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Luizella Giardino Barbosa Branco - Manual de Direito do Comércio Internacional e Defesa Comercial - Ano 2006

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MMMMMANUALANUALANUALANUALANUAL
DEDEDEDEDE D D D D DIREITOIREITOIREITOIREITOIREITO DODODODODO
CCCCCOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIO I I I I INTERNACIONALNTERNACIONALNTERNACIONALNTERNACIONALNTERNACIONAL
 EEEEE
DDDDDEFESAEFESAEFESAEFESAEFESA C C C C COMERCIALOMERCIALOMERCIALOMERCIALOMERCIAL
COMISSÃO DE COMÉRCIO INTERNACIONAL
DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
SEÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - OAB/RJ
2004 -2006
LLLLLUIZELLAUIZELLAUIZELLAUIZELLAUIZELLA G G G G GIARDINOIARDINOIARDINOIARDINOIARDINO B B B B BARBOSAARBOSAARBOSAARBOSAARBOSA B B B B BRANCORANCORANCORANCORANCO
OOOOORGANIZADORARGANIZADORARGANIZADORARGANIZADORARGANIZADORA
Capa, Design e Projeto Gráfico: Filipe Souza
Contatos:
Telefone: (21) 9358-5701
E-mail: filipe@metalzone.com.br
Impressão: Quatro Centro Cópias
Rua Costa Lobo, 93 - Benfica - Rio de Janeiro/RJ
Telefone: 21-2234-7329
3MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
De acordo com a Organização Mundial do Comércio, mais de 80% do
fluxo de comércio mundial se dá entre a América do Norte, Europa e Ásia.
A América do Sul e Central respondem por apenas 3% do fluxo de comércio
mundial.
Considerando-se a América do Sul e América Central, o Brasil res-
ponde por 35% das exportações e 28% das importações da região. O Brasil
é, portanto, ator relevante e vem conquistando espaço não apenas nos fo-
ros de negociação, como também em novos mercados.
A relevância do papel desempenhado pelo Brasil nesse cenário, en-
tretanto, não se reflete em investimento na capacitação de pessoas para
atuar nessa área. A partir dessa constatação, o Instituto Mundi foi ideali-
zado com o propósito de promover a difusão de conhecimentos na área de
comércio internacional e auxiliar os atores brasileiros na difícil tarefa das
negociações internacionais, particularmente aquelas travadas no âmbito
da Organização Mundial do Comércio (OMC)
É com esse espírito de valorização da difusão de conhecimento que o
Instituto Mundi parabeniza e apóia a iniciativa da Comissão de Comércio
Internacional da OAB/RJ de elaborar o Manual de Direito do Comércio In-
ternacional e Defesa Comercial.
Apesar da crescente e vitoriosa participação do Brasil no mecanismo
de solução de controvérsias da OMC, o país dispõe de escassa literatura
sobre esses relevantes temas. Por isso, estudiosos e interessados pela
matéria acabam recorrendo, na maioria das vezes, a obras e autores es-
trangeiros. O Manual é, sem dúvida, uma excelente alternativa para aque-
les que querem iniciar o estudo dessa disciplina.
De fato, o comércio e as negociações internacionais hoje afetam o
cotidiano de todo tipo de negócio e envolvem uma série de conhecimentos
específicos. Deficiências nestas áreas expõem os governos e as empresas
a grandes e indesejados riscos, e, sobretudo, à perda de oportunidades
comerciais para parceiros mais eficientes e mais atentos ao que ocorre no
mundo.
PALAVRAS DOS CO-PATROCINADORES
PPPPPALAVRAS DOS ALAVRAS DOS ALAVRAS DOS ALAVRAS DOS ALAVRAS DOS CCCCCO-O-O-O-O-PPPPPATROCINADORESATROCINADORESATROCINADORESATROCINADORESATROCINADORES
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL4
É no intuito de suprir esta lacuna no mercado que o Instituto Mundi
atua. Em conjunto com renomadas instituições de ensino, está altamente
capacitado a formatar, coordenar e realizar cursos, conferências e seminá-
rios, já que conta com corpo técnico especializado nas matérias relevantes
para a obtenção de novos mercados e a defesa dos interesses comerciais
brasileiros no exterior.
Apoios a essas iniciativas são fundamentais para contribuir com a
formação de excelência de profissionais capazes de compreender os ins-
trumentos contratuais e normativos do comércio internacional que afetam
a atuação dos agentes privados, e aptos a auxiliarem os setores público e
privado a utilizarem esses instrumentos em seu benefício.
INSTITUTO MUNDI
para Estudo e Pesquisa em Comércio,
Arbitragem & Negociações Internacionais.
PALAVRAS DOS CO-PATROCINADORES
5MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
IIIIINTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o adensamento do comércio internacional tornou-
se um fato inexorável. Como resultado dessa transformação, um novo di-
reito surgiu para regular a estrutura alicerçada na ordem jurídica da Orga-
nização Mundial do Comércio - OMC.
O DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL tem como objeto o estudo
da atividade mercantil internacional, caracterizando-se como um verda-
deiro direito internacional econômico. Num mundo globalizado onde as
relações comerciais entre os países são cada vez mais próximas e
interdependentes, acreditamos ser de grande utilidade à criação deste
Manual, que visa orientar advogados, empresários, economistas, operado-
res de comércio exterior e estudantes sobre o aparato legal e funcional da
Organização Mundial do Comércio, buscando acentuar os desafios e as
barreiras que se impõem aos interesses brasileiros nesse segmento.
Nesse passo, estimular o estudo desse novo direito, que incluí o co-
nhecimento de disciplinas complementares como as ciências econômicas e
administração de empresas, se afigura uma tarefa importante e necessá-
ria, a fim de que em um futuro próximo tenhamos um corpo de profissio-
nais habilitados para defender direitos e representar interesses e posições
de caráter comercial do país, nos foros internacionais competentes.
De forma a complementar essas informações, trazemos, também, o
estudo da DEFESA COMERCIAL, matéria de importância estratégica e de
conhecimento fundamental para os agentes econômicos. Isso se justifica
uma vez que, em um mundo cada vez mais competitivo, o manejo, a con-
dução e aplicação precisa e adequada dos instrumentos de defesa, como o
dumping, subsídios e salvaguardas, ferramentas legais que compõem essa
especialidade, impõem-se como conhecimentos fundamentais aos empre-
sários e produtores brasileiros contra as práticas desleais de comércio,
que, não sendo diligentemente corrigidas, podem causar sérios prejuízos
aos interesses econômicos nacionais.
Assim, com o objetivo de contribuir com a difusão desses relevantes
temas, ainda pouco explorados no âmbito do direito brasileiro, a Comissão
de Comércio Internacional da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do
INTRODUÇÃO
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL6
Estado do Rio de Janeiro - OAB/RJ tem o prazer de apresentar o MA-
NUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL,
primeiro compêndio do gênero a reunir essas disciplinas aos leitores.
A presente obra divide-se em seis Partes. A primeira dispõe sobre o
Direito do Comércio Internacional, seu surgimento, suas origens, regras e
princípios. A segunda Parte se dedica a analisar os principais Acordos da
Organização Mundial de Comércio, para, a seguir, na Terceira Parte, dis-
correr sobre seu mecanismo de solução de controvérsias. A Quarta Parte
analisa as modalidades das medidas de defesa comercial existentes. Em
seguida, a Quinta Parte estuda a utilização desses procedimentos à luz da
legislação nacional, apresentando também estatística das investigações
relacionadas ao tema no Brasil. Ao final, esse capítulo, traz, também, um
útil Anexo que relaciona as leis e as normas aplicáveis ao tema no país. A
sexta e última parte deste Manual contempla um completo glossário no
qual são explicados com detalhamento termos técnicos, e definidas siglas
e conceitos comumente utilizados nas áreas estudadas.
Esperamos, dessa forma, que a presente obra possa contribuir para
estimular o debate acerca dos desafios, diretrizes e resultados da política
comercial brasileira, bem como conscientizar o público sobre a repercus-
são e relevância dessas escolhas no nosso dia-a-dia.
Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2006.
INTRODUÇÃO
LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO
Organizadora7MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
AAAAAPRESENTAÇÃOPRESENTAÇÃOPRESENTAÇÃOPRESENTAÇÃOPRESENTAÇÃO
O sistema multilateral de comércio, consubstanciado nas normas da
Organização Mundial de Comércio (OMC), baseia-se em um conjunto de
regras (rules based system) que criam direitos e obrigações entre os Mem-
bros da OMC, na atualidade formada por 149 Estados. Essas regras estão
dispostas no Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (General Agreement
on Tariffs and Trade - GATT 1994), no Acordo Geral sobre o Comércio de
Serviços (General Agreement on Trade in Services - GATS) e no Acordo
sobre Aspectos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio
(Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights -
TRIPS).
O conjunto de acordos que compõem o sistema multilateral de co-
mércio, portanto, constitui o que se caracterizaria como o Direito Material
da Organização Mundial de Comércio. Ao lado desse conjunto de regras da
OMC encontra-se o Mecanismo de Solução de Controvérsias, inscrito no
Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de Con-
trovérsias, também conhecido como DSU (Dispute Sett lement
Understanding). Ou seja, o Mecanismo de Solução de Controvérsias da OMC
faz parte da própria essência do sistema do sistema multilateral de comér-
cio.
Juntamente com o Direito Material, portanto, os Membros da OMC
têm resguardada a prerrogativa de recorrer ao Mecanismo de Solução de
Controvérsias para fazer valer os direitos garantidos pelo conjunto dos
acordos da Organização. O Mecanismo de Solução de Controvérsias da
OMC, dessa maneira, constitui o Direito Processual da OMC, ao estabelecer
os procedimentos que devem ser seguidos pelos Membros, quando da exis-
tência de conflitos relacionados à violação de Direito Material, estabeleci-
do nos acordos GATT 1994, GATS e TRIPS.
