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f i do Adescobertadeet:uea maiorparledascélUlas animaisevegetais , . contemumsistema internoparasilenciar ganesindividuais triturandoo RNAque 81asproduzem surpreendeubiólogos. Empresasde biotecnologiajá planejamexploraro. mecanismo 50 SCIENTlFICAMERICANBRASIL lIJi SETEMBRO2003 cc . .~= ..~ m~ .~ ~ ~ - ~- - .. enomaPorNelsonC.LaueDavid~Bartel '"z Z ~ OJ ..Z'" [!]bservadasobrealâminade ummicroscópio,umacélulavivapareceserena.Massob afachadatranqüila,háumagitadotagarelarbioquímico. o genomadoDNA decadacélulaanimalouve- quandogenesviraisasinvadem.Essareaçãopodeinibir getalcontémmilharesdegenes.Deixadosporsua quasetodaexpressãogenética.Nosúltimosanos,cientis- própriaconta,osmecanismosdetranscriçãocelular tasdescobriramumaparatomuitomaishábil,precisoe- expressariamcadagenedogenomaaomesmot'em- parafinsdepesquisaemedicina- muitomaisseguro, po: desenrolandoo DNA daduplahélice,transcre- embutidoempraticamentetodasascélulasanimaiseve- vendocadageneemmensageiroRNA defilamento getais.DenominadoRNA deinterferência,ouRNAi,esse simplese,finalmente,traduzindoasmensagensRNA sistemaatuacomoumcensor.Quandoumgeneameaça- parasuasformasprotéicas.Nenhumacélulapoderia doréexpresso,omecanismoRNAi ointercepta. funcionaremmeioaessacacofonia.Porissoelasamor- Osbiólogosestãofascinadoscomomodusoperandi daçamamaiorpartedosgenes,permitindoquedeter- dessecensorcelulareosestímulosqueo impelema minadoconjuntosejaouvido.Na maioriadasvezes, entraremação.Emprincípio,oscientistaspoderãoin- umcódigoDNA genéticoétranscritoemmensageiro ventarformasdedirecionaroRNA deinterferênciapara RNA somenteseumdadogrupoprotéicoforacolhido reprimirgenesenvolvidosnocâncer,infecçõesviraise emumaregiãor~guladoranogene. outrasdoenças. Mas algunsgenessãotãoirreverentesquenunca Pesquisadorestrabalhandocomplantas,vermes, deveriamterliberdadedeexpressão.Seos genesde moscaseoutrosorganismosexperimentaisaprenderam elementosgenéticosmóveispudessemdifundircomsu- comolevaro RNAi a reprimirpraticamentequalquer cessosuasmensagensdeRNA, seriamcapazesdepu- gene.Comoferramentadepesquisa,oRNAi temobti- lardeumlugaraooutronoDNA, causandocâncerou doumsucessoimenso. outrasdoenças.Damesmaforma,seosvírustivessem Enquantoamaiorpartedosgruposdepesquisaestá permissãoparaexpressarsuasmensagenslivremente, utilizandooRNA deinterferênciacomoummeiopara tomariamoslocaisdeproduçãodeproteínasdascélu- umfim,outrosinvestigamcomo,exatamente,o fenô- Ias,obrigando-osaproduzirproteínasvirais. menosemanifesta.Algunslaboratórios(incluindoo Ascélulasdispõemderecursosparacontra-atacar.Há nosso)estãodesvendandoasfunçõesparaomecanismo tempososbiólogosidentificaramumsistema,aresposta doRNAi nocrescimentoedesenvolvimentonormaisde interferon,peloqualascélulashumanassemobilizam plantas,fungoseanimais- eentreeles,oshumanos. WWW.SCIAM.COM.BR SCIENTIFICAMERICANBRASIL 51 .. ,<: l;Z: !