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AN02FREV001 28 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIABETES E HIPERTENSÃO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001 29 CURSO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIABETES E HIPERTENSÃO MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001 30 MÓDULO II 4 HIPERTENSÃO ARTERIAL A Hipertensão Arterial tem sido motivo de muitos estudos e pesquisas nos últimos anos e muitos progressos foram feitos de modo a tratar e prevenir essa doença. Apesar de todos os tratamentos hoje considerados efetivos, cabe salientar que o principal foco ainda é a prevenção. Segundo Veiga e Crossetti (1998) Pressão Arterial é a pressão que o sangue exerce dentro das artérias. A pressão máxima denomina-se sistólica e ocorre quando o ventrículo esquerdo do coração empurra o sangue até a aorta; e a pressão mínima, chamada diastólica, é a pressão que está presente continuamente nas paredes arteriais. A Hipertensão Arterial é uma doença que pode ocorrer em homens ou mulheres, jovens e até mesmo em crianças. Nos adultos, a cada cinco pessoas estima-se que uma seja hipertensa e nos idosos ela pode ser diagnosticada em uma a cada duas pessoas. Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), a hipertensão, ou pressão alta, existe quando a pressão arterial apresentar-se igual ou superior a 140/90 mmHg, em verificações repetidas realizadas pelo médico ou profissional de saúde. Esta situação ocorre porque os vasos nos quais o sangue circula se contraem e fazem com que a pressão do sangue se eleve. Segundo Brunner & Suddarth (1998) a hipertensão é definida como a presença de um nível persistente de pressão arterial em que a pressão sistólica encontra-se acima de 140 mmHg e a pressão diastólica acima de 90 mmHg. Considera-se a Hipertensão Arterial ou pressão alta uma situação anormal que pode afetar tanto homens quanto mulheres, independente da idade. De acordo com Bolner (2006), se não for controlada pode causar derrame cerebral, infarto, deficiência dos rins, entre outros males. AN02FREV001 31 A medida da pressão arterial representa o valor da pressão calibrada em milímetros de mercúrio (mmHg), que é a unidade padrão. O primeiro número, que é o de maior valor, é chamado de pressão sistólica ou máxima. Este ocorre quando o coração se contrai, o que chamamos de sístole. O segundo número é o de menor valor, que é chamado de pressão diastólica ou mínima, onde neste caso, o coração encontra-se na fase do relaxamento, o que chamamos de diástole. A pressão sistólica normal (pressão máxima), varia de 110 a 130 mmHg e diastólica normal (pressão mínima) varia de 65 a 75 mmHg. Registrada com o valor da pressão sistólica antes da diastólica, por exemplo, 120/80. A diferença entre as duas medidas, neste caso 40, é denominada pressão de pulso. Em casos que o paciente apresenta pressão elevada, chamamos de hipertensão e, ao contrário, apresentando pressão baixa, chamamos de hipotensão. (POTTER, PERRY, 1999). A pressão ou tensão arterial é um parâmetro de suma importância na investigação diagnóstica, sendo obrigatório em toda consulta de qualquer especialidade; relacionando-se com o coração, traduz o sistema de pressão vigente na árvore arterial. É medida com a utilização do esfigmomanômetro e do estetoscópio. Segundo Duncan (2006), um indivíduo pode se considerar hipertenso quando sua pressão arterial sistólica fica igual ou superior a 140 mmHg e a pressão diastólica igual ou superior a 90 mmHg. A identificação destes valores aumenta significativamente o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Neste aspecto é comum o surgimento de crises hipertensivas que incluem além da elevação da pressão arterial, uma associação com lesões do Sistema Nervoso Central (SNC), do coração e dos rins. Na ocorrência destes fatos, o diagnóstico e o tratamento devem ser imediatos e essenciais, pois as manifestações clínicas destas crises dependem do grau de lesão dos órgãos-alvo (lesões nos olhos, cérebro, coração, rins e membros inferiores). Vale destacar que as lesões ou disfunções dos diversos órgãos são incomuns com uma pressão arterial inferior a 130 mmHg. Desta forma, pode-se afirmar que o ideal é mantermos a medida normal da pressão arterial entre os limites de 120/80 mmHg a 140/90 mmHg, reduzindo AN02FREV001 32 desta forma riscos com a saúde. No Brasil são cerca de aproximadamente 17 milhões o número de portadores da Hipertensão Arterial, sendo que 35% da população estão na faixa etária dos 40 anos para mais. Contudo, seu aparecimento é cada vez mais precoce e cerca de 4% destes portadores são crianças e adolescentes. A morbidade ainda é muito alta, sendo um problema grave de saúde pública no mundo todo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 5 FISIOLOGIA Para entender melhor todo o mecanismo envolvido na aferição da Pressão Arterial, seus resultados e anormalidades é importante revisarmos fisiologicamente o Sistema Circulatório, ao qual a pressão arterial está envolvida. O coração é formado por duas bombas distintas, como mostrado na Figura 1, uma delas bombeia o sangue para os pulmões, enquanto a outra bombeia o sangue que sai dos pulmões para todo o resto do corpo. Assim, o sangue flui ao longo de um circuito contínuo, denominado Sistema Circulatório. AN02FREV001 33 FIGURA 1 – OS COMPONENTES FUNCIONAIS DO CORAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd127/exerci1.jpg>. Acesso em: 21 maio 2009. O sangue ao atingir o átrio direito, trazido pelas grandes veias, é forçado pela contração arterial a passar pela válvula tricúspide, enchendo o ventrículo direito. O ventrículo direito bombeia o sangue através da válvula pulmonar para a artéria pulmonar e, daí para os pulmões e, finalmente, pelas veias pulmonares, para o átrio esquerdo. A contração do átrio esquerdo força o sangue a passar pela válvula mitral para o ventrículo esquerdo, de onde, pela válvula aórtica, atinge a aorta e, por essa artéria, toda circulação sistêmica. A circulação é dividida em duas definições. A Pequena Circulação ou Circulação Pulmonar, onde a veia cava inferior e superior levam sangue ao átrio direito, daí através da válvula tricúspide chega ao ventrículo direito, sendo então conduzida a artéria pulmonar que leva aos pulmões e retorna ao átrio esquerdo do coração pelas veias pulmonares, conforme figura 2. esqu esqu retor FONT Na Gr uerdo ao v uerdo é bo rnando ao FIG TE: Disponíve rande Circu ventrículo ombeado p átrio direit GURA 2 – el em: <http// ulação ou esquerdo para o cor to pelas ve PEQUENA /www.prof20 Circulaçã pela válvu rpo, saindo eias cavas, A CIRCULA 000.pt>. Aces o Sistêmic ula bicúspi o pela válv , conforme AÇÃO sso em: 21 m ca o sangu ide ou mit vula aórtic e figura 3. maio 2009. ue passa d tral. Do ve ca e artéria AN 34 do átrio entrículoa aorta, N02FREV001 4 AN02FREV001 35 FIGURA 3 – GRANDE CIRCULAÇÃO FONTE: Disponível em:<http://www.soscorpo.com.br/anatomia/grande_circulacao.jpg>. Acesso em: 21 maio 2009. Os dois átrios são bombas de escorva que forçam quantidades adicionais de sangue para o interior dos ventrículos respectivos, imediatamente antes da contração ventricular. Essa propulsão de sangue adicional faz com que os ventrículos atuem como bombas muito mais eficientes do que seriam sem esse mecanismo especial de enchimento. Entretanto, os ventrículos são tão possantes que ainda são capazes de bombear grandes quantidades de sangue mesmo quando os átrios não estão funcionando. A Figura 4 representa um corte microscópio de um músculo cardíaco; as fibras possuem mesma estriação transversa, que é característica de músculo esquelético. Isso porque o músculo cardíaco possui o mesmo tipo de mecanismo cont esqu card sinc onde tamb corre o ou duas e os segu por Dess trátil por fila uelético. Entreta díacas são ício. 