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Aula 08 Direito Empresarial Completo

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DIREITO EMPRESARIAL 
PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA 
 
Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 1 
Aula 7 – Direito Empresarial 
Prof. Antonio Nóbrega 
 
Prezado candidato, está é nossa última aula. Os contratos mercantis ou 
empresariais serão o tema de hoje, excetuando os contratos intelectuais, que 
foram abordados na aula passada. 
Estes contratos baseiam-se, em parte, em legislação específica e, em outra, 
no Código Civil, aliado a práticas comerciais. Súmulas jurisprudenciais também 
orientam a matéria. Apresentaremos este conteúdo no decorrer da aula. 
 
 
 
ROTEIRO DA AULA – TÓPICOS 
1. Introdução aos contratos mercantis 
 1.1. Breve recapitulação da teoria geral dos contratos 
 1.2. Características dos contratos mercantis 
2. Compra e venda mercantil 
 2.1. Características e norma gerais 
 2.2. Pactos adjetos à compra e venda 
3. Contratos de colaboração empresarial 
 3.1. Representação comercial (agência) 
 3.2. Comissão mercantil 
 3.3. Concessão mercantil 
4. Contratos bancários próprios 
 4.1. Depósito bancário 
 4.2. Mútuo bancário 
 4.3. Desconto bancário 
 4.4. Abertura de crédito 
5. Contratos bancários impróprios 
 5.1. Alienação fiduciária em garantia 
 5.2. Arrendamento mercantil (leasing) 
 5.3. Faturização (fomento mercantil ou factoring) 
 5.4. Cartão de crédito 
6. Contrato de seguro 
7. Exercícios. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA 
 
Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 2 
1. Introdução aos contratos mercantis 
1.1. Breve recapitulação da teoria geral dos contratos 
 
 Prezado candidato, a matéria de hoje guarda íntima relação com o Direito 
Civil, pois, a teoria geral dos contratos é, em si, matéria de Direito Civil. 
Provavelmente, o candidato já a estudou em algum curso deste ramo do Direito, 
mas, para termos uma coerência com o que vamos estudar, faremos uma breve 
recapitulação do assunto. 
 Esta recapitulação será breve, até porque, no concerne o Direito 
Empresarial, o que será cobrado no certame não será sobre a teoria geral dos 
contratos, mas sobre as especificidades dos contratos mercantis. 
Apresentaremos somente o necessário para que nossa lição constitua-se de um 
todo lógico. 
 O primeiro conceito a ser definido é o de relação jurídica. Esta, em seu 
sentido amplo, é qualquer relação entre duas ou mais pessoas de direito, mas 
que constituam dois polos distintos, vinculadas por um bem jurídico. 
Haverá sempre dois polos necessários: o ativo e o passivo. O ativo será 
chamado de credor do bem jurídico, enquanto o passivo será o devedor do 
mesmo. O vínculo entre estas duas pessoas é chamado de relação jurídica em 
sentido estrito ou, simplesmente, vínculo jurídico, enquanto o conjunto pessoas, 
bem e vínculo jurídico será chamado de relação jurídica em sentido amplo. 
 Esta relação, tal qual como descrita, é chamada de relação unilateral. 
Porém, pode haver uma relação bilateral, na qual ambos os polos são credores 
e devedores, ao mesmo tempo, mas de bens distintos. 
 Nem toda relação jurídica é um contrato, mas todo contrato é uma 
relação jurídica. 
 Em segundo lugar, recapitularemos o conceito de negócio jurídico e, para 
isso, traçaremos sua origem desde outro conceito, o de fato jurídico. 
Fato é qualquer evento que ocorra no mundo real, material ou fenomênico 
— enfim, tudo que ocorre no mundo. Dentre estes fatos, alguns não possuem 
relevância jurídica: desde uma explosão de uma supernova em uma galáxia 
distante, até um peixe se alimentando nas profundezas do oceano. 
Porém, alguns destes fatos terão relevância jurídica, e esta relevância 
jurídica é medida na capacidade do fato criar, modificar ou extinguir uma relação 
jurídica. A estes fatos, damos o nome de fatos jurídicos em sentido amplo. 
DIREITO EMPRESARIAL 
PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA 
 
Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 3 
Pois bem, alguns destes fatos não são produtos da ação humana. Por 
exemplo, imaginemos um terremoto que destrua uma casa. O proprietário da 
casa possuía o direito erga omnes — isto é, em relação a todas as pessoas de 
direito — de ter sua propriedade respeitada. Porém, como terremoto destruiu a 
casa, esta relação jurídica foi extinta. A estes eventos naturais, damos o nome 
de fato jurídico em sentido estrito. 
Todos os fatos jurídicos que são produtos da ação humana são 
atos jurídicos em sentido amplo. Todavia, dentre estes, há os que não são 
frutos de uma vontade autônoma. Por exemplo, o Direito considera que o 
reconhecimento de paternidade não é fruto da autonomia das vontades. A 
estes atos, classificamos como atos jurídicos em sentido estrito. 
Quanto aos atos resultantes de uma vontade autônoma, estes recebem o 
nome de negócios jurídicos. Estes podem ser unilaterais, quando frutos de 
uma única vontade, ou bilaterais, quando resultantes das vontades de ambos 
os polos da relação jurídica. 
Sobre isto, convém diferenciar a bilateralidade das relações 
jurídicas e a bilateralidades dos negócios jurídicos. Neste caso, a 
bilateralidade diz respeito à vontade das partes. Já no caso das relações 
jurídicas, a bilateralidade, como já mencionado, diz respeito à pluralidade de 
vínculos e a sua oposição: as partes são, ao mesmo tempo, credoras e 
devedoras, ou seja, há deveres e direitos de ambas as partes. 
Um contrato será sempre, por definição, um negócio jurídico 
bilateral, mas poderá ser uma relação jurídica unilateral ou bilateral. 
Um negócio jurídico unilateral é chamado de ato unilateral de vontade. 
Exemplificando, é um ato unilateral de vontade a emissão de uma nota 
promissória. Isto ocorre, por convenção jurídica, e disto resulta sua autonomia. 
Já uma doação é um negócio jurídico bilateral — e, por isso, um contrato —, 
mas uma relação jurídica unilateral, pois só há um credor e um devedor. Já o 
contrato de compra e venda é um negócio jurídico bilateral e, também, uma 
relação jurídica bilateral, pois, em um polo, temos o credor de um bem jurídico 
que não seja pecúnia e, em outro, temos o credor de um preço a ser pago. E, 
nos dois polos, ambos são devedores. 
Com isto, prezado candidato, temos a definição de contrato: 
negócio jurídico bilateral. Todo negócio jurídico bilateral será um contrato e 
vice versa. Nem todo ato jurídico é um contrato, pois nem todo negócio jurídico 
é bilateral, mas sempre que for bilateral, será um. 
Quanto aos requisitos, estes são comuns aos negócios jurídicos bilaterais 
e unilaterais, de modo que os contratos precisam atendê-los. Estes requisitos, 
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embora já fossem reconhecidos pela doutrina há muito tempo, estão 
positivados no art. 104 do Código Civil: 
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: 
I - agente capaz; 
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; 
III - forma prescrita ou não defesa em lei. 
 
Além disso, é considerada pela doutrina, como um requisito do contrato, a 
vontade livre e autônoma, isto é, não viciada. Isto também está positivado, não 
no mesmo artigo, mas no capítulo do Código que trata dos defeitos do negócio 
jurídico (capítulo IV do livro III — arts. 138 ao 165, todos do Código Civil assim 
como os seguintes). 
Estes defeitos são: 
� O erro, “quando as declarações de vontade emanarem de erro 
substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, 
em face das circunstâncias do negócio” (arts. 138 a 144). 
� O dolo, quando uma parte ou terceiro atua de maneira fraudulenta para 
que a outra efetue um negócio jurídico que, caso soubesse de seu efetivo 
resultado, não o faria (arts. 145 a 150. 
� A coação, quando a atuação da parteque vicia a vontade é ostensiva, ou 
seja, “incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável 
à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens” (arts. 151 a 155). 
� O estado de perigo, “quando alguém, premido da necessidade de 
salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra 
parte, assume obrigação excessivamente onerosa” (art. 156). 
� A lesão, “quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao 
valor da prestação oposta” (art. 157). 
� A fraude contra credores, no caso dos “negócios de transmissão 
gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já 
insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, 
poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos 
seus direitos” (arts. 158 a 165). 
De acordo com o cumprimento ou não destes requisitos, os negócios 
jurídicos poderão ser válidos, nulos ou anuláveis. Os negócios jurídicos válidos 
produzem seus efeitos normalmente. Os nulos não são suscetíveis de 
confirmação, nem convalescem pelo decurso do tempo (art. 169) e o juiz deve 
pronunciar a nulidade quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e 
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as encontrar provadas — de ofício —, não lhe sendo permitido supri-las, ainda 
que a requerimento das partes (art. 168, parágrafo único). 
 