~ '<; ':5 i~ li> i§ ,;z: I::: I < c'"<: i3 ã: PETÚNIAS PÚRPURAS deram as primeiras pistas sobre a existência dos censores de genes em plantas. Ouando genes de pigmentos extras foram inseridos em plantas normais (esquerda), as flores que resultaram tinham, estranhamente, áreas com ausência de cor (centro e direita) UmSilêncioEstranho As PRIMEIRASALUSÕESAO FENÔMENORNAi apareceramhá13 anos.RichardA. Jorgensen,atualmentenaUniversityofArizona e, independentemente,Joseph MoI, da FreeUniversity of Amsterdam,inseriramempetúniasdefloraçãopúrpuracópias adicionaisdeseugenedepigmentonatural.Esperavamqueas plantasmodificadasporengenhariagenéticaproduzissemflores emumvioletaaindamaisvibrante.Em vezdisso,obtiveramflo- resmuitomenosvioláceas,comfaixasbrancas. JorgenseneMoI concluíramqueascópiasextrasacionavam, dealgumaforma,acensuraemtodososgenesdopigmentopúr- pura- incluindoaquelesnaturaisàspetúnias- resultandoem floresmulticoloridasoumesmocomaparênciaalbina.Essacen- suradualdeumgeneinseridoemseuanálogonaturalchamada co-supressãofoi, maistarde,observadaemfungos,moscasde frutaseoutrosorganismos. Pistasdomistériodecomoosgenesestavamsendosilencia- dosseevidenciaramem1997,atravésdolaboratóriodeWilliam G. Dougherty,na OregonStateUniversity.Os pesquisadores iniciaramoestudocomplantasdetabacoquecontinhamdentro do seuDNA váriascópiasdo genede capaprotéica(CP) do tobaccoetchvírus(TEV).Quandoessasplantaseramexpostasao vírus,algumasmostravam-seimunesà infecção.Doughertysu- geriuqueessaimunidadesurgiapelaco-supressão.As plantas, A .Oscientistashá muitosabemcomo introduzir genes alterados em organismos experimentais. Mas só nos Últimos anos descobriram uma forma convenientee eficaz de desativar um gene específico no interiorde uma célula. . Ouasetodas as células animais evegetais apresentamum mecanis- mo interno que utiliza formas distintas do RNA, a molécula mensa- geiragenética,para naturalmente~ilenciardeterminadosgenes. . Esse mecanismo se desenvolveutanto para protegeras células de genes hostis como para regulara atividadedegenes normais duran- te o crescimento e o desenvolvimento.Novos medicamentospode- rãoser desenvolvidospara exploraro mecanismo do RNAde interfe- rência na prevenção e no tratamento de doenças. 52 SCIENTIFICAMERICANBRASIL aparentemente,reagiamàexpressãoinicialdosgenesCP intro- duzidossuprimindoessaexpressãoe, subseqüentemente,blo- queandoaexpressãodogeneCP dovírusinvasor(quenecessi- tavadacapaprotéicaparaprovocarumainfecção).O laboratório empenhou-seemmostrarquea imunidadenãodemandavaa síntesedacapaprotéicapelasplantas;algumacoisadoRNA trans- critodogeneCP respondiapelaresistênciaàinfecção. O grupotambémmostrouqueasplantaspoderiamsuprimir genesespecíficosnosvíruse queosvíruspoderiamacionaro silenciamentode genesselecionados.Algumasdasplantasde DoughertynãosuprimiramosseusgenesCP sozinhasetoma- ram-seinfectadaspelosvírus,quesereproduziramnascélulas dasplantas.Posteriormente,quandoospesquisadoresanalisa- ram o RNA sendoproduzido pelos genesCP dasplantas infectadas,viramqueessasmensagenstinhamquasedesapareci- do.A infecçãohavialevadoàdesativaçãodosgenesCP. Nessemeiotempo,biólogosrealizandoexperiênciascomo nematóideCaenorhabdítiselegansestavamenredadoscomsuas tentativasdeusaro RNA antisenseparadesativarosgenessob estudo.O RNA antisenseédesignadoparaformarumparcom umaseqüênciadeRNA mensageiroespecíficadamesmaforma quedoisfilamentosdeDNA complementaresseentrelaçampara formarumaduplahélice.Cadafilamento,noDNA