pantaleo Scelza (Odontogeriatria); Prof. Dr. Marcos Barceleiro (Materiais Dentários); Prof. Spyro Nicolau Spyrides (Odontologia Legal); Prof. Adalberto Bastos Vasconcellos (Dentística); Prof. William Nívio dos Santos (Radiologia); Ca- pitão-de-Mar-e-Guerra (CD) Rubens Murilo de Lucas (Estomatologia); Professora Dra Irani Cabral Ribeiro (Patologia Bucal); Ten Cel Aer Pylyp Nakonechnyj Neto (Cirurgia Buco Maxilo Facial); Ten Cel Aer Jose Alexandre Credmann Brottrel (Ortodontia); Ten Cel Ex Joel Alves da Silva Júnior (Periodontia) PRODUÇÃO EDITORIAL Cel Dent Ex Wantuil Rodrigues Araujo Filho DIAGRAMAÇÃO DA CAPA: Nako COORDENAÇÃO EDITORIAL: Editora SER – Stevenson Gusmão DIREÇÃO DE ARTE: Aline Figueiredo Periodicidade: Semestral Tiragem: 3500 exemplares Distribuição: gratuita Endereço para correspondência: ACADEMIA BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA MILITAR, R. Alcindo Guanabara, 17/21 sl.1001 a 1005 CEP 20040-003 – Rio de Janeiro/RJ Tel./Fax (21) 2220-6798 E-mail: abomicientifica@terra.com.br Produzir conhecimento é fazer dele uma ferramenta efetiva de contribuição de ações cujos objetivos só são alcançados na medida em que veículos de fácil acesso sejam utilizados e capazes de proporcionar visibilidade à comunidade científica. Manter um periódico de alta qualidade, não é tarefa fácil, desde a recepção e avaliação do conteúdo dos ar- tigos até a sua diagramação, formatação e expedição. Os efeitos benéficos dessa árdua tarefa, realizada com prazer e equilíbrio por uma equipe de trabalho altamente profissional e qualificada, tem sido am- plamente percebidos, gerando um interesse cada vez maior por parte da co- munidade Científica em produzir idéias para veiculação em nossa revista. O que nos enche de orgulho e otimismo é o grau que a RBOM alcançou no contexto das publicações de Odontologia desde suas primeiras edições. O caminho percorrido até aqui nos garante que com nosso árduo trabalho en- contraremos a melhor maneira de atingir nossas metas. Atualmente estamos amadurecendo nosso projeto que é a inclusão digital, com o desejo de ampliar a exposição do conteúdo de nossa Revista aproxi- mando-nos dos melhores e mais organizados periódicos da área. Importa sa- lientar, entretanto que a inserção da revista nesse formato só ocorre após a completa adequação para impressão, ou seja, é a excelência do periódico impresso que viabiliza a versão digital. Este é o momento de levar a responsabilidade da manutenção desse veícu- lo de divulgação da Pesquisa Odontológico Nacional a todos aqueles que re- conhecem sua importância. Assim sendo, convidamos a todos a participarem desse trabalho, mobili- zando e envolvendo o seu grupo para que todos entendam a RBOM, não só como veículo de divulgação de Artigos Científicos, mas também como impor- tante representante da Pesquisa Odontológica Brasileira e veículo oficial de divulgação da ABOMI. Acesse o nosso site e conheça um pouco mais a nossa ABOMI. Saudações acadêmicas. EVANDRO ROBIN DE LIMA Cel Dent Aer – R1 Esta revista é indexada pela CAPES com QUALIS B5 2 ANO 29 • Nº 1 e 2R B O M I E SUMÁRIO ARTIGO ORIGINAL Perda de suporte ósseo na região anterior da maxila em usuários de prótese total no arco superior e de acordo com o gênero .........................................................................................................3 Anísio Lima da Silva, Rosely Louise Aquino Figueiredo, Lima Soares Cristófaro, Valdir Ferreira Gonçalves, Danilo Mathias Zanello Guerisoli A identificação humana no direito militar: a contribuição da odontologia legal para a garantia do direito humano à identidade ............................................................................................................6 Carlos Antonio Marzari Avaliação clínica da relação entre distúrbios oclusais e a ocorrência de recessão gengival .............................14 Eudivar Correia de Farias Neto, Gustavo Augusto Seabra Barbosa, Eduardo Gomes Seabra, Lidiane Thomaz Coelho de Farias Capacitação de intensivistas para ações de cuidados bucais em unidades de terapia intensiva ....................... 19 Rodolfo José Gomes de Araújo, Cássia Neila Macedo Castro, Thiago Rebelo Miranda, Aline Silva Magalhães Melo Perfil das lesões maxilofaciais por arma de fogo após a pacificação ................................................................ 24 Vanessa de Paiva Reis, Paulo Gomes Rangel Júnior, Ricardo Nogueira de Sá, Adriana Raymundo Bezerra, Adriane Batista Pires Maia, Danielle Castex Conde REVISÃO DE LITERATURA Análise de cárie e edentulismo da população carcerária do hospital de custódia e tratamento psiquiátrico do estado do Pará ............................................................................................................................ 29 Rodolfo José Gomes de Araújo, Augusto Cesar Alcântara dos Reis, Annie Patrícia Gaia de Almeida O uso de fitoterápicos em endodontia ................................................................................................................ 36 Wantuil Rodrigues Araujo Filho, Hanascha de Lourdes Moura Romeiro, Marcelo Sendra Cabreira Contaminação, desinfecção e acondiconamento de escovas dentais ................................................................ 44 Rodolfo José Gomes de Araújo, Arthur Almeida Azevedo, Isabel Maria Catarina de Castro, Josimeire Pantoja da Trindade Uma abordagem à literatura acerca do uso dos bisfosfonatos e sua repercussão na endodontia ..................... 55 Felipe Lara Francischetti, Celso Neiva Campos Considerações sobre o diagnóstico, manifestações clínicas e tratamento da hanseníase de interesse para o cirurgião-dentista .................................................................................................................61 Stela Mara Pratinha Delbone, Denise de Moura Senise, Diurianne Caroline Campos França, Igor Lira Gomes, Tatyana de Souza Pereira Avaliação da resistência das conexões: interna (hexagonal e cone morse) e externa ...................................... 67 Lisandra de Almeida Giannotti, Anísio Lima da Silva Novo código de ética odontológica brasileiro (análise crítica sobre as principais mudanças apresentadas) .............................................................................71 Sandro Fernandes da Silva, Rodolfo José Gomes de Araújo, Magna Rogéria Silva Costa, Natália Carvalho Araújo, Roberto de Souza Pires, Giane Bestene de Oliveira, Leila Maués Oliveira Hanna RELATO DE CASO Restabelecimento do plano oclusal e DVO prévia a reabilitação completa ....................................................... 83 Alessandra C. da Silva Nascimento, Anisio Lima da Silva Correção do sorriso gengival .............................................................................................................................. 88 Roberta da S. Muniz Santos, Ricardo Duarte Gonçalves, Gabriela Alessandra da Cruz Galhardo Camargo NORMAS DE PUBLICAÇÃO ....................................................................................................................................... 87 3 Jan / Dez 2012 R B O M I E Perda de suporte ósseo na região anterior da maxila em usuários de prótese total no arco superior e de acordo com o gênero Loss of supportingbone in the anterior maxilla in denture wearers in the upper and according to gender Anísio Lima da Silva¹ Rosely Louise Aquino Figueiredo2 Lima Soares Cristófaro² Valdir Ferreira Gonçalves³ Danilo Mathias Zanello Guerisoli4 1. Professor Associado da disciplina de Prótese Total e Parcial Removível da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pós- graduação em Saúde e Desenvol- vimento da região Centro-Oeste da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFMS; Membro titular da ABOMI. 2. Aluna de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento da região Centro-Oeste da UFMS. 3. Mestre em Implantodontia; Especialista em Periodontia. 4. Professor Adjunto da disciplina de Endodontia da UFMS; Mestre e Doutor em Odontologia; Professor Orientador do Programa de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento da região Centro-Oeste da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFMS. Endereço para correspondência: Rua 15 de novembro, 2701 – Jardim dos Estados CEP 79020-300 – Campo Grande – MS E-amil: ansioms@brturbo.com.br Recebido para publicação em 22 de junho de 2012 e aceito em 21 de dezembro de 2012. Resumo A reabsorção é um processo que se acelera com a eliminação dos dentes, sendo a perda óssea na região anterior da maxila frequentemente observada como um dos sinais característicos em usuários de prótese total maxilar, especi- almente quando combinada com prótese parcial removível de extremo livre bila- teral no arco inferior, situação denominada síndrome da combinação. O trabalho apresenta resultado de pesquisa elaborada na UFMS, em que 53 pacientes, sendo 37 mulheres e 16 homens, todos desdentados e usuários de prótese total no arco superior a mais de cinco anos, foram avaliados quanto à ocorrência de perda de suporte ósseo na região anterior da maxila. Os resultados mostraram que a mai- oria apresentava acentuada reabsorção óssea na região anterior da maxila, sen- do que, de acordo com o gênero, 57% (n=21) das mulheres e 69% (n=11) dos homens eram positivos para esse sinal, porém a análise estatística pelo teste exato de Fisher, não mostrou diferença significante entre os dois grupos. Palavras-chave: Síndrome da combinação, prótese total, reabsorção óssea. Abstract The reabsorption is a process which accelerates with the elimination of the theet, being the loss bone in the anterior maxilla often observed as a signal characteristic in users of maxillary complete denture