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2.1 Introdução O objetivo da mecânica é fornecer uma descrição consistente dos movimentos dos corpos materiais. Para este propósito são necessários alguns conceitos fundamentais, como distância e tempo, além de um conjunto de leis físicas que descrevam matematicamente os movimentos. Em geral as leis físicas devem ser baseadas em fatos experimentais. Um conjunto de experimen- tos correlacionados dá origem a um ou mais postulados. A partir destes postulados várias previsões podem ser formuladas e investigadas experimentalmente. Se todas as previsões forem confirmadas experimentalmente, os postulados assumem o status de lei física. Se alguma previsão discordar do experimento, a teoria deve ser modificada. Vamos iniciar este capítulo enunciando as leis fundamentais da mecânica: as leis de Newton do movimento. Em seguida iremos discutir os seus significados e obter implicações destas leis em várias situações físicas. Nos concentraremos no movimento de uma única partícula, deixando o estudo de sistemas de partículas para o Capítulo 9. 2.2 As leis de Newton As três leis de Newton que descrevem os movimentos dos corpos materiais podem ser enunciadas da seguinte forma: I. Um corpo permanece em repouso ou em movimento retilíneo uniforme a não ser que alguma força atue sobre ele. II. Um corpo sob a ação de uma força move-se de tal forma que a taxa de variação no tempo do seu momento linear é igual à força. III. Se dois corpos exercem forças, um sobre o outro, estas forças são iguais em módulo e direção e possuem sentidos opostos. (2.1) vp m= 2 Mecânica newtoniana: uma partícula Existem diferentes maneiras de interpretar o conjunto das três leis de Newton. De acordo com a linha de raciocínio utilizada em nosso livro- texto (Marion) a primeira e segunda leis de Newton seriam apenas definições de força, estando toda a física contida na terceira lei. Com relação à primeira lei, o argumento é que ela não tem nenhum significado sem o conceito de força. Ela diz que se não houver força atuando sobre o corpo, sua aceleração é nula. Mas como saber se há ou não força atuando sobre o corpo? Evidentemente, não poderíamos usar o enunciado da primeira lei para dizer que “se o corpo permanecer em repouso ou em movimento retilíneo uniforme então não há força atuando sobre ele”. Portanto, a primeira lei sozinha nos daria apenas uma noção qualitativa de força. Com relação à segunda lei, se definirmos o momento linear como ( ) (2.2)d d m m dt dt = = =pF v a De acordo com o argumento do nosso livro-texto, esta equação só tem significado completo com a definição de massa. Mesmo aceitando que massa (assim como comprimento e tempo) é um conceito entendido, a segunda lei de Newton só poderia ser vista como uma definição operacional de força. Assim, somente a terceira lei de Newton seria de fato uma lei. Outro ponto de vista considera que as três leis de Newton são realmente leis, no sentido em que seus enunciados implicam em fenômenos físicos que podem e devem ser questionados experimen- talmente. Este ponto de vista está bem fundamen- tado no capítulo 4 do livro Física Básica: Mecânica, do Moysés Nussenzveig. ela pode ser escrita como 1 Com relação à primeira lei, o argumento é que a existência de uma força atuando sobre o corpo pressupõe a existência de um agente externo que, em princípio, poderia ser identificado. A ausência deste agente indica que nenhuma força atua sobre o corpo. Daí pode-se verificar se, nestas condi- ções, o corpo permanece em seu estado de repouso ou movimento retilíneo uniforme. A experiência diz que sim, de forma que a primeira lei de Newton é verificada experimentalmente. Newton não incluiu esta reflexão no seu Principia, provavelmente porque a tenha conside- rado óbvia. Considere agora a experiência mostrada na figura abaixo. Um bloco apoiado sobre uma superfície horizontal lisa é puxado por meio de uma mola que exerce uma força sobre ele. O bloco sofre uma aceleração que vamos chamar de a1. Em seguida repetimos a experiência com um bloco diferente, mas aplicando a mesma força (a mesma distensão na mola). Vamos chamar a aceleração do segundo bloco de a2. De acordo com o enunciado da segunda lei de Newton, podemos definir a razão das massas como sendo o inverso da razão das acelerações: Atribuindo um valor a m1 (por exemplo m1 = 1 kg), podemos determinar a massa m2. Tendo as massas, podemos determinar a força. Por este raciocínio, a segunda lei de Newton seria, de fato, nada mais que uma definição de força. Mas e se repetirmos a experiência aplicando uma força diferente? A razão m2/m1 será a mesma? Em outras palavras, a constante de proporcionalidade (a massa) entre força e aceleração continua a mesma para cada bloco? Se não for assim, a definição de massa dada pela equação acima não faz sentido. Mas a experiência diz que sim, a razão m2/m1 é independente da força aplicada. Portanto, a relação F = ma é validada pela experiência e a segunda lei de Newton é uma lei física e não uma mera definição. 