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PSICOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-2964-8
9 7 8 8 5 3 8 7 2 9 6 4 8
PsicologiaPsicologia
das Organizaçõesdas Organizações
P
si
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Gilberto Gnoato
Afonso Carlos Spina
Maria Inez Antonia Pelacani Spina
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
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Afonso Carlos Spina 
Gilberto Gnoato 
Maria Inez Antonia Pelacani Spina
Psicologia das Organizações
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por 
escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
__________________________________________________________________________________
S739p
 
Spina, Afonso Carlos
 Psicologia das organizações / Afonso Carlos Spina, Gilberto Gnoato, Maria Inez Anto-
nia Pelacani Spina. - [1.ed., rev.]. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012. 
 162p. : 24 cm
 
 ISBN 978-85-387-2964-8
 
 1. Comportamento organizacional. 2. Comportamento organizacional - Aspetos psi-
cológicos. 3. Comportamento humano. 4. Cultura organizacional. 5. Psicologia social. 6. 
Administração. I. Gnoato, Gilberto. II. Spina, Maria Inez Antonia Pelacani. III. Título. 
 
12-4933. CDD: 658.4063
 CDU: 005.332.3
12.07.12 27.07.12 037406 
__________________________________________________________________________________
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Afonso Carlos Spina
Mestre em Administração Financeira com ênfase 
em Custos. Especialista em Administração Hos-
pitalar e da Saúde pela Faculdade São Camilo, 
Controladoria e Auditoria Interna pela Facul-
dade SPEI, Finanças pela FAE/DCA e Gestão de 
Negócios pela Universidade Federal do Paraná 
(UFPR). Graduado em Ciências Econômicas. Pro-
fessor na área de Administração da Faculdade 
Dom Bosco. Consultor na área da Saúde.
Gilberto Gnoato
Mestre em Psicologia pela Universidade Federal 
do Paraná (UFPR). Especialista em Antropologia 
Filosófica e em Psicologia Clínica e Psicologia 
Social pela UFPR. Graduado em Psicologia. Pro-
fessor das áreas de Ciências Sociais e Humanas 
na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e na Facul-
dade Dom Bosco. Psicólogo clínico, consultor e 
palestrante.
Maria Inez Antonia 
Pelacani Spina
Mestre em Geografia com ênfase em Gestão e 
Análise Ambiental pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR). Especialista em Educação pelo 
IBPEX, Geografia pela UFPR e Literatura Brasilei-
ra e História Nacional pela Universidade Tecno-
lógica Federal do Paraná (UTFPR). Graduada em 
Estudos Sociais e Geografia. Professora e consul-
tora Educacional e Ambiental.
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mais informações www.iesde.com.br
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io Introdução ao estudo da Psicologia 99 | A Psicologia e seu objeto22 | A história da PsicologiaPsicologia e organizações 43
43 | A Psicologia Social
46 | A Psicossociologia
47 | Identidade, personalidade e grupo
49 | Psicologia nas organizações
Abrangência do estudo psicológico 
67
67 | Desenvolvimento da personalidade
71 | Percepção social
74 | Motivação 
80 | Emoção
A Psicologia aplicada à Administração 
97
100 | O comportamento humano nas organizações 
106 | Processo de liderança 
111 | Resolução de conflitos
122 | Estratégias motivacionais
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O indivíduo e o grupo 
139
140 | O indivíduo
143 | O grupo 
148 | A equipe
Referências 
157
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Apresentação P
sicologia das O
rganizações
As empresas não são compostas apenas por máquinas e recur-
sos financeiros, mas também por pessoas. Daí a importância do 
estudo da Psicologia no âmbito empresarial. É necessário com-
preender como se formam os grupos e equipes, a influência da 
personalidade na formação desses grupos, e como o ambiente 
de trabalho pode interferir no desempenho profissional de cada 
indivíduo. Assim, este livro foi estruturado de modo a construir 
o conhecimento desde os primórdios da Psicologia até suas 
contribuições para o desenvolvimento da Administração.
O primeiro capítulo discorre sobre as primeiras considerações 
sobre a Psicologia e seu nascimento como ciência. Retrata a 
noção de indivíduo no decorrer dos séculos, o surgimento dos 
primeiros psicólogos e suas principais contribuições acerca da 
Psicologia, assim como as principais correntes psicológicas.
Em seguida, no segundo capítulo, resume-se o surgimento da Psi-
cologia Social e suas principais vertentes, entre elas a Psicossocio-
logia, bem como sua visão sobre os conceitos de personalidade, 
identidade, grupo. Introduz a Psicologia na esfera empresarial, di-
ferenciando os principais aspectos da Psicologia Organizacional, 
da Psicologia do Trabalho e da Psicologia Industrial. 
O capítulo três abrange aspectos da estrutura psicológica do 
indivíduo aplicados às questões cotidianas e profissionais, 
abordando temáticas referentes à personalidade, percepção, 
motivação e emoção, fundamentalmente, bem como as formas 
pelas quais essas variáveis interferem na atuação empresarial 
por parte da ação dos agentes nela inseridos.
Os últimos dois capítulos evidenciam as vantagens obtidas pela 
empresa com a inserção da Psicologia como ciência colaborado-
ra no entendimento das relações organizacionais sob o aspecto 
de seus recursos humanos, bem como a valorização do trabalho 
em equipe e/ou em grupos, pelas quais as práticas sociais se 
viram enriquecidas, sobretudo no que tange às questões per-
tinentes à resolução de conflitos, sustentadas por importantes 
correntes teóricas da Psicologia e da Administração, aplicadas e 
comprovadas na prática cotidiana da vida empresarial. 
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9
Introdução ao estudo da Psicologia
A Psicologia e seu objeto
Este capítulo apresentará, resumidamente, um relato histórico-crítico 
dos caminhos percorridos pela Psicologia, na busca de uma teoria própria 
e na definição do seu método e do seu objeto de investigação. Possuir uma 
teoria, definir um método e ter um objeto específico são as três condições 
mínimas para que o conhecimento se torne científico. No entanto, veremos 
que a maneira pela qual o pesquisador se apropria de uma dada posição 
perante o seu objeto de conhecimento, ou os motivos que levam-no a esco-
lher esta e não aquela teoria, parece-nos tão fascinante quanto o estudo da 
própria ciência.
As primeiras indagações que propiciaram o desenvolvimento da Psico-
logia foram motivadas por um problema que até hoje permanece como o 
centrodas reflexões dos estudos psicológicos. Isso se traduziria pela seguin-
te pergunta: há um indivíduo na sociedade ou uma sociedade no indivíduo? 
Todo trabalho dos primeiros psicólogos, no final do século XIX e começo 
do século XX, tinha a árdua tarefa de entender a relação existente entre o 
mundo interno e o mundo externo. A partir desse contexto, as correntes da 
Psicologia começaram a divergir para duas tendências opostas. De um lado, 
aqueles que enfocavam mais a experiência do indivíduo na sua relação com 
o mundo externo e, de outro, os teóricos que enfatizavam mais a exteriori-
dade como modeladora do comportamento individual. O impasse acerca da 
definição do seu objeto de investigação redundou na formação de diferen-
tes correntes da Psicologia. 
Bem mais recente, Sigmund Freud, em 1900, publica A Interpretação de 
Sonhos. Ao fazer a análise do psiquismo, revela-nos, com mais propriedade 
que seus antecessores, a existência de uma dimensão mental que estaria 
fora da consciência, da lógica e da razão. Ele introduz a investigação do in-
consciente ao fundar a Psicanálise. Os estudos da vida interior e individual 
encontram sentido e significado com o desenvolvimento da Psicanálise. No 
entanto, depois da publicação sobre os sonhos, o próprio Freud (1969) ana-
lisa os motivos que levam o indivíduo a viver em grupo e o comportamento 
das massas. Esse trabalho mostra a preocupação que o pai da Psicanálise 
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Introdução ao estudo da Psicologia
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tinha a respeito da relação entre indivíduo e sociedade ou, ainda, sobre as 
fronteiras do mundo externo com o mundo interno:
[...] desde o começo, a Psicologia individual, nesse sentido ampliado mas inteiramente 
justificável das palavras, é, ao mesmo tempo, também Psicologia Social. (Freud, 1969, p. 91)
[...] A Psicologia de grupo interessa-se assim pelo indivíduo como membro de uma 
raça, de uma nação, de uma casta, de uma profissão, de uma instituição, ou como parte 
componente de uma multidão de pessoas que se organizaram em grupo numa ocasião 
determinada, para um intuito definido. (Freud, 1969, p. 92)
[...] Cada indivíduo é uma parte componente de numerosos grupos, acha-se ligado por 
vínculos de identificação [...] Cada indivíduo portanto partilha de numerosas mentes 
grupais. (Freud, 1969, p. 163)
Para Freud, em alguns momentos de nossas vidas, o aspecto individual 
pode preponderar sobre o mundo externo e as pessoas, mas, na maioria das 
vezes, o indivíduo é o resultado do conflito das tendências interiores com as 
forças da exterioridade e da ordem sociológica. Bem antes de Freud e mesmo 
fora da Psicologia, o estudo das paixões sempre intrigou grandes pensado-
res. Benedictus em latim, Bento em português, ou ainda Baruch de Spinoza 
(1632-1677), faz uma profunda categorização das paixões humanas, definin-
do a essência do homem pelo desejo. Dizia Spinoza (1979) que o homem 
livre é aquele que não se deixa vencer pelas forças do mundo externo, e que 
a liberdade é alcançada quando se consegue fazer algo que aumente a força 
e o poder do desejo. A Psicologia Social, nos meados do século XX, coloca 
em xeque a autonomia de uma interioridade governada pelo indivíduo. 