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Essas os átrios ntas é a propaga contraia. ponto, o N02FREV001 6 AN02FREV001 37 potencial de ação é propagado tanto para o átrio direito quanto para o átrio esquerdo, o que faz com que todo o complexo das paredes atriais contraia a um só tempo, do que resulta a contração do sangue para passar pelas válvulas mitral e tricúspide. Em seguida, quando o potencial de ação é propagado pelo músculo ventricular, vai exercitar todo o músculo sincicial ventricular. Portanto, todas as paredes ventriculares contraem a um só tempo e o sangue contido no interior de suas câmeras é bombeado, de modo adequado, através das válvulas aórtica e pulmonar para as artérias. A maioria das fibras musculares cardíacas é capaz de contrair ritmicamente. Isso é verdade, em especial, para grupo de pequenas fibras cardíacas, situadas na parede superior do átrio direito, que formam o nodo sinoatrial, ou simplesmente, nodo SA. A figura 5 abaixo mostra os potenciais de ação rítmicos que são gerados em uma fibra do nodo SA. FIGURA 5 – DESCARGA RÍTMICA DE UMA FIBRA DO NODO AS FONTE: Guyton,1988. A causa dessa ritmicidade é a membrana das fibras SA , que mesmo em repouso são muito permeáveis ao sódio. Portanto, grande número de íons sódio AN02FREV001 38 passa para o interior da fibra, fazendo com que o potencial da membrana em repouso se desvie, continuamente, para valor mais positivo. Logo que o potencial da membrana atinge nível crítico, chamado de valor “limiar”, é produzido um potencial de ação, o que ocorre abruptamente. Ao término desse potencial de ação, a membrana fica, temporariamente, menos permeável aos íons sódio, mas ao mesmo tempo mais permeável do que o normal aos íons potássio e a saída desses íons, transportando cargas positivas para o exterior, faz com que o potencial de membrana fique muito negativo, mais negativo que nunca, caracterizando o estado de hiperpolarização, devido à perda excessiva de cargas positivas. Essa condição persiste por fração de segundos e, logo depois, desaparece, visto que as permeabilidades aos íons sódio e potássio retornam a seus valores normais, quando a maior permeabilidade ao sódio da membrana faz com que ocorra outro potencial de ação. Esse processo perdura sem interrupção por toda a vida, o que leva à excitação rítmica das fibras do nodo SA, na frequência normal em repouso de 72 batimentos por minuto, representando o total de cerca de dois bilhões de batimentos, ao longo de toda a vida de uma pessoa. Normalmente, os potenciais de ação com origem no nodo SA são propagados por todo o coração e, por conseguinte, produzem a contração rítmica de todo o coração. Contudo, se o nodo SA deixar de gerar impulsos rítmicos, alguma área do coração irá fazê-lo, e assumirá o controle da frequência cardíaca. A ritmicidade do coração tem origem no próprio coração e se porções desse coração são removidas do corpo, continuarão a se contrair, enquanto dispuserem de nutrição adequada. O ritmo do Nodo SA passa a ser o ritmo de todo o coração, razão pela qual o nodo SA é chamado de marca-passo do coração. Apesar do impulso cardíaco poder ser propagado, perfeitamente bem, pelas próprias fibras do músculo cardíaco, o coração possui um sistema especial de condução – o Sistema de Purkinje – que transmite impulsos com velocidade cerca de cinco vezes maior que a do músculo cardíaco normal. A figura 6 abaixo apresenta a organização desse sistema. Ele tem origem no nodo sinoatrial, dele saem vários feixes muito delicados de fibras de Purkinje – as vias internodais – que passam pelas paredes atriais até um segundo nodo, o nodo atrioventricular AN02FREV001 39 (nodo AV), também situado na parede do átrio direito, mas localizado na parte inferior da parede posterior, próximo ao centro do coração. FIGURA 6 – ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE PURKINJE Desse nodo, um grande feixe de fibras de Purkinje, o feixe AV, passa imediatamente para os ventrículos, atingindo, primeiro, o septo interventricular. Após seguir, por curta distância, por este septo, o feixe AV se divide em dois grandes ramos; um ramo esquerdo, que se continua pela e ao longo da superfície interna do ventrículo esquerdo, e um ramo direito, com trajeto por percurso semelhante, no ventrículo direito. Nos ventrículos, esses dois ramos produzem muitas ramificações, de diâmetro bem menor, que, eventualmente, fazem contato direto com o músculo cardíaco em todas as suas áreas. Portanto, um impulso que seja propagado pelas fibras de Purkinje é conduzido com muita rapidez e diretamente para o músculo cardíaco. A principal função do sistema de Purkinje é a de transmitir o impulso cardíaco com muita rapidez pelos átrios e, após pequena pausa no nodo AV, também com muita rapidez pelos ventrículos. A condução rápida do impulso fará com que todas as porções de cada sincício de músculo cardíaco – o sincício atrial e o sincício ventricular – contraiamao mesmo tempo, de modo a exercerem esforço coordenado de bombeamento. Se não fosse o sistema de Purkinje, o impulso seria propagado, muito mais lentamente, pelo músculo cardíaco, o que permitiria que algumas fibras AN02FREV001 40 musculares contraíssem muito antes das outras e, também, relaxassem antes das outras. Obviamente, isso resultaria em compressão reduzida do sangue e, por conseguinte, em eficácia diminuída do bombeamento. Após se ter originado no nodo SA, o impulso é propagado, primeiro pelos átrios, provocando sua contração. Alguns poucos centésimos de segundo depois de ter saído do nodo SA, o impulso atinge o nodo AV. Entretanto, esse nodo AV retarda o impulso por outros poucos centésimos de segundo, antes de permitir sua passagem para os ventrículos. Esse retardo permite que os átrios forcem a passagem de sangue para o interior dos ventrículos, antes do início da contração ventricular. Após esse retardo, o impulso é propagado com muita rapidez pelo Sistema de Purkinje dos ventrículos, fazendo com que os dois ventrículos contraiam com força máxima dentro de poucos centésimos de segundos. O Nodo AV retarda o impulso cardíaco pelo seguinte mecanismo: as fibras nesse nodo têm diâmetro muito pequeno, o que as torna diferentes das do restante do sistema de Purkinje, transmitindo o impulso cardíaco muito lentamente, com velocidade de cerca de um décimo da medida em fibras cardíacas normais e apenas 1/50 da medida nas grandes fibras de Purkinje. Por conseguinte, o impulso cardíaco atravessa com a velocidade de um caramujo, esse nodo, o que produz retardo de mais de 0.1 segundo entre as contrações dos átrios e dos ventrículos. Ocasionalmente, o impulso cardíaco é bloqueado em algum ponto de seu trajeto, devido à lesão cardíaca. Por exemplo, uma parte do músculo cardíaco ou do Sistema de Purkinje pode ser destruída e substituída por tecido fibroso, incapaz de transmitir o impulso. A região do coração que contrai com maior frequência controla as demais, enquanto houver fibras funcionais de condução entre as diversas áreas. O eletrocardiograma é um instrumento muito utilizado para avaliação da capacidade do coração para a transmissão do impulso cardíaco. Quando um impulso percorre o coração, a corrente elétrica, gerada pelo potencial de ação do músculo cardíaco, difunde pelos líquidos que banham o coração, e fração bastante diminuta dessa corrente aflora à superfície do corpo. Quando são colocados eletrodos sobre a superfície cutânea da região cardíaca ou sobre os AN02FREV001 41 dois lados do coração, como nos dois braços, e ligando esses eletrólitos a sistema adequado de registro, as voltagens elétricas geradas durante cada batimento cardíaco podem ser registradas. No eletrocardiograma normal mostrado na figura 7-A, a pequena deflexão marcada no registro como a letra “P” é causada pela voltagem produzida pela passagem dos impulsos pelos átrios. As deflexões marcadas com as letras “Q”, “R” e “S” são causadas pela passagem do impulso pelos ventrículos, enquanto a deflexão marcada pela letra “T” é produzida pelo retorno do potencial de membrana das fibras musculares ventriculares ao seu valor normal de repouso, ao término da contração. Quando as anomalias cardíacas são causadas por doença, o eletrocardiograma muitas vezes fica diferente do seu padrão normal. A figura 7-B mostra o que acontece quando parte do músculo ventricular está lesada. Nesse registro o trecho do eletrocardiograma entre as ondas S e T fica deprimido. Isso é o resultado de fluxo anômalo de corrente elétrica no coração, no intervalo entre os batimentos cardíacos. Indica lesão das membranas das fibras musculares ventriculares, o que ocorre com muita frequência quando a pessoa sofre um ataque cardíaco agudo. A figura 7-C mostra o que acontece quando um dos lados do coração fica mais aumentado do que o outro. O registro exibe o aumento anormal da onda S e diminuição da onda R, indicando maior fluxo de corrente no lado esquerdo do que no lado direito. A pressão arterial elevada, muito frequentemente, causa esse tipo de eletrocardiograma, devido à carga excessiva de pressão exercida sobre o ventrículo esquerdo. FIGURA 7 – ELETROCARDIOGRAMA NORMAL E EXPRESSÃO DE DIVERSAS ANOMALIAS AN02FREV001 42 FONTE: Guyton, 1988. A figura 7 - D mostra o eletrocardiograma de pessoa portadora de sistema de Purkinje com bloqueio parcial. Nesse exemplo, o impulso é transmitido por AN02FREV001 43 grande parte da massa ventricular, por meio das fibras musculares cardíacas, de velocidade lenta de condução, ao invés das fibras de Purkinje, com velocidade de condução elevada, de modo que o complexo QRS dura por tempo muito maior e tem forma anormal. A figura 7 - E mostra o efeito do bloqueio do impulso em nível do feixe AV. As ondas P ocorrem com regularidade e as ondas QRS também ocorrem regularmente, mas sem guardar qualquer relação temporal definida com as ondas P. Os átrios estão contraindo com sua frequência natural de 72 batimentos/minuto, enquanto os ventrículos assumiram a sua frequência natural: 38 batimentos/minuto. Finalmente a figura 7 - F, indicado por seta, de contração prematura do coração. A única anormalidade desse registro é a de que o impulso ocorreu logo após o batimento cardíaco anterior. Na maioria dos casos, isso é causado por coração irritável, como o que ocorre por tabagismo