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Sociologia do Direito - Livro - O Caso dos Exploradores de Cavernas - Fichamento

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Lauriano Luz
Fichamento – Livro: O Caso dos Exploradores de Cavernas; Lon L. Fuller; Porto Alegre; Fabris, 1976.
O livro relata de forma brilhante a intrigante estória em que um grupo de exploradores de cavernas está envolvido após o que se imaginava ser apenas mais uma de suas aventuras. Frente ao desmoronamento de parte da caverna onde estavam e o seu aprisionamento, o grupo se vê sem mantimentos para sua subsistência.
O socorro que passou a ser prestado dias após por equipes externas enfrentava muitas dificuldades para acesso aos aprisionados, tendo sofrido pela morte de dez de seus homens a partir de novos desmoronamentos e pelo exaurimento de seus recursos financeiros a serem aplicados no salvamento.
Aos 20 dias de aprisionamento, as equipes externas conseguiram estabelecer contato por equipamento de rádio com o grupo de exploradores. Neste ínterim, tendo recebido a perspectiva de que, na melhor das hipóteses, o salvamento ainda demoraria mais de dez dias, o grupo de exploradores abre discussão sobre seu plano de sobrevivência com a equipe externa, consistindo este na alimentação a partir de carne humana de um de seus integrantes, que haveria de ser escolhido através de sorteio. Como nenhum dos externos – médicos, juízes, equipe de salvamento ou demais autoridades – permitiu-se emitir opinião sobre tão delicado plano, o grupo, por si só, resolveu por efetivá-lo.
Concluído o salvamento e tendo o grupo de exploradores passado por assistência médica e psicológica, são estes denunciados pelo homicídio de um de seus companheiros de exploração e condenados à morte, razão pela qual se abre a discussão acerca da justiça a ser aplicada neste caso concreto.
O dilema relacionado ao caso é tamanho que passa-se a questionar a própria validade da lei, conforme posicionamento do Ministro Foster, em grau de recurso, “Eu acredito que há algo mais do que o destino destes desafortunados exploradores em juízo neste caso; encontra-se em julgamento a própria lei desta Commonwealth. Se este Tribunal declara que estes homens cometeram um crime, nossa lei será condenada no tribunal do senso comum...” (página 8).
Foster acredita na inviabilidade de aplicação do Direito Positivo para este caso concreto, defendendo que os infelizes exploradores estavam sujeitos ao Direito Natural, impossibilitados de agir conforme as leis escritas, as quais regem a vida em sociedade em condições de normalidade do convívio social e não de excepcionalidades como o caso em questão. Conforme seu posicionamento, “Quaisquer que sejam os objetivos buscados pelos vários ramos do nosso direito, mostra-nos a reflexão que todos eles estão voltados no sentido de facilitar e de melhorar a coexistência dos homens e de regular com justiça e eqüidade as relações resultantes de sua vida em comum. Quando a suposição de que os homens podem viver em comum deixa de ser verdadeira, como obviamente sucedeu nesta extraordinária situação em que a conservação da vida apenas tornou-se possível pela privação da vida, as premissas básicas subjacentes a toda a nossa ordem jurídica perderam seu significado e sua coercibilidade.” (página 9).
E ainda, “Se os trágicos acontecimentos deste caso tivessem tido lugar a uma milha dos nossos limites territoriais, ninguém pretenderia que nossa lei lhes fosse aplicada. Reconhecemos que a jurisdição tem base territorial. As razões desse princípio não são de nenhum modo óbvias e raramente são examinadas. Penso que esse princípio baseia-se na suposição de que só é possível impor-se uma única ordem jurídica a um grupo de homens se eles vivem juntos dentro dos limites de uma dada área da superfície da terra. A premissa segundo a qual os homens devem coexistir em um grupo encontra-se, portanto, à base do princípio territorial, bem como de todo o direito. Pois bem, eu sustento que um caso pode ser subtraído da esfera de abrangência coercitiva de uma ordem jurídica tanto por razões de ordem moral quanto por razões de ordem geográfica. Atentando aos propósitos do direito e do governo e às premissas subjacentes a nosso direito positivo, concluímos que estes homens, quando tomaram sua trágica decisão, estavam tão distantes de nossa ordem jurídica como se estivessem a mil milhas além de nossas fronteiras.” (página 9).
A segunda linha de argumentação defendida por Foster para absolvição dos exploradores pauta-se na aplicação do Direito Positivo, porém com a análise mais sistêmica do texto legal e não de seu significado literal, o que levaria ao enquadramento da situação na excludente de culpabilidade baseada na legítima defesa para o caso em questão.
O Ministro Tatting, ao posicionar-se, critica veementemente ambas as linhas defendidas pelo Ministro Foster, não mostrando, porém, outra linha de sustentação para o caso, como se conclui a partir do encerramento de seu voto: “Uma vez que me revelei completamente incapaz de afastar as dúvidas que me assediam, lamento anunciar algo que creio não tenha precedentes na história deste Tribunal. Recuso-me a participar da decisão deste caso.” (página 16).
Também o Ministro Keen aponta críticas às linhas de argumentação defendidas pelo Ministro Foster, desprezando sua primeira linha de defesa a partir de argumentos que vinculam a atividade do magistrado ao cumprimento da lei de seu país, como se conclui do seguinte trecho de seu pronunciamento: “[...] como juiz, jurei aplicar não minhas concepções de moralidade, mas o direito deste país.” (página 17).
Seguindo esta orientação de interpretação mais estrita do texto legal, Keen vota pela confirmação da condenação dos exploradores, defendendo que a criação de exceções à aplicação da lei pode ser danosa ao sistema judiciário no longo prazo, conforme suas afirmações: “Uma decisão rigorosa nunca é popular. Juízes tem sido exaltados na literatura por seus ardilosos subterfúgios destinados a privar um litigante de seus direitos nos casos em que a opinião pública julgava errado faze-los prevalecer. Mas eu acredito que a exceção ao cumprimento das leis, levada a efeito pelo Poder Judiciário, faz mais mal a longo prazo do que as decisões rigorosas.” (página 20).
O Ministro Handy, discutindo as posições adotadas pelos seus colegas Ministros e afirmando ser necessário que o magistrado observe, além da dogmática jurídica, a função que é esperada dos órgãos do governo que é de promover os anseios da sociedade, propõe seja observada a opinião pública relacionada ao caso, que é, em maior parte, favorável à absolvição dos acusados. Conforme suas palavras: “Devo confessar que, quanto mais velho me torno, mais perplexo fico ante a recusa dos homens em aplicar o senso comum aos problemas do direito e do governo; e este caso verdadeiramente trágico aprofundou meu sentimento de desânimo e consternação a este respeito. Desejaria apenas poder convencer meus colegas da sabedoria dos princípios que tenho aplicado à função judicial desde que a assumi.” (página 24).
Porém, apesar de sua defesa, o Ministro Handy optou por abster-se do voto.
Desta forma, tendo ocorrido o empate na votação, confirmou-se a sentença condenatória e marcou-se a data para sua efetivação, concluindo-se o intrigante caso fictício.

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