ouRNA, é umacadeiadenucleotídeos,blocosdeconstruçãogenéticare- presentadaspelasletrasA, C, G eU (noRNA) ouT (noDNA). Os nucleotídeosC seligamsempreaosGs, eos As semprefor- mamparcomosUs ouTs.O filamentosolitáriodo RNA anti- senseseligaaoRNA mensageirodefilamentoúnicocompatível paraformarumaestruturadeduplofilamentoquenãopodeser traduzidaemumaproteínafuncional. Ao longodosanos,asexperiênciasantisenseemdiversosor- ganismosobtiveramapenassucessopontual.Aparentemente,a injeçãodeRNAs antisenseemvermesparecefuncionar.Paraes- pantodetodos,noentanto,oRNA "sense"tambémbloqueoua expressãodeumgene.ORNA "sense"apresentaamesmase- qüênciadoRNA mensageiroalvoeé,portanto,incapazde"tran- car"oRNA mensageironahélicedupla. O palcoestavaagoramontadoparao experimentoEureka, SETEMBRO2003 ------- - - - - -----~------------------------------ realizadohácincoanos,noslaboratóriosdeAndrewZ. Fire,da CarnegieInstitutionofWashingtone CraigC. Melloda UniversityofMassachusettsMedicalSchool.FireeMello esti- maramqueospreparadosanterioresparaosRNAs antisensee sensequeelesestavaminjetandoemvermesnãoeramtotalmente puros,e continhamprovavelmentetraçosde RNA de duplo filamento,fazendocomqueesseRNA alertasseoscensores. Para testarsua idéia, Fire, Mello e colegasinocularam nematóidescom RNAs tantode filamentoúnico cornode filamentoduplo,quecorrespondiamaogeneunc-22,importante paraafunçãomuscular.Quantidadesrelativamentegrandesde RNA unc-22defilamentoúnico,tantosensecornoantisense,causavampoucoefeitonosnematóides.Poucasmoléculaspor céluladoRNA unc-22deduplofilamento,porém,provocavam contraturasincontroláveisnosvermes- eatéemseusfilhotes- semdúvidaumsinaldequealgumacoisaestavainterferindona expressãodo geneunc-22.Fire e Mello observaramo mesmo incrívelepotenteefeitoindutordesilêncioemcadagenequeeles colocaramcornoalvo- degenesmuscularesagenesparaaferti- lidade.Elesdenominaramo fenômenode"RNA deinterferên- cia"paratransmitira idéiado papelchavedo RNA deduplo filamentonadeflagraçãodacensuraaogenecorrespondente. NEMATÓIDESBRILHANTESprovaramqueoRNAdeinterferênciafuncionaem animaisassimcomoemplantas.Quandoosvermescujascélulasexpressam umgeneparaproteínafluorescente(esquerda)foramtratadoscomRNAde duplofilamentocorrespondenteaogene,obrilhofoiextinto(direita) portantederegulaçãodeexpressãogenéticaterpassadodesper- cebidoportantotempo. O RNA de interferênciafoi logo observadoem algas, platelmintos(vermesdecorpoachatado),moscasdefrutaseem numerososramosdaárvoreevolucionária.Mas, demonstraro RNAi emcélulasdemamíferosémaiscomplexo. Quandournacélulahumanaéinfectadaporvírusqueprodu- zemlongosRNAs de duplofilamento,podeimobilizar-seno modo"trancado":urnaenzimaconhecidacornoPKR bloqueiaa traduçãodetodososRNAs mensageiros,tantonormaisquanto viraise a enzimaRNAse L, indiscriminadamente,destróios RNAs mensageiros.EssasrespostasaoRNA deduplofilamento Surpreendentemente,POUCAS MOLÉCULAS doRNA de duplofilamentoprovocavamCONTRATURAS DESCONTROLADAS emvermeseemseusfilhotes " ~ fd ..J c> ui ~ õ!; Examinandoplantasefungos,pesquisadorestambémesta- vamseaproximandodo RNA de duplo filamentocornoum disparadorparaosilenciamento.Elesmostraramquefilamentos doRNA capazesdesedobrarsobresimesmosparaformarlon- gasfaixasdeRNA