Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
11.1 Introdução Define-se um corpo rígido como um conjunto de partículas cujas distâncias são fixas. Embora isto não exista na prática, muitos corpos podem ser tratados em boa aproximação como corpos rígidos. Para descrever o movimento de um corpo rígido são necessários dois sistemas de coordenadas: um sistema inercial e um sistema fixo no corpo. 11 Dinâmica de Corpos Rígidos inercialsistema αωυ senr= São necessárias 6 coordenadas para especificar a posição do corpo rígido: 3 coordenadas para especificar a origem do sistema fixo no corpo (normalmente o CM) e 3 ângulos que especificam a orientação do sistema fixo no corpo em relação ao sistema inercial (ângulos de Euler, seç. 11.7). corpo no fixosistema 11.2 O tensor de inércia A figura abaixo mostra uma partícula de massa m que gira em torno de um dado eixo com velocidade angular (vetor) w. r v α w A velocidade da partícula pode ser escrita, em módulo, como Como v é perpendicular ao plano formado por r e w, podemos escrever rwv ×= Se w e v forem especificados em relação ao sistema fixo no corpo, a velocidade da partícula α em relação ao sistema inercial pode ser escrita como αα rwVv ×+= onde V é a velocidade do sistema fixo no corpo em relação ao sistema inercial. A energia cinética do corpo rígido pode ser escrita, no referencial inercial, como )()( )()( 2 12 2 1 2 1 αα α αα α α α α αα α α rwrwrwV rwVrwV ×⋅×+×⋅+= ×+⋅×+= ∑∑∑ ∑ mmVm mT O segundo termo pode ser escrito como RwVrwV Mm ×⋅=×⋅ ∑ α α α Se a origem do sistema fixo no corpo for colocado no CM, então R = 0, e o segundo termo de T é nulo. Assim, podemos escrever rottrans TTT += onde 2 2 12 2 1 MVVmTtrans == ∑ α α )()(21 αα α α rwrw ×⋅×= ∑mTrot Da identidade vetorial podemos escrever a energia cinética rotacional como 222 )()()( BABABA ⋅−=×⋅× BA ])([ 22221 αα α α ω rw ⋅−= ∑ rmTrot Mas origem zyxi ji ijji i i ωωωωδωωωω ,, , 22 ↔== ∑∑ ,, 22 αααααααα ω zyxrrrr i i ii i i ↔⋅=⋅= ∑∑ rw de forma que podemos escrever ∑ ∑∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑∑∑∑ ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −= ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −= ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ⋅−⋅= ji ji k kijji ji jiji k kijji j jj i ii k kij ji jirot rrrm rrrm rrrmT , 2 2 1 , 2 2 1 2 , 2 1 ααα α α α αααα α αααα δωω ωωδωω ωωδωω Definindo ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −= ∑∑ ji k kijij rrrmI ααα α α δ 2 podemos escrever (11.11) 21 jiij ij rot IT ωω∑= Os nove termos Iij constituem os elementos de um tensor (matriz) designado por {I} chamado tensor de inércia. Os elementos da diagonal (i = j) são chamados momentos de inércia e podem ser escritos como )( )( )( 22 2222 αα α α αα α ααα α α yxmI zxmIzymI zz yyxx += +=+= ∑ ∑∑ Os elementos fora da diagonal (i ≠ j) são chamados produtos de inércia e podem ser escritos como αα α α αα α ααα α α zymII zxmIIyxmII zyyz zxxzyxxy ∑ ∑∑ −== −==−== Se o corpo rígido for tratado como uma distribuição contínua de matéria, podemos escrever υδρ drrrI ji k kijij ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −= ∑∫ 2)(r dxdydzxyzyxI dxdydzzyzyxI xy xx ∫∫∫ ∫∫∫ −= += ),,( )(),,( 22 ρ ρ Explicitamente, etc. Exemplo 11.1 -------------------------------------------- Calcule o tensor de inércia de um cubo homogêneo de massa M e aresta b. A origem está em um dos vértices e os 3 lados adjacentes estão ao longo dos eixos x, y e z. x z y Solução. 