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: 
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; 
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; 
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; 
IV - não revestir a forma prescrita em lei; 
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua 
validade; 
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; 
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar 
sanção. 
 
Já os negócios jurídicos anuláveis podem ser confirmados pelas partes 
(art. 172), confirmam-se pelo decurso do tempo (arts. 178 e 179) e o juiz não 
pode anulá-los ex officio (art. 177). 
 
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio 
jurídico: 
I - por incapacidade relativa do agente; 
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude 
contra credores. 
 
 Ante todo o exposto, temos o seguinte quadro: 
 
Requisito de existência Requisito de validade Resultado do defeito 
Agente Capacidade Nulidade, quando agente 
absolutamente incapaz; 
anulabilidade, quando 
relativamente incapaz 
Objeto Licitude, possibilidade e 
determinabilidade 
Nulidade 
Forma Conformidade com a lei ou a 
sua não vedação 
Nulidade 
Manifestação de vontade Ausência de vícios Anulabilidade, exceto nos 
casos de o motivo 
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determinante, comum a 
ambas as partes, for ilícito 
ou tiver por objetivo fraudar 
lei imperativa, quando 
ocorrerá a nulidade 
 Os requisitos de existência são os quais, sem eles, não existe o negócio 
jurídico. Impossibilitam a existência de um negócio jurídico. 
No caso dos contratos, por exemplo, não só é exigível um agente, mas sua 
pluralidade — são negócios jurídicos bilaterais —, de modo que, alguém contratar 
consigo mesmo é impossível — o negócio jurídico, simplesmente, não existe. 
 Igualmente, no caso de um contrato sem objeto: fulano contrata — 
simplesmente — com sicrano. Mas contrata o que? Nada. Ora, isto é 
impossível. Não existirá contrato nestes casos. 
Quanto à forma e a manifestação de vontade, a ausência destas até 
impossibilita a concepção de um negócio jurídico. Ou seja, implica na 
impossibilidade de conceber um exemplo de um negócio jurídico sem forma ou 
sem manifestação de vontade. 
Os requisitos de validade são, por sua vez, qualificadores dos requisitos de 
existência e, no caso de defeito, conforme a situação, será caso de nulidade ou 
anulabilidade. 
Prosseguindo com nossa recapitulação, os contratos são negócios jurídicos 
bilaterais, ou seja, são relações jurídicas. Estas, por sua vez, consistem no 
que o Direito chama de obrigações. Estas são reguladas no primeiro livro da 
parte especial do Código Civil. 
Sendo mais preciso, a obrigação é o elemento atômico do contrato. Este 
pode consistir de várias obrigações. Uma relação jurídica bilateral é, na 
realidade, duas relações jurídicas: uma, na qual uma parte é devedora e a 
outra credora, e outra, na qual os polos invertem-se. Assim, um contrato pode 
consistir-se de apenas uma obrigação ou de várias; tantas quanto os 
contratantes conseguirem conceber. 
As obrigações são divididas, primariamente, em de dar, de fazer e de não 
fazer. Os nomes são praticamente autoexplicativos. 
As obrigações de dar consistem na entrega de um objeto e, embora o 
conceito possa ser adaptado para os objetos imateriais, o texto do Código Civil 
refere-se expressamente a objetos materiais. As obrigações de dar subdividem-
se em dar coisa certa e dar coisa incerta. 
Já as obrigações de fazer consistem na realização de um ato por parte do 
devedor. É claro que, em última instância, dar é um ato: a entrega de um bem 
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material. Mas, para o Direito, cumpre fazer a distinção entre este ato específico 
e todos os demais. 
As obrigações de não fazer, por sua vez, significam no comprometimento 
do devedor de abster-se de realizar certo ato, que, inclusive, pode ser o ato de 
dar, ou seja, entregar um objeto material. Por exemplo, alguém que se 
compromete em não comercializar certos produtos em determinada área, está 
se comprometendo em não fazer um dar. 
Com isto, caro candidato, recapitulamos todos os aspectos fundamentais 
do Direito Civil para que possamos caracterizar o que é um contrato e, em 
seguida, definirmos o que são os contratos mercantis. 
 
1.2. Características dos contratos mercantis 
 
 Na vigência do Código Comercial de 1850, um contrato seria mercantil se 
uma das partes fosse comerciante e o contrato estivesse relacionado a um ato de 
comércio. Porém, esta definição não possui mais qualquer aplicação, 
principalmente, pela entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, pelo 
qual contratos entre um empresário é uma pessoa não empresária serão, na 
imensa maioria dos casos, contratos de consumo. 
 Porém, o novo Código Civil não define o que é um contrato mercantil ou 
empresarial, principalmente, porque ele foi escrito com o espírito da unificação do 
Direito Privado, não fazendo distinção entre contratos civis e mercantis. A 
doutrina, por sua vez, acabou por definir contrato mercantil, simplesmente, como 
aquele que é celebrado entre empresários. Uma definição mais restrita, seria 
idêntica a esta, mas excluindo qualquer contrato no qual seja aplicável o CDC. 
 Já informamos, na aula anterior, ser controversa a definição dos casos em 
que o CDC possa ser aplicável às pessoas jurídicas no polo consumidor. Definir 
isto foge do escopo de nossa aula, porém, sempre que for o caso, não 
estaremos tratando de um contrato mercantil. 
 Nesta esteira, ou melhor, neste vácuo de definições legais, utilizaremos, 
nesta aula, alguns dos conceitos descritos no projeto do Novo Código Comercial 
(PL 1.572/2011), ainda em votação. Neste momento, o prezado aluno deve 
estar perguntando-se: “Ora, Professor, por que utilizaremos definições de uma 
Lei que ainda não foi aprovada?”. 
A resposta para isto é que não utilizaremos estas definições como Lei, mas 
como palavras de autoridade, pois estas definiçõesnão são aleatórias, mas fruto 
de um desenvolvimento doutrinário. Inclusive, o projeto do Código foi elaborado 
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com base em minuta apresentada no livro “O Futuro do Direito Comercial” do 
Mestre Fábio Ulhoa Coelho, que o defendeu em audiência pública oficial. 
 Com estas credenciais, estas definições não podem ser ignoradas. Veja 
bem, que não vamos apresentar as novas normas, mas apenas descrições que 
apenas pretendem positivar o que já foi consolidado pela doutrina. 
 Sendo assim, o Novo Código define contrato comercial da seguinte forma: 
 
É empresarial o contrato quando forem empresários os contratantes e a função 
econômica do negócio jurídico estiver relacionada à exploração de atividade 
empresarial. 
 
Como se pode ver, a definição não se difere do que já apresentamos: 
ambas as partes são empresárias e o objeto do contrato deve relacionar-se 
com a exploração da atividade empresarial, ou seja, não deve ser de consumo. 
O Novo Código explicita este fato no parágrafo único do seu artigo seguinte: 
 
O Código de Defesa do Consumidor não é aplicável aos contratos empresariais. 
 
Porém, como já dito, estas definições do projeto de lei apenas servem 
para clarificar o conceito de contrato mercantil. No mais, adotaremos uma 
atitude pragmática e isto resulta em verificar o que o edital determina e, a 
partir disto, saber qual a Lei aplicável. 
Seguindo este raciocínio, pouco importa saber qual é a “essência” de uma 
compra e venda mercantil, por exemplo, mas saber que a legislação aplicável é 
o Código Civil e que o Código de Defesa do Consumidor não é aplicável. 
Dentro desta mesma mentalidade, utilizaremos as súmulas do Superior 
Tribunal de Justiça, pois são elementos pragmáticos para definir o que é 
possível e o que não é em certos contratos mercantis. 
Fora isto, há certos contratos mercantis que possuem legislação própria e, 
talvez por esta especificidade, costumam ser os mais cobrados pelas Bancas 
Examinadoras. Daremos uma atenção especial a esses contratos, que são os 
contratos de representação comercial e os contratos bancários impróprios. 
Não é o caso de que os outros contratos que aparecem no edital não 
possam ser cobrados, mas é que, por uma questão estatística, os contratos 
com menos especificidades — ou seja, os que não se distinguem muito de 
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contratos civis — aparecem em uma porcentagem menor nas estatísticas das 
questões de concurso sobre o tema. 
 
2. Compra e venda mercantil 
2.1. Características e normas gerais 
 
De forma semelhante ao que já foi dito, não há nenhuma definição legal 
do que seja um contrato de compra e venda mercantil. O que há são contratos 
nos quais se aplica exclusivamente o Código Civil e contratos aos quais também 
é aplicável o CDC. 
Porém, de qualquer forma, também na esteira do que já foi dito, a 
doutrina conceitua a compra e venda mercantil, simplesmente, o contrato de 
compra e venda celebrado entre empresários. Segundo este entendimento, o 
Novo Código Comercial pretende conceituar a compra e venda mercantil como: 
 
A compra e venda mercantil é o contrato em que um empresário se obriga a 
transferir o domínio de coisa e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro, 
sendo o objeto contratual relacionado à exploração de atividade empresarial. 
 