O Mecanismo de Solução de Controvérsias representa uma evolução
nas relações institucionais entre Estados, na medida em que se destina a
regulamentar definitivamente as disputas de natureza comercial entre os
Membros da OMC. Isso não significa que o antigo GATT 1947 não dispu-
sesse, ele próprio, de um mecanismo de solução de controvérsias. Ocorre,
porém, que as disputas comerciais cursadas pelo antigo sistema careciam
de força suficiente força para que as Partes Contratantes (denominação
dos Estados que integravam do GATT 1947) pudessem defender seus di-
APRESENTAÇÃO
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL8
reitos de maneira efetiva. Durante as negociações da Rodada Uruguai, que
resultaram na criação da OMC, foram introduzidas quatro mudanças fun-
damentais no Mecanismo de Solução de Controvérsias, com o objetivo de
reforçar substancialmente o sistema.
O Mecanismo de Solução de Controvérsias da OMC tornou-se um ver-
dadeiro sistema processual quase-judicial e orientado por regras (rule
oriented), que passou a: i) aplicar-se a todos os acordos da OMC; ii) ter
instância revisora, o Órgão de Apelação; iii) ter as decisões dos órgãos
judicantes (relatórios do Comitê de Arbitragem e do Órgão de Apelação)
aplicadas de forma cogente (legally binding); iv) ter as decisões que ema-
nam de tais órgãos judicantes adotadas automaticamente. Vale dizer, os
relatórios somente não são adotados se todos os Membros da OMC se opu-
serem, por consenso. Em contrapartida, no antigo sistema de resolução de
conflitos do GATT 1947, qualquer Parte Contratante podia vetar a adoção
do relatório do Comitê de Arbitragem (o que normalmente ocorria com a
parte perdedora).
O Mecanismo de Solução de Controvérsias da OMC foi amplamente
utilizado pelos Membros da Organização em mais de 11 anos de existên-
cia, alcançando atualmente o número de 345 casos. O Brasil tem participa-
do ativamente do Mecanismo desde sua criação, sendo que, até o presen-
te, atuou como parte em 51 disputas comerciais, seja como demandante,
demandado ou terceira parte. O número de atuações do Brasil como parte
nos casos da OMC fica atrás somente das participações dos EUA, União
Européia e Canadá, considerados grandes litigantes no sistema. Ou seja,
entre os países em desenvolvimento, o Brasil é o maior usuário do sistema.
A consolidação das regras multilaterais de comércio da OMC e a cres-
cente importância do Mecanismo de Solução de Controvérsias no cenário
internacional reforçam a necessidade de o Brasil continuar a se capacitar e
a desenvolver quadros para atuar no âmbito das disputas comerciais mul-
tilaterais. Esse desafio deve ser encarado como um objetivo contínuo, de
médio e longo prazos, tanto do Governo, quanto dos diversos atores ex-
tra-governamentais, muito embora existam situações e demandas que não
podem esperar o amadurecimento daquele objetivo. No caso de países com
escassez de recursos (financeiros e humanos) como o Brasil, portanto, esse
desafio muitas vezes necessita ser atingido sobre la marcha.
APRESENTAÇÃO
9MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
Com vistas a atender às demandas próprias à participação do Brasil
no Mecanismo de Solução de Controvérsias da OMC, torna-se necessário
recorrer - com a ajuda do setor privado - à assessoria de quadros extra-
governamentais, detentores de conhecimento sobre as normas do sistema
multilateral de comércio e sobre as legislações nacionais concernentes a
cada caso. O envolvimento de atores extra-governamentais, quando bem
gerenciado, pode concorrer decisivamente para a disseminação de conhe-
cimento altamente técnico entre integrantes do Governo brasileiro e pro-
fissionais voltados para questões de comércio internacional, entre os
quais se destacam os profissionais do direito.
O presente Manual de Direito do Comércio Internacional e Defesa Co-
mercial certamente contribuirá para esse esforço conjunto do Governo bra-
sileiro e de atores extra-governamentais, que tem por objetivo a dissemi-
nação de conhecimento sobre as normas multilaterais de comércio e a for-
mação de quadros nacionais para atuarem nas disputas comerciais da OMC.
A iniciativa da Comissão de Comércio Internacional da OAB/RJ de tornar
mais didática complexa normativa da OMC, por meio do presente Manual,
deve receber total apoio dos agentes envolvidos com as questões relacio-
nadas ao sistema multilateral de comércio e do Direito do Comércio Inter-
nacional.
Brasília, 28 de julho de 2006.
APRESENTAÇÃO
CONSELHEIRO FLÁVIO MAREGA
Coordenador Geral de Contenciosos
 do Ministério das Relações Exteriores - MRE
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL10
CCCCCOMISSÃOOMISSÃOOMISSÃOOMISSÃOOMISSÃO DEDEDEDEDE C C C C COMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIO I I I I INTERNACIONALNTERNACIONALNTERNACIONALNTERNACIONALNTERNACIONAL DADADADADA OAB/RJ OAB/RJ OAB/RJ OAB/RJ OAB/RJ
Representantes:Representantes:Representantes:Representantes:Representantes:
SÉRGIO SOARES SOBRAL FILHO – Presidente
LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO – Vice-presidente
Membros e colaboradores que participaram da elaboração desta obra:Membros e colaboradores que participaram da elaboração desta obra:Membros e colaboradores que participaram da elaboração desta obra:Membros e colaboradores que participaram da elaboração desta obra:Membros e colaboradores que participaram da elaboração desta obra:
ALEXANDRE BITENCOURT CALMON
BRUNO LEAL RODRIGUES
CLÓVIS TORRES JÚNIOR
DANIEL PIRES CARNEIRO
FERNANDA CRESPO FERREIRA
FLÁVIA DO VALLE ROCHA
FREDERICO DO VALLE MAGALHÃES MARQUES
GABRIELLA GIOVANNA LUCARELLI DE SALVIO
GUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHO
LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO
PAULA ALONSO
THEMISTOCLES MENESES NETO
COMISSÃO DE COMÉRCIO INTERNACIONAL DA OAB/RJ
11MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
RRRRRESUMO ESUMO ESUMO ESUMO ESUMO CCCCCURRICULARURRICULARURRICULARURRICULARURRICULAR DOSDOSDOSDOSDOS A A A A AUTORESUTORESUTORESUTORESUTORES
PORPORPORPORPORO O O O ORDEMRDEMRDEMRDEMRDEM A A A A ALFABÉTICALFABÉTICALFABÉTICALFABÉTICALFABÉTICA - 2006 - 2006 - 2006 - 2006 - 2006
ALEXANDRE BITENCOURT CALMONALEXANDRE BITENCOURT CALMONALEXANDRE BITENCOURT CALMONALEXANDRE BITENCOURT CALMONALEXANDRE BITENCOURT CALMON
Bacharel em Direito pela Universidade Cândido Mendes (2001). Curso
de Extensão sobre o Sistema Legal norte-americano pela George Washing-
ton University. International Law Institute. Washington, D.C., EUA (ago/set
-2003). Curso de Extensão em Direito Societário e Mercado de Capitais
pela Fundação Getúlio Vargas (ago/dez - 2003). Pós-graduado em Direito
Internacional pela Escola Superior de Advocacia (2005). Professor Titular
de Direito Comercial pela Universidade Santa Úrsula - USU. Professor As-
sistente em Direito Societário pela USU (2002-2003). É membro do Rotary
Club (2002), da Sociedade Americana de Direito Internacional (2003) e da
Associação de Advogados do Rio de Janeiro (2003). Advogou na Advogou
na CVRD (1999-2000), no Xavier, Bernardes Bragança (2000-2003). Atual-
mente trabalha no Carneiro e Sesana Associados. Macleod Dixon Consul-
tores em Direito Estrangeiro (2004-hoje). Membro da Comissão de Co-
mércio Internacional da OAB/RJ
BRUNO LEAL RODRIGUESBRUNO LEAL RODRIGUESBRUNO LEAL RODRIGUESBRUNO LEAL RODRIGUESBRUNO LEAL RODRIGUES
Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(1996). Pós-graduado (MBA) em Direito de Empresas pelo Instituto Brasi-
leiro de Mercado de Capitais – IBMEC (2001). Mestre em Direito pela Uni-
versidade Gama Filho (2005). Professor da disciplina de Direito da Concor-
rência pela CEPED-UERJ. Professor de Pós-graduação da disciplina de Pla-
nejamento Tributário (Fundação Getúlio Vargas). Advogou no Castro, Bar-
ros, Sobral, Gomes Advogados (1995/2000), Siqueira Castro Advogados S/
C (2000-2005) e J. G. Assis de Almeida e Associados Sociedade de Advo-
gados. Membro da Comissão de Comércio Internacional da OAB/RJ
RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABÉTICA - 2006
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL12
CLÓVIS TORRES JÚNIORCLÓVIS TORRES JÚNIORCLÓVIS TORRES JÚNIORCLÓVIS TORRES JÚNIORCLÓVIS TORRES JÚNIOR
Graduado em Direito pela Universidade Católica de Salvador (1989),
LL.M. em Direito Internacional , Comércio e Finanças pela Tulane Law School,
New Orleans, USA (2003), MBA pela Fundação Getúlio Vargas, São Paulo,
Pós-graduação em Gerenciamento e Liderança Empresarial no MIT, em
Massachusetts, USA, e IMD, na Suíça. Diretor Jurídico Corporativo da Com-
panhia Vale do Rio Doce (CVRD), desde abril de 2003. Responsável pelas
áreas societária, projetos internacionais, joint ventures e novos investi-
mentos, fusões e aquisições, operações financeiras, comércio internacio-
nal e contencioso internacional, bem como pela negociação de todos os
contratos e demais questões jurídicas de projetos da CVRD fora do Brasil,
incluindo Austrália, Moçambique, Peru e China. Sócio do escritório Macha-
do, Meyer, Sendacz & Opice Advogados durante o período de Abril de 2000
a Abril de 2003, com expressiva atuação na área societária, banking e project
finance, tendo sido responsável pela abertura do escritório na Bahia e Ce-
ará. Advogado do IFC – International Finance Corporation (World Bank Group
), em Washington-DC. Membro da Comissão de Comércio Internacional da
OAB/RJ
DANIEL PIRES CARNEIRODANIEL PIRES CARNEIRODANIEL PIRES CARNEIRODANIEL PIRES CARNEIRODANIEL PIRES CARNEIRO
Bacharel em Direito pela Universidade Cândido Mendes Centro (2004),
Membro do Núcleo de Pesquisa de Direito e Economia – Linha de Pesquisa
de Direito Societário - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2004).