Para a Psicologia Social, o sujeito não age como indivíduo quando está num 
grupo. Ele age quase sempre tentando suprir a expectativa do seu grupo de 
pertencimento.
A Psicologia é uma ciência nova. No Brasil, o reconhecimento da profissão 
e do curso de Psicologia se deu oficialmente no dia 27 de agosto de 1962, 
através da Lei 4.119. No entanto, o primeiro projeto de uma Psicologia cien-
tífica, surgiu no final do século XIX, na Alemanha, por meio do fisiologista 
W. Wundt (1833-1920). Naquela época a Psicologia sofreu fortes influências 
da Biologia, já que os primeiros psicólogos, de maneira geral, buscavam as 
raízes biológicas do comportamento humano, acreditando que o biológico 
organizava a vida psicológica dos indivíduos. 
Assim como na história das outras disciplinas das Ciências Sociais e Hu-
manas, também a Psicologia esteve presa a outras áreas do conhecimen-
to. Sua emancipação sofreu um certo “atraso”, tal como aconteceu com a 
Antropologia. 
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Introdução ao estudo da Psicologia
11
A seguir, será apresentado um breve histórico acerca do atraso da eman-
cipação científica da Antropologia, considerando sua fundamental impor-
tância para a formação do mundo acadêmico. Esta teve suas primeiras refle-
xões, antes de constituir-se como projeto científico, no século XVI, quando 
se deu na Europa o período das grandes navegações. As viagens marítimas 
levaram à descoberta dos novos continentes (o Novo Mundo) e, por con-
sequência, a descoberta de novas terras revelaria também aquilo que seria 
o futuro objeto de investigação da Antropologia: o exótico. No entanto, a 
forma de compreender a diferença cultural naquele tempo passou pelo crivo 
do pensamento vigente, qual seja: o estatuto religioso. Assim, as primeiras 
indagações que o europeu fez acerca dos nativos do Novo Mundo passaram 
por questões religiosas, tais como “Será que eles têm alma?” “Será que são 
humanos?” “Eles acreditam em Deus?” Leia mais em Laplantine (1989). 
O século XVII e o século XVIII foram marcados pela Filosofia. Especialmente 
no Século das Luzes, quando o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) é 
convidado pela Academia de Dijon para escrever sobre por que somos dife-
rentes. Ele escreve, então, o Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da De-
sigualdade entre os Homens e conclui, ainda que através de um fundamento 
moral, que o homem nasce bom naturalmente, mas a sociedade o corrompe. 
Ver Rousseau (1993).
No século XIX, a Antropologia esteve presa à História e às ideias do evolu-
cionismo biológico de Darwin, redundando na formulação da teoria do “Evo-
lucionismo Social”. Os primeiros teóricos da Antropologia, sob o efeito da 
Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra, entenderam que, se houve uma 
evolução tecnológica, poderia haver também uma evolução social, já que, 
segundo o darwinismo, os humanos teriam vindo de uma espécie comum e 
evoluído até ao homem moderno. Essa constatação produziu uma tendência 
sociológica de que também as sociedades evoluem, mas algumas estariam 
atrasadas no tempo, enquanto outras não. O problema dessa teoria está nos 
“critérios medidores” utilizados pelos europeus, para compararem o atraso. 
Foram usados, nesse estudo comparativo, fatores como crenças e valores, 
tipicamente cabível do contexto “civilizado” e que não caberiam nos novos 
continentes. Ver mais sobre tendências etnocêntricas em Rocha (1989).
O “espírito da época” marcou as Ciências Humanas de maneira diferente 
das Ciências Naturais ou físicas, para citar dois exemplos. O problema exis-
tente nas Ciências Humanas é que nelas o investigador e o objeto de inves-
tigação fazem parte de uma mesma categoria. Ambos são humanos; ambos 
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Introdução ao estudo da Psicologia
12
têm consciência do elo que há entre eles e que os une como humanos e das 
diferenças que os separam, na condição de pesquisador e sujeito de pesqui-
sa. Essa particularidade não ocorre por exemplo com a Matemática ou com a 
Astronomia. Nelas o objeto de estudo não contém a natureza humana. Não 
contraria o pesquisador, não manifesta sentimentos e opiniões nem conduz 
a pesquisa. No caso da Psicologia, essa relação se torna mais complexa ainda, 
por tratar, em parte, do campo das emoções e dos sentimentos.
A plasticidade do objeto da Psicologia 
O filósofo francês Auguste Comte (1798-1857) queria uma Filosofia útil e 
propôs uma reforma nas ciências. Acreditavana evolução do pensamento 
e por isso propôs uma mudança radical na forma de se pensar o mundo. Por 
exemplo, propôs, no seu Calendário positivista a substituição de Deus e da 
religião pela ciência, por acreditar que a evolução do pensamento segue de um 
estado teológico para a fase positiva (científica). O conhecimento positivista 
caracteriza-se pela “previsibilidade” (ver COMTE,1980). Observa-se que esse 
modelo aplica-se com mais precisão para as ciências em que o objeto de 
investigação é de natureza observável, descritível e objetiva, diferente do caráter 
elástico e subjetivo contido no objeto da Psicologia. No entanto, a corrente 
norte-americana dos estudos psicológicos adotou o método positivista. 
Imagina-se que essa adoção tenha-se dado muito mais por razões culturais 
do que científicas, se for considerado que a própria sociedade estadunidense 
é funcionalista e mecanicista. O povo americano possui uma mentalidade 
tecnicista e indutiva. Daí a identificação com o método comtiano. Pelas 
mesmas razões, a Psicanálise não se arraigou nos Estados Unidos com tanta 
profundidade como se desenvolveu na França. A tradição filosófica francesa 
se identifica mais com a reflexão dedutivista e talvez, por esse motivo, tenha 
se aproximado com mais familiaridade da tendência interpretativa do método 
psicanalítico. Nota-se que a busca de um método para acessar o objeto da 
Psicologia não segue a trajetória de um único caminho.
Outro ponto a ser considerado a respeito da “relativização” do objeto de 
investigação e método da Psicologia está no fato de que as 
Ciências Naturais estudam fatos simples, eventos que presumivelmente têm causas 
simples e são facilmente isoláveis [...] A matéria-prima das Ciências Naturais, portanto, 
é todo o conjunto de fatos que se repetem e têm uma constância verdadeiramente 
sistêmica, já que podem ser vistos, isolados e, assim, reproduzidos dentro de condições 
de controle razoáveis, num laboratório. (DAMATTA,1987)
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Introdução ao estudo da Psicologia
13
A matéria-prima das Ciências Sociais pode mudar de significado, não só 
de acordo com o contexto em que ela se encontre, como também com a 
tendência do pesquisador. Isso porque não é fácil isolar causas, motivações, 
sentimentos e subjetividades, de tal forma que muito provavelmente dois 
ou três psicólogos desenvolvendo um mesmo trabalho chegarão a conclu-
sões diferentes. A esta altura, você deve estar se perguntando se a Psicologia 
é ou não “ciência de verdade”. A resposta é que, dependendo da natureza do 
objeto de investigação, a Psicologia poderá acolher tanto um método ob-
jetivo e indutivo, quanto um método dedutivo e interpretativo. Isso impli-
ca em dizer (apenas para citar um exemplo ao leitor) que se o pesquisador 
quiser saber se as diferenças de gênero marcam as formas de estudantes 
carregarem suas bolsas na universidade, tal trabalho parece convocar muito 
mais um método observacional do que interpretativo. Por outro lado, se o 
pesquisador quiser identificar, entre os mesmos estudantes, quais as repre-
sentações mentais que um gênero tem a respeito do outro, possivelmente 
a abordagem interpretativa parece estar mais aparatada para o propósito 
desse trabalho.
Aproveitemos o exemplo dado por Geertz (1989) que utiliza a ilustração 
do filósofo Gilbert Ryle (1900-1976), quando este descreve duas crianças pis-
cando os olhos. A cena, muito óbvia, serve para que possamos refletir sobre 
qual teoria o pesquisador vai utilizar para explicar um fato, aparentemente, 
tão simples e “incontestável”:
Vamos considerar, diz ele, dois garotos piscando rapidamente o olho direito. Num deles, 
esse é um tique involuntário; no outro, é uma piscadela conspiratória a um amigo. Como 
movimento, os dois são idênticos; observando os dois sozinhos, como se fosse uma 
câmera, numa observação “fenomenalista”, ninguém poderia dizer qual delas seria um 
tique nervoso ou uma piscadela ou, na verdade, se ambas eram piscadelas ou tiques 
nervosos. No entanto, embora não retratável, a diferença entre um tique nervoso e uma 
piscadela é grande.
DaMatta (1987) retrata uma comparação semelhante à de Geertz, mas a 
cena se passa em uma festa de aniversário. A questão levantada pelo an-
tropólogo é a seguinte: como saber os motivos que levam um convidado a 
comer uma fatia do bolo, oferecida pela efusiva aniversariante? Já que Ro-
berto DaMatta defende a ideia de que não existe fenômeno social de causa 
única, a gama de motivos que levariam os presentes até ao bolo, poderiam 
variar desde fome a solidariedade ou mesmo por obrigação social de não re-
cusar uma fatia da aniversariante. Além do que um observador que pudesse 
ver o convidado comendo o bolo jamais poderia afirmar, não pela observa-
ção, sobre as razões que levaram-no a comê-lo.
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Introdução ao estudo da Psicologia
14
Outro aspecto enigmático desse cenário é o fato de que toda atividade 
humana carrega em si uma dimensão concreta e ao mesmo tempo uma di-
mensão simbólica. Se estamos com fome, com vontade de comer o bolo, a 
ação concreta é comê-lo. No entanto, ao mesmo tempo que comemos, reali-
zamos uma série de rituais que parecem satisfazer também a fome simbólica 
e imaginária do ser humano. Há quem diga que o homem se satisfaz mais 
discutindo o cardápio do que enchendo seu estômago. O biológico nesse 
momento é preenchido pela segunda natureza humana: a cultura. 