2 1 1 1 2 2 1 2 m aF m a m a m a = = ⇒ = 2v Com relação à terceira lei de Newton, um aspecto importante é que ela não é uma lei de natureza geral. Ela é válida sempre que a força não depender das velocidades das partículas, como no caso das forças gravitacional e eletrostática. Estas forças atuam ao longo da linha que une os corpos (por enquanto supostos pontuais) e por isso são chamadas forças centrais (na verdade, a força gravitacional também depende da velocidade mas em geral esta dependência é muito pequena e difícil de ser detectada, mesmo para velocidades muito grandes). Muitas vezes as forças elásticas entre objetos, como a força que uma mola exerce sobre um bloco, são manifestações macroscópicas da força eletrostática (são as forças eletrostáticas entre os átomos da mola que dão origem à força elástica). Por conseguinte, estas forças também obedecem à terceira lei de Newton Um caso em que a terceira lei de Newton não vale é o das forças entre cargas elétricas em movimento (forças magnéticas). A força magnética F12 exercida sobre uma carga q1, com velocidade v1 e situada na posição r1, por uma carga q2, com velocidade v2 e situada na posição r2, é dada por onde Invertendo os papéis de q1 e q2 obtemos Para a configuração de cargas (supostas positivas) indicada na figura abaixo, F12 é uma força apontando para cima (verifique) enquanto que F21 é nula (note que ). Portanto, a terceira lei de Newton não é válida neste caso. 12 1 2= −r r r 0 1 2 12 1 2 123 12 ( ) 4 q q r μ π= × ×F v v r 1v12r 2q 1q 0 1 2 21 2 1 213 12 ( ) 4 q q r μ π= × ×F v v r 1 21 0× =v r 2 12F A terceira lei de Newton pode ser enunciada de uma forma diferente que contém uma definição operacional de massa. III’: Se dois corpos que exercem força um sobre o outro constituem um sistema isolado, então as acelerações desses corpos estão sempre em senti- dos opostos e a razão dos módulos das acelera- ções é igual ao inverso da razão das massas. Para entender o significado dessa afirmação considere o sistema isolado formado pelos dois corpos da figura abaixo. 12 21 (2.3) = −F F Da segunda lei de Newton, temos 12F 21F 1m 2m (2.4) 21 dt d dt d pp −= Supondo a massa constante (no tempo), 2211 dt dm dt dm vv −= ou 2211 aa mm −= A terceira lei de Newton afirma que Tomando esta equação em módulo, podemos escrever (2.5) 2 1 1 2 a a m m = gW m= A validade deste métododepende, contudo, do fato da massa que aparece na equação acima ser a mesma massa que aparece na segunda lei de Newton. Isto, evidentemente, não é óbvio: é um fato que deve ser comprovado experimentalmente. Na verdade, existem dois conceitos diferentes de massa: Massa inercial: é aquela que determina a aceleração de um corpo quando sujeito à ação de uma força (a que aparece na segunda lei de Newton). Massa gravitacional: é aquela que determina a força gravitacional entre um corpo e outro corpo vizinho (a que aparece na lei da gravitação universal, que vamos estudar no capítulo 5). Muitas experiências foram realizadas com o objetivo de verificar a equivalência entre estas duas grandezas (a mais antiga é a famosa experiência onde Galileu teria deixado cair objetos diferentes da Torre de Pisa, mostrando que chegavam juntos ao solo). Todas elas têm mostrado que a massa inercial é igual à massa gravitacional (as mais precisas com uma precisão de uma parte em 1012). A suposição da equivalência exata destes dois conceitos é de fundamental importância na teoria geral da relatividade e é conhecida como princípio da equivalência. Outra interpretação da terceira lei de Newton é baseada no conceito de momento linear. Para o sistema de duas partículas da figura acima, podemos escrever (da equação 2.4) 0)( 21 =+ppdt d 3 Supondo que m1 seja uma massa padrão (1 kg, por exemplo), podemos determinar a massa m2 do segundo corpo através da equação acima. Uma das formas mais comuns de se medir a massa de um corpo é pesando-o. O método baseia- se na suposição de que a Terra exerce sobre ele uma força (peso) proporcional à sua massa, ou seja, ou cte=+ 21 pp Podemos dizer então que o momento linear de um sistema isolado constituído de duas partículas é conservado. No Capítulo 9 mostraremos que esta afirmação é válida para um sistema isolado com muitas partículas. 