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enchentes. O fármaco de escolha é a doxiciclina na dose de 200 mg por semana, com duração relacionada com o tempo de exposição. Em crianças pequenas ou gestantes, pode ser utilizada a amoxicilina na dose de 100 mg/kg/semana ou 1 g/ semana, respectivamente. Na prevenção da doença em tra balhadores em risco de transmissão, como os colhedores de morangos (na Europa) ou de arroz e cana-de-açúcar (no Bra sil), pode ser utilizada a penicilina G benzatina (1.200.000 UI ÍM a cada 15 dias) enquanto durar a exposição.24 R e f e r ê n c i a s 4. Fraga TR, Barbosa AS, Isaac L. Leptospirosis: aspects of inna te immunity, immunopathogenesis and immune evasion from the complement system. Scand J Immunol. 2011;73(5):408- 19. 6. Vinetz JM. Leptospirosis. In: Longo DL. Harrison’s principles of internal medicine. 18th ed. New York: McGraw-Hill; 2012. p. 1392-7. 7. Ko AI. Leptospirosis. In: Cecil RL, Goldman L, Schafer AI. Goldman's Cecil medicine. Philadelphia: Elsevier; 2012. p. 1937-9. 9. 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Apesar de passível de pre venção por imunização, a raiva continua sendo um problema de saúde pública em muitos países, principalmente na Ásia e na África, onde ocorrem 95% das mortes em humanos.2 Raiva é uma urgência médica, mas não uma em< decisões em relação à profilaxia pós-exposi(ão O vírus rábico pertence à ordem Mononegavirales, fa mília Rhabdoviridcie e gênero Lyssavirus, vírus constituídos por RNA e adaptados à replicação no sistema nervoso central (SNC) de mamíferos.4 C I C L O S D E T R A N S M I S S Ã O Apenas os mamíferos são suscetíveis ao vírus da raiva e os únicos capazes de transmiti-lo. A transmissão da raiva se dá pela penetração do vírus contido na saliva do animal infectado, sobretudo pela mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura de mucosas.5 A doença apresenta quatro ciclos de transmissão (figura 152.1). urbano, rural, aereo e silvestre, sendo o ciclo urbano passível de controle, pois medidas eficientes de prevenção, tanto em relação ao ser humano quanto à fonte de infecção, estão disponíveis. No ciclo urbano, as principais fontes de in fecção são o cão e o gato. O ciclo rural tem como reservatório o morcego hematófago e caracteriza-se pela transmissão da raiva aos animais domésticos de interesse econômico do meio rural, como bovinos, equídeos, caprinos, ovinos e suínos. O ciclo aéreo apresenta como fonte de infecção o morcego, que, além de transmitir a doença, também apresenta sintomatologia e evolui para morte, não se constituindo em “portador são”. No ciclo silvestre, a transmissão da raiva pode ocorrer entre diferentes espécies de animais, na dependência das caracte rísticas geográficas do país ou da região. Na América do Sul, merece destaque a raposa-cinzenta do norte da Colômbia e o cachorro-do-mato; e, no Brasil, o guaxinim e o sagui-do-tufo- -branco, este de importância na Região Nordeste do país.5 Nos cães e gatos infectados, a eliminação de vírus pela saliva inicia-se 2 a 5 dias antes do aparecimento dos sinais clínicos e persiste durante toda a evolução da doença, sendo esse o período de transmissibilidade.6 E P I D E M I O L O G I A Globalmente, a raiva ocorre em mais de 100 países e ter ritórios, totalizando mais de 55.000 mortes em humanos a cada ano. Os menores de 15 anos de idade constituem 40% das vítimas de acidentes com animais suspeitos de raiva. FIGURA 152.1 -> Cadeia epidemiológica de transmissão da raiva (ciclos urbano, rural, silvestre e aéreo). Fonte: Kotait e colaboradores5 e Brasil.6 ____________ Cães são fonte de transmissão da quase totalidade (99% ) de casos de raiva em humanos que evoluem para óbito no mun do. A cada ano, cerca de 15 milhões de pessoas no mundo recebem o esquema de profilaxia antirrábica pós-exposi- ção. Estima-se que essa ação seja responsável por prevenir 327.000 mortes por raiva anualmente.2 No Brasil, a raiva é doença endêmica, com variações re gionais. No período de 1990 a 2009, as Regiões Norte e Nor deste foram responsáveis por 82% dos casos de raiva