Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AN02FREV001 102 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIABETES E HIPERTENSÃO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001 103 CURSO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIABETES E HIPERTENSÃO MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001 104 MÓDULO III 24 DIABETES MELLITUS Conceituada pela Sociedade Brasileira de Diabetes como uma síndrome de múltipla etiologia, que resulta da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina em exercer de maneira adequada os seus efeitos. É caracterizada pela hiperglicemia (aumento da quantidade de glicose no sangue), juntamente com distúrbios do metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas. As principais consequências desta patologia incluem os danos, disfunções e falência de vários órgãos, essencialmente os rins, olhos, nervos, coração e vasos sanguíneos. Segundo o Ministério da Saúde (2006) o diabetes é um grupo de doenças metabólicas caracterizada pela hiperglicemia e associada a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos; podendo resultar de defeitos de secreção de insulina ou defeitos na ação da insulina, envolvendo processos patogênicos específicos, como por exemplo, destruição das células beta do pâncreas, resistência a ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros. Conforme Brunner & Suddarth (1998), o Diabetes Mellitus defini-se como um grupo de distúrbios heterogêneos caracterizado por níveis elevados de glicose no sangue. Em uma pessoa normal certa quantidade de glicose circula no sangue, sendo formada no fígado a partir de alimentos ingeridos; a insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas, é responsável pelo controle do nível de glicose no sangue regulando a produção e armazenamento de glicose. No diabetes, a capacidade do corpo de responder à insulina pode diminuir, ou o pâncreas pode parar totalmente de produzir insulina, levando a uma hiperglicemia, podendo resultar em complicações metabólicas agudas e em longo prazo contribuir para complicações crônicas, estando associado a um aumento da ocorrência de doenças macrovasculares, incluindo infarto agudo do miocárdio, derrames e doença vascular periférica. AN02FREV001 105 Para entender melhor o mecanismo do Diabetes no organismo, bem como da insulina e ação da glicose é necessário relembrar a anatomia e fisiologia do pâncreas humano, que é responsável pela produção dos hormônios reguladores dos níveis de glicose no organismo, conforme consta a seguir. 25 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO PÂNCREAS O pâncreas é um órgão relativamente pequeno que pesa no adulto cerca de 100 gramas e mede cerca de 15 cm. Situa-se em condições normais na porção superior do abdômen, abaixo do estômago e é interligado por um canal ao duodeno; é dividido em partes denominadas: cabeça, corpo e cauda. Este órgão é classificado como uma glândula anfícrina, por possuir uma porção exócrina e outra endócrina, que fazem parte do sistema digestório humano. A porção do pâncreas que exerce função exócrina é responsável pela síntese do suco pancreático, que contém enzimas que atuam na digestão de carboidratos (amilase pancreático), lipídios (lípase pancreática) e proteínas (proteases: quimiotripsina e carboxipeptidase). FIGURA 19 – PÂNCREAS HUMANO EM CORTE LONGITUDINAL FONTE: Disponível em: <http://www.mdsaude.com>. Acesso em: 6 jun. 2009. AN02FREV001 106 A porção do pâncreas que desempenha uma função hormonal ou endócrina é formada pelas Ilhotas de Langerhans, que se constituem por dois tipos de células: as betas, responsáveis pela produção de insulina, e as células alfa, que produzem o glucagon. Ambos os hormônios são responsáveis pela manutenção de níveis ideais de glicose no sangue, ambos com efeitos contrários, diminuindo e aumentando respectivamente os valores da glicose no sangue. O controle glicêmico no sangue se faz da seguinte maneira: após a alimentação os níveis de glicose aumentam, neste momento o pâncreas secreta a insulina para manter os níveis de glicose ideais; a insulina desloca a glicose do sangue para os tecidos das células que compõem o corpo humano ou armazenam a glicose nas células alvo do fígado na forma de glicogênio, baixando com isso a glicemia. Por outro lado, quando se permanece muito tempo sem comer os níveis de glicose do sangue ficam baixos, menos que o aceitável, desta forma o pâncreas em condições normais passa a produzir e secretar glucagon estimulando a glicogênese (quebra do glicogênio, aumentando a taxa de glicemia) e transportando glicose no sangue. Quaisquer situações anormais na secreção da insulina nos efeitos da insulina no organismo provocam a hiperglicemia, índices maiores que os permitidos de glicose no sangue circulante, constituindo-se na Diabetes Mellitus. 26 FUNÇÃO DA INSULINA NO CORPO A insulina exerce efeitos muito pronunciados sobre o metabolismo da maior parte dos diferentes tipos de alimentos – carboidratos, gorduras e proteínas. Sem insulina um animal ou um ser humano não consegue crescer, em parte por não poder utilizar mais que parte bem pequena do carboidrato que ingere, mas também por suas células serem incapazes de sintetizar proteínas. Também, na falta da insulina, as células utilizam quantidades grandes de gorduras, o que provoca condições de debilidade extrema, tais como perda de peso, acidose, e até mesmo coma. Mas diante destas informações, por que a insulina e seus efeitos são tão importantes? Vamos analisar abaixo como a insulina atua nos AN02FREV001 107 alimentos para compreender esta importância. O mais importante efeito da insulina é o de promover o transporte de glicose para o interior de quase todas as células musculares, as células gordurosas e as células hepáticas. O mecanismo de ação da insulina é mostrado na figura abaixo. A glicose combina-se com uma substância carreadora na membrana celular e, em seguida, difunde-se para o interior da membrana, onde é liberada no citoplasma. O carreador é utilizado repetidamente para o transporte de quantidades adicionais de glicose. Esse tipo de transporte chama-se difusão facilitada. Isso significa que a combinação da glicose com o carreador torna mais fácil a difusão da glicose por meio da membrana, entretanto esse transporte jamais fará com que a concentração de glicose no interior da célula fique maior que o exterior. O efeito da insulina sobre o transporte de glicose é o de ativar o mecanismo de difusão facilitada. Dentro de período de segundos a minutos após a combinação da insulina com a membrana celular, a intensidade da difusão da glicose para o interior celular aumenta de 15 a 20 vezes, o que sugere uma ação direta da insulina, seja sobre a própria membrana celular ou sobre o sistema de transporte da glicose. O transporte de glicose para o interior das células hepáticas depende de mecanismo diferente. A membrana celular do fígado é tão permeável que a glicosepode, com toda a facilidade, difundir-se por meio dela, mesmo na ausência da difusão facilitada. Contudo, a glicose pode difundir-se nos dois sentidos, tanto para dentro como para fora das células. Mas, na presença de insulina, várias enzimas das células hepáticas são ativadas, o que promove o encarceramento da glicose no interior dessas células. Essas enzimas são as glicoquinase, que faz com que a glicose reaja com o íon fosfato, e o glicogênio sintetase, que faz com que grande número de moléculas de glicose reaja entre si para formar o glicogênio, o polímero da glicose de alto peso molecular. Na falta da insulina esse mecanismo de encarceramento cessa e outra enzima, a fosforilase, fica ativada e despolimeriza o glicogênio de volta à glicose, o que permite sua saída da célula. Quando a concentração de glicose fica acima do normal, o pâncreas secreta quantidades maiores de insulina que, por sua vez, promove o transporte rápido de glicose para o interior das células e a torna disponível para as funções celulares. Portanto, um dos efeitos óbvios da insulina é a de provocar a rápida utilização da AN02FREV001 108 glicose para energia, pela maioria das células do corpo. Após uma refeição, quando existe excesso de glicose e insulina, a glicose é muitas vezes transportada para o interior das células hepáticas e musculares em quantidades muito maiores que as que podem ser utilizadas para energia. Como resultado, uma grande parte dessa glicose fica armazenada sob a forma de glicogênio: a concentração do glicogênio nas células hepáticas pode, por vezes, atingir até 5 a 6% e, nas células musculares, mais de 1%. Durante os períodos de intervalos durante as refeições, as células musculares reconvertem o glicogênio de volta à glicose, usando-a para energia. Por outro lado, nas células hepáticas a enzima fosforilase fica ativada e despolimeriza o glicogênio de volta a glicose, liberando essa glicose para o sangue circulante, por onde é levada a todas as regiões do corpo onde for necessária. Desse modo, o fígado é um dos depósitos temporários de glicose de maior importância. Após os depósitos hepático e muscular de glicose terem sido preenchidos, toda a glicose remanescente que ainda não pode ser usada de forma imediata é armazenada como gordura, nos depósitos de gordura. Cerca de nove décimos dessa gordura são sintetizados