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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM BÁSICA DISCIPLINA ADMINISTRAÇÃO EM ENFRMAGEM II Docente: Raquel Líquer de Deus Conteúdo: Liderança em enfermagem Objetivos: Compreender a importância da liderança para o desenvolvimento do trabalho em enfermagem; Discutir os estilos de liderança no trabalho em equipe e na prática em enfermagem e sua influência na qualidade da assistência de enfermagem; 1- Introdução: A liderança constitui um dos temas administrativos mais pesquisados nas últimas décadas. Onde vários autores desenvolveram diversas teorias, sendo que estas foram se aperfeiçoando ao longo do tempo de acordo com as especificidades e necessidade que a organização apresentava para concretização de suas metas e objetivos. Esta é necessária em todos os tipos de organização humana, principalmente nas organizações que são subdivididas em departamentos. Onde administrador precisa conhecer a natureza humana e saber conduzir as pessoas, e ter principalmente a capacidade de resolução de problemas e atividades frente os mesmos (CHIVANATO, 1993). A liderança tem sido também uma preocupação importante por parte dos administradores das organizações e instituições de saúde, sendo indispensável dar atenção à relação de aumento da produtividade e de prestação de bens e serviços, ainda por ser um processo de constante transformação tecnológica (KURCGANT, 2005). Contudo, o enfermeiro não tem como negar sua parcela de participação e compromisso nesse contexto (“enfermagem é gente que cuida de gente”), no qual o desenvolvimento do potencial do ser humano no trabalho será o grande diferencial das organizações. E é neste contexto que surge o líder, cabendo a ele demonstrar, por meio de seu próprio exemplo, a possibilidade de crescimento para mudança (GAMA, 2012). Cabe ao enfermeiro enquanto líder, ser um facilitador desse processo de aprendizagem, criando um ambiente no qual seus colaboradores possam compreender seu passado, entender seu propósito nas organizações e vislumbrar novas possibilidades. 2- As características de um líder: Embora o termo líder esteja em uso desde o século XIV, o termo liderança só ficou conhecido na língua inglesa na primeira metade do século XIX. Desde a definição técnica de Chapin (1924), apresentando-a como “um ponto de polarização para a cooperação do grupo”, ate a afirmação abstrata de De Pree (1987), de que “liderança não é a ciência ou disciplina; é uma arte e, como tal, deve ser sentida, experimentada, criada”. O líder é aquele que possui alguns traços específicos de personalidade que o distinguem das demais pessoas do grupo. Assim o líder apresenta características marcantes de personalidade por meio das quais podem influenciar o comportamento dos membros do grupo. Entre as características de um líder segundo Krecer e Crutchfield apud Kurcgant (1996), está a de coordenar a atividade do grupo, o planejamento destas atividades, o conhecimento técnico e específico, a determinação de recompensas e de punições, o papel de elemento exemplo do grupo. O conceito de líder envolve aceitação voluntária de sua autoridade pelos demais membros, e sua contribuição para o progresso do grupo. Drucker (1996) afirma que “Líderes eficazes delegam bem muitas ações; precisam fazê-lo, ou se afogam em ninharias. No entanto, não delegam algo que apenas eles podem executar com excelência, aquilo que realmente tem importância, aquilo que define padrões, aquilo pelo que desejam ser lembrados. ELES AGEM”. Enfim, Chiavenato (1999) aponta algumas características, ligadas a personalidade, desejáveis no líder, como: Inteligência, otimismo, calor humano, Comunicabilidade, mente aberta, espírito empreendedor, habilidades humanas, empatia, assunção de riscos, criatividades, tolerância, impulso para ação, entusiasmo, disposição para ouvir, visão do futuro, flexibilidade, responsabilidade, confiança, maturidade, curiosidade e perspicácia. 