Atualmente está cursando sua Pós-graduação em Law and Economics na
Universitá de Bologna e University of Manchester. É palestrante e autor de
diversos artigos. Membro da Comissão de Comércio Internacional da OAB/
RJ
RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABÉTICA - 2006
13MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
FERNANDA CRESPO FERREIRAFERNANDA CRESPO FERREIRAFERNANDA CRESPO FERREIRAFERNANDA CRESPO FERREIRAFERNANDA CRESPO FERREIRA
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004)
Participou do Curso de Direito Internacional pela City University London
(2002-2003). Participou do Curso Básico de Importação e Exportação pela
Universidade Cândido Mendes – UCAM (2000). Participou do Programa de
Política Comercial da Embaixada Brasileira em Washington (maio/set/2005).
É membro do ABCI Institute - Analistas Brasileiros para o Comércio Inter-
nacional. Atualmente trabalha no Centro Brasileiro de Relações Internacio-
nais – CEBRI.
FLÁVIA DO VALLE ROCHAFLÁVIA DO VALLE ROCHAFLÁVIA DO VALLE ROCHAFLÁVIA DO VALLE ROCHAFLÁVIA DO VALLE ROCHA
Bacharel em Direito pela Universidade Santa Úrsula – USU (2000), Pós-
Graduação em Comércio Exterior pela Universidade Federal do Rio de Ja-
neiro (2000), Pós-Graduação em Relações Internacionais pela Universida-
de Cândido Mendes (2001), Mestranda em Direito Internacional e Integração
Econômica ela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000), Bolsista da
Enterprise and Investment Lawyers Course (Development Law Organization
– IDLO, Roma – Itália. Professora Contratada de Direito Internacional Priva-
do Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Professora Substituta de Di-
reito Internacional Público da Universidade Bennett (RJ), Professora Convi-
dada da disciplina de Instituições de Direito da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro - UERJ, Prestadora de serviços de Consultoria Jurídica para o
ex-Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Felipe Lampréia
(Lampreia Consultores).
FREDERICO DO VALLE MAGALHÃES MARQUESFREDERICO DO VALLE MAGALHÃES MARQUESFREDERICO DO VALLE MAGALHÃES MARQUESFREDERICO DO VALLE MAGALHÃES MARQUESFREDERICO DO VALLE MAGALHÃES MARQUES
Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (1996). Mestre em Direito Internacional e Integração Econômica pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2000). Doutor em Direito Inter-
nacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2004). Visiting
Fellow na University of Baltimore e na Georgetown University, USA (2002/
2003). Advogado da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), desde outubro
de 2003, com atuação nas áreas de projetos internacionais, joint ventures
e novos investimentos, contratos internacionais e regulatório (ANTT, ANTAQ
RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABÉTICA - 2006
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL14
e ANEEL). Gerente Jurídico da Área de Contratos da Brasil Telecom (2000/
2002). Advogado do escritório Lobo & Ibeas Advogados (1999/2000) e da
Odebrecht Engenharia e Construção (1998/1999).
GABRIELLA GIOVANNA LUCARELLI DE SALVIOGABRIELLA GIOVANNA LUCARELLI DE SALVIOGABRIELLA GIOVANNA LUCARELLI DE SALVIOGABRIELLA GIOVANNA LUCARELLI DE SALVIOGABRIELLA GIOVANNA LUCARELLI DE SALVIO
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994).
Pós-Graduação em Direito da Empresa e da Economia pela Fundação Getú-
lio Vargas (1998); Mestre (LL.M.) pela University of Warwick, Inglaterra
(1999). Pesquisadora-bolsista da Corte Permanente de Arbitragem na Haia,
Holanda (2003). Integrante do Programa de Capacitação para Jovens Advo-
gados junto à Missão do Brasil em Genebra (maio a agosto de 2004) e junto
à Coordenação Geral de Contenciosos do Ministério das Relações Exterio-
res (setembro a dezembro de 2005). Advogou na Companhia Vale do Rio
Doce - CVRD (1996-1998), no Veirano Advogados (1999 - 2001) e no Xavier,
Bernardes Bragança (2001-2006). É coordenadora do Núcleo de Estudos
de Solução de Controvérsias (NESC) no Rio de Janeiro. Membro da Comis-
são de Comércio Internacional e da Comissão de Arbitragem da OAB/RJ.
Sócia do escritório Xavier, Domingues, Advogados Ministra aulas e pales-
tras na área de comércio internacional.Autora de artigos sobre o tema.
GUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHOGUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHOGUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHOGUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHOGUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHO
Bacharel em direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (1997), MBA em Direito da Economia da Empresa, Funda-
ção Getúlio Vargas (1999), Mestre em Relações Internacionais pelo Institu-
to de Relações Internacionais – PUC/RJ (2006). Ministrou curso sobre Mer-
cado Financeiro e de Capitais à Associação dos Especialistas em Tradução
do Rio de Janeiro (2001), aulas ministradas na Faculdade de Direito da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro de Teoria Geral do Processo (1996).
Advogado responsável pelo departamento jurídico JGP S/A, - empresa de
gestão de recursos de terceiros (2004), advogou no escritório Castro, Bar-
ros, Sobral, Gomes Advogados (2005). Membro da Comissão de Comércio
Internacional da OAB/RJ
RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABÉTICA - 2006
15MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCOLUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCOLUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCOLUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCOLUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO
Bacharel em Direito pela Universidade Cândido Mendes (1992). Mes-
tre em Direito Constitucional e Teoria do Estado pela Pontifícia Universida-
de Católica do Rio de Janeiro (1997). Pós-Graduada em Direito Comunitá-
rio pelo Centro de Estudos Europeus da Universidade de Coimbra (1995).
Curso de Direito Internacional Privado na Academia de Direito Internacio-
nal de Haia - Holanda (1995). Curso de Direito Internacional das Organiza-
ções dos Estados Americanos – OEA (1995) Professora de Mediação e Arbi-
tragem Internacional do Centro de Estudos das Américas da Universidade
Cândido Mendes (2003-2004). Participou do Programa de Política Comer-
cial da Embaixada Brasileira em Washington (set/2005 – jan/2006). É mem-
bro do ABCI Institute - Analistas Brasileiros para o Comércio Internacional
e do Núcleo de Estudos de Solução de Controvérsias (NESC) no Rio de Ja-
neiro. É Vice-presidente da Comissão de Comércio Internacional da OAB/
RJ. Trabalhou como assistente de pesquisa na Fundação Getúlio Vargas –
FGV (1992-1994), foi consultora da Bruno Bros Consulting (1998-2000).
Atualmente é advogada associada do escritório Castro, Barros, Sobral Go-
mes Advogados. Autora de diversos artigos e trabalhos sobre o tema.
PAULA ALONSOPAULA ALONSOPAULA ALONSOPAULA ALONSOPAULA ALONSO
Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (2002). Pós-graduação de especialização em Direito Tributário pelo
Instituto Brasileiro de Estudos Tributários – IBET (2005). Membro da Ordem
dos Advogados do Brasil, Seção do Rio de Janeiro (2003). Sócia do escritó-
rio Xavier, Domingues, Campos da Silva Advogados Associados.
THEMISTOCLES MENESES NETOTHEMISTOCLES MENESES NETOTHEMISTOCLES MENESES NETOTHEMISTOCLES MENESES NETOTHEMISTOCLES MENESES NETO
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994).
Exerce a função de gerente no Departamento de Integração da América do
Sul, da Área de Comércio Exterior do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES). LLM na London School of Economics (2003-
2004). Membro da Comissão de Comércio Internacional da OAB/RJ.
RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABÉTICA - 2006
17MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
Sumário
Palavra dos Co-Patrocinadores....................................................................03
Introdução...................................................................................................05
Apresentação ..............................................................................................07
Membros da Comissão de Comércio Internacional da OAB/RJ que
participaram desta obra ..............................................................................10
Resumo Curricular dos Autores por ordem alfabética..................................11
PARTE I
I. DIREITO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO................................24
1. O surgimento do GATT e as Origens da Organização Mundial
 de Comércio – OMC........................................................................25
2. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMÉRCIO - GATT 1994..............33
2.1. Princípio da Não-Discriminação: Princípios da Nação Mais
 Favorecida e do Tratamento Nacional...................................33
2.1.2. Princípio da Nação Mais Favorecida (NMF)........33
2.1.3. Exceções ao Princípio (NMF)....................................34
2.2. Princípio do Tratamento Nacional.............................................35
2.3. Princípio da Liberalização do Comércio....................................35
2.4. Princípio da Reciprocidade ......................................................37
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL18
Sumário
2.5. Princípio da Proteção ao Mercado Doméstico...........................39
2.6. Princípio do Desenvolvimento: tratamento especial à
 países em desenvolvimento......................................................39
3. MOMENTOS DE TRANSIÇÃO: A CRIAÇÃO DA OMC...................................40
3.1. O que é a OMC?.........................................................................41
3.2. Regras Básicas da Lei e da Política da OMC...............................42
3.3. Princípio do Tratamento Nacional.............................................43
3.4. Acesso a Mercados, Encargos Aduaneiros, Limitações
 Quantitativas e Barreiras Não-Tarifárias................................44
3.5. Transparência, Previsibilidade e Justiça.....................................44
AUTORES: GUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHO E
 THEMISTOCLES MENESES NETO
PARTE II
II. RESUMO DOS PRINCIPAIS ACORDOS CONSTITUTIVOS DA OMC............. .46
1. Acordo de Agricultura .............................................................................49
1.1. Acesso a Mercados....................................................................51
1.2. Suporte Doméstico....................................................................52
1.3. Subsídios à Exportação..............................................................54
19MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
1.4. A “Cláusula da Paz”...................................................................55
1.5. Comitê de Agricultura e obrigações de notificação..................56
1.6. Relação do Acordo de Agricultura com os demais Acordos da
 Rodada Uruguai........................................................................56
2. Acordo sobre Barreiras Técnicas - Acordo TBT........................................57
3. Acordo sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias -
 Acordo SPS...............................................................................................60
4. Acordo de Direito de Propriedade Intelectual Relacionado ao Comércio –
 Acordo TRIPS.............................................................................................64
4.1. Estrutura do Acordo TRIPS........................................................64
4.2. Princípios Básicos......................................................................65
4.3. Âmbito de abrangência e as normas específicas de cada direito
 de propriedade intelectual.......................................................66
4.4. Conselho de TRIPS..................... ...............................................69
4.5. Mecanismo de Solução de Controvérsias..................................69
4.6. Implementação do Acordo TRIPS..............................................695. Acordo Geral sobre Comércio em Serviços – Acordo GATS......................70
5.1. Âmbito de Aplicação.................................................................70
5.2. Os “Modos” de Prestação de Serviços.......................................71
5.3. Princípios do GATS...................................................................71
Sumário
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL20
5.4. Cláusula da Nação Mais Favorecida (NMF)..................................72
5.5. Cláusula de Tratamento Nacional (TN).......................................72
5.6. Listas de Compromissos Específicos..........................................72
5.7 . Exceções ao cumprimento das obrigações do GATS.................73
5.8. A oferta de serviços na OMC......................................................74
5.9. As controvérsias relativas a serviços no âmbito do GATS..........74
AUTORES: BRUNO LEAL RODRIGUES, GABRIELLA LUCARELLI DE SALVIO
 LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO E PAULA ALONSO
PARTE III
III. SISTEMA DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NA OMC..............................74
AUTORES: CLOVIS TORRES JUNIOR E FREDERICO MARQUES
PARTE IV
IV. MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL............................................................83
1. Medidas antidumping..............................................................................84
2. Medidas compensatórias..........................................................................89
3. Medidas de salvaguarda...........................................................................92
4. Quadro Comparativo dos Instrumentos de Defesa Comercial..................95
AUTORES: FLÁVIA DO VALLE ROCHA E LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO
Sumário
21MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
PARTE V
V. DEFESA COMERCIAL NO BRASIL...............................................................97
1.1. A Estrutura da Defesa Comercial no Brasil................................97
 1.2. Organograma do Sistema de Defesa Comercial no Brasil......99
 1.3. O Procedimento Administrativo..............................................100
1.3.1. Pedido..........................................................................100
1.3.2. Análise Preliminar/Adequação da Petição..................100
1.3.3. Instrução e Defesa ....................................................101
1.3.4. Medidas Provisórias...................................................102
1.3.5. Compromissos...........................................................103
1.3.6. Encerramento da Investigação...................................103
 2. Salvaguardas Relativas a Produtos Chineses.............................106
2.1. Salvaguardas Relativas a Produtos Chineses.
 Salvaguardas Têxteis. Quadro Resumo............................109
3. Salvaguardas Relativas a Produtos Chineses.
 Resumo.........................................................................................110
3.1. Modalidades. Salvaguardas Transitórias.
 Decreto n. 5.556/06........................................................110
 3.2. Condições Necessárias...................................................110
Sumário
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL22
 3.3. Competências.................................................................111
 3.4. Trâmites.........................................................................111
 3.5. Prazos.............................................................................112
2. INVESTIGAÇÕES RELACIONADAS À DEFESA COMERCIAL NO BRASIL.
ESTATÍSTICAS...............................................................................................114
3. LEGISLAÇÃO.............................................................................................114
3.1. Medidas Compensatórias.......................................................115
3.2. Medidas antidumping.............................................................115
3.3. Medidas de Salvaguarda.........................................................115
AUTORES: ALEXANDRE BITENCOURT CALMON E
 LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO
PARTE VI
AUTORES: DANIEL GOMES CARNEIRO E FERNANDA CRESPO FERREIRA
GLOSSÁRIO .................................................................................................117
BIBLIOGRAFIA...............................................................................................155
Sumário
23MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
PARTE IPARTE IPARTE IPARTE IPARTE I
DIREITO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DE COMÉRCIO
GUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHO
THEMISTOCLES MENESES NETO
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL24
O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO
1. O S1. O S1. O S1. O S1. O SURGIMENTOURGIMENTOURGIMENTOURGIMENTOURGIMENTO DODODODODO GATT GATT GATT GATT GATT E ASE ASE ASE ASE AS O O O O ORIGENSRIGENSRIGENSRIGENSRIGENS DADADADADA
OOOOORGANIZAÇÃORGANIZAÇÃORGANIZAÇÃORGANIZAÇÃORGANIZAÇÃO M M M M MUNDIALUNDIALUNDIALUNDIALUNDIAL DEDEDEDEDE C C C C COMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIO - OMC - OMC - OMC - OMC - OMC
A OMC foi criada a partir das negociações da Rodada Uruguai, que
demoraram ao redor de 08 anos (1986-1994) para serem concluídas, e
iniciou seus trabalhos oficialmente em 1o de janeiro de 1995. Apesar de
seu nascimento recente, a OMC pode ser considerada como parte de um
longo processo de institucionalização da ordem econômica internacional.
Sua concepção e origens podem ser traçadas até o período da criação do
Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, e alguns dos princípios
por ela incorporados, muitos deles já presentes no Acordo Geral sobre Ta-
rifas e Comércio – GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e fun-
damentais ao comércio internacional, remontam ao século XIX e até mes-
mo à Idade Média.
Sua origem remonta ao final da 2ª Guerra Mundial quando Estados
Unidos e Grã-Bretanha iniciaram uma série de negociações para estabele-
cer os termos da nova ordem econômica internacional (FINLAYSON & Zacher,
1981; JAMES, 1996). Havia um consenso nos círculos políticos dos países
aliados quanto aos problemas a serem resolvidos (BORDO, 1993), e o
surgimento dos totalitarismos e contradições que levaram à 2ª Guerra Mun-
dial 1 era diretamente atribuído por esses círculos às conseqüências da
crise econômica da década de 30 do século XX (LIPSON, 1982; OMC 2003b)
. Problemas como a volatilização das moedas nacionais após o abandono
do padrão-ouro, as desvalorizações cambiais perseguidas pelos países na
tentativa de assegurar a competitividade no comércio internacional, a falta
de liquidez mundial, a retração dos investimentos e a adoção de diversos
entraves ao comércio internacional deviam ser resolvidos de maneira defi-
nitiva para que se garantisse o crescimento econômico e a paz mundial. O
grande desafio dos idealizadores do sistema era combinar as preocupa-
ções e os interesses distintos das duas potências.
1 Duas versões clássicas deste argumento estão no livro de E. H. Carr, “Vinte Anos
de Crise, 1919-1939: Uma Introdução ao Estudo das Relações Internacionais”, edita-
do no Brasil pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais da Universidade
de Brasília e pela Editora Universidade de Brasília, e no livro de Charles Kindleberger,
“The World in Depression, 1929-1939”, editado pelaeditora da Universidade da
Califórnia.
25MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
Assim, ao longo do ano de 1943, equipes de ambos os governos,
chefiadas do lado britânico por John Maynard Keynes e do lado norte-ame-
ricano por Harry Dexter White, iniciaram negociações para criar uma or-
dem mais institucionalizada e extensa, que tivesse por objetivo corrigir os
problemas experimentados no período entre guerras e promover uma maior
estabilidade no sistema econômico internacional.
Mas estas negociações não procuraram apenas restaurar o liberalis-
mo e a liberdade de comércio praticada durante o século XIX. Os processos
econômicos e políticos desencadeados durante o final do século XIX e o
fenômeno da guerra total, pela qual o Estado demonstrou sua capacidade
de intervir e mobilizar todos os recursos da sociedade (presente em menor
escala na 1ª Guerra Mundial e aperfeiçoado na 2ª Guerra Mundial), deixa-
ram profundas marcas nos sistemas econômicos, principalmente dos paí-
ses europeus. Exemplificando este compromisso instável entre o liberalis-
mo e o intervencionismo estatal nacionalista, a Carta do Atlântico, assina-
da em agosto de 1941, e o Pacto de Ajuda Mútua, assinado em fevereiro de
1942, ambos entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, previam a aceita-
ção do princípio da não-discriminação no comércio internacional pelos
britânicos, em contrapartida ao compromisso de respeito, pelos Estados
Unidos, da prioridade dada pela Grã-Bretanha à busca do pleno emprego
(BORDO, 1993; EICHENGREEN, 1996).