no fígado a partir do grande excesso de glicose que é transportada para essas células, sob a influência da insulina. Em seguida, essa gordura é liberada para o sangue, sob a forma de lipoproteínas e transportadas para as células gordurosas (adiposas) no tecido gorduroso. Além disso, outro décimo dessa gordura de depósito é sintetizado nas próprias células gordurosas. A insulina promove o transporte de glicose para essas células de modo idêntico ao das outras células do corpo. Em resumo, o efeito da insulina sobre o metabolismo da glicose é o de aumentar sua utilização para energia ou o de fazer com que a glicose fique armazenada sob a forma de glicogênio ou sob a forma de gordura. Em presença de grandes quantidades de insulina, o rápido transporte de insulina para o interior das células em todo o corpo diminui sua concentração sanguínea. De modo inverso, a falta de insulina faz com que a glicose fique retida no sangue, ao invés de penetrar nas células. A falta completa de insulina, usualmente produz um aumento da concentração sanguínea de glicose, desde o valor maior 90 mg para cada 100 ml, até valores da ordem de 350 mg para 100 ml. Por outro lado, AN02FREV001 109 um aumento acentuado da insulina pode reduzir a glicose sanguínea até cerca de 25 mg por 100 ml, isto é, um quarto do normal. O efeito da insulina sobre o metabolismo das gorduras é quase que exatamente o oposto do que exerce sobre o metabolismo da glicose. Isto é, insulina inibe de modo acentuado, quase em todos os aspectos o metabolismo da glicose, como foi descrito acima. A insulina dificulta o metabolismo das gorduras por dois meios: Primeiro, quando a glicose está presente em excesso no interior das células, essas células demonstram preferência para a utilização da glicose em lugar da gordura para o metabolismo, devido à natureza dos sistemas enzimáticos intracelulares. Como resultado, a intensidade da degradação dos ácidos graxos fica muito diminuída. Segundo, antes que a gordura que foi depositada nas células gordurosas possa ser utilizada para energia, deve ser liberada das células. O mecanismo dessa liberação é para que uma enzima, presente nas próprias células gordurosas, chamada de lípase hormônio-sensível, desdobre os ácidos graxos das gorduras armazenadas que difundem para o sangue. Contudo, a insulina inibe a lípase hormônio-sensível, de modo que, uma vez que a gordura tenha sido depositada nas células gordurosas, ela não será liberada enquanto existir insulina em quantidades suficientes para inibir a lípase hormônio- sensível. Dessa forma, em presença de insulina, a gordura fica relativamente impossível de ser utilizada para o metabolismo, enquanto que a disponibilidade de glicose fica muito aumentada. Na falta de insulina, em termos essenciais, todas as fases do metabolismo das gorduras ficam muito aceleradas. Primeiro, a lípase hormônio sensível das células gordurosas fica fortemente ativada e grandes quantidades de ácidos graxos são liberadas para o sangue. Segundo, esses ácidos graxos ficam facilmente disponíveis para as células de todo o corpo, e muitos deles são usados, de modo quase que imediato, para energia, em especial, pelas células musculares. Terceiro, grande proporção de ácidos graxos é transportada para o fígado, onde são convertidos em triglicerídeos, fosfolipídeos e colesterol. AN02FREV001 110 Quarto, o metabolismo muito rápido dos ácidos graxos no fígado provoca a formação de quantidades muito grandes de ácidos acetoacético, que é liberado, logo em seguida, para o sangue. Boa parte desse ácido é utilizada pelas células para energia, mas parte permanece no sangue e pode ocasionar acidose generalizada grave, muitas vezes levando ao coma acidótico e até a morte, que são os efeitos mais penosos do diabetes. Há um aumento rápido dos ácidos graxos no sangue, quando ocorrer falta abrupta de insulina, como que ocorre por remoção do pâncreas. Deve, também, ser notado o aumento progressivo do ácido acetoacético sanguíneo, resultado de um metabolismo de gorduras excessivo e prolongado, além do acúmulo muito acentuado da glicose sanguínea, devido a não utilização celular de glicídios. A insulina é quase tão potente como o hormônio do crescimento em fazer com que ocorra deposição de proteínas nas células. Isso resulta de seus efeitos, tanto diretos como indiretos, sobre o metabolismo das proteínas. Os efeitos diretos da insulina sobre o metabolismo das proteínas são de três tipos: 1. A insulina aumenta a intensidade do transporte da maioria dos aminoácidos por meio da membrana celular, o que aumenta as quantidades disponíveis de aminoácidos para a síntese celular de proteínas. 2. A insulina aumenta a formação de ARN nas células; 3. A insulina aumenta a formação de proteínas pelos ribossomos; Desse modo, a insulina exerce um potente efeito direto sobre a promoção da síntese de proteínas em todas ou na maioria das células. O efeito indireto da insulina sobre o metabolismo das proteínas é resultado da utilização da glicose pelas células. Quando a glicose está disponível para o uso energético ocorre o efeito poupador de proteína, pois os carboidratos são usados preferencialmente à insulina. Por outro lado, na ausência da insulina, esse efeitonão existe, de modo que são utilizadas grandes quantidades de proteína, como também de gordura, em lugar dos carboidratos, para energia. Dado que a insulina promove a formação de proteínas, bem como torna disponíveis grandes quantidades de energia dos carboidratos, esse hormônio exerce AN02FREV001 111 efeito muito potente sobre o crescimento. Na verdade, sua falta, em um animal, produz retardo do crescimento na mesma intensidade em que ocorre com falta do hormônio do crescimento da hipófise anterior. Quando o teor da glicose sanguínea fica elevado, o pâncreas começa a secretar insulina dentro de poucos minutos. Isso é causado por efeito direto da glicose sobre as células beta das ilhotas pancreáticas, fazendo com que secretem quantidades muito acentuadas de insulina. Essa insulina, por sua vez, faz com que a glicose em excesso seja transportada para o interior das células, onde poderá ser usada para energia, armazenada como glicogênio ou convertida em gordura. Assim, o mecanismo da insulina é um modo de feedback para o controle da concentração da glicose no sangue e nos líquidos extracelulares. Isto é, um teor muito elevado de glicose provoca a secreção de insulina, que ocasiona maior utilização da glicose e retorno de suas concentrações aos valores normais. De modo inverso, quando o valor sanguíneo da glicose fica muito baixo, ocorre redução da secreção de insulina e a glicose passa a ser conservada nos líquidos orgânicos, até que sua concentração volte ao normal. O hormônio glucagon também participa no controle da concentração sanguínea da glicose. 27 EFEITOS DO GLUCAGON NO ORGANISMO As células alfa das ilhotas de Langerhans secretam um hormônio chamado glucagon. Muitas das funções do glucagon são opostas às da insulina, embora outras complementem suas ações. O glucagon aumenta o teor sanguíneo de glicose; a insulina o diminui. Por outro lado, tanto a insulina quanto o glucagon aumentam a disponibilidade de glicose para a utilização celular. O glucagon realiza isso por mobilizar a glicose do fígado; a insulina o faz por aumentar o transporte de glicose para o interior da célula. Por exemplo, durante o exercício intenso, os dois hormônios atuam em conjunto, para que ocorra maior utilização de glicose pelos músculos. O glucagon aumenta a concentração sanguínea de glicose por dois mecanismos. Primeiro, aumenta a degradação do AN02FREV001 112 glicogênio hepático em glicose, tornando-a disponível para ser transportada para o sangue. O glucagon exerce esse efeito pela ativação da enzima adenilciclase nas membranas das células hepáticas, o que aumenta o teor de AMP cíclico nas células hepáticas. Esse AMP cíclico, então, ativa a enzima fosforilase, que promove a glicogenólise (degradação do glicogênio hepático em glicose). Segundo, o glucagon, aumenta a glicogênese (conversão de proteína em glicose) pelo fígado. Exerce esse efeito, em sua maior parte, pela ativação do sistema enzimático das células hepáticas responsáveis por esse processo. A concentração sanguínea da glicose pode aumentar de até 20% dentro de alguns minutos após a injeção do glucagon. A secreção de glucagon é controlada de modo quase exatamente oposto ao da insulina. Isto é, quando a concentração sanguínea de glicose cai abaixo do normal, o pâncreas começa a secretar maiores quantidades de glucagon para o sangue. Em verdade quando a secreção sanguínea de glicose cai até 60 mg por 100 ml de sangue (mais ou menos 30% abaixo do normal), o pâncreas, em termos literais, joga glucagon para o sangue. Esse efeito do baixo teor de glicose sobre a secreção de glucagon provoca a liberação quase imediata de glicose pelo fígado, o que, de forma muito rápida, aumenta de novo o teor de sangue até de volta ao normal, de 90 mg por 100 ml. Desse modo, o mecanismo do glucagon, como o mecanismo da insulina, participa da regulação da concentração sanguínea de glicose, mas com uma diferença: o mecanismo do glucagon é especialmente ativado durante o exercício intenso e os períodos de destruição, pois ambos agem no sentido de baixar a glicose sanguínea. Uma função