excessivo, pela ingestão de grandes quantidades de café, ou por falta de sono. As quatro válvulas cardíacas do coração estão orientadas de tal modo que o sangue nunca pode fluir para trás, mas unicamente, para frente, quando o coração contrai. A válvula tricúspide impede o fluxo do sangue do ventrículo direito para o átrio direito e a válvula mitral impede o refluxo do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo, enquanto as válvulas pulmonar e aórtica, respectivamente, impedem o reflexo para os ventrículos direito e esquerdo do sangue dos sistemas pulmonar e arterial sistêmico. Essas válvulas exercem funções idênticas às das válvulas de qualquer bomba de compressão, pois nenhuma bomba desse tipo pode funcionar se fluir líquido nos dois sentidos. Quando se ausculta uma pessoa com um estetoscópio o batimento cardíaco é marcado por dois sons. A primeira bulha cardíaca é causada pelo fechamento das válvulas AV, quando o ventrículo contrai e a segunda bulha cardíaca é causada pelo fechamento das válvulas aórticas e pulmonar ao término da contração. Essa correlação é mostrada na figura 8, onde é apresentado um fonocardiograma – que é o registro gráfico dos sons produzidos por um coração – de um coração normal. Nessa figura, sístole define o período de batimento AN02FREV001 44 cardíaco em que os ventrículos estão contraídos e diástole define o período em que os ventrículos estão relaxados. FIGURA 8 – FONOCARDIOGRAMA DO CORAÇÃO NORMAL E DE CORAÇÕES COM DOENÇA VALVULAR AÓRTICA OU MITRAL FONTE: Guyton, 1988. Quando os ventrículos contraem, as pressões aumentadas nos dois ventrículos forçam o fechamento das válvulas AV. A interrupção súbita do fluxo dos ventrículos para os átrios faz com que o sangue produza vibrações das paredes cardíacas e do próprio sangue. Essas vibrações são transmitidas até a parede torácica, onde são ouvidas como a primeira bulha. Imediatamente após os ventrículos terem descarregado seu sangue para o sistema arterial, o subsequente relaxamento ventricular permite que o sangue volte a fluir para trás, das artérias para os ventrículos, o que provoca o fechamento abrupto das válvulas aórticase pulmonar. Isso também produz vibrações, desta vez, no sangue e nas paredes das artérias pulmonar e aorta, AN02FREV001 45 além de nos ventrículos. Essas vibrações também são transmitidas para a parede torácica, causando o som da segunda bulha cardíaca. A figura 9 mostra as variações de pressão no átrio esquerdo, no ventrículo esquerdo e na aorta durante o ciclo cardíaco típico. Durante a diástole, a pressão atrial esquerda é pouco mais elevada que a do ventrículo esquerdo, pois o sangue flui continuamente das veias pulmonares para o átrio. Isso faz com que o sangue flua do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo. Próximo ao fim da diástole, a contração do átrio eleva a pressão atrial a valores ainda mais altos, forçando quantidade adicional de sangue para o interior do ventrículo. Então, subitamente o ventrículo contrai, a válvula mitral fecha e a pressão ventricular aumenta rapidamente. Quando essa pressão ventricular atinge valor mais alto do que o vigente na aorta, a válvula aórtica abre e o sangue flui para a aorta durante todo o restante da sístole. Quando o ventrículo relaxa, a pressão ventricular diminui precipitadamente, o que permite pequeno refluxo, que logo fecha a válvula aórtica. AN02FREV001 46 FIGURA 9 – PRESSÕES NA AORTA, NO VENTRÍCULO ESQUERDO E NO ÁTRIO ESQUERDO DURANTE O CICLO CARDÍACO FONTE: Guyton, 1988. Durante toda a diástole, a pressão aórtica permanece alta, pois grande quantidade de sangue ficou retida nesses vasos muito distensíveis durante a sístole. Esse sangue flui lentamente ao longo dos capilares, para voltar para o átrio direito, fazendo com que a pressão aórtica caia do valor máximo medido no pico da sístole, de aproximadamente 120 mm Hg, até o mínimo, de cerca de 80 mmHg ao fim da diástole. Por conseguinte, diz-se que a pressão arterial sistêmica normal é de 120/80, ou seja, pressão sistólica de 120 mmHg e uma pressão diastólica de 80 mmHg. 6 FISIOPATOLOGIA No momento que nos aprofundamos nos conhecimentos da anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular humano, podemos entender que o coração AN02FREV001 47 faz o trabalho de bombear o sangue para todos os órgãos do corpo por meio das artérias. No momento em que o sangue é “empurrado” contra a parede dos vasos sanguíneos ocorre uma tensão gerada na parede das artérias. Essa tensão denomina-se Pressão Arterial. É possível afirmar que todo o processo que envolve a pressão arterial resulta da contração do coração a cada batimento e da contração dos vasos quando o sangue passa. A fisiopatologia da hipertensão arterial, bem como o surgimento das crises hipertensivas se deve ao aumento abrupto da resistência vascular. De acordo com Mussi (1995), quando a pressão arterial cai, ocorre vasodilatação cerebral e se a pressão arterial sobe ocorre vasoconstrição. Quando a pressão arterial média ultrapassa os valores limites da autorregulação o cérebro extrai mais oxigênio para compensar a redução do fluxo cerebral. Em indivíduos normais a circulação cerebral pode tolerar rápidas reduções da pressão arterial, porém em pacientes hipertensos, idosos e portadores de doenças cerebrovasculares estes mecanismos regulatórios têm respostas mais lentas às variações da pressão arterial. Desta forma, é recomendável no tratamento das crises hipertensivas a redução da pressão arterial em torno de 20 a 25% dos valores iniciais em períodos de minutos ou horas, dependendo da natureza da emergência. Além de todos estes fatores fisiopatológicos que envolvem a hipertensão arterial, alguns eventos que surgem no interior das artérias nos levam a entender melhor como ocorrem as sequelas desta doença. Por exemplo, os vasos mais sensíveis não aguentam a forte pressão arterial exercida e estouram, fato este que é causador do derrame. Outro episódio nos mostra que a Hipertensão Arterial provoca feridas nas paredes internas dos vasos, o que leva à formação de partículas que vão se colando até “entupir” a passagem do sangue, desta forma levando a ocorrência de infartos e de insuficiência renal. AN02FREV001 48 FIGURA 10 – PAREDE INTERNA DO VASO. Na manutenção adequada da pressão arterial é necessário que os mecanismos do organismo humano mantenham-se com um fluxo sanguíneo adequado, conforme as demandas do coração, rins, vasos, enzimas e íons que estão sob o controle do Sistema Nervoso Central (SNC). Nossas necessidades corporais variam muito de acordo com as influências internas e externas, por isso o controle da pressão arterial torna-se muito complexo e sua manutenção uma tarefa bastante adaptativa. O mecanismo que controla a constrição e o relaxamento dos vasos sanguíneos está no centro vasomotor, situado na medula cerebral. Feixes nervosos simpáticos têm origem nesse centro vasomotor e percorrem a medula espinhal, emergindo da medula espinhal nos gânglios simpáticos do tórax e abdômen. A estimulação do centro vasomotor põe em movimento impulsos motores que percorrem o sistema nervoso simpático até os gânglios simpáticos. Nesse ponto, os neurônios pré-ganglionares liberam acetilcolina, que estimula as fibras nervosas pós-ganglionares nos vasos sanguíneos, onde a liberação da noradrenalina resulta em constrição dos vasos. Várias influências como ansiedade e medo podem afetar a resposta dos vasos sanguíneos a esses estímulos vasoconstritores. As pessoas com hipertensão são muito sensíveis à noradrenalina, embora se desconheça realmente o porquê. Ao mesmo tempo em que o sistema nervoso simpático estimula os vasos sanguíneos em resposta a estímulos emocionais, a glândula AN02FREV001 49 adrenal é instigada, resultando em atividade vasoconstritiva adicional. A medula adrenal secreta a adrenalina, que causa vasoconstrição. O córtex adrenal secreta cortisol e outros esteroides, os quais podem favorecer a resposta vasoconstritora dos vasos sanguíneos. A vasoconstrição resulta em menor fluxo de sangue ao rim, causando a liberação de renina. A renina leva à formação de angiotensina I, a qual se converte em angiotensiogênio II, um poderoso vasoconstritor, que, por sua vez, estimula a secreção de aldosterona pelo córtex adrenal. Esse hormônio provoca retenção de água e sódio pelos túbulos renais, levando a um aumento do volume intravascular. Todos esses fatores tendem a perpetuar o estado hipertensivo. As alterações estruturais e funcionais no sistema vascular periférico são responsáveis pelas alterações da pressão arterial que ocorre com a idade. Essas alterações incluem a aterosclerose, perda da elasticidade do tecido conjuntivo e uma diminuição do relaxamento do músculo liso vascular, que, por sua vez, reduzem a capacidade de distensão e compressão dos vasos. Consequentemente, a aorta e as grandes artérias ficam com menor capacidade de acomodar o volume de sangue bombeado pelo coração (volume sistólico), resultando em uma diminuição do débito cardíaco e um aumento da resistência periférica. FIGURA 11 –PRESSÃO ARTERIAL. A hipertensão arterial na maioria das vezes é assintomática, ou seja, as pessoas não sentem nada, por isso é também chamada de “doença silenciosa”. AN02FREV001 50 Às vezes, dor de cabeça, tontura e mal-estar podem ocorrer em quem está com a pressão arterial alta, mas muitas vezes quando a pessoa começa a ter algum sintoma já está com os vasos endurecidos e estreitados. Para Ferreira (2000), a Hipertensão aumenta consideravelmente o risco de doença coronariana mesmo não sendo aterogênica, porém quando os pré-requisitos metabólicos paraa aterogênese estiverem presentes, ocorre a aceleração, o que agrava o desenvolvimento da aterosclerose. FIGURA 12 –TIPOS DE ATEROSCLEROSE. Os cuidados com a Hipertensão Arterial devem ser intensos, para desta forma evitar as possíveis consequências e sequelas. O que deve preocupar o profissional de enfermagem é principalmente o que a Hipertensão Arterial pode causar se não for controlada, ou seja, fazer com que o próprio paciente entenda o risco que corre com esta doença. 