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DICAS PARA AS QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Caríssimos, a prova de Língua Portuguesa é sempre uma caixinha de surpresas, já que o edital da ESAF, nessa disciplina, é muito sucinto. A vantagem de que dispomos é a de que as provas da ESAF são paradigmáticas, seguem um padrão, daí considerarmos as questões previsíveis; comparem as provas passadas. A primeira dica que se dá para enfrentar um concurso, promovido por qualquer instituição, é resolver provas anteriores, muitas provas, pois só com a resolução de questões é que se consegue identificar o perfil da instituição e familiarizar-se com ele, e isso deve ser um exercício contínuo; também administrar o tempo para a resolução das questões é fundamental, uma vez que este tem sido o maior inimigo dos candidatos. Após o estudo de dezenas de provas, fiz um levantamento das questões recorrentes, pontuais, que me servirá de base para algumas DICAS; pretendo elucidar possíveis enunciados truncados ou passar passos para se chegar às respostas de uma maneira mais rápida, eliminando as opções claramente absurdas. DICA: diante do caderno de provas, comecem pelas questões mais curtas; diante das opções, eliminem as improváveis; muitas vezes há alternativas tão absurdas que dispensam a leitura integral do texto. Às vezes, citam dados, informações que sequer são mencionados no texto. Como são as provas da ESAF? As questões versam sobre compreensão ou interpretação de textos; questões ligadas à coesão textual e à coerência argumentativa, quando solicitam as relações lógicas que estão em acordo / ou em desacordo com o texto; questões que dão sequencia ao texto de forma coerente e gramaticalmente correta, bem como opções que podem anteceder parágrafo transcrito , sem ferir os princípios de coerência e desenvolvimento lógico da ideias. A re-escritura de parágrafos, na forma de paráfrase , tornou-se uma constante nas provas; questionamentos sobre a ideia central, identificação de textos(opções) que estabelecem relação de fim e meio, causa e consequência dão o formato extenso e assustador à prova, levando o candidato, muitas vezes, a ignorar ou até mesmo a desistir de ler o enunciado, por falta de tempo. As provas são inteligentes, na medida em que exigem do candidato pensar a língua dentro de um contexto determinado, mesmo nas questões de estruturação linguística e gramatical dos textos. Eventualmente surgem as famosas “pegadinhas” para testar a atenção dos “desavisados”, dos desatentos. Não menos importante, as questões de paralelismo sintático e semântico têm contribuído para tirar o sono do concursando. Caríssimos, posso asseverar que a prova de Língua Portuguesa exige muita atenção, muita concentração; assim evita-se ler ou interpretar equivocadamente o comando das questões. PASSOS PARA LEITURA E ENTENDIMENTO DO TEXTO O candidato deve fazer dois tipos de leitura: 1ª leitura informativa: para buscar as palavras mais importantes de cada parágrafo, que constituem as palavras-chave do texto em torno das quais as outras se organizam para dar significação e produzirem sentidos. 2ª leitura interpretativa: para compreender, analisar e sintetizar as informações do texto. Object 1 A leitura interpretativa requer : * compreensão : entender a mensagem literal contida no texto. As questões versam sobre a postura ideológica do autor, a idéia central, a tese defendida. * análise : depreender do texto a informação essencial .Para isso é importante buscar as palavras mais importantes de cada parágrafo, elas constituirão as palavras-chaves do texto. Atentar para os modos de articulação das ideias. * síntese :organizar as ideias principais do autor para chegar à expressão que constitui a tese defendida pelo autor durante todo o texto. Nas questões de compreensão / interpretação de texto, o candidato deve, além da compreensão, análise e síntese, destacar, em cada parágrafo, a informação básica, para facilitar a compreensão do texto. Há diferença no objetivo das questões de compreensão e de interpretação de textos 1. Compreensão ou Intelecção de Texto – consiste em analisar o que realmente está escrito, ou seja, coletar dados do texto. 2. Interpretação de Texto – consiste em saber o que se infere (conclui) do que está escrito. Modelo de questão de Interpretação (AFT-2003/ ESAF)Foi publicado na seção Painel do Leitor, da Folha de S.Paulo (15/1/2003), o seguinte trecho de correspondência enviada ao jornal por um leitor. "Revoltante o editorial "Maioridade Penal". Quer dizer que este jornal, que tanto apregoa a democracia, ignora a opinião de 89% da população a favor da redução da maioridade penal e quer impor-nos a visão de "meia dúzia" de intelectuais?É essa a ideia de democracia que o jornal que tanto admiro apregoa?" Aponte a única dedução correta extraída do trecho lido. a) O editorial a que se refere o missivista deve ter refutado a tese da imputabilidade penal para menores de 18 anos. b) O corpo editorial da Folha de S.Paulo é composto por um grupo reduzido de representantes da elite nacional que se acha no direito de impor sua opinião. c) O missivista está revoltado com a Folha de S.Paulo por ela ter descumprido o compromisso público com seus leitores de veicular apenas a verdade dos fatos. d) Discordando da visão exposta no referido editorial, o missivista se alia aos 89% da população que manifestou adesão à tese da redução da maioridade penal. e) O missivista questiona a democracia da informação apregoada pela Folha de S.Paulo, pois só um dos lados da questão - o da manutenção da maioridade penal - foi combatido no editorial. DICA: grife as ideias básicas, indispensáveis, para a compreensão do texto e marque a alternativa mais direta e abrangente. Questão de Interpretação leva o candidato a INFERIR, DEDUZIR O QUE O TEXTO PRETENDE TRANSMITIR. Breve análise: • na alternativa A, o editorial refutou a tese da imputabilidade penal para menores de 18 anos, e não “deve ter refutado” como está na opção. • Na alternativa B , não interessa ao texto discutir sobre o “corpo editorial da Folha..”. • Na alternativa C, o missivista não está questionando “apenas a verdade dos fatos”. • Na alternativa E, o missivista não questiona sobre “a democracia da informação”. LOGO GABARITO: D - "Revoltante... este jornal... ignora a opinião de 89% da população a favor da redução da maioridade penal, significa que o missivista de alia à opinião de 89% da população. DICAS - INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS As questões de interpretação de textos vêm ganhando espaço nos concursos públicos. Também é a partir de textos que as questões normalmente cobram a aplicação das regras gramaticais nos grandes concursos de hoje em dia. Por isso, é cada vez mais importante observar os comandos das questões. Normalmente o candidato é convidado a: · idenficar: Reconhecer elementos fundamentais apresentados no texto. · comparar: Descobrir as relações de semelhanças ou de diferenças entre situações apresentadas no texto. · comentar: Relacionar o conteúdo apresentado com uma realidade, opinando a respeito. · resumir: Concentrar as ideias centrais em um só parágrafo. · parafrasear: Reescrever o texto com outras palavras. · continuar: Dar continuidade ao texto apresentado, mantendo a mesma linha temática. Por isso, o professor Guerra considera que são condições básicas para o candidato interpretar textos: o conhecimento histórico (aí incluída a prática da leitura), o conhecimento gramatical e semântico (significado das palavras, aí incluídos homônimos, parônimos, sinônimos, denotação, conotação), e a capacidade de observação, de síntese e de raciocínio. --------------------------------------------------------------------------------Roteiro para interpretar textos: . 1. Ler atentamente todo o texto, procurando focalizar sua ideia central. 2. Interpretar as palavras desconhecidas através do contexto. 3. Reconhecer os argumentos que dão sustentação à ideia central. 4. Identificar as objeções à ideia central; 5. Sublinhar os exemplos que forem empregados como ilustração da ideia central. 6. Antes de responder às questões, ler mais de uma vez todo o texto, fazendo o mesmo com o enunciado de cada questão. 7. Evite responder “de cabeça”. Procure localizar a resposta no texto. 8. Se preferir, faça anotações à margem ou esquematize o texto. 9. Se o comando pede a ideia principal ou tema, normalmente deve situar-se no primeiro parágrafo (introdução) ou no último (conclusão). 