Imagine uma mão humana colocada a sua frente. Em princípio você diria 
que essa mão representa apenas a natureza biológica do homem. No entan-
to, se colocado nela um anel de compromisso, o biológico se transforma em 
cultural, já que agora o dedo anular será daqui para frente o representante 
simbólico de um tipo de aliança social denominada de casamento.
Pudemos observar até aqui que há diferentes enfoques da Psicologia e 
diferentes tendências em Ciências Sociais. Algumas correntes mais voltadas 
para o comportamento individual enfocam mais os aspectos da interiorida-
de. Outras, ainda, abordam a exterioridade. Convém, também, relembrar o 
leitor, de que os primeiros psicólogos, no final do século XIX, sofreram forte 
influência da Biologia. Por esse motivo achamos pertinente mostrar aqui al-
gumas diferenças entre as Ciências Naturais e as Ciências Humanas. Não se 
pretende com isso ignorar os aspectos orgânicos da vida ou abortar o Posi-
tivismo do campo da Psicologia: tendência adotada por algumas facções da 
Psicologia Sócio-Histórica brasileira. Esta adota uma posição militante e vigi-
lante no contexto das universidades e dos conselhos contra o Positivismo, o 
Funcionalismo e a Psicanálise. Não nos incomodaria admitir a existência de 
um certo grau da “natureza humana” desde que não fosse tão determinístico 
e reducionista, como é parte da corrente Sócio-Histórica no Brasil.
O nascimento do objeto da Psicologia
Os animais morrem. O homem sabe que vai morrer. Por possuir uma cons-
ciência do seu eu, um bebê humano próximo ao oitavo mês de idade já con-
segue se reconhecer no espelho. Diferente de todas as outras espécies, o ser 
humano se destaca nesse aspecto por ter desenvolvido mais que os animais 
a noção de autoimagem. Porém, esta é apenas uma face da sua identidade. 
Somente a consciência cerebral não lhe garante resposta à célebre pergunta 
feita perante o espelho da cultura e da sociedade: “Quem sou eu?”, pergunta-
ria o indivíduo, cego à sua própria resposta e igualmente temeroso perante 
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Introdução ao estudo da Psicologia
15
o que a sociedade vai responder. Aquele que procura saber sobre o seu eu 
possivelmente encontrará melhor respostase perguntar ao outro. 
Sua racionalidade e sua sapiência não são suficientes para a existência 
de uma criatura autônoma e independente. A começar por suas emoções e 
sentimentos que acabam conduzindo a lógica e as ideias para os caminhos 
imprecisos, e não menos verdadeiros, do desejo e da volição. Se a razão 
cartesiana do século XVII colocou o homem na razão: “Penso! Logo existo”, 
a Psicanálise de Lacan, no século XX, coloca o homem fora da razão: 
“Existo também onde não penso”. O objeto da Psicologia não é apenas 
subjetivo, como também não pode ser separado e destacado daquele 
que procura investigá-lo. Ambos, pesquisador e o sujeito da investigação, 
se interpenetram irreflexivamente, dando à Psicologia, como ciência, um 
caráter relativo. Além do mais, existem diferentes enfoques acerca do que 
é o objeto da Psicologia, se forem considerados os aspectos sociais, além 
dos aspectos psíquicos que constituem o ser humano. Para ilustrar essa 
afirmação, será apresentado a seguir um pequeno esclarecimento acerca 
das categorias indivíduo, pessoa e sujeito.
A concepção do termo pessoa é adotada pela Sociologia, e também pela 
Psicologia Social. Elas concebem a ideia de que, quando em grupo, o ser 
humano age como pessoa e não como indivíduo. Isso quer dizer que a so-
ciedade imprime papéis no indivíduo e este age como um ator social. Age 
conforme aquilo que os papéis determinam que seja feito. Isso retira a noção 
de interioridade psicológica, enfraquecendo sua determinação individual, 
mas, por outro lado, fortalece os laços sociais.
Por outro lado, a noção de sujeito em Psicanálise designa um ser sujeita-
do ao seu próprio inconsciente. A consciência, a lógica e a razão não teriam 
forças suficientes para produzir uma autodeterminação. Ao contrário, o 
desejo inconsciente e desrazoado seria o senhor de si. Já, em Psicologia, o 
indivíduo é aquilo que sua razão supõe que ele seja. Se, em Psicanálise, o 
sujeito é aquilo que lhe falta ser, na Psicologia Social, a pessoa seria a junção 
daquilo que ela diz ser, acrescido àquilo que o grupo espera que ela seja.
Já a noção de indivíduo foi adotada pela Psicologia, nas primeiras décadas 
do século XX. Esta entendia que cada ser era portador de uma unicidade. Uma 
espécie de essência própria que os psicólogos chamaram de personalidade. O 
indivíduo, diferente da categoria pessoa, seria “senhor de si”, guiado pela von-
tade da sua consciência e orientado pela determinação da razão própria. Seria 
um ser livre, com um grau de suficiência maior que o da categoria pessoa. 
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Introdução ao estudo da Psicologia
16
A noção de indivíduo
A seguir, será exposto o histórico acerca de como a noção de indivíduo 
foi construída no ocidente. Apoiaremo-nos predominantemente nas ideias 
de dois pensadores: o antropólogo Louis Dumont, conhecido na Antropolo-
gia com seus estudos sobre o individualismo nas sociedades modernas do 
ocidente; e o sociólogo, médico e profundo conhecedor da Psicologia e da 
Psicanálise, Norbert Elias.
Antes do século XVI, o indivíduo não existia. Sua vontade era a vontade de 
Deus. O cristianismo produziu, segundo Dumont (1992), um “indivíduo fora 
do mundo”, isto é, um indivíduo em relação a Deus. Ser cristão é ser como 
Cristo, um ser abdicante da vida mundana. Tal como se dá entre os cristãos, 
também na Índia, renunciar o mundo social seria a condição fundamental 
para o desenvolvimento espiritual. Cristo, Buda ou os indianos desvalorizam 
a vida social. A união dos indivíduos na Terra seria apenas um passo para se 
encontrarem fora deste mundo; como descreve o antropólogo, “numa co-
munidade que caminha na Terra, mas tem seu coração no céu”(DUMONT, 
1992, p. 41). Experimentar a vida social aqui seria possível, mas desde que 
reduzida a uma “condição” abjudicada ao clero e ao cosmos. 
O grande mestre introdutor da doutrina eclesiástica foi Santo Agostinho 
(354-430). Seus ensinamentos fazem uma leitura da Filosofia a partir da fé 
e, por fim, se apossam do homem introduzindo Deus na razão humana. Na 
obra Cidade de Deus, ele propõe uma teocracia hierarquizando a Igreja, co-
locando-a acima da Filosofia e do Estado. Na sua lógica, o Estado deveria 
prestar contas a Deus; dessa forma, o doutor da doutrina católica cristiani-
zou a justiça. Trabalho que os iluministas, no século XVIII, tentaram inverter, 
banindo da Filosofia e das Luzes a religião, as superstições e as crenças do 
homem. Posteriormente, o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857) rea-
firma essa posição no seu Calendário positivista, propondo a substituição de 
Deus pela ciência. No entanto, até que o indivíduo viesse a nascer, teria que 
aguardar a valorização ideológica da vida privada, fonte de onde provém a 
noção de indivíduo. 
A “complementaridade hierárquica” à qual refere-se Dumont (1992) atra-
saria sua aparição, já que estaria ele preso à cumplicidade entre o Estado e a 
Igreja. Materialmente o papa dependia do rei e, espiritualmente, o rei depen-
dia do papa, o que equivale dizer, nos termos de Dumont (1922, p. 57), que “A 
Igreja está dentro do Império para as questões do mundo e o Império dentro 
da Igreja para as coisas divinas”.
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Introdução ao estudo da Psicologia
17
A Reforma da Igreja no século XVI 
e o nascimento do indivíduo
O movimento renascentista marcou esse século pelo “florescimento 
de especulações teosóficas e místicas que revelam a elaboração cada vez 
mais livre do dogma e a tendência de acentuar a intuição livre e pessoal.” 
(ROSENFELD, 2006, p. 51). O estudo do homem aos poucos vai diminuindo 
a força da imagem central que até então ocupara a mente humana: Deus. 
Aos poucos, o antropocentrismo se difunde e o interesse sobre a paixão 
e a interioridade do homem se manifesta para além do sagrado. O marco 
fundamental da libertação da razão divina foi a Reforma, iniciada por Lutero, 
desenvolvida na Alemanha e prolongada por Calvino, na Suíça e na França.
Martinho Lutero (1483-1546) inicia a Reforma criticando a venda de in-
dulgências, ou o perdão dos pecados através de donativos à Igreja. Também 
criticou a veneração dos santos e outras coisas materiais, como o enrique-
cimento do clero. Tal como Calvino, não reconhecia o papa como chefe da 
Igreja, mas sim a Cristo. Foi excomungado pelo papa Leão X em 1520 e em 
resposta à excomunhão queimou a bula papal em praça pública. Dessa 
forma, colocou a Bíblia e a fé acima da Igreja e dos santos. Traduziu o livro 
sagrado para o alemão e abandonou os “hábitos monásticos” para depois 
casar-se com Catarina von Bora, uma freira que abandonou o convento.