3- A Liderança em Enfermagem: Em 2001 foram instituídas as novas Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem baseadas em competências. Tais diretrizes definem a formação de enfermeiros generalistas, humanos, críticos e reflexivos, capazes de aprender a aprender e que atendam as necessidades da população de acordo com os princípios que norteiam o Sistema Único de Saúde (SUS). Dentre as competências instituídas nas Diretrizes Curriculares, necessárias para o exercício da enfermagem, destaca-se: a atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, administração e gerenciamento, educação permanente e liderança, a qual daremos ênfase a seguir. A liderança passou a ser pesquisada cientificamente no início do século XX e consiste no processo de influenciar as pessoas a atuarem de modo ético-profissional, o que exige o estabelecimento de laços de confiança, a fim de que se possa trabalhar coletivamente, com o intuito de alcançar objetivos em comum. A enfermagem, como parte fundamental constituinte da estrutura organizacional, o poder de influência de novas habilidades, novos conhecimentos não apenas relacionado a técnicas operacionais, mas principalmente através de uma nova ótica administrativa com aumento na prestação de bens e serviços, assim como o bem pessoal que são o maior objetivo do cuidar em enfermagem. Alguns autores da Enfermagem consideram-na como um fenômeno de influência grupal, no qual é imprescindível agregar esforços individuais para atingir as metas compartilhadas pelo grupo (AMESTOY ET AL, 2012). Desta forma, percebe-se que exercer a liderança no contexto atual consiste numa realidade que permeia as ações do enfermeiro, em virtude da ocupação, cada vez mais frequente, de cargos de destaque nos serviços de saúde, relacionados ao gerenciamento do cuidado. No processo de trabalho da enfermagem, a liderança representa um instrumento gerencial indispensável, pois se encontra tangenciando a rede das relações humanas do enfermeiro ao coordenar uma equipe de trabalho, além de contribuir na tomada de decisões e no enfrentamento de conflitos (AMESTOY, 2010). Para Marquis e Huston (1999), é necessário procurar entender a relação entre liderança e administração, dessa forma, devemos verificar o que caracteriza gerentes e líderes. Nesse caso, o que se deseja é que o gerente seja de fato um líder. A seguir é apresentada uma síntese das principais diferenças entre gerente e líder: Gerente: • Têm um cargo designado na organização formal; • Têm uma fonte legítima de poder devida à autoridade que acompanha o cargo; • Exercem determinadas funções, tem deveres e responsabilidades; • Enfatizam o controle, a tomada de decisões, a análise das decisões e os resultados; • Manipulam pessoas, ambiente, dinheiro, tempo e outros recursos para o alcance das metas da organização; • Tem responsabilidade e comprometimento formais em relação à racionalização e ao controle maiores do que os líderes; • Dirigem subordinados cooperativos e não-cooperativos. Líderes: • Não costumam ter autoridade delegada, obtém o poder por outros meios, como a influencia; • Tem maior variedade de papeis do que os administradores; • Podem não pertencer à organização formal; • Focalizam o processo de grupo, a coleta de informações, a retroalimentação e o fortalecimento dos outros; • Enfatizam as relações interpessoais; • Dirigem seguidores cooperativos; • Tem metas que podem ou não refletir as da organização. A liderança tem sido necessário em todas as atividades do enfermeiro, principalmente quando o profissional tem o interesse de exercer com competência o seu trabalho, onde muitas vezes tem se encontrado dividido entre o desempenhode atividades assistenciais ao cuidado direto ao paciente, ou então assumindo a função administrativa que envolve a interação com o pessoal de enfermagem (KURCGANT, 2005). Em uma equipe de enfermagem há pessoas com diferentes personalidades e de nível técnico variados, onde o enfermeiro tem que ter uma visão de grupo, ou seja, perceber em cada membro da equipe suas habilidades técnicas e ao mesmo tempo a superação de suas dificuldades, em meio a uma interrelação entre a qualidade da orientação do líder que dedica um