10. Se o comando busca argumentação, deve localizar-se os parágrafos intermediários (desenvolvimento). -------------------------------------------------------------------------------- Erros comuns de interpretação: . EXTRAPOLAÇÃO (viagem): · Ocorre quando o candidato sai do contexto, acrescentando idéias que não estão no texto, normalmente porque já conhecia o tema por uso de sua imaginação criativa. · Portanto, é proibido viajar. REDUÇÃO: · É o oposto da extrapolação. · Dá-se atenção apenas a um ou outro aspecto, esquecendo-se de que o texto é um conjunto de ideias. CONTRADIÇÃO: · É comum as alternativas apresentarem ideias contrárias às do texto, fazendo o candidato chegar a conclusões equivocadas, de modo a errar a questão. · Portanto, internalize as ideias do autor e ponha-se no lugar dele. · Só contradiga o autor se isso for solicitado no comando da questão. Exemplo: “Indique a alternativa que apresenta ideia contrária à do texto”. -------------------------------------------------------------------------------- Tipologia Textual DISSERTAÇÃO: · É a exposição de opiniões fundamentadas em argumentos e raciocínio. Divide-se em introdução (apresenta o assunto de forma direta, sem rodeios), desenvolvimento (mostra dados, ideias, argumentos e exemplos que sustentam a sua posição), e conclusão (fecha o assunto; pode ser na forma de síntese ou sugestões, sem espaço para continuar a discussão). NARRAÇÃO: · É discorrer sobre um fato, um acontecimento. Nela predominam os verbos de ação. Os elementos da narração são personagem (quem participa do fato), tempo (momento do fato), ambiente (local), narrador (quem conta: 1a ou 3a pessoa) e enredo (o encadeamento das ações). DESCRIÇÃO: · É um “retrato verbal” do que vemos ou sentimos. É difícil encontrar um texto exclusivamente descritivo. Normalmente encontramos trechos descritivos inseridos numa narração ou dissertação. -------------------------------------------------------------------------------- Sobre Leitura (curiosidade) · De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso. A úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bçguana que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Vdaerde! -------------------------------------------------------------------------------- Saiba Diferenciar COESÃO x COERÊNCIA: · Coesão: Aspectos formais do texto. São erros de coesão: má concordância, pronomes indevidos e palavras inapropriadas. · Coerência: Aspectos implícitos do texto (ligados ao sentido textual). Exemplo de erro de coerência: “A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço”. DENOTAÇÃO x CONOTAÇÃO: · Denotação: É o sentido real: “Os raios de sol adentraram pela imensa janela”. · Conotação: É o sentido figurado: “Seu olhar eram raios de sol a iluminar-me”. PARÁFRASE x PERÍFRASE: · Paráfrase: É a reescritura do texto, mantendo-se o mesmo significado. · Perífrase: É a substituição de palavras por expressões que indicam algo de si: “Fui à Cidade Maravilhosa” (=RJ). “O Rei do Futebol chegou” (=Pelé). -------------------------------------------------------------------------------- Observe estes erros: Tautologia é o vício de repetir uma ideia com palavras diferentes. Evite escrever ou falar: Elo de ligação Acabamento final Certeza absoluta Como prêmio extra Juntamente com Há anos atrás Vereador da cidade Relações bilaterais entre dois países Outra alternativa Detalhes minuciosos A razão é porque Anexo(a) junto à carta Sua livre escolha Empréstimo temporário Compartilhar conosco Surpresa inesperada Escolha opcional Continua a permanecer Passatempo passageiro Atrás da retaguarda Repetir outra vez Voltar atrás Abertura inaugural Obra-prima principal Gritar bem alto Comparecer em pessoa Superávit positivo Vandalismo criminoso Todos foram unânimes A seu critério pessoal Criação nova Amanhecer o dia Demasiadamente excessivo Individualidade inigualável Abusar demais Exceder em muito Conviver junto Encarar de frente Multidão de pessoas Destacamos, então, a importância de (re)conhecer tais erros para evitá-los ou superá-los e para desenvolver uma clareza maior em nossa prática de interpretação de textos. Hoje, vamos exercitar um pouco mais o reconhecimento desses erros. Para isso, leiamos o poema "Mãos dadas", de Carlos Drummond de Andrade e vejamos, a seguir, interpretações que incorrem nos três erros apontados acima. Mãos Dadas Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considere a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. (Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do mundo) Extrapolação: "O texto afirma a desilusão do autor com os amores românticos, que não são correspondidos, e que levam à auto-destruição." Redução: "O texto afirma que o autor não pretende viver a vida em uma ilha." Contradição: "O texto afirma que o autor sente-se preso à vida presente, à passada e à futura." Por fim, "observe como o poema de Drummond apresenta muitas ideias relevantes: * a negação de ser um poeta do passado (mundo caduco) e do futuro; * o estar preso à vida, com os companheiros, na realidade presente; * o chamado para se viver o presente, juntos; * a negação de várias atitudes que o tirariam de viver a realidade presente (as várias fugas: o amor romântico, o sentimentalismo, as drogas, o suicídio, a solidão, a religião alienante); * a reafirmação, no fim do texto, do presente: o tempo, a vida presente." ((Novíssimo Curso Vestibular. Emília Amaral e Severino Antônio) Acordo ortográfico Verifique se você conseguiu aplicar, na semana passada, as regras do novo acordo ortográfico nas seguintes palavras: véu, ideia, creem, papéis, corrói, descreem, europeia, heróis, releem, chapéu, heroico, deem, leem, veem. Dúvidas freqüentes em Português 1ª a meu ver ou ao meu ver: o correto é a meu ver... 1ª a meu ver ou ao meu ver: o correto é a meu ver. 2ª à pé ou a pé: o correto é a pé. 3ª algoz (ó) ou algoz (ô): o correto é algoz (ô). 4ª aluguel ou aluguer: ambas as formas são aceitas como corretas. 5ª a calça ou as calças: o correto é as calças. 6ªcatequisar ou catequizar: o correto é catequizar. 7ª continui ou continue: o correto é continue. 8ª cota ou quota: ambas as formas são corretas. 9ª curtume ou cortume: o correto é curtume. 10ª em via de ou em vias de: o correto é em via de. 11ª empecilho ou impecilho: o correto é empecilho. 12ª enxarcar ou encharcar: o correto é encharcar. 13ª entretenimento ou entreterimento: o correto é entretenimento. 14ª estada ou estadia: o correto é estada para permanência de pessoas e estadia para a de navios ou veículos. 15ª esteja ou esteje: o correto é esteja. 16ª ciúme ou ciúmes: o correto é ciúme. 17ª fazem dez meses ou faz dez meses: o correto é faz dez meses. 18ª figadal ou fidagal: o correto é figadal. 19ª há muito tempo ou há muito tempo atrás: o correto é há muito tempo. 20ª hum ou um: o correto é um. 21ª magérrimo ou macérrimo: o correto é macérrimo. 22ª malcriado ou maucriado: o correto é malcriado. 23ª meio-ambiente ou meio ambiente: o correto é meio ambiente. 24ª menos ou menas: o correto é menos. 25ª mil real ou mil reais: o correto é mil reais. 26ª óculos novo ou óculos novos: óculos novos. 27ª a omelete ou o omelete: o correto é a omelete. 28ª reinvindicar ou reivindicar: o correto é reivindicar. 29ª os sem terras ou os sem-terra: o correto é os sem-terra. 30ª vídeo-cassete ou videocassete: o correto é videocassete. 31ª vossa exelencia ou vossa excelência: o correto é vossa excelência. 32ª vultoso ou vultuoso: o correto é vultoso para volumoso e vultuoso para atacado de congestão na face. 33ª xampu ou xampoo: o correto é xampu. 34ª xifópago ou xipófago: o correto é xifópago. "E agora, José?" Um caso de intertextualidade Poucos talvez desconheçam o texto de Carlos Drummond de Andrade... Poucos talvez desconheçam o texto de Carlos Drummond de Andrade intitulado "E agora, José?". Vamos recordar um trechinho? E Agora, José? E agora, José? / A festa acabou, / a luz apagou, o povo sumiu, / a noite esfriou, / e agora, José? e agora, você? / você que é sem nome, que zomba dos outros, / você que faz versos, que ama, protesta, / e agora, José? E a que propósito serve essa recordação? Serve ao propósito a que visa esta coluna: o de tratar da questão da intertextualidade. Para iniciar esse assunto, vejamos um fragmento de um texto, intitulado "E Agora, José?": "A festa acabou? Já não há mais PT? Não, José, de tudo isso fica uma grande lição: não é a direita que inviabiliza a esquerda. Esta tem sido vítima de sua própria incoerência, inclusive quando se elege um programa de mudanças e adota uma política econômica de ajuste fiscal que trava o desenvolvimento, restringindo investimentos públicos e privados. (...)" (Frei Betto, Folha de S. Paulo, 25 jul. 2005.) Nesse fragmento, o autor recorre ao texto de Drummond. A essa recorrência, dá-se o nome de intertextualidade. Quem conhece o texto de Drummond identificará imediatamente a presença dessa intertextualidade, o que poderá auxiliar a compreender os sentidos do texto de Frei Betto, uma vez que, embora "a inserção de ‘velhos’ enunciados em novos textos promova a constituição de novos sentidos, os enunciados inseridos sempre trazem algum ‘eco’ do texto-fonte". Posto isso, fica evidente que a produção e recepção de um texto depende, inúmeras vezes, do conhecimento de outros textos por parte do autor e do leitor. Quando isso não ocorre, parte ou toda a construção de sentido fica prejudicada Desnecessário dizer que ler, (e ler, e ler, e ler) é de fundamental importância para aquisição de repertório de leitura, do qual depende - e muito - a produção dos sentidos de um texto. Em outras palavras: de quanto mais repertório de leitura você dispuser, menos dificuldade você encontrará para ler, compreender, interpretar um texto. Para finalizar, você aceita um desafio? Se o aceitar, terá oportunidade de avaliar seu repertório de leitura. Pressupondo que sua resposta seja sim, passemos ao desafio: apresento a seguir alguns trechos que utilizam intertextualidade. Cabe a você reconhecer a que textos ou autores cada um desses trechos recorre. Para vencer o desafio, o acerto tem que ser total. O primeiro que conseguir identificar a intertextualidade presente em cada texto, envie-me