2 4 15 4 1 000 2 3 25 3 2 0 22 00 )( MbbdzydyxdxI MbbdzzydydxI bbb xy bbb xx −=−=−= ==+= ∫∫∫ ∫∫∫ ρρ ρρ Por simetria, yzxzxyzzyyxx IIIIII ==== de forma que o tensor de inércia pode ser escrito como { } ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ −− −− −− = 3 2 4 1 4 1 4 1 3 2 4 1 4 1 4 1 3 2 2MbI -------------------------------------------------------------- 11.3 Momento angular O momento angular de um corpo rígido em relação a uma origem fixa no corpo (não necessariamente o CM) pode ser escrito como ∑ ×= α αα prL Existem duas escolhas convenientes: (a) se houver um ou mais pontos do corpo rígido que permaneça fixo, um destes pontos deve ser escolhido como origem; (b) se não houver um ponto fixo, a escolha mais conveniente é o CM. Como ααααα rwvp ×== mm podemos escrever ∑ ××= α ααα )( rwrL m Da identidade vetorial )()( 2 BAABABA ⋅−=×× A )]([ 2 wrrwL ⋅−= ∑ αα α αα rm Empregando a mesma técnica usada para escrever Trot, temos ∑ ∑∑ ∑ ∑∑ ∑ ∑∑ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −= ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −= ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −= α αααα α αααα α αααα δω ωδω ωω k jikij j j j k ijkijj j j jj k ikii rrrm rrrm rrrmL 2 2 2 ou (11.20a) ∑= j jiji IL ω Em notação tensorial { } wIL ⋅= Note que a não ser que os elementos fora da diagonal do tensor {I} sejam todos nulos, os vetores L e w não serão paralelos. Como um exemplo, considere um alteres girando (figura abaixo). L1 é perpendicular a r1 e v1 e L2 é perpendicular a r2 e v2. Assim, L = L1 + L2 é perpendicular à barra que une as duas massas. À medida que o sistema gira, L muda de direção, de forma que 0≠= NL& Portanto, é necessário aplicar um torque ao alteres para mantê-lo girando. Uma relação entre Trot, L e w pode ser obtida multiplicando-se (11.20a) por ωi e somando sobre i. Assim, teremos rot ij jiij i ii TIL == ∑∑ ωωω 2121 Em notação tensorial, podemos escrever { } wIwLw ⋅⋅=⋅= 2121rotT Exemplo 11.2 ------------------------------------------- Obtenha a freqüência de pequenas oscilações (no plano) para o pêndulo da figura abaixo. 2 b 2 b 2m 1m θ g 2e 1e 3e • Solução. Como as partículas estão sobre o eixo e1, as únicas componentes não nulas do tensor {I} são 2 24 1 13322 )( bmmII +== Assim, o tensor de inércia pode ser escrito como { } ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ + += 2 24 1 1 2 24 1 1 )(00 0)(0 000 bmm bmmI A velocidade angular é dada por 3 ew θ&= O momento angular é dado por (11.20a) ou por temos { } wIL ⋅= ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ ⋅ ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ + += ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ θ& 0 0 )(00 0)(0 000 2 24 1 1 2 24 1 1 3 2 1 bmm bmm L L L Em notação matricial, • • 2v 2m 2r 1r 1vw L 1m Assim, podemos escrever 3 2 24 1 1 )( eL θ&bmm += O torque sobre o sistema é dado por grrgrgrN ×+=×+×= )( 22112211 mmmm Como 121211 erer bb == temos ( ) 32211 21122 1 1 sen ) sen (cos)( e eeeN θ θθ bgmm gbmm +−= −×+= Da relação, NL =& podemos escrever ( ) ( ) θθ sen 221122411 bgmmbmm +−=+ && Para θ pequeno, temos a equação de um MHS com freqüência de oscilação b g mm mm o ⋅+ += 24 1 1 22 1 12ω -------------------------------------------------------------- 11.4 Eixos principais de inércia É sempre possível encontrar 3 eixos mutuamente perpendiculares, chamados eixos principais de inércia, para os quais os produtos de inércia são nulos. Em outras palavras, o tensor de inércia só possui elementos não nulos na diagonal: { } ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ =↔= 3 2 1 00 00 00 I I I II ijiij Iδ Em termos dos eixos principais de inércia, o momento angular e a energia cinética rotacional podem ser escritos como ∑ == j iijijii IIL ωωδ 22121∑ ∑== ij i iijiijirotIIT ωωωδ Se o corpo girar em torno de um eixo principal de inércia e I for o momento de inércia em relação a este eixo, então L e w apontam ao longo do eixo, de maneira que podemos escrever (11.36) wL I= As componentes de L em relação