combined with a partial denture of bilateral free end in the mandibular arch, situation denominated of combination syndrome. The work result of research carried out in UFMS, in which 53 patients, being 37 women and 16 men, all toothless and users of total prosthesis in the superior arch to more five years, they were valued as for the incident of loss of bone support in the previous region of the jawbone. The results showed that the majority was presenting accented bone reabsorption in the anterior maxilla, being that, in accordance with the type, 57% (n=21) of the women and 69% (n=11) of the men they were positive for this sign, however the statistical analysis by the right test of Fischer, did not show significant difference between two types. Keywords: Combination syndrome, total prosthesis, bone reabsorption. ARTIGO ORIGINAL 4 ANO 29 • Nº 1 e 2R B O M I E Introdução A acentuada perda de suporte ósseo na região an- terior da maxila foi relatada por Kelly, em 1972, como sendo uma das várias características que acometem usuários de Prótese Total no arco superior associada com Prótese Parcial Removível no arco inferior Clas- se I de Kennedy, quadro que passou a ser conhecido como Síndrome da Combinação. Para Albuquerque, JF et al (2006), essas características nem sempre ocor- rem ao mesmo tempo, pois dependem da regulação de fatores predisponentes. A flacidez da mucosa tecidual na região anterior da maxila também se manifesta na Síndrome da Combinação (MADAN e DATTA, 2006). Segundo Cabral, Guedes, Zanetti, (2002), embora o fenômeno da síndrome da combinação seja descrito na literatura em desdentados totais superiores, em al- gumas situações observa-se as mesmas característi- cas em pacientes parcialmente dentados superiores, com ampla área desdentada anterior e extremidades livres inferiores. Os autores relatam uma série de eventos modificadores dos tecidos de suporte ósseo e fibro- mucoso, pelo uso de Prótese Total ou Prótese Parcial Removível superior com espaço protético anterior am- plo, contra um arco inferior com extremidade livre pos- terior, caracterizado por notável reabsorção óssea da região anterior do arco superior. O trabalho de Nogueira, Miraglia, Soares, 2002, conclui que fatores como sexo, idade, uso de medica- mentos e doenças sistêmicas podem estar relaciona- dos com a presença dos sinais. Mas infelizmente, so- bre estes fatores a Odontologia não tem controle, ca- bendo ao cirurgião dentista apenas suspeitar de uma alteração sistêmica por meio de uma anamnese deta- lhada e cuidadosa. A complexidade do processo de reabsorção fisio- lógica progressiva dos rebordos alveolares após a per- da dos dentes está diretamente ligada a fatores como gênero, alterações hormonais, metabólicas e nutritivas, presença de parafunções, forças excêntricas e defici- ência de adaptação de próteses removíveis, de acordo com Faot et al, em 2006. Ainda segundo tais autores, a susceptibilidade de adaptação varia de indivíduo para indivíduo. O processo de reabsorção óssea é inevitável após a perda dos dentes, sendo acentuado com o uso de próteses inadequadas (LEITE, RAGAZINI, CU- NHA JÚNIOR, 2006). Segundo Telles (2009), uma grande reabsorção numa região específica pode ser creditada a tensões mecânicas exageradas, como acontece na Síndrome da Combinação. O autor afirma ainda que as mulheres têm tendência a apresentar maiores perdas na maxila, em virtude da diminuição de estrogênio na menopausa, o que afeta o osso trabecular. Silva et al (2011) em pesquisa com usuários e não usuários de próteses, concluíram que a perda de su- porte ósseo na região anterior da maxila é a segunda maior incidência dos sinais da Síndrome da Combina- ção, apenas menor que a perda óssea na região poste- rior da mandíbula. Metodologia Foram examinados cinquenta e três pacientes da clínica de prótese Total e Parcial Removível da UFMS, sendo trinta e sete do sexo feminino e dezesseis do sexo masculino. Todos eram usuários a mais de cinco anos, de prótese total no arco superior, apresentando algum sinal característico da síndrome da combinação. O trabalho é parte de pesquisa de curso de pós-gradu- ação, submetido à avaliação e aprovação do comitê de ética em pesquisa de seres humanos da UFMS, sob o protocolo n° 2203 CAE 0309.0.049.000-11. O termo de consentimento livre e esclarecido foi devidamente assinado pelos pacientes após terem sido informados de que participariam da pesquisa, e anexado ao pron- tuário, juntamente com as radiografias. Os pacientes foram examinados clinicamente e por meio de radio- grafias panorâmicas por um único avaliador quanto à ocorrência da perda de suporte ósseo na região anteri- or da maxila. Aqueles que apresentavam perda acen- tuada do suporte ósseo eram catalogados como sinal positivo. Os que não apresentavam tal característica foram catalogados como sinal negativo. Os dados fo- ram anotados em ficha própria, tabulados e submeti- dos à análise estatística através do teste exato de Fisher, com índice de significância de 0,05 (5%). 5 Jan / Dez 2012 R B O M I E Resultados A pesquisa mostrou que, dos cinquenta e três paci- entes avaliados, sessenta por cento (n=32) mostravam perda de suporte ósseo na região anterior da maxila. Os demais quarenta por cento (n=21) eram sinal negativo. Segundo o gênero, 21 mulhereseram sinal positi- vo, o que representa cinquenta e sete por cento e 16 eram sinal negativo (quarenta e três por cento). Quan- to ao gênero masculino, enquanto 11 eram sinal positi- vo, representando sessenta e nove por cento, os outros 5 (trinta e um por cento) eram sinal negativo. A análise estatística mostrou o valor de p=0,5445, ou seja, p>5. Esse valor indica não haver diferença estatisticamente significante entre os grupos, no que diz respeito à reabsorção óssea na região anterior da maxila. Os dados são mostrados no gráfico 1. Gráfico 1: Número de pacientes sinal positivo e sinal negativo, de acordo com o gênero. Discussão A pesquisa mostrou que, independente do gêne- ro, a maioria dos usuários de prótese total no arco su- perior apresentou reabsorção na região anterior da maxila, o que confirma os trabalhos de vários autores como Kelly (1972), Cabral, Guedes e Zanetti, (2002), Leite e Ragazini; Cunha Júnior (2006); Silva et al (2011). A porcentagem de ocorrência no gênero masculino (69%) foi maior do que no gênero feminino (57%), po- rém a análise pelo teste exato de Fisher não mostrou diferença estatìsticamente significante. Esse resultado difere da literatura consultada que relata fatores hormonais predisponentes característicos do gênero fe- minino, como aceleradores do processo de reabsorção óssea (FAOT et al em 2006, e TELLES, 2009). Conclusões A perda óssea na região anterior da maxila, em usuários de prótese total a mais de cinco anos, estava presente em sessenta por cento dos indivíduos pesquisados, sendo que tal condição ocorreu em cinquenta e sete por cento das mulheres e em sessenta e nove por cento dos homens, porém sem diferença estatisticamente significante entre os dois grupos. Referências ALBUQUERQUE, J.F.; SAMPAIO, A.A.; GONÇALVES, M.P.R.; GONÇALVES, A.R. Síndrome da combinação – relato de um caso clínico. Anais da 8ª Jornada Acadêmica de Odontologia da Universidade Federal do Piauí. 2006. CABRAL, L.M.; GUEDES, C.G.; ZANETTI, A.L. Síndrome da combinação: relato de um caso clínico. J Bras Clin Odontol Int. Curitiba. 2002, 6(31):45-48. FAOT, F.; SERRANO, P.O.; ROSA, R.S.; DEL BEL CURY, A.A.; GARCIA, R.C.M.R. Síndrome da combinação – revisão da literatura. Revista Íbero-americana de Prótese Clínica e Laboratorial. 2006, 8(41):275-283. KELLY, E. Changes caused by a mandibular removable partial denture opposing a maxilary complete denture. J Prosthet Dent. 1972; 27(2):140-150. LEITE, B.L.; RAGAZINI, J.C.; CUNHA JÚNIOR, A.P. Síndrome da combinação – Kelly: revisões de interesse para o cirurgião dentista. Anais do X Encontro Latino Americano de iniciação científica e VI Encontro Latino Americano de Pós- Graduação – Universidade do Vale do Paraíba. 2006. MADAN, N.; DATTA, K. Combynation syndrome. The Journal of Indian Prosthodontic Society. 2006. 6. NOGUEIRA, R.; MIRAGLIA, S.S.; SOARES, F.A.V. Considerações sobre síndrome da combinação (Kelly) na clínica odontológica reabilitadora. Prótese Clínica e Laboratorial. Curitiba. 2002, 4(19): 218-222. SILVA, A.L.; CRISTÓFARO, R.L.A.F.eL.S.; MENDES, J.O.; AKAMINE, R.L. Ocorrência dos sinais da síndrome da combinação em pacientes da faculdade de odontologia da UFMS. Revista Brasileira de Odontologia Militar. 1e2 (28); jan-dez 2011. TELLES, D. Prótese Total Convencional e sobre Implantes. São Paulo: Ed. Santos; 2009. 