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Ambiente e apropriação do relevo VALTER CASSETI

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VALTER CASSETI 
 
AMBIENTE E APROPRIAÇÃO 
DO RELEVO 
 
SUMÁRIO 
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 
1. Relações Homem-Natureza e suas Implicações . . . . . . . . . 10 
Conceito de Natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 
O Trabalho como Mediador das Relações Homem-Natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 
Relações de Produção e Relações Homem-Natureza . . . . . 17 
Relação Homem-Natureza no Sistema de Produção Capitalista . . . . . . . . . . . . . 21 
Apropriação Privada da Natureza como Relação de Negatividade . . . . . . . . . . . . . . . . 24 
2. O Significado do Relevo no Estudo Ambiental . . . . . . . . . 28 
Geossistema como Ponto de Partida 29 
O Relevo na Análise Geográfico-Ambiental 34 
Conceito de Geomorfologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 
Síntese Evolutiva das Posturas Geomorfológicas . . . . . . . 38 
Geomorfologia Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 
3. Dinâmica Processual do Relevo: A Vertente comoCategoria 54 
Conceito de Vertente em Geomorfologia . . . . . . . . . . . . . 55 
Relações Processuais das Vertentes (As RelaçõesExternas) . . . . . . . 63 
Fatores que Comandam o Balanço Morfogenético daVertente 67 
Relação Vertente-Sistema Hidrográfico . . . . . . . . . . . . . 72 
Da Cobertura Vegetal na Estabilidade da Vertente. .. . .. 74 
Processos Denudacionaís Decorrentes da Apropriação e Transformação da Vertente 79 
Ocupação da Categoria Vertente . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 
4. Derivações Geomórfïco-Ambientais e suas Implicações .. 92 
Impactos Geomórfïco-Ambientais em Áreas Rurais . . . .. 97 
Alterações Hidrodinâmicas das Vertentes em Áreas Urbanizadas e suas Implicações 113 
Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 
O Autor no Contexto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 
INTRODUÇÃO 
O presente trabalho procura chamar atenção para o significado do relevo, sobretudo como suporte 
das derivações ambientais observadas durante o processo de apropriação e transformação realizado pelo homem. 
Para entender tal consideração, necessário se faz partir do princípio de que o relevo se constitui 
em produto do antagonismo das forças endógenas (forças tectogenéticas) e exógenas (mecanismos 
morfodinâmicos), registrado ao longo do tempo geológico, e responsável pelo equilíbrio ecológico. É, 
portanto, através do jogo dos referidos componentes que se estruturam o solo e sua cobertura vegetal, os quais, 
associados às riquezas minerais, constituem a maior parte dos recursos responsáveis pela materialização da 
produção. É evidente que o recurso por si só não poderia ser materializado ou transformado em produção se o 
homem não estivesse presente na paisagem geográfica, assim como não seria possível conceber o próprio 
conceito de espaço. 
Após apresentar uma rápida evolução do conceito de natureza (a natureza externa e a unicidade 
natureza-sociedade), procura-se demonstrar sua relação dialética com o homem (forças produtivas), 
evidenciando que essa relação encontra-se vinculada às relações entre os próprios homens (relações de 
produção). Portanto, ao considerar o espaço produzido social como resultado das relações entre o homem e a 
natureza, procura-se justificar as possíveis implicações ambientais (relação de negatividade) pelas próprias 
relacoes sociais de produção (Tópico 1). Dá-se ênfase ao modo de produção capitalista (apropriação privada da 
natureza) como forma de dilapidação da capacidade produtiva da terra. 
Num segundo momento, procura-se evidenciar o relevo como componente do estrato geográfico que 
reflete o jogo das interações naturais e sociais. Demonstra-se a importância da ciência geográfica nos estudos 
ecológicos, uma vez que se dispõe dos métodos necessários e informações cientificas sobre o meio natural e seus re-
cursos, bem como o seu aproveitamento econômico pelo homem (relações com as leis específicas da natureza como 
forma de servir-se dela e de seus objetivos). 
A geomorfologia, por sua vez, como integrante da análise geográfica e responsável pela 
compreensão do comportamento do relevo, fundamentando-se na noção de "fisiologia da paisagem", procura 
evidenciar, de uma forma dinâmica, as derivações ambientais resultantes do processo de apropriação e 
transformação do relevo ou de suas interfaces (como a cobertura vegetal) pelo homem (Tópico 2). Esse fato oferece 
um significado social à geomorfologia, com consequente interesse para a ciência geográfica. 
No terceiro tópico, utilizando-se o conceito de vertente (a vertente como categoria central da 
estrutura do pensamento) e das relações processuais (processos morfogenéticos e pedogenéticos), procura-se 
oferecer algumas noções elementares necessárias à compreensão da dinâmica do relevo. Procura-se mostrar ainda 
que, através da apropriação e transformação da natureza pelo homem, inicialmente através da exploração biológica, 
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tem-se a ruptura do equilíbrio climáxico (relação entre o potencial ecológico e exploração biológica), originando 
implicações resistásicas. 
Após considerações a respeito dos fenómenos externos, procura-se demonstrar o significado das 
relações internas, que individualizam a essência da categoria vertente, que juntos (fenómenos e relações) representam 
o conteúdo da paisagem. 
Finalizando (Tópico 4), são apresentados alguns exemplos de estudos de caso, em que o processo de 
ocupação das vertentes e demais compartimentos tem produzido impactos ambientais, momento que se aproveita para 
se considerarem as implicações políticas e económicas nos efeitos de degradação registrados (concepção 
malthusiana dos "azares" da natureza). Ao mesmo tempo em que se propõem algumas alternativas, preventivas e 
corretívas, fundamentadas em uma técnica natural, chama-se a atenção para a necessidade da organização da 
sociedade, sobretudo da classe trabalhadora que sofre os efeitos diretos das contradições próprias do sistema de 
produção capitalista, em defesa dos valores ambientais, obrigando assim, conforme Contí (1986), "o capitalismo a 
fazer algo que não pode realizar sem se contradizer ostensivamente". 
Os fundamentos metodológicos da análise geomorfológica foram desenvolvidos com base nos níveis 
sistematizados por Ab'Sa-ber (1969); procura-se demonstrar o significado do compartimento topomorfológico e de sua 
estrutura superficial (ou formação superficial) na forma ou maneira de ocupação, considerando-se sobretudo os efeitos 
processuais determinantes. Tal análise tem por objeti-vo alertar para a necessidade de preservação de certos 
compartimentos, independentemente da "espontaneidade" que caracteriza os anseios do sistema de produção 
capitalista; ou independentemente de tratamentos técnicos sofisticados e caros, que muitas vezestêm por objetivo 
exclusivo fortalecer os interesses do próprio capital em detrimento das necessidades reais da sociedade. Pretende-se, 
ainda, aleitar para a necessidade de uma preocupação constante com o processo de ocupação de compartimentos 
considerados "favoráveis", observando-se sempre a importância das relações processuais. 
 
RELAÇÕES HOMEM-NATUREZA E SUAS IMPLICAÇÕES 
 
Antes de se iniciar uma análise específica são indispensáveis algumas considerações. É preciso refletir 
sobre o conceito de "natureza", fundamental ao direcionamento da ciência, que incorpora a teoria integral do 
espaço. 
 
