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Texto 03 - Plano Marshell 2

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O PLANO MARSHALL
"Nossa política não se dirige contra nenhum país ou doutrina, mas contra a fome, a pobreza, o desespero e o caos."
G. Marshall, discurso em Harvard, 5 de junho de 1947
O ano de 1947 marcou o ponto de partida para a guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Naquela data os americanos tomaram duas iniciativas importantíssimas: primeiro, decidiram-se pela política de "contenção" ao comunismo, dando início a pesados investimentos em armamentos e artefatos nucleares; em segundo, por auxiliarem economicamente, por meio do Plano Marshall, os países europeus assolados pela guerra, permitindo que eles dessem começo aos programas de reconstrução nacional.
Vale a pena debruçar-se, um pouco, sobre um cidadão pouco conhecido mas cuja importância para a política econômica do mundo ocidental nos anos 50 é comparável à de Keynes para os anos 30. Trata-se do general George Catlett Marshall, comandante-em-chefe do Exército americano durante a II Guerra Mundial, herói nacional, feito secretário de Estado do presidente Truman em janeiro de 1947.
Em junho desse mesmo ano, o secretário Marshall entraria para a História em uma outra capacidade, ao proferir o principal discurso da cerimônia de formatura na Universidade Harvard, anunciando as linhas gerais do que Churchill chamaria "o ato menos sórdido da História", e que logo adiante ficaria conhecido como o Plano Marshall.
A fome e o frio
Iniciava-se a primavera de 1947 ao tempo em que encerrava-se o mais tenebroso inverno da Europa no século XX. Nos finais da Segunda Guerra Mundial, na parte ainda controlada pela Alemanha nazista em seu estertor, o sistema de abastecimento ainda funcionava razoavelmente, e salários e preços tabelados impediam o furor inflacionário. Mas quando os tiros por fim cessaram, seguido da desmobilização geral, foi um deus-nos-acuda. Nos dois anos seguintes à rendição nazista, a comida evaporou-se e o que circulava no mercado negro atingia preços inimagináveis. Em Berlim, a população, para sobreviver ao enregelamento, abateu todas as árvores da cidade. Os parques públicos, como o devastado Tiergarten, serviram para que neles proliferassem hortaliças. Onde outrora havia as elegantes tílias, agora vicejavam repolhos e nabos, plantações noite e dia policiadas pelos moradores para que não as roubassem.
Ruína e desolação
Quem desembarcasse no porto do Havre, em Antuérpia ou em Amsterdam, entrando no continente adentro, não pararia mais de ver ruínas e desolação por todos os lados. Quase toda a infra-estrutura de comunicações e transportes estava destruída. Cidades ou aldeias inteiras, somente se ultrapassasse os Montes Urais, lá nos fundões da Rússia, distantes mais de 4.600 quilômetros das margens do Oceano Atlântico. Estradas-de-ferro, minas, portos, pontes, canais, linhas de metrô, reservatórios de água, represas, fábricas, rede elétrica, cabos, barcos, estradas, cidades grandes e pequenas, e até mesmo milhares de aldeolas transformaram-se, depois de seis anos de guerra total, num imenso entulho, servindo como um gigantesco sepulcro aos mortos. Milhões deles.
Dizimação do povo
Na parte centro-ocidental da Europa registraram-se 16 milhões de baixas civis e militares, e na URSS elas chegaram a 20 milhões. Outros 30 milhões de europeus haviam sido empurrados para lá e para cá aos sabor dos resultados das batalhas. A velha civilização européia, a pátria de Shakespeare, de Cervantes, dos iluministas, de Mozart, de Goethe, de Verdi, de Einstein e Freud, estava reduzida à miséria, gemendo de frio e de fome, cercada por crateras tumulares e prédios desmoronados. Pelas ruas das suas históricas capitais vagavam os sobreviventes, um povo exausto, mal-ajambrado, perplexo e atarantado. Nas paredes das ruas era comum encontrar-se uma tétrica frase: "felizes dos mortos, pelo menos suas mãos não se enregelam!" A outrora orgulhosa e arrogante civilização européia, arfava, reduzida quase que à mendicância.
Conter o comunismo
O que fazer com a Europa? Como erguê-la de novo? No círculo de poder norte-americano, passo-a-passo, ganhava a tese de George Kennan de que era necessário conter (contention) o comunismo. O simples fato do Exército Vermelho aquartelar-se em Berlim, distante alguns dias de marcha de Paris ou Londres, dava calafrios nos americanos e nos seus aliados ocidentais. Os tempos de fraternidade e cumplicidade guerreira entre eles e os russos encerraram-se. Naquele momento, os dois colossos vitoriosos na guerra, desfilando um em frente ao outro, olhavam-se cada vez mais desconfiados. O medo de que os partidos comunistas, particularmente o francês e o italiano, pudessem servir de cavalo de Tróia à expansão soviética fez com que os americanos se lançassem
à guerra fria.