Ou seja, nada diferente do que já vimos, porém, agora, aplicado a um tipo 
contratual específico: a compra e venda. Sendo assim, esta definição é apenas 
ilustrativa, pois, atualmente, o que vale são as normas contidas nos arts. 481 
ao 532 do Código Civil, os quais regulam a compra e venda, e termos em 
mente de que o CDC não é aplicável. 
Deste modo, a compra e venda é definida no Código Civil desta forma: 
 
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a 
transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. 
 
Reunindo a definição legal com o conceito estabelecido pela doutrina, 
podemos chegar a definição de compra e venda mercantil como: 
 
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Compra e venda mercantil: contrato pelo qual um empresário obriga-se a 
transferir o domínio de certa coisa a outro — relacionado à sua atividade 
empresarial —, que a adquire, pagando-lhe certo preço em dinheiro. 
 
Assim, o contrato de compra e venda mercantil é uma relação jurídica 
bilateral, na qual, em um polo, temos um empresário que é credor de uma 
certa quantia de dinheiro e devedor de um bem material e, no outro, temos 
também um empresário, devedor da mesma quantia pecuniária e credor do 
mesmo bem material, que é relacionado à sua atividade empresarial. Além 
disso, ambas as obrigações são obrigações de dar, de modo que as regras dos 
arts. 233 a 246 são aplicáveis aos contratos de compra e venda, além de 
outros artigos gerais do Direito Obrigacional. 
No que tange especificamente a compra e venda, são de grande 
importância as disposições sobre o preço e a coisa vendida. Quanta esta, a 
única regra específica é a seguinte: 
 
Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste 
caso, ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção 
das partes era de concluir contrato aleatório. 
 
Isto significa que alguma coisa pode ainda não existir no momento do 
contrato. O que importa é que, na data estipulada para o seu cumprimento, a 
coisa exista. Caso esta não exista, o contrato ficará sem efeito, salvo se o 
contrato for aleatório, que é o contrato no qual uma das partes assume o risco 
se o objeto pactuado não vier a existir (arts. 458 a 461). 
Já no que tange os preços, há vários dispositivos regulando-o: 
 
Art. 485. A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os 
contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar 
a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os 
contratantes designar outra pessoa. 
Art. 486. Também se poderá deixar a fixação do preço à taxa de mercado ou de 
bolsa, em certo e determinado dia e lugar. 
Art. 487. É lícito às partes fixar o preço em função de índices ou parâmetros, 
desde que suscetíveis de objetiva determinação. 
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Art. 488. Convencionada a venda sem fixação de preço ou de critérios para a sua 
determinação, se não houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se 
sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor. 
Parágrafo único. Na falta de acordo, por ter havido diversidade de preço, 
prevalecerá o termo médio. 
Art. 489. Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio 
exclusivo de uma das partes a fixação do preço. 
 
Através destas regras, vemos que o preço não precisa ser determinado no 
momento da celebração do contrato, mas este será nulo se for estipulado que 
caberá apenas a uma das partes arbitrar o preço (art. 489). 
Fora o ajuste comum entre as partes, estas poderão definir que o preço 
será fixado por terceiro (art. 485), taxas de mercado ou bolsa (art. 486), 
índices econômicos (art. 487) ou, ainda, se as partes não estipularem nada e 
não houver tabelamento oficial, o preço será o habitual do vendedor (art. 488). 
Em seguida, temos o seguinte artigo: 
 
Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura e registro 
a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição. 
 
Este artigo podedar a entender que será obrigação do vendedor 
transportar a coisa até o comprador. Porém, no art. 493, temos o seguinte: 
 
Art. 493. A tradição da coisa vendida, na falta de estipulação expressa, dar-se-á 
no lugar onde ela se encontrava, ao tempo da venda. 
 
Como podemos observar, todas estas normas são dispositivas, de 
modo que as partes podem pactuar qualquer disposição diversa. Assim, se 
nada for pactuado e a coisa encontrar-se, por exemplo, na loja do vendedor, a 
este cumpre apenas disponibilizá-la ao comprador. Porém, caso seja estipulado 
que ela deverá ser entregue no domicílio do comprador, ao vendedor caberá as 
despesas com o transporte SE não for pactuado algo diverso. 
Ou seja, o Código Civil oferece apenas um standard contratual, pois todas 
estas cláusulas podem ser negociadas. Não a toa, há no comércio internacional 
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um sistema chamado INCOTERMS 2000, que define minuciosamente os pontos 
de transferência de custo e os pontos de transferência de risco. 
O ponto de transferência de risco standard é o momento de tradição: 
 
Art. 492. Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do 
vendedor, e os do preço por conta do comprador. 
§ 1º Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou 
assinalar coisas, que comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou 
assinalando, e que já tiverem sido postas à disposição do comprador, correrão 
por conta deste. 
§ 2º Correrão também por conta do comprador os riscos das referidas coisas, se 
estiver em mora de as receber, quando postas à sua disposição no tempo, lugar 
e pelo modo ajustados. 
 
Ou seja, a regra é que, até o momento da tradição — isto é, da entrega 
da coisa ao comprador —, os riscos são do vendedor, exceto se o comprador 
estiver em mora em recebê-las. 
Quanto ao pagamento, há uma diferença entre a venda a vista e a 
prazo. Se for a vista, o vendedor não tem a obrigação de entregar a coisa 
antes de receber o pagamento (art. 491); sendo a crédito, obviamente, deverá 
entregá-la, pois é da natureza desta modalidade de pagamento. 
 
2.2. Pactos adjetos à compra e venda 
 
O Código Civil ainda prevê alguns pactos adjetos à compra e venda, que 
são cláusulas especiais que podem estar contidas nestes contratos ou não: 
� A retrovenda (arts. 505 a 508). 
� A venda a contento (arts. 509, 511 e 512). 
� A venda sujeita a prova (arts. 510, 511 e 512). 
� A preempção ou preferência (arts. 513 a 520). 
� A venda com reserva de domínio (arts. 521 a 528). 
� A venda sobre documentos (arts. 529 a 532). 
Na retrovenda, o vendedor possui o chamado direito de retrato, pelo qual 
poderá destratar a venda, ou seja, reclamar o objeto vendido ao comprador, 
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pagando-lhe o preço que lhe foi pago e demais despesas deste, durante um 
prazo máximo decadencial de três anos (art. 505). 
Na venda a contento, esta não se reputará perfeita, enquanto o 
adquirente não manifestar seu agrado (art. 509). De forma semelhante, na 
venda sujeita a prova, esta não se concretizará enquanto o comprador não 
verificar que a coisa tem as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja 
idônea para o fim a que se destina (art. 510). 
Em ambos os casos, até que manifeste aceitá-las, o comprador será 
equiparado a comodatário da coisa recebida (art. 511) e, caso não haja prazo 
estipulado para a manifestação, o vendedor terá direito de intimá-lo, judicial ou 
extrajudicialmente, para que o faça em prazo improrrogável (art. 512). 
Na preempção ou preferência, caso o comprador pretenda revender a 
coisa adquirida do vendedor, este terá, como o próprio nome diz, o direito de 
reavê-la, pagando o preço encontrado ou ajustado (arts. 513 a 515). 
O Código Civil estipula o prazo de cento e oitenta dias, para coisas 
móveis, e de dois anos, para coisas imóveis, contados da venda (parágrafo 
único, art. 513), e de três dias, para coisas móveis, e de sessenta dias, para 
coisas imóveis, contados da notificação do comprador (art. 516), para o 
exercício de direito de preferência. 
Este direito de preferência é personalíssimo, não podendo ser cedido e 
nem herdado (art. 520), e o comprador que deixar de cumpri-lo responderá por 
perdas e danos (art. 518). 
A venda com reserva de domínio é aplicável somente às coisas móveis e, 
nesta modalidade, o vendedor conserva a propriedade do bem vendido até que 
o comprador pague integralmente o preço ajustado (art. 521). Para isto, a 
cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e depende de 
registro no domicílio do comprador para valer contra terceiros (art. 522). 
Preste atenção, caro candidato, que conservar a propriedade não é 
sinônimo de conservar a posse da coisa. O bem pode muito bem ser entregue 
antes, mas o vendedor ainda será seu proprietário e possuidor indireto. A 
propriedade só transferir-se-á ao comprador no momento em que o preço for 
integralmente pago, porém, pelos riscos da coisa responde o comprador, a 
partir de quando lhe foi entregue (art. 524). 
O objeto da venda com reserva de domínio deverá ser suscetível de 
caracterização perfeita (art. 523). Não poderá ser objeto de reserva de domínio 
um bem perfeitamente fungível como, por exemplo, um saco de arroz sem 
nenhuma distinção de qualquer outro. 
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A cláusula de reserva de domínio funciona da seguinte forma, caso o 
comprador caia em mora, o vendedor deverá constituí-lo neste estado, 
protestando o título, caso haja, ou por meio de interpelação judicial (art. 525). 
Verificada a mora, poderá o vendedor mover ação de cobrança das prestações 
vencidas e vincendas, além do mais lhe for devido, ou ação de reintegração de 
posse (art. 526). 
A venda sobre documentos ocorre quando, ao invés da tradição, ela se 
efetuar pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos 
exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos (art. 529). Será neste 
momento que o pagamento deverá ser efetuado (art. 520). 
Com isto candidato, vimos todos os principais aspectos da compra e venda 
mercantil e podemos prosseguir para o próximo gênero de contrato. 
3. Contratos de colaboração comercial 
 
Neste gênero de contratos, a característica marcante é a obrigação de 
uma parte auxiliar nos negócios de outro empresário, seja realizando ou 
intermediando negócios ou revendendo produtos. Nesta categoria inclui-se 
também o contrato de franquia, mas já o vimos na aula anterior. Este contrato 
é, na verdade um misto de contrato de licença de propriedade industrial e 
contrato de colaboração comercial. 
 