humana, destacando-se Pará e Rondônia na Região Norte; Maranhão. Bahia, Pernambuco, Ceará e Alagoas no Nordeste;e Minas Gerais no Sudeste. Desde 1987, não há registro de casos de raiva humana na Região Sul do país. De 1998 a 2009, foram notificados 218 casos de raiva humana; 144 deles (66%) não haviam recebido nenhum tipo de esquema profilático pós- -exposição, seja por desconhecimento sobre a necessidade de profilaxia, seja pela falta de acesso ao serviço; 23 indivíduos (10,5%) que tiveram acesso à profilaxia foram a óbito por te rem sido inadequadamente vacinados e/ou porque abandona ram o esquema profilático. Na última década, observa-se uma marcada redução dos casos de raiva humana (FIGURA 152.2). No período de 2000 a 2009, em média 425.400 pessoas procura ram atendimento médico a cada ano por terem sido expostas ou por se julgarem expostas ao vírus da raiva. Dessas, mais de 64% receberam esquema de profilaxia pós-exposição.6 7 De 1990 a 1999, os cães foram responsáveis por 73% dos casos de raiva humana. Entre 2000 e 2010, diminuiu a proporção de casos humanos resultantes de transmissão por cães (45%); os morcegos foram responsáveis por 45% dos casos; os gatos, por 2%; e outros animais, por 6%. Em 2004 e 2005, o morcego foi o principal responsável pelos casos de raiva humana (86,5% dos casos), passando pela primeira vez a superar os casos de transmissão canina, devido à ocorrên cia de surtos de raiva humana no Pará e no Maranhão.6 P A T O G E N I A E Q U A D R O C L Í N I C O A infecção pelo vírus da raiva causa encefalite virai aguda progressiva. Após a inoculação, o vírus alcança o SNC através dos nervos periféricos. Depois de atingir o SNC, ocorre rá pida disseminação. O vírus localiza-se preferencialmente no tronco cerebral, no tálamo, nos gânglios basais e na medula espinal.8 O período típico de incubação é de 1 a 3 meses, com média de 45 dias, mas pode variar de dias a meses, raras vezes sendo maior do que um ano. O período de incubação depende do tamanho do inóculo virai, do grau de inervação do sítio de inoculação e da proximidade do ferimento com o SNC. A sintomatologia clínica é complexa e comumente causa confusão nos profissionais de saúde.8 Os pródromos. que du ram de 2 a 4 dias, são inespecíficos: mal-estar, febre, prurido ou sensação de queimação no local da ferida. A doença pode apresentar-se em duas formas clássicas: furiosa (relacionada sobretudo com vírus transmitidos por canídeos) e paralíti ca (associada, na maioria dos casos, a vírus transmitidos por morcegos). Na forma furiosa, a infecção progride com ma ■ Ciclo urbano ■ Outros ciclos FIGURA 152.2 -> Casos de raiva humana de acordo com o ciclo de transmissão. Brasil, 1980 a 2008. Fonte: Brasil.6 nifestações de hiperexcitabilidade crescente, delírios, febre, espasmos musculares generalizados e/ou convulsões, hidro- fobia e aerofobia. Na forma paralítica, ocorre paresia a partir do sítio de inoculação do agente e evolução para paralisia muscular flácida precoce, a febre é marcante e não se obser va claramente hidrofobia.6,9 T E S T E S D I A G N Ó S T I C O S O diagnóstico laboratorial da raiva pode ser realizado por meio da identificação do antígeno rábico pela técnica de imu- nofluorescência direta (IFD) em impressão de córnea, biópsia de pele (folículo piloso) ou saliva.10,11 A reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real no folículo piloso, na saliva e no líquido cefalorraquidiano (LCR) também é diagnosti ca.12 Em casos nos quais não há histórico de vacinação da pessoa, a pesquisa de anticorpos no soro pode ser útil, assim como a presença de anticorpos no LCR, que, mesmo após vacinação, também é diagnostica.12 ,3 Nenhuma das técnicas isoladamente apresenta 100% de sensibilidade, mas o conjun to delas aumenta a probabilidade da confirmação laboratorial. Ressalta-se que o diagnóstico positivo é conclusivo, porém o negativo não exclui a possibilidade da doença.811 O diag nóstico post-mortem é realizado por meio da detecção do ví rus rábico em tecido cerebral pela técnica de IFD.6 T R A T A M E N T O Uma vez estabelecido o quadro clínico, não