Buscar

História de Catilina 05

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Carlos Biasotti
“QUOUSQUE TANDEM ABUTERE, CATILINA, 
PATIENTIA NOSTRA?”
(Cicero, Oratio Prima in Catilinam, I, 1)
2010
São Paulo, Brasil
2
3
“QUOUSQUE TANDEM ABUTERE, CATILINA, 
PATIENTIA NOSTRA?”
(Cicero, Oratio Prima in Catilinam, I, 1)
I. As palavras que servem de título a este breve ensaio 
proferiu-as o célebre orador romano Marco Túlio Cícero, no 
dia 8 de novembro do ano 63 a. C., no templo de Júpiter 
Estátor, onde, na condição de Cônsul, reunira o Senado para 
denunciar a conjuração de Catilina, “homem audacioso e 
temerário”(1), que pretendia subverter os fundamentos das 
instituições políticas e sociais de Roma.
Quatro orações pronunciou o notável tribuno contra o 
demagogo, conhecidas pelo nome de “Catilinárias”, termo 
que passou a designar toda a “acusação enérgica e 
eloquente”.(2)
Segundo o historiador Salústio, “Lúcio Catilina, de 
nobre ascendência, foi de grande força de alma e de corpo; 
porém de má e depravada índole. (...) Depois da tirania de 
Sila, um desenfreado desejo o assaltara de escravizar a 
república; e como o reino obtivesse, não olhava por que 
meio”.(3)
Catilina e seus sequazes foram, por decisão do 
Senado, condenados à pena última.
1(
(
) Plutarco, Varões Ilustres, 1944, p. 167; trad. Mário Gonçalves Viana; Editora 
Educação Nacional; Porto.
2(
(
) Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo, 2a. ed.; v. catilinária.
3(
(
) Obras, 1945, p. 36; trad. Barreto Feio; Editora Cultura; São Paulo.
4
Por haver descoberto e reprimido a conjuração de 
Catilina, o povo concedeu a Cícero o título de Pai da pátria 
(“Pater patriae”).
Os esbirros do triúnviro Marco Antônio, seu inimigo 
figadal, contra quem havia proferido “uma longa série de 
catorze discursos conhecidos pelo nome de Filípicas”(4), 
puseram termo à vida do máximo orador romano, cortando-
lhe a cabeça e as mãos, que foram pregadas no rostro, ou 
tribuna dos oradores, em Roma.
“Cícero foi morto a 7 de dezembro do ano 710 da 
fundação de Roma, isto é, 44 anos antes da nossa era: tinha 
a idade de 63 anos, 11 meses e 5 dias”.(5)
4(
(
) Arlindo Ribeiro da Cunha, “In Catilinam”, 1943, p. CLIII; Livraria Cruz; Braga.
5(
(
) Cezar Zama, Três Grandes Oradores da Antiguidade, 1896, p. 571; Bahia.
5
II. Exemplo clássico de exórdio “ex abrupto”(6), aquele 
tópico de Cícero — “Quousque tandem abutere, Catilina, 
patientia nostra?” —, vertido em vulgar, significa: Até 
quando enfim, Catilina, abusarás da nossa paciência?(7)
Cai a lanço transcrever aqui a narração de Narciso 
José de Morais acerca do fato histórico:
“No momento em que os exércitos da república 
colhiam na Ásia, com Pompeu, troféus brilhantes, Roma 
ficou exposta de repente a um perigo terrível.
O ascendente dos cavaleiros tornara-se insuportável 
e, enquanto que ostentavam em Roma suas fortunas 
6(
(
) “Exórdio improviso ou abrupto é aquele em que o orador, arrebatado por uma 
impetuosa paixão, abala inesperadamente os ouvintes. (...) subitamente inflamado pela 
presença duma pessoa ou dum objeto, o orador começa logo a trovejar na assembleia. 
Assim contra Catilina investe de súbito o orador romano (na I Cat.): Até quando enfim, 
Catilina, hás de abusar da nossa paciência?” (A. Cardoso Borges de Figueiredo, 
Retórica, 1875, pp. 48-49; Coimbra).
Manoel da Costa Honorato, pelo mesmo feitio: “Exórdio veemente ou ex abrupto 
é aquele em que o orador entra bruscamente em matéria, apodera-se das disposições de 
seu auditório e entrega-se, desde o princípio, aos movimentos apaixonados, como fez 
Cícero, entrando repentina e audaciosamente no senado romano, onde exprobrou a 
Catilina por achar-se também nesse recinto, dizendo: Até quando, ó Catilina, abusarás 
de nossa paciência?” (Compêndio de Retórica e Poética, 1879, pp. 30-31; Rio de 
Janeiro).
De igual teor, a lição de M. Fábio Quintiliano: “(...) como o mesmo Cícero também 
já tinha praticado contra Catilina: Até quando abusarás, ó Catilina, da nossa 
paciência?” (Instituições Oratórias, 1888, t. I, p. 259; trad. Jerônimo Soares Barbosa; 
Imprensa Real da Universidade; Coimbra).
Finalmente, o erudito Francisco de Pina: o exórdio repentino ou veemente, 
“quando o orador, com toda a veemência, sai com uma proposição inopinada; como 
aquela de Cícero na primeira Oração contra Catilina: Quousque tandem abutere, 
Catilina, patientia nostra?”(Arte de Retórica, 1776, p. 54; Lisboa). 
7(
(
) Assim traduziu Napoleão Mendes de Almeida, latinista exímio, o conhecido lugar 
de Cícero (cf. Gramática Latina, 29a. ed., p. 371; Editora Saraiva; São Paulo).