2.3 Referenciais As leis de Newton não são válidas em todos os referenciais. Os referenciais em relação aos quais elas são válidas são chamados referenciais inerciais. Suponha que a posição de uma partícula em relação a um referencial inercial S seja dada por r. Como a segunda lei de Newton é válida nesse referencial, então ou seja, a segunda lei de Newton também é válida em relação ao referencial S’. Este resultado permite-nos dizer que todos os referenciais que se movem em relação a um referencial inercial com (vetor) velocidade constante também são referen- ciais inerciais. As estrelas estão tão distantes da Terra que não podemos perceber mudanças nas suas posições mesmo em intervalos de tempo muito grandes (anos ou até séculos). É muito comum encontrarmos na literatura o termo “estrelas fixas” para se referir a todas as estrelas, com exceção do Sol. O termo foi introduzido na antiguidade para distinguir as estrelas (fixas) dos planetas, que eram chamados estrelas errantes. As estrelas (fixas) definem referenciais inerciais convenientes em muitas situações de interesse e todos os referenciais que se movem com velocidade constante em relação a elas também são referenciais inerciais. Acredita-se que as leis da mecânica são as mesmas para todos os referenciais inerciais, ou seja, que não há um referencial absoluto na natureza. A inexistência de um referencial inercial absoluto é chamada de invariância galileana ou princípio da relatividade newtoniana. rF &&m= onde cada ponto indica uma derivada em relação ao tempo. Se um segundo referencial S’ se move em relação ao primeiro com velocidade constante, então a posição da partícula neste referencial é dada por tvrr −=' e portanto, rr &&&& =' Desta forma, podemos escrever 'rF &&m= A seguir mostramos uma ilustração de uma situação onde as leis de Newton não são válidas. Uma bola de massa m está pendurada no teto de um ônibus que se movimenta para a direita com aceleração constante a. Um observador no ponto de ônibus (ref. inercial P) observa o movimento da bola. Ele não vê movimento na vertical, fato que explica argumentando que a componente vertical da tensão no fio compensa o peso da bola. Ele vê a bola acelerada na horizontal e diz que esta aceleração é causada pela componente horizontal da tensão, o que está de acordo com a segunda lei de Newton. Ao contrário, para um observador O situado no interior do ônibus, parece haver uma contradição. Ele também entende que há uma componente da tensão atuando na horizontal mas não vê a bola acelerada. Para ele a bola está em repouso. Então ele conclui que a segunda lei de Newton não está sendo obedecida. As leis de Newton não são válidas no referencial O porque ele é um referencial acelerado e elas só são válidas em referenciais inerciais. A descrição do movimento visto de referenciais não inerciais é um pouco mais complicada e será apresentada no Capítulo 10. W T a O P 2.4 A equação de movimento para uma partícula Na mecânica clássica, o movimento de uma partícula é descrito pela segunda lei de Newton (2.7)m=F r && Se a função F for conhecida, esta equação diferencial pode, em princípio, ser resolvida para se obter r como função do tempo. Como ela é uma equação diferencial de segunda ordem, a sua solução possui duas constantes de integração que podem ser determinadas especificando-se, por exemplo, os valores de r e v no instante inicial. 4 Em princípio, a força pode depender de r, v e t: F(r,v,t). Entretanto, na maioria dos problemas que trataremos aqui, F será função somente de uma destas variáveis: F(r), F(v) ou F(t). No restante desta seção vamos resolver a equação (2.7) para uma série de situações físicas. Exemplo 2.1 --------------------------------------------- Qual a aceleração de um bloco que desliza para baixo em um plano inclinado sem atrito com θ = 30o (fig. abaixo)? W N θ x y Solução. Existem duas forças atuando sobre o bloco: a força gravitacional, W, e a reação normal do plano sobre o bloco, N. A força total sobre o bloco é NWF += de forma que a segunda lei de Newton pode ser escrita como rNW &&m=+ Como esta é uma equação vetorial, possui duas componentes escalares: uma para a direção x e outra para a direção y. Como o bloco é obrigado a permanecer sobre o plano, não há aceleração na direção y, de forma que 0cos =+− NW θ Na direção x temos xmW &&=θsen o que nos leva a θθθ sensensen g m mg m Wx ===&& Supondo g = 9,8 m/s2 e θ = 30o, temos 2/ 9,430sen smgx o ==&& Exemplo 2.2 --------------------------------------------- Se o coeficiente de atrito estático entre o bloco e o plano do exemplo anterior for μs = 0,4, qual o ângulo para o qual o bloco começa a deslizar? Suponha que ele esteja inicialmente em repouso. W N θ x y Solução. Neste caso há uma terceira força atuando sobre o bloco: a força de atrito estática, fs. A força resultante é, portanto, sfNWF ++= sf As componentes da equação de movimento são: 0cos : Direção =+− NWy θ xmWf x &&=+− θsen : Direção s A força de atrito estática pode assumir qualquer valor necessário para manter o bloco em repouso. Contudo, no limite em que o bloco começa a deslizar, temos Nf sμ≤s θμμ cosmaxs,s mgNff ss === Desta forma, a equação de movimento na direção x torna-se 0cossen =− θμθ mgmg s ou θμθ cossen s= 1tg sθ μ−= Considerando μs = 0,4 temos o22=θ 5 0=x&& e ou ainda, θ θ Solução. A equação de movimento na direção x é Exemplo 2.3 --------------------------------------------- Depois