tempo determinado a explicar os deveres e responsabilidades de uma pessoa ou de todo grupo (WEBBE, 2005). A liderança pode ser considerada um processo de influência que o indivíduo utiliza sobre o outro, para o alcance dos objetivos numa determinada situação. É através da liderança que o enfermeiro tenta conciliar as metas da organização com a da equipe de enfermagem, geralmente envolve o conceito de poder e autoridade, abrangendo todas as maneiras pelas quais se introduzem mudanças no comportamento de pessoas ou de um grupo de pessoas. Mas quanto esta forma de influência é negativa ela pode levar os liderados a questionarem o poder do enfermeiro dentro da equipe de enfermagem (BALSANELI, 2006). Para Chiavenato (1999), a liderança é um fenômeno tipicamente social que ocorre exclusivamente em grupos sociais e organizações e define como “uma influência interpessoal exercida numa dada situação e dirigida através do processo de comunicação humana para a consecução de um ou mais objetivos específicos”. Os elementos que caracterizam a liderança, e que afetam, portanto a liderança do enfermeiro são quatro, a saber: a influência, a situação, o processo de comunicação, os objetivos a alcançar. O líder eficaz terá que lidar com indivíduos, grupos e metas, e essa eficácia será considerada em termos de grau de realização de uma meta ou combinação de metas. O líder servirá ao grupo/equipe como um instrumento para ajudar a alcançar objetivos. Durante algum tempo, considerou-se que a liderança era uma qualidade pessoal, originada da própria personalidade do indivíduo. Hoje já se aceita a existência de fatores determinantes e que interferem na capacidade de liderança como a posição hierárquica, a competência profissional e a própria personalidade. Segundo Michael Useem(1998), professor de Liderança da Wharton Business School nos Estados Unidos, Citado em VOCÊ S.A.(Abril/1999) são nove os princípios de liderança. PRINCÍPIOS DE LIDERANÇA 1- Conheça a si mesmo Entender seus valores e onde quer chegar irão garantir que você saiba que direção tomar. 2- Explique-se Somente assim os funcionários poderão entender onde você quer chegar e se querem acompanhar. 3- Exija o máximo Exigir o melhor é um pré-requisito para obtê-lo. 4- Busque o comprometimento Obter consenso antes de uma decisão irá mobilizar aqueles dos quais você depende após tomar a decisão. 5- Comece já Obter apoio hoje é indispensável, se você planeja lançar mão dele no futuro. 6- Prepare-se Buscar tarefas variadas e desafiadoras agora irá desenvolver confiança e habilidades que serão necessárias mais tarde. 7- Aja com rapidez A inércia e sempre tão desastrosa quanto a ação imprópria. 8- Encontre-se Para usar seu potencial de liderança é necessário que você combine seus objetivos e talentos à empresa certa. 9- Mantenha-se firme A fé em sua visão irá assegurar que seus seguidores permaneçam inabaláveis na busca de seus objetivos. (Michael Useem, 1998) A liderança é um processo de escolha e ao ajudar o grupo a lidar com elas, a liderança passa a ser também considerada uma questão de processo decisorial. Dessa forma, o enfermeiro tem no planejamento, como unidade de direção, um forte subsidio para o processo de tomada de decisão e para o exercício de sua liderança. Revendo a trajetória da liderança em enfermagem e sua relação com as Teorias de Administração Geral, Vale a pena lembrar o perfil de líder de cada um destes momentos: 1950/1970 1970/1980 1970/1980 1980/1990 Líder nato Líder comportamental Líder situacional Líder completo Nesta época acreditava-se que alguns profissionais nasciam com o dom de liderar. Características: ambição, integralidade e autoconfiança e profundo conhecimento técnico. Embora há alguns que acreditem nisso, os especialistas dizem que esse conceito é um mito Aqui surgem os líderes voltados para os resultados e para as pessoas. Essa teoria deu origem ao Managerial Grid (Grade Gerencial), que classifica as pessoas em eixos (produção X pessoas). Daí nasceram rótulos como 9/9 (nota máxima em resultado em gestão de equipes). Já o 1/1 era o