6
escandalosas, uma população inteira, arruinada pela usura, 
errava na Itália, esperando só um chefe para se sublevar.
O momento era favorável para tentar qualquer 
empresa audaciosa; Catilina aproveitou-o. Era homem de 
têmpera superior, mas profundamente corrompido. Tinha-se 
tornado centro de todos os devassos arruinados, de todos os 
que esperavam restabelecer a sua fortuna sobre as ruínas da 
cidade. Catilina chegou a fazer desta turba um partido, uma 
sorte de exército pronto para todas as violências e para 
todos os atentados.
Afastado do consulado, resolveu, por meio duma 
conspiração, degolar os cônsules, uma parte dos senadores, 
e apoderar-se do poder.
Nada tinha ainda transpirado da conjuração prestes a 
rebentar, e era uma vez Roma, se uma mulher, Fúlvia, não 
tivesse tudo descoberto a Cícero. Este fez então lançar o 
famoso decreto: Caveant consules...”(8), que se promulgava 
nos dias de crise e perigo.
III. Diversamente do português — em que os vocábulos 
têm uma sílaba tônica(9), marcada, quando necessário, com o 
8(
(
) “Caveant consules... Que os cônsules tomem cuidado. Fórmula com a qual o 
Senado Romano, nas grandes crises, investia os cônsules do poder ditatorial: Caveant 
consules ne quid detrimenti respublica capiat. Que os cônsules tomem cuidado para que 
a república não sofra algum dano” (Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas, 
1955, p. 83; Rio de Janeiro).
9(
(
) Sílaba tônica – “(...) aquela sobre a qual recai o acento tônico da palavra, isto é, 
aquela cujo tom predomina” (Napoleão Mendes de Almeida, Gramática Metódica da 
Língua Portuguesa, 29a. ed., p. 50; Edição Saraiva).
7
sinal diacrítico, por exemplo: intrépido, trôpego, júri, recém, 
rubrica, avaro, misantropo, etc. —, no latim as sílabas 
pronunciam-se conforme a quantidade (breves ou longas). A 
quantidade de uma sílaba é o tempo que se gasta na sua 
prolação. A sílaba longa equivale a duas breves.
Para indicar a vogal breve emprega o latim o 
sinal ˘ (braquia)(10); a vogal longa, um traço horizontal - 
(mácron). Assim: mēnsă, vīrtūs, jūdĭciārĭus.
Aqui vem a ponto o reparo de Júlio Comba, mestre 
em latim e insigne humanista:
“Acentuação. a) O acento latino não cai nunca sobre 
a última sílaba: amor (amor) pronuncia-se ámor. b) Nas 
palavras de mais de duas sílabas o acento cairá na 
penúltima, se esta for longa; cairá na antepenúltima, se a 
penúltima for breve: Amabāmus (amávamos), pronuncia-se 
amabámus; Oceănus (Oceano) pronuncia-se océanus; 
circumdăbĭtis (circundareis) prouncia-se circumdábitis” 
(Gramática Latina, 4a. ed., p. 18; Editora Salesiana Dom 
Bosco).
Autores modernos, para efeitos didáticos e por obviar 
a dificuldades em estabelecer os sinais indicativos da 
quantidade silábica — braquia ( ˘ ) e mácron ( - ) —, têm 
“Acentuação prosódica é a maior intensidadde de tom de uma sílaba em relação às 
outras do mesmo vocábulo.A sílaba mais acentuada diz-se predominante ou tônica. Tão 
relevante é o papel do acento tônico, que a este chamou Max Müller a alma e o centro 
de gravidade da palavra” (Osório Duque Estrada, A Arte de Fazer Versos, 1914, p. 62; 
Francisco Alves & Cia.).
10(
(
) Representação gráfica da braquia: “(...) pequena curva com a concavidade para 
cima ( ˘ )” (cf. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 11a. ed.; v. 
braquia).
8
usado o acento agudo para assinalar a sílaba tônica da palavra 
latina.
Em suma: embora os escritores romanos nenhum 
acento gráfico empregassem — pois nem os sinais de longa e 
breve eram de rigor —, pareceu bem que, para atender às 
conveniências do estudo, se introduzisse o costume de marcar 
as palavras latinas com o acento agudo ( ´ ), como têm 
praticado sujeitos de nomeada e raro saber. Obrou nesta 
conformidade José Lodeiro, ao recorrer à notação léxica 
(acento agudo) para ressaltar a sílaba tônica das palavras da 
bela sentença do poeta Ênio: “Amícus cértus in re incérta 
cérnitur”(Pequeno Dicionário de Frases Latinas, 1946, p. 
23; Edição Tabajara; Porto Alegre). Tradução: O amigo 
verdadeiro conhece-se nas ocasiões precisas.
(Isto em ordem à pronúncia; que, escrita a frase em 
latim, o uso do acento será de todo o ponto escusado: 
“Amicus certus in re incerta cernitur”).(11)
11(
(
) A prática de acentuar graficamente a sílaba tônica de palavra latina tem sido adotada 
por gramáticos e filólogos de pulso, como forma de se evitarem constantes solecismos 
prosódicos (“silabadas”).
Na verdade, à luz do pragmatismo que hoje parece orientar as ciências, importa mais 
saber, por exemplo, que na palavra “labore” — da expressão “pro labore” (pelo 
trabalho) — a sílaba tônica é a penúltima (“labóre”), do que declarar, pela craveira latina, 
a quantidade (breve ou longa) de suas sílabas...