deduplofilamentoerampotentesindutores desilenciamento.E outrasanálisesrevelaramqueumgeneque capacitaascélulasa converterRNA defilamentossimplesem RNA defilamentoduploeranecessárioparaaco-supressão.Es- sasdescobertassugeriramqueaspetúniasdeJorgensene MoI reconheceramosgenesdópigmentoextracornoincomuns(atra- vésdeummecanismoaindamisterioso)econverteramseusRNAs emRNAs deduplofilamento,que,posteriormente,desencadea- ramo silênciotantodosgenesnaturaiscornodosextras.O con- ceitodeumRNA deduplofilamentotambémexplicaporqueas infecçõesviraissilenciaramosgenesCP nasplantasdeDougherty. O tobaccoetchvíruscriouRNAs deduplofilamentoemtodoseu genomaviralaosereproduzir,cornoacontececommuitosvírus. As célulasdaplantaresponderameliminandoasmensagensdo RNA detodososgenesassociadosaovírus,incluindoosgenes CP incorporadosaoDNA daplanta. Biólogosficaramsurpresospelofatodeumsistematãoim- ..J< ~ w '" 5 ::E ::E ;:: ,;; :iz<'" ...c ~ ü; ffi> ~'"z ~ ::E ;:: :i :J wc < ~ {3'" ffi !;i! ~ WWW.SCIAM.COM.BR sãoconsideradascomponentesdarespostainterferon,porquesão deflagradasmaisrapidamentedepoisdeascélulasteremsidoex- postasaosinterferons,moléculasqueascélulasinfectadasprodu- zemparaindicarperigoàscélulasvizinhas.Foi necessáriaurna maiorcompreensão-decornoo RNA deinterferênciafunciona antesquepudesseserutilizadoseminstigarosalarmesinterferon. Além daspesquisaspioneirasjá mencionadas,ThomasTuschl daRockefellerUniversity,Phillip D. Zamoreda Universityof MassachusettsMedicalSchool,GregoryHannondoColdSpring HarborLaboratoryemuitosoutroscolaboraramparaanossacom- preensãoatualdomecanismoRNA deinterferência. O RNAi parecefuncionarassim:dentrodeurnacélula,oRNA deduplofilamentoencontraurnaenzimaconhecidacomoDicer. NELSONC.LAUeDAVIDP.BARTELestudammicroRNAseoutrosRNAspe- quenosenaturaisqueregulamocomportamentogenético.Lauestáter. minandoodoutoradonoWhiteheadInstituteenoMassachusettsInstitute of Technology.Bartel montouseu grupo de pesquisa no Whitehead Instituteem1994,apósterminarseuPhDnaHarvardUniversity.Bartel tambéméprofessornoM.I.T.eco.fundadordoAlnylamPharmaceuticals, quedesenvolvemedicamentosbaseadosno RNAi.LaueBartelrecebe- ramemconjuntooPrêmio2002MAS NewcombCleveland. SCIENTIFICAMERICANBRASIL 53 "'i" ""~111~ii"'" 11. CÉLULASBRILHANTESrevelam transcriçãobem-sucedidadeum gene[codificandoaproteínalamin) emsuaformaprotéica Utilizandooprocessoquímicodehidrólise,oDicerquebraolongo RNA empedaços,conhecidoscomoRNA curtointerferenteou siRNAs. CadasiRNA contémcercade22nucleotídeos. O Dicercorta,emposiçõesligeiramenteirregulares,ambos filamentosdolongoRNA deduplofilamento,deformaquecada siRNA resultantecontenhadoisnucleotídeosqueseprojetam emcadaladodecadafilamento[verboxacima].OsiRNAduplo éentãodesenroladoeumdosfilamentosétransportadoaocom- plexodeproteínasparaformaro complexodesilenciamentoou denão-expressãoinduzidopeloRNA (Risc,nasiglaeminglês). Dentrodessecomplexoindutordesilenciamento,amolécula desiRNA éposicionadadeformaqueo RNA mensageiropossa coincidircomela.O RisciráencontrarmilharesdetiposdeRNAs mensageirospresentesaqualquermomentoemumacélulatípi- ca.O siRNA doRisc,porém,iráficarbemtrancadosomenteem umRNA mensageiroquelhesejaperfeitamentecomplementar,,\ ouquase,àsuaprópriaseqüênciadenucleotídeos.Então,dife- rentementedointerferon,ocomplexoindutordesilenciamentoé altamenteseletivoaoescolhersuasmensagensalvo. Quandoum RNA mensageiropareadofinalmenteancora nosiRNA, umaenzimaconhecidacomoSlicercortaemdoiso S4 SCIENTlFICAMERICANBRASIL IIIII.