Tais divergências se refletiram na proposta de constituição das insti-
tuições que comporiam esta nova ordem, preparada pelas equipes de Keynes
e White e posteriormente utilizada como ponto de partida para a Confe-
rência de Bretton Woods, realizada no estado norte-americano de New
Hampshire em 1944 e que reuniu a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e
mais 44 países aliados. Do confronto entre os ideais liberais e os ideais
nacionalistas, que formou o que John Gerard Ruggie chamou de “Liberalis-
mo Implícito” (embedded liberalism) (RUGGIE, 1982), nasceram as princi-
pais instituições do novo sistema, posteriormente batizado de “Sistema de
Bretton Woods”: o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Interna-
cional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (ou, simplesmente, Banco
Mundial).
A questão da criação da Organização Internacional do Comércio
(International Trade Organization, no original, OIC em português) é uma
amostra interessante dos problemas deste “Liberalismo Implícito” do pós-
O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL26
O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO
guerra. A criação da OIC estava nos planos originais da Conferência
(RUGGIE, 1982; EICHENGREEN, 1996; KEYLOR, 2001), principalmente por
influência da delegação norte-americana3 . A revalorização do comércio
multilateral no sistema internacional era visto, tanto pelo governo quanto
pelos setores industriais norte-americanos, como uma das garantias para
a paz e para a sustentação da expansão da economia norte-americana
(LIPSON, 1982; EICHENGREEN, 1996; KEYLOR, 2001). Além do mais, um
sistema baseado na liberdade comercial e na não-discriminação era visto
por aqueles setores como uma oportunidade para resolver diversas
distorções e barreiras criadas no comércio internacional, como o sistema
de preferências imperiais criado pela Grã-Bretanha em 1931 e os acordos
bilaterais assinados pela Alemanha nazista com os países do Leste Euro-
peu (BORDO, 1993; EICHENGREEN, 1996), além de servir de controle ao
lobby protecionista norte-americano 4 . No entanto, diante das divergênci-
as generalizadas quanto à questão comercial, a criação da OIC foi deixada
em segundo plano e somente em dezembro de 1945 foi retomada pelo
governo norte-americano (JAMES, 1996).
As negociações que se seguiram culminaram com a preparação e acei-
tação dos Estatutos da OIC por 56 países na Conferência de Havana de
1947 5. Ironicamente, os estatutos não foram ratificados pelo Congresso
3 A liberalização do comércio foi elevada a um dos objetivos do FMI, incluída no
artigo 1º de seus estatutos, mas não houve consenso sobre como promovê-la. A
própria redação do artigo mostra o conflito de interesses entre a liberalização comer-
cial e a proteção do mercado doméstico: o FMI teria por função promover a “expan-
são equilibrada e balanceada do comércio internacional, contribuindo para a promo-
ção e manutenção de altas taxas de emprego e de renda real”. (JAMES, 1996) (tradu-
ção livre).
4 Basta lembrar que alguns autores atribuem uma parcela de culpa pelo declínio do
comércio internacional nos anos que antecederam a 2ª Guerra Mundial à resposta
protecionista do governo norte-americano à crise da década 30, simbolizada pela
tarifa Hawley-Smoot, de 1930, que aumentou tarifas sobre produtos agrícolas e in-
dustrializados em média em 59% (KEYLOR, 2001). Kindleberger alega em sua obra
sobre a depressão norte-americana (citada na nota 1) que as conseqüências da crise
mundial poderiam ter sido minimizadas caso os Estados Unidos tivessem garantido a
liquidez do sistema internacional, fornecendo empréstimos e importando os produtos
produzidos no resto do mundo (KINDLEBERGER, [s.d.]). Isto, no entanto, não ocor-
reu. Uma mostra de como a crise de 1930 exacerbou o sentimento protecionista
norte-americano está no fato do governo atribuir a responsabilidade pela crise à super-
produção mundial de matérias-primas e à cartelização das economias européias
(KINDLEBERGER, 1996 (1978).
27MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO
norte-americano, em uma reversão do ambiente positivo anterior, e a
idéia acabou sendo abandonada pela administração Truman (FINLAYSON &
ZACHER, 1981; RUGGIE, 1982; JACKSON, 1994; EICHENGREEN, 1996; JAMES,
1996; OMC, 2003a). A ordem econômica internacional do pós-guerra aca-
bou assim sustentada por apenas duas das três colunas institucionais ini-
cialmente planejadas: o FMI, quanto às questões cambiais e de financia-
mento de curto prazo da balança de pagamentos, e o Banco Mundial, quanto
às questões de investimento e financiamento de longo prazo.
Com o impasse na criação da OIC, acabou-se optando por uma solu-
ção paliativa para promover um arcabouço institucional mínimo para a
regulação do comércio internacional. Em paralelo e na esteira das negoci-
ações para a criação da OIC, foi realizada, em 1947, uma conferência com
o objetivo de registrar as concessões tarifárias e as regras de comércio
mínimas acordadas pelas partes integrantes das negociações 6. O resulta-
do foi registrado no GATT, que deveria ser o primeiro de diversos acordos
a serem negociados sob os auspícios da OIC (FINLAYSON & ZACHER, 1981).
Com os problemas envolvendo a criação da OIC, o GATT passou de um
acordo provisório a um arranjo paliativo com status de definitivo (FINLAYSON
& ZACHER, 1981; OMC, 2003a).
O GATT, portanto, teve sua negociação concluída em novembro de
1947, com a conclusão da Conferência de Genebra, ao passo que a Carta
da ITO somente foi concluída em 1948. Mesmo sabendo que o acordo de-
veria ficar subordinado à Carta da ITO, alguns negociadores julgavam ne-
cessário que o GATT entrasse em vigor imediatamente.
De acordo com os analistas da época, a demora na implementaçaão
do acordo poderia dar azo à divulgação antecipada dos resultados obtidos,
o que apontava para a necessidade de se implementar o quanto antes os
acordos tarifários alcançados em novembro de 1947.
5 Durante a Conferência de Havana (1947-1948) os países criaram o primeiro em-
brião da atual OMC, à época não efetivada, mas substituída “provisoriamente” (du-
rante meio século) pelo GATT.
6 Um dos objetivos principais da conferência,sem dúvida, foi aproveitar a autoridade
conferida pelo Congresso norte-americano ao executivo para o corte de tarifas atra-
vés da extensão da validade do Reciprocal Trade Agreements Act de 1934
(FINLAYSON & ZACHER, 1981; JACKSON, 1994).
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL28
O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO
De outra parte, outra motivação para imediata entrada em vigor do
GATT, pressionava especialmente os negociadores americanos. Pois tais
negociações foram entabuladas sob a autorização legislativa concedida em
1945, por três anos, e a demora na implementação do acordo poderia forçá-
los a submeter o acordo à apreciação do poder legislativo de seu país.
Por outro lado, os governos enfrentavam dificuldades para a
implementação imediata do acordo, sobretudo no plano jurídico. De fato,
o ordenamento jurídico interno de alguns países exige prévio exame pelo
poder legislativo para que as obrigações sejam incorporadas ao
ordenamento jurídico doméstico. Diante de tal requisito jurídico, os go-
vernos avaliavam que submeter o acordo tarifário e depois a Carta da futu-
ra organização internacional, significaria muito desgaste político interno.
Para evitar submeter os acordos à apreciação do legislativo em duas
etapas, em vez de um único pacote, os países concordaram com a adoção
de um Protocolo de Aplicação Provisória (Protocol of Provision Application).
Tal Protocolo tinha duas disposições fundamentais: a primeira con-
siste na forma de aplicação do GATT, ou seja, as partes I e III, seriam apli-
cadas imediata e incondicionalmente, sem qualquer exceção. A parte II,
por sua vez, somente seria aplicada no que não conflitasse com a legisla-
ção doméstica dos países existente à época em que o país se tornou parte
no acordo. Esta segunda parte ficou conhecida como cláusula do avô
(grandfather’s rights) e na prática permitia aos países continuar aplicando
sua legislação interna, ainda que em conflito com o disposto no GATT.
Dessa forma, o GATT entrou provisoriamente em vigor, situação que per-
durou até a conclusão da Rodada Uruguai em 1986.
Durante o período de vigência do GATT, foram realizadas sete roda-
das de negociações multilaterais, com ênfase na redução de tarifas. Com
efeito, sob o GATT conseguiu-se a redução de tarifas na ordem de 40% 7 .
A partir da Rodada de Tóquio, novos temas foram inseridos na agenda do
GATT e os países passaram a discutir questões como serviços, meio ambi-
ente, propriedade intelectual, dentre outros.
7 JACKSON, John et al. Legal Problems of International Economic Relations.
Minnesota: West Group, 2002.
29MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
A última dessas rodadas de negociação iniciou-se em 1986, em Punta del
Este, Uruguai e teve a duração de 8 (oito) anos. Conhecida como Rodada
Uruguai, essa última Rodada de Negociações do GATT é considerada uma
das mais ambiciosas, pois além do aprofundamento no corte de tarifas,
trouxe inovação institucional; acordos sobre serviços; agricultura; investi-
mentos, dentre outros.
O Acordo de Marrakesh, assinado em 15 de abril de 1994, tem como
objeto principal a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), com
natureza jurídica de pessoa de direito público internacional, que goza dos
privilégios e imunidades conferidos pela Convenção das Nações Unidas
sobre Privilégios e Imunidades de Agências Especializadas 8 .
Conforme já salientado acima, dentre outros dispositivos, o Acordo
de Marrakesh estabelece os objetivos, as funções e a estrutura da OMC. No
que se refere ao acordo sobre bens, cabe destacar o Artigo II do Acordo de
Marrakesh, que estabelece a forma de incorporação dos acordos pré-OMC
ao sistema inaugurado com a conclusão da Rodada Uruguai.