Outro tanto, em referência ao advérbio “ubinam”, empregado por Cícero: “Ubinam 
gentium sumus?” (1a. Cat., cap. IV). Em que parte do mundo estamos? Atenta a 
quantidade de suas vogais, a palavra é marcada com a braquia ( ˘ ): “ŭbĭnăm”. Como a 
devemos pronunciar, porém?! Aqui é que está o busílis!
Eis por que autores de obras latinas, por amor da exação da pronúncia, têm optado 
pelo sinal de acento agudo ( ´ ) para marcar a sílaba tônica da palavra, como fez o 
abalizado Júlio Comba: “Úbinam (...)” (op, cit., p. 201). E outros mais: Mílton Valente, 
Gramática Latina, 82a. ed.; Ludus (Curso de Latim), 61a. ed.; Livraria Selbach; Porto 
Alegre; Júlio Comba, Gramática Latina, 4a. ed.; Programa de Latim (vols. I e II), 2003; 
9
IV. “Abútere” ou “Abutére”?
F. R. dos Santos Saraiva (Dicionário Latino-Português, 
9a. ed.; v. ăbūtŏr) traz os tempos primitivos do verbo que, em 
nosso vernáculo, significa abusar: “Ăbūtor, ăbūtĕrĭs, ăbūsŭs 
sum, ăbūtĭ”.(12)
De par com essa forma típica depoente, registra a 
seguinte, que averba de arcaica: “Ăbūtŏ, ăbūtĭs, ăbūtĕrĕ”. É 
seu paradigma o verbo “légere”, da 3a. conjugação.
A dar-se o caso que “abutere” — que consta da frase 
de Cícero — estivesse no modo infinitivo (presente), havia-
se de pronunciar “abútere” (abusar). Mas — e aqui bate o 
ponto! —, a forma verbal que empregou O Príncipe da 
Eloquência Romana foi “a da segunda pessoa do singular do 
futuro imperfeito do indicativo. Cícero emprega-a 
frequentemente (...)” (Maximiliano Augusto Gonçalves, 
Tradução das Catilinárias, 2a. ed., p. 22; Livraria H. Antunes 
Ltda.; Rio de Janeiro).(13)
Editora Salesiana Dom Bosco; Diurnal Monástico (latim – português), 1962; Edições 
“Lumen Christi”; C. Torres Pastorino, Latim para os Alunos, 1963; J. Ozon Editor; G. 
Campanini – G. Carboni, Vocabolario Latino-Italiano, 1957; Torino; V. César da 
Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957; 2 vols.; José Bushatsky, Editor; São 
Paulo, etc.
12(
(
) O Vocabolario Latino-Italiano, de G. Campanini – G. Carboni, pondo a mira em 
dar a conhecer ao leitor, “prima facie”, a escorreita prosódia das formas verbais, 
apresenta-as deste modo: “Abútor, abúteris, abúsus (a, um) sum, abúti”.
10
A forma verbal “abutere” — da fulminante invectiva 
de Cícero contra Catilina —, portanto, não admite, pelos 
regulares cânones gramaticais, senão a pronúncia “abutēre”, 
pois é longa a penúltima sílaba.
Daqui a razão por que mestres de latinidade, no 
intento de prevenir “estridentes silabadas” — na frase do 
preclaro João Ravizza(14) —, soem grafar a palavra com 
acento agudo: “abutére”.
Em suma: “Quousque tandem abutere, Catilina, 
patientia nostra”? Até quando enfim, Catilina, abusarás da 
nossa paciência?
V. Cícero, cujo nome estará eternamente associado aos 
homens de pensamento, aos artistas da palavra e aos cultores 
do Direito, é “o maior vulto da literatura latina”(15) e, junta-
mente, o espelho dos oradores e advogados.
Ilustrou, com infinitos exemplos, o poder imenso da 
palavra e expôs aos advogados, em soberbas lições, a arte de 
patrocinar causas judiciais e obter com a oratória triunfos 
singulares.
A leitura atenta e aturada de seus discursos haverá de 
descobrir aos que fazem profissão da vida forense as 
excelências da doutrina e os princípios que regem o exercício 
13(
(
) Assim entende esse lugar a generalidade dos latinistas: Mílton Valente, Gramática 
Latina, 82a. ed., p. 148; A. J. da Silva D’Azevedo, “Humanitas”, 4a. ed., p. 77; Nicolau 
Firmino, As Catilinárias, 4a. ed., p. 67; José Cretella Júnior, Latim para o Colégio, 
1950, pp. 152-153; Vandick Londres da Nóbrega, A Presença do Latim, 1962, vol. III, 
p. 44; José Pinheiro, Selecta Latina, 1960, vol. II, p. 284, etc.
14(
(
) A Morfologia Latina, 1934, p. 5.
15(
(
) Augusto Magne, Selecta Latina, 1914, p. 333.
11
da defesa e a técnica da argumentação à face dos pretórios da 
Justiça.
Ler Cícero, mesmo em tradução, é faiscar em terreno 
de inesgotáveis tesouros, que nenhum espírito culto e ávido 
de saber costuma desdenhar.
Que seja isto superior a toda a dúvida, para logo o 
conhecerá aquele que se detiver na leitura de seus lapidares 
discursos forenses, v.g.: Oração em Defesa de Róscio 
Amerino(16), “Pro Milone” (em favor de T. Ânio Milão)(17), 
“Pro Ligario” (em favor de Quinto Ligário)(18), “Pro 
16(
(
) Orçava Cícero pelos 27 anos de sua idade quando defendeu Róscio Amerino, 
acusado de parricídio.