A riqueza americana
Graças às suas reservas nacionais terem-se ampliado (aumentaram em 56% a mais do que tinham antes da guerra, além de concentrarem 84% de todo o ouro dos países ocidentais), os Estados Unidos puderam ser generosos com os europeus. De país em depressão econômica da década de trinta, tornaram-se na maior potência do mundo no final da Segunda Guerra Mundial. No staff governamental de Harry Truman, ninguém melhor do que o general George C. Marshall para erguer a bandeira da reconstrução européia. Ex-chefe do Estado-maior norte-americano durante a guerra e um dos estrategistas da vitória, Marshall ascendera ao posto de secretário de Estado em janeiro de 1947, disposto a encarar a grande tarefa
Lista dos estragos
O dinheiro foi oferecido a todo e qualquer país envolvido pelo conflito mundial. Mesmo à URSS se ela assim quisesse. Para obter acesso aos recursos era preciso apresentar uma lista dos estragos sofridos e uma estimativa do quanto era preciso para voltar a pôr o país em pé.
Stalin não só rejeitou qualquer dinheiro americano, como denunciou o Plano Marshall como uma declaração de guerra econômica à URSS. Além disto, proibiu que qualquer país
ocupado pela URSS (Polônia, Países Bálticos, Tchecoslováquia, Romênia, Hungria, Bulgária e Alemanha Oriental), fizesse sequer menção de aceitá-lo. Em protesto, o líder soviético ordenou o bloqueio por terra a Berlim ocidental (ocupada pelos aliados ocidentais). Além das razões ideológicas (afinal receber auxílio norte-americano em tempo de paz iria parecer gorjeta dada pelos norte-americanos), a URSS receava que o Ocidente tomasse conhecimento da assombrosa dimensão da destruição que a Rússia sofrera com a ocupação nazista e o esforço despendido para recuperar o território invadido.
O Plano Marshall
Permitia aos países da Europa Ocidental importarem produtos norte-americanos a preços baixos;
Abria créditos para os países europeus comprarem equipamentos pesados dos Estados Unidos;
Fornecia empréstimos.
Nunca até então uma nação vencedora havia se disposto a pagar os estragos de uma guerra não provocada por ela. Inclusive, alcançando recursos ao inimigo recém-derrotado. Marshall, após ter pronunciado o seu anúncio de auxílio na Universidade de Harvard em 5 de junho de 1947 - discurso no qual esteve presente na platéia a elite intelectual norte-americana - , fez a partir de então chegar ao continente US$13 bilhões, entre 1948 e1951 (que somariam uns 150 bilhões de dólares em dinheiro de hoje). Esta massa impressionante de dinheiro, remetida sob o título do The European Recovery Program, atuou como a alavanca de Arquimedes para que o capitalismo europeu voltasse à vida, consagrando-se como a operação econômica-ideológica mais bem sucedida do século.
O plano foi bem sucedido em reconstruir e reativar a economia européia, de cuja prosperidade dependia em boa medida a própria economia americana. Não deve haver dúvida, estava em jogo também, e principalmente, o objetivo de proteger a democracia do avanço do comunismo. É comum a percepção de que o Plano Marshall só fez sentido no contexto da Guerra Fria, mas muitos economistas enxergam algo bem maior na iniciativa. 
Algumas lições da experiência do Plano Marshall ajudam a pensar sobre o problema. A primeira dificuldadefoi apontada de pronto, no próprio discurso em Harvard: a iniciativa tinha de partir deles, europeus. Eles tinham que dizer o que fariam com o dinheiro, pois afinal o plano devia ser deles. Era preciso construir uma comunhão de interesses. A Europa tinha muitas necessidades, o presidente Truman e o secretário Marshall uma estratégia, e o Congresso americano estava interessado em democracia, multilateralismo, descolonização e em que o dinheiro fosse usado para comprar produtos americanos. Nada de estranhar, pois a ajuda, ainda mais nessa dimensão, não era nem poderia ser inocente ou desinteressada. Do lado europeu o assunto era mais simples: tratava-se de cavalo dado e, ademais, belíssimo animal. O fato é que o dinheiro do Plano Marshall caiu em solo fértil e produziu diversos "milagres econômicos", até hoje festejados.
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