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do Novo Mundo tanto nossas como dos vizinhos peninsulares. Descobertas há muito poucos anos, como João Rodrigues por vezes lembra. Como por exemplo, o opobálsamo do Perú, trazido dessa terra ainda há pouco descoberta(1). A II Centúria é escrita a partir de 1 de Abril de 1551(1) (4). O Balsamo do Peru, refere-se ao suco obtido do Myroxyglum pereirae Royle, leguminosa, oriunda deste país da América Sul. É diurético e era empregue nos catarros da bexiga, na blenorragia, entre outros(8). Também a propósito de outra composição, a teriaga, diz que terá cada um dos símplices que entram na sua composição, escolhidos mesmo dos confins do mundo, não nos poupando a despesas. Estas afirmações dizem bem a sua largueza de vistas, sem hermetismos (C.55, II Cent.). Outra ideia que nos parece importante é a mudança que se opera nos tratamentos, o que demonstra muita experiência, estudo e reflexão. Na associação de plantas para a preparação de determinadas terapêuticas, observa-se a preocupação de sintetizar e todas elas, de maneira geral, têm poucos símplices, ao contrário do que sucedia na Centúria inicial. Demonstra também o cuidado e conhecimentos de quem utiliza plantas e substâncias químicas, em utilizar doses com maiores diluições, reduzindo a potência dos fármacos, acentuando que doses mais fracas atingem resultados mais rápidos e melhores para os doentes. Dos produtos usados que não eram de origem vegetal, desde o chifre de veado queimado até ao rútilo, dão um conjunto de 60 unidades na II Centúria. Ficamos a saber que estes produtos cresceram em relação aos indicados na I Centúria, embora levemente. Contudo, os produtos não vegetais das duas primeiras Centúrias comparados com os vegetais dos mesmos livros, dão uma relação de 20% e 80% respectivamente favorável portanto aos últimos. Os produtos da fauna doméstica são o rol que aumenta os não vegetais da II Centúria. E relembramos que na I Centúria os vegetais atingem 84%(5). 4. Parece-nos útil dizer quanto à tradução do Dr. Firmino Crespo nos merece o maior respeito, mas não desdoura o seu trabalho se apresentarmos algumas achegas botânicas que são necessárias. A propósito da C. 44, Il Centúria, pág 91, na tradução aparece Erva gnafália, chamada Formentícia, e depois em nota de rodapé, põe os sinónimos Formentila e 27 Formentilha, servia esta erva para o tratamento da disenteria. Como estas ervas têm muitos nomes vul- gares regionais, além dos botânicos, apresento o tema numa transparência que facilita a leitura. (Folha transparência com os Potentillas). Amato não escapeliza a destrinça das espécies. A dificuldade reside na ligação da História à Ecologia da Vegetação. Mas é sobretudo para chamar a atenção, da necessidade de se usar um só nome vul- gar correspondente ao nome botânico das plantas, para evitar o caos. Estamos de acordo que de cada planta se eleja o nome vulgar actual mais usado a nível nacional e que se leve em conta, se possível, as designações dos países latinos para facilitar o entendimento dos vegetais. Amato fala da água de gnafálio, donde se faz um vinho cozido contra a disenteria que Dioscórides muito elogia no seu livro 3° da Matéria Médica. (Cura 44, II Centúria) Tratamento da Desinteria FAM.ROSÁCEAS Nome Botânico Nomes vulgares Potentilla erecta (L) SETE-EM-RAMA Rãuschel TOMENTINA (rizoma) TORMENTILHA TURMENTILA TORMENTILA ERVA GNAFÁLIA (A.) TORMENTÍCIA (A.) TOMENTO (A.) Potentilla reptans L. CINCO-EM-RAMA POTENTILA POTENTILHA QUINQUIFÓLIO TORMENTILA (A.) Potentilla ausexina L. (planta florida) (A.) - Designação de Amato Lusitano Na C.73 II Centúria, o tradutor fala em Coshiarum e em rodapé diz: “Será antes cochlearum? (N. do T.)”. Há de facto duas espécies: A Cochlearia officinalis L.