um e-mail e, se tiver acertado tudo, aguarde um prêmio "simbólico". "1. (...) Foi petista por 25 anos e 100 mil dólares na cueca" / 2. "(...) Os dólares estão em mim, já não me sou, mesmo sendo o que estava a ser, nunca fui senão isto: um estelionato moral na cueca das idéias vãs." / 3. "(...) Tinha um raio-X no meio do caminho, e agora José?" / 4. "(...) Dinheiro na cueca é vendaval." / 5. "(...) Notudo. Ficado ficou. Era apenas a vereda errada dentre as várias." / 6. "(...) Meu reino por uma ceroula!!!" (Obs: Para desenvolver o assunto desta coluna, recorri ao livro "Ler e compreender", de Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias). Vamos reunir aqui as questões relacionadas sobre interpretação de texto, haja vista que interpretar é uma atividade abstrata e subjetiva que não é tão simples, pois cada texto é plurissignificativo e enseja variadas interpretações. Aos poucos, vou colocando tópicos sobre o asssunto, como p.ex.: PRESSUPOSTOS E SUBTENDIDOS; INFERÊNCIA, COERÊNCIA e outros Postado Originalmente por Spook (...)Bom, essa é a primeira dica: ler muito! Em uma dessas leituras tive o prazer de ler um texto de Paulo Freire, nosso eterno educador, onde ele dava umas dicas de leitura. O texto dizia mais ou menos isso: todo e qualquer texto é feito de uma ou mais idéias principais, que expõem delimitadamente o tema central. Dando sustentação a essa idéia principal temos as idéias acessórias, que dão os contornos e acabamento à idéia principal. Lembrete: todo e qualquer texto tem essa estrutura! Essa é a segunda dica: descobrir qual é a idéia principal e quais são as idéias acessórias! Embora a prática nos torne capaz de captá-las na primeira leitura, o normal é você perceber a idéia principal numa primeira leitura e as idéias acessórias numa segunda leitura. A terceira dica, e não menos importante, é: perceber como as idéias em um mesmo parágrafo se relacionam, assim como perceber de que modo os próprios parágrafos se relacionam. A quarta dica é minha mesmo: quando estiver lendo um parágrafo, leia-o como se fosse a parte mais importante do seu estudo! Não se preocupe em memorizar o seu conteúdo, sua preocupação deverá ser apenas entender bem o que está lendo! Finalizando, sabemos que o ato de aprender ou desenvolver habilidades é eminentemente particular, mas mesmo considerando essa verdade, acredito que essas dicas podem ajudar muito! Erros clássicos de entendimento de texto Após a leitura do texto, leia as perguntas propostas. Você perceberá que algumas questões incidem sobre o conjunto do texto: estas podem ser respondidas diretamente. Mas há outras questões que incidem sobre trechos, sobre passagens específicas do texto: estas, para serem respondidas, exigem uma volta ao texto. Quando a prova é de questões discursivas, expositivas, temos mais liberdade para encaminhar nossas repostas. Nesse caso, é preciso muita atenção quanto ao enunciado, para que você responda realmente o que está sendo pedido e não incorra nos erros clássicos de entendimento de texto, que são basicamente três: extrapolação, redução e contradição. Reconhecer estes erros, conhecer o processo lógico que ocorre em cada um deles, é de importância vital para supererá-los, ou seja, para que nossas respostas sejam claras e coerentes, adequados aos textos. Extrapolação O erro de extrapolação, como o próprio nome indica, acontece quando saímos do contexto, quando acrescentamos idéias que não estão presentes no texto. Ao extrapolar, vamosalém dos limites do texto, viajamos além de suas margens, fazemos outras associações, evocamos outros elementos, criamos a partir do que foi lido, deflagramos nossa imaginação e nossa memória, abandonando o texto que era o nosso objeto de interpretação. A extrapolação é muitas vezes um exercício de criatividade inadequada - porque nos leva a perder o contexto que está em questão. Geralmente, o processo de extrapolação se realiza por associações evocativas, por relações analógicas: uma idéia lembra outra semelhante e viajamos para fora do texto. Outras vezes, a extrapolação acontece pela preocupação de se descobrir pressupostos das idéias do texto, pontos de partida bem anteriores ao pensamento expresso, ou, ainda, pela preocupação de se tirar conclusões decorrentes das idéias do texto, mas já pertencentes a outros contextos, a outros campos de discussão. Reconhecer os momentos de extrapolação - sejam analógicos ou lógicos - significa conquistar maior lucidez, maior capacidade de compreensão objetiva dos textos, do contexto que está em questão. Essa clareza é necessária e é criadora: significa, inclusive, uma liberdade maior de imaginação e de raciocínio, porque os vôos para fora dos textos tornam-se conscientes, por opção, serão realizados por um projeto intencional, e não mais por incapacidade de reconhecer os limites de um texto colocado em questão, nem por incapacidade de distinguir as próprias idéias das idéias apresentadas por um texto lido. Redução Outro erro clássico em exercícios de entendimento de texto, erro oposto à extrapolação, é o que chamamos de redução ou particularização indevida. Neste caso, ao invés de sairmos do contexto, ao invés de acrescentarmos outros elementos, fazemos o inverso: abordamos apenas uma parte, um detalhe, um aspecto do texto, dissociando-o do contexto. A redução consiste em privilegiarmos um elemento (ou uma relação) que é verdadeiro mas não é suficiente diante do conjunto, ou então que se torna falso porque passa ser descontextualizado. Prendemo-nos assim, a um aspecto menos relevante do conjunto, perdendo de vista os elementos e as relações principais, ou antes, quebramos este conjunto, fracionando inadvertidamente esse aspecto, isolando-o do contexto. Reconhecer os processos de redução representa também um salto de qualidade em nossa capacidade de ler e entender textos, assim como em nossa capacidade de perceber e compreender conjuntos de qualquer tipo, reconhecendo seus elementos e suas relações. Contradição O último erro clássico nas interpretações de texto, o mais grave de todos, é o da contradição. Por algum motivo - uma leitura desatenta, a não percepção de algumas relações, a incompreensão de um raciocínio, o esquecimento de uma idéia, a perda de uma passagem no desenvolvimento do texto - chegamos a uma conclusão contrária ao texto. Como esse erro tende a ser mais facilmente reconhecido - por apresentar idéias opostas às idéias expressas pelos textos - os testes de interpretação muitas vezes são organizados com uma espécie de armadilha: uma alternativa apresenta muitas palavras do texto, apresenta até expressões inteiras do texto, mas com um sentido contrário. Um leitor desatento ou/e ansioso provavelmente escolherá essa alternativa, por ser a mais “parecida” com o texto. Por ser a que apresenta mais literalmente, mas “ao pé da letra”, elementos presentes no texto... Exercício/ exemplo Vamos ver alguns exemplos de erro - extrapolação, redução, contradição - a partir de textos em prosa e em poesia. Muitos destes exemplos são colhidos em experiências de aula de interpretação. Ao aprender a reconhecer os erros, você vai desenvolvendo uma clareza maior para sua prática de interpretar mais lucidamente os textos. Perceba, também, como o resumo e a paráfrase são utilizados durante o processo interpretativo. Leia atentamente o texto que se segue. Faça a primeira leitura, a de entrar em contato, e, depois, faça a segunda leitura, captando as idéias centrais. Procure fazer um pequeno resumo do texto. Em seguida, verifique se você cometeu algum erro de extrapolação, redução ou contradição. A tradição e o moderno A tradição é importante. É democrática quando desempenha a sua função natural de prover a nova geração com conhecimentos das boas e más experiências do passado, isto é, a sua função de capacitá-la a aprender às custas dos erros passados a fim de os não repetir. A tradição torna-se a ruína da democracia quando nega à geração mais nova a possibilidade de escolha; quando tenta ditar o que deve ser encarado como “bom” e como “mau” sob novas condições de vida. Os tradicionalistas fácil e prontamente se esquecem de que perderam a capacidade de decidir o que não é tradição. Por exemplo, o aperfeiçoamento do microscópio não foi conseguido pela destruição do primeiro modelo: o aperfeiçoamento foi realizado com a preservação e o desenvolvimento do modelo primitivo a par com um estágio mais avançado do conhecimento humano. Um microscópio do tempo de Pasteur não capacita o pesquisador moderno a estudar uma virose. Suponha agora que o microscópio de Pasteur tivesse o poder e o descaramento de vetar o microscópio eletrônico. Os jovens não sentiriam nenhuma hostilidade para com a tradição, não teriam na verdade senão respeito por ela se, sem se arriscar, pudessem dizer: Isto nós o tomaremos de vocês porque é convincente, é justo, diz respeito também à nossa época e passível de desenvolvimento. Aquilo, entretanto, não podemos aceitar. Era útil e verdadeiro para o seu tempo - seria inútil para nós. E esses jovens deveriam preparar-se para ouvir dos seus filhos as mesmas palavras. (Wilhelm Reich - A revolução sexual) Observe alguns exemplos de extrapolação, redução e contradição, muito freqüente na interpretação de textos. Extrapolação: O texto fala sobre o papel dos cientistas na sociedade e sobre a importância da ciência para a