João Calvino (1509-1564): suas ideias principais encontram-se na obra, 
escrita por ele, Instituição da Religião Cristã. Homem enérgico, colocava Deus 
com total soberania sobre o indivíduo. Na sua teoria da predestinação, Deus 
escolheria os indivíduos que seriam salvos e condenaria os não eleitos. Essa 
posição provocou revolta entre os próprios calvinistas. Os revoltosos foram 
chamados de “libertinos”, pois defendiam a liberdade humana. Em Genebra, 
Calvino implantou a teocracia para a administração da cidade. 
Consequências da Reforma
 Coloca o indivíduo um passo à frente da Igreja, já que ele agora pode 
falar diretamente com Cristo, sem a mediação do clero.
 O indivíduo fica livre da instituição.
 O indivíduo adquire autossuficiência na relação com Deus.
 Ocorre a “conversão do indivíduo no mundo” em oposição ao “indiví-
duo fora do mundo” nos termos de Dumont (1992).
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Introdução ao estudo da Psicologia
18
 Em Calvino, Deus daria a vontade aos homens. Anuncia-se onasci-
mento de uma interioridade, ainda que meio humana, meio divina.
 O Estado moderno, a partir da Reforma, não tem mais cumplicidade 
com o clero. Ele é governado pelo indivíduo livre.
 Anuncia-se o arquétipo do individualismo.
Com o intuito de reafirmar que o caráter religioso institucionalizado re-
tardou o nascimento do indivíduo e da sua subjetividade, convém lembrar 
que de forma geral, a Filosofia moderna rejeita a presença de Deus na in-
terioridade do homem. Segundo o filósofo alemão Friedrich W. Nietzsche, 
considerado por alguns como aquele que abriu os caminhos da Psicologia, 
a presença de Deus aprisiona a humanidade em falsos valores e limita seu 
poder de conhecimento. Deus, em Nietzsche, seria a resposta para tudo que 
o homem não sabe. Sendo assim, a crença na sua existência viria apaziguar 
a ignorância humana. O filósofo propõe a morte de Deus para que o indiví-
duo possa nascer (lembramos que essa concepção se assemelha à de muitos 
outros pensadores, como Comte, Marx, Freud, Foucault, Morin, entre outros). 
Também ressalta-se a dependência do ser humano às divindades, que virão 
salvá-lo da sua finitude, pois, sem a presença de uma entidade do “outro 
mundo”, a consciência da morte tornaria insuportável a vida do homem. O 
pensamento de Nietzsche propõe um indivíduo livre e soberano, identifi-
cado consigo mesmo e não à imagem e à semelhança de Deus. Sugere um 
indivíduo liberado da moral e dos costumes, um “super-homem”. Este não es-
taria sujeito a crenças, costumes e valores da sua época. “O super-homem é 
assim o indivíduo autêntico que cria seus próprios valores” (JAPIASSU; MAR-
CONDES, 1990). Veremos que na Psicologia moderna, especialmente para a 
Psicologia Social, as ideias de Nietzsche sobre o indivíduo são impraticáveis, 
já que este, quando está na sociedade ou na presença de grupos, não age 
como indivíduo, mas sim como pessoa, ou seja, um ator que cumpre “obriga-
toriamente” os papéis sociais. Além do mais, o indivíduo não está livre da cul-
tura, categoria de extrema importância para a constituição do psiquismo. A 
cultura engloba o indivíduo de tal forma que seria ilustrativo, já que estamos 
falando de religião, lembrar o que afirma o ateu convicto José Saramago: “[...] 
quer queira, quer não, sou culturalmente cristão”. 
A seguir, será feita uma análise de alguns pontos fundamentais que, no 
século XVII, contribuíram para a emancipação da autoimagem do homem.
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Introdução ao estudo da Psicologia
19
A noção de indivíduo no século XVII
Inicialmente, o leitor deverá levar em conta que, nas ciências do homem, 
os fatos não falam por si e, diferentemente da Matemática, “onde os números 
não mentem”, em Ciências Sociais essa afirmação é duvidosa. Os fatos nas 
Ciências Sociais e Humanas passam a “existir de fato” quando uma teoria os 
elege à condição factual. O leitor poderá lembrar agora das “piscadelas” de 
Geertz, ou dos motivos que levam um convidado a comer um bolo de ani-
versário, no exemplo de DaMatta, citado anteriormente. 
Pois bem, a mesma lógica dada à piscadela e ao bolo aplica-se às crian-
ças, aos nativos do Novo Mundo, aos negros e assim por diante. Até a Idade 
Média, as crianças eram tratadas como miniaturas de adultos. Tão logo ad-
quirissem autonomia física para força de produção, eram postas a trabalhar. 
Não havia o reconhecimento de um “mundo próprio” com uma lógica própria 
da infância, porque não existia ainda nenhuma teoria do desenvolvimento 
infantil. Logo, as crianças não existiam (ARIÈS, 1981). Hoje, existe o Estatuto 
da Infância, em que a criança é reconhecida como um indivíduo e, por vezes, 
abusivamente confundida, como categoria jurídica. A história da Antropo-
logia nos mostra que os nativos do Novo Mundo não foram reconhecidos 
como gente, pois, pela lógica eurocêntrica, foram considerados “povos sem 
lei, sem rei e sem fé” (LAPLANTINE, 1989). Quatro séculos depois, com o esva-
ziamento da teoria do evolucionismo social, estabelece-se o relativismo cul-
tural. Isto é, Franz Boas e Bronislaw Malinowski descobrem que cada cultura 
possui uma lógica própria. 
O século XVII concede ao filósofo francês, René Descartes (1596-1650), 
as primeiras reflexões acerca da autoimagem do homem. Descartes se per-
guntava se havia alguma certeza da existência que não fosse possível du-
vidar em circunstância alguma. Seu dilema se iniciou com a dúvida de ser 
e existir. Perguntava-se Descartes: “Poderia eu acabar me convencendo que 
eu mesmo não existo? Não, eu existo. Pois posso convencer-me de que sou 
capaz de pensar em alguma coisa”[...] “Não me é possível pensar que não 
penso e o pensar só é possível se eu existir” (ELIAS, 1994, p. 83). Logo, eu 
existo. Eu existo porque penso, diria Descartes. Daí sua célebre afirmação: 
“Penso! Logo existo”. As consequências das conclusões de Descartes produ-
ziram a partir do século XVII convicções como:
 a concepção de um eu humano baseado na razão;
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Introdução ao estudo da Psicologia
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 a certeza de uma “autoimagem”;
 o mundo agora existe, não apenas mediado por Deus, mas pela ex-
periência do homem através dos sentidos (sensações, observações). 
Anuncia-se uma outra realidade além do cosmos. A realidade da expe-
riência mundana;
 a experiência do indivíduo adquire sentido e significado;
 agora o homem pensa por si próprio sem precisar recorrer à autorida-
de de Deus;
 o indivíduo adquire a certeza não só de uma autoimagem, mas da pró-
pria existência;
 Descartes utilizou-se do raciocínio dualista para entender a relação 
mente-corpo. O dualismo seria uma “doutrina segundo a qual a reali-
dade é composta de duas substâncias independentes e incompatíveis” 
(JAPIASSU; MARCONDES, 1990). Descartes imaginava que o corpo era 
constituído de matéria, mas a razão, a consciência e o eu, não seriam 
feitos de matéria nem seriam a extensão do corpo. Teriam apenas uma 
sede nele. Portanto, estariam ali instalados sem ser parte da sua exten-
são. Esse modelo de pensamento influenciou, no começo do século 
XX, a forma de se pensar a relação entre indivíduo e sociedade, conce-
bida pelos psicólogos desta época como categorias distintas. 
René Descartes também marcou profundamente o fundador do Positi-
vismo, Auguste Comte. O método positivista foi adotado pela Psicologia do 
Comportamento (o Behaviorismo), nas primeiras décadas do século XX, nos 
Estados Unidos. 
A seguir serão apresentadas algumas ideias do filósofo Rousseau, oposi-
tor do pensamento cartesiano.
A noção de indivíduo no século XVIII
A concepção do filósofo Jean-Jacques Rousseau, acerca da noção de in-
divíduo, difere frontalmente das ideias de seu antecessor René Descartes.
Vale destacar aqui a posição antagônica de ambos, porque ela nos será útil 
para a compreensão das diferentes tendências da Psicologia moderna, pela 
preocupação que ela dedica à dicotomia indivíduo e sociedade. Descartes 
constrói a noção de “eu”, a partir da suposta autonomia do próprio eu, pois 
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Introdução ao estudo da Psicologia
21
tinha a certeza de um eu dual e independente: “eu penso!”. Rousseau coloca 
o “outro” na frente do eu, sendo que o reconhecimento de um eu se dá, antes 
de mais nada, através da posição do outro.
Lévi-Strauss trata Rousseau como o fundador da ciência do homem, já que 
esta, tal como a Psicanálise, enfatiza muito mais a questão do outro, (guar-
dadas as devidas diferenças entre o que venha a ser o outro para ambas) 
do que a questão do eu e do indivíduo, como enfatiza a Psicologia tradicio-
nal. Recentemente, sob influência indireta da dialética marxista, a PsicologiaSocial de Abordagem Sócio-Histórica adotou o termo identidade, em opo-
sição ao termo personalidade, por enfatizar mais a exterioridade, portanto 
as condições históricas e sociais na constituição do sujeito (LANE, 2003). O 
conceito de personalidade advém da tradição de que existe uma essência 
única no ser. Essa concepção segue a raiz etimológica da palavra indivíduo 
que designa algo único e indiviso; alguma coisa que contém características 
próprias que as diferenciam das demais. Tal abordagem se aproxima mais do 
dualismo cartesiano, enquanto que a noção de identidade pressupõe uma 
dialética relacional entre o eu e algo com o qual esse eu se identifica. Esta-
mos falando, portanto, de um outro. Diria que essa lógica é mais rousseau-
niana do que cartesiana.