especialmente importante do glucagon é a de manter a concentração de glicose alta o suficiente para o funcionamento normal dos neurônios cerebrais e, portanto, para impedir as convulsões e o coma hiperglicêmico. AN02FREV001 113 28 EFEITOS FISIOPATOLÓGICOS DO DIABETES MELLITUS A anormalidade primária do diabetes é a incapacidade de utilizar quantidades adequadas de glicose para energia, empregando pelo contrário quantidades excessivas de gorduras. Isso faz com que o teor sanguíneo da glicose fique muito aumentado, por vezes chegando até o triplo do normal e em raros casos até dez vezes o valor normal. Grandes quantidades de glicose são perdidas na urina, visto que os túbulos renais não conseguem reabsorver toda a glicose que chega ao filtrado glomerular por minuto. A glicose tubular em excesso também provoca pressão osmótica extremamente aumentada nos túbulos, o que reduz a absorção de água. Como resultado a pessoa diabética perde grandes quantidades de glicose e água na urina. Em casos extremos o volume excessivo de urina pode causar a desidratação extracelular, o que, por si só pode ser lesivo. A incapacidade da pessoa diabética em utilizar a glicose para energia priva- a de parte importante de energia de seu alimento. Ela torna-se uma pessoa enfraquecida devido ao consumo aumentado de gorduras e proteínas. Como resultado da deficiência nutricional do diabetes, o indivíduo diabético sente habitualmente muita fome, de modo que come, na maioria das vezes com grande voracidade, muito embora a fração de carboidratos do que ingere pouco contribua para a nutrição. O diabetes prolongado causa o desenvolvimento precoce da aterosclerose, o que, subsequentemente, pode provocar ataques cardíacos, lesões renais, acidentes vasculares cerebrais e outros distúrbios circulatórios. A razão para esse desenvolvimento da aterosclerose é que, mesmo com o melhor tratamento do diabetes, o metabolismo da glicose nunca pode ser mantido em nível suficientemente alto para impedir o metabolismo excessivo das gorduras e o depósito do colesterol nas paredes dos vasos sanguíneos é sempre um acompanhamento indesejável do metabolismo rápido das gorduras. Devido a isso, a pessoa que apresenta diabetes em fase muito jovem de sua vida tem, em geral, sobrevida reduzida, não importando quão bem seja tratado. O hiperinsulinismo pode ocorrer, na maioria das vezes, como resultado do tratamento AN02FREV001 114 exagerado de pessoa diabética com insulina ou de secreção muito aumentada de insulina por tumor de ilhota pancreática. Nos dois casos, a consequência é uma concentração sanguínea muito baixa de glicose. Por sua vez, isso causa, inicialmente, hiperexcitabilidade cerebral, e depois coma. Os neurônios cerebrais exigem um suprimento constante de glicose por não poderem utilizar quantidades significativas de gorduras ou de proteínas para a energia. Ainda mais, a intensidade da captação de glicose pelos neurônios, diferentemente do que acontece com as outras células, é dependente, em sua maior parte, da concentração sanguínea de glicose, e não no teor disponível de insulina. Sempre que há excesso de insulina, a glicose sanguínea fica muito diminuída e os neurônios não recebem mais a quantidade de glicose necessária ao seu metabolismo. Isso faz com que fiquem primeiro, muito excitados, e, em seguida, deprimidos. Na fase de excitação podem ocorrer convulsões, mas na fase de depressão, a pessoa entra em coma, muito semelhanteà que ocorre no diabetes não tratado. Na verdade, por vezes, é muito difícil o diagnóstico da causa do coma em um diabético. Pode ser o resultado da secreção insuficiente de insulina, como acontece no coma diabético, ou do tratamento com insulina em demasia, quando a causa do coma passa a ser hiperinsulinismo. 29 CETOSE E COMA DIABÉTICO O metabolismo extraordinariamente rápido das gorduras no diabetes pode, por vezes, aumentar a quantidade de cetoácidos nos líquidos extracelulares até cerca de 10 mEq/litro, o que é 10 vezes maior que o normal. Em certas situações isso é suficiente para fazer com que o pH dos líquidos orgânicos caia de seu valor normal de 7,4 para tão baixo quanto 7,0, ou – em condições muito raras – até de 6,9. Esse grau de acidose é incompatível com a vida por mais de algumas horas. A pessoa nesta situação respira extremamente rápido e profundo, para eliminação do gás carbônico, o que ajuda a compensar a acidose metabólica, mas apesar disso, a acidose, muitas vezes chega a uma intensidade suficiente para AN02FREV001 115 causar coma. A não ser que seja tratada, a pessoa, na grande maioria dos casos, morre em 24 horas. O tratamento consiste na pronta administração de insulina em grandes doses. Algumas vezes é administrada glicose juntamente com a insulina, para favorecer a troca do metabolismo das gorduras pelo dos carboidratos; a administração venosa de soluções alcalinas também pode ser muito benéfica na neutralização da acidose. 30 TIPOS DE DIABETES 30.1 DIABETES TIPO 1 O Diabetes Tipo 1 ocorre quando o organismo humano deixa de produzir insulina ou produz em pequena quantidade devido à destruição das células beta do pâncreas; essa destruição se dá porque o organismo começa a produzir anticorpos, interpretando as células beta como corpos estranhos. Segundo o Ministério da Saúde (2006), a destruição das células beta do pâncreas é causada geralmente por processo autoimune, que pode ser detectado por autoanticorpos circulantes antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD), anti-ilhotas e anti-insulina, e em algumas situações pode estar associado a doenças autoimunes como, por exemplo, a Tireoidite de Hashimoto, doença de Addison e a miastenia gravis, sendo que em menor proporção as causas da destruição das células beta são desconhecidas. Segundo Brunner & Suddarth (1998), a Diabetes tipo 1 é caracterizada pela incapacidade em produzir insulina porque as células betapancreáticas foram destruídas por um processo autoimune. A hiperglicemia de jejum ocorre como resultado de uma produção não controlada de glicose pelo fígado. Além disso, a glicose derivada dos alimentos não pode ser estocada no fígado, mas permanece na corrente sanguínea e contribui para a glicemia pós-prandial (após refeições). Ocorre degradação de gordura, resultando em um aumento de produção dos corpos cetônicos, que são subprodutos da degradação de gorduras. Os corpos cetônicos são ácidos que perturbam o equilíbrio ácido-básico do corpo quando se AN02FREV001 116 acumulam em quantidades excessivas. A resultante Cetoacidose Diabética (CAD) pode causar sintomas tais como dor abdominal, náuseas, vômitos, hiperventilação, odor de frutas no hálito e, se não tratada, nível alterado de consciência, como e morte. O início do tratamento com insulina, juntamente com líquidos e eletrólitos necessários, melhora rapidamente as anomalias metabólicas e resolve os sintomas de hiperglicemia e CAD, juntamente a isso é importante dieta, exercícios frequentes e a monitorização dos níveis de glicose. As causas do Diabetes Tipo 1 ainda são desconhecidas, algumas pesquisas identificaram a presença de um gene que poderiam predispor a pessoa à doença, entretanto, em algumas pessoas portadoras do Diabetes Tipo 1 este mesmo gene não foi encontrado; estuda-se ainda a possibilidade de ser uma causa própria do organismo ou causa externa. A maioria de pessoas acometidas por este tipo de Diabetes possui menos de 35 anos de idade. Esses pacientes necessitam receber insulina continuamente para auxiliar o metabolismo dos açucares no organismo, permitindo a formação de energia. Sintomas identificados neste no Diabetes Tipo 1: • Vontade de urinar diversas vezes • Fome frequente • Sede constante • Perda de Peso • Fraqueza • Fadiga • Nervosismo • Mudanças de Humor • Náuseas • Vômitos 30.2 DIABETES TIPO 2 No Diabetes Tipo 2 existe a produção contínua da insulina pelo pâncreas, o problema reside na incapacidade de absorção das células musculares e adiposas, AN02FREV001 117 que por alguma razão não conseguem metabolizar a glicose suficiente da corrente sanguínea, esta anomalia denomina-se de Resistência Insulínica. Segundo Brunner & Suddarth (1998), no Diabetes Tipo II existem dois problemas principais relacionados à insulina: resistência à insulina e secreção prejudicada de insulina. A resistência à insulina refere-se a uma sensibilidade diminuída dos tecidos a ela, que se torna menos efetiva na estimulação da captação de glicose pelos tecidos. Na secreção prejudicada de insulina, que é característica do Diabetes tipo 2, há suficiente insulina presente para evitar a degradação de gorduras e subsequente produção de corpos cetônicos. Portanto, a CAD não ocorre no Diabetes Tipo 2, entretanto, um diabetes tipo 2 alterado e descontrolado pode levar a outro problema agudo chamado hiperglicemia hiperosmolar não cetótica. O Ministério da Saúde (2006) define o Diabetes Tipo 2 como um termo usado para designar uma deficiência relativa de insulina. A administração de insulina nesses casos, quando efetuada, não visa evitar cetoacidose, mas alcançar controle do quadro hiperglicêmico. A cetoacidose é rara e, quando presente, é acompanhada de infecção ou estresse muito grave. O Diabetes Tipo 2 está mais associado ao fator hereditário do que o Diabetes Tipo 1, e existe uma grande relação entre o sedentarismo e a obesidade e o aparecimento da doença. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, 60 a 90% de pacientes com Diabetes Tipo 2 são obesos. Ocorre mais frequentemente nas pessoas acima de 40 anos de idade. O tratamento dos pacientes com Diabetes Tipo 2 é a ingestão de antiglicêmicos por via oral e posteriormente nos casos necessários à associação destes com a insulina. Sintomas Diabetes Tipo 2: • Infecções Frequentes • Alteração Visual (Visão Embaçada) • Dificuldade na cicatrização de feridas • Formigamento nos pés • Furunculose AN02FREV001 118 30.3 DIABETES NA GRAVIDEZ A mulher pode passar por duas situações diferentes etiologicamente referentes à diabetes durante o período da gestação. Uma mulher pode ser diabética e engravidar, ou adquirir durante o período gestacional o chamado Diabetes Gestacional. As mulheres que têm diabetes diagnosticadas antes da gestação devem ser aconselhadas quanto ao tratamento da doença durante a gestação. Um controle precário do diabetes (hiperglicemia) na concepção tem sido associado à ocorrência de malformações congênitas. Por este motivo, as mulheres com diabetes devem ter um excelente controle deste distúrbio antes da concepção e durante a gravidez. A Sociedade Brasileira de Diabetes instrui que todas as mulheres diabéticas devem seguir com rigor o controle sobre os níveis glicêmicos, principalmente pensando que um dia poderão engravidar, evitando assim ao máximo as complicações da hiperglicemia na gestação. Sendo este controle contínuo, antes e durante a gravidez, já que o controle glicêmico rigoroso durante a gestação diminui a probabilidade dea criança nascer diabética. Diante disso, a programação da gravidez seria o melhor caminho para a mulher diabética, uma vez que ao decidir por engravidar, preventivamente já inicia um acompanhamento sobre as complicações já existentes e possíveis repercussões durante a gravidez. Uma gravidez não planejada não é motivo de desespero, mas sim de acompanhamento e controles rigorosos com a ajuda dos profissionais de saúde. O Diabetes Gestacional é a alteração nos níveis de glicose durante o período da gestação, podendo ou não persistir após o parto. É a hiperglicemia diagnosticada na gravidez, de intensidade variada, geralmente se resolvendo no período pós-parto, mas retornando anos depois em grande parte dos casos. Seu diagnóstico é controverso. A OMS recomenda detectá-lo com os mesmos procedimentos diagnósticos empregados fora da gravidez, considerando como diabetes gestacional valores referidos fora da gravidez como indicativos de diabetes ou de tolerância à glicose diminuída (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). AN02FREV001 119 O diabetes gestacional ocorre em mulheres que não tinham diabetes antes da gestação. Desenvolve-se hiperglicemia durante a gestação devido à secreção de hormônios placentários. Todas as mulheres grávidas devem ser triadas quanto ao diabetes antes da 24º e 27º semanas gestantes. O tratamento inicial inclui modificações dietéticas e monitoramento de glicose. Caso a hiperglicemia persista é prescrito insulina. Os agentes hipoglicemiantes não devem ser usados durante a gestação (BRUNNER & SUDDARTH, 1998). Após o parto da criança, os níveis de glicose sanguínea na mulher com diabetes gestacional retornam ao normal. Entretanto, muitas que tiveram diabetes gestacional desenvolvem diabetes tipo 2 na vida adulta. Portanto, todas as mulheres que tiveram diabetes gestacional devem ser aconselhadas a manter seu peso corpóreo ideal e a se exercitarem regularmente para tentar evitar o início do diabetes tipo II. 30.4 OUTROS TIPOS DE DIABETES Existem outras formas de Diabetes que ocorrem com menor frequência, são elas: 1. Diabetes Secundário ao Aumento da Função das Glândulas Endócrinas: algumas doenças glandulares, devido ao aumento da função, podem prejudicar a ação da insulina e em pessoas predispostas aparecer o diabetes. Algumas das doenças são: hipertireoidismo, doença de Cushing, acromegalia ou gigantismo, feocromocitoma, glucagonoma. 2. Diabetes Secundário a Doenças Pancreáticas: o diabetes pode ocorrer em decorrência de alguma doença pancreática, geralmente em pessoas possuidoras da doença e com predispostas ao diabetes tipo II, são elas: retirada cirúrgica do pâncreas de até 75%, pancreatite crônica e destruição pancreática por hemocromatose (acúmulo de ferro no fígado). 3. Resistência Congênita ou Adquirida à Insulina: a ação da insulina é ineficiente devido a defeitos nos encaixes da insulina nos tecidos (receptores de insulina) e formação antirreceptores. AN02FREV001 120 4. Diabetes associado à Poliendocrinopatias Autoimunes: nesses casos existem anticorpos de células das ilhotas pancreáticas. 5. Diabetes associado à Desnutrição e Fibrocalculoso: é devido à baixa ingestão proteica e consumo de alimentos com cianeto que, em conjunto, causam destruição das células pancreáticas e consequente diminuição da produção de insulina. 6. Diabetes relacionada à anormalidade de insulina (insulinopatias): nestes casos há produção de insulina, entretanto, sua estrutura está alterada e com isso sua ação é ineficiente, o tratamento é feito com a insulinoterapia. 7. Diabetes Tipo LADA (Latent Autoimmune Diabetes in Adults): conceitua-se como o surgimento tardio do Diabetes Tipo 2, sendo que a maior incidência está na faixa dos pacientes entre 35 e 60 anos, magros e com cetoacidose. Também é denominado como Diabetes 1.5 e costuma ser confundido com o Diabetes Tipo 2. 31 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA A presença de níveis elevados de glicose no sangue é o principal critério para o diagnóstico do diabetes. Entretanto, pode-se dizer que o diagnóstico do diabetes é feito por meio da investigação clínica de sinais e sintomas e juntamente a esses, por meio da verificação por exames laboratoriais. Os principais sintomas de Diabetes são os denominados “4 Ps”: • Poliúria: corresponde ao aumento do volume urinário (acima de 2.500 ml/24 horas) podendo ou não ser acompanhado de aumento na frequência urinária; • Polidipsia: sede excessiva; • Polifagia: ou hiperfagia corresponde à fome excessiva e aumento exagerado da ingestão alimentos sólidos; • Perda involuntária de peso. AN02FREV001 121 Outros sintomas que podem ser indicativos do diabetes são: fadiga, fraqueza, letargia, prurido cutâneo e vulvar, balanopostite (uma inflamação conjunta da glande e do prepúcio) e infecções de repetição. Quando a doença já causou complicações maiores pode ser diagnosticada por meio da retinopatia, neuropatia ou doença cardiovascular aterosclerótica. Vale ressaltar que existem casos de pacientes com Diabetes tipo II que são assintomáticos, desta forma o não aparecimento de sinais e sintomas não deve em nenhum momento ser critério de exclusão ao diagnóstico da doença, em todos os casos os fatores de risco devem ser avaliados em conjunto com os exames laboratoriais. Os principais exames laboratoriais que são utilizados na investigação diagnóstica do Diabetes são: • Glicemia de Jejum: a glicemia de jejum é realizada pela análise da quantidade de glicose presente no sangue venoso após 8 a 12 horas de jejum. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes e Associação Americana de Diabetes (2005), quando o resultado da glicemia de jejum estiver entre 70 a 99 mg/dl e 140 mg/dl após a sobrecarga de glicose, o exame é considerado normal; já nos casos em que o resultado do exame estiver entre 100 a 125 mg/dl o paciente é portador de uma glicemia inapropriada e é necessária a realização do TTG; nos resultados iguais ou acima de 126 mg/dl em dois exames consecutivos já existe o diagnóstico do diabetes e valores acima de 200 mg/dl em qualquer hora do dia o paciente também é diagnosticado com diabetes. Resumidamente: - Exame Normal: 70 a 99 mg/dl - Intolerância à Glicose: 100 a 125 mg/dl - Diabetes: iguais ou superiores a 126 mg/dl em jejum ou 200 mg/dl em qualquer horário do dia • Teste Oral de Tolerância a Glicose (TTG-75g): este exame consiste na administração por via oral pelo paciente em 75 g de glicose diluída em água em laboratório, após duas horas da ingestão pelo paciente é realizada a coleta do sangue venoso e feita a análise dos níveis de AN02FREV001 122 glicose no sangue. O resultado igual ou superior a 200 mg/dl indica o diagnóstico de diabetes enquanto que se o resultado for entre os valores de 140 a 199 mg/dl o diagnóstico é de pré-diabetes e/ou intolerância à glicose. Segundo o Ministério da Saúde (2006) pessoas cuja glicemia de jejum situa- se entre 110 e 125 mg/dL (glicemia de jejum alterada), por apresentarem alta probabilidade de ter diabetes, podem requerer avaliação por TTG-75g em 2h. Mesmo quando a glicemia de jejum for normal (< 110 mg/dL), pacientes com alto risco para diabetes ou doença cardiovascular podem merecer avaliação por TTG. 32 FATORES DE RISCO No diabetes tipo I acredita-se que uma combinação de fatores genéticos, imunológicos e possivelmente ambientais (por exemplo, virais) contribua para a destruição das células beta. As pessoas não herdam o diabetes tipo 1 em si. O que elas herdam é uma predisposição genética, ou tendências para desenvolver estetipo de diabetes. Neste tipo de diabetes há a evidência de uma resposta autoimune, ou seja, uma resposta anormal na qual os anticorpos são