aos eixos x, y, z (não principais) são zxyxxx ILILIL ωωω === , , Por outro lado, de (11.20a), podemos escrever zzzyzyxzxz zyzyyyxyxy zxzyxyxxxx IIIL IIIL IIIL ωωω ωωω ωωω ++= ++= ++= Igualando as expressões, temos 0)( (11.38) 0)( 0)( =−++ =+−+ =++− zzzyzyxzx zyzyyyxyx zxzyxyxxx IIII IIII IIII ωωω ωωω ωωω Este sistema de equações só possui solução diferente da trivial (ωx = ωy = ωz = 0) se 0= − − − IIII IIII IIII zzzyzx yzyyyx xzxyxx Esta é uma equação do terceiro grau em I, e portanto, possui 3 soluções: I1, I2 e I3. As soluções correspondem aos momentos de inércia em relação aos eixos principais e são chamadas momentos principais de inércia. Se o corpo girar em torno do eixo principal correspondente ao momento principal I1, (11.36) pode ser escrita como 111 wL I= de forma que L1 e w1 apontam ao longo deste eixo. Assim, podemos determinar a direção do eixo substituindo I1 no lugar de I em (11.38) e determinando a direção de w1: as razões entre as componentes da velocidade angular. Estas razões dão os cossenos diretores do eixo principal em relação aos eixos não principais x , y e z. ) sen (cos 21 eeg θθ −= g Os eixos correspondentes a I2 e I3 podem ser obtidos de forma análoga. Os corpos rígidos podem ser classificados da seguinte forma: oassimétric pião rotor 0 , simétrico pião esférico pião 321 321 321 321 →≠≠ ⎩⎨ ⎧ →== →≠= →== III III III III Exemplo 11.3 -------------------------------------------- Obtenha os momentos e os eixos principais de inércia para o cubo do exemplo 11.1. Solução. Para simplificar a notação, vamos fazer 2Mb=β Temos que resolver a equação secular 0 3 2 4 1 4 1 4 1 3 2 4 1 4 1 4 1 3 2 = −−− −−− −−− I I I βββ βββ βββ Um determinante não se altera quando uma de suas linhas (ou colunas) é substituída por uma combi- nação dela mesma com as outras. Assim, podemos fazer a troca linha 2 linha 1linha 2 ooo −−− →− para obter 00 3 2 4 1 4 1 12 11 12 11 4 1 4 1 3 2 = −−− −+− −−− I II I βββ ββ βββ ou 0011 )( 3 2 4 1 4 1 4 1 4 1 3 2 12 11 = −−− − −−− − I I I βββ βββ β Expandindo, temos 0)]()[( )( 3241 2 8 12 3 2 12 11 =−−−−− III βββββ ou 0])[( 272111213 2 12 11 =+−− βββ III As soluções desta equação são: βββ 1211312112611 === III e o tensor de inércia diagonalizado é { } ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ = 2 12 11 2 12 11 2 6 1 00 00 00 Mb Mb Mb I Para obter o eixo principal de inércia associado a I1, vamos substituir a solução I1 = β/6 em (11.38) para obter 0)( 0)( 0)( 16 1 3 2 14 1 14 1 14 1 16 1 3 2 14 1 14 1 14 1 16 1 3 2 =−+−− =−−+− =−−− zyx zyx zyx ωβββωβω βωωβββω βωβωωββ onde o índice 1 indica componentes da velocidade angular associada a I1. Simplificado, temos 02 02 02 111 111 111 =+−− =−+− =−− zyx zyx zyx ωωω ωωω ωωω Note que estas 3 equações não são linearmente independentes: a terceira é soma das outras duas multiplicada por –1. Dessa forma, não podemos obter ω1, ω2 e ω3 mas somente relações entre estas componentes. Isto nos dá a direção de w, que é o que nos interessa. Da primeira e segunda equações, temos 111 zyx ωωω == Isto significa que a velocidade angular pode ser escrita como )( 11 kjiw ++= xω e portanto, é paralela ao vetor unitário Em outras palavras, o eixo associado a I1 = β/6 aponta na direção de e1: a diagonal do cubo. Se substituirmos I2 = 11β/12 em (11.38) teremos 3 equações equivalentes. Nesse caso, a única relação entre as componentes de w é )( 3 1 1 kjie ++= 0 222 =++ zyx ωωω e portanto, não é possível determinar de forma única a direção do eixo associado a I2. Este resultado é uma conseqüência do fato de que I2 = I3, de forma que devemos obter a mesma equação para o segundo e o terceiro eixos. A equação acima é a equação de um plano perpendicular a e1 e impõe que os eixos associados a I2 e I3 estejam