fracasso total. Detectaram-se falhas no modelo anterior. Um líder 9/9 acabou levando uma empresa à ruína, enquanto o 1/1 levantou um negócio de forma brilhante. O que fez a diferença? A situação. O líder situacional surge porque traz resultados num cenário especifico, desenvolvendo pessoas. Agora o conceito de liderança exige nova postura profissional. O líder traz resultados, constrói relações com os clientes e o mercado, fala a língua do acionista, é exemplo na gestão de pessoas. E é líder de si mesmo. Contudo, o enfermeiro líder é aquele que mesmo não dispondo de qualquer autoridade estatutária, ou seja, dentro de uma organização formal, consegue ser aceito e respeitado, porque é capaz de unir o grupo fazendo-o uma equipe/time de trabalho, de representa-lo e de conduzi-lo coeso para a busca de seus objetivos e anseios compartilhados, de manter relações interpessoais positivas. Existem vários estilos de liderança, sendo que alguns autores referem-se à liderança carismática, paternalista, maquiavélica, entre outros, porém os estilos de liderança mais divulgados e estudados na atualidade são apresentados a seguir. 4- Estilos de liderança: À medida que estudos sobre liderança foram se desenvolvendo, a pesquisa afastou-se do estudo das características do líder para dar maior ênfase em suas ações, quais as maneiras e estilos de comportamento adotados por líderes, e assim definir os estilos de liderança. • Liderança autocrática: O líder é focado apenas nas tarefas. É também é chamado de liderança autoritária ou diretiva. O líder toma decisões individuais, desconsiderando a opinião dos liderados. O líder determina as providências e as técnicas para a execução das tarefas, de modo imprevisível para o grupo. Além da tarefa que cada um deve executar, o líder determina ainda qual o seu companheiro de trabalho. O líder é dominador e pessoal nos elogios e nas críticas ao trabalho de cada membro. Esse estilo de liderança favorece a centralização do poder, promovendo um comportamento dependente e submisso aos membros do grupo, com sentimentos de tensão, frustração e sobre tudo apresenta manifestação de conflito entre membros da equipe. O trabalho somente se desenvolve com a presença física dos líderes, tendo a qualidade do serviço realizado inferior, mas produzindo em grande quantidade, sendo superior aos grupos de liderança democrática (WEBBE, 2005). • Liderança Liberal - Laissez-faire: Laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa laissez faire, laissez aller, laissez passer, que significa literalmente "deixai fazer, deixai ir, deixai passar". Neste tipo de liderança as pessoas tem mais liberdade na execução dos seus projetos, indicando possivelmente uma equipe madura, auto dirigida e que não necessita de supervisão constante. Por outro lado, a Laissez faire também pode ser indício de uma liderança negligente e fraca, onde o líder deixa passar falhas e erros sem corrigi-los.• Liderança Democrática: É o líder do povo, pelo povo e para o povo, preocupa-se com a participação do grupo, estimula, orienta, acata e ouve as opiniões do grupo. Chamada ainda de liderança participativa ou consultiva. A divisão das tarefas fica ao critério do próprio grupo e cada membro pode escolher os seus próprios companheiros de trabalho. O líder procura ser um membro normal do grupo. É impessoal e objetivo em suas críticas e elogios, para ele o grupo é o centro das decisões. O líder democrático é de suma importância para o progresso de uma organização. Há autonomia do grupo para decidir e implementar estratégias para resolução dos problemas, para atingir metas, deixando o caráter do líder intervir apenas quando o grupo solicita e necessita de orientações técnicas e aconselhamento. A liderança democrática apresenta maior qualidade no serviço prestado, mas com menor quantidade de serviços (CHIAVENATO, 1993). Em suma: Aspectos Liderança autocrática Liderança Liberal/ Laissez-faire Liderança Democrática Tomada de decisão Apenas o líder decide e fixa as diretrizes, sem nenhuma participação do grupo. Total liberdade ao grupo para