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UNIVERSIDADE FERAL DE SANTA MARIA CLÍNICA MÉDICA 1 – INFECTOLOGIA ANTÔNIO DE CASTRO, ATM 2022/1 HIV 1979 – casos de pacientes com imunodeficiência relatados 1983 – identificação do HIV 1987 – AZT 1996 – +20 drogas em uso: análogos nucleotídeos, inibidores de proteases e inibidores de fusão. CARACTERÍSTICAS DO VÍRUS: Retrovírus RNA envelopado Frágil no meio externo Inativo com hipoclorito ou glutaraldeído HIV1 (M, N, O, P) e HIV2 (de A a G, mais incomuns no Brasil), a maioria e HIV-1M Formas recombinantes do vírus (CRFs) em casos de reinfecções por subtipos diferentes que interagiram Penetração seletiva por CD4 através de co-receptores Transcrição reversa (RNADNA) pela transcriptase reversa, que possui baixa fidelidade à sequência viral, permitindo que o mesmo vírus tenha mutações de tempos em tempo no mesmo hospedeiro. Integração ao genoma humano de forma perene (não mata o hospedeiro) inteligência viral Se reproduz às custas do hospedeiro Genoma de 9749 nucleotídeos 3 genes estruturais (GAG, POL e ENV) que transcrevem proteínas de replicação. CXCr4 correceptor de células T CCr5 correceptor de macrófagos Epidemiologia: Em 2014, aproximadamente 40 milhões de pessoas viviam com HIV, com 2 milhões de novos infectados por ano e 1,2 milhões de mortes por ano. As estimativas mundiais é de que menos de 50% da população HIV+ realiza tratamento (no Brasil, em 2015, cerca 48%) Em 2014, estima-se que 20% dos portadores de HIV não estavam diagnosticados Não se pensa mais em baixa notificação, devido à obrigatoriedade de notificação compulsória em testes confirmatórios positivos. RS teve aumento da incidência de casos de infectados, sendo POA a capital brasileira com piores indicadores. Esse aumento se deu principalmente na população jovem (15-30 anos). A região sul também apresenta os maiores números de mortes pelo HIV (será que há uma viremia mais agressiva?). Transmissão: Sexual (hoje em dia a mais comum disparadamente) Risco estimado: Mulher homem, 1:700 Homem mulher (vaginal) 1:200 Homem homem/mulher (anal) 1:10 Sexo oral até 6% Sanguínea (compartilhamento de seringas ou por transfusão – pouco provável se transfusão realizada após 1992) UNIVERSIDADE FERAL DE SANTA MARIA CLÍNICA MÉDICA 1 – INFECTOLOGIA ANTÔNIO DE CASTRO, ATM 2022/1 Durante a gestação Durante o parto (comum em gestante que não realizou pré-natal; nesses casos tem que fazer, no mínimo, teste rápido para HIV se chegar em trabalho de parto) Durante a amamentação Formas ocupacionais COMPORTAMENTO DA DOENÇA: Hoje não se consideram mais grupos de risco, mas sim comportamento de risco. Ciclo Replicativo: Células infectadas: linfócito T CD4, macrófagos e monócitos e células dendríticas. A ligação gp120-CD4 expõe os correceptores CCR5 e CXCR4; gp 41 permite a fusão do envelope com a MP (entrada do capsídeo na célula). A transcriptase reversa passa a transcrever RNAv em DNA, que passa do citoplasma para o núcleo, onde através da integrase é unido ao DNA humano. Para que essa entrada no núcleo ocorra, é preciso que os poros da membrana se abram. Isso ocorre por que o vírus induz atividade de síntese proteica para resposta imune. Se esse processo não ocorrer o DNA proviral é degradado no citoplasma. Depois de unido ao DNA humano, o DNAv é transcrito em mRNA. Ocorre a tradução desse mRNA e a proteína sintetizada é ativada pelas proteases virais. Todas as partes virais são reunidas e montadas e ocorre exocitose do capsídeo, levando consigo partes da MP (envelope). Esse processo desenfreadamente leva a exaustão celular, as células que não se rompem totalmente acabam entrando em apoptose. Por isso, a fase de replicação viral é curta e manifesta sintomas, porém logo entra em latência. Por até 6 semanas, em infecção primária, ocorre aumento da replicação viral com progressiva queda de CD4, depois começa a ocorrer uma estabilização do quadro, com inversão das curvas (fase de latência) a carga viral se estabiliza, mas o CD4 continua a cair, lentamente. Conforme ocorre reativação do vírus, o CD4 volta a cair, permitindo que várias infecções oportunistas se instalem (geralmente é nesses pacientes que infecção costumam se manifestar com apresentações “raras” e graves). O tratamento atua justamente mantendo CD4 em níveis normais e viremia baixa (sendo esse o principal fator prognóstico). [CD4] determina a abordagem inicial [CV] determina o prognóstico O tratamento permite ao paciente vida normal, porém aumenta os processos de oncogênese (acompanhar pacientes HIV+ sobretudo para risco de neoplasias). 