492 p. 6 ANO 29 • Nº 1 e 2R B O M I E A identificação humana no direito militar: a contribuição da odontologia legal para a garantia do direito humano à identidade Identifying human in military duty: the odontologia of legal assistance for guarantee of human right to identity Carlos Antonio Marzari 1 1. Tenente Coronel do Exército Brasileiro. Bacharel em Direito. Especialista em ortodontia e ortopedia facial de maxilares/ Endodontia/Prótese/Direito Militar/ Direito em Administração Pública. Endereço para correspondência: Recebido para publicação em 18 de setembro de 2012 e aceito em 6 de janeiro de 2013 Resumo A Odontologia Legal e suas vinculações com o judiciário, civil e/ou militar se reveste de sobremaneira importância nos esclarecimentos técnicos prestados à Justiça nas mais diferentes áreas do Direito. Por vezes os autores de delitos penais, bem como suas vítimas deixam ou transportam em si, marcas vestígios ou indícios decorrentes do fato delituoso. Nesses casos a contribuição indiscutí- vel desta ciência através do odontolegista, torna-se imprescindível na difícil tare- fa da determinação de identificação humana. Os estudos odontolegais, quando criteriosamente realizados, são de inquestionável valor legal, podendo atribuir a culpabilidade da agressão a um determinado suspeito bem como sua exclusão. O odontolegista deverá obedecer a uma metodologia específica, visando demons- trar e provar suas evidências, podendo auxiliar à Justiça Militar bem como os demais profissionais que se deparam nas diferentes áreas do direito e que se validam da atividade odontológica. Palavras-chave: investigação criminal, odontolegista, perícia, achados den- tais, identificação dentária. Abstract The Legal Deontology and its entailing with judiciary, civil and/or the military one if excessively coat with importance in the given clarifications technician to Justice in the most different areas of the Right. For times the authors of criminal offenses, as well as its victims leave or carry in itself, marks vestiges or decurrently indications of the dialectal fact. In these cases the unquestionable contribution of this science through the deontologist, becomes essential in the difficult task of the identification determination human being. The deontology studies, when criterions carried through, are of unquestioned legal value, being able to attribute the culpability of the suspected determined aggression to one as well as its exclusion. The deontologist will have to obey a specific methodology, aiming at to demonstrate and to prove its evidences, being able to assist to Justice Military as well as the excessively professional ones that if come across in the different areas of the right and that they are become valid of the deontological activity. Keywords: criminal, deontologist inquiry, dental skill, findings, dental identification. ARTIGO ORIGINAL 7 Jan / Dez 2012 R B O M I E Introdução Ao desenvolver esta pesquisa, teve-se como pre- tensão estudar a importância da Odontologia Legal no auxílio pericial, nas diferentes áreas de competência da Odontologia Legal e sua vinculação com o Direito Militar e Civil. A escolha do tema foi um processo mais complexo e demorado. Muitos foram os motivos pelos quais se esco- lheu esse tema, entre eles o grande interesse em oferecer uma breve colaboração acadêmica para quem estuda esta área e, por minha graduação ser em odontologia. Diariamente nos envolvemos com fatos do cotidia- no e suas consequências jurídicas. A violência moder- na tem tomado proporções maiores dia após dia e cri- mes contra a vida têm ocorrido com maior frequência. Com o decorrer dos anos, a Odontologia Legal tem contribuído sobremaneira aos esclarecimentos técni- cos à Justiça nas mais diferentes áreas do Direito. Estu- dos tem sido promovidos no intuito de desenvolver téc- nicas cada dia mais apuradas e precisas para a obten- ção da identificação humana. Neste relacionamento se insere a pertinência do presente trabalho. O estudo foi direcionado aos fatos históricos evolutivos da Odontologia Legal, aos aspectos éticos e legais referentes ao tema e também se abordou a inci- dência da Odontologia Legal na identificação criminal. Desenvolvimento Para obter a identificação de um individuo através da odontologia legal, não resta dúvida de que o mais impor- tante é poder fazer um estudo minucioso da dentadura questionada, de modo a poder captar o maior número de informações que permitama sua caracterização. A técnica de Luntz permite fazer um estudo minu- cioso da dentadura questionada, de modo a captar o maior número de informações que permitam a sua caracterização. É ainda Campos, 2002 (p.34), quem leciona: Para obter os arcos ósseos limpos: a) ferver os arcos assim retirados em água, contendo detergente e, em querendo alguns cristais de soda cáustica; b) realizar, então, a limpeza manual, com rugina (legra) e pinça, dos restos das partes moles; c) proceder, por fim, ao branqueamento dos ossos com água oxigenada (30 volumes), onde podem ser dei- xados 24 horas; d) secar as peças. Na obtenção de arcos dentários limpos de impu- rezas, eles devem ser fervidos em água e detergente. Após é realizada a limpeza manual dos arcos, com rugina e pinça e, por fim o branqueamento dos arcos com água oxigenada (30 volumes). Os arcos são se- cos e assim preparados para obter informações de interesse odontolegal. De acordo com esta autora, no caso específico dos cadáveres carbonizados, tanto os dentes sadios como aqueles que tenham sido alvo de tratamentos restaura- dores resistem bastante à ação do calor, quando perma- necem in situ, a boca com os lábios fechados (o que é raro), formando uma câmara úmida protetora. Dos ma- teriais protéticos, a amálgama é o mais frágil ao calor. Já as porcelanas, os compósitos (resinas mais minerais), os cementos e o ouro são resistentes ao calor (fundem- se entre 800 e 1400º C). Os fotopolímeros, cuja cor se assemelha a dos dentes, podem ser facilmente reconhe- cidos com o auxílio da luz ultravioleta, coma qual apre- sentam fluorescência entre branco-azulada e branco- esverdeada. Nas peças dentárias submetidas em forma isolada, diretamente à ação do fogo, podem produzir-se fissuras já a 150º C. Com temperaturas de 270ºC as raízes tornam-se de cor negra; com 400ºC ocorre a que- da espontânea da coroa, quando o dente está sadio, ou, então, a coroa se pulveriza quando existem cáries ou infiltrações. A 800ºC, carboniza-se o esmalte, que se torna azul, sendo a dentina mais resistente ao fogo. As raízes, os dentes calcinados mostram-se curvadas, podendo facilitar a confusão com as dos animais. Aduz Campos, apud Bonett, 2002, p. 43: No Bra- sil, um dos casos mais momentosos em que a contri- buição da odontologia legal foi decisiva deu-se em 1985, e foi a identificação dos restos mortais do médico ale- mão Josef Mengele, cognominado o “Anjo da Morte”, 8 ANO 29 • Nº 1 e 2R B O M I E responsável pela morte de milhares de pessoas, confi- nadas no campo de concentração de Auschwitz, du- rante a II Guerra Mundial. Em catástrofes aéreas como as acontecidas com o grupo musical (Mamonas As- sassinas), em 02.03.1996, ou entre os 99 passageiros do avião da TAM que caiu em São Paulo em 31.10. 1996, a identificação em grau de certeza, somente foi possível com base nos dados oferecidos pelo exame odontológico em 75 dos casos, e só nos casos restan- tes a identificação foi possível pelo exame de DNA ou outros procedimentos. Na contribuição da Odontologia Legal no “caso Mengele”, o exame antropológico foi também acom- panhado por peritos estrangeiros, na condição de ob- servadores. O laudo nº 4016/05, exame odontolegal, continuação da fl. número oito descreve: ... (informa- ções constante do dossiê recebido do governo norte- americano), essa somatória de coincidências, dizíamos, é realçada pela constatação, de suma importância, da existência do diastema entre os incisivos centrais da maxila (o que veio a individualizar o diagnóstico), o que nos permite deduzir da existência de uma grande probabilidade de que os arcos dentários, maxila e man- díbula pertençam ao indivíduo cuja identidade esta se pretendendo estabelecer. Muitas dúvidas relacionadas aos resultados foram levantadas por diversos setores, não obstante a convicção dos membros da equipe a cerca de suas conclusões. Posteriormente, o exame do DNA realizado na Inglaterra esclareceu que a ossada realmente era de Josef Mengele, e o acerto das conclusões dos peritos oficiais brasileiros, naquela que tem sido considerada como a perícia do século. Para obter a identificação de um individuo através da odontologia legal, não resta dúvida de que o mais importante é poder fazer um estudo minucioso da denta- dura questionada, de modo a poder captar o maior núme- ro de informações que permitam a sua caracterização. A técnica de Luntz descrita acima permite fazer um estudo minucioso da dentadura questionada, de modo a captar o maior número de informações que permitam a sua caracterização. Na obtenção de arcos dentários limpos de impu- rezas, eles devem ser fervidos em água e detergente. Após é realizada a limpeza manual dos arcos, com rugina e pinça e, por fim o branqueamento dos arcos com água oxigenada (30 volumes). Os arcos são se- cos e assim preparados para obter informações de interesse odontolegal. De acordo com esta autora, no caso específico dos cadáveres carbonizados, tanto os dentes sadios como aqueles que tenham sido alvo de tratamentos restaura- dores resistem bastante à ação do calor, quando perma- necem in situ, a boca com os lábios fechados (o que é raro), formando uma câmara úmida protetora. Dos ma- teriais protéticos, a amálgama é o mais frágil ao calor. Já as porcelanas, os compósitos (resinas mais minerais), os cementos e o ouro são resistentes ao calor (fundem- se entre 800 e 1400º C). Os fotopolímeros, cuja cor se assemelha a dos dentes, podem ser facilmente reconhe- cidos com o auxílio da luz ultravioleta, coma qual apre- sentam fluorescência entre branco-azulada e branco- esverdeada. Nas peças dentárias submetidas em forma isolada, diretamente à ação do fogo, podem produzir-se fissuras já a 150º C. Com temperaturas de 270ºC as raízes tornam-se de cor negra; com 400ºC ocorre a que- da espontânea da coroa, quando o dente está sadio, ou, então, a coroa se pulveriza quando existem cáries ou infiltrações. A 800ºC, carboniza-se o esmalte, que se torna azul, sendo a dentina mais resistente ao fogo. As raízes, os dentes calcinados mostram-se curvadas, podendo facilitar a confusão com as dos animais. Campos regressa a seu enfoque inicial: Como acon- tece com os pontos característicos nas impressões di- gitais, também nas comparações entre os dentes do material questionado e o das fichas