que o bloco do exemplo anterior começa a deslizar o coeficiente de atrito cinético torna-se μk = 0,3. Obtenha a aceleração do bloco para θ = 30o.kfWxm −= θsen&& 6 onde a força de atrito cinética é dada por θμμ cosmgNf kkk == Assim ( )θμθ cossen kmgxm −=&& ( )θμθ cossen kgx −=&& Substituindo g = 9,8 m/s2, θ = 30o e μk = 0,3, 2/ 4,2 smx =&& -------------------------------------------------------------- Forças de retardamento Forças de resistência ao movimento, como a força de atrito, nem sempre são constantes. Por exemplo, a força de resistência do ar atuando sobre um objeto em queda é uma função da velocidade do objeto. Em geral a força de resistência é uma função complicada da velocidade mas para certos intervalos de velocidade ela pode ser escrita, de forma aproximada (em módulo) como uma lei de potência simples n r mkF υ= onde mk é uma constante positiva que depende do formato do objeto e da densidade do ar (a massa é escrita explicitamente por uma questão de conveniência). Verifica-se experimentalmente que para objetos relativamente pequenos movendo-se no ar, n ≈ 1 para velocidades menores que algo em torno de 24 m/s. Para velocidades entre este valor e a velocidade do som (330 m/s) a força de resistência é melhor descrita por n = 2. Exemplo 2.4 --------------------------------------------- Uma partícula movimenta-se na horizontal, em um meio em que a força de resistência é proporcional à velocidade. Obtenha a posição e a velocidade da partícula como funções do tempo. Solução. A equação de movimento na direção x é dada por υυ mk dt dmxm −==&& onde mkυ é o módulo da força de resistência e o sinal – indica que a força é contrária à velocidade. Da equação acima podemos escrever ∫∫ −= dtkdυυ Integrando de ambos os lados, temos 1ln Ckt +−=υ A constante de integração C1 pode ser obtida a partir do valor da velocidade no instante inicial. Supondo que a velocidade em t = 0 seja υo, temos oC υln1 = Assim ln ln o ktυ υ− = − ktoeυ υ −⇒ = Esta expressão pode ser integrada para obter x como função do tempo: kt oedt dx −== υυ ∫ +−== −− 2Cekdtex ktokto υυ C2 pode ser determinado a partir do valor inicial de x. Supondo que a posição em t=0 seja x=0, temos k C oυ=2 Portanto, ( )kto e k x −−= 1υ Note que x aproxima-se assintoticamente do valor υo / k quanto t →∞. Podemos obter a velocidade como função da posição da partícula escrevendo d d dx d dt dx dt dx υ υ υυ= = Assim d dk k dx dx υ υυ υ= − ⇒ = − 7 Exemplo 2.5 --------------------------------------------- Considere uma partícula movendo-se na vertical em um meio onde a força de resistência é proporcional à velocidade. Obtenha a posição e a velocidade da partícula como funções do tempo. Solução. Vamos supor que no instante inicial a partícula encontra-se a uma altura h acima do solo e que sua velocidade inicial seja υo. Vamos orientar o eixo y na vertical com sentido positivo para cima, como na figura abaixo. Integrando, 3Ckx +−=υ Com a condição de que υ = υo para x = 0, temos C3 = υo. Assim kxo −=υυ A velocidade decresce linearmente com o desloca- mento! Existem duas forças atuando sobre a partícula: a força peso e a resistência do meio. A equação de movimento pode ser escrita como h W rF υυ kmmg dt dm −−= O sinal – no primeiro termo indica que a força peso aponta para baixo. Por sua vez o sinal – no segundo termo indica que a força de resistência é contrária à velocidade (seja ela para cima ou para baixo). As dependências em υ e em t da equação acima podem ser separadas se escrevermos dt gk d −=+υ υ ( ) 1ln1 Ctgkk +−=+υ Supondo υ = υo em t = 0 (υo pode ser positivo ou negativo), temos ( )gk k C o += υln11 Assim kt gk gk o −=⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ + + υ υln kt o e gk gk −=+ + υ υ )29.2( kto e k gk k g −⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ++−= υυ Integrando, temos Integrando esta expressão temos 22 Cek gkt k gy kto +⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ +−−= −υ Como y = h em t = 0, 22 k gkhC o ++= υ e portanto, ( ) )30.2( 12 kto ek gktkghy −−⎟⎠⎞⎜⎝⎛ ++−= υ A Eq. (2.29) mostra que quando t → ∞, υ → – g/k. Este valor limite da velocidade é chamado velocidade terminal. υ t k g o >υ k g o <υ 0=oυ k g 8 y A figura acima mostra os gráficos do módulo da velocidade em função do tempo para o caso em que a velocidade inicial é negativa (para baixo). Se a velocidade inicial é maior que a velocidade terminal (em módulo), |υ| vai diminuindo até atingir o valor limite g/k. Se a velocidade inicial é menor que a velocidade terminal (em módulo), |υ| vai aumentando até o valor limite g/k. Exemplo 2.6 --------------------------------------------- A figura abaixo mostra uma bala de canhão que é atirada com uma velocidade inicial υo em uma direção que forma um ângulo θ acima da horizontal. Calcule a posição e a velocidade como funções do tempo e o alcance do projétil. Numa primeira aproximação despreze a resistência do