dirigidos contra os tecidos normais do corpo, respondendo a esses tecidos como se eles fossem exógenos. Algumas pesquisas demonstram que alguns vírus ou toxinas podem estar relacionados à existência do diabetes tipo 1, sendo que estes vírus ou toxinas são vistos supostamente como precipitantes do processo autoimune, que leva à destruição das células beta. Os mecanismos que levam à resistência à insulina e a sua secreção prejudicada no Diabetes tipo 2 é desconhecido. Os fatores genéticos são considerados como tendo certo papel no desenvolvimento da resistência à insulina. Além disso, existem alguns fatores de risco que são conhecidos como estando associados ao desenvolvimento de Diabetes tipo 2, são eles: AN02FREV001 123 • Idade maior de 45 anos; • Obesidade (inclusive a obesidade infantil): índice de massa corporal igual ou acima de 25; • Obesidade Central: cintura abdominal maior que 102 cm para homens e maiores que 88 cm para mulheres; • História familiar: antecedentes familiares (pai ou mãe com diabetes); • Hipertensão: 140/90 mmHg; • Nível alto de colesterol e triglicerídeos: colesterol HDL de 35 mg/dl e/ou triglicerídeos 150 mg/dl • História de macrossomia ou diabetes gestacional; • Diagnóstico prévio de síndrome dos ovários policísticos; • Doença cardiovascular, cerebrovascular ou vascular periférica definida; • Estresse emocional; • Sedentarismo; • Mulheres que geram filhos com mais de 4 Kg; • Uso frequente de medicamentos como corticosteroides e/ou diuréticos. 33 TRATAMENTO O tratamento do Diabetes é definido primeiramente a partir de sua etiologia, ou seja, dependendo do tipo de Diabetes que o paciente possui como também a causa, quando identificada. Em todos os casos, ao ser diagnosticado um paciente com diabetes todas as metas devem ser no sentido de manter a glicose sanguínea em níveis aceitáveis e prevenir as complicações que esta patologia pode causar. Desta forma, é importante que o profissional de enfermagem possua embasamento sobre as mudanças no estilo de vida do paciente, como forma de prevenir as intercorrências e sequelas que o Diabetes poderá ocasionar. Na maioria das vezes há indicação dos medicamentos por via oral ou a insulinoterapia, que em conjunto a hábitos de vida saudáveis leva a uma considerável redução dos níveis de complicações. AN02FREV001 124 O tratamento para diabetes tem forte influência sobre a qualidade de vida. O controle dos sintomas causado pela hiperglicemia impõe restrições ao paciente, envolvendo uma rotina prescrita para reeducação alimentar, atividade física, medicação e automonitoramento do sangue (Garrat et al., 2002). Além disso, quase sempre está acompanhada ao longo da vida por outras doenças crônicas, possuindo prognósticos incertos e que, apesar de contínuos tratamentos, podem causar sintomas e complicações agudas. Nos casos dos pacientes diagnosticados como pré-diabéticos, são essenciais as mudanças no estilo de vida, como caminho para que o paciente não venha a ser um futuro diabético. Alguns estudos demonstram que o acompanhamento do paciente pré-diabético e a educação continuada na mudança do estilo de vida diminui as chances do paciente ser diabético. É importante ter em mente que existe uma diferença entre o tratamento aplicado ao paciente com Diabetes Tipo 1 e Diabetes Tipo 2, mais no aspecto medicamentoso, já que as mudanças no estilo de vida dos pacientes equivale a todos os tipos de Diabetes. Os principais objetivos do tratamento do paciente com Diabetes Tipo 1 são: - promover o controle metabólico; - permitir desenvolvimento e crescimento adequado (geralmente por ser diagnosticado em pessoas jovens ou crianças); - promover o bem-estar físico e psíquico do paciente; - evitar as complicações crônicas. O tratamento da Diabetes Tipo 1 consiste: - terapia nutricional; - atividade física; - insulinoterapia. Os principais objetivos no tratamento do paciente com Diabetes Tipo 2 são: - controle metabólico; - manutenção da qualidade de vida; - não desenvolver complicações. AN02FREV001 125 O tratamento do Diabetes tipo 2 consiste: - terapia nutricional; - atividades físicas; - antidiabéticos orais; - insulinoterapia (quando necessário); - manutenção de uma pressão arterial estável; - redução da dislipidemia. Diante disso abordaremos o tratamento farmacológico e não farmacológico para estudo, sendo que um não exclui o outro, e será competência do profissional médico realizar a orientação frente aos fármacos administrados e a necessidade da utilização da insulinoterapia para cada paciente diante do diagnóstico. Tratamento não farmacológico: consiste em ações e mudanças no estilo de vida do paciente e inclui: 1. Terapia nutricional adequada: a dieta e o controle de peso constituem- se na base do tratamento do paciente diabético. O tratamento do paciente diabético visa às seguintes metas: fornecimento de todos os alimentos essenciais, atingir e manter um peso razoável, atender as necessidades energéticas, evitar grandes flutuações diárias nos níveis de glicose sanguínea, mantendo os níveis os mais próximos do normal e diminuir os níveis de lipídios no sangue. Segundo o Ministério da Saúde (2006), as principais instruções na terapia nutricional do paciente diabético são: • A quantidade energética ingerida deve ser adequada à atividade física e ser fracionada em cinco a seis refeições/lanches diários; • A ingestão diária deve conter de 50 a 60% de carboidratos, a maior parte em forma complexa. Para tanto, os pacientes devem ser encorajados a comer alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras, legumes, feijões e cereais integrais; AN02FREV001 126 • A ingestão diária deve conter no máximo 30% de gorduras, sendo não mais de um terço sob a forma de ácidos graxos saturados; não exceder a 300 mg/dia de colesterol; • Alimentos que contêm sacarose (açúcar comum) devem ser evitados para prevenir oscilações acentuadas da glicemia. Quando consumidos, o limite é de 20 a 30g por dia de açúcar de forma fracionada e substituindo outro carboidrato para evitar o aumento calórico. A recomendação não é encorajá-los a comer doces, mas, auxiliá-los a, quando usar esses alimentos, fazê-lo de modo que não os prejudique; • A ingestão de álcool, quando consumido, deve ser moderada e de preferência com as refeições. O limite diário é de uma a duas doses, isto é, 10-20g de álcool/dia. Um copo (90 ml) de vinho contém 1,1 doses, uma lata de cerveja (350 ml) 1,7 doses, e uma dose (35 ml) de destilados 2 doses de álcool. Pacientes com hipertrigliceridemia ou mau controle metabólico não devem ingerir bebidas alcoólicas; • O uso moderado de adoçantes não calóricos (ciclamato, sucralose, sacarina, aspartame, acesulfame, e stévia) é seguro quando consumido em quantidades adequadas. Os alimentos dietéticos podem ser recomendados, mas, é preciso ficar atento sobre seu conteúdo calórico e de nutrientes. Alimentos diet são isentos de sacarose, quando destinados a indivíduos diabéticos, mas, podem ter valor calórico elevado, por seu teor de gorduras ou outros componentes. Alimentos light são de valor calórico reduzido em relação aos alimentos convencionais. Os refrigerantes e as gelatinas dietéticas têm valor calórico próximo de zero e podem ser consumidos. Por outro lado, chocolate, sorvete, alimentos com glúten (pão, macarrão, biscoitos), mesmo quando diet, são calóricos eseu uso não deve ser encorajado. Adoçantes calóricos como a frutose (p. ex., o mel), devem ser usados com restrição, respeitando as limitações indicadas na orientação dietética. AN02FREV001 127 Mesmo diante destas orientações gerais para o paciente diabético é importante que cada paciente seja assistido individualmente e, neste contexto, o profissional que melhor irá trabalhar e orientar a dieta é o nutricionista, já que além da avaliação nutricional realiza inquérito com o paciente e estipula uma dieta de acordo com as necessidades nutricionais e econômicas do mesmo. Cabe à enfermagem estimular o paciente diabético a seguir adequadamente a dieta prescrita pelo nutricionista, bem como verificar as dúvidas do paciente frente à alimentação. O cuidado também deve estar voltado para o controle do peso corporal, isto tanto na população saudável, como nos pacientes já diabéticos, desta forma torna-se necessário o acompanhamento regular do peso do paciente e altura para mensuração da IMC. 2. Exercícios Físicos: os exercícios são extremamente importantes no tratamento do paciente diabético devido aos seus efeitos na diminuição da glicose sanguínea e na redução dos fatores de risco cardiovasculares. Eles diminuem a glicose sanguínea, aumentando a captação de glicose pelos músculos do corpo e melhorando o uso da insulina, a circulação e o tônus muscular. Os exercícios de resistência podem aumentar a massa muscular magra, elevando, portanto, a taxa metabólica de repouso. Estes efeitos são úteis no diabetes em relação à perda de peso, diminuição do estresse e manutenção de uma sensação de bem-estar. Os exercícios também alteram os lipídios do sangue e diminuem os índices de colesterol total e triglicerídeos. Segundo o Ministério da Saúde (2006), as principais orientações no desenvolvimento de atividades físicas no paciente diabético são: • O exercício deve ser iniciado de forma gradual, como caminhadas por cinco a 10 minutos em terreno