odontológicas é exi- gido um número suficiente de coincidências para po- der fazer um diagnóstico identificatório de certeza. Con- trariamente, a ocorrência de um ou mais pontos discor- dantes, realmente incompatíveis entre si, podem permi- tir a exclusão durante o procedimento de identificação pro confronto. Todavia, é necessário enfatizar que os pontos que não sejam incompatíveis não permitirão cita- das afirmações de certeza. (CAMPOS, 2002, p.56) De acordo com essa transcrição, a retirada, elimi- nação, ou desaparecimento de pontos característicos não impossibilita nem invalida a identificação. Já a in- 9 Jan / Dez 2012 R B O M I E congruência entre trabalhos realizados ou extrações efetuadas, com o achado dessas peças intactas e pre- sentes na dentadura a ser cotejada, exclui a identifica- ção ou torna a identificação negativa. Os pontos ca- racterísticos que podem ser utilizados para individuali- zar as pessoas não se restringem, como poderia pare- cer, a extrações ou obturações. O cirurgião-dentista, odontolegista ou não, poderá ser solicitado à aplicação dos conhecimentos da ciên- cia odontológica a serviço da Justiça, segundo Vanrell, 2002, p. 78, em casos de: IMPUTABILIDADE: (art. 26 e seguintes do Código Penal). A determinação da idade é fator fundamental para verificar a imputabilidade do agente no cometimento de um crime e no seu apenamento. A maioridade pe- nal, tem de ser cabalmente demonstrada como pressu- posto processual. Via de regra, a caracterização etária se dá em função da certidãode nascimento e/ou dos documentos que dela se originam ou nela se embasam, como a Cédula de Identidade policia. As definições do autor são perfeitamente aplicá- veis à atividade pericial odontológica relacionadas com o direito penal. Com a estimativa da idade, verifica-se a imputabilidade do agente causador do crime, bem como sua apenação. Nas lesões corporais da cavidade bucal, têmporo-mandibular e o pescoço, a pessoa mais bem informada para fazer o exame na ausência de um odontolegista, seria o cirurgião-dentista. No estelionato o cirurgião-dentista, funcionando como perito, pode avaliar o tipo de trabalho, bem como os materiais utilizados. O cirurgião-dentista no crime de falsidade ideológica pode constatar a veracidade dos fatos odontológicos constantes no documento, com a queixa clínica exibida pelo paciente. Na falsidade de documento público / privado, o ci- rurgião-dentista na função de perito, quando chamado, terá que esclarecer a autoridade requisitante à falsidade técnica do conteúdo documental, ligado à odontologia e suas especialidades. Nos casos de atestado médico fal- so, o cirurgião-dentista verificará quando requisitado, se o paciente que recebeu o atestado é portador da patolo- gia referida no mesmo, bem como se no seu prontuário odontológico está arquivada a cópia ou segunda via do atestado. Com esta constatação, gozando de fé pública, se constitui na prova da materialidade do falsum. A vinculação da Odontologia Legal com Direito Civil. Na ausência da certidão de nascimento ou cé- dula de identidade policial a forma de caracterizar a idade para a verificação da Capacidade pode ser feito analisando o processo de ossificação metafisária ou dos ossos do carpo, por meio dos rai- os X, e das fases de mineralização e de erupção dentária. A identificação individual, quer através do estudo dos arcos dentários, quer dos trabalhos de dentística e de prótese feito nos dentes, servem para realizar a identificação precisa de uma pessoa viva ou de restos mortais. O Código Civil Brasileiro contém normas a respei- to das relações entre os autônomos. Assim atesta Vanrell, 2002, p. 152: Dentre essas normas, algumas são de caráter específico, como, por exemplo, o art.1545, que dispõe que os médicos, cirurgiões, far- macêuticos, parteiras e dentistas são obrigados a satis- fazer o dano, sempre que, da imprudência, da negli- gência ou da imperícia em atos profissionais, resultar morte, inabilitação de servir, ou ferimento. É certo que tais normas penais, embora originaria- mente não fossem criadas, especificamente em rela- ção aos cirurgiões-dentistas, muitas vezes poderão ser aplicadas a estes em caso de erro odontológico ou em situações tais que a atuação do profissional, a medica- ção ministrada ou os procedimentos utilizados possam enquadrar-se em alguma das tipificações do Estatuto Penal vigente. É interessante assinalar que, no caso de condenação criminal por homicídio culposo ou lesão corporal grave, por exemplo, a obrigação de indenizar a vítima ou seus herdeiros torna-se automática. A even- tual discussão posterior, no Juízo Cível, será apenas quanto ao valor da indenização (quantum debeatur), e não se a mesma é ou não devida (an debeatur), por- quanto é devida automaticamente. O Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990, no seu art. 14, dispõe sobre a responsabilidade pelos danos causados aos consumi- dores, por serviços prestados de maneira defeituosa. Esse artigo consagra a responsabilidade objetiva dos 10 ANO 29 • Nº 1 e 2R B O M I E fornecedores ou prestadores de serviço, isto é, não se exige prova de culpa do responsável pelo serviço para que ele seja obrigado a reparar o dano. Segundo o Código de Defesa do Consumidor, em re- lação aos profissionais liberais, entre os quais se incluem os cirurgiões-dentistas, o § 4º do art. 14 da lei supracitada, mantém, como pressuposto da responsabilidade, a verifi- cação da culpa. Vale dizer que, relativamente aos cirurgi- ões-dentistas, por serem contratados com base na confi- ança que inspiram aos seus clientes e respectivos famili- ares, não se aplica a teoria da responsabilidade objetiva esposada pelo Código do Consumidor. Neste sentido, Denari, 2000, afirma: “Assim, estes profissionais somente serão responsabilizados por da- nos quando ficar provada a ocorrência de culpa subje- tiva, em quaisquer de suas modalidades: negligência, imprudência ou imperícia”. Para o legislador, entretanto, os profissionais libe- rais, enquanto prestadores pessoais de serviços, dire- tamente, aos seus clientes e / ou pacientes, a respon- sabilidade pelos danos eventualmente causados depen- derá de comprovação de suas culpas subjetivas, o mes- mo não ocorre relativamente aos serviços profissio- nais prestados pelas pessoas jurídicas, seja sociedade civil, seja associação profissional. “De acordo com a doutrina dominante, a responsabilidade do profissional somente será admitida depois de apurada e provada sua culpa; já a responsabilidade do Hospital ou Clínica será apurada objetivamente”. As radiografias dentárias são de fundamental im- portância para a odontologia Forense, pois oferecem evidências objetivas da anatomia das estruturas orais, das restaurações existentes, dos materiais utilizados, das patologias preexistentes, dos tratamentos endodônticos, os procedimentos cirúrgicos prévios, as fraturas prévias, próteses fixas e móveis, ou outros aparelhos ortodônticos e / ou ortopédicos, em uso. Por tudo isso as radiografias ante-mortem quando compa- radas as radiografias dentais post-mortem prestam-se à identificação positiva e incontestável das vítimas. Preleciona ainda Vanrell, 2002, p. 153: Findos os exames radiográficos dentais, procede-se ao odontograma, realizado por três profissionais sucessi- vos. Os desenhos devem ser feitos sempre com cane- ta, e não com lápis. Os achados a serem registrados durante o exame post-mortem incluem: restaurações dentais, dentes perdidos, próteses, patologias atuais, anatomia singular (torus, por exemplo), estimativa de idade e referência para eventual reconhecimento de sexo ou de grupo étnico. Sempre é recomendável ob- ter, junto aos dentistas das vítimas, prontuários (fichas odontológicas), radiografias e/ou modelos em gesso. Do exposto acima, pretender utilizar esses progra- mas no Brasil é mera utopia, porquanto não se dispõe de bancos de dados, embora, em fichas, se mantenham informações, as quais tampouco estão centralizadas. Quiçá, no futuro, no âmbito militar, esses procedimentos possam ser usados com êxito; já no âmbito civil, nem com o passar do tempo há esperanças de que se chegue a tal grau de sofisticação identificatória, quando no país há carências bem maiores, como, por exemplo, de regis- trar os recém-nascidos para que passem a existir juridi- camente, ou que os adultos consigam algo tão simples e elementar como a Carteira de Identidade. A primeira grande diferença entre militar e civil reside no fato de que o homem fardado nunca esta só. Ele encarna toda a instituição que representa. Ninguém olha um homem fardado sem pretender ver nele um modelo. E por esta razão os seus desvios de conduta aparecem sempre gizados pela opinião pública. Segue afirmando Fagundes “A JUSTIÇA MILI- TAR tem sido muitas vezes taxada de justiça de exce- ção. Mas, na verdade, é uma justiça especial como o é a Justiça Eleitoral, a Justiça Trabalhista, etc.” Ela é justiça especial porque se fundamenta em casos especiais que não teria cabimento em outros se- tores do judiciário. O sono da sentinela, a insubordina- ção, a deserção, os delitos contra a disciplina, são cri- mes que não se podem atribuir ao “paisano de unifor- me”. Mas são típicos ao militar afeito e formado em princípios dos quais carece a maioria das almas. A Jus- tiça Militar brasileira é militar mas nunca foi militaris- ta. Nela, comona gramática o substantivo JUSTIÇA foi sempre mais importante que o adjetivo MILITAR. E, no complexo âmbito hierárquico-disciplinar das ins- tituições militares, há circunstâncias detentoras, não ape- 11 Jan / Dez 2012 R B O M I E nas de sistemática própria, tendo em vista deveres e serviços prescritos estatuária e regimentalmente, mas