3.1. Representação comercial (agência) 
 
Este primeiro contrato de colaboração comercial que apresentaremos 
possui lei própria (a Lei 4.886/1965) e é muito cobrado nos certames. Porém, 
ao apresentarmo-lo, o prezado candidato deparar-se-á com uma contradição 
em relação ao que virmos anteriormente: o contrato de representação 
comercial não necessariamente ocorre entre dois empresários! 
Como explicar isto? Sinceramente, não há explicação. A doutrina considera 
contrato mercantil o contrato entre dos empresários — nos termos já relatados 
— e, ao mesmo tempo, considera a representação comercial um contrato 
mercantil. Se isto não faz sentido e foge as leis da lógica, só nos resta lamentar. 
Porém, conforme a nossa atitude pragmática proposta, o nosso dever é 
treiná-lo para ser aprovado no exame a ser prestado. Sendo assim, caso o 
candidato seja perguntado se o contrato mercantil é um contrato entre dois 
empresários,deverá responder: sim; caso seja inquirido se a representação 
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comercial é um contrato mercantil, deverá responder: sim; mesmo que isto seja 
uma contradição, pois isto é um problema que a doutrina, os legisladores e a 
jurisprudência devem resolver, e não nós, pois o nosso objetivo, do Ponto dos 
Concursos, é fazer com que seja aprovado, e o seu, candidato, é a aprovação. 
Pois bem, feita esta ressalva, a representação comercial foi regulada pela 
já citada a Lei, que além de dispor sobre o contrato, instituiu o Conselho 
Federal de Representantes Comerciais e os Conselhos Regionais de 
Representantes Comerciais. Eis o porquê de tal contrato ser enquadrado nos 
contratos mercantis: é um contrato típico da mercância, embora não seja 
realizado entre empresários; dentro do sistema antigo de atos de comércio, 
enquadrava-se como contrato mercantil e permanece assim até hoje. 
A inscrição dos representantes comerciais autônomos nos respectivos 
conselhos era — e, pela Lei, ainda é — obrigatória. Farta jurisprudência 
pretoriana considera isto inconstitucional. No entanto, há bancas que 
consideram a obrigatoriedade do registro como correto. 
Há ainda outras restrições ao exercício da representação comercial: 
 
Art. 4º Não pode ser representante comercial: 
a) o que não pode ser comerciante; 
b) o falido não reabilitado; 
c) o que tenha sido condenado por infração penal de natureza infamante, tais 
como falsidade, estelionato, apropriação indébita, contrabando, roubo, furto, 
lenocínio ou crimes também punidos com a perda de cargo público; 
d) o que estiver com seu registro comercial cancelado como penalidade. 
 
Quanto ao contrato em si, a representação comercial é espécie de 
agência, que é regulada pelo Código Civil. Esta é assim definida: 
 
Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual 
e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, 
mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, 
caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a 
ser negociada. 
 
Porém, o Código Civil faz a seguinte previsão: 
 
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Art. 721. Aplicam-se ao contrato de agência e distribuição, no que couber, as 
regras concernentes ao mandato e à comissão e as constantes de lei especial. 
 
Sendo assim, a L. 4.886/1965 continua vigente e aplicável. Esta define o 
contrato e a atividade de representação comercial da seguinte forma: 
 
Art . 1º Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa 
física, sem relação de emprêgo, que desempenha, em caráter não eventual por 
conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a realização de negócios 
mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para, transmití-los aos representados, 
praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios. 
 
Como podemos perceber, as definições são semelhantes. Neste contrato, 
uma pessoa — o representante comercial — realiza a mediação de negócios. 
Este detalhe é muito importante, pois é o que diferencia do contrato de 
comissão, que veremos mais adiante. Ademais, é cediço na doutrina que estes 
negócios mercantis são operações de compra e venda de mercadorias. 
Na comissão, o comissário realiza os negócios em próprio nome, mas a 
conta do comitente; na representação, podemos dizer que o representante 
“negocia” em termos coloquiais — encontra-se com o cliente, “vende” o 
produto —, mas, na prática, ele não está realizando o negócio: ele só está 
aproximando o cliente do representado e este, ao final, que realizará o negócio, 
em seu próprio nome. 
É claro que o representante pode ser investido com um mandato que o 
permita fechar os negócios, mas isto em nada alterará a natureza do contrato, 
pois quem continuará realizando os negócios será o representado; o 
representante será, como o próprio nome diz, um mero representante. A Lei 
prevê isso: 
 
Art. 1º [...] Parágrafo único. Quando a representação comercial incluir podêres 
atinentes ao mandato mercantil, serão aplicáveis, quanto ao exercício dêste, os 
preceitos próprios da legislação comercial. 
 
Importante ressaltar que o representante possui subordinação 
empresarial, mas não possui subordinação pessoal. Caso o representante seja 
pessoa natural e estabeleça-se esta subordinação, o contrato perderá sua 
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natureza e ficará caracterizada a relação de emprego, em razão do 
princípio da primazia da realidade, atinente ao Direito do Trabalho. 
Esta subordinação consiste-se no fato de que o representante, por regra, 
não tem o poder de fechar os negócios que intermedeie; isto cabe ao próprio 
representado. O representante também não poderá fazer as seguintes 
liberalidades: 
 
Art. 29. Salvo autorização expressa, não poderá o representante conceder 
abatimentos, descontos ou dilações, nem agir em desacôrdo com as instruções 
do representado. 
 
O representado, porém, não tem o poder de determinar o modo pelo qual 
o representante realizará a sua atividade — nisto consiste sua autonomia. 
Sendo assim, a mecânica do contrato realiza-se da seguinte forma: o 
representante capta os negócios para o representado e envia-lhe as propostas; 
este, a partir disto, terá um prazo para manifestar-se, que poderá ser ajustado 
contratualmente. No caso de falta de previsão, isto é regulado pela Lei: 
 
Art. 33. Não sendo previstos, no contrato de representação, os prazos para 
recusa das propostas ou pedidos, que hajam sido entregues pelo representante, 
acompanhados dos requisitos exigíveis, ficará o representado obrigado a 
creditar-lhe a respectiva comissão, se não manifestar a recusa, por escrito, nos 
prazos de 15, 30, 60 ou 120 dias, conforme se trate de comprador domiciliado, 
respectivamente, na mesma praça, em outra do mesmo Estado, em outro Estado 
ou no estrangeiro. 
§ 1º Nenhuma retribuição será devida ao representante comercial, se a falta de 
pagamento resultar de insolvência do comprador, bem como se o negócio vier a 
ser por êle desfeito ou fôr sustada a entrega de mercadorias devido à situação 
comercial do comprador, capaz de comprometer ou tornar duvidosa a liquidação. 
§ 2º Salvo ajuste em contrário, as comissões devidas serão pagas mensalmente, 
expedindo o representado a conta respectiva, conforme cópias das faturas 
remetidas aos compradores, no respectivo período. 
§ 3° Os valores das comissões para efeito tanto do pré-aviso como da 
indenização, prevista nesta lei, deverão ser corrigidos monetariamente. 
 
Da leitura destes artigos, podemos depreender que o representante faz 
jus a uma retribuição pelos negócios que intermediar e forem realizados. 
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Art. 32. O representante comercial adquire o direito às comissões quando do 
pagamento dos pedidos ou propostas. 
§ 1° O pagamento das comissões deverá ser efetuado até o dia 15 do mês 
subseqüente ao da liquidação da fatura, acompanhada das respectivas cópias das 
notas fiscais. 
§ 2° As comissões pagas fora do prazo previsto no parágrafo anterior deverão ser 
corrigidas monetariamente. 
§ 3° É facultado ao representante comercial emitir títulos de créditos para cobrança 
de comissões. 
§ 4° As comissões deverão ser calculadas pelo valor total das mercadorias. 
§ 5° Em caso de rescisão injusta do contrato por parte do representando, a 
eventualretribuição pendente, gerada por pedidos em carteira ou em fase de 
execução e recebimento, terá vencimento na data da rescisão. 
§ 6° (Vetado). 
§ 7° São vedadas na representação comercial alterações que impliquem, direta ou 
indiretamente, a diminuição da média dos resultados auferidos pelo representante 
nos últimos seis meses de vigência. 
 