7 CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL AN02FREV001 51 Na atenção básica, a equipe de enfermagem deve estar bem preparada para orientar os pacientes quanto aos tipos de Hipertensão. Além disso, o profissional deve estar atento e sempre a procura de indícios que identificam as diferenças entre uma e outra forma de hipertensão. A Hipertensão Arterial, no que tange à etiologia, pode ser classificada em: 1. Hipertensão Primária (chamada de Hipertensão Arterial Essencial) 2. Hipertensão Secundária A Hipertensão Arterial Primária totaliza, segundo o Ministério da Saúde (2006), 95% dos casos, e tem causa desconhecida, podendo estar associada à hereditariedade e também a anormalidades da função renal. Já a Hipertensão Secundária corresponde aos 5% restantes, quando é possível a identificação de causas, como, por exemplo, problemas renais e algumas doenças endócrinas. Além da identificação dos tipos etiológico da Hipertensão, na Saúde Pública o profissional da equipe de enfermagem pode avaliar o paciente através do grau de complexidade desta doença. Esta avaliação pode ser feita evidenciando o hipertenso como: • GRAU I (leve), avaliando quanto à dieta, consumo de sal excessivo, intensidade da atividade física, controle do peso, o uso ou não de álcool e cigarro; • GRAU II e III (moderado a grave) torna-se necessário, além do controle de fatores de risco, a utilização da avaliação médica para intensificar o uso de medicamentos. AN02FREV001 52 QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Classificação Da Hipertensão Arterial Sistêmica Segundo A Sociedade Brasileira De Cardiologia, V Diretriz De Hipertensão Arterial Sistêmica E Vi Jnc Americano Nível da Pressão Arterial Classificação < 120 sistólica e < 80 diastólica Ideal < 130 sistólica e < 85 diastólica Normal 130-139 sistólica ou 86-89 diastólica Normal-alta 140-159 sistólica ou 90-99 diastólica Hipertensão Estágio 1 160-179 sistólica ou 100-109 diastólica Hipertensão Estágio 2 > 110 diastólica ou > 180 sistólica Hipertensão Estágio 3 Diastólica normal com sistólica > 140 Hipertensão Sistólica Isolada 7.1 ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO • Fatores de Risco Maiores para Doenças Cardiovasculares: A própria HAS; Obesidade (IMC>30); Fumo; Inatividade física; Dislipidemia; Diabetes Mellitus; Idade > 55 p/ H e > 65 p/M; História familiar de DCV anterior à idade de risco. • Lesão de Órgão-Alvo • Doenças Cardíacas; HVE; Angina/IAM prévio; Revascularização Miocárdica; Insuficiência Cardíaca; Nefropatia; AVE ou AIT; doença Arterial Periférica; Retinopatia diabética; AN02FREV001 53 OBS: O diabetes Mellitus possui na estratificação peso equivalente à lesão de órgão-alvo já estabelecida. O quadro abaixo representa o nível de risco em que o paciente está enquadrado, segundo a classificação da Hipertensão Arterial, bem como os fatores de riscos existentes para determinar a gravidade e complexidade dos sistemas envolvidos e assim proporcionar um tratamento eficiente e eficaz. QUADRO 3 – ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Fatores de risco Pressão arterial Normal Limítrofe Hipertensão estágio 1 Hipertensão estágio 2 Hipertensão estágio 3 Sem fator de risco Sem risco adicional Risco baixo Risco médio Risco alto 1 a 2 fatores de risco Risco baixo Risco baixo Risco médio Risco médio Risco muito alto 3 ou mais fatores de risco ou lesão de órgãos-alvo ou Diabetes Mellitus Risco médio Risco alto Risco alto Risco alto Risco muito alto Doença cardiovascular Risco alto Risco muito alto Risco muito alto Risco muito alto Risco muito alto AN02FREV001 54 7.2 METAS DE TRATAMENTO DE ACORDO COM A ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO • Hipertensos estágio 1 e 2 com risco cardiovascular baixo e médio < 140/90 mmHg • Hipertensos e limítrofes com risco cardiovascular alto < 130/85 mmHg • Hipertensos e limítrofes com risco cardiovascular muito alto < 130/80 mmHg • Hipertensos nefropatas com proteinúria > 1,0 g/l < 120/75 mmHg Após o VII JCN houve uma simplificação das categorias e a categorização de uma situação intitulada como “pré-hipertensão”, neste sentido as ações de promoção de saúde incluindo mudanças nos estilos de vida são altamente incentivadas, tendo em vista que pacientes nesta etapa possuem um risco maior de evoluírem para Hipertensão Arterial. QUADRO 4 – CLASSIFICAÇÃO HIPERTENSÃO ARTERIAL APÓS VII JCN Nível da Pressão Arterial Classificação < 120 sistólica e < 80 diastólica Normal <= 139 sistólica e <= 89 diastólica Pré-Hipertensão 140 -159 sistólica ou 90- 99 diastólica Hipertensão Estágio 1 > 100 diastólica ou > 160 sistólica Hipertensão Estágio 2 Conforme o quadro acima, as categorias de estágio 2 e 3 foram unificadas, tendo em vista não haver objetivo prático em diferenciar duas situações clínicas que já reservam um prognóstico igualmente ruim. O principal objetivo dessa nova classificação é aumentar a importância da necessidade de se diagnosticar precocemente a hipertensão e mantê-la em nível o mais fisiológico AN02FREV001 55 possível, tendo em vista o enorme risco cardiovascular que a hipertensão possui. A SBC não adotou essa classificação. 8 FATORES DE RISCO Apesar dos vários malefícios causados pela Hipertensão Arterial, esta doença enquanto problema de Saúde Pública ainda é pouco valorizada pelas pessoas que convivem diariamente com seus efeitos. O que leva a esse descaso é o fato da Hipertensão quase sempre não apresentar sintomas, o que muitas vezes dificultar o tratamento. A maioria das pessoas que tem Hipertensão Arterial herda a doença dos pais, pois se sabe que quem tem pai e mãe com hipertensão tem maior chance de apresentar a doença. A história e o exame físico do paciente hipertenso, segundo Bolner (2006), devem ser obtidos de forma completa, dando relevante importância aos fatores de risco tais como: • Obesidade: o excesso de peso tem relação com o aumento da pressão arterial, portanto se o peso está acima do normal, deve-se iniciar um programa de reeducação alimentar. A Sociedade Brasileira de Cardiologia sugere que o Índice de Massa Corporal sempre seja aferido, para uma adequada relação entre o peso para a faixa etária do paciente. Desta forma, a meta é manter um IMC entre 20 Kg/m² e 25 kg/m² para se evitar que o sobrepeso seja fator desencadeante da pressão arterial. O cálculo do IMC é realizado a partir da seguinte fórmula: • Bebidas Alcoólicas: é fato concreto de que os componentes existentes nas bebidas alcoólicas elevam consideravelmente a pressão arterial. IMC: peso/altura² AN02FREV001 56 Desta forma, para quem sofre de Hipertensão a melhor forma de mantê-la estável é evitar o consumo de bebidas alcoólicas. A Sociedade Brasileira de Cardiologia instrui abandonar ou limitar o consumo diáriode álcool a 30 ml de etanol para os homens (720 ml de cerveja, 240 ml de vinho e 60 ml de bebida destilada) e à metade dessas quantidades para as mulheres, isso para a população que ainda não possui a doença, como fator preventivo. • Alimentação: restringir o sal da dieta. Uma alimentação com redução no uso do sal evita a elevação da pressão arterial. A Sociedade Brasileira de Cardiologia orienta uma ingestão diária de sódio entre 2,4 g de sódio ou 6 g de cloreto de sódio, incluindo a alimentação natural e produtos manufaturados. Também é recomendada a ingestão diária de potássio entre 2 a 4 g contidos em uma dieta rica em frutas e vegetais frescos. • Sedentarismo: o fato de não praticar exercícios físicos adequados leva a sérios problemas na pressão arterial. Além da sua elevação os riscos de infarto são aumentados significativamente. Praticar exercícios físicos aeróbios, 30 a 45 minutos por dia, três ou mais vezes por semana. Tentar aumentar também a atividade física diária (SBC). • Tabagismo: Eleva agudamente a pressão arterial e favorece o desenvolvimento e as complicações da aterosclerose. Sua interrupção reduz o risco de acidente vascular encefálico, de doença isquêmica do coração e de doença vascular arterial periférica, além de evitar seus outros efeitos deletérios. A exposição ao fumo (tabagismo passivo) também deve ser evitada. O tabagismo é grande risco para os pacientes com hipertensão, pois a nicotina aumenta consideravelmente a pressão arterial, sendo também um fator de risco para as doenças cardiovasculares. • Estresse: existe uma relação entre a elevação da pressão arterial em condições de estresse, entretanto os mecanismos que elevam a mesma ainda não estão claros. AN02FREV001 57 • Dislipidemias: A hipercolesterolemia é um dos maiores fatores de risco cardiovascular. O nível de colesterol total sérico deve ser mantido abaixo de 200 mg/dl, com LDL-colesterol (colesterol de baixa densidade) abaixo de 130 mg/dl. O HDL-colesterol (colesterol de alta densidade) baixo (inferior a 35 mg/dl) pode aumentar em resposta à redução do peso, à prática de exercícios físicos e à suspensão do hábito de fumar. A hipertrigliceridemia (triglicerídeos > 200 mg/dl) deve ser tratada com as medidas dietéticas, acrescidas da redução da ingestão de carboidratos simples e de bebidas alcoólicas. Quando necessário, recomenda- se o uso de fibratos. • Fator Genético: também é visto como um fator de risco importante, pois a hereditariedade aumenta a chance do desenvolvimento da hipertensão arterial. 