plano, aumentando semanalmente até alcançar 30 a 60 minutos diários, cinco a sete dias por semana. Nesse processo, qualquer aumento de atividade física deve ser valorizado como um ganho de saúde e não como uma meta final não alcançada; • Os calçados devem ser confortáveis, evitando bolhas e calosidades; • A intensidade de atividade física deve ser aumentada progressivamente, tendo como objetivo atingir intensidade moderada (60 e 80% da frequência AN02FREV001 128 cardíaca máxima). Na prática, a mudança progressiva da intensidade pode ser orientada pelo teste da fala da seguinte maneira: a intensidade é leve quando ainda é possível cantar, moderada quando ainda é possível conversar confortavelmente, e intensa quando a pessoa fica ofegante, limitando a conversação; • Indivíduos com perda significativa de sensibilidade nos pés devem evitar caminhar em esteiras ou ao ar livre, correr, etc. Nesses casos, os exercícios mais recomendados são natação, ciclismo, remo e exercícios realizados na posição sentada. Casos com retinopatia proliferativa não tratada ou tratada recentemente devem evitar exercícios que aumentam a pressão intra- abdominal, que têm efeito semelhante à manobra de Valsalva, que englobam movimentos rápidos da cabeça ou que envolvem risco de traumatismo ocular; • Antes de iniciar um exercício vigoroso é necessário afastar complicações como retinopatia proliferativa, neuropatia autonômica e doença cardíaca importante. Indivíduos com risco cardiovascular >10% em 10 anos ou com sintomas de neuropatia autonômica que desejam praticar exercício vigoroso, se eram anteriormente sedentários, devem ser encaminhados ao cardiologista para orientação; • As atividades ao gosto do paciente, como caminhar e dançar, devem ser incentivadas, especialmente quando programas estruturados não estão disponíveis; • Evitar aplicar insulina em local que será muito exercitado (p. ex., quando faz trabalho de fortalecimento de quadríceps, caminhada e corrida evitar aplicação na perna, fazendo-a no abdômen), pois pode afetar sua velocidade de absorção; • Se possível, realizar controle metabólico (glicemia capilar) antes da atividade. Postergar o início do exercício com glicemia > 250 mg/dL no tipo 1; • Ingerir um alimento contendo carboidrato se a glicemia for inferior a 100 mg/dL; • Ingerir carboidratos de fácil digestão antes, durante e depois de exercício prolongado; • Diminuir a dose de insulina ou aumentar a ingesta de carboidrato (para cada 30 minutos de exercício, 10 a 15g) quando for praticar exercício; AN02FREV001 129 • Evitar exercitar-se no pico de ação da insulina; • Evitar exercícios de intensidade elevada e de longa duração (mais que 60 minutos); • Carregar consigo um alimento contendo carboidrato para ser usado em eventual hipoglicemia; • Estar alerta para sintomas de hipoglicemia durante e após o exercício. 3. Tratamento Farmacológico: consiste na administração de hipoglicemiantes por via oral e/ou uso da insulinoterapia, conforme avaliação e prescrição médica. O paciente é avaliado rotineiramente para detectar os sinais de ação eficiente ou não dos medicamentos utilizados. Os principais medicamentos orais utilizados no tratamento do paciente com diabetes tipo 2 são a Metformina e as Sulfonureias (Glibenclamida e Glicazida). A Metformina é um medicamento de escolha para a maioria dos pacientes diabéticos tipo 2, pois está associada a um menor número de complicações vasculares, não contribui para o aumento de peso e possui menor probabilidade de levar à hipoglicemia, entretanto, seu uso isolado nem sempre produz níveis de glicose controlados, necessitando por meio da avaliação médica a combinação com uma sulfonureia. As contraindicações no uso da Metformina são: - Diabetes tipo 1 - Insuficiência Renal - Gravidez - Doenças hepáticas - Insuficiência cardíaca As contraindicações no uso das Sulfonureias são: - Diabetes tipo 1 - gravidez - grandes cirurgias - infecções severas - estresse ou trauma - predisposição à hipoglicemia severa AN02FREV001 130 - diminuição da função hepática ou renal - acidose ou estado pré-acidótico 4. Insulinoterapia: constitui-se no uso da insulina para o tratamento do paciente diabético e é uma das escolhas médicas conforme o diagnóstico, etiologia e controle da doença. As principais indicações e uso clínico são: no Diabetes Tipo 1, no Diabetes Tipo 2 sem controle, Diabetes Gestacional e no Tratamento da Cetoacidose Diabética. Diante dos diversos tipos de insulina que existem no mercado atualmente, será mencionada pela classificação de ação os nomes e propriedades de cada tipo de insulina que pode ser prescrita ao paciente. A prescrição é de responsabilidade do médico, entretanto, cabe à enfermagem ter conhecimento frente à ação da insulina e aplicação, uma vez que está em contato direto com o paciente e desenvolve tais técnicas. Quanto à origem das insulinas elas podem ser classificadas como: Animal, suínas (obtidas do pâncreas do porco, bovinas - do pâncreas do gado - e mistas (obtidas do pâncreas do porco e do gado) e humanas, obtidas por intermédio da recombinação do DNA. A insulina pode ser classificada como: Ultrarrápida, Rápida, Intermediária e Lenta, conforme o tempo de início da ação no organismo do paciente. A insulina ultrarrápida - LISPRO possui o início da ação cinco a 15 minutos após a injeção subcutânea, seu pico de ação se faz em uma hora após a aplicação e sua duração total é de três horas; as vias utilizadas para administração são subcutânea, intramuscular ou endovenosa, sendo as últimas na maioria dasvezes indicada nos casos de Cetoacidose Diabética. A Insulina Rápida – REGULAR também conhecida como Insulina Cristalina possui seu início de ação 30 a 60 minutos após a administração, seu pico de ação ocorre em duas ou quatro horas após a injeção e a duração total gira em torno de seis a oito horas. Pode ser administrada por via endovenosa, intramuscular ou subcutânea, sendo que seu pico máximo de ação na administração endovenosa ocorre em 30 minutos após a aplicação. Por possuir um PH neutro a Insulina Rápida – REGULAR tem maior estabilidade em temperatura ambiente (cerca de duas a três semanas). Constitui-se AN02FREV001 131 em uma das insulinas de escolha no diabetes descompensado em associação com situações como infecções, choques, trauma cirúrgico e cetoacidose (via endovenosa); pode ser prescrita endovenosa por bomba de infusão nas terapêuticas de tratamento intensivo do diabetes mellitus. A Insulina de ação Intermediária – NPH (Neutral Protamine Hagedorn Insulin) possui uma ação mais lenta que as demais citadas anteriormente, pois é conjugada à protamina – que retarda a absorção da insulina pelo tecido subcutâneo. O início de sua ação ocorre uma a duas horas após a aplicação, tendo pico máximo de ação oito a 12 horas e duração total de 22 a 28 horas. É usada geralmente em combinação com a insulina lispro ou de ação regular. Não é indicada em situações de emergência e sua via de administração é subcutânea. A Insulina de Ação Lenta possui o início de ação em um a três horas após a aplicação, seu pico máximo de oito a 12 horas e duração de 20 a 24 horas; resulta da combinação de 70% de insulina ultralenta e 30% de insulina semilenta. A insulina de ação prolongada (Glargina, Detemir) possui ação após duas a quatro horas da administração e duração de 18 a 24 horas. No tratamento do paciente com insulina alguns fatores podem interferir a absorção da insulina como, por exemplo: local de administração, fluxo sanguíneo alterado por massagens ou banhos quentes, volume e concentração da insulina injetada e presença de anticorpos anti-insulina circulantes. 33.1 CONSERVAÇÃO DA E TRANSPORTE DA INSULINA O uso da insulina como tratamento no paciente diabético inclui a educação deste e/ou dos familiares sobre o correto armazenamento e aplicação da terapia, já que na maioria das vezes este medicamento é utilizado diariamente pelo paciente em casa. Assim, é importante que o técnico de enfermagem, em conjunto com a equipe de saúde, realize um acompanhamento sobre a eficiência do tratamento em domicílio, bem como a orientação continuada sobre a administração da insulina pelo paciente. AN02FREV001 132 A insulina é um hormônio, e como tal é necessário que seja armazenada e conservada de forma adequada para que não perca suas propriedades farmacológicas. Desta forma, alguns princípios para a conservação da insulina devem ser seguidos, são eles: - os frascos de insulina não devem ser congelados e nem mantidos em temperatura inferior a 2º C; - devido à degradação que pode sofrer, não é recomendado que a insulina seja exposta ao sol; - as insulinas devem ser guardadas na geladeira, preferencialmente na gaveta dos legumes ou na prateleira mais próxima a esta, à porta não é indicada por apresentar maior variação de temperatura e mobilidade dos frascos a cada abertura. A temperatura para armazenamento é de 2 a 8ºC. A insulina armazenada na geladeira também deve ser retirada 10 a 20 minutos antes da aplicação, pois insulina gelada causa irritação local e dor no paciente; - a insulina que estiver em uso pode ser mantida em temperatura ambiente (15 a 30º). Após aberta tem duração máxima de até 30 dias, após este período perde a ação. Nestes casos, orientar o paciente que deixe o frasco de insulina no local mais fresco da casa; - antes de utilizar a insulina é importante conferir o prazo de validade no frasco; - antes de abrir o frasco de insulina colocar um rótulo com a data de abertura para controle de validade; - a insulina não pode ser exposta a temperaturas maiores que 30ºC e nem à luz solar; - quando a insulina é guardada em temperaturas erradas, ou quando é sacudida demasiadamente pode apresentar grumos, cristais ou agregados, isto indica que ela está desnaturada e não é mais aconselhável para uso; - a insulina regular tem aspecto límpido e transparente, enquanto a NPH possui aspecto leitoso. Qualquer alteração nestas características não administrar a insulina; - nos casos de pacientes que precisam viajar e levar a insulina, é necessário uma bolsa térmica ou de isopor sem gelo, no caso de não haver, o paciente pode levar em bolsa normal, mas sem expor ao calor ou sol, ao chegar ao destino colocar AN02FREV001 133 na geladeira. Em caso de viagem de avião, não despachar com a bagagem, pois o compartimento de cargas tem temperatura muito baixa, podendo congelar a insulina. 