também prevêm-se situações somente concretizáveis no âmbito castrense. Estabelece-se não obstante um eixo conectivo entre a questão transcendental dos di- reitos humanos e os crimes no âmbito militar em tem- pos de paz e de guerra que são inerentes a esta condi- ção. Sucede-se toda uma gama de eventos em que o autor e / ou vítima pertencem a condição de militar ou a eles são assemelhados. Do rol de condutas antevistas pelos direitos huma- nos, um amplo leque diz respeito às atividades contra autoridade ou disciplina militar, e entre elas, os motins, as revoltas, as conspirações, as invasões, as fugas, os amotinamentos, os genocídios, o ingresso clandestino, a violência arbitrária provocam repercussões, as mais das vezes, na Odontologia Legal, área do conhecimen- to que oferece à justiça através de suas especialida- des, subsídios para identificar corpos (carbonizados), seu sexo, sua altura, sua idade, como também efetuar perícias nos vivos, nos mortos, nas ossadas (esquele- tos) e em fragmentos de tipos variados. O perito odontólogo possui competência para atuar também em necropsias, onde fenômenos físicos, químicos e bioló- gicos precisam ser esclarecidos. Quanto ocorre em estabelecimento militar (quartel, base área, navio) mo- tim, revolta, conspiração, invasão, amotinamento ou qualquer outro evento que produza morte, com desfiguramento de indivíduo, recorre-se ao perito odontólogo para proceder à identificação. Igualmente em acontecimentos ocorridos como acidentes em ma- nobras militares, incêndio em unidade militar, ocorrên- cia de morte em missão de paz em território estrangei- ro, desastres naturais, explosão de paiol, vazamento de gases, irradiação em que pairem dúvidas sobre a real identidade do morto, urge determinar quem é quem para a família do falecido e a instituição castrense. Antes de uma exigência processual, há uma necessidade hu- mana de esclarecer uma identidade posta em dúvida. Num mundo de grandes transformações um prin- cípio mantém-se atuante, que é o de respeitar a digni- dade da pessoa humana. É ele garantido como funda- mental para a existência da ética militar. No contexto doutrinário estrutural das forças armadas ocorrem si- tuações peculiares, em que são pertinentes exames, perícias, e esclarecimentos técnicos de profissionais da área de saúde para dirimir aspectos controversos de fatos e ou condutas, levantando dados que conduzam à conclusão sobre a autoria ou a exclusão do suspeito (s). Pelo exposto, torna-se imperativo a identificação da pessoa humana. Do caso envolvendo a identificação de JOSEF MENGELE, podemos nos referenciar a Juan Ubaldo Carrea,1940, p.2-4, da Argentina, que dizia quando in- terpelado a respeito da importância da odontologia le- gal na identificação:”Dadme um diente; yo fijoé la persona”. Esta é uma das funções precípuas e universalmen- te aceitas da odontologia legal, muito antes mesmo que recebesse tal nome, dada sua a sua possibilidade quer através do estudo dos arcos dentários, quer dos traba- lhos de dentística e de prótese realizados nos dentes, até realizar a identificação precisa de uma pessoa viva ou de restos mortais. A verdadeira constituição do Direito Internacional dos Direitos Humanos surgiu em meados do século XX, em decorrência da Segunda Guerra Mundial. Assim, aduz Buergenthal, 2005, p. 129: O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fe- nômeno da pós-guerra. Seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era Hitler e à crença de que parte dessas violações poderiam ser prevenidas de um efetivo sistema de pro- teção internacional de direitos humanos existisse O movimento de internacionalização dos direitos humanos constitui um movimento extremamente recen- te na história, surgindo a partir do pós-guerra, como respostas às atrocidades e aos horrores cometidos du- rante o nazismo. Apresentando o Estado como o gran- de violador de direitos humanos a era Hitler foi marcada pela lógica da destruição e da descredibilidade da pes- soa humana, que resultou no extermínio de 11 milhões de pessoas. O legado do nazismo foi condicionou a titularidade de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direitos, à pertinência a determinada raça, a raça pura ariana. O século XX foi, desta forma, marcado 12 ANO 29 • Nº 1 e 2R B O M I E por duas guerras mundiais e pelo horror dentro do genocídio concebido como projeto político e industrial. Dos fatos supra citados verifica-se que a barbárie do totalitarismo significou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, através da negação do valor da pes- soa humana como valor fonte de direito. E, diante des- ta ruptura, emergiu a necessidade de reconstrução dos direitos humanos, como referencial e paradigma ético que aproxime o direito da moral ou seja: o ser humano ter o direito a ser sujeito de direitos. Complementando o estudo monográfico, e obede- cendo a sequência cronológica, no próximo capítulo arrematar-se-ão os fios que nortearam o eixo da argu- mentação desenvolvida nesta pesquisa. Conclusão O papel do cirurgião-dentista na sociedade re- presenta trabalho de extrema responsabilidade, e este se estende no que diz respeito à determinar a identi- dade postmortem de pacientes, quando a identifica- ção dactiloscópica é impossível, o que muitas vezes o cirurgião-dentista não se apercebe. É exatamente em razão de tal responsabilidade, que deve o profis- sional observar toda série de normas legais no cam- po do Direito, e normas éticas no âmbito administra- tivo do Conselho Profissional a que pertence, e que deverão sempre norteá-lo, cotidianamente, em sua atividade laboral. A identificação por meio dos arcos dentários é re- levante, principalmente em se tratando de corpos car- bonizados, putrefeitos e esqueletizados, visto que os dentes apresentam aspectos de suma importância para a identificação humana, pela sua durabilidade, já que estes iniciam sua formação no 5º mês de vida intra- uterina e muitos deles permanecem além da morte im- plantados nos respectivos alvéolos. Devido também, a individualidade das características dentárias jamais se- rem as mesmas entre duas pessoas e quanto à sua indestrutibilidade, visto que os dentes são mais resis- tentes que o próprio alvéolo onde se encontram e re- sistem à altas temperaturas (600 – 650º C). Há uma evidência objetiva de confiança fornecida por radiografias dentais na identificação humana que depende da observação e comparação das estruturas anatômicas e artificiais registradas nas radiografias dentais, ante-mortem e pós-mortem. Elas podem for- necer a mais segura fonte de informação por compa- ração e às vezes a única possível. A rugosidade palatina e o sistema dactiloscópico de Vucetich são métodos de identificação que possu- em características baseadas nos mesmos fundamen- tos científicos. O primeiro deles, é útil em casos de ausências de falanges, o que acontece em cadáveres em avançado estado de putrefação, carbonizados, am- putados ou esqueletos. Por outro lado, a dactiloscopia estuda a reprodução dos desenhos formados pelas cris- tas papilares digitais que, obtidas, observadas e classi- ficadas, fornecerão meios para se chegar à identifica- ção correta. Os elos que as unem contribuem sobre- maneira para a ciência da identificação judiciária, pois tem se tornado mutuamente indispensáveis em diver- sos momentos. A dactiloscopia em uma simples com- paração da legalidade ou originalidade de uma impres- são digital de uma cédulade identidade, ou em casos de acidente em que é imprescindível a utilização de técnicas de identificação mais apurada e detalhada, tal como a rugosidade palatina. De fundamental importância para a identificação hu- mana postmortem é a elaboração do prontuário clínico - odontológico do paciente, que deve ser observado com rigor formal. Torna-se imprescindível a conscientização do profissional cirurgião-dentista em realizar o registro detalhado de todos os eventos odontológicos encontra- dos na boca de um paciente antes, durante e depois do tratamento. Deve se ressaltar que para a identificação é imperativo que o cirurgião-dentista respeite o Código de Ética Odontológico nos seguintes pontos: efetuar uma ficha odontológica completa e adequada, onde consta a qualificação do paciente e a descrição de todos os even- tos odontológicos; efetuar radiografias periapicais, pa- norâmica e modelos de estudo; guardar toda a docu- mentação do seu paciente adequadamente, fornecendo à Justiça quando solicitado. O Código de Ética Odontológica dispõe como de- ver fundamental do cirurgião-dentista (art. 4º, VI), “ela- borar as fichas clínicas dos pacientes, conservando-as 13 Jan / Dez 2012 R B O M I E em arquivo próprio”. Desse modo, trata-se de direito do paciente ter os registros de seus arcos dentários arquivados pelo profissional que o atende. O cirurgião-dentista presta relevante auxílio à Jus- tiça e tem grande responsabilidade quanto à identifica- ção de seu paciente, pois é o único profissional que disponibiliza à perícia, o prontuário clínico odontológico que, quando hábil, é a peça fundamental para a com- paração com os registros dentários específicos da víti- ma a ser identificada. A contribuição da Odontologia Legal Militar para a Garantia do Direito Humano à Identidade mostrou-se de suma importância ao “caso de Mengele”, cognomi- nado o Anjo da Morte, responsável pela morte de milhares de pessoas, confinadas no campo de concen- tração de Auschwits. A identificação dos seus restos humanos permitiu aos seus familiares sobreviventes resolver as situações que resultam diretamente do óbi- to, assim como continuar com a vida de cada um. A documentação formal da morte requer uma identifica- ção positiva e