17(
(
) “(...) a obra-prima da sua eloquência. Como diz um velho autor, cada parte é 
perfeita no seu gênero; admira-se a majestade do exórdio, a clareza da narração, a 
conexão das provas, o vigor dos pensamentos; finalmente o patético lastimoso, que é 
como a alma da peroração” (Arlindo Ribeiro da Cunha, “In Catilinam”, 1943, p. 
CXL; Livraria Cruz; Braga).
18(
(
) Dos primores desta oração disse tudo Plutarco, ao escrever: “Quinto Ligário foi 
processado como inimigo de César, e Cícero encarregou-se de o defender. Sabendo disto, 
César disse aos seus amigos: Que mal pode haver em deixarmos falar Cícero? Há já 
muito tempo que não o ouvimos. O cliente dele é um homem pérfido, é meu inimigo; já 
está condenado de antemão. Mas Cícero impressionou extraordinariamente o juiz, desde 
o começo de seu discurso; à medida que ia falando, excitava paixões tão contraditórias, 
dava à sua linguagem uma tal doçura e encanto, que houve quem visse César mudar 
muitas vezes de cor, e revelar, na fisionomia, os diversos sentimentos que lhe agitavam a 
alma. Quando, por fim, o orador falou na batalha de Farsália, César, não podendo 
dominar os nervos, começou a tremer, e deixou cair os papéis que tinha na mão. Cícero,vencendo o ódio do julgador, obrigou-o a absolver Ligário”(Varões Ilustres — 
Demóstenes e Cícero —, 1944, p. 230; trad. Mário Gonçalves Viana; Editora Educação 
Nacional; Porto).
Por fim, o juízo crítico do tradutor, em nota de pé de página:
“Este discurso é, com efeito, uma peça oratória admirável, e o triunfo de Cícero, 
alcançado em condições tão adversas, é um dos mais assombrosos exemplos do poder 
convincente e avassalador da palavra falada” (Idem, ibidem).
12
Murena” (por Licínio Murena), Em Defesa do Poeta 
Árquias, “Pro Marcello”(19), Catilinárias, Verrinas, etc.
VI. Textos Antológicos de Cícero
l. “Justitia omnium est domina et regina virtutum” (De 
Officiis, III, 6).
 A justiça é a senhora e rainha de todas as virtudes.
2. “Cedant arma togae” (De Off., I, 21).
 Cedam as armas à toga.
3. “Dubitando ad veritatem pervenimus” (Tusculanae 
Disputationes, I, 30, 73).
 Duvidando chegamos à verdade.
4. “Deum non vides tamen Deum agnoscis ex operibus 
suis” (Tusc. Disp., I, 29).
 Não vês Deus, mas tu o conheces pelas suas obras.
5. “Errare malo cum Platone quam cum istis vera 
sentire”(Tusc. Disp., I, 17, 39).
 Prefiro errar com Platão a ter razão com esses. 
6. “Historia vero testis temporum, lux veritatis, vita 
memoriae, magistra vitae, nuntia vetustatis”(De Oratore, II, 
9, 36).
19(
(
) “Pela elegância de estilo, viveza de sentimentos e habilidade nos elogios feitos ao Senhor do 
Mundo, é, no gênero, uma das obras mais perfeitas que a antiguidade nos legou” (Arlindo 
Ribeiro Cunha, op. cit., p. CXLVI).
13
 A História é a testemunha dos tempos, a luz da verdade, 
a vida da memória, a mestra da vida, a mensageira da 
antiguidade.
7. “Summum jus, summa injuria” (De Off., I, 10, 33).
 Justiça excessiva torna-se injustiça.
8. “Patria est communis omnium parens”(Cat. , I, 7).
 A pátria é a mãe comum de todos nós.
9. “Praeterita mutare non possumus” (In Pisonem, XXV, 
59).
 Não podemos mudar o passado.
10. “Verae amicitiae sempiternae sunt” (De Amicitia, IX, 
32).
 As verdadeiras amizades são eternas.
11. “Imago animi vultus” (De Orat., III, 59).
 O rosto é o espelho da alma.
12. “Nihil difficile amanti puto” (Orator, X, 39).
 Penso que nada é difícil para quem ama.
13. “Cujusvis hominis est errare; nullius, nisi insipientis in 
errore perseverare” (Phil., XII, 5).
 É próprio do homem errar; mas só do ignorante 
perseverar no erro.
14. “Cum tacent, clamant” (Cat. I, VIII).
 O silêncio deles é uma eloquente afirmação.
14
15. “Habes somnum imaginem mortis” (Tusc. Disp., III, 3, 
6).
 Tens o sono, imagem da morte.
16. “Accipere quam facere praestat injuriam” (Tusc. Disp., 
V, 19, 56).
 É melhor sofrer que cometer injustiça.
17. “Nihil tam absurdum dici potest, quod non dicatur ab 
aliquo philosophorum”(De Divinatione, I, 58).
 Não há coisa, por mais absurda, que já não tenha sido 
afirmada por algum filósofo.
18. “Nemo igitur vir magnus sine aliquo afflatu divino 
unquam fuit” (De Natura Deorum, II, 167).
Nenhum grande homem ainda existiu, sem que nele 
houvesse uma como centelha divina.
19. “Optimus est enim orator, qui dicendo animos 
audientium et docet, et delectat, et permovet” (De Optimo 
Genere Oratorum, I, 3).
 É ótimo orador aquele que, falando, não só instrui, como 
deleita e comove os ouvintes.