contidos em um plano perpen- dicular a e1 mas as suas direções sobre o plano são arbitrárias. Por conveniência, escolhe-se e2 e e3 de maneira que sejam perpendiculares entre si. -------------------------------------------------------------- 11.5 Momentos de inércia em sistemas de coordenadas paralelos Considere dois sistemas de coordenadas fixos no corpo. Os eixos coordenados nos dois sistemas são paralelos mas um sistema possui origem no CM e o outro não. As relações entre as coordenadas da partícula α podem ser escritas como iii arr +=′ αα Os elementos do tensor de inércia no referencial com linha (origem fora do CM) são dados por ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −−+ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −+ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −= ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ++−+=′ ∑∑ ∑∑ ∑∑ ∑∑ k jiijkkij k jikij k jikij k jjiikkijij arararm aaam rrrm arararmI ααα α α α α ααα α α ααα α α δ δ δ δ 2 ))(()( 2 2 2 Note que o primeiro termo é Iij: a componente ij tensor de inércia em relação ao sistema com origem no CM. Por outro lado, todos os termos do último somatório envolvem somas do tipo que é igual a zero porque Ri é a componente i (X, Y, ou Z) do vetor posição do CM em relação ao próprio CM. Por outro lado, 22222 aaaaa zyx k k =++≡∑ de forma que podemos escrever )( 2 jiijijij aaaMII −+=′ δ Esta equação é uma generalização do teorema dos eixos paralelos de Steiner visto no cap. 11 do Halliday-Resnick. Exemplo 11.4 -------------------------------------------- Obtenha o tensor de inércia do cubo do exemplo 11.1 em um sistema de coordenadas com origem no CM. a r r′ z′ x′ y′ y z x CM { } ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ −− −− −− =′ 3 2 4 1 4 1 4 1 3 2 4 1 4 1 4 1 3 2 2MbI x′ z′ y′ x z ya O vetor a tem componentes babaaa zyx 2321 =⇒=== Solução. De acordo com a nossa notação, a solução do exemplo 11.1 é Assim, 2 6 12 2 12 2 32 3 2 222 3 2 ])()[( )( MbbbMMb aaMMbI xxx =−−= −−= 0)( )( 2 1 2 12 4 1 2 4 1 =⋅−−−= −−−= aaMMb aaMMbI yxxy Por simetria, yzxzxyzzyyxx IIIIII ==== de forma que o tensor de inércia no sistema com origem no CM (sem linha) é ii MRrm =∑ α α α { } ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ = 6 1 6 1 6 1 2 00 00 00 MbI Em notação simplificada, { } { }1I 261 Mb= onde {1} é o tensor unitário { } ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ = 100 010 001 1 É interessante observar que quando a origem é colocada no CM o tensor {I} é diagonal: os eixos x, y e z são eixos principais de inércia. Além disso, os momentos principais de inércia, Ix, Iy e Iz, são todos iguais. No próximo exemplo vamos mostrar que, com a origem no CM, o tensor de inércia do cubo é o mesmo, independente da orientação dos eixos (como uma esfera!). Por exemplo, se os eixos fossem definidos ao longo das diagonais do cubo, teríamos o mesmo {I}. -------------------------------------------------------------- 11.6 Outras propriedades do tensor deinércia As componentes do momento angular podem ser escritas em relação a um sistema de coordenadas xyz como (11.54a) ∑= l lklk IL ω Da mesma forma, em um sistema de coordenadas x’y’z’, rodado em relação ao primeiro, podemos escrever (11.54b) ∑ ′′=′ j jiji IL ω Se λ for a matriz que faz a rotação do sistema sem linha para o sistema com linha, então λt é a matriz que faz a transformação inversa. Assim podemos escrever ∑∑ ′=′= j j t ljl m m t kmk λLλL ωω Substituindo as duas últimas equações em (11.54a), temos ∑∑∑ ′=′ j j t lj l kl m m t km ωλILλ Multiplicando ambos os lados da última equação por λik e somando sobre k, temos ∑∑∑∑ ′=′ lk j t ljklik jk m t kmik m ωλILλ , )()( λλ O termo entre parênteses no lado esquerdo da última equação