CONCEITO DE NATUREZA 
 
Esse conceito tem sido utilizado largamente tanto pela ciência natural como pela social. Contudo, pouca 
discussão metodológica tem acontecido nos últimos anos. 
Tal descuido tem sido considerado consistente com a prática contemporânea da ciência e com a sua 
auto-imagem. Para Smith & O'Keefe (1980), a "ciência natural" é uma relíquia histórica, que aparece nos séculos 
XVI e XVÜ, com a necessidade de apropriação da natureza pela indústria, refletindo essa necessidade 
concretamente por continuar posicionando a natureza como totalmente externa à atividade humana. "No preciso 
momento em que a natureza estava sendo teorizada como externa, contudo, o último vestígio dessa extemalidade 
estava sendo praticamente destruído." 
A tradição positivista pressupõe que a natureza existe nela e por ela mesma, externa às atividades 
humanas. Assim, além de extema, o paradigma positivista revela uma concepção dualística da natureza. 
Conforme os autores considerados, a concepção positivista de natureza é dada 
dualisticamente, contraditoriamente, por um dos três principais caminhos: 
a) A "natureza" é estudada exclusivamente pela ciência natural, enquanto a ciência social 
preocupa-se exclusivamente com a sociedade, a qual não tem nada a ver com a natureza; 
b) A "natureza" da ciência natural é supostamente independente das atividades humanas, 
enquanto a "natureza" da ciência social é vista como criada socialmente. Portanto, permanece uma 
contradição da natureza real, que incorpora a separação entre o humano e o não-humano; 
c) A terceira contradição dispersa a natureza humana dentro da natureza externa. O 
comportamento humano é regido pelo conjunto de leis que regulam os mais primitivos artrópodes. Essa 
visão determinista é defendida pelo darwinismo social e grande parte do behaviorismo. Na prática, 
observa-se que a natureza humana demonstra o seu domínio sobre as "leis da natureza" no processo de 
apropriação. 
Marx, que elaborou uma teoria não-sistemática da natureza, oferece uma alternativa 
unificada e não-contraditória de natureza. Essa teoria, elaborada como crítica à economia política 
clássica, é comumente chamada de materialismo histórico, por ter a história como unidade com a 
natureza. É através da transformação da primeira natureza em segunda natureza que o homem produz os 
recursos indispensáveis a sua existência, momento em que se naturaliza (a naturalização da sociedade) 
incorporando em seu dia-a-dia os recursos da natureza, ao mesmo tempo em que socializa a natureza 
(modificação das condições originais ou primitivas). 
Considera, portanto, a natureza em dois momentos, cuja transição acontece ao longo da 
história, através do processo de apropriação e transformação realizado pelo homem. "A história pode 
ser considerada de dois lados, dividida em História da Natureza e História dos Homens. No 
entanto, esses dois aspectos não se podem separar " (Marx, 1970). 
Para Marx, a natureza separada da sociedade não possui significado. A natureza sempre é 
relacionada material e idealmente com a atividade social. A "primeira natureza" é entendida como 
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aquela que precede a história humana. Portanto, onde as propriedades geoecológicas encontram-se 
caracterizadas por um equilíbrio climáxico, entre o potencial ecológico e a exploração biológica. Ë 
todas as alterações acontecidas resultam dos próprios efeitos naturais - alterações climáticas, atividades 
tectônicas... - onde as próprias "leis da natureza" respondem pelo reequilíbrio de fases resistásicas. Essa 
natureza deve ser entendida ao longo do tempo geológico, desde o pré-cambriano até o "alvorecer" da 
existência humana. Portanto, toda transformação e modificação acontecida encontra-se inserida numa 
escala de tempo geológico, normalmente imperceptível numa escala de tempo humana. 
Com o aparecimento do homem, em algum momento do pleistoceno, a evolução das forças 
produtivas vai respondendo pelo avanço na forma de apropriação e transformação da "primeira na-
tureza", criando a "segunda natureza". Assim, conclui-se que a história do homem é uma continuidade 
da história da natureza; não / existindo, portanto, uma concepção dualística de natureza, onde a i 
segunda natureza é vista como primeira. 
As leis que regulam o desenvolvimento da segunda natureza, não são, ao todo, as que os 
físicos encontram na primeira natureza. Elas não são leis invariáveis e universais, conforme observam 
Smith & O'Keefe (1980), uma vez que as sociedades estão em curso, constantemente se transformando 
e se desenvolvendo.) Daí se conclui que a forma de apropriação e transformação da natureza é 
determinada pelas leis transitórias da sociedade. 
Em síntese, a dialética de Marx é uma maneira de pensar completamente diferente da lógica 
formal da ciência positivista. Descreve a produção como um processo pelo qual a natureza é alterada. 
... É uma eterna necessidade material imposta, sem a qual não podem existir trocas 
materiais entre os homens e a natureza e, portanto, a vida (Marx, 1967, p. 43). 
Trata-se, portanto, de um processo de produção da natureza, onde a natureza e o homem se 
integram e interagem. Esse processo de apropriação e transformação da natureza pelo homem, coloca 
em movimento braços e pernas, cabeças e mãos, em ordem para apropriar a produção da natureza numa 
forma adaptada às suas próprias necessidades. "Por assim agir no mundo externo e mudando-o, ele ao 
mesmo tempo muda sua própria natureza" (Marx, 1967). 
A natureza, conforme expressou Engels (1979, p. 33), é: 
 
“a pedra de toque da dialética, e devemos assinalar que as modernas ciências naturais 
nos brindam, como prova disso, com um acervo de dados extraordinariamente copioso e 
enriquecido a cada dia. Na natureza tudo acontece de modo dialético e não metafisicamente (não 
se move na eterna monotonia de um ciclo constantemente repetido, mas percorre uma verdadeira 
história). Aqui há que lembrar, em primeiro lugar, Darwin, que ao demonstrar que toda a 
natureza orgânica existente — plantas e animais, e entre eles, também o homem - é produto de 
um processo de evolução de milhões de anos, golpeou rudemente a concepção metafísica da 
natureza. 
 
A vida aparece e se desenvolve no meio natural, portanto a história da humanidade é a continuação da 
história da natureza. Essa interação dialética justifica o aspecto existencial e leva a pensar o homem como ser natural, 
devendo-se, contudo, entendê-lo, primeiramente, como um ser social. "... Enquanto existirem homens, a história da 
natureza e a história dos homens se condicionarão reciprocamente" (Marx & Engels, 1970); ou ainda, conforme 
Moreira (1982, p. 36), "a razão reside na naturalidade da história e na historicidade da natureza, fundindo-se em um 
plano história dos homens e história da natureza". 
 
Conforme se observou, JJjel§5ã J^ijpjnen>natureza_é um processo de produção de mercadorias ou de 
produção da natureza. Portanto, o homem não é apenas um habitante da natureza; ele se 
apropria e transforma as riquezas da natureza em meios de civilizacão histórica para a sociedade. 
Marx, em Gríidrisse, admite que a riqueza não é outra coisa senão o pleno desenvolvimento do 
controledo homem sobre as forças da natureza. Incorporar a natureza produtiva não significa, do ponto de vista 
materialista, eliminar a dependência do homem com relação à natureza, pelo contrário, é administrar tal dependência 
com certas condições (Prestipino, 1977). 
Conforme Biolat (1977, p. 13), "a sociedade está numa relação direta com a natureza por todo um 
processo de produção de bens materiais e de desenvolvimento cultural dos homens, destinado a satisfazer as suas 
necessidades". Para Lenin (apud Biolat, 1977), "o domínio da natureza realizado na prática humana, resulta de uma 
representação objetivamente fiel dos fenómenos e dos processos naturais". 
 
O TRABALHO COMO MEDIADOR DAS RELAÇÕES HOMEM-NATUREZA 
 
O que assegura a unidade dialeticamente contraditória, a inte-ração de sociedade e natureza, do homem e 
seu habitat, premissas e condições da atividade vital do homem? O marxismo tem dado uma resposta clara e 
definitiva: é a produção material. 
 
O trabalho é, num primeiro momento, um processo entre a natureza e o homem, 
processo em que este realiza, regula e controla por meio da ação, um intercâmbio de materiais 
com a natureza (Marx, 1967, p. 188). 
 
Desse intercâmbio de materiais se logra a unidade do homem com a natureza; esta se transforma e se 
adapta as necessidades daquele; cria-se uma "segunda natureza", um habitat artificial do homem, determinado 
pelas peculiaridades da cultura e da organização social. Por outra parte, a produção material, a atividade do homem 
influi poderosamente na biosfera e, em geral, no próprio habitat do homem, não só de maneira positiva, como também 
negativa. A chave da solução científica está na análise dos fatores sociais, nos fatos específicos da produção determinada 
por esses fatores. 
A natureza é, pois, para o homem, um depósito inesgotável de objetos de trabalho. 
 
Os homens buscam e encontram nela a matéria e a energia necessárias para produzir 
artigos de uso e consumo e meios de trabalho. Quanto maiores são as riquezas naturais incorpo-
radas à produção dos meios de vida, tanto mais poder tem o homem sobre a natureza (Glezerman 
& Kursanov, 1978, p. 52-3). 
 
A atividade do homem entra em relação produtiva e cognos-citiva com a natureza através do trabalho, 
o que o difere dos demais animais; ele transforma a natureza em objeto da própria consciência teórica. 
 
O homem separa-se precisamente, dos outros animais, a partir do momento em que 
começa a produzir e reproduzir suas condições de vida, quando desenvolve as potencialidades 
não só de seu próprio organismo, como também dos instrumentos criados para ampliar o poderio 
de suas mãos e de seus braços. Esse domínio gradativo sobre os meios de trabalho vai libertando o 
homem das limitações que até então lhe impunha a natureza exterior, com a qual se sentia 
organicamente identificado; ao mesmo tempo este vai elaborando um novo modo de 
relacionamento com ela, ao se apropriar de suas características menos aparentes para submetê-la 
à sua vontade, uma vontade que vai apurando em fins objetivos e necessidades sempre mais 
definidos (Santos, 1984, p. 22). 
Essa relação de apropriação e transformação fundamentada no materialismo histórico se constituiu por 
longo tempo em determinismo geográfico, como falsidade ideológica imposta pelo sistema de dominação. 
Quanto mais a sociedade se desenvolve, mais ela transforma o meio geográfico pelo trabalho produtivo 
social, acumulando nele novas propriedades. Em síntese, "a sociedade depende tanto mais da natureza ambiente 
(sic) quanto ela é mais fraca e quanto mais mergulha no passado" (Podossetnik & Spirkine, 1966, p. 16). 
A sociedade é, portanto, um organismo social complexo, cuja organização interna representa um 
conjunto de ligações e relações fundamentadas no trabalho. Esse trabalho encontra-se diretamente vinculado aos 
recursos oferecidos pela natureza. Portanto, a natureza resultante da pura combinação dos fatores físicos, químicos e 
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biológicos, ao sofrer apropriação e transformação por parte do homem, através do trabalho, converte-se em natureza 
socializada ou "segunda natureza", caracterizando as relações que incorporam as forças produtivas nos diferentes 
modos de produção. 
Assim, o trabalho é visto como mediador universal na relação do homem com a natureza, o que leva a 
admitir que a chamada relação homem-natureza é relação de trabalho. A separação entre o homem e as condições 
naturais de sua existência, observada i anteriormente, não é para Marx "natural", mas histórica. 
 
A natureza está no homem e o homem está na natureza, porque o homem é produto 
da história natural e a natureza é condição concreta, então, da existencialidade humana. Mas 
como é o trabalho que está verdadeiramente tecendo a dialética da história, é ele que faz o homem 
entrar na natureza e a natureza estar no homem (Moreira, 1981, p. 81). 
 
Ainda, com relação ao trabalho, dizem os economistas que é a fonte de toda riqueza. 
 