~i~r,' . Dicer Dicer, cortao RNA '!!IIlf m~~~ COMOORNAiSUPRIMEA EXPRESSÃODEÚM GENE Acéluladesenrolaos filamentosdeRNA ~ filamentodoRNA mensageirocapturado.O Risc,então,libera osdoispedaçosdoRNA mensageiro(agoraincapazdedirecionar assíntesesprotéicas).O Riscpropriamenteditopermaneceintacto, livreparalocalizarefragmentaroutroRNA mensageiro.Dessa forma,o censorRNAi utilizasegmentosdo RNA de duplo filamentocomoumalistanegraparaidentificarecalarosRNAs mensageiroscorrespondentes. DavidC. BaulcombeecolegasdoSainsburyLaboratory,em Norwich, Inglaterra,foramos primeirosa detectaros siRNAs nasplantas.O grupodeTuschlosisoloudeembriõesdemoscas defrutase demonstrouo seupapelcomosilenciadorgenético pelasintetizaçãodesiRNAs artificiaiseaousá-Iosparadirecio- naradestruiçãodosRNAs mensageirosalvos.Quandoissoocor- reu,TuchlponderouseessespedacinhosdeRNA poderiampas- sarsoboradardascélulasdemamíferossemestimulararesposta interferon,quenormalmenteignoraosRNAs deduplofilamento maiscurtosque30paresdenucleotídeos.Ele e colaboradores colocaramsiRNAs sintéticosemcélulasdemamíferosemcultu- raeo resultadofoiexatamenteo queesperavam.Os genesalvo foramsilenciados;arespostainterferonnuncaocorreu. As descobertasdeTuschlimpressionaramacomunidadebio- SETEMBRO2003 UMACÉLULAPODECENSURARaexpressãodeumdeterminadogenenointeriordeuma célulainterferindonoRNAmensageiro(mRNA)transcritodogeneinvasor,impedindo assimqueo RNAsejadecodificadoporribossomosemproteínasativas,comonormalmen- teocorre(painelà esquerda).Omecanismodecensuraéacionadoporpequenasmolécu- lasdeRNAdeduplofilamentocomextremidadesirregulares.UmaenzimachamadaDicer quimicamentecortaessesRNAscurtosdeinterferência(siRNAs)dosRNAslongosde duplofilamentoproduzidosporseqüênciasgenéticasquese autocopiam(a) ouvírus(b). AsseqüênciasregulatóriasdeRNAconhecidascomoprecursoresmicroRNA(c) também sãofragmentadaspeloDicernessaformacurta.Cientistaspodemusarmoléculasdelipídio parainserirsiRNAsartificiaisnascélulas(d). OsfragmentosdoRNAseparam-seemfilamentossimples(abaixo),quecombinamcom proteínasparaformaro complexodesilenciamentoinduzidopeloRNA(Risc).ORiscentão capturao mRNAquecomplementaaseqüênciacurtadeRNA.Seacombinaçãoforessencial- menteperfeita,a mensagemcapturadaé picotadaemfragmentoinúteis(seqüêncianoalto); paresmenosperfeitoscausamumarespostadiferente.Porexemplo,elespodemfazercom queoRiscbloqueieosmovimentosdosribossomosesuspendaatranscriçãodamensagem emsuaformaprotéica(seqüênciainferior). ,) qNAdê fila 1iDodê'um'~can(~ ?m médica.Os geneticistashámuitotinhamcondiçõesdeintroduzir umnovogeneemmamíferosaoutilizar,porexemplo,víruspara transportaro geneparao interiordascélulas.Mas seriamneces- sáriosmesesdetrabalhoparaisolarumgenedeinteresseeaveri- guarsuafunção.Agorao sonhodeinduzirfacilmenteanão-ex- pressãoaumgeneúnicoeselecionadoemcélulasdemamíferos foimaterializado.Com siRNAs, praticamentequalquergenede