incontroversa, que é essencial à conclu- são do término legal da existência, com as complicações que acarreta, notadamente na área civil. A falta de uma declaração de óbito, na maioria dos países, resulta em graves problemas legais para os familiares, persiste, que podem perder anos até obtê-la. E, no caso “Mengele” também houve a contribuição da Odontologia Legal, frente ao Direito Militar, na identificação como um Di- reito Humanitário, pois, as atrocidades decorrentes dos fatos delituosos cometidos pelo médico militar alemão deixaram a humanidade perplexa. Clamando justiça para os seus atos e, com sua identificação pós-morte, contatou-se o término legal da existência. Aconteci- mento que firmou e mostrou a importância da Odontolo- gia Legal como auxiliar incontestável da justiça. Um fato lamentável, que infelizmente vem ao en- contro da importância da Odontologia Legal em seu périplo para garantir o direito humano e humanitário à identidade, ocorreu quando do acidente do Airbus da TAM que vitimou 199 pessoas cujos cadáveres em sua maioria houve demora na identificação, pois os restos mortais foram carbonizados. O dia 17 de julho de 2007 no Aeroporto de Congonhas, São Paulo, redundou no clamor dos parentes, dos amigos, que junto às autori- dades clamavam pelo direito de acolher suas vítimas em seu retorno ao útero-mãe, a terra, no ritual de se- pultamento, em que a dor, a saudade e a despedida tiveram lugar cativo junto às recordações compartilha- das. Assim como o nascimento dá origem à identidade, a morte, nas exéquias fúnebres encerra este processo. Cabe às famílias a exigência ao Estado de cumprir sua função de tutor da cidadania, garantido a um e a todos, a identidade humana e humanitária que pertence em sua integridade, aos seres humanos, únicos em sua sin- gularidade e subjetividade. Há entre nós um conhecido adágio que diz que, se “o médico legista é o único que pode afirmar de que morreu um indivíduo, o dentista é o único que pode dizer quem era o indivíduo”. A identificação odontológica traz a vantagem de examinar polimorfismos sobre as estruturas mais resistentes do corpo e que, por isso, são as mais óbvias e viáveis, que possibilita resgatar a identidade e a história individual quando nenhum outro ramo da ciência tem condições de fazê-lo. Referências BONNET, E. F. P. Medicina legal. 2º ed. Buenos Aires: Lopez, 1980. in: VANRELL, J. P. Odontologia & antropologia forense: Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002. BUERGENTHAL, T. Internacional humano rights. In: PIOVESAN, F. Direito Constitucional Internacional. 4ed. São Paulo: Saraiva, 2005. CAMPOS, M. L. B. A perícia em odontologia legal. IN: VANRELL, J. P. Odontologia & antropologia forense: Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002. CARREA, J.V. La identificación de las rugosidades palatinas. Ortodoncia: Buenos Aires, 1940. DENARI, Z . Código de defesa do consumidor comentado. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2000. VANRELL, J. P. Odontologia legal & antropologia forense. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 14 ANO 29 • Nº 1 e 2R B O M I E Eudivar Correia de Farias Neto1 Gustavo Augusto Seabra Barbosa2 Eduardo Gomes Seabra3 Lidiane Thomaz Coelho de Farias4 1. 1º Ten QOCON Dent – Adjunto da Seção de Periodontia da Odontoclínica de Aeronáutica Santos-Dumond, Mestre em Periodontia e Prótese Dentária (UFRN), Especialista em Periodontia. 2. Doutor em Odontologia (Reabilitação Oral) , Mestre em Odontologia (Reabilitação Oral), Professor Adjunto da Universida- de Federal do Rio Grande do Norte, Coordenador da disciplina de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, Coordenador do Curso de Especialização em Prótese Dentária da UFRN. 3. Doutor em Odontologia (Periodontia), Mestre em Odontologia (Periodontia), Especialista em Periodontia, Professor Aposentado da Disciplina de Periodontia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 4. 1º Ten (Ciurgião-Dentista) da Marinha do Brasil, Instrutora Orientadora do Curso de Especialização em Prótese Dentária da Odontoclínica Central da Marinha, Mestre em Periodontia e Prótese Dentária (UFRN), Especialista em Programa Saúde da Família (FACISA). Endereço para correspondência: R. Professor Álvaro Rodrigues, 255, AP. 402, Botafogo, Rio de Janeiro RJ. CEP.: 22 280 – 040. E-mail: eudivar@hotmail.com Aceito para publicação em 27 de fevereiro de 2012 e aceito em 1 de abril de 2012 Avaliação clínica da relação entre distúrbios oclusais e a ocorrência de recessão gengival Clinical evaluation of the relationship between occlusal disorders and gingival recession Resumo Este trabalho avaliou clinicamente a relação entre distúrbios oclusais (con- tatos prematuros e interferências oclusais) e recessões gengivais. As avalia- ções foram realizadas utilizando-se questionários e exames clínicos. Foram examinados 558 dentes, sendo que 24,1%, isto é, 135 apresentavam recessão gengival maior ou igual a 1mm. Por meio do teste “t” de Studant, para um nível de significância de 5%, observou-se associação estatisticamente significante entre os distúrbios oclusais e a ocorrência de recessão (p = 0,002). Apesar deste resultado, os distúrbios oclusais não apareceram associados ao tamanho da recessão quando medida em milímetros (p = 0,620). Conclui-se que embora os distúrbios oclusais não estejam associados ao tamanho das recessões, estão associados à sua ocorrência. Palavras-chave: recessão gengival, distúrbios oclusais, trauma oclusal. Abstract This study clinically evaluated the relationship of gingival recessions with the occlusal disorders. The evaluations were performedby using questionnaires and clinical examinations. 558 teeth were examined, with 24.1%, 135 had gingival recession greater than or equal to 1mm. Using “t” Studant test (p d” 0,05%) to evaluate the average of the recession and its relationship with the variables studied, we observed statistically significant association with recession to occlusal disorders (p = 0,002). Although this results, occlusal disorders haven’t been associated to degree of recession in millimeters (p = 0,620). We can conclude that however occlusal disorders aren’t associated to degree of recession, it’s related to its occurrence. Keywords: gingival recession, occlusal disorders, occlusal trauma. ARTIGO ORIGINAL 15 Jan / Dez 2012 R B O M I E Introdução As recessões gengivais são facilmente encontra- das na população e são alvo de grande preocupação por parte da mesma. Elas se caracterizam pelo posicionamento apical da margem gengival em relação à junção cemento-esmalte com a exposição da super- fície radicular devido a fatores variados, tais como: anatomia óssea, posicionamento dentário, movimenta- ção ortodôntica, trauma mecânico, fatores locais de retenção de placa, doença periodontal e fumo (LÖST, 1984). Uma consequência muito comum é a hiperestesia dentinária cervical, estabelecida pela ex- posição da superfície radicular ao ambiente bucal, fre- quentemente relatada pelos pacientes como a queixa primária em relação às suas recessões (ADDY, MOSTAFA e NEWCOMBE, 1987). O mecanismo exato pelo qual a recessão do tecido marginal se estabelece ainda não está totalmente es- clarecido. A presença de placa bacteriana é um dos fatores fundamentais para a inflamação gengival que, dependendo das características teciduais, pode esta- belecer uma recessão no periodonto marginal (O’LEARY et al., 1968). Quando a oclusão traumato- gênica atua associada a outros fatores etiológicos ocor- re, segundo Passanezi e Janson (1998), aumento da mobilidade dental por alargamento do espaço do liga- mento periodontal, mudança de posição do dente no arco, alterações da margem gengival, caracterizando a formação de recessão gengival. Acredita-se que as forças oclusais excessivas possam debilitar o suporte periodontal, inclusive a crista óssea, tornando o tecido marginal susceptível a agentes irritantes. Glickman e Smulow (1962), investigando os efeitos de forças funcionais excessivas sobre os tecidos periodontais de macacos relatam que forças oclusais excessivas alteram a patogenicidade da inflamação gengival nos tecidos periodontais e afetam o modo de destruição óssea na doença periodontal. Em 2003, Marini, avaliando a prevalência e os pos- síveis fatores etiológicos da presença de recessões gengivais em 380 indivíduos, verificou que cerca de 8% dos dentes que apresentavam recessões gengivais também apresentavam interferência no movimento excursivo anterior da mandíbula e que cerca de 5% dos dentes com recessões apresentavam interferência nos movimentos de lateralidade direita ou esquerda. Além disso, verificou que 64% dos indivíduos avalia- dos na faixa dos 20 aos 29 anos apresentaram recessões gengivais, chegando a 98,75% a prevalência nos indi- víduos com idade acima de 50 anos. Dessa forma, este trabalho teve por objetivo avali- ar o possível relacionamento entre dentes que apre- sentam recessões gengivais e distúrbios oclusais (con- tato prematuro e interferências oclusais). Metodologia Foram avaliados 558 dentes dos quais 135 apre- sentavam recessão gengival. Foram examinados 20 indivíduos adultos, sendo 13 do gênero feminino e 07 do gênero masculino, com idade média de 24,1 anos (19-33). Estes indivíduos eram estudantes ou cirurgi- ões-dentistas, alunos da graduação ou de um dos cur- sos de Pós-Graduação realizados no Departamento de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O projeto de pesquisa desenvolvido foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP-UFRN), aprovado sob o parecer número 077/2008, sendo os participantes informados a respeito da avaliação a que seriam submetidos, assinando o ter- mo de Consentimento