E o é, com efeito, a par da natureza, que se encarrega de proporcionar-lhe a matéria 
destinada a ser convertida em riqueza pelo trabalho. Mas é infinitamente mais que isso. O 
trabalho é a primeira condição fundamental de toda vida humana, a tal ponto que, em certo 
sentido, deveríamos afirmar que o próprio homem foi criado por obra do trabalho. (...) Assim, 
pois, a mão não é somente o órgão do trabalho, mas é, também, o produto deste (Engels, 1979, p. 
142-3). 
 
A prática do homem está diretamente ligada a sua história. 
 
RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E RELAÇÕES HOMEM-NATUREZA 
 
O modo como os homens se relacionam com a natureza depende do modo como os homens 
se relacionam entre si. "Para produzir, os homens contraem determinados vínculos e relações; através 
desses vínculos e relações sociais, e só através deles, é que se relacionam com a natureza" (Marx, 1967, 
p. 441). 
Em síntese, pode-se concluir que os fenómenos resultantes da relação homem-natureza 
encontram-se determinados pelas relações entre os próprios homens, em um determinado sistema 
social, conforme esquema: 
P o r t a n t o , a transformação da natureza pelo emprego da técnica, com finalidade de 
produção, é um fenómeno social, representado pelo trabalho. Daí se infere que as relações de produção 
entre os homens mudam conforme as leis, as quais implicam a formação econômico-social e, por 
conseguinte, as relações entre a sociedade l e a natureza. 
Para melhor compreensão de tais fenómenos, necessário se faz observar as relações 
evidenciadas nos diferentes modos de produção. Inicialmente, deve-se considerar a base ou infra-estrutura do 
modo de produção, comandada pelas relações de produção. Conforme se observou, as relações de produção 
referem-se às relações entre os próprios homens, responsáveis pelas relações de trabalho, forma de propriedade e 
relações de distribuição e troca nos diferentes sistemas. 
As forças produtivas, por sua vez, que tratam das relações do homem com a natureza, correspondem a 
determinadas relações de produção, evidenciadas nas diferentes fases da história da humanidade. Os elementos internos 
das forças produtivas são justificados por duas grandes categorias analíticas: a força de trabalho e os meios de 
produção, onde se inserem o objeto de trabalho (a própria terra) e os instrumentos de trabalho, que se encontram numa 
dependência direta do grau de desenvolvimento cientffico-tecnológico (fig. 1). 
Portanto, é nas forças produtivas da base do sistema que se evidenciam as relações entre o homem e a 
natureza que, através do trabalho, respondem pela produção material do espaço. Tais forças produtivas, conforme se 
considerou, vinculam-se às relações de produção, determinantes das relações de trabalho e da forma de 
propriedade nos diferentes meios de produção. 
As relações de produção (relações homem-homem), ao mesmo tempo em que implicamas relações entre o 
homem e a natureza (forças produtivas), respondem pelo comportamento da superestrutura (concepções político-
jurídicas, filosóficas, religiosas, éticas, artísticas e suas instituições correspondentes, representadas pelo próprio 
Estado). 
Deve-se observar, contudo, que as forças produtivas são os elementos mais dinâmicos e 
revolucionários da produção e que também a superestrutura não é algo passivo. Enfim, as forças produtivas, em sua 
unidade dialética com as relações de produção, constituem a base material do modo de produção que caracteriza 
cada época histórica. Ou ainda, enquanto as forças produtivas respondem pelo conteúdo do processo produtivo, as 
relações de produção caracterizam a forma económica e social do referido processo (fig. 1). "Só no quadro dessas 
relações económicas (relações de produção), nem sempre tangíveis e visíveis, existe a relação dos homens com a 
natureza e tem lugar a produção social" (Ilíne & Motiliov, 1986). 
Ainda, partindo do princípio de que enquanto o conteúdo da base material (forças produtivas) não se 
constitui em fator de mudança radical da sociedade, o que é justificado pelo estágio em que se encontra, entende-se 
que a forma (relação de produção) assume papel de domínio no sistema de relações sociais, o que é corroborado pela 
superestrutura ideológica. Assim, admite-se que o meio natural é o substrato em que as atividades humanas respondem 
pela organização do espaço, conforme os padrões económicos e culturais. Portanto, quanto maior o avanço científico-
tecnológico de um povo, menores serão as imposições do meio natural e maiores as transformações acontecidas, o 
que implica o próprio comportamento ambiental. 
A história do homem tem demonstrado a procura permanente de sua harmonia com a natureza, o que 
não exime a degradação ambiental de ser considerada também histórica: inicia com a agricultura predatória na 
África (6.000 a.C.), continua com a quebra do equilíbrio natural decorrente da substituição da população nómade 
pela sedentária, como nas estepes da Ucrânia e América e intensifica-se com a implantação do sistema capitalista. 
Em 1844, Engels, referindo-se à classe operária, mostrava quanto a atmosfera de Londres ou Manchester era mais 
pobre de oxigénio e mais rica em gás carbónico do que a atmosfera do campo (Biolat, 1977). 
Essas transformações são relativamente rápidas se comparadas com o estágio evolutivo da natureza. 
Basta imaginar que os homens, lavrando a terra todos os anos, 
 
reviram uma massa três vezes maior que todos os produtos vulcânicos jorrados 
durante o mesmo tempo das entranhas do solo. Durante os últimos cinco séculos, a humanidade 
extraiu do subsolo pelo menos cinquenta bilhões de toneladas de carvão e dois bilhões de toneladas 
de ferro. Durante o último século, as fábricas adicionaram à atmosfera, cerca de 360 bilhões de 
toneladas de gás carbónico, o que aumentou o seu teor em cerca de 13%. Calcula-se que a 
quantidade de gás carbónico atualmente adicionada à atmosfera chegue a aumentar a 
temperatura média de um grau a um grau e meio (Podossetnik & Spirkine, 1966, p. 16). 
 
A forma de apropriação e transformação da natureza responde pela existência dos problemas ambientais, 
cuja origem encontra-se determinada pelas próprias relações sociais. Ou conforme Biolat (1977), "o homem, ao 
atuar para modificar a natureza, provoca, por sua vez, efeitos sobre o seu pensamento, o que acarreta a necessidade 
de novas relações entre os homens, para melhor dominar a natureza". Em síntese, conclui-se que uma nova estrutura 
sócio-econômica implantada em uma região implica uma nova organização do espaço, que por sua vez 
modifica as condições ambientais anteriores. Ou ainda conforme Tompes da Silva (1988), a ausência de um 
equilíbrio ou harmonia na relação homem-natureza decorre em primeiro lugar 
 
 de uma relação de negatividade onde a sociedade encontra-se em contradição com a 
natureza, e por ser assim a recria e a modifica constantemente; em segundo lugar, essa relação, 
em oposição ao que imaginava Feuerbach, apresenta-se em constante movimento e transformação. 
Ela muda na medida em que se altera o modo de produção, em que se muda a indústria, a divisão 
de trabalho, o intercâmbio, etc. 
 
RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA NO SISTEMA DE PRODUÇÃO CAPITALISTA 
 
A utilização espontânea da natureza, onde está implícita a dilapidação de suas riquezas, esboçou-se 
nas primeiras etapas da história da sociedade e se acentuou na época feudal, porém, alcançou um grau máximo no 
curso da sociedade capitalista. '^O capitalismo cria a grande produção e a competição, que levam aparelhada a 
dilapidação da capacidade produtiva da terra" (Marx, 1967). Ou ainda, conforme Frolov (1983, p. 19), 
no capitalismo, a produção material se inspira na obtenção de benefícios; é um 
processo de desenvolvimento das forças produtivas imanentes que não se conjuga com as 
necessidades e demandas do indivíduo real, nem com as possibilidades e os limites da natureza 
exterior. 
 