De acordo com o parágrafo 1, do Artigo II, “a OMC constituirá o qua-
dro institucional comum para a condução das relações comerciais entre
seus membros nos assuntos relacionados com os acordos e instrumentos
legais conexos incluídos nos Anexos ao presente acordo” 9 .
Ou seja, conforme delineado pelos negociadores de 1948, de acordo
com a norma acima transcrita, o Acordo de Marrakesh funciona como uma
superestrutura, à qual os demais acordos foram incorporados 10 . É o que
se verifica nos demais parágrafos do artigo em tela, assim redigidos:
8 Aprovada pela Assembléia Geral em 21 de novembro de 1947.
9 Tradução oficial. Decreto n.º 1.355, de 30 de dezembro de 1994, publicado no Diário
Oficial da União, Suplemento ao n.º 248-A, Seção 1, de 31 de dezembro de 1994, p.1
e seguintes.
10 A doutrina americana e inglesa referem-se ao Acordo de Marrakesh como um
umbrella agreement (acordo guarda-chuva, em tradução livre), pois os demais acor-
dos ficam sob sua proteção. Alguns autores (Deborah Cass) se referem à
“constitucionalização” do direito do comércio internacional, traçando um paralelo com
a famosa pirâmide de Kelsen.
O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL30
O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO
2. Os acordos e os instrumentos legais conexos incluídos nos Anexos
1, 2 e 3 (denominados a seguir “Acordos Comerciais Multilaterais”) formam
parte integrante do presente Acordo e obrigam todos os Membros.
3. Os acordos e os instrumentos legais conexo incluídos no Anexo 4
(denominados a seguir “Acordos Comerciais Plurilaterais”) também formam
parte do presente Acordo para os Membros que o tenham aceito e são
obrigatórios para estes. Os acordos comerciais plurilaterais não criam obri-
gações nem direitos para os membros que não os tenham aceitado.
4. O Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio 1994, confor-
me se estipula no Anexo 1A (denominado a seguir “GATT 1994”) é juridi-
camente distinto do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio com
data de 30 de outubro de 1947, anexo à Ata Final adotada por ocasião do
encerramento do segundo período de sesões da Comissão Preparatória da
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Emprego, posteriormen-
te retificado, emendado ou modificado (denominado a seguir “GATT 1947”).
11”
O antigo GATT 1947 foi incorporado, com todas as suas retificações,
emendas e modificações, ao Acordo de Marrakesh e rebatizado de GATT
1994. Antes um documento autônomo, o GATT passou a ser um dos quatro
anexos que compõem o Acordo de Marrakesh. Isso não significa, entretan-
to, que sua importância foi diminuída, pelo contrário, o GATT 1994 contém
os princípios basilares sobre o qual está montado todo o sistema jurídico
que disciplina as relações econômicas internacionais.
 Uma vez que seu objetivo principal era o de registrar concessões
tarifárias, o GATT deixou diversas questões importantes para serem abor-
dadas no âmbito da OIC e que acabaram sem um tratamento institucional
específico (FINLAYSON & ZACHER, 1981). No entanto, alguns princípios fun-
damentais do comércio e do direito internacionais, sempre temperados pelo
“Liberalismo Implícito”, estavam a ele incorporados e formaram o arcabouço
institucional que permitiu o florescimento do comércio mundial no pós-
guerra e, posteriormente, a retomada da idéia de criação de uma organi-
zação para a regulação do comércio.
11 Ver nota 2, acima.
31MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL32
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMÉRCIO - GATT 1994
2. P2. P2. P2. P2. PRINCÍPIOSRINCÍPIOSRINCÍPIOSRINCÍPIOSRINCÍPIOS F F F F FUNDAMENTAISUNDAMENTAISUNDAMENTAISUNDAMENTAISUNDAMENTAIS DODODODODO L L L L LIVREIVREIVREIVREIVRE C C C C COMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIO - GATT 1994 - GATT 1994 - GATT 1994 - GATT 1994 - GATT 1994
2.1 P2.1 P2.1 P2.1 P2.1 PRINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIODADADADADA N N N N NÃOÃOÃOÃOÃO-D-D-D-D-DISCRIMINAÇÃOISCRIMINAÇÃOISCRIMINAÇÃOISCRIMINAÇÃOISCRIMINAÇÃO: P: P: P: P: PRINCÍPIOSRINCÍPIOSRINCÍPIOSRINCÍPIOSRINCÍPIOS DADADADADA N N N N NAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO
MMMMMAISAISAISAISAIS F F F F FAVORECIDAAVORECIDAAVORECIDAAVORECIDAAVORECIDA E DOE DOE DOE DOE DO T T T T TRATAMENTORATAMENTORATAMENTORATAMENTORATAMENTO N N N N NACIONALACIONALACIONALACIONALACIONAL
2.1.2 – P2.1.2 – P2.1.2 – P2.1.2 – P2.1.2 – PRINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIO DADADADADA N N N N NAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO M M M M MAISAISAISAISAIS F F F F FAVORECIDAAVORECIDAAVORECIDAAVORECIDAAVORECIDA
 (M (M (M (M (MOSTOSTOSTOSTOST F F F F FAVOREDAVOREDAVOREDAVOREDAVORED N N N N NATIONATIONATIONATIONATION)))))
O princípio que pode ser apontado como a pedra basilar do GATT é o
Princípio da Não-Discriminação, ou Princípio da Nação Mais Favorecida In-
condicional (Unconditional Most Favored Nation), previsto no artigo 1.1 do
acordo (FINLAYSON & ZACHER, 1981; LIPSON, 1982).
Esse princípio geral do direito internacional do comércio encerra em
sua nomenclatura uma contradição com seu objetivo. Com efeito, o escopo
do princípio não é conceder privilégio a determinados parceiros comerci-
ais, na verdade, o Princípio da Nação Mais Favorecida (NMF) estabelece a
obrigação de que qualquer “vantagem, favor, privilégio ou imunidade” con-
cedido por um membro da OMC a outro, deve ser imediata e incondicional-
mente estendido aos demais membros da OMC.
O Princípio da Não-Discriminação se baseia no princípio clássico da
NMF, formulado no Tratado de Comércio Anglo-Francês de 1860 (o Trata-
do de Cobden-Chevalier) e depois reproduzido em outros tratados bilate-
rais no resto da Europa (LIPSON, 1982).
Por esse Princípio, em sua formulação clássica, as partes contratantes
estavam obrigadas a estender mutuamente quaisquer reduções de tarifas
que aplicassem aos produtos importados de terceiros. Quando se espa-
lhou para outros países europeus com compromissos recíprocos, este sis-
tema a princípio bilateral de redução de tarifas acabou se tornando verda-
deiramente multilateral.
Como já mencionado, à aplicação do Princípio da NMF é incondicional
e bastante ampla, diferenciando-se do princípio clássico em três aspectos.
Em primeiro lugar, não se aplicava apenas a tarifas aduaneiras, mas a to-
das as regras de comércio previstas no GATT. Em segundo lugar, se aplica-
va igualmente e diretamente a todos os membros do GATT. Por fim, se
aplicava a tarifas e concessões mesmo que não tivessem sido objeto de
negociação entre os membros do GATT (FINLAYSON & ZACHER, 1981). Por-
tanto, o Princípio NMF abrange não só tarifas e medidas alfandegárias, bem
como tributos internos, taxas e regulamentos que afetem a circulação, dis-
tribuição e uso dos produtos.
33MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
Dentre os vários motivos para adoção do princípio da NMF, a doutri-
na12 destaca a remoção de obstáculos à vantagem comparativa e o estímu-
lo à livre concorrência e a competição.
2.1.3 E2.1.3 E2.1.3 E2.1.3 E2.1.3 EXCEÇÕES AOXCEÇÕES AOXCEÇÕES AOXCEÇÕES AOXCEÇÕES AO P P P P PRINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIO DADADADADA NMF NMF NMF NMF NMF
Apesar de sua importância, o Princípio NMF comportou diversas ex-
ceções, como a que permitiu a continuidade dos sistemas imperiais de pre-
ferências tarifárias da Grã-Bretanha e da França (expressamente prevista
no artigo 1.2 do GATT) e a que permitiu a criação de uniões aduaneiras e
áreas de livre comércio (Artigo XXIV), no interesse da “maior integração
econômica dos países membros destes acordos” (artigo 24 do GATT)
(FINLAYSON & ZACHER, 1981; RUGGIE. 1982). Assim, na prática internaci-
onal, tanto nos tratados bilaterais, quanto nos multilaterais (inclusive na
OMC), o princípio da NMF somente é concedido aos países que estão dis-
postos a concederem a mesma condição (reciprocidade) 13. Outras exce-
ções fundamentais permitiam ainda a discriminação por intermédio da im-
posição de quotas para a proteção do balanço de pagamentos e da imposi-
ção de medidas antidumping e de salvaguarda contra práticas de comércio
desleais. Posteriormente, a Rodada Tóquio oficializou a aplicação de pre-
ferências discriminatórias em favor dos países em desenvolvimento atra-
vés do Sistema Geral de Preferências - SGP (Artigo XXVIII) (Generalized
System of Preferences)14 (FINLAYSON & ZACHER, 1981).
12 MATSUSHITA, Mitsuo; SCHOENBAUM, Thomas J. e MAVROIDS, Petros. The World
Trade Organization: Law, Practice, and Policy. Londres, Oxford, 2004.
13 Apesar de sua longa existência (e prática) nas relações econômicas internacionais,
o princípio da NMF não tem a natureza jurídica de um costume internacional. Isto
implica, portanto, no fato de que somente pode ser alegado com base em tratado
bilateral ou multilateral. Houve tentativas mal sucedidas de se estabelecer o princípio
da NMF como um princípio geral de direito internacional, como a iniciativa de 1978,
da Comissão de Direito Internacional da ONU, e a Carta de Direitos e Deveres Eco-
nômicos dos Estados publicada em 1974 pela Assembléia Geral da ONU.