democracia, que é o melhor sistema de governo. Redução: O texto fala sobre a importância do microscópio, importante instrumento de investigação científica. Contradição: O texto afirma que a tradição sempre é um empecilho para o desenvolvimento do conhecimento humano. Como você vê, no primeiro caso, a afirmativa sai dos limites do texto, volta-se para outro assunto (papel dos cientistas na sociedade, ciência e democracia). No segundo caso, reduz-se o texto à questão do microscópio, que é apenas um exemplo usado. No terceiro caso, conclui-se o oposto do que o texto afirma: a tradição seria sempre um obstáculo. A compreensão correta do texto apresentaria os seguintes elementos e relações: a importância da tradição; A tradição, quando é democrática fornece elementos sobre as experiências do passado; A tradição, quando é antidemocrática e tenta ditar o que é bom ou mau, em diferentes condições de vida; O exemplo do microscópio, nos dois casos. Ao analisar um texto dissertativo, identifique inicialmente o argumento principal, aquele que fundamenta a opinião exposta. Em seguida, identifique as conseqüências decorrentes do que está sendo afirmado e por fim, a conclusão, que é a reafirmação do argumento principal. O mistério O que podemos experimentar de mais belo é o mistério. Ele é a fonte de toda a arte e ciência verdadeira. Aquele que for alheio a essa emoção, aquele que não se detém a admirar as colinas, sentindo-se cheio de surpresa, esse já está, por assim dizer, morto e tem os olhos extintos. O que fez nascer a religião foi essa vivência do misterioso - embora mesclado de terror. Saber que existe algo insondável, sentir a presença de algo profundamente racional e radiantemente belo, algo que compreenderemos apenas em forma muito rudimentar - é esta a experiência queconstitui a atitude genuinamente religiosa. Neste sentido, e unicamente neste sentido pertenço aos homens profundamente religiosos. (Albert Einstein - Como vejo o mundo) Seguem alguns exemplos de erros no entendimento do texto. Extrapolação: O texto fala sobre a importância de Deus e da religião, e sobre o mistério da criação do universo. O texto afirma que todo cientista precisa ser artista e religioso, para poder compreender a natureza. Redução: O texto afirma que o terror fez nascer a religião. O texto afirma que a nossa compreensão dos fenômenos é ainda muito elementar. Contradição: O texto afirma que quem experimenta o mistério está com os olhos fechados e não consegue compreender a natureza. O texto afirma que a experiência do mistério é um elemento importante para a arte, não para a ciência. O texto apresenta, na verdade, várias idéias básicas: a beleza da experiência do mistério; a emoção do mistério como raiz da ciência e da arte; o homem incapaz de sentir essa emoção está com os olhos mortos; a caracterização dessa vivência: saber e sentir que existe algo - belo e racional - que compreendemos apenas rudimentarmente; o sentido em que o autor se considera uma pessoa religiosa (e unicamente neste sentido Falhas de compreensão textual fevereiro 15, 2011 3:50 am jwfmfilho 2 comentários Para compreender bem um texto é necessário que se conheça alguns eventos que podem ocasionar desvios na coleta adequada dos dados, pois, como pode ser visto no texto Compreender e interpretar textos, a interpretação de uma informação dependerá bastante da aquisição eficiente das partes que a compõem. Os três eventos mais comuns que podem ocasionar problemas são a redução, a contradição e a extrapolação. Antes de definir esses termos, vamos ler um trecho de uma música de Chico Buarque de Holanda, Construção. “Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz com se fosse um príncipe Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse música E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito pacote flácido Agonizou no meio do Passei Público Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.” Agora vamos às definições dos fatores que prejudicam a compreensão e depois faremos uma associação deles com o trecho apresentado acima. A redução: quando a compreensão de um texto fica limitada à coleta de apenas alguns dados que interessaram ao leitor e se descarta as demais informações presentes na obra, pode-se afirmar que se cometeu o erro de redução. Exemplo: Considerar que o personagem que executa as ações expressas na letra da música Construção é um alcoólatra apenas pela leitura das informações “Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago / Dançou e gargalhou como se ouvisse música / E tropeçou no céu como se fosse um bêbado” A contradição: ao se deparar com as informações dispostas no texto, o leitor compreende justamente o oposto daquilo que se deseja informar. A contradição é considerada uma falha grave, pois demonstra a falta de atenção dada ao conteúdo da obra. Exemplo: Afirmar que o personagem encontra-se vivo ao final do relatado é contradizer aquilo que foi informado diretamente no último verso: “Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.” A extrapolação: ser capaz de inferir dados não apresentados no texto de forma direta faz parte da interpretação de um texto, mas é inadequado fazer afirmações para além do que está exposto no texto sem que se mantenha um vínculo lógico com a fonte (o próprio texto). Dar afirmações sem ter base nas informações presentes no texto é extrapolar a leitura. Exemplo: Declarar que o trecho selecionado fala de um homem que estava com uma doença terminal e se despedia da família antes de ficar cego devido à enfermidade é apresentar uma compreensão exagerada do texto. Em nenhum momento da passagem fica claro que o personagem tem uma doença terminal. Bem, esses são os eventos comuns que prejudicam a compreensão de um texto e, por conseqüência, sua interpretação. Por isso, cuidado ao coletar as informações de um texto (não importa se verbal ou visual). E atenção: ler é o melhor exercício para desenvolver a habilidade de compreender e interpretar textos. Compreender e interpretar textos são ações distintas. O ato de coletar e entender as informações que um texto possa nos oferecer nem sempre corresponde que se tenha conquistado a capacidade de interpretação do texto. Esse primeiro passo dado foi apenas a compreensão. A interpretação envolverá a capacidade do leitor de detectar a(s) intencionalidade(s) textual(is) que não está(ão) disponível(is) de forma clara, mas sim implícita no conjunto da obra. Para melhor compreendermos o que está sendo informado, vamos analisar uma tirinha de Dik Browne. Unindo a linguagem verbal e a linguagem visual, podemos compreender que um garoto, sentado sobre um tronco, lê um livro enquanto uma menina apresenta a admiração que tem por ele através de adjetivos, que se encontram no segundo balão. O que corresponde à interpretação da tirinha, porém, está implícito no texto. De acordo com o informado, o garoto é diferente dos demais que compõem o grupo dos vikings[1]. Podemos interpretar, a partir dos dados no segundo balão, que os outros garotos vikings não têm o hábito de serem gentis (amáveis, corteses) e educados (polidos), e sabemos que o amor (ou admiração) da garotinha é incondicional, mesmo Hamlet (o menino) mantendo-se indiferente e se mostrando o oposto daquilo que lhe foi dado como primeira qualidade, gentil. Com base no que foi exposto no parágrafo anterior, pode-se afirmar que a interpretação corresponde a uma leitura para além do que está disponível verbal e visualmente: vikings mal educados, gosto incondicional, rejeição afetiva. Trata-se de uma leitura das informações entrelinhas, uma dedução mental. Por fim, é necessário ter sempre em mente que o primeiro passo para se chegar à interpretação adequada de uma informação está na coleta eficiente dos dados do texto (compreensão). [1] Um dos bandos de navegadores escandinavos que atacavam e pilhavam as povoações litorâneas do N. e O. da Europa, do séc. VIII ao X. Seqüências textuais fevereiro 12, 2011 4:13 am jwfmfilho Uma seqüência textual é o conjunto de elementos (palavras) que possibilita que um texto tenha características narrativas, descritivas, argumentativas e/ou injuntivas. Desse modo, as seqüências podem determinar se o texto será predominantemente do tipo narrativo, descritivo, argumentativo ou injuntivo. 1. Seqüência narrativa A seqüência narrativa é construída basicamente de verbos que expressam ação e encadeiam causas e conseqüências, revelando a interação de elementos (personagens, por exemplo) para a realização de fatos. Observe o texto: Como tratar o inimigo Um soldado no Iraque recebeu uma carta da sua namorada, que dizia o seguinte: “…Querido John: Não podemos continuar com esta relação. A distância que nos separa é demasiado longa. Tenho que admitir que tenho sido infiel já por várias vezes desde que te foste embora. Acredito que, nem tu nem eu merecemos isto! Portanto, penso que é melhor acabarmos tudo! Por favor, manda de volta a foto minha que te enviei. Com Amor, Mary”. O soldado John, muito magoado, pediu a todos os seus colegas que lhe emprestassem fotos das suas namoradas, irmãs, amigas, primas, etc… Juntamente com a foto de Mary colocou,todas as outras fotos que conseguiu recolher com seus colegas, em um envelope. Na carta que enviou à Mary estavam 87 fotos juntamente com uma nota que dizia: “Querida Mary: Isso acontece. Peço desculpas, mas não consigo me lembrar quem tu és ! Por favor, procura a tua foto no envelope e me envia, de volta, as restantes! Com carinho, com muito, muito amor… John”. MORAL DA HISTÓRIA: Mesmo derrotado… Saiba arrasar o inimigo!!!!! Notamos que um elemento primeiro (a carta) se une a outros elementos (namorado, ambiente etc.) e gera a conseqüência (resposta do soldado), o que possibilita agrupar esse texto dentro do tipo narrativo, pois é predominante a seqüência narrativa. 