O século XVIII foi marcado pelo Iluminismo, um movimento iniciado por 
filósofos da época e que ultrapassou os limites da Filosofia, alcançando uma 
dimensão também artística e política. O Século das Luzes, ou da Razão e 
também conhecido como do Esclarecimento, baniu definitivamente da razão 
humana o campo das crenças e superstições. Caracterizou-se pela defesa da 
ciência e da racionalidade contra a fé. O projeto iluminista acreditava que o 
conhecimento libertaria o “filósofo-homem” do apego às crenças e o tornaria 
um ser autônomo pela razão e pela individualidade. 
“O programa do Iluminismo era livrar o mundo do feitiço, sua pretensão, 
a de dissolver os mitos e anular a imaginação por meio do saber.” (HORKHEI-
MER, 1980, p. 89).
O Século das Luzes, por fim, defendeu assim as liberdades individuais, 
contra qualquer tipo de poder que estivesse acima do conhecimento e do 
indivíduo.
Entre o século XVI e o século XVIII, o indivíduo estaria pronto para nascer. 
Aquilo que seria o objeto de investigação da Psicologia clássica. Porém, esta 
aguardaria ainda o século XIX para despertar apenas no início do século XX, 
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Introdução ao estudo da Psicologia
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já que aquele século foi marcado pelo nascimento das ciências da sociedade, 
e o século seguinte com o nascimento das Ciências Humanas. 
A seguir, serão resumidamente apresentadas as tendências mais significa-
tivas para a compreensão cronológica da história da Psicologia, desde a Grécia 
antiga até as tendências contemporâneas da relação indivíduo-sociedade.
A história da Psicologia
A gênese do pensamento psicológico
Há 400 anos a.C., entre os gregos, já havia uma preocupação sobre a 
possível existência de um espírito que conduziria as ações humanas. Esse 
espírito, chamado de psiché que do grego se traduz por “alma”, seria uma 
entidade cósmica que antecede o indivíduo, ou seja, ela já existiria bem antes 
de cada indivíduo nascer. Para o filósofo Sócrates (470-399 a.C.) a psiché é um 
ser divino e imortal que vai além da pessoa, já que com a morte do indivíduo 
a psiché reintegraria o sujeito numa ordem cósmica maior e impessoal. 
Portanto, segundo Vernant (1987), a noção de indivíduo entre os gregos 
não compartilha com a ideia de unicidade e interioridade, mas ao contrário, 
ela concebe uma “existência” relacional. Uma espécie de continuação maior 
entre o particular e o universal. 
A origem do termo Psicologia vem do grego e quer dizer psiché (= alma) 
e logos, logia (= estudo); o “estudo da alma”. No entanto, a própria noção de 
alma entre os gregos foi se modificando. 
Depois de Sócrates, especificamente a partir de Platão (428-348 a.C.) e 
Aristóteles (384-322 a.C.), a psiché adquiriu uma personalidade mais humana, 
esvaziando um pouco seus atributos cósmicos, na medida em que esses filó-
sofos passaram a estudar características como a memória, a sensibilidade, a 
paixão e os prazeres do homem. 
O mundo da cidade cria o cidadão grego, um homem livre, possuidor 
de direitos quanto ao espaço onde vive. A figura do cidadão parece ter 
personalizado mais ainda os atributos humanos na alma. Ela se individualiza 
e se humaniza na medida que se afasta da condição impessoal e cósmica de 
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Introdução ao estudo da Psicologia
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Sócrates, para adquirir sentido como cidadão que tem memória, sensibilidade 
e paixão. O objeto de investigação de uma verdadeira Psicologia poderia ter 
nascido antes, se não fosse o atraso provocado pela difusão do cristianismo 
e a consolidação da Igreja. Esta se apropria da lógica aristotélica acerca da 
teoria de como as coisas se movimentam. Ver Araújo (1998). Para Aristóteles, 
o movimento pressupõe uma tração para que o mesmo não cesse. Sem esses 
vetores, tudo voltaria ao estado de repouso. Essa força de tração inicial seria 
natural e de causa única. Essas ideias serviram durante toda a Idade Média 
para que a Igreja colocasse a presença de Deus no lugar onde Aristóteles 
colocou a natureza. 
Se pensarmos sobre a origem das primeiras indagações acerca das pai-
xões, da inveja e de outros sentimentos que governam a vida humana, te-
ríamos que admitir a existência de inúmeras “Psicologias” em tempos mais 
remotos que o da ciência. 
O apóstolo Paulo foi o maior difusor do cristianismo, através das suas co-
nhecidas “epístolas”. Quando escreve aos corintos, fala sobre a importância do 
amor para a vida humana. Para Rosenfeld (2006), Paulo atribuiu ao homem 
carnal todas as faculdades psíquicas dos gregos: sensação, pensamento, 
impulso etc. Porém, essas faculdades permanecem terrenas e naturais; não 
seriam espirituais. Paulo funda um dualismo que separa o homem em um ser 
carnal e um ser espiritual. Ambos providos de virtudes, mas apenas a parte 
espiritual coloca o homem na proximidade com Deus. Isto é, sua “natureza 
moral” estaria acima das suas qualidades intelectuais e físicas. Paulo torna a 
alma imortal, enquanto que, entre os gregos, ela era mortal. 
Durante dois mil anos, a vontade dos homens fora a vontade de Deus. 
Isso implica em dizer que o homem ocidental cristão não era possuidor de 
sentimentos próprios ou de uma interioridade passional que não fosse os 
desígnios da Igreja. O cristianismo transforma então essa elevação a Deus 
de um estado de êxtase, entre os gregos, a um estado de graça, entre os 
cristãos.
De fato, o homem não existia. Até o século XVI, sequer sua imagem apa-
recia na arte. Apenas existia a arte sacra com afrescos e mosaicos de anjos, 
virgens e santos. Foi necessário descobrir a subjetividade e a interioridade 
humana para que a Psicologia pudesse surgir no quadro das ciências. É o que 
veremos a seguir.
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Introdução ao estudo da Psicologia
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Os primeiros psicólogos
George Berkeley (1685-1753), segundo Rosenfeld (2006, p. 71), apresen-
tou o primeiro trabalho puramente psicológico. Questionou o empirismo 
experimental ao afirmar que as coisas somente adquirem o status de reali-
dade quando passam a ser percebidas subjetivamente pelo sujeito. “Dissol-
ve todo o mundo material em favor de um espiritualismo puro”; “Ser é ser 
percebido”.
Em termos de um projeto baseado nas ciências concretas, o fisiologista 
alemão, Wilhelm Wundt (1832-1920) é considerado como o primeiro psicó-
logo, dentro da história da Psicologia, porque foi o primeiro pesquisador a 
apresentar um projeto que colocou a Psicologia como ciência independente 
(FIGUEIREDO, 1992, p. 39). Também fundou o objeto da Psicologia, que para 
Wundt é a “experiência imediata” do indivíduo com o mundo. “Experiência 
imediata é a experiência tal como o sujeito vive antes de se pôr a pensar 
sobre ela, antes de comunicá-la, antes de conhecê-la. É, em outras palavras, 
a experiência tal como se dá”. Priorizou o estudo da consciência e proces-
sos mentais simples, como sensação e percepção.Para isso, utilizou-se do 
método experimental e técnicas de observação do comportamento. 
Procurou encontrar leis que ele imaginava que pudessem organizar as 
funções mentais (sensação e percepção). A concepção de homem em Wundt 
dá ênfase aos aspectos biológicos e à busca da “natureza humana”. No entan-
to, Wundt reconhecia uma independência da vida mental, isto é, “uma cau-
salidade psíquica” que ia além dos princípios que explicam o funcionamento 
dos organismos e além de uma “fisiologia”. Também reconhece a importân-
cia da cultura como o lugar onde se manifestam os processos superiores da 
vida mental, por exemplo, a criatividade, a imaginação, o pensamento. Ao 
analisar os processos superiores com os processos simples da vida mental, 
Wundt conclui que 
[...] a experiência imediata não é nem uma coisa desorganizada nem uma mera combinação 
de elementos: a experiência imediata seria o resultado de processos de síntese criativa, 
em que a subjetividade se manifestaria como vontade, como capacidade de criação. 
(FIGUEIREDO, 1992) 
Assim, pode-se dizer que o projeto de Wundt para a Psicologia reconhe-
ce tanto uma causalidade física (aspectos biológicos ambientais) como uma 
causalidade psíquica (criatividade, pensamento, imaginação etc.)
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As correntes da Psicologia
O Estruturalismo
Edward Bradford Titchener (1867-1927), o principal difusor das ideias de 
Wundt nos Estados Unidos, foi um dos seus mais famosos alunos. Titchener 
colocou a Psicologia no campo das Ciências Naturais, pois não reconhecia a 
experiência imediata como Wundt o fazia. Justificou os fenômenos da vida 
mental através de uma causa fisiológica. “Titchener não nega a existência da 
mente, mas esta perde sua autonomia: depende sempre e se explica comple-
tamente em termos do sistema nervoso” (FIGUEIREDO, 1992, p. 42). Denomi-
nou sua teoria de Estruturalismo e elegeu, como Wundt, a consciência como 
objeto de estudo. Definiu-a como sendo a soma das experiências humanas. 
Buscou a “natureza” dos processos mentais simples (sensação, percepção), 
conectando-os aos processos fisiológicos (SANCHES; KAHHALE, 2003). Não 
há lugar para a subjetividade e criatividade em seu projeto, demasiadamen-
te reducionista, na medida em que sua concepção de homem é apenas me-
canicista e fisiológica. Com isso, a Psicologia perde sua independência, como 
queria Wundt.