interessepodeserdesativadoemcélulasdemamíferosemcultu- ras- incluindoaslinha&ensdecélulashumanas- em questão dehoras.E oefeitopersistepordias,temposuficienteparacom- pletarumaexperiência. O RNA deinterferênciaétãoimportantequantoútilnoes- tudodeumaclasseinferiordeorganismos.Um prêmioespecial paraaquelesqueestudamosvermeseplantaséquenessesorga- nismoso efeitoRNAi é amplificadoe seespalhaparaalémdo localondeo RNA deduplofilamentoéintroduzido.Essefenô- menosistêmicopermitiuquebiólogosexplorassemo RNAi em vermesaosimplesmentealimentá-Ioscombactériasgeneticamen- temodificadas,paraproduzirRNA deduplofilamentocorres- pondenteaogenequedeveriasersilenciado. Agoraqueosgenomascompletos- todososgenesdoDNA WWW.SCIAM.COM.BR BRILHOdesapareceude célulasquereceberamsiRNAs artificiaiscorrespondentes aogenelamin - foramseqüenciadosparaumasériedeorganismos,épossível utilizaroRNA deinterferênciaparaexplorarsistematicamenteo quefazcadagene,simplesmentepelasuadesativação. O RNA deinterferênciaestásendousadoporempresasfar- macêuticas,queestãoexplorandoo efeitocomoumatalhopara fazeratriagemdetodososgenesdeumtipoespecífico,embusca dealvospromissoresparanovosmedicamentos.Porexemplo,o silenciamentosistemáticodegenespeloRNAi poderiapermitir quecientistasencontrassemumgenecríticoparao crescimento decertascélulascancerígenas.Seriapossível,então,desenvolver umadrogacapazdeinterferirnoprodutoprotéicodessegenee testaro medicamentocontrao câncer.Empresasdebiotecnolo- giatambémtêmsidocriadas,apostandoqueo silenciamentodo genepeloRNAi poderiaserumaterapiaviávelnotratamentode câncer,infecçõesviraisecertasdesordensgenéticasdominantes. Muitos relatóriossugeremqueo siRNA podeserumapro- messaparaterapias.Pelomenosseislaboratóriosimpediram;tem- porariamente,aproliferaçãodevírusemculturasdecélulashu- manas,entreelesosvírusHIV; pólioehepatiteC. Emcadacaso, os cientistasexpuseramascélulasaossiRNAs, incitando-asa suspendera produçãode proteínascruciaisà reproduçãodo SCIENTIFICAMERICANBRASIL ~ §> Z::> ffi ~ ~w ~~ :;: ;:'""' ~ ~ I ?;w'"w ~ 55 " CAMUNDONGOficailuminadoquandorecebeDNAcontendoogeneluciferase (esquerda).ObrilhopodeserretiradocomainjeçãodesiRNAsquepareiam comogene(centro).Essaé umaformadeutilizarRNAiemmamíferos patógeno.Mais recentemente,gruposlideradospor Judy Liebermanda Harvard Medical Schoole Mark A. Kay da StanfordUniversitySchoolofMedicinerelataramqueossiRNAs injetadossobaltíssimapressãoemcamundongosdiminuíramas infecçõesviraisdahepatiteecurarammuitosanimaiscomdoen- çasnofígadoque,deoutraforma,seriamfatais. Apesardosucessoalcançado,aindaécedoparaqueterapias baseadasemRNAi possamserutilizadasemhospitais.O maior desafioprovavelmenteseráaliberação.ApesardeossiRNAs in- jetadosemplantasevermesfazeremcomqueo efeitoRNAi se espalheportodooorganismo,issoaparentementenãoseaplicaa humanose aoutrosmamíferos.Os siRNAs, também,sãobem çosquantoaoRNAi têmgeradoumentusiasmonãoobservado paraastécnicasRNA catalíticaseantisense- outrosmétodos que,emprincípio,poderiamtratardoençasaobloquearo RNA mensageironocivo.A grandevantagemdoRNA deinterferência é queelesubordinao mecanismodecensuragenéticanatural, provavelmentecommaioreficiênciadoqueaevoluçãofoicapaz