9 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O exame físico pode não revelar anormalidade alguma, a não ser a elevação da pressão arterial, mas podem ser observadas alterações na retina, como hemorragias, exsudato (acúmulo de líquido), arteríolas estreitadas e, nos casos graves, edema de papila (edema do disco óptico). As pessoas com hipertensão arterial podem estar assintomáticas e assim permanecer por muitos anos. Os sintomas, quando ocorrem, geralmente indicam lesões vasculares, com manifestações específicas relacionadas com os sistemas orgânicos servidos pelos vasos envolvidos. A doença arterial coronária com angina é a sequela mais frequente em indivíduos hipertensos. A hipertrofia ventricular esquerda ocorre em resposta a uma maior carga de trabalho imposta ao ventrículo, à medida que ele é obrigado a se contrair de encontro a pressões sistêmicas mais altas. Quando o coração não consegue mais suportar a sobrecarga de trabalho, sobrevém a insuficiência AN02FREV001 58 cardíaca. As alterações patológicas nos rins podem se manifestar sob a forma de nictúria (micção aumentada durante a noite) e azotemia (aumento da ureia e da creatinina séricas). O envolvimento vascular cerebral pode produzir um acidente vascular cerebral ou ataque isquêmico transitório, manifestado por paralisia temporária de um lado (hemiplegia) ou alterações na visão. Os infartos cerebrais são responsáveis por 80% dos acidentes vasculares cerebrais e ataques isquêmicos nas pessoas hipertensas. 10 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA São necessários história e exame físico meticulosos. As retinas são examinadas e devem ser feitos testes laboratoriais para avaliar possíveis lesões de órgãos, como rins e coração, que podem estar acometidos pela pressão arterial aumentada. A hipertrofia ventricular esquerda pode ser avaliada pelo eletrocardiograma; a proteína na urina pode ser detectada por meio do exame de urina. A incapacidade de concentrar a urina e um aumento da ureia e creatinina séricas também podem estar presentes. O principal meio de se diagnosticar o paciente hipertenso é através da aferição da Pressão Arterial. Sabe-se, entretanto, que estes valores muitas vezes são irreais, ou seja, por uma técnica inadequada ou pela situação do paciente no momento da verificação esta pode estar alterada, significando um momento e não uma situação contínua. Desta forma, é muito importante dar atenção ao paciente e tratá-lo como único, avaliando a necessidade de novas verificações de pressão arterial. Nas situações em que o paciente apresenta um valor anormal de pressão arterial é importante sempre instruí-lo para que retorne ao serviço para utilização de mapas de acompanhamento, assim igualmente realizado aos pacientes já hipertensos, com a intenção de monitorar os reais índices da pressão arterial do paciente. De qualquer forma, ao ser verificada a pressão arterial de um paciente e AN02FREV001 59 esta estiver fora dos padrões de normalidade, seguindo as técnicas e cuidados padrões para a verificação da pressão arterial, este paciente deverá ser encaminhado ao profissional médico que realiza uma avaliação médica, que inclui o pedido de exames laboratoriais e demais intervenções aplicadas ao protocolo de atendimento deste tipo de paciente. O técnico de enfermagem tem papel fundamental na mensuração da pressão arterial, uma vez que ao realizá-la poderá estar detectando um paciente hipertenso. É essencial também que, ao realizar a aferição da pressão arterial, o técnico tenha presente o questionamento sobre os fatores de risco, estudados anteriormente, desta forma terá mais subsídios para sua conduta e encaminhamentos. 11 TRATAMENTO O tratamento pode ser feito com medicamentos ou não, isso vai depender dos níveis da pressão arterial, do comprometimento ou não de determinados órgãos e da presença de outras doenças. A hipertensão não tem cura, mas pode e deve ser tratada, seguindo as orientações de seu médico e modificando alguns hábitos de vida e alimentares, o portador evitará todos os problemas da pressão arterial, levando uma vida normal e saudável. A terapêutica não medicamentosa da Hipertensão Arterial é realizada por meio de algumas mudanças no estilo de vida do paciente, entre elas estão a redução de peso, moderação na ingestão de álcool, manutenção adequada da atividade física, moderação na ingestão de sódio, manutenção da ingestão de k (potássio) e além de tudo isso evitar o tabagismo. Conforma Bolner (2006), existem fatores efetivos, comprovados em pesquisas, mas ainda desconhecidos de que a suplementação de cálcio e a suplementação de magnésio reduzem levemente a pressão arterial. O tratamento medicamentoso é indicado pelo médico quando as medidas não farmacológicas não são suficientes para o controle da pressão arterial. Nos AN02FREV001 60 pacientes com hipertensão em fase I e imediatamente após o diagnóstico nos pacientes com alto risco cardiovascular ou hipertensão em fase II, qualquer que seja o subgrupo de risco. Em qualquer casoo tratamento não farmacológico sempre deve ser mantido. São drogas de primeira linha para o tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica, todas com resultado benéfico comprovado em vários trabalhos na prevenção de complicações cardiovasculares: os diuréticos tiazídicos, os bloqueadores dos canais de cálcio, os betabloqueadores e os inibidores da enzima conversora da angiotensina e os bloqueadores AT1. O anexo 1 deste módulo descreve alguns dos medicamentos utilizados na hipertensão bem como seus efeitos. De todas essas o diurético tiazídico tem demonstrado o melhor resultado no prognóstico cardiovascular, sendo também promotor de melhor resposta anti- hipertensiva em regimes com várias drogas. Assim, isoladamente ou em combinação é a melhor droga como primeira opção. Algumas situações clínicas específicas indicam o uso de determinada droga anti-hipertensiva para uso inicial isolado ou combinado, devido ao comprovado benefício da droga em relação àquela doença. Quem avalia e prescreve o medicamento anti-hipertensivo é o médico. A V Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial descreve as importantes características do medicamento anti-hipertensivo, como forma de estimular a adesão do paciente ao tratamento, são elas: • Ser eficaz por via oral; • Ser bem tolerado; • Permitir a administração em menor número possível de tomadas, com preferência para dose única diária; • Ser iniciado com as menores doses efetivas preconizadas para cada situação clínica, podendo ser aumentada gradativamente, pois quanto maior a dose, maiores serão as probabilidades de efeitos adversos; AN02FREV001 61 • Não ser obtido por meio de manipulação, pela inexistência de informações adequadas de controle de qualidade, bioequivalência e/ou interação química dos compostos; • Ser considerado em associação para os pacientes com hipertensão em estágios 2 e 3, que na maioria das vezes não respondem à monoterapia; • Ser utilizado por um período mínimo de quatro semanas, salvo em situações especiais, para aumento de dose, substituição da monoterapia ou mudança das associações em uso. De acordo com o Ministério da Saúde (2006), além do uso de medicamentos o principal foco do tratamento da hipertensão ainda são os meios de prevenção das complicações (lesões de órgãos-alvo), pois na maioria das vezes o paciente portador da doença pensa que está curado após o uso da medicação prescrita pelo médico, e deste momento em diante acaba por abandonar o tratamento, voltando desta forma a níveis pressóricos altos. É cuidado de enfermagem realizar a orientação do paciente diante da prescrição do medicamento feita pelo médico. Orientar quanto à importância do tratamento ininterrupto até ordem médica, e quanto aos horários que o paciente deve tomar as medicações em casa, conforme descrito na prescrição do médico assistente. Outro fator a ser lembrado nas ações básicas de saúde com relação ao tratamento da hipertensão é o programa HIPERDIA. As Unidades Básicas de Saúde devem ter suporte para a manutenção deste programa, que é fundamental para a avaliação constante do portador da hipertensão. O HIPERDIA, além do cadastro e fornecimento dos dados sobre cada hipertenso, é uma forma do profissional ter atualizados os dados dos pacientes e desta forma realizar uma boa avaliação no momento das pré-consultas, onde são realizadas medições de peso, altura, verificação da pressão arterial, orientações, bem como o relato de cada paciente. Todas essas informações são lançadas mensalmente no programa informatizado. Desta forma o profissional da atenção básica exerce papel importante no tratamento da hipertensão, orientando e conscientizando o AN02FREV001 62 hipertenso de que embora não haja cura, o controle adequado da pressão arterial é essencial na prevenção de futuras consequências desta doença. 