existe tera pia antirrábica eficaz estabelecida.14 Diversos agentes como imunoglobulina específica, antivirais, interferon-alfa e an ticorpos monoclonais podem ser considerados; contudo, o tratamento segue sendo essencialmente paliativo e tem por objetivo proporcionar conforto ao doente e sua família.8,15 Em 2004, nos Estados Unidos, foi relatado o primeiro caso de cura da raiva em um paciente que não havia recebido profi laxia pós-exposição adequada, com tratamento baseado em an tivirais e sedação profunda.16 Em 2008, em Recife, Pernambu co, foi utilizado tratamento semelhante em jovem de 15 anos, com eliminação virai e recuperação clínica. Esses dois casos abriram novas perspectivas para o tratamento da doença.17 P R O F I L A X I A D A R A I V A H U M A N A P rofilax ia p ó s -e x p o s iç ã o A profilaxia após o reconhecimento da exposição ao vírus da raiva por acidente com cães e gatos ou outros animais trans missores da doença inclui cuidados com o ferimento e admi nistração de vacinas e imunoglobulina ou soro antirrábico (imunização ativa e passiva, respectivamente). Os cuidados com ferimento por mordeduras, incluindo uso profilático de antibióticos, são abordados no Capítulo Ferimentos Cutâneos. Além dos cuidados com o ferimento, é importante checar o estado vacinai do indivíduo ferido e indicar a profilaxia antitetânica adequada. soro) que devem ser realizados após a exposição. As medidas de profilaxia pós-exposição (PPE) são eficazes, mesmo após exposição de alto risco d Raras falhas foram relatadas após o indivíduo ter recebido a profilaxia recomendada." Não existem ensaios clínicos randomizados, placebo- -controlados realizados com PPE para raiva humana. As fa lhas da PPE são descritas em estudos tipo série de casos e, para a maioria delas, questiona-se se a profilaxia foi usada de maneira adequada. Desde o advento da utilização de rotina da vacina antirrábica de cultivo celular e da imunoglobulina humana, não foram registradas falhas nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. Falhas associadas à administração ade quada de PPE consideradas “verdadeiras”, embora impossí veis de quantificar, são eventos considerados extremamente raros.18'20 TABELA 152.1 -> Classificação do addente ACIDENTE AÇ* ° 00 »ESCRIljiO Leve Grave Ferimentos superficiais (atingem apenas a epiderme, com sangramento discreto ou ausente), pouco extensos, em geral únicos (apenas uma lesão ou porta de entrada), em tronco e membros (exceto mãos e pés); podem acon tecer em decorrência de mordeduras ou arranhaduras. Lambedura de pele com lesões superficiais. Ferimentos ou lambedura de ferimentos no segmento cefálico, em mãos e pés. Ferimentos profundos (atingem outras camadas além da epiderme, geralmente acompanhados de sangra mento), múltiplos (mais de uma lesão; uma única mor dedura pode ser responsável por ferimentos múltiplos) ou extensos, em qualquer região do corpo. Lambedura de mucosas, mesmo que intactas. Ferimento puntiforme profundo. Fonte: Kotait e colaboradores5 e Brasil.6 'Obseraranimíndependmttmert^ vacinai. Orientar o paciente a notificar imediatamente a unidade de saúde se o animal morrer, desaparecer ou se tomar raivo so, pois podem ser neœsririas nôlas intervenções de forma rápida, como a aplicação da imunoglobulina ou soro antirrábico ou o prosseguimento do esquema de vacmaçao. '^ ^ a d é rata em anim^dWfculSdteparaer^Si^ MlivaçSo abundante, mudança de comportamento, mudança de hábitos alimentares, mudança de hábitos e paralisia das Patas traseiras. Nos âes, o latiitotoma-se diferente do normal, parecendo um "uivo rouco". 