ar. Solução. A equação de movimento (vetorial) é x θ gr mm =&& Como a força peso só tem componente na vertical (para baixo), temos: (2.31a) 0 : Direção =xmx && (2.31b) : Direção mgymy −=&& As condições iniciais são: θυ cosox =& θυ costx o= θυ senogty +−=& Integrando duas vezes as equações (2.31a) e (2.31b), temos: 0)0()0( ==== txty θυ sen 2 2 tgty o+−= O módulo da velocidade da partícula é dado por θυυυ sen222222 gttgyx oo −+=+= && Por sua vez, o módulo do deslocamento é θυυ sen 4 3 42 2222 gttgtyxr oo −+=+= O alcance é o valor de x quando a bala cai no chão, ou seja, o valor de x quando y = 0. Se T for o tempo de vôo do projétil, então θυ cos)0( otx ==& θυ sen)0( oty ==& 0sen 2 )( 2 =+−= θυ TgTTy o g T o θυ sen2= O alcance é dado por θυθθυ 2sencossen2)( 22 gg TxR oo === Exemplo 2.7 --------------------------------------------- Calcule o alcance do projétil do exemplo anterior sob a suposição de que uma força de resistência do ar proporcional à velocidade atua sobre ele. Solução. As condições iniciais são as mesmas do exemplo 2.6 mas as equações de movimento tornam-se (2.41) xmkxm &&& −= (2.42) mgymkym −−= &&& A (2.41) é a mesma equação que aparece no exemplo 2.4 mas a componente horizontal da velocidade inicial é υocosθ e não υo. Assim ( ) (2.43) 1cos kto e k x −−= θυ Por sua vez, (2.42) é a mesma equação que aparece no exemplo 2.5. Fazendo h = 0 e trocando υo por υosenθ em (2.30) temos ( ) (2.44) 1sen2 kto ek gkkgty −−++−= θυ O tempo de vôo pode ser obtido da equação ( ) 01sen)( 2 =−++−= −kTo ek gkkgTTy θυ ou seja, ( ) (2.45) 1sen kTo e gk gkT −−+= θυ 9 Não é possível resolver a equação acima analiticamente, ou seja, não podemos obter uma expressão para T em termos de υ0, θ, g e k. Mas se os valores numéricos destas grandezas forem conhecidos, podemos resolvê-la através de métodos numéricos. Por exemplo, podemos estipular um valor inicial para T e substituí-lo na (2.45). Em um segundo momento tomamos o valor calculado de T, substituímos novamente em (2.45) e comparamos o valor calculado com o valor substituído. Este procedimento pode ser repetido até que o valor calculado coincida com o valor substituído (dentro de uma precisão numérica desejada). Quando isto acontecer, teremos encontrado a solução numérica de (2.45). Então o valor calculado de T pode ser substituído em (2.43) para o cálculo do alcance. Outro método para resolver (2.45), que é útil quando k é pequeno, é o método das perturbações (veja detalhes no livro). Exemplo 2.9 --------------------------------------------- A figura abaixo mostra uma máquina de Atwood. Ela consiste de uma polialisa com duas massas suspensas, presas nas extremidades de uma corda leve. Obtenha a aceleração de cada massa e a tensão na corda (a) quando a polia está em repouso e (b) quando a polia está dentro de um elevador que desce com aceleração constante α. 1m 1m 1T 2T 2W 1W 1x 2x Solução. (a) Se desprezarmos a massa da corda e supormos que a polia seja perfeitamente lisa podemos dizer que os módulos de T1 e T2 são iguais: chamaremos estes módulos de T. As equações de movimento para os dois corpos são: (2.66) 111 Tgmxm −=&& (2.67) 222 Tgmxm −=&& A tensão na corda pode ser eliminada das equações acima. Por exemplo, subtraindo (2.67) de (2.66), temos gmgmxmxm 212211 −=− &&&& Se a corda for inextensível, então 21 xx &&&& −= de forma que (2.68) )( 2 21 21 1 xmm gmmx &&&& −=+ −= Observe que o corpo que possuir massa maior terá aceleração positiva (para baixo) enquanto o outro corpo terá aceleração negativa (para cima). A tensão na corda pode ser calculada substituindo (2.68) em (2.66) ou em (2.67). A expressão obtida é g mm mmT 21 212 += (b) 1m 1m 1T 2T 2W 1W 1x 2x Vamos chamar de x’ a distância entre a polia e um ponto de referência fixo. As posições das massas em relação a este ponto são: 'x 1 'x 2 'x 1 1 2 2' ' ' 'x x x x x x= + = + As leis de Newton somente são válidas em referenciais inerciais, como o ponto fixo da figura. Neste referencial, as equações de movimento são: 1 1 1 1 1' ( )m x m x x m g T′= + = −&& && && 10 2 2 2 2 2' ( )m x m x x m g T′= + = −&& && && α='x&&Como , estas equações podem ser reescritas como (2.70a) )(111 Tgmxm −−= α&& (2.70b) )(222 Tgmxm −−= α&& As equações 2.70a e 2.70b são iguais às equações 2.66 e 2.67, com g substituído por g – α. Assim, a aceleração e a tensão na corda são dadas por ))(( 2 21 21 1 xmm gmmx &&&& −=+ −−= α ( ) 2 21 21 mm gmmT + −= α É como se a aceleração da gravidade tivesse sido reduzida para g – α. Exemplo 2.10 ------------------------------------------- Considere uma partícula carregada entrando em uma região onde existe um campo magnético uniforme, de módulo B, apontando na direção y. Determine o movimento subsequente da partícula. Solução. A equação de movimento é Bvr ×= qm && ou ( ) ( ) ( )ik jkjikji zxBq Bzyxqzyxm && &&&&&&&&& −= ×++=++ Esta equação vetorial corresponde às seguintes equações escalares: zqBxm &&& −= 0=ym && xqBzm &&& = Definindo mqB /=α temos )(2.74 azx &&& α−= )(2.74 0 by =&& )(2.74 cxz &&& α= A (2.74b) é independente das outras duas e pode ser facilmente resolvida. Integrando uma vez, temos oyy && = Integrando novamente, oo ytyy += & É fácil ver que a projeção do movimento da partícula no eixo y é um movimento uniforme. Ao contrário de (2.74b), as equações (2.74a) e (2.74c) são acopladas. Uma forma de desacoplá-las é substituir uma delas na derivada da outra. Assim obtemos: )(2.75 2 azz &&&& α−= )(2.75 2 bxx &&&& α−= É sabido que, depois de derivadas duas vezes, as funções seno e cosseno voltam nelas mesmas, a menos de uma constante negativa. Isto sugere que as soluções de (2.75) são do tipo (verifique): A, A´, B, B´, xo e zo são constantes de integração a serem determinadas (xo e zo não são os valores de x e z no instante t=0). As constantes A, A´, B e B´ não são independentes: elas devem ser amarradas para satisfazer as equações (2.74a) e (2.74c). Substituindo as equações (2.76) na (2.74a), temos (2.76a) sencos oxtBtAx ++= αα (2.76b) sen'cos' oztBtAz ++= αα ( ) ( )tBtAtBtA αααααα cos'sen'sencos 22 +−−=+− Para que esta igualdade seja válida para qualquer t os coeficientes dos senos e cossenos devem ser iguais. Assim ' 'B A A B= = − Se tivéssemos substituído as equações (2.76) na (2.74c) chegaríamos ao mesmo resultado. As equações (2.76) podem ser reescritas como 11 tBtAxx o αα sencos +=− tAtBzz o αα sencos +−=− Para facilitar a interpretação desta solução é conve- niente reescrevê-la como δδ sen cos RBRA −== ( ) δαδα δα sensencoscos cos tRtR tRxx o −= +=− ( ) δαδα δα sencoscossen sen tRtR tRzz o += +=− Quando projetamos o movimento da partícula no plano xz, vemos que ela descreve um movimento circular uniforme de raio R centrado no ponto (xo, zo). Simultaneamente, a partícula se move ao longo do eixo y com velocidade constante, de forma que a sua trajetória é uma espiral. R δα +t z x x y z B 2.5 Teoremas de conservação A seguir vamos deduzir alguns teoremas importantes sobre quantidades conservadas. Deve- se ressaltar que estes teoremas não são novas leis da mecânica. Eles são conseqüências das leis de Newton e, nesse sentido, as suas verificações experimentais são provas da validade destas leis. I. Conservação do momento linear. Da segunda lei de Newton ox oz Quais são as seis constantes de integração deste problema? Quais são os seus significados? Qual o significado de α ? α pode ser negativo? dt dpF = Quando a força é zero, temos cte dt d =⇒= pp 0 0=⋅ sF Se a componente da força ao longo de uma dada direção s for nula, então a componente do momento ao longo desta direção é conservada (s pode ser, por exemplo, i, j ou k). II. Conservação do momento angular O momento angular de uma partícula em relação à origem de um sistema de coordenadas é definido como onde s é um vetor constante, então 0=⋅ sp& Integrando (lembrando que s é constante) temos cte=⋅ sp Podemos dizer então que quando a força total que atua sobre uma partícula é zero, o seu momento linear é conservado. Se o vetor F não for zero, mas se prL ×= Por sua vez, o torque sobre a partícula, em relação ao mesmo sistema de referência, é definido como FrN ×= Derivando L em relação ao tempo, temos prprL &&& ×+×= É fácil ver que as formas acima são equivalentes, desde que 12 Mas 0=×=× rrpr &&& m de forma que NFrprL =×=×= && Se N = 0, então cte=⇒= LL 0& Se o torque total que atua sobre uma partícula for nulo, então seu momento angular é conservado. III. Conservação da energia mecânica O trabalho realizado por uma força F sobre uma partícula que se desloca da posição 1 para a posição 2 é definido como F rd ⋅ 1 2 ⋅ ∫ ⋅= 2112 rF dW Se F for a força resultante que atua sobre a partícula, então (2.85) ) 2 1()( 2 )( 2 22 υυ mddt dt dm dt dt dmdt dt dmd == ⋅=⋅=⋅ vvvvrF Assim 2 1 2 2 2 1 2 12 2 1 2 1 2 1 υυυ mmmW −== Definindo a energia cinética da partícula como 2 2 1 υmT = podemos escrever 1212 TTW −= O trabalho da força resultante que atua sobre uma partícula é igual à variação da sua energia cinética. Em muitas situações físicas a força tem a propriedade de que o trabalho realizado por ela sobre a partícula só depende dos pontos inicial e final, e não do caminho. Por exemplo, na figura abaixo o trabalho realizado seria o mesmo, independente da partícula percorrer os caminhos a, b ou c. Nesse caso, é possível associar à força uma função escalar da posição da partícula, chamada energia potencial. 