12 COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Segundo Noblat & Lopes (2004), o risco de complicações de hipertensão arterial é, em geral, maior em homens do que em mulheres, sendo que nos idosos esta diferença reduz particularmente o risco de complicações cardiovasculares, aumentada em mulheres após a menopausa. Segundo Almeida & Rodrigues (1997), a queda dos níveis hormonais determinada pela menopausa, principalmente estrogênios, é acompanhada por uma série de alterações metabólicas, funcionais e estruturais que podem explicar a progressão mais acelerada do processo aterosclerótico e suas complicações cardiovasculares: mudança no perfil dos lipídios plasmáticos (aumento do colesterol total, LDL- colesterol e triglicérides e redução do HDL-colesterol); maior coagulabilidade e menor poder fibrinolítico, resultando em tendência à trombose; aumento da oxidação das lipoproteínas (LDL) ocasionando maior formação de células espumosas e aceleração do processo aterosclerótico; redução da capacidade vasodilatadora dependente e independente do endotélio; elevação da pressão arterial; menor complacência vascular e miocárdica; redução do débito cardíaco. As principais complicações da Hipertensão Arterial são: • Aceleração da Aterosclerose; • Infarto Agudo do Miocárdio; • Insuficiência Cardíaca; • Acidente Vascular Cerebral; • Diminuição ou Perda da função renal; • Perda da Visão. 13 CRISE HIPERTENSIVA AN02FREV001 63 A Crise Hipertensiva é uma condição clínica caracterizada por elevação aguda ou crônica da PA (Níveis de Pressão Diastólica superior a 130 mmHg) em associação ou não com manifestações de comprometimento de órgãos-alvo (cardiovasculares, neurológicas e renais). As manifestações clínicas das crises hipertensivas dependem do grau de disfunção dos órgãos-alvo. Os níveis pressóricos absolutos podem não ter importância, mas sim a velocidade de elevação que esta ocorreu. Pacientes com hipertensão de longa data podem tolerar pressões sistólicas de 200 mm Hg e diastólicas superiores a 150 mm Hg, entretanto crianças ou gestantes podem desenvolver encefalopatia com pressões diastólicas de 100 mm Hg. Cerca de 10 a 20% da população adulta em nosso país apresenta Hipertensão Arterial Sistêmica; estudos mostram que emergências hipertensivas ocorrem em menos de 1% dos pacientes hipertensos, esses pacientes desenvolverão um ou mais episódio de emergência hipertensiva. O mecanismo responsável pela elevação da PA não é claramente conhecido, no entanto, elevações dos níveis de renina, adrenomodulina e peptídeo atrial natriurético foram encontrados em alguns pacientes com emergências hipertensivas. Uma elevação súbita da PA secundária a um aumento da resistência vascular periférica parece estar envolvida nos momentos iniciais; o fumo, possivelmente mediando lesão endotelial, é um antigo suspeito de estar envolvido na gênese das emergências hipertensivas (fumantes têm 5x mais chances de desenvolver hipertensão maligna); fatores genéticos e imunológicos também podem ter papel importante. Os pacientes portadores de feocromocitoma ou hipertensão renovascular apresentam uma incidência de elevações abruptas de pressão arterial mais alta do que o esperado para outras causas de hipertensão arterial. Alguns autores acreditam que a ativação do sistema renina-angiotensina esteja envolvida no desenvolvimento das emergências hipertensivas, assim a redução do volume circulante causada, entre outros motivos, pela ação de diuréticos de alça – como a furosemida – pode estar associada a elevações abruptas de pressão arterial e à lesão endotelial dos quadros de emergência hipertensiva. AN02FREV001 64 Uma vez iniciado o processo lesivo vascular, surge um ciclo vicioso com secreção de substânciasvasoconstritoras e vasotóxicas, como o TNFa, que perpetuam o processo. FIGURA 13 – CURVA DE AUTORREGULAÇÃO CEREBRAL DE PACIENTES NORMOTENSOS A figura acima mostra a curva de autorregulação cerebral no paciente normotenso. Nota-se que os mecanismos de vasodilatação e vasoconstrição podem manter o fluxo sanguíneo cerebral constante em uma larga faixa de pressão arterial média, porém quando a pressão arterial ultrapassa esse limite pode ocorrer hipo ou hiperperfusão cerebral. Quando, no entanto, a pressão arterial média cai abaixo da capacidade de autorregulação, ocorre hipoperfusão e isquemia tecidual. FIGURA 14 – CURVA DE AUTORREGULAÇÃO CEREBRAL DE PACIENTES HIPERTENSOS AN02FREV001 65 A figura acima mostra o desvio da curva de autorregulação para a direita em pacientes cronicamente hipertensos. 13.1 SINTOMAS E SINAIS DE ALERTA NA CRISE HIPERTENSIVA Neurológicos: Relaxamento da Consciência, Sinais Focais (localizatórios), Cefaleia Súbita Intensa, Presença de Sinais Meníngeos e Alterações agudas no fundo do olho; Cardiológicos: Dor Torácica Isquêmica, Dor Torácica Intensa, Congestão Pulmonar e Presença de 3ª Bulha; Renais: Presença de edema recente, diminuição do volume urinário, hematúria, proteinúria e elevação dos níveis de creatinina; Na abordagem do paciente hipertenso grave na emergência médica é necessária uma história e um exame físico direcionados, porém acurados na busca da presença de lesão de órgão-alvo, particularmente na busca de sintomas e sinais de alerta, são cruciais para a segurança do paciente e para a boa prática clínica; a história deve investigar as características dos sintomas do paciente. AN02FREV001 66 Muitos pacientes apresentam-se na emergência apenas após a constatação da elevação dos níveis pressóricos em uma medida rotineira de pressão arterial. O exame físico deve incluir a pesquisa da presença de sinais de irritação meníngea, fundo de olho para buscar edema de papila, hemorragias e exsudatos; o exame neurológico deve procurar a presença de rebaixamento de nível de consciência, confusão mental ou agitação psicomotora, presença de sinais neurológicos focais, particularmente os sinais deficitários; a ausculta cardíaca deve buscar a presença de 3ª ou 4ª bulha e sopro de insuficiência aórtica; a ausculta pulmonar deve procurar a presença de sinais de congestão pulmonar; o exame físico deve incluir, ainda, a palpação da aorta abdominal e a pesquisa de pulsos periféricos, incluindo o pulso carotídeo. É importante avaliar a presença de deterioração da função renal, buscando a presença de edema, diminuição de volume urinário e hematúria; em pacientes com pressão arterial diastólica superior a 130 mmHg, impõe-se a dosagem de creatinina sérica e a análise urinária para pesquisar a presença de hematúria e proteinúria; a estratificação de risco desses pacientes está na confirmação ou na exclusão de existência de lesão aguda (em curso) de um órgão-alvo. Caso não seja possível excluir a existência de lesão, deve-se assumir a presença de lesão aguda e tratar conforme o órgão lesado. A Crise Hipertensiva é dividida em urgência hipertensiva e emergência hipertensiva: • Urgência Hipertensiva: não existe o comprometimento instalado dos órgãos-alvo (coração, artérias, cérebro e rins). Após a avaliação médica o paciente geralmente recebe medicações por via oral ou sublingual e é tratado ambulatorialmente e em domicílio; o controle da Pressão Arterial é feito em até 24 horas; • Emergência Hipertensiva: existe o comprometimento instalado e iminente dos órgãos-alvo (coração, artérias, cérebro e rins); após a avaliação médica é indicado tratamento hospitalar em CTI’s e administração de vasodilatadores endovenosos. Essa crise é acompanhada por sinais que indicam AN02FREV001 67 as lesões nos órgãos-alvo, tais como: encefalopatia hipertensiva, edema agudo de pulmão, acidente vascular encefálico, infarto agudo do miocárdio ou dissecção aguda da aorta, nestes casos há o risco iminente de morte; Segundo Uenishi (1994), os principais cuidados de enfermagem no tratamento das crises hipertensivas são: • Manter o paciente em ambiente calmo e tranquilo; • Puncionar veia periférica; • Monitorizar adequadamente (PA, ECG e Débito Urinário); • Instalar medicação prescrita anti-hipertensiva em bombas de infusão; • Para