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Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 1 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA COGNITIVA: ANTECEDENTES DA PSICOLOGIA COGNITIVA History of Cognitive Psychology: Cognitive Psychology Background Historia de la Psicología Cognitiva: Antecedentes de la Psicología Cognitiva Jorge Luís Cruz de Vasconcellos¹ Ricardo Vigolo de Oliveira² RESUMO O presente artigo faz uma breve síntese dos antecedentes históricos que fomentaram o surgimento de uma ciência psicológica a qual desenvolveu sua própria metodologia para estudar eventos intrapsíquicos que não poderiam ser diretamente observados, mas inferidos de maneira bastante consistente. Em busca de um rigor científico que conferisse status de ciência à psicologia, o foco primeiro foi no comportamento, por ser observável, mensurável e descritível. Com o surgimento tanto de novas tecnologias em pesquisa, assim como a organização das informações em modelos computacionais, a psicologia cognitiva ressurge como uma ciência que tem por objeto de estudo o funcionamento dos processos mentais. Palavras-chave: Cognitivismo – antecedentes - ciência ________________________ ¹Prof. MSc. Jorge Luís Cruz de Vasconcellos - Mestre em Psicologia Social e da Personalidade – PUCRS- Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha – CESUCA. E-mail: vasconcellos.jorge@gmail.com ²Prof. Dr. Ricardo Vigolo de Oliveira - Doutor em Bioquímica – UFRJ - Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha - CESUCA Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 2 ABSTRACT This paper is a brief summary of the historical background which encouraged the emergence of a psychological science, which has developed its own methodology to study intrapsychic events that could not be observed directly, but consistently inferred. In search of a scientific rigor that would confer the status of science to psychology, the focus was firstly just on the behavior, which was observable, measurable and describable. With the emergence of new technologies in both research as well as the organization of information in computational modeling, cognitive psychology emerges as a science whose object of study the functioning of mental processes. Keywords: Cognitivism – history - science Antes do século XIX, era inconcebível que o funcionamento das cognições humanas fosse suscetível de análise científica. Um dos critérios de validade para todas as ciências da época era o da verificabilidade, isto é, para ser considerada verdadeira, teria que ser passível de verificação. Assim, o estudo das cognições humanas, enquanto atividade científica, distanciou-se de muitas outras ciências devido às dificuldades de se estudar o pensamento (Madeira, 1987). A data usualmente citada como marcando início da Psicologia como ciência é 1879, quando Wilhelm Wundt estabeleceu o primeiro laboratório de Psicologia em Leipzig, na Alemanha (Schultz & Schultz, 1994). A Psicologia de Wundt poderia ser considerada como antecedentes da Psicologia Cognitiva, pois se diferenciava das outras grandes correntes teóricas vigentes na época, como o Behaviorismo e a Gestalt. O eminente pesquisador alemão estava determinado em pôr em prática um programa de Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 3 pesquisa designado a estabelecer a Psicologia como uma ciência natural. Os primeiros fundamentos dados à Psicologia, enquanto disciplina científica distinta da Filosofia, visavam uma “ciência da vida mental”, ao invés de uma “ciência do comportamento”. Embora Wundt refira-se a sua posição teórica como Voluntarismo, nos Estados Unidos, sua orientação teórica tornou-se conhecida como Estruturalismo, descrevendo eventos mentais como tendo implicações estruturais, baseados em uma estrutura implícita, subentendida. O método de investigação privilegiado por Wundt foi o Introspeccionismo. Neste método, a crença básica radicava-se no fato de que o funcionamento da mente poderia abrir-se para a auto-observação. Apresentava-se aos sujeitos participantes do experimento, altamente treinados e sobre cuidadosas condições de controle, problemas a serem resolvidos mentalmente e lhes pedia em seguida para dizer de que maneira eles tinham procedido, através do relato do conteúdo de sua consciência. Verificou-se que os sujeitos podiam achar a resposta correta para os problemas colocados, porém, não eram capazes de dizer como chegaram a tal resposta. Decorreram deste método alguns problemas. Em primeiro lugar, a introspecção não tem como atingir os processos que não aparecem à consciência. Em segundo lugar, havia a dificuldade de explicar os processos mentais através de uma descrição verbal unívoca, pois estas estavam submetidas a experiências privadas diferentes, tornando inviável o relato objetivo dos conteúdos mentais da consciência, que são o próprio objeto de estudo. Tornava-se evidente que a introspecção não era uma metodologia adequada para prescrever o funcionamento da mente, pois toda a complexidade da cognição não era acessível à experiência consciente (Schultz & Schultz, 1994). Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 4 Willian James, em sua obra “Princípios de Psicologia”, de 1890, reflete toda a tradição funcionalista, e seus trabalhos são relevantes até na atualidade. Mais teórico do que experimentador, faz notórias contribuições com os estudos sobre memória e atenção, delimitando diferenças entre a memória primária ou presente psicológico e a memória secundária ou passado psicológico (Baddeley, 1986). Esta distinção foi retomada setenta anos mais tarde, quando os cognitivistas começaram a estudar de forma sistemática as memórias de curto e de longo prazo. Através de um artigo publicado em 1913 na PsychologicalReviewchamado Psychology as thebehavioristviews it (A Psicologia como o behaviorista a vê), de Watson, deu-se o mais cabal e abrupto rompimento com a introspecção na Psicologia. Seu manifesto foi um ataque arrasador ao sistema vigente de Psicologia, na época dos estudos da mente. Os behavioristas, de forte cunho positivista, sustentavam que as teorias só se justificavam por meio de uma relação com os fatos observados, e que as construções teóricas eram significativas somente se pudessem ser observadas. Esta visão, adotada por Watson e Skinner e considerada os arautos da “Psicologia científica”, admitia apenas trabalhar com fenômenos observáveis na pesquisa científica em Psicologia, rejeitando a utilização de construções mentais hipotéticas (Eysenck& Keane, 1994). Os princípios básicos do behaviorismo eram simples e diretos. Por Watson exigir uma Psicologia totalmente objetiva e que se ocupasse unicamente de atos observáveis de conduta, palavras como “pensamento”, “mente” e “consciência”, enquanto fatores explicativos do comportamento humano perderam a relevância, minando assim a metodologia introspeccionista. De uma maneira mais explícita, Watson dizia que a Psicologia deveria renunciar a mente como objeto de estudo e adotar Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 5 aquilo que fosse observável, ou seja, o comportamento (Schultz & Schultz, 1994). O Behaviorismo afirmava que todo e qualquer comportamento humano e mesmo animal pode ser descrito objetivamente, sem se necessitar recorrer aos conceitos e às terminologias mentalistas, subjetivas. Neste sentido, torna-se possível predizer a resposta que será dada por um determinado estímulo e, da mesma maneira, predizer que estímulo antecedente gera determinada resposta (Schultz & Schultz, 1994).O comportamentalismo apresentava um corpo coerente de ideias científicas e explicava boa parte dos problemas colocados. Delimitou clara e operatoriamente seu objeto de estudo, e possuía uma metodologia apropriada ao tipo de problema que colocava. Seus fundamentos teóricos cumpriam a sua função de edificar princípios, embora se mostrasse reducionista e indutivista em consequência do rigor metodológico influenciado pelo Positivismo Lógico. O reducionismo condutivista, encadeado com a tradição empirista da ciência e com o positivismo lógico, havia enfatizado de maneira especial a experiência controlada de laboratório: a conduta pode ser explicada exclusivamente com base nos estímulos físicos e nas respostas motoras. O condutivismo fez com que se rechaçasse o mentalismo, assim como os processos cognitivos superiores (memória, pensamento), os quais haviam sido levados a cabo por Donders e Ebbinghaus no século passado, sendo então o estudo desses processos afastado da investigação científica e assim desaparecendo do âmbito da investigação acadêmica neste período (Marx &Hillix, 1980). Os seguidores do condutivismo sustentavam que as teorias só se justificavam por meio de uma relação com fatos observados, e que as construções teóricas eram significativas somente se esses fatos e seus corolários pudessem ser observados. E esta era a visão dos grandes mestres do behaviorismo Watson e Skinner, que fundaram uma Psicologia científica ao admitirem apenas fenômenos observáveis, rejeitando a utilização de construções mentais hipotéticas. Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 6 Skinner foi um dos behavioristas fortemente influenciados pela visão do positivismo lógico da ciência. Traçou uma analogia entre os primórdios da física e a Psicologia do século XX para ilustrar seus pontos de vista, chamando a atenção para o fato de que os gregos primitivos pouco sabiam a respeito da física e da Psicologia. Ressaltou que Aristóteles falava sobre as forças físicas sendo como estados hipotéticos e antropomórficos, atribuindo características humanas a fenômenos não humanos. Para Skinner, a física progrediu e a Psicologia não. Isto ocorreu porque, na física, foi substituído o antropomorfismo inobservável por relações matemáticas e porque, cada vez mais, tem-se apoiado na observação e na experimentação. Segundo Skinner, a Psicologia não progrediu porque não se apoiou na mesma estratégia (Schultz & Schultz, 1994). A abordagem geral do comportamentalismo de Skinner, em muitos e importantes aspectos, representa uma renovação do Behaviorismo watsoniano. Skinner evita a teoria e prefere praticar um positivismo estrito. Seu ponto de vista é por ele mesmo descrito como de nunca haver abordado um problema construindo uma hipótese, assim como de nunca deduzir teoremas sem os submeter à verificação experimental. Declarava não ter um modelo preconcebido de comportamento e tampouco um modelo conceitual. O programa de Skinner não inclui nenhuma referência a supostas entidades internas, quer descritas como variáveis intervenientes, quer como processos fisiológicos. Seja o que fosse que pudesse ocorrer entre o estímulo e a resposta, não representava dados objetivos para um behaviorista skinneriano (Schultz & Schultz, 1994). Skinner dava ênfase ao comportamento operante, em oposição ao respondente. Na situação de condicionamento pavloviano, um estímulo conhecido é pareado com Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 7 uma resposta, sob condições de reforço. A resposta comportamental é suscitada por uma situação de estímulo específica e observável, a que Skinner deu o nome de comportamento respondente. Já o comportamento operante ocorre sem quaisquer estímulos externos observáveis. A resposta do organismo é aparentemente espontânea, na medida em que não está relacionada com qualquer estímulo observável conhecido. Isto não quer dizer que não exista um estímulo que evoque a resposta, mas sim que nenhum estímulo é identificado quando ocorre a resposta. Assim, na perspectiva do experimentador, não existe estímulo, porque não aplicou e nem pôde ver nenhum (Schultz & Schultz, 1994). Apesar de a escola behaviorista ter se estabelecido como o principal enfoque na ciência da Psicologia da primeira metade deste século, ela falhou na tarefa de ser uma ciência satisfatória do psiquismo humano e começou a ficar insuficiente, sendo forçado a buscar outros caminhos. Com a crise do condutivismo, os pesquisadores em Psicologia se viram obrigados a buscar outras vias para evitar que seu objeto de estudo lhes escapasse das mãos. Por não tratarem de modo científico os problemas relativos aos processos psíquicos superiores, havia a necessidade deste enfoque condutivista ser substituído por outro. A CRISE DO BEHAVIORISMO Tanto no introspeccionismo quanto no behaviorismo, vê-se a consciência humana “esforçando-se para entender a si própria”. Os introspeccionistas tiveram que deixar de acreditar no poder da auto observação. Os behavioristas, temerosos de tornarem-se vítimas das falácias subjetivas recusadas em um primeiro momento, já pensavam sobre os processos mentais. Não era mais possível acreditar que a ciência psicológica fosse simplesmente colecionar fatos observáveis e entendê-los. Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 8 Havia uma exigência de outros métodos, até mesmo pelo desenvolvimento de outras disciplinas. Na física, por exemplo, a teoria da estrutura atômica foi desenvolvida, e essa estrutura não podia ser observada diretamente, mas somente inferida. Contudo, os behavioristas argumentaram que uma teoria da estrutura interna da mente não era necessária para entender o comportamento humano, e em certo sentido tinham razão. Entretanto, a teoria das estruturas internas como se verá a seguir, tornaria mais fácil o entendimento do psiquismo humano. A Psicologia Cognitiva surgiu, em parte, por causa do crescente reconhecimento de que entender a psique era algo sensivelmente mais complexo do que se pensava ser no comportamentalismo behaviorista. O fato da visão tradicional de ciência ter sido minada (Eysenck& Keane, 1994) contribuiu para que a Psicologia Cognitiva começasse a formar sua identidade científica. Com o avanço da engenharia eletrônica e da informática nos anos 1950 e 1960, surgiram as máquinas capazes de desenvolver condutas inteligentes. Houve, a partir dos anos 1960, um considerável desenvolvimento de programas que imitavam condutas inteligentes (processos superiores), imprescindíveis para o entendimento das condutas humanas. A mente humana e o computador são sistemas de processamento de informações (Neisser, 1967). A origem dessa analogia está na máquina universal de Turing, em 1936, matemático que demonstrou formalmente que a máquina universal pode simular qualquer comportamento inteligente humano. Propunha essencialmente que, se na mesma tarefa não pudéssemos distinguir entre o comportamento de um computador e o de um humano, então a máquina seria inteligente como o ser humano (Eysenck& Keane, 1994). Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 9 Os trabalhos de cientistas de outras áreas ofereceram explicações da conduta humana com base em conceitos de “abstrato” que exigem a participação dos processos superiores. A teoria da informação, por exemplo, foi um campo que ganhou um grande impulso durante a segunda guerra mundial, impulsionado por Schannon que, nos seus trabalhos sobre a matemática da comunicação, defendia que algo abstrato como a mensagem pode ser tratado cientificamenteaté poder ser apresentado de forma matemática. Schannon mostrou que a conceituação dos estímulos e respostas em termos exclusivos de suas características físicas é inadequado para explicar as condutas comunicativas (Schannon, 1948, como citado em Anderson, 1985). A teoria da informação postula que um evento traz informação se sua chegada elimina a vinda de outros eventos possíveis. O conjunto desses eventos possíveis são chamamos de “repertório” (Simon, 1964). Podemos dizer, da mesma maneira, que um evento traz informações se ele for tirado de um repertório. Todo processo que seleciona um evento num repertório é dito “processo de tratamento da informação”. Chama-se assim de “sistema de tratamento de informação” todo sistema que seja a matriz de tais processos. Deste ponto de vista, o sistema nervoso poderia então ser considerado como o mais complexo dos sistemas de tratamento de informação (Costermans, 1981). Este sistema influenciou, significativamente, a nascente Psicologia Cognitiva, fazendo com que esta o usasse como um verdadeiro novo paradigma. A ciência dos sistemas e a tecnologia dos computadores conduziram os neurofisiologistas e os psicólogos a encararem o sistema nervoso de uma nova maneira, percebido desde então como um sistema geral permitindo garantir a gestão do comportamento humano (Costermans, 1981). Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 10 Por esta época, outra ciência surgiu: a cibernética. Wiener, em 1948, em sua obra Cybernetics, orcontroland communication in the animal andthemachine implanta a ideia do organismo como um sistema finalizado, ou seja, um hipersistema composto da união de um sistemaregulado com um sistema regulador. Esta noção constituiu um dos polos da ciência moderna, permitindo compreender como se formam as estruturas cada vez mais complexas. Na perspectiva da cibernética, convém não mais definir o comportamento como um conjunto de relações a um conjunto de estímulos, mas como um processo pelo qual um sistema vivo se aproxima de um critério (Anderson, 1983). Apoiada no conceito de feed-back, a teoria mostra como certas condutas só serão explicáveis recorrendo aos processos internos dos sujeitos. Enquanto que no condutivismo toda conduta devia ser explicável supondo um sujeito passivo entre estímulo e resposta, na cibernética este marco de referência é ampliado, introduzindo o conceito de “tomada de decisão” em termos totalmente científicos, admitindo um sujeito ativo assim como na conceituação dos elementos explicativos por algo mais que suas características físicas observáveis. Esta teoria influenciou, enormemente, a nascente Psicologia Cognitiva (Reed, 1982). Os psicólogos que se afastaram do condutivismo se dedicaram então a realizar experimentos sob este novo enfoque do processamento de informação, sobre problemas tais como a percepção, atenção, memória, formação de conceitos e linguagem (Sternberg, 2008). O desenvolvimento da Psicologia Cognitiva já sentia algumas influências da nova abordagem dos campos da Engenharia Eletrônica, Teoria da Comunicação e Cibernética. Donald Broadbent (1958), da Unidade de Psicologia Aplicada, em Cambridge, provavelmente foi o maior influenciador e integrador de ideias destes campos, desenvolvendo a abordagem do processamento de informação. Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 11 Assim, no início dos anos 60, foram introduzidos no campo da Psicologia os estudos da cibernética e da teoria da informação, que considerava que toda a informação fluía através de um sistema cognitivo (Costermans, 1981). De acordo com essa teoria, as pessoas são seres autônomos e intencionais que interagem com o mundo externo, e a mente através da qual eles interagem com o mundo é um sistema de processamento de símbolos (informações). A meta da pesquisa em Psicologia Cognitiva é especificar os processos simbólicos e representações subjacentes ao desempenho de todas as tarefas cognitivas. Os processos cognitivos levam tempo pra serem executados. Assim, suposições sobre os tempos das reações podem ser feitas ao se presumir que certos processos ocorrem em sequencia ou possuem alguma complexidade especificável. A mente é um processador que tem limitações tanto de estruturas quanto de recursos e, apesar do sistema simbólico depender de um substrato neurológico, este sistema simbólico não está inteiramente limitado por este substrato neurológico (Eysenck& Keane, 1994). Diretamente relacionado com o enfoque do processamento de informação foi o desenvolvimento das ciências da