20. “Ut enim magistratibus leges, ita populo praesunt 
magistratibus; vereque dici potest magistratum legem esse 
loquentem, legem autem mutum magistratum”(De Legibus, 
III, 2).
15
 Como as leis guiam os magistrados, assim os 
magistrados o povo. Poder-se-ia dizer em verdade que o 
magistrado é a Lei falando, e a Lei o magistrado mudo.
21. “Consuetudo quasi altera natura” (De Finibus 
Bonorum et Malorum, V,25).
O hábito é quase uma segunda natureza.
22. “Amicitia magis elucet inter aequales (De Amic., XXVII, 
10l).
A amizade mais reluz entre os iguais.
23. “Haec igitur lex in amicitia sanciatur, ut neque rogemus 
res turpes nec faciamus rogati” (De Amic., XII, 40).
Seja esta a primeira lei da amizade: não pedir aos amigos 
nem fazer-lhes senão coisas honestas.
24. “Nihil est enim quod studio et benevolentia vel amore 
potius effici non possit” (Ad Familiares, III, 9).
Nada existe que se não possa fazer com dedicação, 
bondade e amor.
25. “Notatio Naturae et animadversio peperit artem” 
(Orator, LV, 183).
Da observação atenta da Natureza nasceu a arte.
26. “Si hortum in bibliotheca habes, deerit nihil” (Ad 
Familiares, IX, 4).
Se tens um jardim ao lado da biblioteca, nada aí faltará.
27. “Mendaci ne verum quidem dicenti creditur” (De 
Divinatione, II, 146).
16
O mentiroso não é acreditado ainda quando diz verdade.
28. “Quid est sanctius, quid omni religione munitius, quam 
domus uniuscujusque civium?” (Pro Domo Sua, 109).
Que há de mais sagrado nem mais santo em toda a 
religião que a casa do indivíduo?
29. “Nihil est aliud bene et beate vivere, nisi honeste et recte 
vivere” (Paradoxa, XV).
Viver bem não é outra coisa que viver reta e honestamente.
30. “Judicium hoc omnium mortalium est, fortunam a Deo 
petendam, a ipso sumendam esse sapientiam” (De Natura 
Deorum, III, 36).
É opinião comum dos mortais que a fortuna provém de 
Deus; a sabedoria, essa devemos procurar em nós mesmos.
31. “Perjuri poena divina exitium, humana dedecus” (De 
Legibus, II, 22).
A pena divina reservada ao perjúrio é a destruição; os 
homens castigam-no com a infâmia.
32. “Meminerimus etiam adversus infimos justitiam esse 
servandam” (De Off., I, 13, 41).
Lembremo-nos de que também em relação às pessoas da 
última esfera devemos praticar justiça.
33. “Nemo doctus unquam mutationem consilii 
inconstantiam dixit esse” (Ad Atticum, XVI, 7).
Nenhum douto jamais averbou de inconstância o mudar 
de parecer.
17
34. “Omnium rerum principia parva sunt” (De Finibus, V, 
58).
Os princípios de todas as coisas são pequenos.
35. “Mens et animus et sententia civitatis posita sunt in 
legibus” (Pro Cluentio, LIII, 146).
O espírito, a alma e a sabedoria de um povo residem nas 
suas leis.
36. “Mihi omne tempus est ad meos libros vacuum, nunquam 
sunt illi occupati” (De Republica, I, 9).
Para os meus livros tenho sempre tempo, e eles estão 
sempre livres para mim.
37. “Honos praemium virtutis” (Brutus, LXXX).
O louvor é o galardão do mérito.
38. “Fundamentum est justitiae fides, id est, dictorum 
conventorumque constantia et veritas” (De Off., I, 7).
O fundamento da justiça é a boa-fé, a saber, a firmeza e 
sinceridade nas palavras e contratos.
39. “Aliud est male dicere, aliud accusare. Accusatio crimen 
desiderat, rem ut definiat, hominem notet, argumento probet, 
teste confirmet. Maledictio autem nihil habet propositi, 
praeter contumeliam” (Pro Caelio, III, 6).
Uma coisa é acusar ou denunciar, outra dilacerar uma 
reputação. A acusação requer a descrição do fato criminoso e 
a indicação do autor, instruída a causa com argumentos e 
18
testemunhas. A maledicência, ao revés, não arma a outro fim 
que ofender a honra alheia.
40. “In plerisque rebus mediocritas optima est” (De Off., I, 
36).
Em muitas coisas a mediania é ótima.
41. “Memoria est thesaurus omnium rerum et custos” (De 
Orat., I, 18).
A memória é tesouro e custódia de todas as coisas.
42. “Homo praeclara quadam ratione generatus est a 
supremo deo”(De Leg., I, 22).
O homem é gerado de um deus supremo por uma 
recôndita razão.
43. “Nil honestum esse potest quod justitia vacat” (De Off.,I, 19).
Nada pode ser honesto, que não se conforme com a 
justiça.
44. “Cavendum est ne major poena quam culpa sit” (De Off., 
I, 24).
Cumpre atender a que seja a pena proporcional à culpa.
45. “Prudentia est locata in delectu bonorum et malorum” 
(De Fin., V, 23, 67).
Consiste a prudência em discernir o bem do mal.
46. “Ratio docet et explanat quid faciendum fugiendumve 
sit” (De Off., I, 28).
19
A razão ensina e explica o que se deve fazer e o que se 
deve evitar.
47. “Breve enim tempus aetatis, satis longum est ad bene 
honesteque vivendum” (De Senectute, XIX, 70).
Breve é a duração da vida, mas bastante longa para viver 
bem e honestamente.