Conforme Duarte (1986, p. 47), no capitalismo, "quanto mais o trabalhador se apropria da natureza, 
mais ela deixa de lhe servir como meio para o seu trabalho e meio para si próprio". 
A título de exemplo, no sistema de produção capitalista, as relações de trabalho respondem pela 
exploração da força de trabalho (trabalho assalariado, cujo pagamento não corresponde ao produzido, gerando "mais-
valia"), e a forma de propriedade dos meios de produção é privada. Apenas a força de trabalho não se caracteriza 
como propriedade do capital, o que processa verdadeiras maquinações das relações de produção, como a criação do 
exército de reserva, que implica a relação.oferta-procura, e consequente controle salarial do trabalhador. Trata-se 
portanto, de uma relação de classe, tendo de um lado o proprietário do dinheiro ou da mercadoria, e de outro, homens 
que não possuem nada senão sua própria força de trabalho. 
No capitalismo dependente e excludente como o brasileiro, tais considerações se agravam. Se por um 
lado o Estado é permeável às determinações do capital estrangeiro, o que pode ser justificado pelo grau de 
dependência gerado pela dívida externa, por outro, encontra-se subordinado aos interesses do capital interno, como o 
dos grandes latifúndios ou grandes grupos económicos. A imposição ao direito da propriedade é tal que acaba 
obstando a possibilidade de uma reforma agrária, apesar de esta se constituir em alternativa para a própria evolução 
capitalista. A ação governamental encontra-se fundamentada na legislação vigente, que tem por função, proteger o 
capital. Portanto, o Estado exerce a violência que legitima os privilégios de classe. 
A filosofia idealista, por sua vez, impede uma visão da estrutura aqui apresentada, procurando 
justificar os efeitos através de causas indiretas, o que automaticamente é repassado ao desenvolvimento científico. 
Como exemplo, as ciências humanas sempre foram relegadas a um segundo plano (ao contrário das ciências ditas 
"nobres"), por terem tido uma função inútil, quando na realidade possuem uma importância fundamenta] no 
desenvolvimento da consciência social. A geografia desde sua sistematização como ciência sempre serviu ao 
poder, o que levou Lacoste (1976) a assinalar a dupla função histórica que sempre a caracterizou: a geografia do 
poder, aquela utilizada pelas forças armadas, com objetivo estratégico-político; e a geografia dos professores, que foi 
introduzida na vida académica por Vida! de La Blache, no século XIX, na França. O próprio sentido da geografia 
possibilista lablachiana demonstra sua função servil, ao combater a geografia determinista alemã (Ratzel), 
utilizando-se da neutralidade científica. Portanto, a neutralidade científica, que é uma postura filosófica com finalidade 
de mascarar a realidade objetiva, foi e continua sendo difundida com base nos pressupostospositivistas. As 
pesquisas, por sua vez, nessa visão de neutralidade, ou são inúteis ou possuem a finalidade de contribuir para a 
geografia do poder, relegando o sentido social da ciência, deixando de contribuir para o desenvolvimento de uma 
consciência critica. 
Como se observa através da própria evolução do pensamento cientifico, a geografia tem sido resistente 
ao conceito contraditório de "natureza", sobretudo a partir do momento em que se interessa pelas relações entre o 
homem e a natureza. 
Assim sendo, o caráter dual imposto pelo modo de produção capitalista tem se constituído em recurso 
ideológico para falsear a relação dialética entre o homem e a natureza e, por conseguinte, impedir a participação da 
força de trabalho no processo produtivo. Como a sistematização tanto da geografia como da própria geomor-fologia, a 
ser considerada oportunamente, acontece com o processo de expansão capitalista (fins do século XVIII), toma-se 
evidente a vinculação da estrutura filosófico-ideológica voltada aos interesses do capital. Isso tem sido repassado 
por diferentes gerações, respondendo pelo processo de alienação em detrimento da formação crítica da consciência 
social. 
A mesma estratégia ideológica pode ser sentida com relação ao processo de importação de cultura, 
podendo este ser exemplificado através do prestígio da música estrangeira e a carência de recursos para a produção da 
cultura nacional. 
Por outro lado, a mídia tem sido importante instrumento do sistema, contribuindo para a deformação 
da personalidade. A ideologia capitalista, sob enfoque positivista, convence as "massas" de que o aumento 
dos conhecimentos técnicos e o desenvolvimento industrial se constituem, automaticamente, em bem-
estar social, deixando de observar "de quem". 
 
A ideologia do Estado e o poder dos meios de comunicação visam a uniformização 
cultural, a eliminação das resistências e diferenças, a unificação do mercado de consumo e a inte-
gração da paisagem nacional modificada pelo progresso (Mine, 1987). 
Os próprios movimentos ecológicos, na maior parte das vezes despreparados politicamente, 
não comprometem o sistema de produção responsável, admitindo que as questões ambientais se origi-
nam exclusivamente das relações entre o homem e a natureza. É como depositar na pessoa do 
trabalhador a responsabilidade pelas formas de exploração inadequada das forças produtivas, ou 
encarar o problema sob o aspecto estritamente técnico. 
 
Se o modo como os homens se relacionam com a natureza depende do modo como os 
homens se relacionam entre si, não se pode trabalhar seriamente no movimento ecológico sem 
precisar muito bem o significado das relações sociais em que vivemos, para a compreensão de 
nossas relações com a natureza (Porto Gonçalves, 1984). 
 
Na realidade, capital e trabalho são antagónicos, uma vez que o capital é gerado pela 
exploração do trabalho ao entrar em contradição com a natureza. "Como o processo de trabalho é uma 
relação homem-meio, apontada para o lucro pela via de produção de mercadorias de baixo custo, a 
relação é de predação" (Moreira, 1981). 
 
APROPRIAÇÃO PRIVADA DA NATUREZA COMO RELAÇÃO DE NEGATIVIDADE 
A visão de natureza externa à sociedade, o objeto totalmente alheio ao sujeito, constitui-se em 
argumento puramente ideológico, rigorosamente não dialético. Trata-se do ocultamente da própria relação 
entre o homem e a natureza. 
Ao mesmo tempo em que externaliza a natureza, o homem apropria-se dela, produzindo uma 
relação contraditória: a natureza é considerada externa, mas feita como interna. Ou ainda, conforme 
Burgess (1978), a natureza não permanece muito tempo externa, tornando-se cada vez mais difícil de se 
conceber sua ex-temalidade: "a produção dos solos deficientes e a degradação geral de muitas terras 
agrícolas; a produção de paisagens culturalmente deficientes; a poluição e a erradicação da 
disponibilidade de recursos...". 
Conforme se constatou anteriormente, as relações de produção entre os homens respondem 
pelas relações da sociedade com a natureza, e conseqüentemente, pela organização do espaço produtivo 
social. 
Partindo do princípio de que "a principal relação homem-ho-mem é justamente a relação de 
propriedade das forças produtivas" (Moreira, 1987), conclui-se que é a relação homem-homem que dá a 
direção geral à relação homem-meio. Como a relação homem-meio contém em si duplo aspecto, ou 
seja, é relação ecológica e é relação histórico-social, tem-se que a questão ambiental encontra-se 
fundamentada na relação de propriedade das forças produtivas, determinada pelas relações homem-
homem. 
Portanto, a forma como os homens se relacionam com a natureza depende fundamentalmente da 
relação de propriedade das forças produtivas. Rousseau, em 1755, já observava que a corrupção das 
sociedades civilizadas começa no momento em que surge a propriedade privada, momento esse que se 
refere à conversão do espaço em "mercadoria" (expressão formal do valor de troca). 
À medida que o caráter da propriedade privada é desenvolvido (apropriação privada da 
natureza), o acúmulo de capital se torna consequência, o que além de responder pelo processo de degrada-
ção ambiental, responde pelo antagonismo de classe. 
O agravamento dos problemas ambientais nasce portanto com as relações de propriedade privada 
e os antagonismos de classe, responsáveis pela alteração da raiz da estrutura social e, por conseguinte, das 
relações'entre o homem e a natureza. Em síntese, os impactos ambientais têm se agravado em função do maior 
desenvolvimento anárquico das forças produtivas que estruturam o modo de produção capitalista, enquanto as relações 
de produção são relações de domínio e submissão. 
É dessa relação que se constata o grau de dilapidação da capacidade produtiva da terra, com crescente 
degradação da natureza, determinada por um aproveitamento generalizado e mais intenso dos recursos naturais, 
sobretudo através do processo de industrialização, urbanização e agricultura predatória. Como reação a esse 
processo surge um amplo movimento social em defesa da natureza, visando um aprimoramento do meio ambiente e 
uma exploração mais racional dos recursos e também assegurar sua reprodução. 
Surge portanto a "ecologia" (oikos, casa), ciência que estuda o meio onde habitam os seres vivos. 
Conforme Guerasimov (1983), o conceito "ecologia" aparece com a concepção evolucionista da natureza 
de Darwin, onde se observam as relações entre a biota (plantas e animais) e o habitat. Portanto, a ecologia se 
desenvolve nas ciências biológicas. 
O marxismo, por sua vez, com sua concepção científica das leis do desenvolvimento da sociedade, 
"desvinculou o homem do mundo animal, como fenómeno sociobiológico, e determinou que sua população é em 
primeiro lugar uma formação social". Assim, rompeu o limite de enfoque puramente biológico da ecologia. 
 
A doutrina de Marx e Engels sobre as leis do desenvolvimento da sociedade, baseada 
na atividade laborial dos homens e nas relações sociais que se formam entre eles, exclui a 
possibilidade de explicar as relações mútuas da sociedade e do meio natural unicamente através 
das leis biológicas (Guerasimov, 1983). 
 
Estudos realizados nos últimos anos, para compreender a essência da revolução científico-tecnológica 
contemporânea e seus impactos sobre o meio ambiente, têm estendido os limites do conceito de ecologia, 
introduzindo na ciência, junto com outros, os termos "ecologia do homem" e "ecologia da sociedade", e atri-
buindo um conteúdo vago às relações entre o homem e a natureza (Guerasimov, 1983). Observa-se portanto, um 
processo de "ecolo-gizaçáo" das ciências naturais e sociais contemporâneas. 
Tais investigações, por mais diversos que sejam os objetivos do estudo, procuram analisar os vínculos 
existentes entre o meio ambiente, o homem e a sociedade. 
 
 
O SIGNIFICADODO RELEVO NO ESTUDO AMBIENTAL 
 
Guerasimov (1983), após demonstrar o processo de ecolo-gizaçâo das ciências 
contemporâneas, individualiza a geografia pelo conteúdo de enfoque que apresenta. "A rigor, a geo-
grafia tem estudado sempre o meio ambiente, tomado em seu conjunto como um sistema em que estão 
incluídos os componentes naturais e sociais (tecnológicos)." Admite-se, portanto, o significado do 
estudo geográfico do entorno, como condição indispensável para toda investigação ecológica. 
Demonstra ainda que a geografia contemporânea está preparada mais que outras ciências para os 
estudos ecológicos, uma vez que dispõe dos métodos necessários e, o que é mais importante, possui 
uma imensa informação científica sobre o grau e as formas de sua potenciação e aproveitamento 
económico. 
Ao tratar das questões ambientais, a geografia permite a aproximação do homem com a 
natureza, rompendo a visão djcotô^ mica e afirmando a unidade dialética. "É necessário que a nossa 
categoria supere a visão dicotômica jsjavgçrç^^ pois assim procedendo teremos condições efetivas de 
dominar a amplitude interdependente do complexo homem-natureza" (Gomes, 1988). 
A geografia, com suas grandes possibilidades potenciais de enfocar em conjunto o estudo 
dos fenómenos naturais e sociais, habilita-se a oferecer as orientações científicas principais dos estudos 
ecológicos assim definidos: 
 
controle sobre as mudanças do meio ambiente originadas pela atividade do homem 
(monitoramento antrópico); prognósticos geográficos científicos das consequências que implicam a 
influência de atividade económica sobre o entorno; preservação, debilitamento e eliminação das 
calamidades naturais; otimização do meio nos sistemas técnico-naturais que o homem cria 
(Guerasimov, 1983). 
 