0 fato de se encontrar morcegos durante o dia, em hora e locais nao habituais, sugere roudança de hábitos. p r , t t S 'I ^ " o t lT o ^ q u e m a vacinai, a lg nãot mais indicada, pois é presumida resposta de anticorpos à vacinação. fonte; Kotait e colaboradores5 e Brasil.6 ________________ _______ _____________________________________________________ _ Medicina Ambulatória! TABELA 152.2 -> Imunização ativa e passiva - imunobiológicos FIGURA 152.4 -> Acidentes com mamíferos silvestres, animais domésticos de interes se econômico ou de produção (equinos, ovinos, bovinos, etc.). ‘Não é necessária profilaxia antirrábica em caso de acidentes com ratos, hamsters, coe lhos ou outros roedores urbanos. fAcidente leve e grave - consultar TABELA 152.1. Fonte: Kotait e colaboradores5 e Brasil.6 A vacina, a imunoglobulina e o soro antirrábico estão disponíveis nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) do país (endereços dos CRIEs estão dispo nibilizados nos Sites Recomendados, on-line) e, a depender do local, também estão disponíveis em outros estabelecimen tos de saúde. As vacinas de vírus inativado produzidas em cultura ce lular são potentes e seguras. Culturas de vários tipos celula res como células diploides humanas, células Vero (renais de macacos), células renais de hamster t células de embriões de galinha e de pato podem ser utilizadas.2,6 Eventos adversos no local da injeção, como eritema, dor e edema, podem ocor rer em 35 a 45% dos vacinados, particularmente após dose de reforço. Eventos adversos sistêmicos como febre, cefaleia, tonturas e sintomas gastrintestinais foram observados em 5 a 15% dos vacinados.2 Reações adversas graves a componen tes da vacina constituem contraindicação para a profilaxia pré-exposição com vacina de igual composição. Entretanto, por ser uma doença fatal, não há contraindicação à profilaxia após exposição de alto risco.6 Vacinas de vírus inativados cultivados em cérebro de ca mundongo (Fuenzalidas-Palácios modificada), menos imu- nogênicas e mais reatogênicas que as vacinas produzidas em cultura celular, não são mais utilizadas no Brasil.6,7 A demora para iniciar a profilaxia pós-exposição ou a falha em completar o esquema pode levar à morte, sobretudo em indivíduos com ferimentos graves.2,3A profilaxia pós-exposi ção deve ser administrada sempre que houver indicação, in dependentemente do tempo transcorrido entre a exposição IMUNIZAÇÃO ATIVA Vacinas Produtos Vacinas liofilizadas, constituídas de vírus rábico inativado produzido em cultura celular/ Via/Local de IM( em deltóide ou vasto lateral da coxa (em crian- aplicação*/ ças até 2 anos de idade)/2,5 Ul/dose (0,5 mL/dose Dose ou 1,0 mL/dose, dependendo do fabricante)/ ID*, em deltóide e vasto lateral da coxa - 0,1 mL/dose (em cada sítio)/ Esquemast 5 doses IM ou ID* - 1 dose nos dias 00, D3, D7, D14 e D28/ *A vacina náo deve ser aplicada em região glútea, devido à possível deposição no tecido adiposo e, potencialmente, menor distribuição sistêmica.6 Quando administrada concomitantemente à imunoglobulina (lg) antirrábica, a vacina deve ser administrada em grupo muscular diferente do utilizado para a imunoglobulina.6 fPara imunocompetentes, a administração de quatro doses da vacina (uma dose nos dias D0,03, D7 e D14 ou duas doses no D0 e uma dose em 07 e 021), por via intramuscular (IM), sempre acom panhada da administração de lg antirrábica e cuidados com o ferimento, é considerada adequada pela OMS/ A administração intradérmica (ID) da vacina é uma alternativa considerada adequada pela OMS. Permite o uso de menor quantidade de antígeno (0,1 mL/dose), diminuindo os custos, porém exige profissional qualificado para essa administração/ IMUNIZAÇÃO PASSIVA Imunoglobulina antirrábica (lg) Produtos Imunoglobulina humana antirrábica/ Esquema1 Quando recomendada (FIGURAS 152.3 e 152.4), deve ser administrada em dose única, o mais breve possível após o acidente/ Local de aplicação Dose A solução deve ser infiltrada ao redor do ferimen to, no local da exposição. Se todo o volume não puder ser administrado em torno do sítio de ex posição, o restante (a menor quantidade possível) pode ser administrado via IM na região glútea/ 20 Ul/kg de peso corporal/ *A lg é o produto preferencial para imunização passiva, pois é mais segura e bem tolerada e apre senta meia-vida relativamente longa (em torno de 21 dias)/ 0 uso da lg náo é necessário quando o paciente recebeu esquema profilático completo anteriormente. No entanto, em situações especiais, como pacientes imunodeprimidos ou em caso de dúvidas com relação ao esquema prévio, se hou ver indicação, a