A retribuição é apenas um dos vários requisitos do contrato, elencados na Lei: 
 
Art. 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos comuns e 
outros a juízo dos interessados, constarão obrigatoriamente: 
a) condições e requisitos gerais da representação; 
b) indicação genérica ou específica dos produtos ou artigos objeto da 
representação; 
c) prazo certo ou indeterminado da representação; 
d) indicação da zona ou zonas em que será exercida a representação; 
e) garantia ou não, parcial ou total, ou por certo prazo, da exclusividade de zona ou 
setor de zona; 
f) retribuição e época do pagamento, pelo exercício da representação, dependente 
da efetiva realização dos negócios, e recebimento, ou não, pelo representado, dos 
valôres respectivos; 
g) os casos em que se justifique a restrição de zona concedida com exclusividade; 
h) obrigações e responsabilidades das partes contratantes; 
i) exercício exclusivo ou não da representação a favor do representado; 
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j) indenização devida ao representante pela rescisão do contrato fora dos casos 
previstos no art. 35, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 (um doze avos) 
do total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação. 
§ 1° Na hipótese de contrato a prazo certo, a indenização corresponderá à 
importância equivalente à média mensal da retribuição auferida até a data da 
rescisão, multiplicada pela metade dos meses resultantes do prazo contratual. 
§ 2° O contrato com prazo determinado, uma vez prorrogado o prazo inicial, tácita 
ou expressamente, torna-se a prazo indeterminado. 
§ 3° Considera-se por prazo indeterminado todo contrato que suceder, dentro de 
seis meses, a outro contrato, com ou sem determinação de prazo. 
 
Dentre estes requisitos, fora a retribuição, podemos destacar a 
importância do prazo e da área de atuação, da exclusividade devida a ambas as 
partes e da indenização pela rescisão do contrato. 
Sobre o prazo, podemos ver, pelos §§ 1º e 2º, que somente na primeira 
contratação este poderá ser determinado; qualquer prorrogação 
transforma o contrato em prazo indeterminado. Deste modo, caso o 
representado queira encerrar o contrato, deverá pagar indenização ao 
representante, nos termos da alínea j do art. supra (o §1º trata da rescisão 
durante o contrato com prazo certo). 
Porém, como a própria alínea alerta, esta indenização somente será 
paga nos casos de rescisão imotivada. A Lei, de forma semelhante a um 
contrato trabalhista, busca proteger ambas as partes, no caso de uma 
rescisão imotivada e, além da indenização devida pelo representado — 
quando este realiza a rescisão —, ambas as partes, caso queiram rescindir o 
contrato imotivadamente, deverão notificar a outra ou pagar uma 
indenização. 
 
Art. 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa justificada, do 
contrato de representação, ajustado por tempo indeterminado e que haja 
vigorado por mais de seis meses, obriga o denunciante, salvo outra garantia 
prevista no contrato, à concessão de pré-aviso, com antecedência mínima de 
trinta dias, ou ao pagamento de importância igual a um têrço (1/3) das 
comissões auferidas pelo representante, nos três meses anteriores. 
Art. 35. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de representação 
comercial, pelo representado: 
a) a desídia do representante no cumprimento das obrigações decorrentes do 
contrato; 
b) a prática de atos que importem em descrédito comercial do representado; 
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c) a falta de cumprimento de quaisquer obrigações inerentes ao contrato de 
representação comercial; 
d) a condenação definitiva por crime considerado infamante; 
e) fôrça maior. 
Art. 36. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de representação 
comercial, pelo representante: 
a) redução de esfera de atividade do representante em desacôrdo com as 
cláusulas do contrato; 
b) a quebra, direta ou indireta, da exclusividade, se prevista no contrato; 
c) a fixação abusiva de preços em relação à zona do representante, com o 
exclusivo escopo de impossibilitar-lhe ação regular; 
d) o não-pagamento de sua retribuição na época devida; 
e) fôrça maior. 
Art . 37. Sòmente ocorrendo motivo justo para a rescisão do contrato, poderá 
o representado reter comissões devidas ao representante, com o fim de 
ressarcir-se de danos por êste causados e, bem assim, nas hipóteses previstas 
no art. 35, a título de compensação. 
Quanto à exclusividade de representação, esta cláusula, tratada nas 
alíneas d, e e f, é implícita e, caso o representado não queira conferir 
exclusividade ao representante, deverá deixar isto claro. Porém, esta 
exclusividade é restrita a uma área geográfica definida. Já a exclusividade da 
representação — a do representante perante o representado —, caso 
haja, deverá ser explícita no contrato. 
 
Art. 31. Prevendo o contrato de representação a exclusividade de zona ou zonas, ou 
quando este for omisso, fará jus o representante à comissão pelos negócios aí 
realizados, ainda que diretamente pelo representado ou por intermédio de terceiros. 
Parágrafo único. A exclusividade de representação não se presume na ausência de 
ajustes expressos. 
 
A regra é clara, havendo exclusividade, qualquer negócio realizado 
diretamente pelo comerciante ou por outro agente resultará no direito do 
representante receber sua retribuição tal qual receberia se tivesse ele mesmo 
intermediado o negócio. 
Por último, resta observar que o contrato de representação comercial veda 
a cláusula del credere. Esta cláusula, que é possível nos contratos de comissão, 
torna o comissário solidariamente responsável com aqueles com quem 
contratar perante o comitente. No caso da representação comercial, isto não é 
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possível. Caso aquele com quem tratou de intermediar o negócio para o 
representado não cumprir suas obrigações, este deverá suportar o prejuízo. 
 
Art. 43. É vedada no contrato de representação comercial a inclusão de cláusulas 
del credere. 
 
3.2. Comissão mercantil 
 
Prezado candidato, já temos uma noção do que se trata a comissão 
mercantil quando a comparamos ao contrato de representação comercial. Sua 
definição legal, no Código Civil, que o regula, é esta: 
 
Art. 693. O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens 
pelo comissário, em seu próprio nome, à conta do comitente. 
 
Este contrato é muito semelhante à representação, porém o comitente 
não aparecerá nos negócios estabelecidos entre o comissário e terceiros. Eis a 
grande vantagem deste contrato: ele funciona como uma representação oculta 
e, por isso, alguns doutrinadores chamam-no de mandato sem representação. 
 
Art. 694. O comissário fica diretamente obrigado para com as pessoas com quem 
contratar, sem que estas tenham ação contra o comitente, nem este contra elas, 
salvo se o comissário ceder seus direitos a qualquer das partes. 
 
Porém, como já mencionado no tópico anterior, os riscos do negócio 
correm por conta do comitente, a não ser que haja culpa ou a cláusula del 
credere (arts. 697 e 698).Igualmente como ocorre com a representação, há uma subordinação 
empresarial entre o comissário e o comitente: 
 
Art. 695. O comissário é obrigado a agir de conformidade com as ordens e 
instruções do comitente, devendo, na falta destas, não podendo pedi-las a 
tempo, proceder segundo os usos em casos semelhantes. 
 
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Art. 704. Salvo disposição em contrário, pode o comitente, a qualquer tempo, 
alterar as instruções dadas ao comissário, entendendo-se por elas regidos 
também os negócios pendentes. 
 
 Porém, ao contrário do que ocorre na representação comercial, salvo 
estipulação ao contrário ou ordem direta, o comissário poderá conceder dilação 
do prazo para pagamento, conforme os usos do lugar. 
 
Art. 699. Presume-se o comissário autorizado a conceder dilação do prazo para 
pagamento, na conformidade dos usos do lugar onde se realizar o negócio, se 
não houver instruções diversas do comitente. 
Art. 700. Se houver instruções do comitente proibindo prorrogação de prazos 
para pagamento, ou se esta não for conforme os usos locais, poderá o comitente 
exigir que o comissário pague incontinenti ou responda pelas conseqüências da 
dilação concedida, procedendo-se de igual modo se o comissário não der ciência 
ao comitente dos prazos concedidos e de quem é seu beneficiário. 
 
O contrato de comissão é menos rígido. Não há uma série de requisitos 
como ocorre na representação comercial. Ele pode nem estipular a comissão a 
ser recebida pelo comissário, caso qual será ela arbitrada segundo os usos 
correntes no lugar (art. 701). 
Porém, o comissário goza igualmente de proteção contra a rescisão 
arbitrária do contrato: 
 
Art. 703. Ainda que tenha dado motivo à dispensa, terá o comissário direito a ser 
remunerado pelos serviços úteis prestados ao comitente, ressalvado a este o 
direito de exigir daquele os prejuízos sofridos. 
 