GEOSSISTEMA COMO PONTO DE PARTIDA 
 
Em síntese, para tratar das questões ambientais e das leis da sociedade que determinam as 
relações de produção (ou são por elas determinadas), necessário se f az o entendimento das leis da 
natureza. Segundo Engels (1976), 
 
... somos a cada passo advertidos de que não podemos dominar a natureza como um 
conquistador domina um povo estrangeiro, como alguém situado fora da natureza; nós lhe 
pertencemos, com a nossa carne, nosso sangue, nosso cérebro; estamos no meio dela; e todo o 
nosso domínio sobre ela consiste na vantagem que levamos sobre os demais seres de poder chegar 
a conhecer suas leis e aplicá-las corretamente. 
 
Embora a terra possa ser considerada um enorme sistema, encontra-se representada por três 
subsistemas integrados: o atmosférico, o continental ou litosférico e o aquático ou hidrosférico (fig. 2). 
Na zona de interação dessas três unidades ocorre a vida (subsistema biosférico). Numa relação direta 
do sistema natureza em relação ao homem, Gregoriev (1938) considerou o estrato geográfico da terra 
composto pela crosta terrestre, hidrosfera, baixa camada da atmosfera (troposfera), cobertura vegetal e 
reino animal que, em conjunto, definem os ambientes onde vivem os homens socialmente. Ou ainda, 
conforme Mine (1987, p. 16), a natureza "é um palco iluminado pelo sol, onde coexiste uma série de 
formas de vida, através de numerosos fenómenos biológicos, químicos e físicos que se integram e se completam 
alimentando-se reciprocamente". Portanto, refere-se a um conjunto de ecossistemas em equilíbrio dinâmico, em 
que qualquer intervenção num ponto do sistema repercute no conjunto. 
 
 
A intervenção dos referidos subsistemas não pode, portanto, ser entendida de forma dissociada, uma vez 
que implicaria a ruptura das relações processuais como um todo, proporcionando uma abordagem metafísica. 
Assim, todo conjunto pertence a um sistema, cujas ações e reações estão condicionadas pela matéria (em seus três 
estados) e pelas fontes energéticas (internas e externas). 
A interdependência das unidades consideradas foi tratada por Kalesnik (1958) em artigo que destaca o 
significado da geografia física como ciência de integração. Utiliza-se do conceito de "Landschaft-esfera" como 
objeto da geografia física, onde a referida integração é vista através das leis geográficas gerais da terra, ou leis da 
Landschaft-esfera, que são: 1) integridade, unidade da sua composição e da sua estrutura; 2) existência dos 
fenómenos circulares da matéria e energia; 3) presença do ritmo em seus fenómenos; 4) coexistência da estrutura da 
Landschaft-esfera de particularidades zonais e azonais; e 5) continuidade de sua evolução, cujo resultado é a luta dos 
processos exógenos e endógenos. 
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Através das leis que compõem a Landschaft-esfera evidencia-se a interação de um sistema material único 
e integral. Tal fato pode ser compreendido através da "relação entre o clima e o relevo, o clima e a formação dos solos, 
o clima e mundo orgânico...". Nesse sistema geral de relação, o homem está presente, desempenhando papel 
considerável no movimento circular das substâncias da terra. 
Os processos circulares são os grandes responsáveis pela dinâmica processual, podendo ser 
caracterizados pela circulação atmosférica, o ciclo da água e uma infinidade de outros exemplos. Devem ser vistos 
como sistemas abertos, considerando-se a troca de energia e matéria existentes entre os diferentes componentes, ou 
conforme o autor, "seria preferível representá-los simbolicamente como uma curva traçada em pontos de 
circunferência de uma roda que gira em linha reta". 
Os fenómenos rítmicos (diurnos, sazonais, anuais...) caracterizam as diferenças nas relações internas da 
paisagem. Por exemplo, cada paisagem apresenta um ritmo anual e sofre mudanças de acordo com as estações. 
A zonalidade, por sua vez, resulta dos fenómenos que se processam na superfície do globo, sendo a 
forma da terra e sua posição em relação ao sol, as causas principais dessas diferenciações. Além disso, a repartição 
irregular entre terra e água, diferenças térmicas das correntes marítimas, além de outros fatores, fazem com 
que a natureza não se pareça com a matemática. Apesar das determinantes exógenas nas diferenciações zonais - o 
que faz entender a zonalidade de forma dinâmica -, deve-se considerar ainda as implicações endógenas, como 
as forças tectogenéticas, que caracterizam os processos azonais. 
Por último, observa Kalesnik (1958), através da continuidade da evolução, que a "Landschaft-esfera 
desenvolve-se pela força de suas contradições internas. As influências externas, como a radiação solar, criam as 
condições de seu desenvolvimento". Ou ainda, a origem e evolução dinâmica da Landschaft-esfera resulta do en-
contro de inúmeras tendências antagónicas que nela se acham unidas. 
O homem se faz presente nesse sistema geral de relações, exercendo grande pressão sobre o meio 
geográfico e influenciando o movimento circular das substâncias da terra. Isso pode responder por alterações dos 
fenómenos rítmicos (disritmias), os quais, ampliando a escala de abrangência, poderão influenciar na dinâmica 
zonal, e em última instância, ter implicações na manutenção do equilíbrio dinâmico e conseqüentemente na 
continuidade da evolução da Landschaft-esfera. 
Bertrand (1968), a ser melhor considerado adiante, incorpora os diferentes subsistemas - litosfera, 
atmosfera e hidrosfera - no conceito de "potencial ecológico" (relevo, clima e hidrologia), enquanto a biosfera 
vincula-se à "exploração biológica" (vegetação, solo e fauna). O equilíbrio existente entre o potencial ecológico e a 
exploração biológica caracteriza o "equilíbrio climáxico", muitas vezes rompido pela intervenção do homem na 
"exploração biológica" (por exemplo, o desmatamento para o desenvolvimento de determinado projeto). 
Se por um lado a análise dos sistemas naturais é comandada pelas leis da própria natureza, sua 
apropriação pelo homem (produçãoda natureza) responde por intervenções que muitas vezes afetam de maneira 
significativa a atividade do sistema (segunda natureza). Portanto, as propriedades geoecológicas convertem-se em 
propriedades sócio-reprodutoras (como suporte ou recurso), momento em que surgem as consequências 
ambientais. Deve-se acrescentar que a escala de abrangência de tais problemas aumenta numa relação direta ao 
processo e modo de produção, quando os homens contraem determinados vínculos e relações sociais. 
Em síntese, é preciso oferecer subsídios ao conhecimento sistemático dos sistemas naturais, 
procurando entendê-los sempre num processo de interação e interconexão, onde o homem se faz presente. 
Portanto, o conhecimento sistemático dos subsistemas deve envolver questões relativas à atmosfera, hidrosfera, 
litosfera e biosfera, tendo o homem como agente responsável pela organização do espaço produtivo social. 
Apesar de as considerações serem lógicas e tais conhecimentos integrarem a maior parte dos 
currículos do curso de geografia, deve-se observar a necessidade de serem estruturados segundo as 
preocupações ambientais, como as alterações físicas e químicas dos solos, a contaminação das águas 
superficiais e lençóis freáticos, as disritmias pluviométricas e efeitos de deserti-ficação, a ocupação das vertentes e 
processos morfogenéticos resultantes... 
Em síntese, ao se procurar abordar as derivações ambientais processadas pelo homem, deve-se 
entender que tudo começa a partir da necessidade de ele ocupar determinada área, que se evidencia pelo 
relevo, ou mais especificamente, individualiza-se pelo elemento do relevo genericamente definido por vertente. 
Assim, a ocupação de determinada vertente ou parcela do relevo, seja como suporte ou mesmo recurso, 
conseqüentemente responde por transformações do estado primitivo, envolvendo desmatamento, cortes e demais 
atividades que provocam as alterações da exploração biológica e se refletem diretamente no potencial ecológico. 
 
 
O RELEVO NA ANALISE GEOGRÁFICO-AMBIENTAL 
 
O relevo, como componente desse estrato geográfico no qual vive o homem, constitui-se em suporte das 
interações naturais e sociais. Refere-se, ainda, ao produto do antagonismo entre as forças endógenas e exógenas, de 
grande interesse geográfico, não só como objeto de estudo, mas por ser nele - relevo - que se reflete o jogo das 
interações naturais e sociais. 
 
Evidentemente que nem a energia interna atua de forma homogénea na crosta 
terrestre, nem a energia solar é igual em toda a superfície da terra. Diante da variação do grau de 
atuação de uma e outra tem-se, na superfície da terra, uma gama de paisagens que são respostas 
às diferentes formas de ações e reações da matéria, ante a atuação das energias endógenas, as 
forças tectogenéticas, e exógenas, os mecanismos morfoclimáticos (Ross, 1987, p. 6). 
 