lg deve ser recomendada.6 *A partir do sétimo dia após o início do esquema vacinai, a lg não é mais indicada, pois é presumida resposta de anticorpos à vacinação.'8 Soro antirrábico Produto Soro antirrábico de origem equina* Indicação Pode ser utilizado nas mesmas indicações da lg humana, quando esta não está disponível/-7 Local de A solução deve ser infiltrada ao redor das feridas, aplicação no local da exposição. Se todo o volume não puder ser administrado em torno do sítio de exposição, o restante (a menor quantidade possível) pode ser administrado via IM na região glútea.7 Dose 40 Ul/kg de peso corporal.6 *Possui meia-vida menor do que a da lg humana e, por ser heterólogo, envolve risco de reação anafilática (1/45.000)/ Não há fundamento científico para a realização de teste cutâneo antes da administração do soro equino. 0 profissional de saúde deve, entretanto, estar preparado para con duta frente à anafilaxia, que pode ocorrer em qualquer momento da administração do soro.‘ Em caso de exposição de pessoas que receberam profila xia pré-exposição completa ou profilaxia pós-exposição ade- quada anteriormente, o esquema pós-exposição consiste em duas doses adicionais de vacina (nos dias DO e D3), sem ne cessidade de imunização passiva, mesmo em caso de aciden te grave com animal com suspeita de raiva ou morcego.23-5-6 virus da raiva não requer profilaxia a t i v a / S ^ X ^ e * em sua maioria, ser avaliadas e manejadas no nível da aten ção primária. Havendo indicação de profilaxia ativa/passiva, o indivíduo deve ser encaminhado a uma unidade de referênda para a profilaxia de raiva. E, na suspeita clínica de raiva, deve É importante salientar que os indivíduos com indicação de profilaxia pós-exposição devem ser acompanhados sob supervisão da equipe de atenção primária à saúde (APS); os faltosos devem ser contatados por meio de busca ativa.1 Profilaxia pré-exposição A vacinação antirrábica pré-exposição é recomendada para pessoas com maior risco de exposição, como veteriná rios, biológos, estudantes de veterinária, biologia e agrotec- nia, funcionários de laboratórios que manipulam o vírus da raiva, pessoas que trabalham na captura, vacinação, identifi cação e classificação de mamíferos passíveis de portarem o vírus, funcionários de zoológicos, zoólogos e outros profis sionais que trabalham em área de risco, guias de ecoturismo, pescadores, entre outros 0 . 25,6 A profilaxia pré-exposição protege contra exposição inaparente, desencadeia resposta imune específica (booster) à vacinação mais rapidamente em caso de exposição e simplifica a profilaxia pós-exposição.6 São recomendadas três doses da vacina, administradas nos dias DO, D7 e D21 ou D28. Dez a quinze dias após a terceira dose, deve ser colhida amostra de sangue para do sagem de anticorpos. Pessoas com exposição continuada devem ser avaliadas com teste sorológico a cada 6 a 12 me ses.2,5,6 Embora os títulos de anticorpos protetores não sejam bem estabelecidos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera títulos > 0,5 UI/mL como indicadores de proteção adequada.2,21 Quase todas as pessoas saudáveis que recebem vacinas produzidas em cultura celular apresentam títulos de anticorpos neutralizantes > 0,5 UI/mL no 142 dia do esque ma profilático pós-exposição, com ou semadministração de imunoglobulina antirrábica e independentemente da idade. Logo, uma dose de reforço da vacina deve ser administrada caso o título de anticorpos seja menor que 0,5 UI/mL. medidas de prevenção e controle Em uma comunidade, a proteção da população deve ser Prioridade na investigação de um caso de raiva. Logo que se tenha conhecimento da suspeita de um caso de raiva, seja humana ou animal, deve-se organizar um bloqueio de foco, o qual deve ser iniciado em até 72 horas e finalizado em até sete dias após a notificação, em um raio de 5 km, quando não for possível realizar uma investigação adequada para delimi tar a área de risco, não sendo necessário aguardar resultados de exames laboratoriais para confirmação do caso suspeito. O bloqueio de foco inclui vacinação de cães e gatos de