48. “Nihil est veritatis luce dulcius” (Academica, II, 31).
Nada é mais doce que a luz da verdade.
49. “In omni re vincit imitationem veritas” (De Orat., III, 57, 
215).
Em todas as coisas, a verdade vence a imitação.
50. “Veritas vel mendacio corrumpitur, vel silentio” (De 
Off., I, 23).
A verdade corrompe-se com a mentira ou com o silêncio.
_________________
 Bibliografia:
1) Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas,1955;
2) Renzo Tosi, Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas, 2000; 
trad. Ivone Castilho Benedetti; Martins Fontes;
3) Ettore Barelli e Sergio Pennachietti, Dicionário das Citações, 
2001; trad. Karina Jannini; Martins Fontes;
4) Marco Túlio Cícero, Diálogos, 1911; trad. Duarte de Resende; 
Livraria Garnier, Irmãos;
20
5) Napoleão Mendes de Almeida, Dicionário de Questões 
Vernáculas, 1a. ed.; Editora Caminho Suave Ltda.;
6) Mílton Valente, A Ética Estoica em Cícero, 1984; Editora da 
Universidade de Caxias do Sul;
7) José Lodeiro, Pequeno Dicionário de Frases Latinas, 1946;
8) Paulo Rónai, Não Perca o seu Latim, 1980; Editora Nova 
Fronteira.
9) Cicero, Laelius (seu De Amicitia), 1987; trad. Nicola Flocchini; 
Milano;
10) Cicéron, Lettres Familières, 1935; Garnier; Paris;
11) Cicerone, L’Oratore, 1968; Giannicola Barone; Mondadori; 
Milano;
12) L. de Mauri, Flores Sententiarum, 1990; Hoepli; Milano;
13) Cícero, Da Velhice e da Amizade, 1964; trad. Tassilo Orpheu 
Spalding; Editora Cultrix; São Paulo.
VII. Outros “Cíceros”
Em todas as nações civilizadas houve oradores que, 
por discursarem com suma elegância perante assembleias, à 
maneira do gênio da tribuna romana, passaram à posteridade 
com o cognome de “Cícero”.
1. Dom Jerônimo Osório (1506-1580), bispo de Silves, 
autor de numerosas obras em língua latina — “De Regis 
Institutione et Disciplina” (Da Instituição Real e sua 
Disciplina, 1944; trad. Antônio J. da Cruz Figueiredo; 
Edições Pro Domo; Lisboa); “De Rebus Emmanuelis Gestis” 
(Da Vida e Feitos de el-Rei D. Manuel, 1944, 2 tomos; trad. 
Francisco Manuel do Nascimento (Filinto Elísio); Livraria 
21
Civilização – Editora; Porto); “De Gloria” (Tratado da 
Glória, 2005; trad. A. Guimarães Pinto; Imprensa Nacional 
– Casa da Moeda; Portugal); “De Justitia” (Tratado da 
Justiça, 1999; trad. A. Guimarães Pinto; Imprensa Nacional 
– Casa da Moeda; Portugal), etc. —, “é geralmente 
conhecido pelo Cícero Lusitano” (Aubrey F. G. Bell, O 
Humanista Dom Jerônimo Osório, 1933, p. 9; trad. Antônio 
Álvaro Dória; Imprensa da Universidade; Coimbra).
2. Pe. Antônio Vieira (1608-1697) — “mestre Vieira, o 
grande”, como lhe chamou Rui (Réplica, nº 332) — foi 
cognominado “O Cícero Português”:
a)“Começou em segundo lugar o nosso Túlio Português 
o seu discurso” (André de Barros, Vida do Apostólico 
Padre Antônio Vieira, 1746, p. 400; Oficina Silviana; 
Lisboa); 
b)“Seus compatriotas o cognominaram Cícero Lusitano; 
e de fato merece esta honrosa distinção” (Biografia 
Universal, vol. 48; apud Luís Gonzaga Cabral, Vieira 
Pregador, 1936, p. 415; Livraria Cruz; Braga).
3. José Estêvão (1809-1862), insigne tribuno português:
a) “(...) por duas vezes mostrou que era no foro rival de 
Cícero(...)” (Joaquim Simões Franco, Discursos Parlamen-
tares de José Estêvão Coelho de Magalhães, 1878, p. X; 
Imprensa Comercial; Aveiro);
b) “Morreu o Deus da palavra, assim escreveu o nosso 
primeiro jornalista, consagrando um artigo ao passamento 
do grande tribuno português, do Cícero do nosso 
parlamento, José Estêvão Coelho de Magalhães” (J.A. de 
22
Ornelas; apud Camilo Castelo Branco, Correspondência 
Epistolar, 1968, t. II, p. 168; Parceria A. M. Pereira Ltda.; 
Lisboa).
4. Emílio Castelar (1832-1899), grande orador espanhol:
“Seu mestre foi Cícero. E, como o tribuno romano, 
procurava vestir as suas ideias com roupagens rutilantes” 
(Hélio Sodré, História Universal da Eloquência, 3a. ed., vol. 
II, p. 388; Editora Forense; Rio de Janeiro).
5. Daniel Webster (1782-1852), “o americano mais 
eloquente”:
“Cícero seduziu-o. Leu seus discursos com delírio e 
satisfação. Decorou muitos trechos de sua preferência, os 
quais costumava repetir, em voz alta” (Hélio Sodré, op. cit., 
p. 414).
6. Belisário Roldan (1873-1911):
“Todavia, forçoso é reconhecer que melhor lhe caberia o 
título de Cícero argentino” (Idem, ibidem, p. 526).