deaperfeiçoaraolongodotempo. Acredita-seque,naverdade,o mecanismocensordegene surgiucercadeumbilhãodeanosatrás,paraprotegeralgumor- ganismoantigo- umancestralcomumaplantas,animaisefun- gos- contravíruseelementosgenéticoscommobilidade.O RNAi aindadeveprotegerorganismosmodernosporquemuitosvírus, particularmenteaquelesde plantas,desenvolveramgenesque confundemoscensoresRNAi. Mas oRNA deinterferênciaparecedesempenhar,também, outrospapéisbiológicos.Plantaseanimaismutantes,queprodu- zemníveismuitobaixosdaenzimaDicer,sofrempelosnumero- sosdefeitosdedesenvolvimentoenãopodemsereproduzir.Por queumadeficiênciadeDicerprovocariaumaspectodeformado emplantaseanimais?Umahipóteseéaseguinte:jáqueaNatu- rezadesenvolveuessemecanismoefetivoparasilenciargenessub- versivosemvíruseseqüênciasDNA móveis,elacomeçouato- inaremprestadoinstrumentosdacaixadeferramentasdoRNAi e passoua utilizá-losparaoutrasfinalidades.Cadacélulaapre- sentao mesmoconjuntodegenes- o queasdiferenciaéquais genessãoexpressosequaisnãoosão. A maiorpartedasplantasedosanimaiscomeçacomouma célulaembrionáriaúnicaquesedivideeque,posteriormente,dá origema umamultidãodecélulasdeváriostipos.Paraqueisso ocorra,muitosgenesexpressosnascélulasembrionáriasdevemser I o RNAi impediu~aomenostemporariamente~ QUE CERTOSVÍRUS - HIV, pólioehepatiteC entre - proliferassemEM CÉLULAS HUMANAS A. maioressecomparadosadrogastípicasenãopodemseringeri- dosporqueo tratodigestivoirádestruí-los,emvezdeabsorvê- los.Os pesquisadoresestãotestandováriasformasdedisseminar ossiRNAs eguiá-losatravésdamembranaexternadascélulas. Outraabordagemparasolucionaroproblemadeliberaçãoéa terapiagenética.Um novogenequeproduzumsiRNA específi- copoderiasertransportadodentrodeumvírusbenignoqueirá, então,conduziro genena célulaqueeleinfecta.O grupode BeverlyDavidson,daUniversityofIowa,porexemplo,utilizou um adenovírusmodificadoparaliberargenesqueproduzem siRNAs nocérebroefígadodecamundongos. Qualquertipodeterapiagenéticaemhumanosesbarraem dificuldadestécnicasederegulamentação.Apesardisso,osavan- 56 SCIENTIFICAMERICANBRASIL I desativadosquandoo organismoamadurece.Outrosgenesque estãodesativados,aocontrário,devemserativados.Quandoo mecanismoRNAi nãoestádefendendocontraoataque,eleapa- rentementecooperaparaa não-expressãogenéticanormaldu- ranteastransiçõesdodesenvolvimento,necessáriasparaaforma- çãodediferentestiposdecélulas,comoosneurônioseascélulas musculares,ouosdiferentesórgãos,comoocérebroeo coração. O que,então,motivao mecanismoRNAi acalargenesnor- maisespecíficosnointeriordeumacélula?Emalgunscasos,uma célulapodenaturalmenteproduzirRNA defilamentoduploe longoespecificamenteparaessepropósito.Mas, freqüentemen- te,osgatilhossão"microRNAs"- pequenosfragmentosdeRNA queseparecemcomsiRNAs, masquediferemquantoàorigem. I , I I I I I SETEMBRO2003 SirnaTherapeutics Boulder,Colorado Testaclini~arnel'lteummedicamento;'@(\f::atâlí~icoPê'ã cânceravançadodocólon;odesenyolvimentodeterapiaS combas~RNAiaindaestánosse(js;;p~il'l')eiroseSt~gi~ AtéfibrileraconhecidacomoRibo~yme Pharmaceuticals.Recentementeintegralizou capitaldéUS$48 milhões Enquantoos siRNas provêmdosmesmostiposdegenesou regiõesgenômicasquesetornam,maistarde,silenciadas,os