Os trabalhos gerados pela relação entre tais forças não podem ser vistos como produtos acabados, e sim 
como produtos em permanente modificação, dada a constante ação e reação entre matéria e energia, interagindo 
através dos diferentes componentes da natureza. 
Penteado Orelhana (1981) afirma que o relevo se constitui na "interface da atmosfera e hidrosfera, que 
fornece os recursos vitais e a antroposfera é o pátio do desempenho humano para o qual deve ser dirigida a atenção 
sobre a avaliação dos sistemas de relações. Nessa superfície de contato, o homem agride, corrige e torna 
economicamente produtivos sistemas naturais que, nas formas originais, eram incapazes de prover as necessidades 
humanas". Portanto, o homem, ao integrar a natureza, tem se mostrado capaz de alterar as relações processuais 
naturais, portanto, alterar o próprio relevo, através de modificações da "exploração biológica" (vegetacão, solo e 
fauna), o que implica a ruptura climáxica (equilíbrio existente entre a "exploração biológica" e o "potencial 
ecológico", representado pelo relevo, clima e hidrologia) a ser considerada oportunamente. 
Ao mesmo tempo em que o relevo terrestre refere-se a um componente da natureza, constitui-se em 
recurso natural, o que o reveste de interesse geográfico e, portanto, de preocupação ambiental, uma vez que 
jamais poderá deixar de ser tratado sob o prisma antropocêntrico. Fairbridge (1971) chega a exagerar tal im-
portância, ao considerar a paisagem morfológica como recurso natural principal do homem, "substrato de todos os 
outros recursos da terra, sem o que tudo mais será secundário e abstraio". Contudo, deve-se ressaltar o significado que 
o relevo desempenha para o homem, ao considerá-lo como resultante do subsistema litosfera, económica e 
socialmente. 
Assim, o estudo do relevo feito pela geomorfologia passa a assumir uma perspectiva de geografia global 
que, por sua vez, procura ocupar o espaço de direito, correspondente ao ternário ambiental. Trata-se de reforço de 
uma perspectiva histórica da própria geomorfologia, como se constatará a seguir, diferente do modismo da 
ecologização. 
 
CONCEITO DE GEOMORFOLOGIA 
 
Antes de se fazer qualquer comentário a respeito do assunto, convém apresentar algumas considerações 
do que seja a geomorfologia. Trata-se de um ramo principal da geografia, ainda de pouca divulgação popular, apesar 
da importância social de que se reveste, sobretudo quanto às questões ambientais. 
A conceituação dificilmente será feita através de uma análise etimológica da palavra, lembrando que seu 
campo de estudo é restrito que o sugerido (limitações positivistas), conforme bem lembrou Sparks (1972). 
O "estudo das formas do relevo" não se restringe apenas à ciência geomorfológica, como por um 
número razoável de outras ciências, entre as quais deve-se considerar a geologia, a geodésia, a 
geofísica e a própria geografia. Entretanto, a forma como propõe e desenvolve a análise do relevo é 
própria, definida a partir da obra de James Hutton (1726-1797), primeiro grande fluvialista e criador da 
teoria do "atualismo". 
Entendida como uma ciência que busca explicar dinamicamente as transformações do geo-
relevo, portanto, não apenas quanto à morfologia (forma) como também à fisiologia (função), 
incorporado organicamente ao movimento histórico das sociedades, é natural que sua vinculação com a 
geografia é mais que justificável. Como responsável pelo entendimento das relações do geo-relevo, 
constitui-se em importante referencial para a manutenção e estruturação dos sistemas físico-naturais 
diante das transformações sociais, o que justifica a sua função ambiental. 
Quanto ao significado da geomorfologia para a geografia, Hamelin (1964) entende que se 
encontra determinado pela opinião que se tem da própria geografia. Para muitos geógrafos "a morfo-
logia não deveria ser nem sistemática, nem necessariamente genética - isto é, descrição e explicação do 
relevo em si -, mas seletiva e funcional. Nessa ótica só se faz geomorfologia aquém de um certo ponto, 
o limiar da incidência geográfica; a morfologia é, então, simplesmente um meio. Não é, pois, todo o 
relevo que se tenta compreender, mas somente o seu coeficiente de intercâmbio geográfico" (Hamelin, 
1964, p. 8). Na ótica dessa geografia global (simples prolongamento da geografia clássica), far-se-ia 
menos a geomorfologia especializada, porém, mais frequentemente, a geomorfologia funcional. "Esta é 
um pouco a geomorfologia de todos." 
Diante da tendência de se ver uma geomorfologia puramente parcial, na ótica de uma 
geografia global, o autor (Hamelin, 1964) entende que a mesma geomorfologia poderia ser vista de 
maneira 
diferente em uma geografia total, ou seja, ao mesmo tempo mo-noísta e pluralista. Portanto, 
enquanto o monoísmo permitiria a unidade da geografia (preocupação dos soviéticos, como Anuchin, 1962), o 
pluralismo ofereceria um estudo mais intensivo das disciplinas que compõem a área física, como a geomorfologia. 
Esta, em vez de estudar somenteas relações entre o relevo e o homem, ampliaria seu objetivo além dos aspectos 
genéticos defendidos pela geografia clássica (geomorfologia integral - estudo do relevo sob todos os aspectos). 
Para Hamelin (1964), a geografia global relaciona-se sobretudo com o método, enquanto a geografia total relaciona-
se muito mais com a divisão do objeto (estudo de maior profundidade). 
Assim sendo, a geomorfologia seria feita em dois graus: "no primeiro, os especialistas do relevo irão 
produzir uma geomorfologia completa em que alguns aspectos poderão auxiliar a solução dos problemas 
geomorfológicos dos geógrafos globais; no segundo, estes últimos somente farão uma geomorfologia parcial, menos 
exigente e mais funcional para a geografia dos conjuntos" (Mackay, 1961). 
Tal proposição (Geomorfologia parcial) parece romper a sequência metodológica do conhecimento 
geomorfológico, deixando de fundamentar o terceiro nível de integração preconizado por Ab'Saber (1969), ou 
seja, o da "fisiologia da paisagem", a ser abordado adiante. 
Segundo Hamelin (1964, p. 14) a geomorfologia integral, ou tomada em sua totalidade, deve envolver o 
estudo do relevo sob todos os seus aspectos, descrição dos fenómenos elementares, 
tipos de formas e de relevo, trabalhos de laboratório e estágios sobre o terreno, estudo-montagem, 
história geológica, estrutura, processos, condições, variações morfòclimáticas, nomenclatura, 
geomorfologia aplicada, geomorfologia comparada, fatos regionais e estabelecimento de cartas de 
conjunto e detalhadas, questões propostas a outras ciências tais como a geografia global, 
climatologia, hidrologia, ciências dos solos e dos vegetais. 
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"O estudo do relevo tem sido encarado ora como um segmento da geologia, ora da geografia, quanto 
ao objeto, e tem se desenvolvido ora apoiado em uma perspectiva teorizante, ora em uma base empirista, quanto à 
forma de abordagem" (Abreu, 1985, p. 154). Enfim, depende da perspectiva em que se coloca o estudo do relevo, 
observando-se as reais necessidades do homem, a quem a ciência deve servir. Hartshorne (1939) deu grande 
importância a esse tema. Russell (1949) e Bryan (1950) publicaram ensaio a respeito do significado de uma 
geomorfologia geográfica, Wooldridge & Morgan (1946) registraram a pertinência da climatologia e geomorfologia em 
suas aplicações, no campo da geografia. Bunge (1973) lembra o papel da geografia física e da própria geomorfologia 
como fonte de leis e padrões de comportamento espacial. 
A seguir será apresentada uma síntese evolutiva do conhecimento geomorfológico, a partir de sua 
sistematização, fundamentada em estudo desenvolvido por Abreu (1983). 
 