é δim, de forma que podemos escrever ∑∑∑ ′=′=′ lk j t ljklik j i m mim ωλILL , )( λδ Comparando com (11.54b), temos ∑=′ lk t ljklikij λII , λ ou, em notação matricial, tλIλI =′ Uma transformação deste tipo é chamada transformação de similaridade: I’ é similar a I. Exemplo 11.5 -------------------------------------------- Mostre que o tensor de inércia do cubo (com origem no CM) independe da orientação dos eixos. Solução. O tensor de inércia obtido com o sistema de eixos do exemplo 11.4 é 1I 261 Mb= Observe que suprimimos o {}. Na nossa notação I é a matriz que contém os elementos do tensor {I}. O tensor de inércia em um outro sistema, rodado em relação ao do Exemplo 11.4 é dado por I1λλλ1λI ====′ 261261261 MbMbMb tt Portanto, o tensor de inércia independe da orienta- ção dos eixos. -------------------------------------------------------------- Na seqüência vamos examinar as condições sobre uma rotação para que os novos eixos x’y’z’ sejam eixos principais de inércia. Se o sistema com linha é formado por eixos principais, podemos escrever ∑==′ lk lj t klikijiij III , λλδ Multiplicando ambos os lados por λtmi e somando sobre i, ∑ ∑∑ = lk lj t klik i t mi i ij t mii II , )( λλλδλ O termo entre parênteses é δmk, de forma que podemos escrever ∑= l lj t ml t mjj II λλ ou ∑= l mljljmj II λλ O lado esquerdo desta equação pode ser escrito como ∑= l mljljjmj II δλλ de forma que ∑∑ = l mljl l mljlj II λδλ ou 0)( =−∑ jl l mljml II λδ Temos portanto, um sistema de três equações acopladas (uma para cada valor de m), ou seja, 0)( 0)( 0)( 333232131 323222121 313212111 =−++ =+−+ =++− jjjj jjjj jjjj IIII IIII IIII λλλ λλλ λλλ Este sistema só apresenta solução não trivial se o determinante dos coeficientes for nulo, isto é, se 0 333231 232221 131211 = − − − j j j IIII IIII IIII que é a mesma equação secular obtida anterior- mente. Resolver a equação secular é equivalente a encontrar a matriz transformação λ tal que I’ seja diagonal. A seguir vamos mostrar que os eixos principais de inércia são ortogonais. Suponha que Im seja o momento de inércia em relação ao eixo principal m. Se w estiver orientado na direção deste eixo então L é paralelo a w e, neste caso, podemos escrever, mmm wIL = onde o índice m indica que Lm e wm apontam na direção do eixo Im. Em termos das componentes, podemos escrever immim IL ω= onde o índice i indica a componente do vetor Lm. Por outro lado, em termos do tensor não diagonal, podemos escrever ∑= k kmikim IL ω Combinando estas duas relações temos, (11.81a) imm k kmik II ωω =∑ Similarmente, para o eixo principal n, (11.81b) knn i inki II ωω =∑ Multiplicando a primeira equação por ωin e somando sobre i, e multiplicando a segunda por ωkm e somando sobre k, temos , , ∑∑ ∑∑ = = k kmknn ki kminki i iminm ki kminik II II ωωωω ωωωω Como o tensor de inércia é simétrico (Iik = Iki), os lados esquerdos são iguais. Os somatórios nos lados direitos também são iguais porque diferem apenas no índice de soma. Assim (11.84) 0)( =− ∑ k kmknnm II ωω Se os momentos de inércia forem diferentes (Im ≠ In), podemos escrever 0=∑ k kmknωω ou 0=⋅ nm ww Como m e n são arbitrários, podemos dizer que se os três momentos principais de inércia forem todos diferentes (pião assimétrico), os três eixos princi- pais são mutuamente perpendiculares. Se houver uma dupla raiz, por exemplo I1 ≠ I2 = I3, podemos escrever 0 0 2121 =⋅=⋅ wwww Assim só podemos dizer que I1 é perpendicular a I2 e a I3 mas não podemos dizer que I2 é perpendi- cular a I3. Contudo, o fato de termos I2 = I3 implica na existência de um eixo de simetria ao longo de w1. Então a única exigência é que w2 e w3 estejam no plano perpendicular a w1. Neste caso, não há nenhuma perda de generalidade se escolhermos w2 perpendicular