Art. 705. Se o comissário for despedido sem justa causa, terá direito a ser 
remunerado pelos trabalhos prestados, bem como a ser ressarcido pelas perdas 
e danos resultantes de sua dispensa. 
 
Por último, resta observar que, no caso de falência do comitente, o crédito 
do comissário terá privilégio geral (art. 707) e, para reembolso das despesas 
feitas, bem como para recebimento das comissões devidas, tem o comissário 
direito de retenção sobre os bens e valores em seu poder em virtude da 
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comissão (art. 708). No que couber, são aplicáveis à comissão as normas 
relativas ao mandato (art. 709). 
 
3.3. Concessão mercantil 
 
Com exceção da concessão mercantil relativa a veículos automotores 
terrestres, que é regulada por Lei própria — a L. 6.729/1979 —, a concessão 
mercantil é um contrato atípico, pois não é regulada por nenhuma lei especial 
nem pelo Código Civil. 
O projeto do Novo Código Comercial, todavia, pretende definir este tipo de 
contrato mercantil: 
 
A concessão mercantil é o contrato de colaboração em que o colaborador 
(concessionário), além de comercializar o produto do fornecedor (concedente), 
assume também a obrigação de prestar serviços de assistência técnica aos 
consumidores do produto. 
 
Alguns doutrinadores consideram que a prestação de assistência técnica 
não é essencial, mas apenas acessória a este tipo de contrato, de modo que a 
definição simplesmente seria: 
 
A concessão mercantil é o contrato de colaboração em que o colaborador 
(concessionário) assume a obrigação de comercializar o produto do fornecedor 
(concedente). 
 
Como este contrato, em regra, é atípico, nada impede que os contratantes 
estipulem um contrato apenas nos termos supra. Porém, no caso da concessão 
mercantil de veículos automotores terrestres, esta prestação de assistência 
técnica faz parte do contrato: 
 
Art. 1º A distribuição de veículos automotores, de via terrestre, efetivar-se-á 
através de concessão comercial entre produtores e distribuidores disciplinada por 
esta Lei e, no que não a contrariem, pelas convenções nela previstas e 
disposições contratuais. 
Art. 3º Constitui objeto de concessão: 
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I - a comercialização de veículos automotores, implementos e componentes 
fabricados ou fornecidos pelo produtor; 
II - a prestação de assistência técnica a esses produtos, inclusive quanto ao seu 
atendimento ou revisão; 
III - o uso gratuito de marca do concedente, como identificação. 
§ 1º A concessão poderá, em cada caso: 
a) ser estabelecida para uma ou mais classes de veículos automotores; 
b) vedar a comercialização de veículos automotores novos fabricados ou 
fornecidos por outro produtor. 
§ 2º Quanto aos produtos lançados pelo concedente: 
a) se forem da mesma classe daqueles compreendidos na concessão, ficarão 
nesta incluídos automaticamente; 
b) se forem de classe diversa, o concessionário terá preferência em comercializá-
los, se atender às condições prescritas pelo concedente para esse fim. 
§ 3º É facultado ao concessionário participar das modalidades auxiliares de 
venda que o concedente promover ou adotar, tais como consórcios, sorteios, 
arrendamentos mercantis e planos de financiamento. 
 
 
 Quantos aos contratos atípicos, não há nenhuma regulamentação legal, 
embora a doutrina aponte, como regra, que estes contratos impõem tanto a 
exclusividade de distribuição, que obriga o concessionário a comercializar 
apenas os produtos do produtor (conforme o §1ª do art. 3º, supra), como a 
exclusividade de zona do concessionário, na qual o concedente não poderá 
estende-la a nenhum outro. Isto, no que diz respeito aos veículos automotores 
está regulado da seguinte forma: 
 
Art. 5° São inerentes à concessão: 
I - área operacional de responsabilidade do concessionário para o exercício de 
suas atividades; 
II - distâncias mínimas entre estabelecimentos de concessionários da mesma 
rede, fixadas segundo critérios de potencial de mercado. 
§ 1° A área poderá conter mais de um concessionário da mesma rede. 
§ 2° O concessionário obriga-se à comercialização de veículos automotores, 
implementos, componentes e máquinas agrícolas, de via terrestre, e à prestação 
de serviços inerentes aos mesmos, nas condições estabelecidas no contrato de 
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concessão comercial, sendo-lhe defesa a prática dessas atividades, diretamente 
ou por intermédio de prepostos, fora de sua área demarcada. 
§ 3° O consumidor, à sua livre escolha, poderá proceder à aquisição dos bens e 
serviços a que se refere esta lei em qualquer concessionário. 
§ 4° Em convenção de marca serão fixados os critérios e as condições para 
ressarcimento da concessionária ou serviço autorizado que prestar os serviços de 
manutenção obrigatórios pela garantia do fabricante, vedada qualquer disposição 
de limite à faculdade prevista no parágrafo anterior. 
 
 Como se vê, não há uma verdadeira exclusividade, mas apenas uma 
distância mínima entre cada concessionário da mesma rede. Assim, também 
não podemos considerar esta cláusula essencial. 
 Por esta falta de regulamentação, os contratos de concessão mercantil são 
os menos cobrados entre os contratos de colaboração mercantil. Porém, quando 
cobrado algo sobre o assunto, geralmente, é uma sobre a definição do contrato. 
A questão poderá versar, também, sobre a concessão mercantil de veículos 
automotores, cuja essência apresentamos acima e recomendamos a leitura da 
Lei,que não é extensa, mas os detalhes nos ocuparia muito tempo para o 
propósito deste curso. 
 
 
4. Contratos bancários próprios 
 
 Prezado candidato, mais uma vez, teremos o velho problema da definição 
do conceito de contrato mercantil. Os contratos bancários, em um polo, terão 
necessariamente uma sociedade empresária, pois terá uma instituição 
financeira, que, segundo a Lei que as rege — a L. 4.595/1964 —, deverá 
organizar-se necessariamente como sociedade anônima. Mas, no outro polo, 
poderá haver ou não um empresário. 
 Além disso, diferentemente do que ocorre com os outros contratos que já 
vimos e não têm necessariamente empresários nos dois polos da relação, o STJ 
já definiu que o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições 
financeiras, embora o magistrado não possa conhecer de ofício as cláusulas 
abusivas dos contratos bancários: 
 
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S. 297: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições 
financeiras. 
 
S. 381: Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da 
abusividade das cláusulas. 
 
 Porém, mais uma vez, sejamos pragmáticos, pois está no edital, e a doutrina 
trata destes contratos juntamente com os outros contratos mercantis. Mais uma 
vez, não há legislação específica, de forma que é aplicável o Código Civil em 
conjunto com o entendimento jurisprudencial e o CDC, quando for o caso. 
 Neste tópico, trataremos dos contratos bancários próprios que, segundo 
alguns doutrinadores, são os que correspondem a atividades essencialmente 
bancárias. Estes podem ser passivos, quando o banco assume posição de 
devedor, ou ativos, quando ocorre o contrário, ou seja, o banco é credor. 
 
4.1. Depósito bancário 
 
 O depósito bancário é, como o nome diz, um contrato de depósito. O que 
o caracteriza como bancário é que, neste caso, o depositário é uma instituição 
financeira, isto é, um banco. Segundo o Código Civil: 
 
Art. 627. Pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel, para 
guardar, até que o depositante o reclame. 
 
 Assim, depósito bancário é o contrato pelo qual o banco — depositário — 
recebe uma quantia em dinheiro do correntista — depositante —, para guardar, 
até que este, que se torna credor do banco, reclame a quantia depositada. Na 
prática comum, primeiro o depositante realiza um contrato de abertura de conta 
corrente, podendo, a partir daí realizar depósitos e sacar valores. 
 Porém, parte da doutrina objeta que este contrato seja um depósito, pois 
este contrato, como está no Código Civil, diz respeito ao depósito de objeto 
móvel e, no caso do depósito bancário, não há objeto, mas um crédito que, 
embora materialize-se em moedas ou cédulas de dinheiro, não é um objeto. 
Neste caso, a doutrina caracteriza o depósito bancário como mútuo. Porém, 
acreditamos esta discussão ser inócua, pois o próprio Código Civil a resolve: 
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Art. 645. O depósito de coisas fungíveis, em que o depositário se obrigue a 
restituir objetos do mesmo gênero, qualidade e quantidade, regular-se-á pelo 
disposto acerca do mútuo. 
 
 Ou seja, tanto faz se o depósito bancário for um depósito de coisa fungível 
ou um mútuo puro e simples, pois as regras aplicáveis são as mesmas. Alega-se 
que, no caso do depósito, o depositário não se torna proprietário da coisa ao 
recebê-la, mas mero detentor; já no mútuo, não, torna-se proprietário. Ainda 
assim, acreditamos que a distinção é inócua, pois, esta distinção só é cabível no 
caso de depósito de infungíveis. No caso de bens fungíveis, o tanto o mutuário 
como o depositário tornam-se proprietários, pois a regra é a mesma: 
 
Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a 
restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade 
e quantidade. 
Art. 587. Este empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário, 
por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição. 
 