SÍNTESE EVOLUTIVA DAS POSTURAS GEOMORFOLÓGICAS 
A geomorfologia como ciência começa a ser sistematizada em fins do século XVIII, vinculada às 
necessidades de pesquisas para as descobertas de combustíveis fósseis para alimentar a indústria do império 
alemão. A política cultural nacionalista adotada pela Alemanha, sob a influência prussiana, apesar de não ter 
impedido um relativo desenvolvimento interno, deixou-a fora da partilha dos territórios coloniais. Esse fato implicou 
o isolamento da Alemanha em relação ao contexto europeu, obrigando-a a adotar uma política de expansionismo 
latente como forma de defesa. Como resultado desenvolveu-se o isolamento cultural. 
Foram portanto os geólogos e engenheiros de minas, como 
James Hutton, criador da teoria do atualismo, os grandes responsáveis pela sistematização dos 
conhecimentos geomorfológicos. 
Enquanto na Europa a Revolução Industrial implicava prospecções minerais e consequente mudança do 
pensamento cientifico, a conquista do oeste americano também trazia contribuições importantes ao desenvolvimento 
da geomorfologia. 
Assim, o isolamento mantido pela Alemanha em relação aos demais países europeus em processo de 
desenvolvimento económico, que de certa forma foi favorecido pelo próprio idioma, proporcionou a individualização 
de quadros nacionais contrastantes no contexto político europeu, fazendo com que duas linhagens episte-mológicas 
definidas surgissem. Uma era de natureza anglo-ameri-cana, onde se evidenciou a aproximação das relações da 
Inglaterra e França com os Estados Unidos e outra de raízes germânicas, que posteriormente incorporou a produção 
publicada em russo e polonês. Em síntese pode-se admitir que as diferenças culturais implicaram linhagens 
epistemológicas distintas, com consequente definição de campo de interesse geomorfológico. 
A linhagem epistemológica anglo-americana fundamenta-se praticamente até a Segunda Guerra 
Mundial, nos paradigmas propostos por Davis (1899), através do "Geographical Cycle". Para ele, o relevo se 
define em função da estrutura geológica, dos processos operantes e do tempo. 
Apesar de Gilbert (1877), anteriormente, ter tentado explicar o relevo como resultante da erosão, 
portanto, sob uma perspectiva climática, Davis considerava o relevo em função da estrutura geológica, o que mereceu 
críticas insistentes do meio intelectual germânico contemporâneo, onde teve presença entre 1908/9. A geo-
morfologia davisiana praticamente não tinha qualquer articulação com a climatologia e a biogeografia, 
amplamente integrada na geomorfologia alemã. 
No final da década de 30, os norte-americanos se interessaram pelas críticas de W. Penck à teoria 
davisiana. A interpretação de Penck (1924) ao ciclo geográfico, divulgada durante o Simpósio de Chicago (1939), foi 
incorporada pêlos seguidores de Davis, criando novos paradigmas. 
Durante a Segunda Guerra Mundial, a influência do pensamento científico alemão se amplia nos 
Estados Unidos, proporcionando o desenvolvimento de técnicas implementadas com posturas filosóficas bem 
definidas. Um dos autores da corrente anglo-ameri-cana que se utilizam dos princípios adotados por Penck foi 
Lester C. King (1953, 1956 e 1967), cujas pesquisas sobre aplainamento caracterizavam o centro das atenções 
geomorfológicas na época. 
Deve-se acrescentar que a escola francesa, que exerceu posteriormente grande influência no 
desenvolvimento da geografia e geomorfologia brasileiras, praticamente se caracterizava pela reprodução do 
desenvolvimento científico americano. Isso pode ser exemplificado através das influências de Davis nos trabalhos 
elaborados sob a perspectiva estrutural (P. Birot, 1960; J. Tricart, 1968 e W. Thornbury, 1965). 
Progressivamente, os autores americanos assumem uma atitude mais crítica, o que contribui 
sobremaneira para a elaboração de outros paradigmas, como o espaço, no momento em que Davis valoriza o tempo. 
Contrariando a postura subjetiva e verbalista de Davis, esses autores propunham fatos objetivos, estudados sob 
a ótica da quantificação, valorizando as relações processuais que aquele havia desconsiderado. 
Assim, a partir da década de 40 até a de 60, a quantificação, a teoria dos sistemas e fluxos e o uso da 
cibernética (geografia quantitativa) assumem a postura teorética. Valorizam-se a análise espacial e o estudo das 
bacias de drenagem (Strahler, 1950,1952), 1954; Gregory & Walling, 1973), ao mesmo tempo em que novas 
posturas começam a emergir, como a teoria do equilíbrio dinâmico de Hack (1960). Horton estabeleceu leis básicas 
no estudo de bacias de drenagem, utilizando propriedades matemáticas. 
A inclusão da ação humana como instrumento de modificação das formas do relevo 
trouxe a vantagem de melhor enten- 
dê-las dentro de sistemas geomórfïcos atuais, dinamizados por processos envolvidos 
no mecanismo de modificações das formas (Cruz, 1982). 
Entre 1960 e início da década de 70, constata-se a aplicação dos postulados anteriormente 
obtidos, incorporando a teoria proba-bilística. Esses trabalhos acabaram caindo em formulações 
estéreis, sobretudo por rejeição do paradigma davisiano, sem substituição por outro universalmente 
aceito (Morley & Zunpfer, 1976). 
Se porum lado valorizam o espaço e supostas relações processuais, por outro 
desconsideram as relações temporais, julgadas como comprometidas ao paradigma davisiano (Abreu, 
1983). 
Morley & Zunpfer (1976) e Thornes & Brunsden (1977) procuram rever as propostas 
precedentes. Não introduzem novos paradigmas mas apresentam posição crítica liberta de preconcei-
tos, valorizando as observações de campo. Valorizam a ação processual segundo referencial têmporo-
espacial (Schumm & Lichthy, 1965). 
A linhagem epistemológica alemã tem von Richthofen (1886) como referencial inicial. 
Enquanto Davis tinha em sua retaguarda nomes de geólogos, von Richthofen tinha como predecessores 
autores naturalistas, que por sua vez tinham Goethe como ponto de referência permanente. (Foi Goethe 
quem empregou, pela primeira vez, a expressão "morfologia" como sinónimo de geomorfologia.) 
Enquanto Davis se caracteriza por uma proposição teorizante, von Richthofen se individualiza pela 
perspectiva empírico-naturalista (guia de observação). A. Penck (1894) também teve um papel fun-
damental na orientação da geografia alemã, que apesar de compartilhar de algumas noções básicas da 
teoria davisiana, como a do aplainamento, deu ênfase à herança naturalista de Goethe e Hum-boldt, 
valorizando a observação e análise dos fenómenos. 
A. Penck (1894) sistematiza teorias e formas do relevo (tratamento genético das formas), 
tornando-se um dos clássicos da geografia, exercendo grande influência no desenvolvimento da 
geomorfologia alemã nas primeiras décadas do século XX. 
Dentro desse contexto, três autores se destacam: A. Hettner (1927), grande crítico da teoria 
davisiana, S. Passarge (1912, 1919/21), que se caracterizou pela proposição de novos conceitos - como "fisiologia 
da paisagem", fundamentado na ideia de organismo -, introduzindo a ecologia no domínio geográfico, e S. 
Günther (1934)* que desenvolveu uma abordagem processual e crítica do sistema de referência de Davis. 
W. Penck (1924) aparece como principal opositor da postura dedutivista-historicista de Davis, 
valorizando o estudo dos processos. Em Die Morphologische Analyse - Ein Kapitel der Physika-lischen Geologie, 
publicação póstuma, utiliza-se da geomorfologia para atingir a geologia e contribuir para a elucidação dos movi-
mentos crustais, como paradigma alternativo. Contribui assim para o avanço da geomorfologia, formalizando 
conceitos como de "depósitos correlativos". Apesar de criticado por seus seguidores, com a publicação em 1953 da 
versão inglesa, levou alguns autores nor-te-americanos a se interessarem pêlos estudos de vertentes e processos. 
A linha de estudos da geomorfologia climática e climatoge-nética emerge das pesquisas de J. Büdel 
(1948, 1957, 1963 e 1969) "que levaram a uma ordenação dos conjuntos morfológicos de origem climática em zonas 
e andares, produzidos pela interação das variáveis epeirogênicas, climáticas, petrográficas e fitogeográfï-cas" 
(Abreu, 1983, p. 15). 
O ternário "paisagem" evolui (Troll, 1932, 1939, 1959 e 1966) e se consolida nos estudos de 
geoecologia e ordenação ambiental do espaço. 
Após a Segunda Guerra, a cartografia geomorfológica emerge como método fundamental para a análise 
do relevo, graças às contribuições desenvolvidas na Polónia, Tchecoeslováquia e URSS (Klimaszewski, 1963; 
Demek, 1976; Basenina & Trescov, 1972). O avanço do mapeamento geomorfológico.e seu crescente emprego no 
planejamento regional mantêm o caráter geográfico da ciência geomorfológica. 
Em síntese, deve-se considerar que a geomorfologia alemã se beneficia da Segunda Guerra Mundial, 
através do desenvolvimento da cartografia geomorfológica, e que a guerra parece responder pela ruptura 
epistemológica da geomorfologia anglo-americana 
(fig. 3). 
Outras considerações diferenciativas podem ser anotadas entre as escolas anglo-saxônica e germânica, 
que justificam as divergências teórico-metodológicas a começar por Davis, de posição bergsoniana, que se utilizou 
de referencial teorizante, apoiado em posturas geológicas. A escola germanofônica, por sua vez, fundamenta-se em 
proposta kantiana, via Hettner, embora seja considerável a vinculação naturalista de Humboldt. Deve-se 
acrescentar que a preocupação com o espaço encontra-se vinculada a uma geografia polftico-estatística, onde a 
unidade regional era priorizada (resistência prussiana ao desafio americano). 
Enquanto Davis se constitui no principal ponto de referência da geomorfologia anglo-americana, W. Penck 
se caracteriza como um dos grandes entre muitos. Portanto, a postura teorizante de Davis e o próprio processo 
dedutivo contribuem para a evolução do referencia] cíclico em sistemas de tendência axiomática, onde a ação processual 
quantificada rompia com a abordagem historicista. A geomorfologia alemã, fundamentada na observação e processo 
empírico, caracterizava-se como guia de campo. Assim, se tais reformulações evidenciavam ruptura epistemológica 
anglofônica, a geomorfologia alemã se caracterizava pelo progressivo refinamento de conceitos. 
O estruturalismo e a teoria dos sistemas processaram repercussões distintas no nível epistemológico em 
ambas as escolas. Na Alemanha evidenciou-se uma maior integração das ciências naturais, integração essa que já 
existia, favorecendo análises geoecoló-gicas processuais, valorizando a cartografia geomorfológica e a ordenação 
ambiental (ótica marxista, identificada nas propostas dos países socialistas), evidenciando o caráter geográfico 
através da vinculação com o social. Na escola anglo-americana por sua vez, observou-se a já considerada 
ruptura com a abordagem historicista, favorecendo o desenvolvimento de teorias e métodos de análises 
quantitativas, isolando a geomorfologia em relação à geografia e orientando-a (a geomorfologia) para 
perspectivas geológicas e hidrológicas. A busca de se harmonizarem as transformações observadas surge com 
teorias alternativas, proporcionando a valorização dos processos geomorfológicos, segundo o sistema referencia] 
têmporo-espacial 
Apesar da convergência internacional do conhecimento, as duas tendências consideradas 
apresentam-se razoavelmente diferenciadas, mesmo com a incorporação gradativa da postura alemã à americana, 
evidenciada a partir do Simpósio de Chicago (1939). 
No Brasil, a mais séria contribuição à teoria geomorfológica parte de Ab'Saber (1969), que 
"salvo melhor juízo, parece dar a tónica nos postulados de raízes germânicas" (Abreu, 1983, p. 18). 
Recentemente, autores soviéticos e franceses (Bertrand, 1968 e 1970; Tricart, 1977; Socava, 1972) 
têm procurado desenvolver estudos integrados da paisagem, sob a dtica dos geossistemas, o que valoriza o 
desenvolvimento da geomorfologia alemã. 
Assim sendo, com o progressivo amadurecimento do estudo da paisagem e dos estudos 
geoecológicos, originados e desenvolvidos a partir da sistematização da geomorfologia alemã, tem sido 
possível articular a natureza à sociedade. Conforme Schmithüsen (1970), "se queremos compreender a ação do 
homem, não devemos separar a sociedade do meio ambiente que o rodeia". 
GEOMORFOLOGIA AMBIENTAL 
Um dos ternários propostos pela geografia atual refere-se à questão ambiental, que além de se 
constituir numa das preocupações deste final de século, proporcionou a compreensão dialética das relações 
entre homem e natureza, procurando suplantar o histórico dualismo. 
Renata
Realce
Enquanto a divisão internacional do trabalho, determinada pelo sistema de produção 
capitalista, respondeu pela divisão do trabalho científico, proporcionando a reprodução ilimitada de ciências e 
disciplinas específicas (abordagem metafísica), com consequente fragmentação do conhecimento, a nova 
postura procura integrar o social à análise da natureza, oferecendo subsídios para a compreensão das relações 
espaciais em sua totalidade. 
Conforme pôde-se observar através da evolução do conhecimentogeomorfológico, a preocupação 
ambiental tem suas raízes na escola germânica (envolvendo os soviéticos e poloneses), que parece ter se firmado 
com Passarge (1922) e Troll (1932...). Portanto, a compreensão "geoecológica" em geomorfologia antecede o 
despertar tardio do ternário ambiental em geografia, que tem se pautado por uma tendência marxista. Assim, o 
materialismo dialético e materialismo histórico têm respondido pela orientação teórico-me-todológica da 
geografia crítica e se constituído em subsídio para a compreensão das causas essenciais que respondem pelas 
derivações espaciais ou implicações no comportamento do geo-relevo. 
O enfoque da geografia física como ciência global tem sido acentuado nas duas últimas décadas. 
Na França, os biogeógrafos Cabaussel e Bertrand reafirmam a ligação do estudo do meio físico e a 
ecologia, considerando-o um sistema (ecogeografia). O conceito de geossistema de Bertrand (1969) 
expressa o sentido de uma geografia física global (espaço geográfico), composto de dois subconjuntos: um 
físico (potencial ecológico e exploração biológica) e outro humano. 
Bertrand (1968), ao considerar a questão taxonômica da paisagem, utiliza-se da unidade 
"geossistema" (unidade dimensional entre alguns quilómetros quadrados e algumas centenas de quilómetros 
quadrados) como "escala em que se situa a maior parte dos fenómenos de interferência entre os elementos da 
paisagem e que envolvem as condições dialéticas, as mais interessantes para o geógrafo". Portanto, refere-se a 
determinada porção do espaço, resultante da combinação dinâmica de elementos físicos, biológicos e 
48 e 49 
 