1 2 a b c A diferença na energia potencial da partícula calculada nos pontos 1 e 2 é definida através da relação (2.87) 2 112 ∫ ⋅−=− rF dUU Deve-se ressaltar que a expressãoacima define apenas a diferença de energia potencial entre dois pontos. Sendo assim, a função energia potencial é definida a menos de uma constante aditiva, que não tem nenhum significado físico. Também é importante mencionar que se o trabalho realizado pela força depender do caminho, a definição de energia potencial não faz sentido. Se não, qual seria o caminho usado para calcular a integral da equação (2.87)? Suponha que a partícula vá de 1 a 2 pelo caminho a e volte pelo caminho b. Assim babafech WWWWW ,12,12,21,12 −=+= É sabido (do cálculo vetorial) que uma condição necessária e suficiente para que a integral de linha de uma função vetorial em um percurso fechado seja nula é que o rotacional desta função seja zero. Sabe-se também que se o rotacional de uma função vetorial for zero, então esta função pode ser escrita Se o trabalho realizado pela força independe do caminho, W12,a = W12,b ⇒ Wfech = 0. Assim, podemos dizer que se o trabalho independe do caminho, o trabalho realizado em um percurso fechado é nulo. • • como o gradiente de uma função escalar. Se o trabalho da força F não depende do caminho, 0=×∇ F 13 e portanto, podemos escrever . Assim 2 2 2 2 11 1 1 d d d− ⋅ = − −∇Φ ⋅ = Φ = Φ − Φ∫ ∫ ∫F r r Então Φ nada mais é que a energia potencial, U, definida em (2.87) e a força é o negativo do gradiente da energia potencial: UTE += A derivada total da energia mecânica em relação ao tempo é dt dU dt dT dt dE += de forma que rFrFrF &⋅=⋅=⋅= dt d dt d dt dT De acordo com (2.85) dTmdd ==⋅ ) 2 1( 2υrF Em princípio, a energia potencial poder ser função da posição e do tempo (na verdade ela pode ser função também da velocidade mas nós não vamos considerar estes casos aqui). Sendo assim, podemos escrever t UU t U dt dz z U dt dy y U dt dx x U dt dU ∂ ∂+⋅∇= ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂= r& Dessa forma, a derivada temporal da energia mecânica torna-se ( ) t UU t UU dt dE ∂ ∂+⋅∇+= ∂ ∂+⋅∇+⋅= rF rrF & && Se todas as forças que atuam sobre a partícula puderem ser associadas a uma energia potencial, podemos escrever t U dt dE ∂ ∂= U−∇=F de forma que Se a força puder ser associada a uma energia potencial e se U não depender explicitamente do tempo, a força é dita ser conservativa. Nesse caso 0 0 =⇒=∂ ∂ dt dE t U A energia mecânica de uma partícula sob a ação de forças conservativas é constante no tempo. O teorema da conservação da energia mecânica nada mais é que uma conseqüência das leis de Newton. Entretanto, existem outras formas de energia, como as energias térmica e elétrica, que podem ser convertidas em energia mecânica e vice- versa. A conservação da energia total de um sistema isolado é um postulado básico da física conhecido como lei da conservação da energia. Exemplo 2.11 ------------------------------------------- Um rato de massa m pula sobre a extremidade de um ventilador de teto, de momento de inércia I e raio R, que gira livremente com velocidade angular ωo. Qual a velocidade angular final do ventilador? Solução. A força gravitacional que a Terra exerce sobre o rato provoca um torque sobre o sistema ventilador + rato (em relação ao centro do venti- lador) mas este torque não possui componente vertical. Desta forma, a componente vertical do momento angular do sistema deve ser conservada. Antes do rato pular, temos oo IL ω= oω (2.88)U= −∇F = −∇ΦF Energia mecânica Define-se a energia mecânica da partícula como -------------------------------------------------------------- oo ImRILL ωω =+⇒= )( 2 14 2mRI I o += ωω 2.6 Energia e movimento em uma dimensão Considere um sistema mecânico sujeito a uma força conservativa associada a uma energia potencial U. Por simplicidade vamos supor que o movimento seja unidimensional. A energia mecâni- ca (constante) é dada por )( 2 1 2 xUmUTE +=+= υ Esta equação pode ser reescrita na forma [ ] (2.97) )(2 xUE mdt dx −±==υ que pode ser integrada como [ ] (2.98) 2 ( ) o x o x dxt t E U x m − = ± − ∫ onde x = x0 em t = t0. Conhecendo-se U(x) pode-se, em princípio, resolver esta equação para se obter x(t). Muitas vezes é difícil obter uma solução analítica para a integral acima mas uma análise qualitativa da curva de energia potencial pode fornecer muitas informações sobre o movimento da partícula. Como exemplo, considere uma partícula sujeita à energia potencial da figura a seguir. Uma primeira observação é que a energia cinética não pode ser negativa, o que significa que a partícula só pode estar nas regiões onde E ≥ U(x). Se a energia da partícula for igual a E1 , ela terá um movimento periódico entre os pontos de retorno xa e xb onde E1 ≥ U(x). )(xU x0x 0E 1E ax bx 2E cx dx ex fxgx 3E 4E Se a partícula tiver energia E2, ela poderá ter movimentos periódicos entre os pontos de retorno xc e xd ou entre os pontos xe e xf mas não pode passar de uma região para a outra. Uma partícula com energia E0 deve estar em repouso em x0 que é a única posição onde E0 não é menor que U. Uma partícula com energia E3 , vem do infinito, faz o retorno no ponto xg e volta, invertendo o sentido do seu movimento. Finalmente uma partícula com energia E4 pode estar em qualquer posição. Contudo a sua velocidade não é constante. Ela dependerá da diferença entre E4 e a energia potencial U(x), de acordo com (2.97). Equilíbrio A energia potencial pode ser expandida em série de Taylor em torno de qualquer ponto x0 como 2 3 2 3 0 0 0 0 2 3 0 0 0 ( ) ( )( ) ( ) ( ) ... 