2. Seqüência descritiva A seqüência descritiva, por sua vez, também pode possuir elementos como a seqüência narrativa, tendo como marca de distinção a não interação desses elementos para a realização de fatos. Leia: Enquanto a casa pegava fogo, um bebê chorava no quarto dos fundos e dois garotos brincavam de bola na rua em frente. Nesse período, percebemos a presença de verbos de ação (pegava, chorava, brincavam) em uso com os demais elementos de uma narrativa (personagens, tempo, espaço), porém, cada elemento permanece em seu lugar, não apresentando uma interação que gere conseqüências; o que temos é um panorama de uma situação, lembrando até mesmo uma pintura impressionista. Note a diferença quando se toma os mesmos elementos, mas constrói-se uma seqüência narrativa: Enquanto a casa pegava fogo, um bebê chorava no quarto dos fundo, alertando, assim, os dois meninos que brincavam de bola na rua em frente. Sem precisar dar continuidade ao enredo, é possível constatar que, a partir do momento que o choro é percebido pelos dois garotos, uma reação em cadeia ocorrerá: os meninos, preocupados ao notarem uma casa pegando fogo e uma criança chorando, procurarão, de alguma maneira, solucionar o problema, representando assim uma interação entre elementos e possíveis conseqüências para os fatos. Eis a distinção entre um panorama de uma situação (seqüência descritiva) e a interação de elementos para a realização de fatos (seqüência narrativa). 3. Seqüência argumentativa Para um texto ser caracterizado como argumentativo, é necessário a predominância da disposição lógica de indícios, suposições, deduções e opiniões que busquem respaldar uma verdade potencial. Portanto, necessário um conjunto de seqüências argumentativas. Acompanhe o fragmento de um texto: ”Pensando bem, em tudo o que a gente vê, e vivencia, e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa que, se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa faz tudo certinho. Chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas, mas nem sempre a gente está precisando das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada.” (adap.: Luis Fernando Veríssimo) Por mais que existam seqüências descritivas que caracterizem a pessoa certa no fragmento acima, estas seqüências são utilizadas para justificar (respaldar) uma idéia que o autor do texto julga ser verdadeira: “Pensando bem, em tudo o que a gente vê, e vivencia, e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente.” Assim, sem perder o valor adjetivo que as expressões dispostas na seqüência descritiva possuem, passam, em conjunto, a valerem como indícios e opiniões que justificarão com o desenvolvimento textual o juízo de valor do autor. 4. Seqüência injuntiva Comum em manuais de aparelhos eletrônicos e em receitas culinárias, a seqüência injuntiva prioriza a presença de verbos no imperativo com o intuito de orientar o leitor, por meio de comandos, na realização de tarefas. Escute: http://www.youtube.com/watch?v=G4ZwY_pz0QA Acompanhando o áudio até o fim, compreende-se que todos os dados apresentados comandam o ouvinte durante a produção de um bolo, declarando sempre como cada elemento (ingredientes) deve ser utilizado e em que ordem deve ser acrescentado. A seqüência injuntiva também pode ser utilizada para, em um conjunto textual como o poema, transmitir um pensamento, uma opinião. Veja: Nesse poema de Décio Pignatari, notamos como ele vê o consumo de um produto da indústria internacional. Sem utilizar-se de seqüência argumentativa, expõe o repúdio que tem pelo produto, grafado com letra minúscula. Dado o exposto, podemos perceber que as seqüências textuais são de fundamental importância para a produção de textos, e que elas podem proporcionar a caracterização de um espaço, o relato de um acontecimento, a divulgação de uma opinião e o encaminhamento de uma atividade, mesmo que sejam utilizadas em contextos diferentes dos quais podemos encontrá-las e expressem idéias para além do seu usual, como é apresentado no exemplo final (seqüências injuntivas que funcionam como divulgadoras de uma opinião implícita). O que é um texto? fevereiro 11, 2011 3:22 am jwfmfilho Diversas serão as definições do que possa ser um texto, porém todas elas passarão pelo mesmo dado, por mais diferentes que possam ser os conceitos: um texto é um produto de uma trama (agrupamento) de palavras, imagens, imagens e palavras, formas lineares ou não. Tudo que se encontra agora ao seu redor, por exemplo, pode ser considerado um texto. As paredes que compõem a sala onde você está são “unidades” que se somam com o piso e o teto e demais adornos para gerar um produto (o ambiente); o ar que você respira, assim como a roupa que eu visto, são resultados da interação de elementos que se conectam gerando um texto, um produto capaz de manter uma função comunicativa. Sendo assim, tudo, mas tudo mesmo, pode ser texto? A resposta é sim. Os elementos químicos, as células de um ser vivo, as peças de um carro e os números em um calendário são alguns exemplos de componentes que, quando se unem em seus determinados contextos, promovem o surgimento de um texto, desde que se leve em conta a idéia de que um texto se apresenta como um todo unificado sujeito a compreensões e inferências. A nossa própria vida, a interação que promovemos com o mundo ao nosso redor e até mesmo com o nosso “mundo interior”, avaliada a cada momento, pode representar inúmeros parágrafos de uma redação. Sem esquecer que o nosso próprio corpo, que nos permite comunicações em linguagem verbal e visual, é um texto complexo. É verdade que o hábito faz muitas pessoas acharem que um texto é apenas um conjunto de palavras que se somam e geram frases, orações (períodos) e, por fim, parágrafos. O que temos aqui, nesse modo de caracterizar um texto, é uma das formas que o ser humano possui para interagir socialmente, com o intuito de expressar as emoções, idéias e desejos que o acompanham. Lembremos que no período classificado por alguns como pré-história foi apontado um momento no qual os seres registravam os acontecimentos cotidianos não com palavras, mas sim com imagens; e essas imagens, aparentemente incoesas, em seu todo unificado conseguiam transmitir para os demais integrantes daquele povo mensagens, ideais, histórias. As imagens eram textos, como hoje ainda são as charges, os semáforos, os olhares, os sorrisos… É isso, textos estão ao nosso redor e dentro de nós! Início > Curso de Redação Contextual > Linguagem verbal e visual Linguagem verbal e visual fevereiro 11, 2011 4:02 am jwfmfilho Sabe-se que o homem vem construindo a própria história desde os primeiros momentos em que se postou sobre a terra; lutando para sobreviver entre os demais animais. Criou e cria o enredo da vida por meio de escolhas, de seleção de opções. Opta pelo avançar ou pelo recuar, pela omissão improdutiva ou pela reação criativa, transpondo, assim, o seu pensar, o seu mundo subjetivo (interno) para o mundo real, com o qual precisa manter uma relação de convivência, de sobrevivência.Dessa forma, o homem, que, antes do falar, sonhou, escolheu a reação criativa e se diferenciou dos demais animais. Ele imaginou e recriou, na tentativa de representar desejos e emoções que o constituíam, o mundo, por meio de pinturas em paredes e rabiscos na terra. Em outras palavras, deu o pontapé inicial para as artes visuais, para a comunicação entre os homens para além do gestual do próprio corpo. Inaugurou a linguagem visual[1], estática individualmente e coletivamente dinâmica. Em seguida, ao alcançar o domínio de articulações fônicas, e a habilidade de ordenar cadeias de sons em uma seqüência sintática que permitisse a transmissão de informações complexas, o homem inaugura uma segunda forma de expressar as necessidades humanas que o afligiam. Instituiu a comunicação pelo uso da linguagem verbal[2]. Observemos as imagens a seguir: 1. 2. 