 
 
das vertentes. Portanto, prevalece a fitoestabilidade; 
b) Meios Fortemente Instáveis, onde a morfogênese é o elemento predominante na dinâmica. Resultam 
de causas naturais (variações climáticas e efeitos tectônicos) e sobretudo antrópicas (na escala de tempo histórica), o 
que implica uma dissecação elevada (pedogênese nula ou incipiente); 
c) Meios Intergrades ou de Transição, que caracterizam uma passagem gradual entre os meios estáveis 
e instáveis. Aí se constata uma interferência permanente na relação pedogênese-morfogê-nese. Refere-se ao estado de 
Renata
Realce
modificação do sistema fitoestável antes de se ultrapassar o limiar de recuperação (fig. 4), o que proporciona a 
possibilidade de restauração de um meio estável ou possibilidade de tendência para um meio fortemente instável. 
Portanto, tem-se o solo como referencial para a caracterização temporal das condições de estabilidade, 
o que demonstra que a morfogênese frequentemente se exerce através do solo e não dire-tamente sobre a rocha. 
Os geógrafos soviéticos, depois de diversas tentativas de oferecerem uma análise integrada do 
complexo físico-geográfico, construíram um método de pesquisa fundamentado no "geossiste-ma" (Sochava), que 
é uma conceituação de epiderme terrestre, onde se relacionam a litomassa, aeromassa, hidromassa e biomassa. Antes 
disso, Kalesnik (1958), já considerado, havia proposto uma análise integrada pela geografia física, tendo a 
"Landschaft-esfe-ra" como objeto centralizador. 
Felds (1958), numa abordagem ecológica, propunha o desenvolvimento de uma geomorfologia 
antropogenética, procurando evidenciar as relações entre o homem e a sociedade no relevo. 
O prof. A. N. Ab'Saber (1969), em sua importante contribuição metodológica, sistematiza os três níveis 
de integração da análise geomorfológica, individualizando seu campo de estudo: a com-partimeníação topográfica, 
relacionada às formas do relevo, o levantamento da estrutura superficial, referente aos compartimentos morfológicos 
e, por último, o estudo da fisiologia da paisagem. Enquanto o primeiro nível procura oferecer uma 
individualização 
geográfica da área de estudo, bem como o domínio de formas de cada compartimento (análise 
horizontal), o segundo, considerando os diferentes níveis altimétricos e respectivas situações em função dos depósitos 
correlativos, proporciona o entendimento cronogeo-morfológico das formações superficiais (análise vertical), através 
dos processos morfoclimáticos e pedogênicos penecontemporâneos. O terceiro nível, a fisiologia da paisagem, que 
particularmente depende do conhecimento das fases antecedentes, tem por objetivo a compreensão dos processos 
morfogenéticos através da dinâmica climática atual, momento em que se insere o homem como sujeito que se 
apropria da interface e transforma-a modificando as relações entre as forças de ação (processos morfodinâmicos) e 
reação do substrato (comportamento das vertentes). 
A sistematização da postura ambiental oferecida pela geomorfologia recebeu grande contribuição de 
Kügler (1976), que concentra de forma integrada o relevo e o território. 
Nessa ótica, emerge o conceito de geo-relevo como superfície de limite externo da 
geoderme, produzida pela dinâmica dos integrantes sistémicos da "Landschaftschülle" e 
constituído pela superfície limite em si - que caracteriza uma desconti-nuidade neste contexto - e 
seu conteúdo plástico, em postura que soma à concentração tradicional da geomorfologia alemã 
uma perspectiva de análise dialética da natureza desenvolvida em mais alto grau (Abreu, 1985, p. 
159). 
Renata
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Portanto, o geo-relevo é entendido como indicador dos processos morfoclimáticos atuais, resultando na 
dinâmica das formas e propriedades adquiridas em sua génese. A dinâmica e as propriedades são fundamentais para 
se compreender a evolução dos processos geoecológicos e se planejar a reprodução da sociedade. Assim, as funções 
sócio-reprodutoras resultam do uso das propriedades geoecológicas, em face da intensidade e modo de uso: como 
recurso natural ou suporte. Kügler (1976) traz para a geografia uma contribuição fundamental na investigação da 
paisagem, resultante de um dos eixos tradicionais da geomorfologia alemã, apoiada em Passarge e Penck. 
 
A designação "Geomorfologia Ambiental" foi proposta no Simpósio de Bringhauton, em 1970, 
procurando definir o campo social de aplicação geomorfológica, que incorporando os conceitos de Kügler (1976), 
teria como preocupação exclusiva a intensidade ou forma de transformação das propriedades geoecológicas em 
só-cio-reprodutoras, visando uma apropriação racional do espaço natural, sem perder a dimensão de tê-lo como 
seu próprio ambiente. 
Sabe-se, contudo, que as relações entre natureza e sociedade, , incorporadas nas forcas produtivas, 
encontram-se determinadas ) pelo trabalho, conceito inerente da força de trabalho, responsável /pela 
transformação dos meios de produção. Sabe-se, também, que ; as relações homem-natureza resultam das relações 
homem-homem (relações sociais de produção), componente indispensável ao entendimento da reprodução do 
espaço e consequente possibilidade de alteração ambiental. 
Assim sendo, a geomorfologia em seu enfoque ambiental deve, além de utilizar os subsídios 
"técnicos" (de natureza morfológica e fisiológica), incorporar as relações polftico-econômicas (oferecendo a 
compreensão da "essência"), como determinante das resultantes processuais e derivações espaciais. 
Portanto, considerando o processo de ocupação do relevo, utilizando o conceito de vertente 
(componente genérico do relevo), transformando as propriedades geoecológicas (primeira natureza) em sócio-
reprodutoras (segunda natureza), o homem pode produzir desequilíbrio climáxico e consequentes derivações 
ambientais. 
Ao se entender que a vertente como categoria é propriedade, e como tal suscetível às diferentes 
intensidades de uso ou forma, conclui-se que ela se encontra subordinada aos interesses das relações de produção. 
Como categoria, a vertente apresenta a sua essência (componentes intrínsecos) que se manifesta como aparência. 
Como fenómeno, deve-se considerar as relações externas processadas

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