tomar decisões, com mínima intervenção do líder. As diretrizes são debatidas e decididas pelo grupo, que é estimulado e orientado pelo líder. Programação dos trabalhos O líder dá ordens e determina providencias para a execução de tarefas, sem explica-las ao grupo. Participação limitada do líder. Informações são dadas desde que solicitadas pelo grupo. O líder aconselha e dá orientação para que o grupo esboce objetivo e ações. As tarefas ganham perspectivas com os debates. Divisão de trabalho O líder determina a tarefa a cada um e qual o seu companheiro de trabalho. A divisão de tarefas e escolha dos colegas são do grupo. Nenhuma participação do líder. O grupo decide sobre a divisão das tarefas e cada membro tem liberdade para escolher os colegas. Comportamento do Dominador e O líder assume o O líder é objetivo e líder pessoal nos elogios e nas críticas ao grupo. papel de membro do grupo e atua somente quando solicitado. limita-se aos fatos nos elogios ou criticas. Trabalha como orientador da equipe. (Adaptado de CHIAVENATO, 1999). Chiavenato (1999) faz uma correlação entre os 3 estilos de liderança e a postura do subordinado, apresentado no quadro a seguir: Líder Autocrático (chefão) Líder Liberal (Mero colega) Líder Democrático (impulsionador) Manda, impõe, exige, coage. Ausenta-se, omite-se, ignora, deixa ficar. Orienta, Estimula, Ensina, Ajuda. Subordinado Subordinado Subordinado Obedece, aceita cegamente, desconhece Faz o que quer e quando quer. Colabora, Participa, sugere, decide, ajuda, coopera. Diante de vários estilos de liderança na enfermagem observa-se que não há um único estilo de liderança que seja incorporado pelo líder previamente sem conhecer as características pessoais de seus liderados, dessa forma uma liderança eficaz, demanda primeiro conhecimento por parte do líder da situação administrativa do ambiente de trabalho assim como das virtudes e dificuldades enfrentadas por seus liderados (BALSANELLI, 2006). Na prática, o enfermeiro utiliza os 3 estilos de liderança, de acordo com a tarefa a ser desenvolvida, a situação e as pessoas, pois ele tanto determina o cumprimento de ordens, como sugere a sua equipe a realização de certas tarefas e ainda consulta a equipe antes de tomar alguma decisão. Dentro dessa perspectiva, cabe ao enfermeiro saber se adaptar as diversas situações cotidianas, escolhendo o melhor modelo a ser aplicado de acordo com a situação vivenciada. Kurcgant (1991) apresenta o Modelo Contingencial – Situacional de Liderança: Este estilo adota o conceito de comportamento adaptativo do líder e considera que os diferentes estilos podem ser eficientes ou não, dependendo dos elementos envolvidos na situação. Para o estilo de liderança situacional, parte a convicção que não há um único estilo ou característica de liderança válida para toda e qualquer situação, cada uma requer um estilo de liderança diferente para alcançar a eficácia no trabalho e promover o desempenho satisfatório dos subordinados. Além de oferecer ao líder a possibilidade de se ajustar a um grupo com características diferentes as suas convicções (SILVA, 2007). Não podemos negar a importância da interação entre individuo e o meio, e a abordagem e estilo de liderança é uma consequência dessa interação. A mesma autora afirma ainda que para o reconhecimento de como ocorre a liderança em enfermagem, faz necessário compreender o ambiente organizacional onde a liderança se desenvolve. A estrutura dos serviços de enfermagem segue, na grande maioria das instituições modelos tradicionais característicos das Escolas Científicas e Clássicas da Administração, onde existe um grande apego às regras, normas e seu cumprimento. E assim, o enfermeiro desenvolve sua prática assumindo com frequência cargos de chefia e liderança do grupo de enfermagem, formalizando seu papel intermediário na estrutura organizacional das instituições. 