33.2 APLICAÇÃO DA INSULINA A aplicação da insulina no paciente pode ser feita por via endovenosa, nos casos de terapia intensiva ou tratamento específico de cetoacidose diabética, intramuscular ou subcutânea, conforme descrito anteriormente sobre os tipos de insulina, entretanto, a forma mais utilizada e que o paciente utiliza em casa é a administração da insulina subcutânea. Os instrumentos para administração da insulina subcutânea são: - Seringas de Insulina: que possuem escalas das unidades conforme a concentração. As seringas de insulina podem ter agulha fixa ou agulha removível. As seringas com agulha fixa apresentam-se em 30 UI, 50 UI e 100 UI, sendo que a graduação da escala nas seringas de 30UI e 50 UI é de 1 em 1, enquanto que na de 100 UI é de 2 em duas, conforme a figura abaixo: FIGURA 20 - SERINGAS PARA APLICAÇÃO DE INSULINA FONTE: Disponível em: <http://www.bd.com>. Acesso em: 28 jun. 2009. AN02FREV001 134 - Seringas: As seringas com agulhas removíveis são aquelas que não possuem a seringa fixa ao corpo da agulha. Neste tipo de seringa há retenção de até 5 UI de insulina, denominado espaço morto, que não é calculada na dosagem da insulina e nem na administração ao paciente. Neste caso, quando existe uma prescrição de dois tipos de insulina, não é conveniente utilizá-las em mistura, uma vez que poderá ocorrer um erro de dosagem ou uma superdosagem de um dos tipos de insulina administrado em conjunto (GROSSI, 2004). A capacidade de volume de cada seringa é medida em centímetros cúbicos (cc), ou seja, um centímetro cúbico é equivalente a 1 ml, que equivale a 100 UI de insulina. Por exemplo, 0,5 cc = 0,5 ml = 50 UI. A graduação da seringa pode ser dupla ou simples, na dupla cada traço da seringa corresponde a duas unidades, enquanto que na simples cada traço refere-se a uma unidade de insulina. As agulhas removíveis apresentam-se no tamanho de 13 x 0,45 mm, enquanto as agulhas fixas aumentam as opções para os tamanhos 12,7 x 0,33 mm e 8 x 0,30 mm. A escolha pelo tamanho da agulha depende da apresentação física do paciente. Para pacientes obesos ou acima do peso indica-se o uso da agulha 12,7 x 0,33 mm, encontradas tanto para uso em seringas como para uso em canetas. Os adultos com tipo físico normal ou magros podem utilizar a agulha 8 x 0,30 mm das seringas ou 5 mm para as canetas. Pessoas obesas ou acima do peso, mas com pouco tecido subcutâneo nos braços e coxas, podem usar as agulhas 8 e 5 mm nestas regiões ou 12 para o abdômen. Segundo a Associação Americana de Diabetes (1998), quanto menor o comprimento e diâmetro da agulha, menor a dor durante aaplicação. No entanto, as agulhas curtas não são indicadas para pessoas obesas devido à variabilidade da absorção da insulina. - Canetas Injetoras: as canetas injetoras são outra possibilidade de instrumento utilizado na administração da insulina subcutânea. No Brasil existem atualmente canetas injetoras descartáveis e reutilizáveis. Está indicada principalmente nos casos de pacientes que fazem uso de múltiplas doses diárias de insulina e associada por alguns estudos, devido à praticidade, ao melhor controle glicêmico do diabete. AN02FREV001 135 Cada caneta possui um local onde é colocado o refil de insulina, atualmente existindo refil de até 30 ml ou 300 UI de insulina. O paciente, antes da aplicação, faz a seleção da dose de insulina prescrita por rotação de um botão e após aciona a aplicação, em ângulo de 90º, sem necessidade de prega cutânea. As opções de tamanho de agulha para caneta são: 12,7 x 0,33 mm, 8 x 0,25 mm, 6 x 0,30 mm e de 5 x 0,25 mm. Segundo Almeida (1998) e Oliveira (1999), as canetas injetoras apresentam vantagens para quem realiza múltiplas aplicações diárias de insulina. Entretanto, o custo na aquisição deste instrumental dificulta sua utilização pela maioria dos portadores de diabetes. FIGURA 21 - CANETA PARA APLICAÇÃO DE INSULINA Fonte: Disponível em: <http://www.farmadelivery.com>. Acesso em: 28 jun. 2009. A conservação dos refis de insulina, quando armazenados, devem ser mantidos na geladeira em temperatura de 2 a 8ºC conforme os frascos de insulina, entretanto, depois de inseridos nas canetas para uso, segundo alguns dos fabricantes Lilly e Novo Nordisk, as canetas devem ser mantidas em temperatura ambiente, sem exposição à luz, nem temperaturas agressivas, tendo validade de 30 dias o refil. AN02FREV001 136 - Bombas de Infusão de Insulina: As bombas de infusão de insulina consistem em microcomputadores, ou seja, pequeno reservatório de insulina, portátil, com peso em torno de 250g, fixado no exterior do corpo. Por intermédio de um pequeno cateter de plástico fica ligado a uma agulha inserida na pele. O microcomputador injeta continuamente no organismo cerca de 1U de insulina por hora e libera uma quantidade programada de insulina em forma de pulso durante as refeições, conforme as necessidades dos portadores de diabetes. Segundo Brunner & Suddarth (1998), uma das desvantagens das bombas de insulina é que podem ocorrer interrupções inesperadas no fluxo de insulina caso o tubo ou a agulha fiquem ocluídos, se o suprimento de insulina for interrompido ou a bateria descarregar. Outra desvantagem é o potencial de infecção nos locais de inserção da agulha, e também a hipoglicemia é mais provável na terapia de insulina por bomba, isso associado ao rígido controle dietético em conjunto com a bomba de insulina. FIGURA 22 - BOMBA DE INFUSÃO DE INSULINA Fonte: Disponível em: <http://www.forumpcs.com.br>. Acesso em: 28 jun. 2009. Mesmo diante de todos os instrumentos disponíveis no mercado para administração da insulina, ainda no Brasil o uso mais frequente recai sobre as seringas, isto porque possui um custo mais acessível e alguns programas de saúde AN02FREV001 137 pública distribuem o instrumento para o paciente gratuitamente. De qualquer forma, o profissional de saúde na sua atividade deve possuir conhecimento frente aos diferentes modos de administração da insulinoterapia para que o paciente em conjunto com o médico opte pelo melhor, obtendo uma relação de custo-benefício. Sobre o estudo dos instrumentos utilizados na administração da insulina é importante que sempre o profissional de enfermagem busque informações específicas com os fabricantes, uma vez que devido a gama de possibilidades algumas informações diferem de uma bibliografia para outra. Aplicação de Insulina: a técnica de aplicação da insulina deve ser adequada para propiciar uma correta absorção da insulina e consequentemente um tratamento eficiente e eficaz ao paciente. Desta forma, é importante que o profissional de enfermagem detenha os conhecimentos para ensinar o paciente quando este estiver realizando a aplicação em domicílio e também nos casos de pacientes hospitalizados, onde esta técnica é feita inicialmente pelos próprios profissionais de enfermagem. A aplicação de insulina, na maioria das vezes, é realizada em tecido subcutâneo, podendo, entretanto, ser administrada por outras vias, como descrito anteriormente, dependendo da indicação médica. A insulinoterapia realizada pelo paciente em casa necessariamente é em tecido subcutâneo. FIGURA 23 - TECIDO SUBCUTÂNEO FONTE: Disponível em: <http://www.linda.m.sites.uol.com.br>. Acesso em: 29 jun. 2009. AN02FREV001 138 Primeiramente serão abordados os locais indicados para aplicação de insulina, que segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes são os seguintes: Abdômen (região lateral direita e esquerda, cerca de quatro a seis centímetros afastados da cicatriz umbilical), Coxas (face anterior e posterior externas: nos pacientes adultos esta região é delimitada em 12 a 15 cm abaixo do grande trocanter, nove a 12 cm acima do joelho, numa faixa de sete a 10 cm de largura, sendo que em crianças a mesma região é utilizada tendo o cuidado para a proporcionalidade do corpo), Braços (face posterior) e Nádegas (quadrante posterior externo da região ilíaca). FIGURA 24 - LOCAIS DE APLICAÇÃO DA INSULINA FONTE: Disponível em: <http://www.portaldodiabetes.com.br>. Acesso em: 29 jun. 2009. É muito importante que seja realizado o rodízio dos locais a cada aplicação para evitar as complicações decorrentes da administração de insulina em um mesmo local, desta forma, conforme preconizam