 As regras são as mesmas, mas aquele que deposita seu dinheiro em um 
banco não tem a intenção de emprestá-lo à instituição financeira, mas de 
guardá-lo, de depositá-lo. Por isso, a doutrina que distingue o depósito de 
fungíveis do mútuo chama aquele de depósito irregular. 
Talvez, até seria salutar que ficasse caracterizado o empréstimo, pois, 
assim, os depositantes poderiam cobrar do banco uma remuneração pelo 
mútuo. Nem todas as regras do mútuo são aplicáveis, por exemplo: 
 
Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, 
os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 
406, permitida a capitalização anual. 
 
 Não são obrigatoriamente devidos juros em um depósito bancário. Em 
alguns casos, poderá ocorrer o que se chama de rendimento ou remuneração, 
como no depósito em poupança, mas não é da essência do contrato de depósito 
bancário. 
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 O mútuo também possui regras quanto ao prazo de resgate, mas as 
regras dos depósitos bancários são distintas. Há três tipos de saques dos 
depósitos: 
� À vista: quando o depositário — o banco — deverá restituir 
imediatamente a quantia solicitada pelo depositante. 
� A pré-aviso: quando a restituição deverá ser comunicada previamente 
ao banco em um prazo contratualmente estipulado. 
� A prazo fixo: quando a restituição só poderá ser solicitada após uma 
determinada data fixada no contrato. 
No caso do saque à vista, há a objeção do banco quanto a valores muito 
elevados; nestes casos, o BACEN editou resolução nº 3.695/2009, que 
determina: 
 
Art. 2º É vedado postergar saques em espécie de contas de depósitos à vista de 
valor igual ou inferior a R$5.000,00 (cinco mil reais), admitida a postergação 
para o expediente seguinte de saques de valor superior ao estabelecido. 
 
4.2. Mútuo bancário 
 
 Embora tenhamos visto que parte da doutrina considera o depósito 
bancário como mútuo, não é deste mútuo que trata a presente seção. Agora, 
temos o banco como mutuante — aquele que empresta — e outra pessoa como 
mutuário — aquele que toma o empréstimo. A definição é a do art. 586 do 
Código Civil, ut supra. 
 Já vimos todas as normas relevantes aos contratos de mútuo e de 
depósito irregular (que são as mesmas), com exceção desta: 
 
Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento 
o mutuário sofrer notória mudança em sua situação econômica. 
 
 Isto significa que no contrato de mútuo há uma espécie de cláusula rebus 
sic stantibus — “as coisas permanecendo como estão” —, de modo que uma 
alteração na situação econômica do mutuário permite o mutuante exigir 
garantia da restituição do empréstimo. 
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 As normas relativas ao mútuo a menor, embora, em tese, sejam aplicáveis 
ao mútuo bancário, na prática, devido aos mecanismos de controle das 
instituições financeiras, isto não ocorre. 
 Sendo assim, resta falar de um aspecto jurisprudencial muito importante 
do mútuo bancário. É o que trata da limitação aos juros. Há, no Brasil, a 
chamada Lei da Usura — na verdade, um decreto de nº 22.626/1933 — que 
limita os juros a 12% ao ano, não capitalizados. 
 
Art. 1º. É vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular em quaisquer 
contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal (Código Civil, art. 1062 
[A taxa dos juros moratórios, quandonão convencionada (art. 1.262), será de seis 
por cento ao ano]). 
 
Art. 4º. E proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a 
acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano. 
 
A Constituição Federal, inicialmente recepcionou e constitucionalizou esta 
regra: 
 
Art. 192, § 3º - As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer 
outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, 
não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste 
limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas 
modalidades, nos termos que a lei determinar. 
 
 Porém, esta norma foi revogada pela Emenda Constitucional nº 40 de 
2003, além de nunca ter sido aplicada, pois o entendimento pretoriano era de 
que havia a necessidade de lei complementar regulamentando a matéria. 
Vejamos o seguinte julgamento1: 
 
Tendo a Constituição Federal, no único artigo em que trata do Sistema Financeiro 
Nacional (art.192), estabelecido que este será regulado por lei complementar, 
com observância do que determinou no caput, nos seus incisos e parágrafos, não 
é de se admitir a eficácia imediata e isolada do disposto em seu parágrafo 3º, 
sobre a taxa de juros reais (12% ao ano), até porque estes não foram 
conceituados. Só o tratamento global do Sistema Financeiro Nacional, na futura 
 
1 STF, ADIn 4-7-600-DF, RTJ 147/719-858. 
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lei complementar, com observância de todas as normas do caput, dos incisos e 
parágrafos do art. 192, é que permitirá a incidência da referida norma sobre 
juros reais e desde que estes também sejam conceituados em tal diploma. 
Em conseqüência, não são inconstitucionais os atos normativos em questão 
(parecer da Consultoria-Geral da República, aprovado pela Presidência da 
República e circular do Banco Central), o primeiro considerando não auto-
aplicável a norma do parágrafo 3º sobre juros reais de 12% ao ano, e a segunda 
determinando a observância da legislação anterior à Constituição de 1988, até o 
advento da lei complementar reguladora do Sistema Financeiro Nacional. 
 
Há então, ainda, o limite de juros? Sim, a Lei da Usura não foi revogada; 
o que ocorre, apenas, é que a norma não tem a hierarquia de norma 
constitucional. Mas esta norma é aplicável às instituições financeiras? A 
resposta é não. O Supremo Tribunal Federal assim sumulou o entendimento: 
 
S. 596: As disposições do decreto 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros 
e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições 
públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional. 
 
A justificativa legal para este entendimento foi a Lei 4.595/1964, que 
dispõe sobre a política das instituições monetárias, bancárias e creditícias, e 
determina a seguinte competência ao BACEN: 
 
Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes 
estabelecidas pelo Presidente da República: [...] 
VI - Disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações 
creditícias em todas as suas formas, inclusive aceites, avais e prestações de 
quaisquer garantias por parte das instituições financeiras; [...] 
IX - Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos comissões e 
qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou 
financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do Brasil [...]. 
 
 Desta forma, os bancos não são completamente livres para pactuar os 
juros que bem entenderem, mas o limite não é o da Lei da Usura, mas o que 
for estabelecido pelo BACEN. 
 Observemos que esta Súmula foi editada em 1976, quando o STF 
acumulava as competências que hoje são do STJ. Este tribunal, porém, não 
afastou o entendimento pretoriano, como podemos ver na seguinte súmula: 
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S. 382: A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si 
só, não indica abusividade. 
 
 Assim, os Bancos são livres para praticar a usura, pois não estão limitados 
aos juros de 12% ao ano e podem capitalizá-los. Para finalizar, apresentamos a 
ementa de um julgado do Egrégio STJ, que sintetiza os tópicos abordados: 
 
CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MÚTUO BANCÁRIO COM 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. JUROS REMUNERATÓRIOS. LEI N.º 
4.595/64. ENUNCIADO 596 DA SÚMULA DO STF. JUROS MORATÓRIOS LIMITADOS 
A 12% A. A. LEI DE USURA. CAPITALIZAÇÃO. POSSIBILIDADE. COMISSÃO DE 
PERMANÊNCIA. ENUNCIADO 294 DA SÚMULA DO STJ. INSCRIÇÃO DO NOME DO 
DEVEDOR EM CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. POSSIBILIDADE. AGRAVO 
IMPROVIDO. 
1. Com o advento da Lei n.º 4.595/1964, restou afastada a incidência da 
Lei de Usura, que limitou os juros remuneratórios no patamar de 12% ao 
ano, nos termos do Enunciado nº 596 da Súmula do eg. Supremo Tribunal 
Federal: “As disposições do Decreto 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros 
e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas 
ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional”. 
2. A taxa média do mercado não é considerada excessivamente onerosa. 
Assim, o pacto referente à taxa de juros remuneratórios só pode ser 
alterado se reconhecida sua abusividade em cada situação. 
3. Os juros moratórios podem ser pactuados até o limite de 12% ao ano, conforme 
previsão legal. Precedentes. 
4. O Superior Tribunal de Justiça admite a capitalização mensal dos juros 
nos contratos firmados posteriormente à entrada em vigor da Medida 
Provisória nº 1.963-17/2000, desde que haja previsão contratual. No 
particular, o contrato sob exame foi firmado posteriormente à norma referenciada. 
Dessarte, legítima a capitalização mensal dos juros remuneratórios, como pactuada. 
5. Segundo o posicionamento consolidado pela eg. Segunda Seção desta Corte 
Superior, é possível a cobrança da comissão de permanência, desde que não 
cumulada com juros remuneratórios, correção monetária e/ou juros e multa 
moratórios. 
6. A simples discussão judicial da dívida não é suficiente para obstaculizar ou 
remover a inscrição do nome do devedor em órgãos de proteção ao crédito. 
7. Agravo regimental improvido.2 
 