Livre e Esclarecido, firmando sua anuência em participar do estudo. As recessões gengivais foram avaliadas desde a junção cemento--esmalte (JCE) até o ponto mais coronal da margem gengival, tendo sido registradas somente nos sítios onde 1 mm ou mais de raiz estivesse clinica- mente visível e, portanto, exposta ao ambiente bucal. Nos sítios onde a JCE estava coberta por cálculo, mas- carada por uma restauração ou perdida devido a des- gaste dentário ou cárie, a altura desta junção era esti- pulada baseando-se nos dentes adjacentes. Os contatos dentários foram avaliados durante os movimentos excursivos mandibulares: movimentos de lateralidade nos lados de trabalho e não trabalho, protrusão e nas posições de máxima intercuspidação 16 ANO 29 • Nº 1 e 2R B O M I E habitual (MIH) e relação cêntrica (RC). Na análise oclusal, com o paciente na cadeira odontológica em posição padronizada (supina) foram registrados, com a superfície dentária seca por meio de jatos de ar, os movimentos mandibulares de protrusão e de lateralidade, durante os quais, por meio da fita marcadora (Accu- film 11 - Parkell -Farmingdale - USA) registravam-se os contatos nos lados de trabalho e não-trabalho. Em seguida os contatos foram registrados em protrusão e MIH. Logo após, o “Leaf-gauge” foi utilizado pelos pacientes durante cinco minutos, com o objetivo de desprogramar a memória proprioceptiva do Sistema Nervoso e do ligamento periodontal, possibilitando re- laxamento dos músculos do Aparelho Estomatognático, para facilitar a manipulação da mandíbula para a posi- ção de RC, pela técnica frontal (RAMFJORD e ASH, 1984). O registro dos contatos prematuros em RC tam- bém foi realizado por meio da fita marcadora. Os dis- túrbios oclusais foram marcados quando da presença de contato oclusal prematuro ou deflectivo e interfe- rência oclusal (FERNANDES NETO, 2006). O con- tato oclusal prematuro foi registrado sempre que havia contato oclusal prematuro entre cúspide e fossa ou entre cúspide e crista marginal (embrasura) de dentes antagonistas. Na protrusão foram registrados os con- tatos quando ocorria interferência entre a estrutura oclusal mesial (aresta longitudinal, vertente triturante ou crista marginal) do dente inferior e a estrutura oclusal distal do dente superior; No movimento mandibular excursivo de trabalho a interferência foi identificada quando ocorria o contato oclusal entre a vertente lisa de uma cúspide funcional (palatina superior e vestibular in- ferior) e a vertente triturante de uma cúspide não funci- onal (vestibular superior e lingual inferior); E no movi- mento mandibular excursivo de balanceio foi registrada quando ocorria contato oclusal entre as vertentes triturantes de duas cúspides funcionais (palatina superi- or e vestibular inferior) (FERNANDES NETO, 2006). Resultados Dos 558 dentes avaliados 24,1%, isto é, 135 den- tes apresentavam recessão gengival maior ou igual a 1mm. A posição dos dentes que apresentaram recessão revelou que 19,8% eram dentes anteriores e 80,2% posteriores. A distribuição da recessão gengival segundo o arco dentário foi de 52,6% para mandíbula e 47,4% para maxila. Para o grupo de dentes com recessão gengival a distribuição revelou predominância dos pri- meiros pré-molares com 30,4%, seguido dos primeiros molares com 23,7%, dos segundos pré-molares com 19,3%, dos caninos com 8,9% e segundos molares com 6,7%. Os incisivos centrais e incisivos laterais foram os que apresentaram menos recessão com 5,9 e 5,2% respectivamente (Figura 1). Figura 1: Distribuição da recessão gengival segundo o grupo de dentes. Observando o número de contatos parafuncionais distribuídos nos dentes com recessão, pudemosobser- var que a maioria dos casos não possuía contato para- funcional, 89 elementos (65,9%). Apresentando 1 con- tato, 24 casos foram registrados (17,8%); com 2 con- tatos, 16 casos (11,9%); 3 contatos, 5 casos (3,7%) e com 4 contatos, apenas 1 caso (0,7%). Quando avaliamos o tamanho das recessões dos dentes que possuíam distúrbios oclusais (1,78mm em média) comparando com o tamanho das recessões dos dentes que não apresentaram distúrbios oclusais (1,72mm em média), não pudemos observar uma dife- rença estatisticamente significante (Tabela 1). Tabela 1: Diferença da média das recessões associa- da à presença ou não de distúrbio oclusal. No entanto, ao avaliarmos a média do número de distúrbios oclusais dos dentes que possuíam recessão gengival (0,52 distúrbios) comparando com a média do Distúrbio N Média D.P. Valor de p* Oclusal Recessão “t” (mm) Sim 46 1,78 0.593 -0,497 0,620 Não 89 1,72 0,754 *Teste “T” de Student (p<0,05) 17 Jan / Dez 2012 R B O M I E número de distúrbios oclusais dos dentes que não pos- suíam recessão gengival (0,27 distúrbios), observamos uma diferença estatisticamente significante (p=0,002) (Tabela 2). Tabela 2: Diferença da média dos distúrbios oclusais associado à presença ou não de recessão. Discussão A recessão gengival apresenta etiologia multifa- torial, com a combinação de diversas variáveis. Entre as variáveis destacam-se o biofilme bacteriano dentário, características anatômicas, que podem estar associa- das ao posicionamento dentário e que são constituídas pelas dimensões ósseas e mucogengivais locais, sendo a espessura da gengiva marginal de extrema importân- cia, além da oclusão traumatogênica. Existem contro- vérsias entre os autores em relação a que fatores es- tão mais fortemente associados às recessões (YARED, ZENOBIO e PACHECO, 2006). Dos 558 dentes avaliados, 24,1% apresentaram recessão gengival igual ou superior a 1mm, número sen- sivelmente superior ao encontrado por Valle (2007), que examinou uma população semelhante em termos de ca- racterísticas biológicas e sociais, onde dos 660 dentes examinados, 14,2% mostraram recessão gengival. Também no estudo de Valle (2007), 71,3% das recessões encontravam-se em dentes posteriores e 28,7% em dentes anteriores, dados bem semelhantes aos achados desta pesquisa, que encontrou 80,2% das recessões nos elementos dentários posteriores e 19,8% nos dentes anteriores. Quando observamos a distribuição da recessão gengival nos grupos de dentes foi revelada uma predo- minância dos primeiros pré-molares com 30,4%. Essa informação corresponde à mesma encontrada em di- versos artigos analisados (GORMAN, 1965; SOLNIT e STAMBAUGH, 1983; LÖE, ANERUD e BOYSEN, 1992; LOPES, 2005; VALLE, 2007). Löe (1992) ao investigar, 565 universitários noruegueses constatou que 63% dos indivíduos na faixa dos 20 anos já apresenta- vam recessões gengivais, estando confinadas quase inteiramente na face vestibular dos pré-molares e mo- lares superiores e inferiores. Nos exames realizados por Solnit e Stambaugh (1983) foi revelada uma a mai- or frequência de interferências no lado de trabalho nos dentes superiores com recessão. Este fato aconteceu mais frequentemente nos primeiros pré-molares e pri- meiros molares, os quais apresentavam posicionamento no arco dentário que Ihes permitiam apenas movimen- tos em direção vestibular, além de na maxila o osso palatino ser mais denso e inflexível do que o osso ves- tibular. Segundo estes mesmos autores as característi- cas anatômicas dentárias também são capazes de jus- tificar a maior ocorrência de recessão nos primeiros pré-molares superiores comparado aos segundos pré- molares, uma vez que naqueles a cúspide vestibular é mais longa, favorecendo a ocorrência de interferência oclusal. Ainda evidenciando uma maior frequência de acometimento dos pré-molares com recessão gengival, Valle (2007) observou que os primeiros pré-molares mostraram maior incidência 25,5%, assim como na pesquisa de Lopes (2005), que encontrou valores ainda maiores, chegando a 49,74%, desse grupo de dentes acometido por recessão gengival. Quando foi avaliado o número de contatos parafuncionais, pode-se perceber que a maioria dos dentes (65,9%) não apresentava esse tipo de interfe- rência. Trott e Love (1966) no estudo que conduziram demonstraram que apenas 11,6% dos incisivos centrais inferiores com recessão apresentavam trauma nos movimentos excursivos. Da mesma forma, Marini (2003) avaliando 380 indivíduos verificou que cerca de 8% dos dentes que apresentavam recessões gengivais também apresentavam interferência no movimento excursivo anterior da mandíbula e que cerca de 5% dos dentes com recessões apresentavam interferência nos movimentos de lateralidade direita ou esquerda. Gorman (1965) e Yared, Zenobio e Pacheco (2006) em concordância com as informações anteriores concluí- ram que os fatores etiológicos mais frequentemente associados às recessões gengivais foram o mal- Recessão N Média D.P. Valor de p* Distúrbios “t” Oclusais Sim 135 0,52 0,860 -3,203 0,002 Não 423 0,27 0,602 *Teste “T” de Student (p<0,05) 18 ANO 29 • Nº 1 e 2R B O M I E posicionamento dentário e o trauma por escovação, sendo o trauma oclusal de pouca importância. Resulta- do semelhante foi encontrado por Bernimoulin e Curilovic (1977) que em seus resultados evidenciaram que os dentes acometidos por recessão gengival não estavam sob trauma. No entanto, apesar de o resultado não ter apresen- tado uma diferença estatisticamente significante (p=0,620), quando analisamos a média dos dentes que possuíam recessão e estavam sofrendo algum tipo de distúrbio oclusal, esse valor se mostrou maior (1,78mm) do que aqueles dentes que mesmo com recessão não possuíam nenhum contato anormal (1,72mm). Tal fato também pode ser observado por Solnit e Stambaugh (1983), quando observações clínicas levantaram a sus- peita de que dentes com recessões gengivais de maio- res amplitudes estavam associados à oclusão traumatogênica, o que veio a ser confirmado por exa- mes oclusais. Apresentando