5- Formando líderes: Formar líderes não é como uma receita de bolo, onde há cada ingrediente e suas respectivas medidas. Porém existem algumas práticas, que subsidiam sua formação. A competência para liderar, assim como as demais, devem ser desenvolvidas nas Instituições de Ensino Superior (IES) e aprimoradas ao longo da vida profissional e, portanto as escolas e instituições hospitalares têm cada uma um papel fundamental nesse processo, a primeira na formação e a segunda na educação contínua do profissional. Em seu estudo “Processo de formação de enfermeiros líderes” Amestoy (2010) constatou que, durante a graduação, alguns estudantes se preocupam, excessivamente, em realizar atividades técnicas. Assim, é possível visualizar o tecnicismo na formação, a desvalorização de aspectos gerenciais, como a liderança, que muitas vezes, é lembrada quando o enfermeiro já está inserido na prática profissional e necessita solucionar conflitos, além de coordenar uma equipe, que em geral, é constituída por profissionais com mais idade e experiência. Além de destacar que o aprendizado da enfermagem, ainda hoje, está associado às atividades de natureza técnica, o que acaba influenciando o cuidado prestado pelos profissionais. Por conseguinte, este cuidado é realizado, na maioria das vezes, de forma mecânica, norteado por tarefas que obedecem rigidamente normas e prescrições. A autora aponta ainda a desarticulação de instituições de ensino com as exigências do mercado de trabalho. Contudo, no contexto atual, almeja-se a formação de enfermeiros capazes de atender as necessidades dos indivíduos e coletividades. Para tanto, torna-se essencial repensar as desarmonias existentes entre o ensino e às exigências do atual mercado de trabalho, sem olvidar que esse último, está engajado a um modelo econômico e social, competitivo, individualizado e alienante. Conforme o exposto, não há dúvidas de que a responsabilidade das Instituições de Ensino Superior é formar líderes, críticos, reflexivos, politizados capazes de atuar de forma coerente, a fim de criar e recriar sua realidade. Sendo o docente responsável pela formação de líderes, é necessário que este esteja ativamente inserido na prática assistencial de forma a corroborar com as atuais e reais exigências do mercado de trabalho. Além disso, a reflexão sobre como desenvolver o ensino-aprendizagem da liderança é imprescindível para a formação de enfermeiros com esta competência. Quanto ao discente,este deve despertar-se para a importância da liderança no seu processo de trabalho e para as facilidades que a mesma proporcionará ao enfermeiro-líder durante o gerenciamento da unidade e da equipe. Após a graduação, a educação permanente desponta como uma proposta que visa problematizar a prática, disponibilizar soluções adequadas às características dos locais e trabalhadores, não se limitando a uma formação pontual. Por fim, reforça-se a responsabilidade das instituições de ensino superior e hospitalares frente à formação e o desenvolvimento permanente de enfermeiros- líderes, pois além de potencializar as ações cuidativas, a liderança poderá auxiliar o enfermeiro na construção de um ambiente de trabalho satisfatório, por meio do estabelecimento de vínculos profissionais saudáveis e de processos dialógicos entre o enfermeiro e os demais os integrantes da equipe de enfermagem (AMESTOY,2010). 6- Comunicação: ferramenta fundamental par o líder A título de conhecimento, a educação permanente é compreendida como um processo educativo, que possibilita o surgimento de um espaço para pensar e fazer no trabalho. Também pode ser compreendida como uma ação que possibilita ao indivíduo maior capacidade de atuar dentro do mundo do trabalho, como ser que constrói e destrói sua realidade, norteado por valores políticos, culturais e éticos. A comunicação representa uma estratégia que facilita o desempenho do enfermeiro-líder, estando presente em boa parte dos estudos sobre liderança. Uma das principais habilidades que formam líderes é a de se comunicar e se relacionar com as pessoas, uma vez que um líder vende suas ideias, influencia conduz, incentiva, levanta o ânimo, representa o grupo, define, compartilha, ouve, tem sensibilidade para perceber as diferenças individuais, adequa-se ao