pacientes com infusão intravenosa de vasodilatadores, obter parâmetros de sinais vitais a cada cinco minutos até a redução desejada da pressão arterial. Um dos principais medicamentos vasodilatadores utilizados nas emergências hipertensivas é o nitroprussiato de sódio, que é um potente vasodilatador. Sua ação é semelhante ao nitrito, que atua diretamente sobre o músculo liso dos vasos sanguíneos, provavelmente por causa da porção nitrosa. O metabolismo inicial do nitroprussiato envolve a liberação não enzimática de cianogênio, o qual é rapidamente convertido em tiocinato, por meio de uma ação catalisadora por enzima hepática. Embora essa reação seja irreversível, o tiocinato pode ser de forma lenta convertido em cianeto pela ação de uma tiocinato oxidase presente nos eritrócitos. (GUERRA et al.,1988). Muitos dos efeitos tóxicos que se observam durante o uso do nitroprussiato são notados em envenenamento por cianeto e tem sido sugerido que esse último composto seria responsável pelos efeitos tóxicos pelo uso prolongado da droga em pacientes. O início da ação do nitroprussiato de sódio é imediato e persiste enquanto perdura a infusão da droga, atua tanto nos vasos de capacitância como nos vasos de resistência. Produz redução muito rápida nas pressões arterial e venosa central e um aumento moderado na frequência cardíaca. AN02FREV001 68 Também é potente vasodilatador cerebral, causando aumento da pressão intracraniana responsável pela cefaleia pulsátil experimentada por alguns pacientes. Os vasos da retina podem relaxar-se e aumentar a pressão intraocular, o que favorece a crise aguda do glaucoma. O nitroprussiato de sódio é indicado nas crises hipertensivas e também é útil para produzir hipotensão em alguns procedimentos cirúrgicos, assim como para diminuir a resistência periférica em pacientes com infarto do miocárdio, ocasionando melhora no desempenho cardíaco, que é acompanhado pelo aumento do volume urinário e excreção de sódio. A toxidade aguda do Nitroprussiato é secundária à vasodilatação excessiva e à hipotensão. Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, agitação, cefaleia, palpitação, apressão subesternal e síncope, devido ao deslocamento da massa sanguínea para as áreas esplênicas e periféricas, com possível hipóxia cerebral. Os principais cuidados de enfermagem na administração desta medicação são: • Preparo e diluição da medicação conforme padronização e/ou prescrição médica (geralmente é diluído em 250 ml de solução fisiológica ou glicose 5%); • Controle rigoroso de gotejamento, instalar preferencialmente em bomba de infusão e verificar continuamente a infusão correta do medicamento; • Controle da pressão arterial do paciente (algumas bibliografias indicam controle a cada cinco minutos, outras a cada 15 a 30 minutos. É importante seguir as orientações do enfermeiro na observação e aferição da pressão arterial, uma vez que nas primeiras horas de infusão da medicação será necessária a verificação em intervalos menores e/ou conforme a apresentação de sinais e sintomas no paciente); o mais indicado é que o paciente esteja monitorizado com monitor multiparâmetros, que verifica constantementeo pulso, pressão arterial e oximetria; Observação: todos os sinais e resultados obtidos devem obrigatoriamente ser anotados no prontuário do paciente, bem como os horários AN02FREV001 69 de instalação da medicação e possíveis mudanças em gotejamentos, conforme a orientação médica. • Seguir a prescrição do enfermeiro frente aos demais cuidados específicos prestados a este paciente. • Segundo Andrade (2009), os efeitos colaterais produzidos pela infusão do nitroprussiato de sódio melhoram com a diminuição do gotejamento ou quando o paciente é mantido em decúbito horizontal. 14 CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE HIPERTENSO Mais importante do que o diagnóstico do indivíduo com hipertensão é a avaliação os seus riscos. Em nível de saúde pública, além de todos os critérios de avaliação, as Unidades Básicas devem disponibilizar de local apropriado para receber os pacientes com hipertensão. O ambiente deve ser tranquilo e confortável para o bom êxito da avaliação do profissional da enfermagem e também para o bem-estar do paciente. O cuidado ao paciente hipertenso também é realizado em hospitais, tendo o técnico de enfermagem o contato quase que permanente com este paciente, tanto nos momentos em que interna por complicações advindas da hipertensão arterial, como nos casos em que estará realizando procedimentos eletivos, como cirurgias e/ou exames diagnósticos. Os principais cuidados de enfermagem ao paciente hipertenso são: • Monitorização da Pressão Arterial: a monitorização da pressão arterial é dirigida aos pacientes já hipertensos e à população saudável. A monitorização de PA em pacientes hipertensos deve ser feita em intervalos rotineiros e frequentes, programados junto com o paciente e diante da necessidade deste. Os pacientes que possuem o diagnóstico de hipertensão ou aqueles em grupo de risco e/ou avaliados como pré-hipertensos devem possuir uma carteira de controle de acompanhamento ou mapa de avaliação, onde é AN02FREV001 70 anotado o dia, horário, resultado da pressão arterial e assinatura do profissional que realizou a verificação. Para os pacientes em uso de medicamentos anti-hipertensivos, é de suma importância a verificação da pressão arterial no intuito de identificar a eficiência dos medicamentos frente à patologia. Os pacientes hipertensos hospitalizados, igualmente, devem ser monitorizados conforme a necessidade e rotina institucional e medicados de acordo com a prescrição médica. Smeltzer e Bare (2006) enfatizam que, uma vez identificada, a pressão arterial elevada deve ser monitorada a intervalos regulares, porque a hipertensão é uma condição para o resto da vida. Tendo como meta do tratamento evitar a morte e as complicações ao atingir e manter a pressão arterial mais baixa que 140/90 mmHg. • Monitorização dos Sinais e Sintomas: a enfermagem deve investigar sinais e/ou sintomas que possam indicar lesão de outros órgãos, desta forma é sempre importante manter um diálogo com o paciente e questionar sobre: sangramentos nasais, dor anginosa, falta de ar, alterações na visão, vertigens, dores de cabeça ou nictúria; • Monitorização dos Pulsos: indica-se que sempre ao monitorizar a pressão arterial do paciente também seja incluída a verificação dos pulsos apical e periférico (frequência, ritmo e características) para com isso detectar possíveis efeitos da hipertensão sobre o coração e vasos periféricos; • Educação do paciente para o autocuidado: o objetivo do tratamento da hipertensão é a manutenção de uma pressão arterial adequada que não cause danos para o paciente, a colaboração da enfermagem frente a este cuidado deve ser de baixo custo e alto benefício. O tratamento inclui ações de mudança nos estilos de vida e nos casos em que o médico prescreve o uso de medicações, desta forma, o próprio paciente torna-se responsável por estas mudanças e a enfermagem tem a função de realizar a orientação e acompanhamento frente a estas novas adaptações, por esta razão é um sistema de educação continuada e de estímulo ao autocuidado. A adesão ao tratamento pode ser caracterizada como o grau em que o comportamento do indivíduo, em termos de tomar o medicamento, seguir a dieta, realizar mudanças no estilo de vida e comparecer às consultas de AN02FREV001 71 acompanhamento, coincide com o conselho médico ou de saúde. Vários fatores podem dificultar a adesão do paciente: doença, tratamento, aspectos socioeconômicos, ocupação, estado civil, religião, crenças de saúde, família, hábitos de vida e culturais devem ser considerados (SARMENTO, 2004). Algumas das estratégias utilizadas para este fim é a reunião em grupos de hipertensos para que os mesmos troquem informações sobre suas dificuldades frente às mudanças, muitas vezes penosas, mas necessárias. A família deve ser envolvida e estimulada juntamente com o paciente para que se torne capaz de oferecer apoio aos esforços do paciente em controlar a hipertensão. O posicionamento e apoio da família são de fundamental importância às mudanças nos hábitos de vida do hipertenso, pois ações como fazer atividades físicas, seguir dieta adequada e tomar medicamentos na hora e na dosagem certa, talvez venham a requerer apoio e supervisão dos familiares. Além disso, quando temos um hipertenso na família, todos os outros membros devem se preparar para colocar em prática medidas de vida saudável precocemente, pois a chance de também desenvolver hipertensão arterial é muito grande (SARMENTO, 2004; ORQUIZA, 2007). Sabe-se que toda mudança requer um processo educativo e esse se dá de uma forma lenta e deve ser contínuo. Assim, as ações desenvolvidas pelos profissionais que trabalham com esses pacientes devem atender às necessidades de cada um, à medida que se tenta manter o tratamento por longo período (ALMEIDA, 2004). • Monitorização no uso de medicamentos: nos programas de saúde pública de atenção a pacientes hipertensos as medicações