 4.3. Desconto bancário 
 
2 STJ, AgRg no REsp 791.172-RS. 
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 O desconto bancário fala muito a respeito do que vimos quando 
tratamos dos títulos de crédito, mas não exclusivamente. Neste contrato, o 
banco antecipa o pagamento de um crédito de determinado cliente, que o 
cede ao banco. Ou seja, o banco “compra” o crédito de uma pessoa, 
naturalmente, a um preço menor, pois esta dedução do valor total — 
chamada de deságio — é a remuneração do banco pelo seu serviço. 
 A relação com os títulos de crédito ocorre pelo fato de que, quando a 
cessão do crédito ocorre pela via cambiária, ela será muito mais segura para 
o banco e, por consequência, o desconto realizado será menor em função do 
risco reduzido. 
A cessão cambiária é realizada por endosso e, desta forma, estará 
sujeita aos princípios relativos aos títulos de crédito, como a autonomia das 
obrigações cambiárias e a inoponibilidade das exceções pessoais a terceiros 
de boa fé. Assim, além do direito de regresso contra o cliente endossante, o 
banco protege-se contra a oposição destas exceções por parte do devedor 
do título. 
O desconto bancário não possui nenhuma regulação legal específica, de 
modo que estes sãoos principais aspectos a ser tratados em nosso estudo. 
 
4.4. Abertura de crédito 
 
 O contrato de abertura de crédito não é a simples abertura de conta 
corrente, como já vimos. Esta relaciona-se com o depósito bancário. A abertura 
de crédito, por sua vez, é uma modalidade de mútuo, mas com características 
especiais. 
 Neste contrato, o banco disponibiliza ao cliente certa quantia monetária — 
crédito — que poderá ou não ser utilizada. É o que, no linguajar coloquial, 
chama-se de cheque especial. Ou seja, mais do que é um mútuo, é uma 
possibilidade de mútuo. O banco oferece ao cliente a possibilidade de ser 
mutuário, mas o mútuo só se realiza quando o cliente utiliza a quantia 
disponibilizada, seja integral ou parcialmente. 
 O ganho do banco, nestes contratos, realiza-se por meio de juros 
cobrados a partir da utilização efetiva de parte ou da integralidade da quantia 
disponibilizada. O banco até poderia cobrar uma remuneração pela simples 
disponibilização da quantia, mas em regra não o faz, em razão de políticas de 
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captação de clientes. É até normal, na praxe bancária, não cobrar juros, caso o 
cliente reponha a quantia utilizada logo nos primeiros dias após sua utilização. 
 Não havendo regras especiais, a maior fonte normativa que temos a 
disposição é o conjunto de súmulas editadas pelo STJ: 
 
S. 233: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da 
conta-corrente, não é título executivo. 
S. 247: O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do 
demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação 
monitória. 
S. 258: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza 
de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou. 
S. 300: O instrumento de confissão de dívida, ainda que originário de contrato de 
abertura de crédito, constitui título executivo extrajudicial. 
S. 322: Para a repetição de indébito, nos contratos de abertura de crédito em 
conta-corrente, não se exige a prova do erro. 
 
 A maioria destas súmulas diz respeito à executividade dos documentos 
relativos aos contratos de abertura de crédito. A confissão de dívida, por 
exemplo, constitui título executivo extrajudicial, mas o contrato acompanhado 
de um mero extrato, não. Já o contrato, acompanhado do demonstrativo de 
débito, não é título executivo, mas permite a ação monitória. 
 A súmula 258 trata da perda da autonomia da nota promissória vinculada 
a contrato de abertura de crédito; assunto já abordado quando tratamos dos 
títulos de crédito. 
 Já a súmula 322 trata da repetição de indébito que pode ser proposta pelo 
cliente para reaver valores descontados indevidamente pelo banco nos 
contratos de abertura de crédito. Neste caso, não se exigirá a prova do erro. 
5. Contratos bancários impróprios 
 
 Os contratos bancários impróprios são assim chamados, pois alguns 
doutrinadores divergem sobre sua natureza essencialmente bancária. Porém, 
isto não deve levar o candidato a pensar que esses contratos são menos 
importantes. Ao contrário, costumam até ser mais cobrados do que os contratos 
bancários próprios pelas bancas examinadoras. 
 
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5.1. Alienação fiduciária em garantia 
 
Prezado candidato, o contrato de alienação fiduciária obedece à seguinte 
mecânica: uma parte aliena um determinado bem a outra, que se obriga a 
devolvê-la quando ocorrer determinado fato jurídico. Este fato normalmente é 
o pagamento de prestações de um contrato de mútuo. 
Dito isto, parece que temos uma espécie de retrovenda. Em ambos os 
casos há a chamada propriedade resolúvel. De fato, há semelhanças, mas os 
contratos são diferentes. Na retrovenda, há a intenção de vender o bem e a 
possibilidade de reavê-lo é acessória. Na alienação fiduciária, não. O mútuo é, 
na grande maioria dos casos, o principal objetivo daquele que aliena o bem, e 
este funciona como garantia para o pagamento do empréstimo. 
Na realidade, em regra, o bem nem chega a ser transferido ao credor 
fiduciário: este apenas passa a ser o titular do domínio do objeto, mas seu 
possuidor indireto (como na reserva de domínio). Ocorrendo o inadimplemento 
do devedor fiduciante, o credor fiduciário, após notificá-lo da mora, poderá 
vender a coisa a terceiros, se autorizado judicialmente, devendo aplicar o preço 
da venda no pagamento de seu crédito e das despesas decorrentes da 
cobrança, e entregar o saldo remanescente, se houver, ao devedor fiduciante. 
Ou seja, não há hipótese do credor fiduciário tornar-se proprietário 
definitivo do bem e isto faz com que a alienação fiduciária seja completamente 
distinta da retrovenda, pois, passada a semelhança inicial, vemos que tanto o 
propósito quanto os efeitos do contrato são totalmente distintos. 
Este contrato, normalmente, objetiva-se a dois propósitos. No primeiro, é 
o financiamento de um bem, no qual participa um terceiro, que vende o bem, 
além do credor fiduciário, que o financia, e o devedor fiduciante, que é aquele 
que possui a intenção de adquirir o bem. O segundo propósito é servir de 
garantia de um mútuo, situação na qual o bem sai do patrimônio do próprio 
devedor fiduciante. Esta possibilidade é prevista em Súmula do STJ: 
S. 28: o contrato de alienação fiduciária em garantia pode ter por objeto bem 
que já integrava o patrimônio do devedor. 
 
A alienação fiduciária é regulada em diversos instrumentos normativos. 
Quando o objeto fiduciário é imóvel, a Lei é a que regula o sistema de 
financiamento imobiliário: a L. 9.514/1997, além dos arts. 1.359 ao 1.368-A do 
Código Civil, subsidiariamente. 
O primeiro artigo da Lei especial define o contrato: 
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Art. 22. A alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo qual 
o devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao 
credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel. 
 
O art. 23 determina que o contrato deverá ser averbado no Registro de 
Imóveis para que se constitua a propriedade fiduciária, desdobrando-se a 
propriedade, como já comentamos, tornando-se o fiduciante possuidor direto e 
o fiduciário possuidor indireto da coisa imóvel. 
O contrato possui alguns requisitos essências, como determina a Lei: 
 
Art. 24. O contrato que serve de título ao negócio fiduciário conterá: 
I - o valor do principal da dívida; 
II - o prazo e as condições de reposição do empréstimo ou do crédito do 
fiduciário; 
III - a taxa de juros e os encargos incidentes; 
IV - a cláusula de constituição da propriedade fiduciária, com a descrição do 
imóvel objeto da alienação fiduciária e a indicação do título e modo de aquisição; 
V - a cláusula assegurando ao fiduciante, enquanto adimplente, a livre utilização, 
por sua conta e risco, do imóvel objeto da alienação fiduciária; 
VI - a indicação, para efeito de venda em público leilão, do valor do imóvel e dos 
critérios para a respectiva revisão; 
VII - a cláusula dispondo sobre os procedimentos de que trata o art. 27. 
 
O art. 27, mencionado supra, trata do leilão obrigatório, do qual já 
comentamos. Paga a dívida, resolve-se a propriedade fiduciária, tornando-se o 
devedor fiduciante, não só possuidor direto do imóvel, mas seu proprietário. 
Não paga a dívida e constituído em mora o devedor, todavia, a propriedade do 
imóvel consolidar-se-á em nome do credor fiduciário (art. 25). 
Para isto, o credor deverá intimar o devedor (art. 25, §1º) pessoalmente

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