14 O Sistema Geral de Preferências foi criado por meio de acordo aprovado em outu-
bro de 1970 pela Junta de Comércio e Desenvolvimento da UNCTAD (United Nations
Conference on Trade and Development), a agência das Nações Unidas para o De-
senvolvimento e o Comércio, e prevê a redução de tarifas pelos países membros da
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (Organization for
Economic Co-operation and Developement, em inglês) para determinados produtos
exportados por países em desenvolvimento (Ministério do Desenvolvimento, da In-
dústria e do Comércio Exterior, [s.d.]).
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMÉRCIO - GATT 1994
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL34
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMÉRCIO - GATT 1994
2.2 P2.2 P2.2 P2.2 P2.2 PRINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIO DODODODODO T T T T TRATAMENTORATAMENTORATAMENTORATAMENTORATAMENTO N N N N NACIONALACIONALACIONALACIONALACIONAL
 (N (N (N (N (NATIONALATIONALATIONALATIONALATIONAL T T T T TREATMENTREATMENTREATMENTREATMENTREATMENT P P P P PRINCIPLERINCIPLERINCIPLERINCIPLERINCIPLE)))))
O Princípio do Tratamento Nacional (PTN) obriga a não discriminação
entre produtos nacionais e estrangeiros. Em outras palavras, no que se
refere aos bens, o PTN estabelece que uma vez desembaraçado na alfân-
dega e aplicado eventuais impostos e/ou tarifas, os produtos importados
devem receber o mesmo tratamento dispensado aos produtos da mesma
natureza produzidos no país. Caso contrário, o tratamento discriminatório
pode inviabilizar as concessões tarifárias estabelecidas com base no Arti-
go II, do GATT 1994.
O Artigo III, do GATT 1994, que veicula o princípio ora em tela, esta-
belece que nenhuma lei, regulamento ou tributação pode modificar desfa-
voravelmente as condições de concorrência entre produtos dométicos ou
importados similares.
O parágrafo 1, do Artigo III, contém princípios gerais e serve como
contexto para a aplicação dos demais parágrafos. Ademais, o parágrafo 1
estabelece o escopo de aplicação do Artigo III, a saber:
1. tributos internos e cobranças
2. leis, regulamentos e requerimentos que afetem a venda, transpor
 tem distribuição ou uso do produtos
3. regulamentos internos que exijam mistura, processamento ou uso
 do produtos em proporções determinadas.
O objetivo do Artigo III é, portanto, garantir a efetiva igualdade de
oportunidade dos produtos importados para competir com os produtos
domésticos e, também, evitar que medidas adotadas no âmbito doméstico
afetem as concessões tarifárias (conforme destacado acima) e limitar as
medidas protetivas aos controles de fronteira.2.3 P2.3 P2.3 P2.3 P2.3 PRINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIO DADADADADA L L L L LIBERALIZAÇÃOIBERALIZAÇÃOIBERALIZAÇÃOIBERALIZAÇÃOIBERALIZAÇÃO DODODODODO C C C C COMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIOOMÉRCIO
Como visto anteriormente, o Princípio da Liberalização do Comércio
estava por trás do impulso (principalmente por parte do governo norte-
35MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
americano) de criação da OIC e de eliminação de barreiras não-
tarifárias como, por exemplo, as quotas de importação (EICHENGREEN,
1996). Apesar deste princípio não ter sido unânime entre os países (espe-
cialmente os europeus), não foi abandonado juntamente com os planos de
criação da OIC. Inspirado no imperativo de proteção do pleno emprego e
de estabilidade econômica, o princípio foi elevado pelo artigo 12 do GATT
ao status de uma das normas básicas do sistema (FINLAYSON & ZACHER,
1981; RUGGIE, 1982).
No início, as primeiras negociações para a liberalização no âmbito do
GATT se concentraram na redução de tarifas (FINLAYSON & ZACHER, 1981;
LIPSON, 1982; OMC, 2003a). A primeira rodada de negociações 15, que co-
incidiu com a própria instituição do GATT, em Genebra, conseguiu redu-
ções expressivas nas tarifas, em grande parte por concessões dos Estados
Unidos (FINLAYSON & ZACHER, 1981; LIPSON, 1982; EICHENGREEN, 1996).
As Rodadas de Genebra (1947), Annecy (1949), Torquay (1950-1951), e
Dillon (1960-1961) pouco avançaram nas reduções (FINLAYSON & ZACHER,
1981; LIPSON, 1982; EICHENGREEN, 1996). A rodada Kennedy (1964-1967)
conseguiu romper o imobilismo graças às mudanças no cenário econômico
europeu e à autorização do Congresso norte-americano para o corte ex-
pressivo de tarifas, mas não trouxe grandes avanços no campo de medidas
não-tarifárias (com exceção da aprovação de regras para a aplicação de
medidas antidumping) (FINLAYSON & ZACHER, 1981; LIPSON, 1982). Ape-
nas a Rodada Tóquio 16 (1973-1979), que estudaremos com mais vagar no
Acordo sobre Barreiras Técnicas, procurou atacar de maneira mais siste-
mática a utilização de barreiras não-tarifárias e outros empecilhos ao co-
mércio através da aprovação de códigos como o de Compras Governamen-
tais (Government Procurement Code), de Licenciamento de Importações
(Import Licensing), de Barreiras Técnicas (Technical Barriers) e de Subsídi-
os e Medidas Compensatórias (subsidies and Countervailing Duties)
(FINLAYSON & ZACHER, 1981; OMC, 2003a). Finalmente, a Rodada Uruguai
15 No âmbito do GATT, as reduções tarifárias e eventuais alterações nas regras de
comércio foram promovidas através de rodadas multilaterais de negociação. Antes
da OMC, as rodadas foram as de Genebra (1947), Annecy (1949), Torquay (1951),
Genebra (1956), Dillon (1960-61), Kennedy (1964-1967), Tóquio (1973-1979) e Uru-
guai (1986-1994) (OMC, 2003a). Com a criação da OMC, a negociação através do
sistema de rodadas foi mantida, estando atualmente em discussão a Rodada de Doha.
16 A Rodada Tóquio será estudada com mais detalhes no capítulo IV, quando será
pormenorizado na análise sobre o Acordo sobre Barreiras Técnicas.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMÉRCIO - GATT 1994
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL36
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMÉRCIO - GATT 1994
procurou ampliar o escopo das reduções tarifárias, além de promover
uma maior discussão da questão agrícola.
2.4 P2.4 P2.4 P2.4 P2.4 PRINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIO DADADADADA R R R R RECIPROCIDADEECIPROCIDADEECIPROCIDADEECIPROCIDADEECIPROCIDADE
O Princípio da Reciprocidade possui uma longa história não apenas
no comércio internacional como também no direito internacional. Segundo
o saudoso Professor Celso Mello, o princípio é encontrado em tratados
datados do século XII e XIII (MELLO, 2000) e a idéia de que um país que se
beneficia de concessões feitas por outro deve estender a este os mesmos
benefícios sem dúvida constituiu a base do Princípio da Nação Mais
Favorecida.
Por influência do governo norte-americano, o mesmo princípio foi
incluído como uma das principais normas do GATT no artigo 28 e até a
década de 60 se constituiu em uma exigência legal interna norte-america-
na para a condução de negociações comerciais (FINLAYSON & ZACHER,
1981).
Apesar de muito importante para a interpretação e o desenvolvimen-
to do GATT, a aplicação do Princípio da Reciprocidade na prática se revelou
muito mais complicada. O “Liberalismo Implícito” que permitiu a criação do
GATT também permitiu a aplicação desigual dos princípios comerciais quan-
do fosse do interesse dos Estados envolvidos proteger seus mercados na-
cionais; algumas alterações propostas ao GATT, a aprovação do Trade
Expansion Act pelo Congresso norte-americano em 1962 17, a exclusão
dos países em desenvolvimento do requisito da reciprocidade em 1965 e a
criação do SGP, em 1971, comprometeram ainda mais a aplicação do Prin-
cípio da Reciprocidade. Com isso, ele acabou se restringindo ao conceito
de “Cobertura Comercial” (trade coverage), pelo qual a reciprocidade pas-
sou a ser avaliada com relação ao volume de importações coberta pelas
concessões tarifárias (FINLAYSON & ZACHER, 1981). Como efeito não-de-
sejado desta visão limitada, ao invés de assegurar um tratamento igualitá
17 Com o Trade Expansion Act, os negociadores norte-americanos deixaram de estar
obrigados a negociar com base em uma reciprocidade de “item por item” ou “produto
por produto” e passaram a adotar uma reciprocidade baseada em “pacotes”
(FINLAYSON & ZACHER, 1981).
37MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
rio das partes, o princípio permitiu a predominância dos países desenvol-
vidos nas trocas comerciais, seja pelo tamanho de seus mercados internos,
seja por sua capacidade de oferecer “concessões” tarifárias, especialmente
em produtos e matérias-primas que não afetassem diretamente sua eco-
nomia doméstica ou lhe fossem complementares (FINLAYSON & ZACHER,
1981).
2.5 P2.5 P2.5 P2.5 P2.5 PRINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIORINCÍPIO DADADADADA P P P P PROTEÇÃOROTEÇÃOROTEÇÃOROTEÇÃOROTEÇÃO AOAOAOAOAO M M M M MERCADOERCADOERCADOERCADOERCADO D D D D DOMÉSTICOOMÉSTICOOMÉSTICOOMÉSTICOOMÉSTICO
Como visto acima, a preocupação dos países europeus (e especial-
mente da Grã-Bretanha) com os efeitos que a liberalização comercial po-
deria ter sobre suas economias no pós-guerra levaram à relativização dos
princípios da Liberalização do Comércio e da Reciprocidade incorporados
ao GATT, através da inserção de “cláusulas de escape” que permitissem
aos países membros adotarem salvaguardas temporárias específicas quando
as mudanças nos ambientes doméstico e internacional pudessem causar
desestabilização de suas economias domésticas (FINLAYSON & ZACHER,
1981; LIPSON, 1982).