a w3, de forma que os três eixos principais de inércia sejam perpendiculares entre si. Finalmente, vamos mostrar que as três raízes da equação secular (cúbica) são todas reais. Para isto vamos admitir (por absurdo) que I possa ser complexo: nesse caso, w também poderia ser complexo. Repetindo a equação (11.81a) e tomando o complexo conjugado de (11.81b) temos ∗∗∗∗ =∑ knn i inki II ωω imm k kmik II ωω =∑ Agora multiplicamos a primeira equação por e somamos sobre i e multiplicando a segunda por e somamos sobre k. Considerando que o tensor I é real e simétrico , obtemos ∗ inω kmω )( ikki II =∗ 0)( ** =− ∑ k kmknnm II ωω Se fizermos m = n, 0)( ** =− ∑ k kmkmmm II ωω O somatório é exatamente a definição do produto escalar de dois vetores complexos. Assim podemos escrever, 0** >=⋅ ∑ k kmkmmm ωωww de forma que * mm II = Portanto, Im é real. Note que em todas as provas exibidas nesta seção só usamos o fato que I é simétrico e real. Assim, os resultados demonstrados valem também para outros tensores com estas propriedades. 11.7 Ângulos de Euler A transformação de um sistema de coordenadas fixo para um sistema no corpo pode ser representada por uma matriz λ que contém três ângulos independentes. Existem muitas escolhas possíveis para estes ângulos mas a mais tradicional é usar os chamados ângulos Euler. Vamos denotar por o sistema fixo e o sistema no corpo. Uma rotação geral pode ser expressa em termos dos ângulos de Euler utilizando uma série de três rotações as quais mostraremos a seguir. 1. Uma rotação no sentido anti-horário, de um ângulo φ, em torno do eixo . Esta rotação gera um sistema de coordenadas intermediário que chamaremos . A matriz que faz esta rotação é dada por ix′ ix 3x′ ix ′′ ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ −= 100 0cossen 0sencos φφ φφ φλ 1x′ 2x′ 33 xx ′′=′ φ 1x ′′ 2x ′′ Note que a velocidade angular, denotada por , aponta ao longo do eixo . Em notação ma- tricial podemos escrever 33 xx ′′=′ φ& xλx ′=′′ φ 2. Uma rotação no sentido anti-horário, de um ângulo θ, em torno do eixo . Esta rotação gera outro sistema de coordenadas que chamaremos . A matriz que faz esta rotação é dada por 1x ′′ ix ′′′ ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ − = θθ θθθ cossen0 sencos0 001 λ 1x′ 2x′ 33 xx ′′=′ φ 11 xx ′′′=′′ 2x ′′ 2x ′′′ φ& φ&3 x ′′′ θ θ θ& Note que aponta ao longo do eixo . Em notação matricial θ& 11 xx ′′′=′′ 3. Uma rotação no sentido anti-horário, de um ângulo ψ em torno do eixo . Esta rotação gera o sistema de coordenadas que gira com o corpo, chamado aqui de . A matriz quefaz esta rotação é dada por 3x ′′′ ix ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ −= 100 0cossen 0sencos ψψ ψψ ψλ xλx ′′=′′′ θ Note que aponta ao longo do eixo . Em notação matricial ψ& 33 xx =′′′ xλx ′′′= ψ A interseção dos dois planos da figura é chamada linha de nodos. Ela coincide com o eixo . 11 xx ′′′=′′ φ φ 1x′ 2x′ 33 xx ′′=′ φ 11 xx ′′′=′′ 2x ′′ 2x ′′′ φ&33 xx =′′′ θ θ θ& 1x 2x ψ ψψ& A transformação completa é dada por xλλλx ′= φθψ de forma que a matriz rotação é φθψ λλλλ = Os elementos desta matriz são dados por φ φθλ ψφθφψλ ψφθφψλ sensen cossencoscossen sensencoscoscos 31 21 11 = −−= −= φθλ ψφθφψλ ψφθφψλ cossen coscoscossensen sencoscossencos 32 22 12 −= +−= += θλ θψλ θψλ cos sencos sensen 33 23 13 = = = As componentes das velocidades angulares inter- mediárias em relação ao sistema no corpo são dadas por (olhe para a última figura com muita atenção) ) e ,( ψθφ &&& θφφ ψθφφ ψθφφ cos cossen sensen 3 2 1 && && && = = = 0 sen cos 3 2 1 = −= = θ ψθθ ψθθ & && && ψψ ψ ψ && & & = = = 3 2 1 0 0 As componentes da velocidade angular, associada à rotação completa, em relação ao sistema no corpo, são ψθφω ψθψθφω ψθψθφω && && && += −= += cos