as orientações da Associação Americana de Diabetes (2007), é necessário esgotar as possibilidades de aplicações subsequentes em uma mesma região, distanciando-se aproximadamente em dois centímetros de um local para o outro. Também é importante salientar que cada local de aplicação da insulina possui um potencial de absorção diferente, o que poderá alterar os resultados da glicemia do paciente, assim, o local considerado como de maior absorção é o abdômen, após os braços, coxas e nádegas. Segundo Brunner & Suddarth (1998), o AN02FREV001 139 rodízio sistemático dos locais de injeção dentro da área anatômica é recomendada para evitar alterações localizadas no tecido gorduroso (lipodistrofia). Além disso, para promover consistência na absorção de insulina os pacientes devem ser estimulados a usar todos os locais disponíveis de injeção dentro de uma área e não circular aleatoriamente de uma área para outra. Alguns princípios que podem ser usados na aplicação do rodízio são: os pacientes não devem tentar o mesmo local mais que uma vez em duas a três semanas. Além disso, se o paciente estiver planejando se exercitar, a insulina não deve ser injetada no membro que vai ser exercitado, pois ela é absorvida mais rápida, podendo resultar em hipoglicemia. Conforme instruções do Ministério da Saúde (2006) deve-se evitar aplicar a insulina subcutânea próximos das articulações, na área da virilha, no umbigo e na linha média do abdômen. Sendo que o rodízio de áreas para aplicação de insulina é importante para não ocorrer complicações como hipertrofia ou atrofia local. Ao orientar o paciente diabético sobre a aplicação de insulina é importante que sejam estipulados juntamente com o paciente os rodízios que serão feitos na administração do medicamento, levando em consideração as atividades cotidianas do paciente, bem como as necessidadesde aplicação. 33.3 TÉCNICA DE ADMINISTRAÇÃO DE INSULINA COM SERINGA Material Necessário: Seringa e Agulha, algodão, álcool 70% e medicamento (insulina conforme a prescrição médica) Procedimento: - Lavar as mãos; - Explicar o procedimento ao paciente; - Retirar o frasco de insulina da geladeira 10 a 20 minutos antes da aplicação; - Rolar o frasco entre as mãos sem agitar com no mínimo 20 movimentos; - Realizar a assepsia do frasco com algodão embebido em álcool 70%; - Aspirar a quantidade de ar na seringa; AN02FREV001 140 - Injetar o ar dentro do frasco para melhor retirada da insulina; - Virar o frasco e a seringa para baixo, aspirando a quantidade de unidades conforme a prescrição médica; - Retirar o ar que esteja presente na seringa; - Selecionar a área de aplicação, tendo os cuidados mencionados anteriormente no rodízio de áreas para aplicação; - Fazer assepsia da área com algodão; - Fazer prega na pele e introduzir a seringa em ângulo de 90º e após soltar a prega; - Administrar a quantidade de insulina que consta na seringa; - Retirar a seringa e após fazer uma leve compressão com algodão e álcool 70%; - Organizar o material utilizado; - Lavar as mãos e registrar no prontuário. 33.4 NOTAS COMPLEMENTARES 1 - Ao encontrar presença de sangue na aplicação da insulina, seguir o seguinte: sangue em pequena quantidade, continuar a administração, sangue em grande quantidade, interromper a administração e preparar nova dose de insulina (Ministério da Saúde). 2 - O tamanho da agulha é avaliado pelo profissional segundo o tipo físico do paciente. 3 - A prega cutânea deve ser feita antes da introdução da agulha e soltando antes da introdução da insulina. 4 - O ângulo de aplicação deverá ser de 90°C, entretanto caso a agulha seja maior que a indicada em alguns pacientes magros e crianças é necessário uma avaliação e utilização de ângulos de 45 ou 60°C (Associação Americana dos Diabéticos, 2004). 5 - A aspiração após a introdução da agulha não é necessária quando se está utilizando os instrumentos corretos (Associação Americana dos Diabéticos, 2004). AN02FREV001 141 6 - O reuso das agulhas e seringas em serviços hospitalares públicos e privados é proibido pela Divisão de Medicamentos no Brasil (DIMED), por meio da Portaria nº 3 de 07/02/86, incluindo a utilização do material no mesmo paciente. 8 - O reuso das agulhas e seringas pelos pacientes diabéticos que fazem insulinoterapia em casa é controverso na literatura, uma vez que alguns autores trazem a reutilização como uma forma de complicação que pode ocasionar lesão local por infecção, sendo isso para um diabético um problema relevante. Por outro lado, o Ministério da Saúde (2006) considera como adequada a reutilização por até oito aplicações sempre pela mesma pessoa, mantendo-se os seguintes cuidados: a seringa deve ser retampada e guardada em temperatura ambiente ou sob refrigeração (gaveta ou porta da geladeira), ainda considerar que o paciente deve estar com ausência de feridas abertas nas mãos e livre de infecções de pele nos locais da aplicação; o diabético deve ter destreza manual, ausência de tremores e boa acuidade visual, sendo capaz de reencapar a agulha com segurança. A limpeza da agulha não deve ser feita com álcool, porque é capaz de remover o silicone que a reveste, tornando a aplicação mais dolorosa. As seringas reutilizadas devem ser descartadas quando a agulha se torna romba, curva ou entra em contato com alguma superfície diferente da pele e logo que a aplicação se torne muito mais dolorosa. É importante salientar que esta reutilização é empregada apenas aos pacientes que fazem uso de insulina domiciliar, nunca em hospitais. 9 - O paciente deve sempre ser orientado sobre o descarte do material perfurocortante em recipiente apropriado. 10 - Algumas insulinas podem ser prescritas e administradas conjuntamente no paciente, entretanto, é importante que o profissional de enfermagem tenha conhecimento de quais podem ser misturadas para a aplicação na mesma seringa, conforme consta abaixo: - Mistura de NPH + Regular: pode ser feita e utilizada imediatamente ou armazenada em refrigerador para uso em 30 dias. - Mistura de NPH + Ultrarrápida: pode ser feita e deverá ser utilizada imediatamente após o preparo. - Mistura de Regular + Lenta: não tem indicação. AN02FREV001 142 - Glargina ou Detemir + qualquer tipo de insulina: não pode ser misturada devido ao Ph baixo do diluente. Nos casos em que houver a mistura das insulinas seguindo as orientações anteriores, a técnica é a mesma da citada na administração da insulina, incluindo: - Primeiramente aspira-se a quantidade de ar que consiste as unidades de insulina NPH e injeta-se o ar dentro de frasco de insulina NPH; - Após o mesmo procedimento com a insulina regular, já aspirando a quantidade de insulina para a seringa; - Por último aspira-se a quantidade de insulina NPH, sendo que o ar já foi injetado anteriormente. Na hipótese de se aspirar quantidades superiores às prescritas, de forma alguma recolocar as insulinas nos frascos. Desprezar e realizar o procedimento novamente. 33.5 COMPLICAÇÕES NA APLICAÇÃO DE INSULINA A aplicação de insulina está associada a algumas complicações, principalmente nos pacientes que fazem uso diário deste hormônio. As complicações podem estar ligadas a vários fatores; é de suma importância que o profissional de enfermagem realize este acompanhamento de reações cutâneas no paciente, já que isto pode ser indício de que uma das etapas do processo de conservação, preparo e aplicação está falho. Segundo Camata (2003), para a aplicação de insulina são imprescindíveis alguns cuidados como: a escolha de um instrumental adequado à quantidade de insulina, bem como ao estado físico do paciente, o domínio sobre a técnica de aplicação da insulina e os rodízios dos locais de aplicação na pele, entre outros. Davidson (2001) e Costa (1988) afirmam ser comum o portador de diabetes e usuário de insulinoterapia domiciliar apresentar complicações cutâneas ou reações como lipodistrofia insulínica, lipo-hipertrofia, nódulos endurecidos, equimose, ardência e prurido. AN02FREV001 143 Segundo Navarro et al. (1995), as reações alérgicas durante a insulinoterapia geralmente ocasionam sintomas como rush, seguido de prurido e enduração. Os hematomas podem estar relacionados à técnica inadequada de aplicação ou à redução do número de células adiposas no local da aplicação. O aparecimento da hipertrofia está conexo à aplicação prolongada do hormônio insulínico em um mesmo local, resultando em sua absorção e controle glicêmico errático (MATHEUS e AHMED, 1999). As principais complicações com o uso da insulina são: - Reações Alérgicas: caracteriza-se por uma reação alérgica local em forma de vermelhidão, inchaço, sensibilidade e enduração ou círculo de dois a quatro centímetros, podendo aparecer no local uma a duas horas após a aplicação da injeção. Geralmente estas reações ocorrem no início da terapia. - Reações Alérgicas Sistêmicas: são raras. Há uma reação cutânea local imediata que logo se espalha em forma de uma urticária generalizada. O tratamento é a dessensibilização, com pequenas doses de insulina administradas em quantidades gradualmente crescentes. Estas reações raras são ocasionalmente associadas a edema generalizado ou anafilaxia. - Lipodistrofia de Insulina: refere-se a uma perturbação localizada do metabolismo de gorduras, sob a forma ou de lipoartrofia, ocorrendo no local das injeções
Compartilhar