3. Ao determos-nos para apreciar imagens como essas, notamos que elas nos revelam muito mais que cores e desenhos estáticos; elas revelam as emoções e fatos que afligiram o autor ou o contexto dele. A nossa primeira imagem[3], por exemplo, expressa a visão que o pintor tem sobre as estrelas, destacadas em forte tom pelo amarelo que se mistura formando uma correnteza com um céu escuro; ao invés de escrever sobre as sensações que tinha sobre uma noite estrelada, materializou o pensamento por meio da pintura. Revelando um ato de fuzilamento, a segunda pintura[4], por sua vez, nos dispõe a impressão do conflito vivido pelo povo espanhol durante a invasão napoleônica: de um lado os impotentes esperando a Morte, do outro, os potencialmente armados invasores, sem contar os mortos ao chão e o homem de braços abertos e de branco, destacando-se na tela. Por fim, nossa última e famosa pintura[5] renova a retratação da mulher renascentista; o olhar dessa mulher enigmático, assim como o sorriso, encara o observador, convida-o a refletir sobre o próprio enigma que é o Homem. Como podemos ver, a expressão visual pode ser tão comunicativa quanto a verbal, legando para o receptor um amplo repertório de informações, sensações e, até em alguns casos, opiniões; além disso, percebemos o quanto é comum o uso da linguagem verbal e da linguagem visual em contextos independentes e até mesmo em cooperação, como na tirinha a seguir: [1] Comunicação por imagens. [2] Comunicação que se utiliza de palavras expressas de forma escrita ou apenas oral, mas que estão ordenadas por um princípio lógico comum a uma comunidade. [3] A Noite Estrelada de Vincent Van Gogh. [4] Três de Maio de 1808 em Madri de Francisco de Goya. [5] Mona Lisa de Leonardo Da Vinci. Metamanagement – Um pouco mais sobre as inferências Publicado em 10/06/2009 por Marcelo Mello Olá pessoal, acabei de reler o capítulo do livro Metamanagement que trata das inferências e de seu papel crucial nas interações humanas. Nesse texto, Kofman nos explica que a capacidade de fazer inferências é extremamente útil para que nós, seres humanos, possamos operar no dia a dia, tomando as inúmeras decisões e executando as respectivas ações necessárias à nossa sobrevivência. Ele também concebe esse processo como uma escada, a escada de inferências, cujos degraus são os seguintes: 1. dados objetivos da realidade: as observações ou fatos imediatamente verificáveis para qualquer observador; 2. interpretações: o quadro de situação subjetivo que você arma a partir daquilo que observa, supõe e infere; 3. juízos: as opiniões que temos sobre o que acontece ou interpretamos que acontece. Essas opiniões surgem da comparação de nossa interpretação com valores e parâmetros; 4. conclusões e as decisões sobre como agir: dada a interpretação da situação e os juízos que fazemos dela, tomamos decisões; Ainda segundo Kofman, o modelo mental de cada pessoa funciona como o “corrimão” da escada de inferências, condicionando as observações e orientando as interpretações, juízos e as conclusões. E é exatamente aí que reside o principal risco do processo de inferir, a saber, subir de forma precipitada e inconsciente os degraus de nossa escada de inferências, chegando ao topo, ou seja, às decisões e ações, por meio de observações, interpretações e juízos inválidos. É fato que as pessoas possuem modelos mentais diferentes, resultado de todas as experiências acumuladas ao longo da vida e quando alguém esquece que suas inferências (observações, interpretações, juízos e conclusões) são condicionadas por seu modelo mental e que este, por sua vez, longe de ser um reflexo objetivo da realidade, representa apenas uma visão pessoal dessa realidade, aí é que emergem as decisões, as discussões e os conflitos que podem inviabilizar a coordenação de ações entre os indivíduos. Escada de inferências Para prevenir que tal situação ocorra, Kofman nos sugere algumas estratégias para melhorar a efetividade de nossas conversações: • Reconhecer que as observações, interpretações, opiniões, conclusões e recomendações que você tem em mente são condicionadas pelo seu modelo mental; • Indagar sobre os dados, raciocínios e objetivos do outro. Fazer perguntas que o convidem a descer a escada de inferências; • Revelar os próprios dados, raciocínios e objetivos. Descer a escada de inferências à vista do outro; • Verificar as inferências sobre os modelos mentais dos outros. Não acreditar que você consegue ler a mente deles e descobrir quais são suas intenções, desejos, temores, preocupações e interesses; • Pedir exemplos ou ilustrações. Tornar concretas as abstrações; Entendo que o processo de fazer inferências é parte indissociável de nossa atuação como seres humanos, mas precisamos estar muito atentos a cada degrau na subida em nossa escada de inferências, lembrando sempre que interagimos com outros seres humanos, que possuem modelos mentais muitas vezes completamente antagônicos aos nossos, mas que são igualmente legítimos, e que o caminho para o acordo e a colaboração passa, necessariamente, pela substituição do desejo de “vencer a disputa” por uma incessante busca pelo respeito e pelo aprendizado mútuos. Por fim, compartilho com vocês mais uma singela história, também extraída do livro Metamanagement, e que ilustra o poder e os perigos de nossas inferências: Na plataforma da vida Naquela tarde, a elegante senhora chegou à estação e foi informada de que seu trem partiria com uma hora de atraso. Contrariada, a senhora comprou um pacote de biscoito, uma garrafa de água e uma revista para passar o tempo. Procurou um banco na plataforma central e sentou-se para esperar. Enquanto folheava a revista, um rapaz se sentou ao seu lado e começou a ler o jornal. De repente, sem dizer uma só palavra, o rapaz estendeu a mão, pegou o pacote de biscoitos e se pôs a comê-los despreocupadamente. A senhora ficou furiosa. Não queria ser grosseira, mas era impossível aceitar passivamente aquela situação ou fazer de conta que nada estava acontecendo. Ela então, com um gesto enfático, pegou o pacote e tirou um biscoito. Acintosamente, fitando o rapaz nos olhos, ela comeu o biscoito. Como resposta, o rapaz pegou outro biscoito e, olhando a senhora nos olhos, sorriu e comeu o biscoito. A senhora, já enfurecida e com visíveis sinais de raiva, manteve os olhos fixos no rosto do rapaz e comeu outro biscoito. E assim continuou aquele silencioso diálogo de olhares e sorrisos entremeado por biscoito e biscoito, ela cada vez mais irritada e ele cada vez mais sorridente. Finalmente, a senhora percebeu que só restava um biscoito. “Ele não pode ser tão cara-de-pau”, pensou, olhando alternadamente para o rapaz e para o pacote. Com toda a calma, o rapaz estendeu a mão, pegou o último biscoito e delicadamente quebrou-o ao meio. Com umgesto amoroso, ofereceu uma parte à sua companheira de banco. - Obrigada! – disse a senhora, pegando a metade de biscoito com rudeza. - De nada – respondeu o rapaz com um sorriso doce, enquanto comia sua metade. E então o trem anunciou sua partida. A senhora se levantou, furiosa, e embarcou. O trem partiu e a senhora, pela janela do vagão, viu o rapaz ainda sentado na plataforma e pensou: “Mas que insolente, que mal-educado! O que será do mundo com uma juventude assim?!” Ainda olhando o rapaz, cheia de ressentimento, a senhora sentiu a boca seca, tamanha era a raiva que aquela situação lhe tinha provocado. Abriu a bolsa para pegar a garrafa de água e ficou totalmente surpresa ao encontrar lá dentro, intacto, o seu pacote de biscoitos. O PODER DA INTERPRETAÇÃO Mabel Pessoa Spindola (UERJ) Introdução Visando ao despertar do leitor para o imaginário poético e para a sua participação enquanto “autor” no momento da interpretação; este trabalho aborda o aspecto prático do ato de interpretar e retrata a importância de se saber chegar às entrelinhas fomentando a consciência crítica na construção de um leitor em potencial. Ao interpretar o universo de cada autor e obra, assim como, a leitura de uma notícia; o leitor interage com o texto e deixa sua posição passiva de receptor da mensagem passando a construtor de novos saberes. É esta interação; é o papel do leitor na recriação do texto que chamaremos aqui de interpretação. E o poder? O poder é a capacidade que o texto tem de levar o pensamento do indivíduo (o leitor em potencial) que a cada nova leitura se torna um novo homem, um novo ser enriquecido de experiências que após a leitura interpretativa deixam de ser do autor para tornarem-se suas. Desenvolvimento Em sala de aula, constatamos que uma das grandes dificuldades do aluno é o fato de não saber ler. É verdade. Muitos alunos chegam ao ensino médio e até superior sem saber ler. Entendemos por leitura mais que a simples decodificação dos sinais gráficos, mais que a simples compreensão ou reconhecimento da história. Trataremos da terceira etapa deste processo de leitura: a interpretação. O aluno não consegue muita das vezes compreender a mensagem e muito menos chegar às entrelinhas. Devemos fazer com que ele consiga viajar pelas inúmeras possibilidades de significação da palavra. Como? Questionando a nossa condição de educador e refletindo a nossa prática diária em relação ao nosso aluno. Devemos acreditar no que fazemos e só assim o aluno também acreditará. Uma sugestão seria resgatarmos a origem. “No princípio era a palavra e a palavra se encarnou” “E o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” [1] No princípio, não existia a matéria, o corpo da palavra. Só existia a Vontade divina[2]. Não havia delimitações. A palavra era infinita, pertencia ao mundo da abstração. Mas foi por Vontade divina que a palavra se fez carne, foi neste momento que a palavra passou à mortalidade da matéria. O corpo da palavra é o seu cárcere. Como comportar um elemento infinito dentro de um corpo físico? Muito se perde nesta transubstanciação. A palavra forma-se por dois constituintes: um material e outro imaterial. Entramos no aspecto lingüístico da palavra. Sabemos que a palavra é um signo formado pela relação estabelecida entre o significante e o significado[3]. Não há signo lingüístico sem essa relação. Percebemos então, que ao ser tolhida a palavra perde muito de sua essência por não ser possível conter o infinito dentro do finito. Tracemos um paralelo entre a natureza da palavra e a natureza humana. Nós