resultados semelhante, Harrel e Nunn (2004) concluíram em seu artigo afir- mando que mesmo a média da perda de tecido gengival sendo maior nos dentes que apresentavam discrepân- cias oclusais (0,101mm/ano) do que aqueles que não possuíam (0,055mm/ano), não representaram diferen- ças que fossem significativas estatisticamente. Ao avaliarmos todo o conjunto dos dentes examina- dos e não apenas aqueles que possuíam recessão gengival, dados relevantes e estatisticamente significantes (p=0,002) puderam ser observados com relação aos dis- túrbios oclusais (contato prematuro e interferência oclusal). Os elementos com recessão apresentaram uma média de tais distúrbios maior que a dos elementos sem recessão (0,52 contra 0,27). Estes resultados são con- firmados por diferentes trabalhos publicados na literatu- ra (PARFITT e MJÖR, 1964; GOUTOUDI, KOIDIS e KONSTANTINIDIS, 1997; VALLE, 2007) e mostram a associação existente entre distúrbios oclusais e a ocor- rência de recessão gengival. Conclusão Diante da importância clínica que as recessões gengivais apresentam na rotina odontológica, este tra- balho foi desenvolvido na tentativa de verificar a parti- cipação do fator oclusal na sua ocorrência. De acordo com a metodologia aplicada, foi possível identificar que os distúrbios oclusais estiveram associados aos casos de recessão gengival, entretanto tal associação não pôde ser feita com a média de tamanhos das recessões. Referências ADDY, M.; MOSTAFA, P.; NEWCOMBE, R.G. Dentine hypersensitivity: the distribution of recession, sensitivity and plaque. J Dent. 1987, 25(6):242-248 BERNIMOULIN, J.P.; CURILOVIC, Z. Gingival recession and tooth mobility. J Clin Periodontol. 1977, 4(2):107-14 FERNANDES NETO, A.J. Distúrbios Oclusais. Uberlândia – MG, UniversidadeFederal de Uberlândia, 2006. Disponível em: www.fo.ufu.br/downloads/ Cap05.pdf. Acesso em: 12/03/ 2008. GLICKMAN, I.; SMULOW, J.B. Alterations in the pathway of gingival inflammation into the underlying tissues induced by excessive occlusal forces. J Periodontol. 1962, 1(33):7-13. GORMAN, W.J. Prevalence and etiology of gingival recession. J Periodontol. 1965, 38(4):316-322. GOUTOUDI, P.; KOIDIS, P.T., KONSTANTINIDIS, A. Gingival recession: a cross-sectional clinical investigation. Eur J Prosthodont Restor Dent. 1997, 2(5):57-81 HARREL, S.K.; NUNN, M.E. The Effect of Occlusal Discrepancies on Gingival Width. J Periodontol. 2004, 75(1):98-105 LÖE, H.; ANERUD, A.; BOYSEN, H. The natural history of periodontal disease in man: prevalence, severity, and extent of gingival recession. J Periodontol. 1992, 6(3): 489-495 LOPES, L.A.M. Avaliação in vivo da prevalência de recessão gengival e facetas de desgaste. Bauru, 2005. (Dissertação) - Faculdade de Odontologia. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. LÖST, C. Depth of alveolar bone dehiscences in relation to gingival recessíons. J Clin Periodontol. 1984, 11(9):583-589 MARINI, M.G. Investigação epidemiológica da ocorrência de recessões gengivais nos pacientes da Faculdade de Odontologia de Bauru. Bauru, 2003. (Dissertação) - Faculdade de Odontologia de Bauru. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. O’LEARY, T.J.; DRAKE, R.B.; JIVIDEN. G.J.; ALLEN, M.F. The incidence of recession in young males: relationship to gingival and plaque scores. Periodontics. 1968, 6(3): 109-111. PARFITT, G.J.; MJÖR, I.A. A clinical evaluation of localized gingival recession in children. J Dent Children. 1964, 31: 257-262. PASSANEZI, E.; JANSON, W.A.; CAMPOS JUNIOR, A.; SANTANA, A.C.P. Planejamento periodontal tendo em vista tratamentos estético e protético. In: RAMFJORD, S.P.; ASH, M.S.P. OCLUSÃO. 3º ed. Ed. Interam. 1984 SOLNIT, A.; STAMBAUGH, R.V. Treatment of gingival clefts by occlusal therapy. Int J Periodonties Restorative Dent. 1983, 3(3): 38-55 TROTT, J.R., LOVE, B. An analysis of localized gingival recession in 766 Winnipeg high school students. Dent Pract Dent Rec. 1966, 6: 209-213 VALLE, C.A.C. Análise clínica da correlação entre interferência oclusal, alinhamento dental e largura da mucosa ceratinizada com a ocorrência de recessão gengival. Uberlândia, 2007. Dissertação - Faculdade de Odontologia. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2007. YARED, K.F.G.; ZENOBIO, E.; PACHECO, W. A etiologia multifatorial da recessão periodontal. R Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2006, 6(11):45-51 19 Jan / Dez 2012 R B O M I E Resumo Visando à obtenção de um perfil e da realização dos cuidados bucais pelo corpo clínico em UTI, fez-se uma pesquisa com abordagem estatística de aná- lise de dados através de um questionário, envolvendo como população de refe- rência profissional intensivistas que atuavam em unidades de tratamento inten- sivo do hospital adventista de Belém. Foram obtidos os seguintes resultados: os intensivistas sugeriram a necessidade dos dentistas em equipes interdisciplinares, sabem da inter-relação da infecção bucal e saúde sistêmica e acha importante a higienização bucal durante a internação hospitalar e ob- servou-se que o conhecimento sobre os cuidados de saúde bucal são insatisfatórios, logo se necessita de mudanças. Os autores concluíram que o corpo clínico responsável pelos cuidados bucais dos pacientes internados em unidades de terapia intensiva não recebeu instruções adequadas, logo a pre- sença do dentista é sugerida como tentativa de solucionar as dificuldades apre- sentadas, participando da elaboração do plano de tratamento e, inclusive, após a alta hospitalar logo é de extrema importância que o corpo clínico seja orien- tado e capacitado para realizar os cuidados de higiene oral de maneira correta, visando à qualidade de vida e melhor atendimento ao paciente. Palavras-chave: odontologia hospitalar, unidades de terapia intensiva e higiene bucal. Capacitação de intensivistas para ações de cuidados bucais em unidades de terapia intensiva Training for intensivists actions for oral health in intensive care units Rodolfo José Gomes de Araújo1 Cássia Neila Macedo Castro2 Thiago Rebelo Miranda3 Aline Silva Magalhães Melo4 1. 2º Ten ODT – Hospital Geral de Belém (HGeBe), Mestre em Clínica Odontológica – Universidade Federal do Pará (UFPA) 2. Cirurgiã Dentista – Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ) 3. Cirurgiã Dentista – Hospital Adventista de Belém 4. Dentista Intensivista – Hospital Porto Dias Endereço para correspondência: Rodolfo José Gomes de Araújo Av. Bras de Aguiar 681 / 902 – Nazaré – Belém – Pará – Brasil CEP: 66035-415 E-mail: rjgaraujo@gmail.com Recebido para publicação em 13 de abril de 2013 e aceito em 15 de abril de 2013 ARTIGO ORIGINAL 20 ANO 29 • Nº 1 e 2R B O M I E Abstract Trying to obtain a profile and completion of oral care by the medical staff in ICU, the authors performed a research approach with statistical data analysis through a questionnaire, involving a reference population of critical care professionals who work in intensive care units of Adventist hospital of Belem (Brazil). We obtained the following results: intensivists suggested the need for the dentist in interdisciplinary teams, know the interrelationship of oral infection and systemic health and oral hygiene important finds during hospitalization and found that knowledge about health care mouth are underperforming, and then need to change. The authors concluded that the clinical staff responsible for the oral care of patients admitted to intensive care units did not receive proper instructions, so the presence of the dentist is suggested as an attempt to solve the difficulties presented by participating in the plan of treatment and even soon after discharge is of utmost importance that the clinical staff are instructed and trained to perform the oral hygiene care properly, seeking the quality of life and better patient care. Keywords: hospital dentistry, intensive care unit, oral hygiene. Introdução Pacientes internados em Unidades de Terapia In- tensiva (UTIs) devem receber cuidados especiais e intensivos, não só para tratar o problema que o levou à internação, mas também para cuidar dos demais ór- gãos e sistemas que podem sofrer alguma deteriora- ção prejudicial para sua recuperação e prognóstico, logo necessitam de cuidados de excelência. Diante disso, deveriam fazer parte dos cuidados preventivos com a cavidade oral em ambiente hospitalar o exame clínico periódico para inspecionar possíveis alterações destes tecidos e em caso de achados como sintomatologia dolorosa ou lesões estes já receberiam assistência cu- rativa especializada, além da necessidade de escovação dental apropriada, uso de fio dental e substâncias anti- sépticas que previnam as infecções das mucosas. Patógenos comumente responsáveis pela pneumo- nia nosocomial são encontrados colonizando o biofilme dental e mucosa bucal destes pacientes, contudo, boas técnicas de higiene bucal são capazes de prevenir o avanço da infecção da cavidade bucal para o trato res- piratório. Frequentemente, em UTI o paciente neces- sita de ventilação mecânica. A literatura demonstra que as pneumonias associadas a este tipo de recurso aco- metem grande percentagem destes pacientes, com ta- xas alarmantes de mortalidade. Araújo (2009), em seu trabalho, realizado na cida- de de Belém, afirma que o corpo de enfermagem pou- co conhece a respeito dos métodos de controle de pla- ca responsável pelas principais patologias bucais e dos diversos produtos que podem ser utilizados na higiene dos pacientes internados em UTI. Afirma que estas equipes de enfermagem que realizam os cuidados de higiene bucal, de forma geral, não receberam forma- ção adequada para realizá-los.
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