microRNAs provêmde genescujaúnica missãoé produzir essesdiminutosRNAs regulatórios.A moléculadeRNA ini- cialmentetranscritadeumgenemicroRNA dobra-sesobresi mesma,formandoumaestruturaqueseparececomumanti- gogrampodecabelo.Com aajudadoDicer,aporçãodomeio é cortadaempedaçosdo grampodo microRNA, e o pedaço resultantesecomportad~formamuitosemelhanteaosiRNA ~ excetopelofatodequeelenãocensuraogenesemelhante àquelequeo produziu,mas,emvezdisso,censuraalgumou- tro genecompletamente. ComrelaçãoaofenômenoRNAi, demodogeral,osbiólogos necessitaramdeumcertotempoparaentendertotalmentea im- portânciadosmicroRNAs na regulaçãoda expressãogenéti- ca.Atérecentemente,eramconhecidossomentedoismicroRNAs, denominadoslin-4RNA e let-7RNA, descobertospelosgrupos deVictorAmbrosdoDartmouthMedicalSchooleGaryRuvkun daHarvardMedicalSchool.Nosúltimosdoisanos,nóseoutros gruposdescobrimosdúziasdegenesmicroRNAsadicionaisem vermes,moscas,plantasehumanos.Nós estimamos,e tambémChris Burge,do M.IT., queos humanostenhamentre200e 255genesmicroRNAs - aproxi- madamente1% donúmerototaldegeneshumanos.Elesescapa- ramda defecçãoporqueosprogramasdecomputadorcriados parafazeravarreduradosdadosdaseqüênciagenômicanãoes- tavamprogramadosparaencontraressetipoincomumdegene, cujoprodutofinaléumRNA emvezdeumaproteína. AlgunsmicroRNAs,particularmenteosencontradosemplan- tas,conduzemocortedeseusalvosmRNAs. Acredita-sequeeli- minemcertosmensageirosRNAs dascélulasduranteodesenvol- vimentodaplanta.Ao removeressesRNAs mensageiros,oRNAi colaboraparaamaturaçãodacélulaemumnovotipocelular. Tão interessantequanto,osRNAs lin-4eolet-7descobertos inicialmenteemvermesdevidoaoseupapelcrucialnoritmodo WWW.SCIAM.COM.BR desenvolvimento,podemtambémempregarumasegundatáti- ca.Seo RNA mensageiroalvonãofor umparperfeitoparao microRNA, massóumcomplementoaproximado,entãoalgum outromecanismonão-destrutivobloqueiaatraduçãodeRNÀs mensageirosemformasprotéicas. Biólogosestãosendoreceptivosquantoaospapéisdospe- quenosRNAs edomecanismoRNAi. Evidênciascadavezmaio- resindicamqueossiRNAs nãosócapturamosRNAs mensagei- rosparadestruiçãomastambémdirigemosilenciamentodoDNA. Em casosextremos,eliminandoo genedogenoma.Na maioria doscasoso DNA silenciadonãoédestruído;emvezdisso,ele nãopodesertranscrito. Nossacompreensãosobreo RNA de interferência,de sua humildeorigememfloresbrancasevermesdeformados,chegou aocentrodopalco.Quasetodasasfacetasdabiologia,biomedi- cinaebioengenhariasãoabrangidaspeloRNAi, àmedidaquea técnicadesilenciamentodosgenesseespalhaamaislaboratórios eorganismosexperimentais. Aindaassim,oRNAi colocamuitasquestõesfascinantes.Qual éo alcancedosprocessosbiológicosinfluenciadospeloRNA de interferência,siRNAs emicroRNAs?ComoomecanismoRNAi operaemnívelde ligaçõesquímicas?Quaisdoençashumanas resultamdosdefeitosnoprocessoRNAi enosmicroRNAs?Ao submeteressasquestõesàciência,nossacompreensãodofenô- menoirágradualmenteseconsolidar- talveznafundaçãodeum pilartotalmentenovodamedicinagenética. 1.'!11 . PARACONHeCeRMAISu RNAi:NatureAbhorsaDouble-Strand.GyõrgyHutvágnerePhillipO.Zamore emCurrentOpinioninGeneticsSeOeve/opment,Vol.12,na12,págs.225-232: abrilde2002. 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