= coclearia, da qual se utiliza a planta florida. Aparece ainda a C. officinalis subsp.officinalis L. conhecida por Cocleária ou Erva das colheres, que os espanhóis também indicam. Temos ainda a C. armoracia L. = Rábano silvestre do qual se utilizam as raízes. Hoje em dia emprega-se para debelar as úlceras. É esta espécie rica em Vitamina C, nomeadamente nas suas folhas. Amato empregava as pílulas de Coclearia no tratamento de uma chaga crostosa(6). Na Cura 7, II Centúria Amato fala da Erva ajuga a Camefites. F. Crespo chamava-lhe, impropriamente “Chamaepitys (fr. ive) (N. do T.)”. Existem a Ajuga reptans L. = Ajuga ou Erva-Carocha, a A. ive (L.) Schreiber = Abiga ou ainda a A. chamaepitus (L.) Schreiber = Erva crina a que Amato chama Camefites, como é fácil de perceber(7). Na Cura 81, II Centúria, há a preparação duma solução para possibilitar a um jovem obter filhos. Aparece na tradução Eruca hortense. Mas não é Eruca, mas sim Erica. E é E. cinerea L. da qual se aproveitam as sumidades floridas. Da família das Ericáceas há ainda a E. australis L. conhecida em vernáculo por Chamiça ou Urgeira (na Beira Baixa, em Vila Velha de Rodão há uma grande propriedade com este nome) e ainda a E. ciliaris L. de nome vul- gar Carapaça. Inclinamo-nos para pensar que a Erica empregue por Amato fosse a E. cinerea L.. Porém não nos admirava que as outras espécies pudessem ser empregues no mesmo sentido(7). Ainda nesta C. 81, da II Centúria, F. Crespo fala de raízes de iríngio para excitar o impulso de Vénus, na sua tradução. Não é Iríngio mas sim Eryngium campestre L., um afrodisíaco conhecido no vulgo por Cardo corredor. Há ainda o Cardo marítimo = E. maritimum L. e ainda a Cardete = E. tenue Lam.: Todos são da Família das Umbelíferas(7). A C.81 da II Centúria, fala do almíscar doce, da sua confeição, e se destina a afrodisíaco e João Rodrigues chama-lhe diamischos, segundo F. Crespo. Conse-guimos chegar ao nome botânico que é o Erodium moschatum (L.) L’Her. da Fam. das Geraniaceas. Hoje chama-se Agulheira-moscada ou Agulha-de-pastor-moscada, a Almiscareira, o Bico-de- -cegonha-moscado, Bico-de-grou-moscado e ainda Erva-de-alfinete. Reparem que designações diferentes dão ideia clara da planta. Entre nós aparece com relativa facilidade. E. malacoides (L.) L’Her. é outra espécie conhecida por Maria-fia, Erva-garfo, a Marioila ou finalmente a Planta-de-garfos. A E. cicutarium (L.) L’Her, é outra espécie conhecida pelo Bico-de-cegonha e também por Repimpim. Para finalizar na Cura 81, Centúria II, F. Crespo traduz o Cardamomo da Cardamine hirsuta L., no vulgo Agrião-Menor ou Cardamina-pilosa. A outra C. pratensis L. é o Agrião-Menor ou Cardamina, a Cardamina dos Prados ou a Enxadreia. São da Família das Crucíferas. Mas na Cura 1, II Centúria, pág. 16, fala-se de dois cardamomos. Donde concluímos que Amato já conhecia as duas Cardaminas. Na C. 98, Centúria II, fala de um remédio à base da raíz de énula campana verde, para fazer face à incomoda sarna crostosa. Junta num ungento de banha de porco com a raíz e diz que tem admiráveis virtudes, a ponto de dizer que a sua acção mais parece obra de bruxedo(1). Esta planta da família das Compostas, além do nome vulgar Énula é conhecida 28 ainda hoje, entre nós, por Énula-campana, é também em espanhol, em catalão e em italiano, no francês por Inule-aunée, que é a Inula helenium L..Tem flores amarelas e os frutos são aquénios, é utilizado como expectorante e antiespasmódica, serve para a falta de apetite e para as desordens estomacais e intestinais e para a bronquite. Vegeta ainda a I. crithmoides L. conhecida vulgarmente por Campana- da-praia ou Madomeira-bastarda. Na pág. 98 turbith, está mal escrita, não deve ter o h final. 5. Na Cura 95, Centúria II, que no rótulo tem “Do Cuidado A Haver No Tratamento Do Pano Ou Tremor Inguinal E O Que É O Pau-Deguáiaco, Que Entre Nós Nasce Com o Nome de Buxo”. Em seguida diz que o pau de guaiaco trazido das ilhas recentemente descobertas é o mesmo que os europeus chamam buxo, como se torna evidente a quem confirmar(1). A identidade referia-se