contexto. A habilidade de se comunicar é reflexo de seu poder pessoal de influenciar os seus liderados. A questão fundamental para reflexão é: um líder é líder porque se comunica ou o desenvolvimento de sua capacidade de comunicação que torna alguém líder? Existem pessoas com grande capacidade de comunicação, mas que não são líderes, todavia, não conhecemos líderes que não saibam se comunicar. O processo de comunicação deverá ser eficiente e efetivo, existindo um fluxo recíproco das informações. Por reconhecer os benefícios de tal habilidade, é proposto uma nova maneira de pensar a liderança na enfermagem através da utilização do diálogo, que consiste num fenômeno humano que não pode ser reduzido ao simples depósito de ideias de um sujeito no outro, por se tratar do encontro entre pessoas para problematizar situações com o objetivo de transformar a realidade emerge, então, a liderança dialógica enquanto capacidade do líder de influenciar seus colaboradores a atuarem de forma crítica e reflexiva sobre sua práxis, mediante o estabelecimento de um processo comunicacional eficiente, podendo contribuir para fomentação de mudanças nos espaços de atuação da equipe de enfermagem (AMESTOY,2012) 7- Liderança e motivação: A qualidade essencial do líder não é a perfeição, mas a credibilidade. Os líderes verdadeiros não são centro das atenções: na verdade, sendo possível, eles evitam isso. A autopromoção e a atividade de servir não se misturam. Os verdadeiros líderes não agem pela aprovação e pelo aplauso dos outros. As pessoas devem ser capazes confiar em você, caso contrário não o seguirão (GAMA,2012). Frente a desmotivação da equipe, o líder precisa tomar uma atitude. Para isso é necessário compreender como a motivação no trabalho funciona. Alguns sinais, quando com frequência aumentada, podem sugerir falta de motivação no ambiente de trabalho como, por exemplo: alta rotatividade de funcionários, diminuição da produtividade, erros constantes, faltas, atrasos e justificativas sistemáticas, pessoas tristes, melancólicas, mal humoradas e frequentemente irritadas, desempenho a desejar, resultados aquém das metas definidas, entre outros. Movimento e Motivação • Movimento: é fácil e tem resultados rápidos (estímulo externo). Quando alguém faz algo para evitar punição, ganhar uma recompensa ou competição e o impulso inicial partiu de um terceiro e não dela própria, essa pessoa foi posta em movimento. Se não houvesse estímulo externo, ela não teria feito nada. • Motivação: é difícil e tem resultados duradouros (estímulo interno): se a iniciativa parte da própria pessoa por uma necessidade interior, se ela é levada a agir por impulso interno, então essa pessoa está motivada. Diante da verdadeira motivação, é possível transformá-la em ação voluntária constante, direcionada a metas e objetivos com a ajuda do processo educativo. Já no movimento, se os estímulos cessarem ou não forem progressivos, tudo volta a estaca zero, podendo até piorar em comparação com antes. Nesse caso, cuidado e planejamento são fundamentais. Mas como motivar a equipe de trabalho? Primeiramente: se a verdadeira motivação precisa ser uma vontade espontânea, então NINGUÉM MOTIVA NINGUÉM! Não é possível ter controle sobre a vontade das pessoas, mas o trabalho também é um laboratório e dentro deste espaço e possível fazer mudanças visando alterações comportamentais, basta saber separar motivação genuína de movimento artificial. Somente sabendo separar os tipos de motivação é possível começar a catalogar as técnicas separando-as nas duas categorias: motivação e movimento. Assim pode-se criar um plano de motivação, estimulando quando necessário o “movimento inserido” dentro de uma plataforma contínua de “motivação genuína” (GAMA, 2012). 