O Funcionalismo
William James (1842-1910) introduziu o Funcionalismo na Psicologia. A 
partir dele, desenvolveu-se nos Estados Unidos a corrente dos psicólogos 
funcionalistas, como J. Dewey (1859-1952), J. Angel (1869-1949) e H. Carr 
(1873-1954). Partem de um pressuposto organicista concebendo o homem 
como um “organismo”, tal como qualquer outro ser vivo e, sobretudo, de-
pende da capacidade de adaptação ao meio, para evoluir. O homem seria 
o resultado de “uma interação adaptativa”. A natureza humana oferece pos-
sibilidades de sobrevivência; no entanto, cada indivíduo teria uma capaci-
dade própria e peculiar de se adaptar. Essa teoria teve origem nas ideias de 
Darwin.
A contribuição maior de James foi enfatizar a influência do ambiente para 
a compreensão do processo de adaptação e sobrevivência. Isso implica em 
reconhecer a importância dos “contextos” e das “condições de vida” na sua 
relação com a consciência. Ela não é apenas fisiológica, como no processo de 
Titchener. Aliás, faz oposição à esta escola e às ideias de Wundt, na medida 
em que entende que a sociedade funciona como um corpo humano, no qual 
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Introdução ao estudo da Psicologia
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as funções de cada órgão estariam ajustadas a funcionarem integradamente, 
de forma a produzirem um equilíbrio na sua totalidade, integrando e intera-
gindo com os indivíduos. 
O Funcionalismo foi a primeira escola americana de Psicologia e teve 
como sede para seus estudos a Universidade de Chicago. Além dos funcio-
nalistas citados anteriormente, temos também representantes como Bal-
dwin (1861-1934); Judd (1873-1946); Ward (1843-1925); Stout (1860-1944); 
Höfftding (1843-1931); G. H. Mead (1871-1936). Essa corrente rompe com o 
método da observação, muito frequente nas escolas anteriores, porque “as 
funções não podem aparecer na experiência direta e, portanto, não podem 
ser objetos de observação” (HEIDBREDER, 1981, p. 181). Também rompe com 
o tradicional dualismo, mente-corpo. Em seu esquema, os aspectos mentais 
e físicos da experiência são tratados como uma unidade funcional.
O Behaviorismo ou Psicologia do Comportamento
Destaca-se por rejeitar alguns elementos da consciência, para enfocar o 
comportamento explícito. Essa corrente é marcada pela influência da Bio-
logia e das ideias de Charles Darwin (1809-1882). Categorias como reforço, 
condicionamento e aprendizagem são pontos centrais do Behaviorismo. 
Essa corrente se divide em duas tendências. O Behaviorismo radical, preso à 
Biologia, e o Behaviorismo cognitivo que afasta-se mais das Ciências Natu-
rais para levar em conta as relações sociais na constituição do indivíduo.
Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936) ao estudar o reflexo salivar observou 
ser possível provocar a salivação, entre cães, sem a presença do alimento. 
Um estímulo externo, como luz, campainha etc., se associado ao momento 
da refeição, passa a ser um “reflexo condicionado”. Ao associar o som com a 
comida, um toque da campainha seria suficiente agora para provocar saliva 
no animal. No entanto, foi Watson quem desenvolveu uma Teoria Compor-
tamental aplicada aos humanos. Apesar disso, tanto Pavlov como Watson 
poderiam ser enquadrados na categoria de behavioristas radicais.
John Broads Watson (1878-1958), fundador da corrente behaviorista, 
partiu do princípio de que a Psicologia deveria romper com o passado e 
livrar-se do conceito de consciência. Considera todo conceito de consciên-
cia uma crença, uma herança medieval e supersticiosa sobre a alma, “não 
merecedora de consideração científica” (HEIDBREDER, 1981, p. 207). Watson 
dizia que, para a Psicologia se tornar ciência, deveria deixar de ser como as 
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Introdução ao estudo da Psicologia
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Psicologias até então “mentalistas” e “seguir o exemplo das Ciências Natu-
rais: tornar-se materialista, mecanicista, determinista e objetiva. Pressupor o 
mental é abrir caminho para o místico e para a magia” (HEIDBREDER, 1981, 
p. 208). Watson rejeita a consciência, dizendo que seu conceito nada mais é 
do que uma substituição ao conceito de alma dado pela tradição religiosa. 
No entanto, mesmo que ela existisse, não seria passível de estudo, pois não 
poderia ser colocada num laboratório, nem experimentada ou observada. 
Watson formou-se na Universidade de Chicago, Estados Unidos, e recebeu 
dela o primeiro título de doutor dado a um psicólogo por aquela instituição. 
Watson valoriza a experiência imediata do indivíduo com o meio. Substitui o 
estudo da consciência pelo estudo do comportamento, fundando uma Psi-
cologia comportamentalista. 
B. F. Skinner (1904-1990), ao contrário do Behaviorismo radical, leva em 
conta a experiência subjetiva, afastando-se da experiência imediata do indiví-
duo com o meio. Faz o caminho inverso. Parte da sociedade para o indivíduo, 
já que ela seria o grande molde da aprendizagem individual. A manutenção 
do comportamento dos indivíduos depende muito mais das consequências 
das respostas que a sociedade dá ao comportamento do que pela força da sua 
“autonomia”.
Os behavioristas modernos concebem o homem como sendo o resultado 
de três composições:
 a filogênese (a história da espécie humana);
 a ontogênese(a história de vida do indivíduo);
 o meio e a cultura.
A força dessas três combinações atuaria na produção do indivíduo. Por 
exemplo: uma criança que tenha nascido num meio inóspito, mas que tenha 
tido bons cuidadores (estilos parentais adequados), e que estes tenham in-
fluenciado satisfatoriamente a criança, possivelmente se tornará uma crian-
ça saudável. Mas, se as contingências do ambiente exercerem uma influên-
cia maior no comportamento infantil, mesmo com uma família estruturada, 
haverá maior probabilidade de essa criança ser o produto do meio.
A espécie humana nasce prematuramente. Um bebê recém-nascido, se 
deixado sem cuidadores, morre de frio e de fome. Diferente dos outros animais 
que ao nascerem já são capacitados geneticamente de locomoção e outras 
defesas. Biologicamente, os bebês humanos precisam de cuidados afetivos 
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para que se tornem crianças seguras. Geneticamente, a espécie herdou dos 
antropoides (chimpanzés, gorilas e outros macacos sem rabo) sua dependên-
cia afetiva dos genitores. A Teoria do apego, de J. Bowlby, assinala para a extre-
ma dependência que os bebês humanos têm dos pais. No entanto, como foi 
visto anteriormente, se esses pais falharem e o bebê for acolhido por outros 
cuidadores substitutos da função paterna e materna, poderá essa criança se 
desenvolver normalmente como uma outra criança saudável.
Os behavioristas valorizam os processos cognitivos da aprendizagem 
como um instrumento de mediação com o ambiente. As respostas do meio, 
ao comportamento de uma criança, são mais significativas e reforçadoras do 
que a ação voluntária da criança. Isso significa dizer que, conforme o tipo de 
reação, estimulante ou punitiva ao comportamento da criança, esta se sen-
tirá encorajada ou inibida para seguir adiante. Pode-se dizer que a criança 
aprende através da esquiva de atitudes que produzam uma resposta aver-
siva do seu grupo de pertencimento, e se aproxime das pessoas, ou mesmo 
que repita comportamentos com os quais ela tem a aprovação dessas pes-
soas. Assim, a exterioridade, o grupo de pertencimento, os agentes socializa-
dores e o processo de aprendizagem nesses contextos são mais relevantes 
na constituição do indivíduo do que a sua própria “individualidade”.
Veremos a seguir que uma outra teoria faz o caminho inverso ao reafirmar 
mais as dimensões da subjetividade e da interioridade humana, para aquém 
de uma “aprendizagem”.
A Psicanálise
Sigmund Freud nasceu na Morávia em 6 de maio de 1856 e aos três anos 
de idade sua família, de origem judaica, mudou-se para Viena. Passou prati-
camente toda sua vida por lá, até poucos anos antes da sua morte, em 1939, 
quando fugia do nazismo em Londres. Sua formação inicial foi em Medicina. 
Enquanto médico, ouvindo seus pacientes, descobriu que havia uma contra-
dição entre o mundo falado e o mundo vivido; isso quer dizer que havia uma 
discrepância entre os fatos empíricos ocorridos na vida das pessoas e as teo-
rias e representações que elas utilizavam para explicar tais fatos. O paciente 
tornava-se, portanto, uma pessoa suspeita quando passava a falar da sua pró-
pria vida. Problema semelhante ao de Malinowski, em Trobriand, pergunta-
do a um trobriandês por que eles trocavam colares e braceletes na cerimônia 
chamada Kula. Não necessariamente o ponto de vista nativo traduziria o fato. 
Notadamente, os motivos que levam um trobriandês a construir teorias sobre 
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a sua cultura são menos defensivos e bem diferentes das razões que levam 
pacientes a construírem teorias sobre a sua própria história de vida. 
Ele iniciou as especulações sobre a interioridade profunda do sujeito, 
ao publicar, em 1900, A Interpretação de Sonhos, investigando a simbologia 
humana. Relegou o estudo da consciência e da razão a um nível de menor 
importância que o estudo do inconsciente e das pulsões. Sua concepção de 
homem concebe um ser em constante conflito entre as forças do desejo, do 
inconsciente e das paixões contra as forças do mundo externo. Para Freud, 
o inconsciente impera sobre a lógica e a racionalidade. O homem teria sua 
liberdade intelectual condicionada às forças da afetividade. 
Sua teoria pressupõe que, ao manifestar os impulsos da agressividade e da 
sexualidade, o homem foi castrado pela interdição das regras sociais. No oci-
dente, os Dez Mandamentos seriam o mapa de orientação para a vida social. 