somos espíritos infinitos aprisionados neste corpo perecível e mortal. Somos formados também da relação entre o material e o imaterial. Perdemos muito de nossa essência e deixamos de compreender a nossa própria existência devido a nossa condição humana. Se em um determinado momento somos tomados por um sentimento de raiva, ou de angústia, ou de dor, sabemos que ele é real; que esse sentimento é concreto para nós. Uma vez que sejamos tomados por algum outro sentimento, o primeiro seria substituído e deixaria de existir. Mas suponhamos que quiséssemos eternizar aquela raiva, aquela angústia ou dor. Qual seria o nosso procedimento? Como o tornaríamos eterno, concreto também para o outro? Visível, paupável? Através da palavra escrita. Através do texto. Ao tocarmos o texto estaremos tocando o sentimento. O texto é para nós a tentativa desesperada de nos reconhecer como imortal. A obra literária transgride o tempo. Através dela, hoje, temos acesso à natureza do homem do século passado ou de qualquer outra época. Conhecemos os defeitos, as paixões, os amores, os medos, os pensamentos que se eternizaram na história da Literatura. É essa visão personificada da palavra que poderíamos transmitir ao nosso aluno para que ele se aproxime do universo da palavra como quem se aproxima de si mesmo. Podemos criar essa identificação. A palavra como espelho do “eu” e ou do “nós”. Um exemplo: quando um aluno lê uma questão de Química e não consegue saber o que está sendo pedido, quando lê um conto e não entende nada é porque a palavra se fez mais esperta que ele. Assim como o homem, a palavra também se veste. Para cada ocasião temos um traje apropriado. Se vamos à praia; usaremos o biquíni, o maiô, a sunga. Se vamos a uma cerimônia festiva; vestidos longos, saltos altos, fraques, ternos. O mesmo processo se dá com as palavras. Para cada momento, para cada texto temos uma roupagem diferente E esse é o grande causador das dificuldades de interpretação do nosso aluno que não consegue reconhecer o traje da palavra naquele determinado contexto. O aluno tem dificuldades de traçar relação entre o texto, ele e a própria realidade. É essa relação que devemos promover para que a interpretação seja possível. Consideremos a Literatura como um prolongamento do corpo humano, ou melhor, tendo o homem sido fragmentado em sua origem, ele busca incessantemente a imortalidade perdida e a arte nada mais é que essa transcendência, essa aspiração à eternidade. A arte dribla a morte. Dribla o fim, a finitude humana. O aluno teme o que desconhece, assim como nós. Em meio a um mundo de concepções individualistas e consumistas, um mundo em que beiramos a superfície e nunca chegamos ao fundo, ao centro, a essência é difícil travar um conhecimento que exija sensibilidade, reflexão e leitura. O aluno teme mostrar-se, revelar-se e teme conhecer e desvendar o outro. Precisamos romper o medo e fazer fluir o interesse do aluno por si e pelo outro, fazer fluir o interesse pela existência das coisas. Uma existência bela no que diz respeito ao encontro entre sua fração mortal e sua fração imortal. Esse encontro se dá em nível de leitura, em nível de arte literária. Enquanto professores, muita das vezes, agimos de forma equivocada considerando o nosso aluno como uma folha de papel em branco a ser preenchida pelo conhecimento que transmitimos. Isso é educar? É para isso que nos tornamos professores? Não. Devemos encarar a relação ensino- aprendizagem como uma relação mesmo. Existe uma interatividade entre o educador e o educando, entre o professor e o aluno, e mais, entre o conhecimento, o saber acadêmico e o saber do aluno constituído por suas experiências particulares, sua vivência enquanto ser. Tudo está intimamente ligado. É esta ligação que deve ser feita para alcançarmos junto ao aluno o estágio da interpretação. Muitos estudos já foram realizados a respeito da Leitura e da interpretação, Temos três eixos centrais: O texto, o autor e o leitor. O nosso momento pede que centremos nossa atenção no leitor, afinal, é para ele que o autor escreve sua obra.A obra pronta, fechada dentro do livro, não estabelece nenhuma relação com o leitor[4]. O aluno não vê interesse em mergulhar naquela história, pois a considera distante demais de sua realidade, de seus interesses. O que deve ser feito é mostrar para o aluno que tudo é um, que participamos do mesmo universo e que existe um inconsciente coletivo regendo nossa convivência e evolução e que por este motivo, aquela obra tem e terá muito de nós mesmos e que a sua leitura irá nos proporcionar autoconhecimento, seria provável que este aluno passasse a buscar na leitura a identificação do seu “eu”, com o “eu” do outro e com o “eu” do mundo. Ao abrir o livro, ao passar os olhos no texto, o leitor inicia uma relação íntima de construção mútua do próprio texto e de si. Será que o leitor participa diretamente do ato da criação da obra? Ele estava lá quando o autor teve a idéia e a traduziu em palavras? Não. O autor ao criar a obra literária deixa de ser simples criatura para tornar-se o criador. A literatura tem esse dom de elevar homens à condição divina do Criador. O autor é o criador, ele é onisciente, onipresente e onipotente dando vida ao que antes era só vontade. Mas depois da obra feita ela percorre uma trajetória que irá rumo a sua reformulação. Será que o texto lido é o mesmo texto escrito pelo autor? A mensagem que o leitor recebe é a mesma mensagem que o autor transmitiu ao escrever a obra? Para respondermos a essa indagação iremos utilizar uma dinâmica com o texto: O tempo lá fora [Autor desconhecido] Dentro de minha casa o vento não penetrava, somente lá fora era frio e o vento assobiava. Mas veio alguém e abriu a porta. Meus pés gelaram e meus ouvidos escutaram os gemidos do vento. Agora não posso deixar que fechem a porta. De que modo, gozarei o calor e o silêncio de minha casa, sabendo como está frio e como venta além destas paredes? A dinâmica se dá pelo levantamento do campo semântico e de todas as possíveis significações que os alunos irão atribuir a aqueles significantes do texto. Teremos, então, diversos textos a partir do primeiro. O que temos são vários textos, várias leituras, de acordo com a recepção, e o espírito de cada leitor. É na teoria da receptividade que iremos buscar soluções para a dificuldade do aluno em interpretar. O leitor não é um receptor passivo da mensagem textual. Ele é parte integrante do texto e no ato da leitura torna-se co-autor, pois o texto que chega ao leitor não é o mesmo que saiu do autor. O leitor é ativo, é interativo na medida em que atribui àquelas palavras a importância que lhe convir, a emoção que lhe couber. O leitor não é estéril. Devemos ser francos com o nosso aluno. Tratá-lo com respeito. Ele é um leitor em potencial. Se hoje não há compreensão do texto lido, só depende dele mudar este quadro. Não devemos subestimar o nosso aluno. Devemos trabalhar com a sua auto- confiança. – É lançado o desafio: Eis o texto. E aí? Vocês vão ceder diante às armadilhas da palavra ou vão desmascará-las? – Como, Professor? A pergunta será feita e caberá a nós, educadores, mostrarmos como. O primeiro passo já foi dado. Despertado o interesse do aluno pela leitura interpretativa o que alcançamos é algo muito maior. Essa busca é pela maturidade e pelo saber. Vamos trabalhar com a realidade do aluno. Fazer dele um texto a ser lido. É um bom começo. Fazer com que o aluno leia a si mesmo e o diálogo com as palavras vai se iniciar de forma agradável e amiga; com o passar dos dias apresentaremos um texto de maior complexidade, trabalharemos o vocabulário, chamaremos a atenção para o discurso, mergulharemos na polissemia, nas alterações semânticas, nos recursos literários. Depois leremos o outro, o texto que é o outro. Iniciaremos a análise, a comparação. Estabeleceremos semelhanças e diferenças, questionaremos. Nosso leitor estará nascendo bem devagar, lentamente até que as palavras sejam desmascaradas e o contexto reconhecido. O aluno levará para a sala de aula assuntos de seu interesse e então, estaremos lendo o mundo, cada um com o seu texto. Novas descobertas, novas dúvidas, inúmeras dificuldades. Mas finalmente chegará a hora de seduzirmos o aluno leitor com a Literatura. Transformaremos o estudo em prazer. Ler não será mais somente travar lutas com as palavras, mas enxergá-las belas, vistosas diante de nosso olhar. Para o aluno o domínio da arte de interpretar é a sua real participação enquanto indivíduo dentro da construção do próprio conhecimento, do pensamento de sua geração. Nisto consistirá o poder, em fazer da interpretação uma arma contra a alienação e a ignorância. Uma arma em prol do estudante, do aluno, do leitor em potencial contra toda forma de opressão. CONCLUSÃO Dentro do corpo complexo, mas mortal, existe uma alma imortal que se traduz pelo verbo e se encarna na palavra. O homem não satisfeito com o verbo cria a palavra escrita a fim de eternizar o seu universo interno e torná-lo tão concreto quanto seu próprio corpo. Não satisfeito em criar a escrita, iluminado pelo eu espírito artístico, o homem preocupou-se em tornar belo sua parcela imortal. Assim como o corpo, a matéria é limitada e perecível: a palavra escrita e falada também são. Não se pode exigir perfeição no plano da matéria, a perfeição só é possível na arte. A arte literária é a busca pelo belo, pela perfeição do verbo. Ser capaz de interpretar a arte literária é intitular-se o deus do seu universo imortal. De mero leitor passa-se a criador no instante em que internaliza o objeto lido e o digere para transformá-lo, logo em seguida, repleto de si mesmo. Ser capaz de interpretar, não só o objeto lido, mas o mundo que se esconde por trás de cada termo é comparável à ação criadora. Gera-se uma nova vida. Bibliografia BARTHES, Rolan. Elementos de Semiologia. São Paulo : Cultrix, 1974. CAMPOS, Dinah M. de Souza. Psicologia da Aprendizagem. Petrópolis : Vozes. CHABROL, Claude et alii. Semiótica narrativa e textual. São Paulo : Cultrix, 1977. CHOMSKY, N. Linguagem e Pensamento. Petrópolis : Vozes,1977. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. ____________ e Frei Betto. Essa Escola Chamada Vida. JAUSS, Robert Hans. A Literatura e o Leitor:textos de estética de recepção. Coordenação de Luís Costa Lima. Rio de Janeiro : Paz e Terra,1979. LYON JUNIOR, Harold. C. Aprender a Sentir – Sentir para Aprender. São Paulo : Martins Fontes, 1977. MEKSENAS, Paulo. Sociologia da Educação. São Paulo : Loyola, 1988. PAULUS, Jean. A Função simbólica e a Linguagem. Rio de Janeiro : Eldorado,1975. Revista de Cultura Vozes, nº 05/1973 ano 67. SOARES, Magda. Linguagem e Escola: Uma Perspectiva Social. São Paulo : Ática, 1987. -------------------------------------------------------------------------------- [1] Passagem Bíblica. [2] Considerando a lógica cristã e ocidental. [3] Significante (parte concreta da palavra formada pelas letras e pelos fonemas). Significado (formado pela idéia, pelo conceito, pela mensagem). [4] Iremos desconsiderar (só neste momento bem específico) a análise que prima por esta relação inerente que firma a ligação de todos com todos, através do inconsciente coletivo e que nos torna um pouco responsável por tudo e por todos. Ou seja, se participamos do contexto que forjou a obra, participamos também, de certa forma, de sua criação – mesmo sem termos consciência disso. INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS Para ler e entender um texto é preciso atingir dois níveis de leitura: Informativa e de reconhecimento; Interpretativa. A primeira deve ser feita cuidadosamente por ser o primeiro contato com o texto, extraindo-se informações e se preparando para a leitura interpretativa. Durante a interpretação grife palavras- chave, passagens importantes; tente ligar uma palavra à idéia-central decada parágrafo. A última fase de interpretação concentra-se nas perguntas e opções de respostas. Marque palavras com NÃO, EXCETO, RESPECTIVAMENTE, etc, pois fazem diferença na escolha adequada. Retorne ao texto mesmo que pareça ser perda de tempo. Leia a frase anterior e posterior para ter idéia do sentido global proposto pelo autor. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO E IDÉIA CENTRAL Um texto para ser compreendido deve apresentar idéias seletas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela idéia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão do texto. Podemos desenvolver um parágrafo de várias formas: Declaração inicial; Definição; Divisão; Alusão histórica. Serve para dividir o texto em pontos menores, tendo em vista os diversos enfoques. Convencionalmente, o parágrafo é indicado através da mudança de linha e um espaçamento da margem esquerda. Uma das partes bem distintas do parágrafo é o tópico frasal, ou seja, a idéia central extraída de maneira clara e resumida. Atentando-se para a idéia principal de cada parágrafo, asseguramos um caminho que nos levará à compreensão do texto. OS TIPOS DE TEXTO Basicamente existem três tipos de texto: Texto narrativo; Texto descritivo; Texto dissertativo. Cada um desses textos possui características próprias de construção. DESCRIÇÃO Descrever é explicar com palavras o que se viu e se observou. A descrição é estática, sem movimento, desprovida de ação. Na descrição o ser, o objeto ou ambiente são importantes, ocupando lugar de destaque na frase o substantivo e o adjetivo. O emissor capta e transmite a realidade através de seus sentidos, fazendo uso de recursos lingüísticos, tal que o receptor a identifique. A caracterização é indispensável, por isso existe uma grande quantidade de adjetivos no texto. Há duas descrições: Descrição denotativa Descrição conotativa. DESCRIÇÃO DENOTATIVA Quando a linguagem representativa do objeto é objetiva, direta sem metáforas ou outras figuras literárias, chamamos de descrição denotativa. Na descrição denotativa as palavras são utilizadas no seu sentido real, único de acordo com a definição do dicionário. Exemplo: Saímos do campus universitário às 14 horas com destino ao agreste pernambucano. À esquerda fica a reitoria e alguns pontos comerciais. À direita o término da construção de um novo centro tecnológico. Seguiremos pela BR-232 onde encontraremos várias formas de relevo e vegetação. No início da viagem observamos uma típica agricultura de subsistência bem à margem da BR-232. Isso provavelmente facilitará o transporte desse cultivo a um grande centro de distribuição de alimentos a CEAGEPE. DESCRIÇÃO CONOTATIVA Em tal descrição as palavras são tomadas em sentido figurado, ricas em polivalência. Exemplo: João estava tão gordo que as pernas da cadeira estavam bambas do peso que carregava. Era notório o sofrimento daquele pobre objeto. Hoje o sol amanheceu sorridente; brilhava incansável, no céu alegre, leve e repleto de nuvens brancas. Os pássaros felizes cantarolavam pelo ar. NARRAÇÃO Narrar é falar sobre os fatos. É contar. Consiste na elaboração de um texto inserindo episódios, acontecimentos. A narração difere da descrição. A primeira é totalmente dinâmica, enquanto a segunda é estática e sem movimento. Os verbos são predominantes num texto narrativo. O indispensável da ficção é a narrativa, respondendo os seus elementos a uma série de perguntas: Quem participa nos acontecimentos? (personagens); O que acontece? (enredo); Onde e como acontece? (ambiente e situação dos fatos). Fazemos um texto narrativo com base em alguns elementos: O quê? - Fato narrado; Quem? – personagem principal e o anti-herói; Como? – o modo que os fatos aconteceram; Quando? – o tempo dos acontecimentos; Onde? – local onde se desenrolou o acontecimento; Por quê? – a razão, motivo do fato; Por isso: - a conseqüência dos fatos. No texto narrativo, o fato é o ponto central da ação, sendo o verbo o elemento principal. É importante só uma ação centralizadora para envolver as personagens. Deve haver um centro de conflito, um núcleo do enredo. A seguir um exemplo de texto narrativo: Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o Capitão Rodrigo Camborá entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava num alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de metal. (Um certo capitão Rodrigo – Érico Veríssimo) A relação verbal emissor – receptor efetiva-se por intermédio do que chamamos discurso. A narrativa se vale de tal recurso, efetivando o ponto de vista ou foco narrativo. Quando o narrador participa dos acontecimentos diz-se que é narrador-personagem. Isto constitui o foco narrativo da 1ª pessoa. Exemplo: Parei para conversar com o meu compadre que há muito não falava. Eu notei uma tristeza no seu olhar e perguntei: - Compadre por que tanta tristeza? Ele me respondeu: - Compadre minha senhora morreu há pouco tempo. Por isso, estou tão triste. Há tanto tempo sem nos falarmos e justamente num momento tão triste nos encontramos. Terá sido o destino? Já o narrador-observador é aquele que serve de intermediário entre o fato e o leitor. É o foco narrativo de 3ª pessoa. Exemplo: O jogo estava empatado e os torcedores pulavam e torciam sem parar. Os minutos finais eram decisivos, ambos precisavam da vitória, quando de repente o juiz apitou uma penalidade máxima. O técnico chamou Neco para bater o pênalti, já que ele era considerado o melhor batedor do time. Neco dirigiu-se até a marca do pênalti e bateu com grande perfeição. O goleiro não teve chance. O estádio quase veio abaixo de tanta alegria da torcida. Aos quarenta e sete minutos do segundo tempo o juiz finalmente apontou para o centro do campo e encerrou a partida. FORMAS DE DISCURSO Discurso direto; Discurso indireto; Discurso indireto livre. DISCURSO DIRETO É aquele que reproduz exatamente o que escutou ou leu de outra pessoa. Podemos enumerar algumas características do discurso direto: - Emprego de verbos do tipo: afirmar, negar, perguntar, responder, entre outros; - Usam-se os seguintes sinais de pontuação: dois-pontos, travessão e vírgula. Exemplo: O juiz disse: - O réu é inocente. DISCURSO INDIRETO É aquele reproduzido pelo narrador com suas próprias palavras, aquilo que escutou ou leu de outra pessoa. No discurso indireto eliminamos os sinais de pontuação e usamos conjunções: que, se, como, etc. Exemplo: O juiz disse que o réu era inocente. DISCURSO INDIRETO LIVRE É aquele em que o narrador reconstitui o que ouviu ou leu por conta própria, servindo-se de orações absolutas ou coordenadas sindéticas e assindéticas. Exemplo: Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cavalos, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando”. (Graciliano Ramos). Interpretação de Texto - Exercícios de Português Por PortuguêsPublicado
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