70% dos pacientes apresentaram esse padrão de história natural da doença, alguns fogem à curva: apresentam hiv+ porém sem nunca apresentarem expressiva queda de CD4 (em taxas normal de 1000-1200), alguns apresentaram período de latência mais curto, podendo evoluir para AIDS rapidamente... 3 FASES DA DOENÇA: Primária ou aguda: Semelhante à síndrome mono-like (o que gera subdiagnóstico precoce de HIV disso vale ressaltar a importância de solicitar sempre o antiHIV para todos os pacientes). UNIVERSIDADE FERAL DE SANTA MARIA CLÍNICA MÉDICA 1 – INFECTOLOGIA ANTÔNIO DE CASTRO, ATM 2022/1 Síndrome Retroviral Aguda: manifestações clínicas do HIV: febre, cefaleia e dor ocular (comuns), astenia, adenopatia, faringite, exantema, mialgia, esplenomegalia, letargia, anorexia e depressão. Raramento acomete fígado e pâncreas. Pode manifestar meningite asséptica, neurite periférica sensitiva ou motora, paralisia do N. facial ou síndrome de G. Barre. É autolimitada, persistindo por até 3 semanas, caso contrário é prognóstico ruim. Infecção crônica: Assintomática, mais comum. Em geral, perdura 10 anos sem manifestação. Apresenta linfadenopatia persistente, plaquetopenia (achado indicativo comum). Preditores de evolução para AIDS: leucoplasia pilosa oral e candidíase oral. Se os CD4 mantiverem-se acima de 350, a maioria das infecções desse período serão bacterianas; se baixarem, manifestações atípicas podem ocorrem. Obs.: quando paciente apresenta púrpura, deve-se pensar em HIV e solicitar teste. Bem comum crianças e jovens terem esse achado. AIDS: Atentar às infecções oportunistas e neoplasias. Costumam manifestar: miocardiopatias, nefropatias e neuropatias; pneumocistose, neurotoxo, TB pulmonar atípica ou disseminada, meningite criptococica, retinite por CMV; Sarcoma de Kaposi, linfoma não-Hodking e câncer de colo de útero se CD4 < 200. Obs.: A principal causa de óbitos em pacientes HIV+ é TB (HIV ativa TB latente), por isso, deve solicitar PT – marcador de risco para TB ativa, e excluir TB latente: escarro + RX tórax. Se ativa, tratar com isoniazida. Janela imunológica: 3-6 semanas, 15 dias para os testes de 4ª geração. O acompanhamento do paciente deve ser feito ao medir o número de CD4 (por citometria de fluxo). Valores acima de 500 são o ideal, não precisando mais repetir se manter assim por 2 testes em 6 meses e quadro estável. Valores abaixo disso requerem abordagem mais incisiva. Valores abaixo de 350 são considerados graves. O tratamento, contudo, deve ser pensado para cada paciente: é preciso que haja uma estrutura familiar, uma boa relação médico-paciente, vontade de se tratar do paciente, ... porque se a TARV é iniciada e tem baixa adesão (toma um dia, falha2, toma de novo, para, volta...) é possível que em 3 meses o vírus tenha desenvolvido mutação e esteja resistente aos medicamentos. Quando se desenvolve resistência a um medicamento, geralmente se desenvolve à classe toda, inviabilizando o tratamento. Para saber se há ou não resistência viral por mutação a algum dos fármacos, solicita-se a genotipagem do vírus (também deve ser solicitada quando o paciente toma certinho o tratamento e em 3 meses não apresenta melhora do quadro, com redução da carga viral, principalmente). Após 8 semanas do início da TARV, deve-se solicitar os exames para segmento (contagem de CD4 e CV). Prevenção e Controle: Preservativo (+90% da população brasileira sabe da importância da camisinha, porém menos de 50% usou na última relação com parceiro casual) Espermicidas – pouco comprovado ainda UNIVERSIDADE FERAL DE SANTA MARIA CLÍNICA MÉDICA 1 – INFECTOLOGIA ANTÔNIO DE CASTRO, ATM 2022/1 Programa de redução de danos (PRD) para população drogadita de injetáveis Cuidados universais de saúde Testagem de sangue doado TARV para gestantes, RN e casais soros discordantes Controle de DST Intervenções comportamentais Testes Basais Recomendados: Hemograma + plaquetas Bioquímica com perfil hepático e renal Lipidograma Glicemia VDRL, Toxo, CMV, HTLV, HBV e HCV Citopatológico CD4 e CV TRATAMENTO Esquemas de tratamento: 1ª linha: TDF + 3TC + EFV (se o efavirens e nevirapina estiverem inviáveis, utilizar 2ª linha) 2ª linha: 2 ITR + IP (lopinavir com booster de ritonavir (LPV) é indicado se impossibilidade de ITR) Expectativas: Redução da CV em 1log nas primeiras 4-6 semanas, 2log com 12-16 semanas e < 40 em até 6 meses Coquetel: 3 vias de controle da infecção viral, impedindo a entrada e replicação viral 3 medicamentos em 1 único comprimido, 2x ao dia (forma de tratamento mais comum). Essa nova abordagem farmacológica permite que hoje o HIV seja tratado como doença crônica. Os pacientes que vem a falecer pelo HIV é mais pela baixa adesão ao tratamento e continuidade do comportamento de risco (drogas, álcool...) do que por falhas farmacológicas de eficiência do medicamento. É considerado como adesão ideal valores acima de 80% das doses mensais tomadas. O que sabemos dos Antirretrovirais: Potência: o quanto a CV reduz em menor tempo possível em monoterapia, medida em log Dolutegravir -2,46 Elvitegravir -2,03 Etravirene -1,99 AZT -0,52 Barreira Genérica: tempo para aquisição de resistência; relacionada com a potência e a concentração inibitória. Atividade Residual: grau de supressão do HIV na presença de resistência. HIV fitness e Resistência: capacidade adaptativa do vírus em determinados meios. Por exemplo, mutações de resistência acabam por diminuir a capacidade replicativa do vírus redução do fitness Resistência Cruzada: mutações podem comprometer toda uma classe de ARV UNIVERSIDADE FERAL DE SANTA MARIA CLÍNICA MÉDICA 1 – INFECTOLOGIA ANTÔNIO DE CASTRO, ATM 2022/1 Preocupações com a TARV: Eficácia e efetividade, adesão e tolerância Resistência viral Interação medicamentosa Preço e acesso Risco cardiovascular Efeitos metabólicos, neurológicos e psiquiátricos Toxicidade óssea e renal Com as normativas de tratar todos os pacientes e descentralização do tratamento, surge a preocupação com o provável aumento no número de falhas no futuro. Considerações: A TARV atual precisa ser mais individualizada, com otimização da posologia (drogas em 1 comprimido) e queda dos efeitos tóxicos. Inclusão de inibidores de integrases no esquema de tratamento inicial e de PEP Atentar às complicações de longo prazo: DM, dislipidemias, lipodistrofia, osteopenia, necrose avascular... Pacientes que naturalmente tem CD4 mais elevado e/ou assintomáticos que iniciam TARV tem melhores taxas de sobrevida O tratamento precoce evita transmissão e reduz complicações metabólicas e cardiovasculares à longo prazo. ANOTAÇÕES DAS AULAS PRÁTICAS: AZT é a droga padrão para gestantes. Se a CV for indetectável até 34 semanas, não precisa alterar conduta de parto. Transmissão vertical com tratamento com AZT certinho tem 0-2% de risco de contágio do bebê. Sem tratamento, 25-30% de risco. AntiHIV: teste de screening, se positivo, o laboratório já realiza teste genético de detecção (Western Blot + ELISA – 99,9% de especificidade, por exemplo) que dá diagnóstico confirmatório. CV acima de 1000 é considerado alto. Atentar à Síndrome Metabólica: como o vírus permanece constantemente circulando no organismo, isso desencadeia uma resposta imune e processo inflamatório constante, mesmo que baixo. Assim, doenças inflamatórias como obesidade, dislipidemias, DM e HAS precisam ser bem controladas nesses pacientes. Pacientes >50 anos, solicitar densitometria óssea lombossacra a cada 2-3 anos. Se paciente apresenta CD4 baixo, todas as vacinas que ele fizer não tem muita serventia para fins práticos. Deve-se esperar o CD4 normalizar e, então, solicitar a vacinação pendente. VDRL anual para HIV+ Atentar às manifestações neurológicas (retardos, demências, atrofias...). Mesmo com CV indetectável no sangue, se manifestações neurocomportamentais, solicitar CV de LCR, que pode estar muito elevada e passar despercebido. Não acreditar em paciente que diz fazer sempre sexo seguro com preservatico; resposta padrão politicamente correta. Atentar para os hábitos de vida dele e solicitar antiHIV como exame de rotina.
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