7. Também ao nosso Rui (1849-1923) foi dado o epíteto não 
só de “Águia de Haia”, senão ainda (e com assaz de razão) 
de “Cícero Brasileiro” (cf. Laudelino Freire, Rui, 1958, pp. 
24 e 99):
a) “Possuía como Cícero, como Vítor Hugo, em grau 
insólito, o dom da amplificação e desenvolvimento das 
ideias” (Antão de Morais, Rui Barbosa, 1923, p. 40);
b) “E Rui Barbosa amou os livros, amou-os como se deve 
amar às coisas dignas de amor. Nisto era ainda igual a 
Cícero, que os estimava entranhadamente, e tinha a sua 
23
biblioteca como a alma da casa” (Homero Pires, Rui 
Barbosa e os Livros, 1949, p. 18; Casa de Rui Barbosa).
24
VIII. Juízos, Notícias e Curiosidades acerca de Cícero
1. “Patérculo afirmou: o gênero humano desaparecerá da 
terra antes de que a glória de Cícero desapareça de sua 
memória” (V. César da Silveira, Dicionário de Direito 
Romano, 1957, vol. I, p. 127).
2. “(...) aquele grande orador Marco Túlio, cume da 
oratória, ao qual entre todos os mortais foi reservada a 
palma da humana eloquência” (Heitor Pinto, Imagem da 
Vida Cristã, 1940, vol. I, pp. 31-32; Livraria Sá da Costa – 
Editora; Lisboa).
3. “Cícero é o maior vulto da literatura latina” (Augusto 
Magne, Antologia Latina, 3a. série, 1943, p. 151; Editora 
Anchieta).
4. “Santo Agostinho (De Magistro, V, 16: Quid in lingua 
latina excellentius Cicerone inveniri potest?” (Idem, ibidem, 
p. 155).
Que é o que se pode encontrar na língua latina superior a 
Cícero?
5. “Segundo Quintiliano, os contemporâneos de Cícero 
diziam ser ele o rei da barra (regnare in iudiciis); a 
posteridade, porém, afirma o mesmo gramático, não mais 
considerou Cícero como nome de um homem, mas como o 
símbolo da eloquência: apud posteros vero id consecutus, ut 
Cicero iam non hominis nomen, sed eloquentiae habeatur 
(Inst. X, 1, 112)” (Bernardo H. Harmsen, Cícero – 
Antologia, 1959, p. 10; Editora Vozes).
25
6. Cícero: “O mais alto entendimento que tem honrado a 
nossa espécie” (Rui, Obras Completas, vol. XXXVIII, t. II, 
p. 66).
7. Cícero: “O maior orador político de todos os tempos e 
de todas as literaturas. De tal forma que Santo Agostinho 
chegou a dizer que, se pudesse viajar de volta ao passado, 
teria desejado acima de tudo presenciar duas coisas: Jesus 
Cristo pregando às multidões e Cícero discursando no 
Senado” (João Paixão Neto, Literatura Latina, 1995, p. 63; 
Editora Teresa Martin).
8. “Magna eratCiceronis facundia: lapides lamentari 
coegisset. Grande era a eloquência de Cícero: teria feito 
chorar as pedras” (E. Ragon, Primeiros Exercícios de 
Latim, p. 156).
9. “Marco Túlio, que ilustrou a filosofia latina e meteu o 
mundo em admiração com sua rica língua e alta 
eloquência...” (Heitor Pinto, op. cit., vol. IV, p. 258).
10. “Dizem que S. Jerônimo, por causa de Cícero, levou 
uma sova dos anjos” (Heitor Pinto, op. cit., vol. IV, p. 258; 
nota de rodapé).
11. Visão que teve São Jerônimo: “Então o que presidia 
disse-me: Estás a mentir. É ciceroniano que tu és, mas não 
cristão” (in Tratado da Imitação, de Dionísio de 
Halicarnasso, 1986, p. 26; Raul Miguel Rosado Fernandes 
et alii; Centro de Estudos Clássicos das Universidades de 
Lisboa).
12. Cícero: “Cicer, em latim, significa grão de bico” 
(Plutarco, Vidas dos Homens Ilustres – Demóstenes e Cícero 
–, 3a. ed.; trad. Sady-Garibaldi).
26
13. “Cícero quer dizer ervilha, e Marco Túlio tomou esse 
nome porque um dos seus ascendentes apresentava na ponta 
do nariz uma protuberância que lembrava um grão de 
ervilha, e recebera esse apelido. Cícero chegou certa vez a 
mandar gravar num vaso de prata o seu nome Marco Túlio a 
que mandou se ajuntasse, gravado, um grão de bico ou 
ervilha” (Alfredo Xavier Pedroza, Compêndio de História 
da Literatura Latina, 1947, p. 58; Imprensa Oficial; Recife).
14. “Sabendo da sorte que o esperava, o Orador resolvera 
dirigir-se ao Oriente, aos arraiais de Bruto, e chegou a pôr-
se a caminho. Depois de muitas hesitações, voltou, porém, a 
uma das suas casas da Campânia e, quando ia de liteira em 
direção ao mar, foi surpreendido por Popílio, tribuno militar, 
e Herênio, que, por ordem de Antônio, lhe cortou a cabeça 
com que pensara as Filípicas e as mãos com que as 
escrevera.
Aquela cabeça singular foi colocada, entre as duas mãos, 
no meio dos esporões da tribuna do Forum.