protocoladas são distribuídas gratuitamente ao paciente que faz uso contínuo, o profissional de enfermagem neste aspecto realiza juntamente com o farmacêutico o controle adequado das medicações distribuídas para o paciente, bem como a periodicidade de retirada de tais medicamentos, geralmente realizando uma anotação da quantidade do medicamento que está sendo entregue ao paciente e a data de entrega, desta forma é possível monitorar a correta administração do medicamento em domicílio. Outra questão é o aparecimento de sinais ou sintomas que podem estar associados ao uso da medicação anti-hipertensiva, como por exemplo, tonteira ou AN02FREV001 72 zonzeira ao ficar em pé; todas essas informações devem sempre ser registradas para que exista uma comunicação eficiente entre os profissionais que prestam atenção à saúde do paciente, tanto nos hospitais quanto em tratamentos ambulatoriais. Para a implementação de ações, o profissional deve procurar conhecer a história do paciente individualmente, de forma a elaborar estratégias que possam contribuir para adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso (SOUZA, 2003). • Monitorização das complicações potenciais: A elevação prolongada da pressão arterial lesiona os vasos sanguíneos por todo o corpo, principalmente em órgãos-alvo, como o coração, rins, cérebro e olhos, além de provocar espessamento e perda de elasticidade das paredes arteriais e aumento da resistência vascular periférica nos vasos acometidos. As consequências usuais da hipertensão descontrolada prolongada são o infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e renal, acidentes vasculares cerebrais e visão prejudicada. O ventrículo esquerdodo coração pode ficar aumentado (hipertrofia ventricular esquerda), à medida que age para bombear o sangue contra a pressão elevada (POTTER & PERRY, 2001; SMELTZER E BARE, 2006). Os sintomas de que a doença está progredindo e envolvendo outros sistemas orgânicos devem ser detectados precocemente, de modo que o programa de tratamento possa ser alterado de acordo. Quando o paciente retorna ao ambulatório para acompanhamento, todos os sistemas orgânicos devem ser avaliados para detectar qualquer indício de lesão vascular em órgãos vitais. O exame dos olhos é particularmente importante porque a lesão vascular na retina indica alteração similar em outro local do sistema vascular. O paciente deve ser inquirido acerca de embaçamento visual, manchas diante dos olhos e diminuição da acuidade visual. O coração, sistema nervoso e rins necessariamente também devem ser avaliados. Oliveira (2004) enfatiza que a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) somente passa a provocar sintomas quando os órgãos-alvo começam a não mais suportar as alterações que sofreram para se adaptar aos níveis tensionais elevados. Entretanto, tais alterações não são precoces, surgem geralmente após mais de 10 anos de presença da doença, por meio de complicações graves, fato AN02FREV001 73 justificado pela evolução assintomática que a HAS apresenta. Infere ainda o autor que se deve ter como objetivo uma conduta preventiva que pode ser obtida mediante o diagnóstico precoce e o tratamento da HAS. Quaisquer achados significativos devem ser imediatamente notificados para a necessidade de estudos diagnósticos adicionais. Com base nos achados, os medicamentos podem ser mudados em uma tentativa de controlar a hipertensão. Segundo Potter (2002), a anamnese do paciente é essencial no momento da avaliação, ou seja, observar o paciente de forma completa irá facilitar a compreensão e identificação de riscos. • Verificação do peso e altura: Importante mensuração que a enfermagem contribui realizando para que se possa estimar o IMC do paciente e, assim, acompanhar o ganho e perda de massa muscular individualmente, como fator relevante na atenção primária e secundária do indivíduo hipertenso. • Cuidados Hospitalares: além de todos os cuidados citados anteriormente é importante que ao paciente hospitalizado sejam realizados os seguintes cuidados: questionamento sobre a medicação domiciliar de uso contínuo ou não, no momento da internação, antes da realização de exames diagnósticos, incluindo os contrastados, antes da realização de atos cirúrgicos; monitorização da pressão arterial: conforme a preconização e rotina da instituição frente à verificação dos sinais vitais do paciente, e principalmente em intervalos menores naqueles pacientes que fazem uso endovenoso de medicação anti- hipertensiva, gestantes, emergências hipertensivas e pré-operatórios; • Participar em Treinamentos e Capacitação: a enfermagem tem o dever de estar constantemente atualizada frente às mudanças e implementações que surgem na ciência, desta forma, o técnico de enfermagem participa de capacitações tanto em nível de saúde pública como hospitalar, para garantir técnicas e condutas adequadas e de qualidade ao paciente. • Realizar uma aferição de pressão arterial de forma isenta de riscos. 15 APARELHOS UTILIZADOS PARA AFERIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL AN02FREV001 74 Esfigmomanômetro - É o instrumento utilizado para a medida da pressão arterial. É composto pelo manômetro e manguito. FIGURA 15 - ESFIGMOMANÔMETRO Estetoscópio - Existem vários modelos, porém os principais componentes são: Olivas auriculares: são pequenas peças cônicas que proporcionam uma perfeita adaptação ao meato auditivo, de modo a criar um sistema fechado entre o ouvido e o aparelho. Armação metálica: põe em comunicação as peças auriculares com o sistema flexível de borracha; é provida de mola que permite um perfeito ajuste do aparelho. Tubos de borracha: possuem diâmetro de 0,3 a 0,5 cm e comprimento de 25 a 30 cm. Receptores: existem dois tipos fundamentais: o de campânula de 2,5 cm, que é mais sensível aos sons de menor frequência e o diafragma, que dispõe de uma membrana semirrígida com diâmetro de 3 a 3,5 cm, utilizado para ausculta em geral. FIGURA 16 - ESTETOSCÓPIO AN02FREV001 75 16 PROCEDIMENTO DA MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL Preparo do paciente para a medida da pressão arterial: 1. Explicar o procedimento ao paciente; 2. Repouso de pelo menos cinco minutos em ambiente calmo; 3. Evitar bexiga cheia; 4. Não praticar exercícios físicos 60 a 90 minutos antes; 5. Não ingerir bebidas alcoólicas, café ou alimentos e não fumar 30 minutos antes; 6. Manter pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxado; 7. Remover roupas do braço no qual será colocado o manguito; 8. Posicionar o braço na altura do coração (nível do ponto médio do esterno ou 4° espaço intercostal), apoiado, com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido; 9. Solicitar para que não fale durante a medida. Procedimento de medida da pressão arterial: 1. Medir a circunferência do braço do paciente; 2. Selecionar o manguito de tamanho adequado ao braço; AN02FREV001 76 3. Colocar o manguito sem deixar folgas acima da fossa cubital, cerca de 2 a 3 cm; FIGURA 17 – MEDIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL 4. Centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial; 5. Estimar o nível da pressão sistólica (palpar o pulso radial e inflar o manguito até seu desaparecimento, desinflar rapidamente e aguardar 1 minuto antes da medida); 6. Palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campânula do estetoscópio sem compressão excessiva; FIGURA 18 - MEDIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL AN02FREV001 77 7. Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da pressão sistólica; 8. Proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 a 4 mmHg por segundo); 9. Determinar a pressão sistólica na ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff), que é um som fraco seguido de batidas regulares e, após, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação; 10. Determinar a pressão diastólica no desaparecimento do som (fase V de Korotkoff); 11. Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa; 12. Se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar valores da sistólica/diastólica/zero; 13. Esperar um a dois minutos antes de novas medidas; 14. Informar os valores de pressão arterial obtidos para o paciente; 15. Anotar os valores e o membro. Antes e após qualquer procedimento é necessária a lavagem das mãos e a assepsia dos materiais utilizados, nestes casos, utiliza-se o álcool 70% e o algodão para realização da assepsia nas olivas auriculares e no diafragma do AN02FREV001 78 estetoscópio. Pacientes em isolamento de contato sempre terão material individualizado quando hospitalizados, desta forma o técnico de enfermagem sempre deverá seguir as normas e orientações do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar. A tabela abaixo mostra as dimensões dos manguitos para as diferenças circunferências de braço. TABELA 4 - DIMENSÕES DA BOLSA DE BORRACHA PARA DIFERENTES CIRCUNFERÊNCIAS DE BRAÇO EM CRIANÇAS E ADULTOS (V DIRETRIZES BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL)
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