A repressão da sexualidade e da agressividade gerariam um “mal-estar” inevi-
tável no homem civilizado. Essa angústia é apaziguada por um mecanismo de 
defesa nominado por ele de sublimação. Esse dispositivo canaliza aquela ener-
gia reprimida em atividades socialmente aceitas, isto é, em vez de matar seu 
rival, o homem vai praticar esporte, vai ao cinema ver filmes violentos e assim 
também se aplica à sexualidade. Sem repressão não haveria civilização em 
Freud. O seu método clínico apoiado pela análise interpretativa, pôde alcançar 
uma dimensão da mente até então não explorada. “A noção de subjetividade 
que se constituiu como objeto da Psicologia no século XX apareceu quando 
o homem perdeu as referências coletivas e tornou-se indivíduo, ser racional, 
livre e capaz de tomar decisões” (SANCHES; KAHHALE, 2003).
Freud rompeu com o empirismo e a observação da experiência imediata, 
também porque pela observação seria impossível extrair os elementos do 
inconsciente. O funcionalista William James também rompe com a observa-
ção empírica ao referir-se à consciência, pois suas funções não estariam visí-
veis ao nível da observação. Porém, no caso de Freud, o caráter simbólico e a 
ênfase da subjetividade pela qual cada sujeito conta a sua história, de longe, 
sequer estão presentes nas correntes apresentadas até aqui. 
A Psicanálise nasce da experiência clínica de Freud e encontrou uma série 
de resistências no meio científico vienense, quer porque seu método inter-
pretativo não coincidia com os moldes científicos da época, quer pela extre-
ma ênfase que deu à sexualidade na formação das estruturas psíquicas da 
criança. Freud retirou o caráter moral da família e do amor, introduzindo a 
sexualidade. Afirmar, no período vitoriano, que há um desejo erótico na re-
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lação pais e filhos foi uma das razões pela qual a Psicanálise inicialmente foi 
refutada pelo círculo de Viena. Também provoca um desconforto local a res-
peito da noção de infância até então. O pensamento freudiano mostra que a 
partir dos cinco anos, aproximadamente, uma criança deixa de ser criança e 
torna-se um menino ou uma menina dotados de identidade sexual.
Ainda hoje, especialmente pela abordagem da Psicologia Sócio-Histó-
rica no Brasil, há uma forte militância contra a ênfase dada por ele acerca 
da diferença da sexualidade e do gênero masculino e feminino. A inveja 
do falo (representação simbólica do pênis) gerou no feminismo acadêmico 
uma série de críticas à teoria freudiana. Outro aspecto refutado pela Psico-
logia Sócio-Histórica é o fato de que Freud partiu de um modelo funciona-
lista para explicar a sexualidade, adotando em parte uma concepção das 
Ciências Naturais acerca do entendimento humano. 
As ideias de Sigmund Freud partiram inicialmente do contato que fez com 
Josef Breuer (1842-1925), interessados pelas desordens neuróticas. Posterior-
mente, em 1885, viaja a Paris, ao encontro de Charcot (1825-1903), na época, 
a maior autoridade em transtornos mentais. Este tratava a histeria por meio 
da hipnose. A ideia era fazer o paciente relembrar,sob o efeito hipnótico, a 
sua história pregressa, reproduzindo a experiência vivida. Essas recordações 
provocariam a liberação do conteúdo emocional reprimido, o que foi cha-
mado de catarse. Freud acreditava que, por motivos ainda desconhecidos, 
as experiências trazidas da infância teriam impedido a manifestação espon-
tânea do conteúdo emocional. Assim, a criança ficava impedida de escoar 
seus sentimentos naturais. Esses procurariam outra saída, manifestando-se, 
então, sob a forma de sintoma. “Freud chamou este processo de conversão, 
e se referiu ao sintoma como sendo a conversão do efeito original.” (HEID-
BREDER, 1981, p. 329). No entanto, essa forma de tratamento não esgota a 
teoria freudiana. Ela é apenas o início da Psicanálise. A verdadeira Psicanáli-
se começa quando Freud abandona a hipnose, pois percebe que não havia 
atingido a verdadeira causa, já que muitos pacientes regressavam posterior-
mente, sob o efeito de uma outra sintomatologia.
Freud abandona a hipnose e inicia o método da conversação conscien-
te. Pede ao paciente para que fale espontaneamente aquilo que lhe vem à 
mente. À essa técnica ele chama de “associação livre”. Ela consiste, por parte 
do paciente e do terapeuta, em fazer associações entre uma ideia e outra. 
Porém, percebe que o paciente não consegue, somente através das lem-
branças da consciência, atingir a carga afetiva procurada, pois há mecanis-
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mos que impedem esse acesso direto. Mais tarde, Freud e seus sucessores 
vão desenvolver estudos sobre uma imensa quantidade de mecanismos de 
defesa da mente. O próprio indivíduo estaria protegido, se não fosse melhor 
dizer “enganado” por ele mesmo. O mecanismo da “resistência” foi a primeira 
defesa que Freud notou entre os primeiros pacientes que atendeu. A partir 
da resistência, ele descobre que 
[...] um fato esquecido, porém incômodo, tornou-se inconsciente não apenas por haver 
sido esquecido ou porque saiu da consciência, mas porque foi forçado a isto. E tendo sido 
empurrado é mantido ali à força. (FREUD, apud HEIDBREDER, 1981, p. 332).
Freud percebe que há um material reprimido que fica preso numa outra 
dimensão da mente: o inconsciente. Esse material guardado ali sob sete 
chaves se torna uma lembrança carregada de emoções. Funda então a 
teoria do recalque, coluna onde se assenta o edifício da Psicanálise, segun-
do o próprio Freud. A experiência recalcada não é uma lembrança comum 
como qualquer outra. Ela está impedida de se manifestar, porque revelaria 
outros códigos cuja decifração seria, para aquele momento, insuportável ao 
paciente. 
Faltava ainda descobrir um caminho que levasse ao conteúdo recalcado. 
Freud notou que seus pacientes desenvolviam, invariavelmente, um senti-
mento de hostilidade e repulsa pelo analista, ou o contrário, uma forte liga-
ção afetiva com ele, o que equivale dizer que, numa linguagem mais simples, 
os pacientes se apaixonavam pelo analista. Freud entende que tanto a re-
pulsa, quanto o fascínio, fazem parte de um mesmo sentimento de amor. O 
grande destaque dado a ele, na sua teoria, para a sexualidade humana, o faz 
concluir que a remoção do conteúdo emocional, feito pela análise, estimula 
o paciente a transferir ao analista as dificuldades de ordem sexual que ele 
não pôde manifestar, ou dirigir a quem deveria. Freud chama esse processo 
de “transferência” e conclui que finalmente a análise se inicia quando a trans-
ferência aparece. Estabelece-se assim uma ligação direta entre o paciente, o 
sintoma e o analista. No entanto, o atendente deve estar atento para “evitar” 
fazer o mesmo caminho do paciente, ou seja, uma “contratransferência”.
Freud conclui também que cada mal psíquico, trauma ou sofrimento não 
era um episódio isolado na vida do paciente. Cada acontecimento tinha “uma 
história”. Por esse caminho, cada vez mais, conduz sua teoria à interpretação 
do passado, tal como um arqueólogo que remove a terra e os obstáculos 
para descobrir o material escondido. O ser humano torna-se uma criatura em 
constante conflito entre o mundo da consciência e o mundo inconsciente. 
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É o resultado de duas forças, quais sejam, o princípio do prazer, dado pelos 
impulsos básicos como a sexualidade e a agressividade e o princípio da reali-
dade, dado pela ordem sociológica. Esta reprime e impede a satisfação ime-
diata produzida pela energia sexual e agressiva que Freud chama de libido. 
Ele conclui também que o centro das neuroses está instalado na infância, 
através da repressão da sexualidade infantil.
Destacam-se dois discípulos do mestre: Alfred Adler (1870-1937) e Carl G. 
Jung (1875-1962). Ambos tentam alterar os ensinamentos de Freud acerca da 
sexualidade, dando a ela uma importância secundária na teoria da constitui-
ção do sujeito, embora reconheçam sua importância. O destaque maior dá-se 
aqui a Jung. Ele funda a Psicologia Analítica por meio da busca das camadas 
mais primitivas do inconsciente e a relação do homem com o cosmos. Produz 
a noção de um inconsciente coletivo organizado por estruturas míticas que 
estariam na base da mente humana, às quais ele chamou de arquétipos.
A partir da discórdia de ambos, o mestre rompe com seus discípulos afas-
tando-se destes para continuar o seu caminho e marcar na história da huma-
nidade as revelações de um verdadeiro gênio da alma humana. A extensão e 
a profundidade do seu pensamento não vieram do ensinamento acadêmico, 
como a leitura repetitiva e a reprodução das falas, tão perpetuadas nas uni-
versidades. Ao contrário, seu mergulho no mundo do outro originou-se da 
sua própria experiência clínica. Ao fazer essa investigação fascinante e quase 
arqueológica do espírito humano, podemos concluir, com as palavras de 
Heidbreder (HEIDBREDER, 1981, p. 341) sobre o homem freudiano: “O pen-
samento e a razão podem ser tudo menos forças dominantes na natureza 
humana; existem somente para servir aos grandes impulsos e desejos prima-
ciais, que são os verdadeiros donos da conduta humana”.