sencossen cossensen 3 2 1 11.8 As equações de Euler para um corpo rígido As equações que descrevem o movimento de rotação de um corpo rígido são chamadas equações de Euler. Para deduzí-las volte à segunda figura da página 1 e troque r por L, e consequentemente, v por dL/dt. Agora você deve interpretar a figura assim: enquanto o corpo gira o momento angular, no sistema do corpo, precessiona em torno de w. o momento angular no sistema fixo é dado por LwLL ×+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛=⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ corpofixo dt d dt d Como o referencial fixo é inercial, podemos escrever NL =⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ fixodt d e portanto NLwL =×+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ corpodt d Se escolhermos os eixos do sistema no corpo como sendo eixos principais de inércia, podemos escre- ver iiiiii ILIL ωω && =⇒= Por exemplo, para i = 3, temos 312213 NLLL =−+ ωω& Assim 3211233 )( NIII =−+ ωωω& Fazendo o mesmo para as outras componentes obtemos as equações de Euler. 3212133 2131322 1323211 )( )( )( NIII NIII NIII =−− =−− =−− ωωω ωωω ωωω & & & Estas equações podem ser escritas (verifique) em termos do tensor de Levi-Cevita com 0)()( =−−− ∑ k ijkkkkjiji NIII εωωω & O tensor de Levi-Cevita é definido como ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ = cíclica nãofor índices dos ordem a se 1 cíclicafor índices dos ordem a se 1 repetidos índiceshouver se 0 - ijkε onde i j k i j k cíclica ordem cíclica não ordem Exemplo 11.8 -------------------------------------------- Considere o alteres da seção 11.3. Obtenha o momento angular do sistema e o torque requerido para manter o movimento mostrado na figura. Solução. Seja . Vamos escolher o eixo x3, no sistema do corpo, ao longo da barra, x2 ao longo de L e x1 ao longo de v1. As componentes da velocidade angular, no sistema do corpo, são • • 2v 2m 2r 1r 1vw L 1m 3e 1e α 0 cossen)( 22 22 211 ==+−= NNbmmN ααω Assim, o torque requerido para fazer o sistema girar como na figura deve apontar na mesma direção e em sentido contrário a e1 (ou v1). b== 21 rr αωωαωωω cos sen 0 321 === Por sua vez, os momentos principais de inércia são 0 )( 3 2 2121 =+== IbmmII Como Li = Iiωi, podemos escrever 0 sen)( 0 3 2 2121 =+== LbmmLL αω de acordo com a escolha de e2 ao longo de L. Por outro lado, das equações de Euler, temos Problemas 1. Calcule o tensor de inércia para uma esfera homogênea de raio a e massa m. Tome a origem no centro da esfera. 2. Calcule o tensor de inércia para um cone homogêneo de massa m, altura h e raio da base R. Tome o eixo z como sendo o eixo do cone e considere a origem no vértice. Faça uma transformação para uma nova origem no centro de massa do cone. 3. Calcule o tensor de inércia para um elipsóide homogêneo de massa m e semi-eixos a, b e c. 4. Um cubo homogêneo, de aresta a, está inicial- mente em uma posição de equilíbrio instável com uma de suas arestas em contato com um plano horizontal. Ao cubo é dado um pequeno deslocamento de tal maneira que ele irá cair. Mostre que a velocidade angular do cubo quando uma face atinge o plano é dada por )12(2 −= a gAω onde A = 3/2 se a aresta em contato com o plano não deslizar e A = 12/5 se a aresta deslizar sem 5. Mostre que nenhum dos momentos principais de inércia pode exceder à soma dos ostros dois. 6. Um sistema de três partículas consiste das seguintes massas e coordenadas: )0,,( ,2 ),,( ,4 ),0,( ,3 3 2 1 bbmm bbbmm bbmm −= −= = Obtenha o tensor de inércia, os eixos principais e os momentos principais de inércia. 7. Determine o tensor de inércia de um hemisfério homogêneo de raio a e massa m com relação ao seu centro de massa. atrito sobre o plano. 2e
Compartilhar