computação, particularmente o desenvolvimento da Inteligência Artificial. Allen Newell e Herbert Simon, na Carnegie-MellonUniversity, trabalharam aproximadamente 30 anos “educando” os psicólogos cognitivos nas implicações da inteligência artificial. Grande parte dos conceitos da Psicologia Cognitiva veio da ciência da computação (Anderson, 1983). Outro campo de influência na Psicologia Cognitiva foi o da Lingüística. Chomsky (1971), linguista de MassacusettsInstituteof Technology, iniciou o desenvolvimento de um modo de análise da estrutura da linguagem. Mostrou a complexidade desta análise, apontando também que as formulações behavioristas não Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 12 conseguiram dar conta. Em sua Gramática Gerativa, ele aborda que a conduta da fala não pôde ser explicada com base na simples aprendizagem de respostas motoras, mas que esta conduta exige “processos internos” ao sujeito, os quais têm de ser conceitualizados em um marco de trabalho que não é redutível ao enfoque condutivista. No ano de 1956, ocorre A Conferência de Dartmouth, evento onde se reuniram grande número de cientistas para discutir acerca das máquinas e sua possibilidade de comportar-se de maneira inteligente. Neste momento já existiam desenvolvimentos importantes no terreno dos computadores. Allen Newell e Herbert Simon trabalhavam em computadores que realizavam operações similares às do ser humano em suas atividades de pensamento. Este programa, denominado LogicTheorist (teórico lógico), permitia resolver alguns dos teoremas dos Principia Matematica de Witehead e Russell (Eysenck& Keane, 1994). Um marco foi a publicação do livro de UlricNeisser, CognitivePsychology, em 1967, que legitimou a Psicologia Cognitiva no campo científico. A partir desta publicação, já se tinha a possibilidade de se dar uma definição sucinta da Psicologia dita cognitiva, "o estudo experimental dos processos de tratamento de informação pelos quais o psiquismo, através da representação psíquica, assegura a gestão do comportamento, firmando o estudo dos processos mentais ditos 'superiores' pelas vias de experimentação" (Madeira, 1987). Nos anos 1970, além do início de um importante jornal intitulado CognitivePsychology, vários autores falavam da abordagem do Processamento de Informação como novo marco teórico para se estudar a cognição humana. Nessa época, muitas linguagens de programação diferentes foram desenvolvidas, o que levou ao conhecimento de vários aspectos das linguagens e dos softwares de computador que Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 13 estavam em uso e que se aplicavam, em maior ou menor grau, à Psicologia Cognitiva. Nessa mesma década emerge outro campo mais abrangente de investigação chamado “Ciência Cognitiva”, que esforçou-se para integrar Psicologia, Filosofia, Linguística, Inteligência Artificial, Antropologia, assim como as Neurociências. Os cientistas cognitivos propuseram modelos computadorizados baseados em redessemânticas, sistemas de produção e redes conexionistas. Em referência a este novo campo de estudo, a Psicologia Cognitiva se tornou uma “sub-ciência”, irmã da Inteligência Artificial, surgida na mesma época, e com os mesmos princípios básicos desta. A partir dos 1980, essas ciências caminharam em paralelo, porém em interação interdisciplinar, sob o arcabouço geral das Ciências Cognitivas (Eysenck& Keane 1994). Dentro desse contexto, já era total o rechaço ao reducionismo condutivista. Foi então amplamente aceito, a partir dos anos 1960 e 1970, que os processos cognitivos constituíam uma posição essencial e central na ciência da Psicologia; houve a necessidade de contar com um sistema que possuísse a capacidade de elaborar a informação do meio, em termos que transcendesse o puramente físico, a fim de alcançar níveis psíquicos superiores. Pesquisadores tais como Broadbent (1958); Simon e Feigenbaum (1964); Neisser(1967), Normam (1993); Atkinson eShiffrin (1968); Paivio (1986); Collins e Quillian (1972) e Costerman (1981), entre outros, voltam aos problemas colocados por Wundt, em relação ao estudo dos processos psíquicos superiores, que anteriormente não dispunha de ferramentas metodológicas adequadas. Do ponto de vista metodológico, na nascente Psicologia Cognitiva, a ferramenta mais utilizada foi o experimento controlado, derivado do método hipotético-dedutivo. E, mais recentemente, de grande contribuição também foram os avanços nas neurociências. Graças a avanços principalmente na neuroimagem funcional, tornou-se possível Credenciamento Portaria MEC 3.613, de 08.11.2004 - D.O.U. 09.11.2004 14 correlacionar alguns conteúdos específicos do processamento de informações a regiões mais ou menos específicas do cérebro (Eysenck& Keane, 1994). REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anderson, J. (1983). The arquiteture of cognition. 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