Ampliando seus conhecimentos
Por uma Antropologia da condição humana 
nas organizações
(CHANLAT, 2001)
Há mais de um século, nossa sociedade é palco de inúmeras transforma-
ções econômicas, sociais, políticas e culturais. Mudanças que têm suas origens 
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em épocas mais antigas (BRAUDEL, 1979) e desembocaram sobre o aconteci-
mento que o historiador e sociólogo americano I. Wallerstein qualificou de ca-
pitalismo histórico (1985), que se caracteriza pela ascensão da racionalização 
(WEBER, 1971), pela acumulação do capital (MARX, 1970), pela hegemonia 
das categorias econômicas (POLANyI, 1983), pelo desenvolvimento do indi-
vidualismo (DUMONT, 1983), pela obsessão do progresso (ROSTOW, 1968), 
pela urbanização (CASTELLS, 1975) e pela explosão tecnológica (ELLUL, 1964; 
LANDES, 1975). Esta nova ordem social, em perpétuo movimento, viu também 
nascer e proliferar grande número de organizações (PRESTHUS, 1978). Estas 
organizações formais tornaram-se um dos principais pontos de alavancagem 
e de estruturação individuais e coletivas (MEyER e ROWAN, 1977; ZUCKER, 
1977) e por isso se transformaram em objeto de estudo, pesquisa e reflexão 
independentes (CHANLAT e SÉGHUIN, 1983, 1987; MORGAN, 1986).
Este interesse por estruturas organizadas tomou diferentes caminhos: 
os da economia (OUCHI e BARNES, 1986; WILLIAMSON, 1985), da Socio-
logia (PERROW, 1979; CROZIER e FRIEDBERG, 1977; WARRINER, 1984; 
SAINSAULIEU, 1987; BALLE, 1990), da Psicologia (SCHEIN, 1980),das 
Ciências Políticas (HARDy, 1987), das Ciências da Administração (KOONTZ e 
O’DONNELL, 1955; MINTZBERG, 1973), e mesmo da Antropologia (WARNER 
e LOW, 1947; WHyTE, 1948) e da Psicanálise (JAQUES, 1951; ZALEZNIK e KETS 
de CRIES, 1985; AMADO, 1980; KETS DE VRIES e MILLER, 1984), enquanto que 
o estudo do comportamento humano nas organizações transformou-se gra-
dativamente em um objeto de estudo científico específico (AUDET e MALOUIN, 
1986; COTE et al., 1986; LORSCH, 1987; COOPER e ROBERTSON, 1987).
Amplamente dominado pelos anglo-saxões e mais especificamente 
pelos norte-americanos, este campo de estudo desenvolveu-se inicialmen-
te à sombra de alguns departamentos universitários, principalmente os de 
Psicologia e de Sociologia e, mais recentemente, pelas escolas de adminis-
tração com o modismo das ciências do management e do culto da empresa 
(ROUSSEAU, 1988).
O fenômeno se reproduz com maior ou menor amplitude na maioria dos 
países industrializados. Esta disciplina, que pertence, antes de tudo, ao universo 
das ciências administrativas, está atualmente em plena expansão. Caracteriza-
-se ao mesmo tempo pela sua preocupação com a eficácia organizacional, sua 
vontade de mudança, sua inspiração predominantemente comportamental e 
positivista, seu caráter aplicado e pluridisciplinar. Seus métodos são diversos, 
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bem como os contextos organizacionais estudados. Sua teoria é igualmente 
marcada pela heterogeneidade (LORSCH, 1987; COOPER e ROBERTSON, 1987; 
STAW e CUMMINGS, 1987, 1988). “Definido brevemente, como escreveram re-
centemente dois autores de um manual americano, o Comportamento Orga-
nizacional é um campo que é orientado para o desenvolvimento da melhor 
compreensão do comportamento humano e que utiliza este saber para tornar 
as pessoas mais produtivas e mais satisfeitas nas organizações” (MITCHELL e 
LARSON, 1987, p. 4). Uma revisão sistemática das publicações neste campo 
nos últimos sete anos confirma este ponto de vista, como confirma também 
a focalização dos autores sobre os temas que, para vários deles, datam ainda 
dos anos cinquenta – é o caso, principalmente, da motivação e da liderança 
– enquanto outros temas remontam aos anos sessenta – como, por exemplo, 
o papel exercido pelas estruturas e pela tecnologia, sendo ressaltados alguns 
aspectos nos últimos anos –, é o caso em particular das noções de stress e de 
cultura organizacional.
O Comportamento Organizacional, um campo 
heterogêneo e um desenvolvimento isolado
Herdeiro simultaneamente das relações humanas, de alguns ramos da Psi-
cologia Industrial, da Sociologia e das Teorias das Organizações, da Aborda-
gem Sócio-Técnica, da dinâmica de grupos, do Behaviorismo anglo-saxão, das 
diferentes correntes do management, o Comportamento Organizacional apre-
senta-se hoje como uma imensa colcha de retalhos, um campo aberto a quase 
todos os ventos teóricos. Porque, além do ecumenismo aparente, completa-
mente relativo sem sombra de dúvida, observa-se no interior desse conjunto 
teórico heterogêneo, mesmo heteróclito, a ocultação ou ausência de certas 
dimensões humanas que são objeto do presente livro: a dimensão cognitiva 
e da linguagem, a dimensão espaço-temporal, a dimensão psíquica e afetiva, 
a dimensão simbólica, a dimensão da alteridade, a dimensão psicopatológica. 
Como as ciências administrativas, o campo do Comportamento Organizacio-
nal parece ter se desenvolvido até o presente isoladamente, negligenciando 
em larga medida os conhecimentos mais recentes das Ciências Humanas bási-
cas (AUDET e MALOUIN, 1986; DÉRy, 1988a, 1988b; WHITLEy, 1984).
Esse isolamento da produção intelectual tem duas causas: de um lado, 
tendo instalado o econômico, o quantitativo e as organizações no centro de 
seu universo, nossa sociedade parece ter esquecido o resto, isto é, tudo o que 
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não é redutível à formalização (GORZ, 1988; CAILLÉ, 1989); por outro lado, 
como todo recurso a um pensamento externo e forçosamente crítico pode 
sempre ameaçar a ordem organizacional estabelecida, o mundo da gestão 
tem com frequência preferido as visões que lhe são menos incômodas. Esta 
profunda economicidade do mundo organizado moderno, esta “economiza-
ção”, diria Gorz (1988) – fenômeno relativamente recente na história da hu-
manidade – e esta vontade de assegurar um sistema de controle de inspira-
ção taylorista ou burocrática produziram alguns impactos perversos sobre a 
orientação tecnocrática desta disciplina, antes de tudo gerencial.
O interesse da Psicologia Organizacional pela motivação e sua falta de interesse pelo 
simbólico no trabalho caracterizam bem sua orientação tecnocrática. Os objetos de 
estudo abordam questões estreitas e bem definidas, as respostas a estas questões 
constituem a base de um fragmento de engenharia social cujo objetivo é amortecer 
as tendências nascidas da divisão do trabalho e do empobrecimento das tarefas” 
(ALVESSON, 1987, p. 105)
Ou seja, a obsessão pela eficácia, pelo desempenho, pela produtividade, 
pelo rendimento a curto prazo que encontramos até hoje nas nossas organi-
zações e na sociedade levou a maioria dos pesquisadores a concentrar seus 
interesses nestas questões e a reduzir seus esforços a simples técnicas de con-
trole (ALVESSON, 1987; DESMAREZ, 1986; DUFOUR e CHANLAT, 1985; ROSE, 
1988; VILLETTE, 1988).
Desde então, pode-se compreender por que, a partir de alguns anos, cada 
vez mais os pesquisadores em geral, e, mais particularmente na cultura latina, 
contestam esta concepção instrumental, adaptativa, e mesmo manipuladora 
do ser humano, interrogando-se sobre as dimensões esquecidas, voltando- 
-se para outras disciplinas ou outras perspectivas teóricas. Deste modo, pro-
curam, cada um a seu modo, tornar compreensível a experiência humana e 
captar sua complexidade e riqueza. Estes questionamentos tornam-se cada 
vez mais pertinentes à medida que as críticas são mais numerosas em rela-
ção à formação que recebem os futuros gestores e quando os problemas que 
surgem no cotidiano não são resolvidos de acordo com o que se pensa ou se 
ensina.
O questionamento da formação do administrador
Vinte e cinco anos após o famoso relatório da Fundação Ford que reivindi-
cava uma real formação acadêmica e profissional em que as ciências do com-
portamento ocupassem seu justo lugar (PIERSON, 1959; GORDON e HOWELL, 
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1959), o ensino e a formação do administrador são novamente contestados. 
Seja nos Estados Unidos (HERZBERG, 1980; BEHRMAN e LÉVI, 1984; PORTER 
e MCKIBBIN, 1988), no Canadá (CHANLAT, 1984; CHANLAT e DUFOUR, 1985; 
ASSOCIATION DêS MANUFACTURIERS CANADIENS, 1986; DEVLIN, 1986) 
na França (GALAMBAUD, 1988; DELWASSE, 1988) ou em outros países (Lê 
MONDE CAMPUS, 1988), não se hesita em denunciar em graus diversos o ele-
vado grau de especialização, a rigidez, o anti-intelectualismo, o etnocentris-
mo, o quantitativismo, o economismo, a incultura, a ausência de consciência 
histórica, a inaptidão para comunicar ou interagir nos programas e no com-
portamento dos estudantes.
Essas críticas e lamentações que, em certos casos, poderiam ser menos fe-
rozes, não estão isentas de uma ligação com a situação observada no mundo 
do trabalho. Com efeito, mesmo se alguns acreditam que a condição humana 
nas organizações parece satisfatória, resta a evidência de alguns estudos re-
alizados em profundidade que nos mostram que a realidade não é tão rósea 
assim (AKTOUF, 1989; BOUCHARD, 1985; CHANLAT, 1984; LINHART, 1978;

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