Contam que Fúlvia, esposa de Antônio, que se dizia 
ofendida pelo defunto Orador, quisera exercer nela a sua 
vingança de mulher. Tomou-a com ambas as próprias mãos, 
pousou-a nos joelhos e extraiu-lhe a língua, que ia 
espicaçando com o bico duma agulha” (Arlindo Ribeiro da 
Cunha, “In Catilinam”, 1943, p. CLXI; Livraria Cruz; 
Braga).
15. Refere Pantaleão de Aveiro que se achara na cidade de 
Zante, ilha da Grécia, a sepultura de Marco Túlio Cícero, e 
dentro dela “dois vasos de vidro muito maciço”: guardava 
um “a cinza de seu corpo”; no outro “haviam estado as 
27
lágrimas dos amigos”. Tinham estes frascos seus letreiros. O 
das cinzas: “Urna cinerum”; o das lágrimas: “Urnula 
lachrymarum amicorum” (cf. Itinerário da Terra Santa, 
1927; pp. 19-20; Imprensa da Universidade).
l6. “Petrarca não se consolava de haver perdido o De 
Gloria, de Cícero, dádiva com que o brindara o jurisconsulto 
Raimond Soranzo, e que ele emprestara ao seu velho mestre 
Convennole, que, sempre sem recursos, o dera em penhor a 
um desconhecido. Mais que Petrarca, foi o patrimônio 
mental da humanidade atingido desse grave deslize, só em 
virtude de um empréstimo fatal. E assim em nenhuma parte 
nem no comércio dos livros no século, nem nas coleções dos 
conventos, nem nas das idades modernas, se encontrou 
jamais o extraviado livro de Cícero” (Homero Pires, Rui 
Barbosa e os Livros, 1949, p. 99).
17. Em seu imortal Poema, Dante colocou Cícero no 
primeiro Círculo (IV, 141): “entra com Virgílio no Limbo 
(...); continuando, vão dar a um senhoril castelo, dentro do 
qual estanceiam os sábios da antiguidade, que, embora 
pagãos, tiveram vida virtuosa”.
“(...) e Túlio, por muito estimado por Dante, que do seu 
livro De Amicitia serviu-se como de guia para introduzi-lo 
nas partes mais íntimas da filosofia, inspirando-lhe todo o 
amor por esta ciência (...). É Cícero por ele recomendado, 
não só como insigne entre os filósofos, e oradores, mas como 
virtuoso cidadão, por ter contra Catilina defendido a 
liberdade romana (...)” (A Divina Comédia de Dante 
Alighieri – O Inferno –, 1886, pp. 113 e 127; trad. Joaquim 
Pinto de Campos; Imprensa Nacional; Lisboa).
18. Numa livraria, pergunta o cliente à vendedora:
28
 — A senhora tem o livro As Catilinárias de Cícero?
E a vendedora (sem dissimular radiante ignorância):
— Infelizmente, não! Arte Culinária só temos a de Dona 
Benta!
19. “Mitto tibi navem prora puppique carentem”. Envio-te 
uma nave sem proa nem popa.
Saudação que Cícero mandou a um amigo. Com efeito, se 
de “navem” tirarmos a proa e a popa – o n e o m –, ficará 
“ave”, isto é, “bom dia!” (cf. Arthur Rezende, Frases e 
Curiosidades Latinas, 1955, p. 416; Rio de Janeiro).
20. Na Capital do Estado de São Paulo tem Cícero seu 
monumento, no Largo do Arouche. Executou-o Galimberti 
Poletti, arquiteto e escultor. Guilherme de Almeida, 
“Príncipe dos Poetas Brasileiros”, compôs-lhe a seguinte 
inscrição:(20)
20(
(
) Cf. O Monumento a Cícero, de Galimberti Poletti, 1961, p. 3; “Graeca & Latina”; 
Editora Sociedade Brasileira de Expansão Comercial Ltda.
29
A RENOVAR NO BRONZE PERENE A TUTELAR
E UNIVERSAL IMAGEM DE MARCO TÚLIO
CÍCERO, UM DIGNO ARTISTA — O CONDE
HUBERTO GALIMBERTI POLETTI DE ASSANDRI
— MODELOU ESTA IMAGEM DO SUPREMO 
MODELADOR DA “LINGUA MATER”, 
BUSCANDO EXPRIMIR-LHE DA MENSAGEM
O ALCANCE, DA ELOQUÊNCIA A ALTURA, 
DO ESTILO A ELEGÂNCIA, DO HOMEM A 
VERDADE E, JUNTO A ESTE MARCO 
ESPIRITUAL DA LATINIDADE, A 
UNIÃO NACIONAL DE CULTURA
GRECO-LATINA,
 QUE O ERIGIU,
FAZ POR UM INSTANTE — “CEDANT TEMPORA
TOGAE” — PARAR A “CIDADE QUE NÃO PARA”.
“MACTE”.
 
SÃO PAULO, XQI – VII – MCMLX
Guilherme de Almeida(*)
____________
(*) A placa de bronze, em que estava gravado o elogio histórico de Cícero, mãos 
criminosas furtaram para sempre! É bem o caso, pois, de exclamar com o excelso Orador: 
“O tempora, o mores!”.
CB
30
Busto de Cícero
(Museo Capitolino, Roma)
Fig. 1
31
Cícero e Catilina
Mural de Cesare Maccari (1840-1919);
Palazzo Madama (Senado Italiano), Roma
Fig. 2
32
Estátua de Cícero
(Largo do Arouche; São Paulo, Brasil;
Escultor: Galimberti Poletti)
Fig. 3
33

Outros materiais