Assim, o artigo 12 permitia, por exemplo, a imposição de restrições
quantitativas pelos países membros para responder a distorções na balan-
ça de pagamentos, benefício ainda mais ampliado para os países em de-
senvolvimento pelo artigo 23.B. Por sua vez, o artigo 19 (e também o arti-
go 28) conferia o benefício de exceções às regras do GATT nos casos de
desorganização dos mercados locais, através da imposição de quotas ou
de alteração das tarifas máximas a que os Estados haviam se comprometi-
do, desde que comprovada a ocorrência de danos substanciais ou potenci-
ais à indústria nacional, fossem promovidas consultas entre as partes (im-
portadores e exportadores) sobre a imposição das barreiras e estas não
fossem discriminatórias (FINLAYSON & ZACHER, 1981; LIPSON, 1982).
Como antes mencionado, além dessas cláusulas de escape, diversos
aspectos importantes do comércio internacional terminaram excluídos do
GATT ou de algumas obrigações do acordo, como questões relativas a com-
pras governamentais e áreas de livre comércio e uniões aduaneiras,
excetuadas do Princípio da Nação Mais Favorecida; o setor de agricultura,excetuado da proibição da imposição de quotas; a exportação de matéri-
as-primas, excetuada da proibição de subsídios à exportação; e questões
relativas a imperativos de segurança nacional, saúde e moralidade públi
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMÉRCIO - GATT 1994
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL38
3. MOMENTOS DE TRANSIÇÃO: A CRIAÇÃO DA OMC
cas, excetuados de modo geral das regras do acordo (FINLAYSON &
ZACHER, 1981). Além disso, diversas práticas discriminatórias e barreiras
ao comércio simplesmente não eram sequer objeto de discussão, já que
pela chamada grandfather clause medidas adotadas antes da adesão ao
acordo não estavam sujeitas a suas regras (FINLAYSON & ZACHER, 1981;
JACKSON, 1994).
Os acordos posteriores assinados para a solução destas questões em
muitos casos mantiveram diversas exceções e possuíam caráter plurilateral,
ou seja, de aplicação restrita aos signatários e não tendo caráter obrigató-
rio (OMC, 2003a).
2.6 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO:2.6 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO:2.6 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO:2.6 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO:2.6 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO:
 T T T T TRATAMENTORATAMENTORATAMENTORATAMENTORATAMENTO E E E E ESPECIALSPECIALSPECIALSPECIALSPECIAL
 À P À P À P À P À PAÍSESAÍSESAÍSESAÍSESAÍSES EMEMEMEMEM D D D D DESENVOLVIMENTOESENVOLVIMENTOESENVOLVIMENTOESENVOLVIMENTOESENVOLVIMENTO
O Princípio do Tratamento Especial aos países em desenvolvimento
foi acrescentado ao GATT em 1965, mas já vinha sido debatido desde me-
ados dos anos 50, com o aumento do número de países em desenvolvi-
mento subscritores desse acordo. No entanto, no início, os países desen-
volvidos estavam mais preocupados em proteger suas indústrias locais e
suas reservas internacionais e as atenções estavam voltadas para a impor-
tação; desta forma, o artigo 28 foi revisado em 1955 para permitir mais
flexibilidade aos países em desenvolvimento na imposição de restrições à
importações (FINLAYSON & ZACHER, 1981).
Com a introdução no GATT da chamada “Parte IV”, em 1965, o trata-
mento privilegiado dos países em desenvolvimento ganhou importância
(ao menos simbólica) muito grande, e o Princípio da Reciprocidade foi for-
malmente relativizado, ganhando ainda mais importância com a aceitação
do Princípio do Desenvolvimento após a Rodada Tóquio. Outras alterações,
como a exceção também criada pela Rodada Tóquio à proibição de subsí-
dios para a exportação de matérias-primas e a permissão formal de siste-
mas de preferências e a criação do SGP, procuraram reforçar a posição dos
países em desenvolvimento (FINLAYSON & ZACHER, 1981).
Há controvérsias quanto aos efeitos reais de todas estas exceções
sobre o comércio exterior dos países menos desenvolvidos. Apesar dos
benefícios criados para a exportação de produtos primários, pouco se avan-
39MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL
3. M3. M3. M3. M3. MOMENTOSOMENTOSOMENTOSOMENTOSOMENTOS DEDEDEDEDE T T T T TRANSIÇÃORANSIÇÃORANSIÇÃORANSIÇÃORANSIÇÃO: A C: A C: A C: A C: A CRIAÇÃORIAÇÃORIAÇÃORIAÇÃORIAÇÃO DADADADADA OMC OMC OMC OMC OMC
Ao tempo do início da Rodada Uruguai, em 1986, quase 40 anos após
sua criação, o GATT apresentava problemas e sofria um grande desgaste.
Apesar de ter ajudado a promover, juntamente com o “sistema de Breton
Woods”, o crescimento da economia mundial e o aumento substancial das
trocas comerciais, principalmente entre os países desenvolvidos, ao final
dos anos 70 e início dos anos 80 o GATT passou a enfrentar diversos
questionamentos e movimentos crescentes de restrição ao comércio (atra-
vés da imposição de barreiras tarifárias mas, em especial, pela crescente
utilização de barreiras não-tarifárias), algumas em clara afronta a seus
princípios, outras permitidas pelas brechas e imprecisões do acordo (LIPSON,
1982; OMC, 2003a).
Dentre as restrições mais usadas, justamente porque construídos nas
brechas do GATT e portanto não considerados abertamente como “ilegais”,
estavam os acordos de Restrições Voluntárias à Exportação, ou RVE (em
inglês, Voluntary Export Restraints), usados até hoje. A grande vantagem
dos RVE era o fato de que enquanto as regras do GATT voltavam-se com a
imposição de barreiras discriminatórias à importação, os Acordos RVE re-
presentam uma restrição “voluntária” aplicadas pelos exportadores a seus
próprios produtos (LIPSON, 1982).
Apesar de mais visíveis, os RVE não eram as únicas barreiras a se
beneficiarem das brechas nas regras do GATT, os subsídios à exportação
também representavam entrave considerável ao comércio no âmbito do
acordo, principalmente pela dificuldade de identificá-los (LIPSON, 1982).
Mas as críticas ao GATT não se limitavam apenas à aplicação e ao
escopo de suas regras. Muitas críticas eram direcionadas às dificuldades
de adaptação do acordo às novas condições do comércio internacional,
cada vez mais complexo e envolvendo um número crescente de partici-
çou na liberalização de produtos agrícolas (que compõem a maior parte da
pauta de exportações destes países), altamente protegidos pelos países
desenvolvidos. Além disso, o incentivo para a criação de barreiras ao co-
mércio por parte dos países em desenvolvimento prejudicou fortemente o
chamado comércio “sul-sul”, tornando estes países ainda mais dependen-
tes dos mercados desenvolvidos (OMC, 2003a).
3. MOMENTOS DE TRANSIÇÃO: A CRIAÇÃO DA OMC
MANUAL DE DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL40
3. MOMENTOS DE TRANSIÇÃO: A CRIAÇÃO DA OMC
pantes, a maioria países em desenvolvimento (OMC, 2003a).
A primeira tentativa de se fazer uma reforma ao GATT veio com a
Rodada Tóquio, que falhou em promover alterações em questões relevan-
tes como agricultura e medidas de salvaguarda, como veremos mais
detalhadamente no Acordo sobre Barreiras Técnicas. Alguns acordos rela-
tivos às barreiras não-tarifárias foram criados, contudo a natureza não
imperativa destes fez com que apenas um reduzido número grupo de paí-
ses aderissem a esses acordos (OMC, 2003a). Ademais, o fato de não se-
rem estes acordos multilaterais, não estimulou sua adesão pela maioria
dos membros.
A falhas da Rodada Tóquio em promover as mudanças necessárias ao
sistema acabaram levando à Rodada Uruguai, considerada por muitos como
a rodada mais ambiciosa já proposta. Apesar da falta de acordo em diver-
sos assuntos, as negociações atingiram progressos significativos, entre
outros estendendo a cobertura de suas regras a setores anteriormente ex-
cluídos, como o de serviços e de propriedade intelectual, estabelecendo
novas regras a respeito de subsídios e alterando os procedimentos para
resolução de disputas (JACKSON, 1994).
Mas a conseqüência mais importante da Rodada Uruguai foi a reto-
mada da idéia de criação de uma organização internacional para a promo-
ção da liberalização do comércio, abandonada há mais de 40 anos junta-
mente com a criação da OIC e finalmente implementada através da OMC.
3.1 O Q3.1 O Q3.1 O Q3.1 O Q3.1 O QUEUEUEUEUE É AÉ AÉ AÉ AÉ A OMC? OMC? OMC? OMC? OMC?
Em alguns aspectos, a OMC difere da OIC na abordagem e maneira
pela qual atua. Sua carta possui objetivos mais limitados que os da OIC e,
ao invés de regular de maneira direta diversos aspectos do comércio inter-
nacional, procura proporcionar uma estrutura institucional para a
implementação do acordado por seus membros durante as rodadas de ne-
gociações substantivas, como no caso da Rodada Uruguai (JACKSON, 1994).
Primeiramente, a organização se constitui em um fórum para facilitar e
promover a negociação entre os Estados e a solução pacífica de controvér-
sias relativas ao comércio internacional (OMC, 2003a).
Assim, a OMC

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