todas as casas da área, retirada dos animais de rua sem dono, intensificação do envio de amostras para diagnóstico labora torial, busca ativa de pessoas expostas e educação em saúde. As informações sobre as coberturas vacinais dos animais da área endêmica, quando disponíveis, são importantes para o processo de decisão quanto à extensão inicial e seletividade do bloqueio. Devem ser organizadas ações de esclarecimento à população, utilizando-se meios de comunicação de massa, visitas domiciliares e palestras. Os agentes comunitários de saúde, quando disponíveis, podem desempenhar um papel im portante na execução dessas atividades e na sensibilização da população. E importante informar à população sobre o ciclo de transmissão e a gravidade da doença, e esclarecer sobre o risco e as ações que exigem a participação efetiva da comunidade. Em caso de bloqueio de foco por morcegos infectados encontrados em áreas urbanas, deve-se iniciar o bloqueio conforme orientação dada. Porém, em caso de recidiva, ao detectar outro morcego positivo em um período inferior a três meses, sugere-se realizar vacinação canina e felina so mente nos animais não vacinados ou primo-vacinados, não excedendo três doses de vacina antirrábica animal no período de um ano. É importante notificar os casos positivos em ani mais ao serviço de controle de raiva (vigilância epidemio- lógica, centros de controle de zoonoses e agricultura), para controle de focos e outras ações pertinentes.6 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA A vigilância epidemiológica é fundamental para deter minar as áreas de risco para raiva; monitorar a raiva animal com intuito de evitar ocorrência de casos humanos; investi gar todos os casos suspeitos de raiva humana e animal e de terminar sua fonte de infecção; realizar e avaliar os bloqueios de foco frente à suspeita de raiva; realizar e avaliar campa nhas de vacinação antirrábica animal, onde ela é realizada; normatizar as condutas de atendimento antirrábico humano e garantir a assistência e realização do esquema profilático da raiva em tempo oportuno; suprir a rede do Sistema Único de Saúde (SUS) com imunobiológicos e medicamentos especí ficos para profilaxia e tratamento da raiva; e propor e avaliar as medidas de prevenção e controle.6 Toda suspeita de raiva humana é de notificação indivi dual, compulsória e imediata nos níveis municipal, estadual e federal, por telefone, meio eletrônico ou fax. Esta deve ser investigada pelos serviços de saúde por meio da ficha de investigação, padronizada pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).22Todo atendimento antir rábico também deve ser notificado, independentemente de o indivíduo ter ou não ter indicação de receber vacina e/ou soro antirrábico. Existe ficha específica padronizada pelo SINAN (disponível em http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/), que se constitui em um instrumento fundamental para decisão da conduta de profilaxia a ser adotada pelo profissional de saúde.6 É necessário, ainda, informar à autoridade sanitária local sobre ocorrência de morte de animais, agressões a pes soas e animais. Conforme Portaria nQ 5 de 21 de fevereiro de 2006 da Secretaria de Vigilância em Saúde, as epizootias e/ ou mortes que podem preceder a ocorrência de doenças em humanos são de notificação compulsória.1 A redução dos casos humanos de raiva é resultado, em grande parte, das atividades de prevenção e controle da raiva, que incluem profilaxia de raiva humana em pessoas possivel mente expostas ao vírus, monitoramento de circulação virai, campanhas de vacinação antirrábica animal, notificação ime diata de epizootias e casos humanos suspeitos.23 Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde. Vigilância em saúde: zoonoses [Internet]. Brasília: MS; 2009 [capturado em 26 jun. 2012]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/ abcad22.pdf. 2. Rabies vaccines: WHO position paper-recommendations. Vaccine. 2010;28(44):7140-2. 3. Rupprecht CE, Briggs D, Brown CM, Franka R, Katz SL, Kerr HD, et al. 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