8- Ciclo de Competências de liderança: O ‘Inventário de Competências de Liderança (ICL) é um instrumento específico para diagnosticar as competências criticas que configuram o processo de liderança. O ICL proporciona um feedback de amplo espectro para o líder. Permite a comparação da percepção do líder sobre ele próprio com a de seus subordinados. Seu superior imediato e seus pares ou clientes. Este é o processo 360 o . As competências mensuradas abrangem os três principais vetores da liderança efetiva: a visão do líder, sua sensibilidade para perceber as necessidades de mudança e sua habilidade de implementação dessas mudanças. A seguir são apresentadas as fases abordadas pelo Ciclo de Competências de Liderança da Clark Group (2007): - Ciclo de Competências 9-Considerações Finais: A liderança é um tema importante para os gestores devido ao papel fundamental que os líderes representam na eficácia do grupo e da organização. A liderança pode ser considerada como um processo caracterizado por influenciar os demais membros da equipe, buscando o apoio dos mesmos a fim de alcançar objetivos em comum. A liderança em enfermagem não difere na essência da liderança em outras áreas do conhecimento, pois os líderes de maneira geral são responsáveis pelo sucesso ou fracasso da organização. A liderança é uma das ferramentas imprescindíveis no processo de trabalho do enfermeiro. Liderar não é uma tarefa simples, pelo contrário, exige paciência, disciplina, humildade, respeito e compromisso. O enfermeiro deverá desempenhar uma gerência voltada para as transformações, ou seja, inovadora, tendo como eixo norteador a melhoria da qualidade da assistência de enfermagem e ainda buscar estratégias que possibilitem maior satisfação para a equipe de enfermagem no seu dia a dia de trabalho. Em fim, liderar não é um posto nem um cargo, não se contratam líderes, estes se constroem. O líder não escolhe por si ser líder nem tem de estar disposto a sê-lo, mas são os seus seguidores,que lhe atribuem esse estatuto. Mandar ou na gíria “chefiar” é o que acontece através de uma nomeação ou atribuição de cargos. “Um líder é aquele que sabe como ajudar as pessoas a atingir o máximo de si mesmas” “Gente é mais importante que processos; gente sim. Processos não pensam, sentem ou criam. Gente, sim. Antes que processos possam ser melhorados, nossa gente deve ser melhorada”. (willinghan, 1999) 10- Referências: AMESTOY, S. C.; BACKES, V. M. S.; TRINDADE, L. DE L.; CANEVER, B. P. Produção científica sobre liderança no contexto da enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2012; 46(1):227-33. AMESTOY, S. C.; BACKES, V. M. S.; TRINDADE, L. DE L.; WATERKEMPER, R.; HEIDMAN, I.T.S.; BOEHS, A.E. Liderança dialógica nas instituições hospitalares. Rev Bras Enferm, Brasília 2010 set-out; 63(5): 844-7. BALSANELLI, A. P.; CUNHA, I. C. K.l O. Liderança no contexto da enfermagem. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 40, n. 1, Mar. 2006. CHIVANATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 5ª ed. São Paulo: Makdon Books, 1993. CHIVANATO, I. Administração nos novos tempos. São Paulo: Makdon Books, 1999. DINIZ, D. Seja um líder completo esteja de bem com a vida. Você AS julho/2007 Drucker, P. Nem todos os generais foram mortos. In: HESSELBEIN, F. et al. O líder do futuro. Trad. por Cyntia Azevedo. São Paulo, Futura, 1996. p. 11-4: Prefácio. GAMA, B.M.B.de M., Material instrucional para disciplina de Administração em Enfermagem II. Conteúdo: Liderança em enfermagem, Departamento de Enfermagem Básica. Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, 2012. MARQUIS, B.L.; HUSTON, C.J. Administração e liderança em enfermagem – teoria e aplicação, Artmed, Porto Alegre, 1999 KURCGANT, P. Liderança do enfermeiro, EPU, São Paulo, 1991. KURCGANT, P. Administração em enfermagem. São Paulo: editora Pedagógica e Universitária LTDA, 1996. KURCGANT, P. (Coord.). Gerenciamento em Enfermagem . Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. SILVA, M. A. da; GALVAO, C. M.. Aplicação da Liderança Situacional na enfermagem de centro cirúrgico. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 41, n. 1, Mar. 2007 . USEEM, M. A hora de ser líder, In: Você S.A. São Paulo, Ano 1, nº 10, abril/99. WEHBE, Grasiela; GALVAO, Maria Cristina. Aplicação da Liderança Situacional em enfermagem de emergência. 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