2 ! 3 ! x x x xdU d U d UU x U x x x dx dx dx ⎛ ⎞ ⎛ ⎞− −⎛ ⎞= + − + + +⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎜ ⎟⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠ Se a força resultante que atua sobre a partícula é nula (e também o torque), diz-se que ele está em equilíbrio. Se x0 for uma posição de equilíbrio, 0 0 ( ) 0dUF x dx ⎛ ⎞= − =⎜ ⎟⎝ ⎠ Para pontos muito próximos da posição de equilíbrio, x – x0 é muito pequeno, de forma que os termos além de segunda ordem na expansão podem ser desprezados. Como a energia potencial é definida a menos de uma constante, podemos fazer U(x0) = 0 sem perda de generalidade. Assim, 22 0 2 0 ( )( ) 2 x xd UU x dx ⎛ ⎞ −= ⎜ ⎟⎝ ⎠ Depois do rato pular ω)( 2mRIL += onde mR2 é o momento de inércia do rato, (considerado pontual) em relação ao eixo do ventilador. Pela conservação do momento angular 2 02 0 ( )dU d UF x x dx dx ⎛ ⎞= − = − −⎜ ⎟⎝ ⎠ A força que atua sobre uma partícula no ponto x é dada por Se 2 2 0 0d U dx ⎛ ⎞ >⎜ ⎟⎝ ⎠ então a força será sempre contrária ao desloca- mento (x – xo) e a partícula é puxada de volta para a posição de equilíbrio. Sendo assim, o equilíbrio da partícula é estável. Na figura acima existem dois pontos de equilíbrio estável: um é o ponto x0 e o outro está entre xe e xf . Se 2 2 0 0d U dx ⎛ ⎞ <⎜ ⎟⎝ ⎠ então a força estará sempre no sentido do desloca- mento e a partícula é empurrada para longe da posição de equilíbrio. Sendo assim, o equilíbrio da partícula é instável. Na figura acima existem três pontos de equilíbrio instável: um à esquerda de xg , outro entre xd e xe e outro à direita de xf . Exemplo 2.12 ------------------------------------------- Na figura abaixo temos uma corda leve, de comprimento b, com uma extremidade presa no ponto A. A corda passa sobre uma roldana no ponto B, a uma distância 2d de A, e tem uma massa m1 presa à outra extremidade. Uma massa m2 está presa a outra roldana que passa sobre a corda puxando-apara baixo entre os pontos A e B. Calcule a distância x1 para a qual o sistema está em equilíbrio e determine se o equilíbrio é estável ou instável. Despreze as dimensões e as massas das roldanas. 2m 1m 1x 2x c 2 1xb − 2 1xb − d2 AB 15 ( )cxgmgxmU +−−= 2211 Solução. Este problema pode ser resolvido pelo método da força mas torna-se mais simples se usarmos o conceito de energia potencial. Fazendo U = 0 ao longo da linha AB podemos escrever Se as roldanas forem pequenas podemos escrever 2 21 2 2 b xx d−⎛ ⎞= −⎜ ⎟⎝ ⎠ e portanto, gcmdxbgmgxmU 2 22 14 1 211 )( −−−⋅−−= 22 14 1 12 1 1 )(4 )( dxb xbgmgm dx dU −−⋅ −+−= No equilíbrio devemos ter 1 0 0 dU dx ⎛ ⎞ =⎜ ⎟⎝ ⎠ 2 2 2 2 2 0 1 2 1( ) (4 ) 16b x m m m d− − = 1 0 2 2 1 2 4 4 m dx b m m = − − Note que só existe solução real se 2 2 1 2 1 24 2m m m m> ⇒ > A derivada segunda é dada por 22 2 2 1 2 2 2 1/2 2 2 3/21 1 1 1 14 4 ( ) 4 [ ( ) ] 16 [ ( ) ] m g m g b xd U dx b x d b x d − −= +− − − − Fazendo x1 = x0 , temos 2 2 3/22 1 2 2 2 1 20 (4 ) 4 g m md U dx m d ⎛ ⎞ −=⎜ ⎟⎝ ⎠ Mas só haverá equilíbrio se 2m1 > m2. Portanto, a derivada segunda é positiva e o equilíbrio é estável. 2 21 1 0 2 044 ( ) ( )m b x d m b x− − = − ou seja: Exemplo 2.13 -------------------------------------------- Considere o potencial unidimensional 16 44 222 8 )()( dx dxWdxU + +−= onde W é uma constante positiva. Esboce o gráfico da energia potencial e responda às seguintes questões. O movimento é limitado ou ilimitado? Quais são os pontos de equilíbrio? Estes pontos são de equilíbrio estável ou instável? Obtenha os pontos de retorno para E = – W/8. Solução. Para simplificar vamos fazer x = yd, de forma que 8 1)( 4 2 + +⋅−= y yWxU Para esboçar o gráfico é conveniente encontrar primeiro os pontos de equilíbrio. Assim devemos ter ( ) 0)82( 0 8 )1(4)8(2 24 2 4 234 =−+ =+ +−+⋅−= yyy y yyyyW dy dU As soluções são: 2 2 ,0 −=== yeyy Os valores da energia nestes pontos são 4)2( 4)2( 8)0( W/dx U W/dxU W/x U −== −=−= −== Além disso U(x) → 0 (por valores negativos) quando x → ± ∞. A figura a seguir mostra o gráfico de U(x) × x. Os pontos 8/1− 4/1− dx/ WxU /)( 22− dx 2±= são pontos de equilíbrio estável enquanto 0=x é um ponto de equilíbrio instável. O movimento é limitado para e ilimitado para E ≥ 0. Os pontos de retorno para E = – W / 8 podem ser obtidos fazendo 0 ,22 0 ,22 8 888 8 )1( 8 2424 4 2 dxy yyyy y yWWE ±=⇒±= =⇒+=+ + +−=−= pontos de retorno para E = – W / 8 Considere um foguete viajando sob influência de uma força externa. Por simplicidade vamos considerar o movimento em uma dimensão. Suponha que em um dado instante a massa do foguete seja m e a sua velocidade υ. Em um intervalo de tempo dt o foguete ejeta uma massa dm´ (positiva) com velocidade – u (para trás) em relação ao foguete. A velocidade da massa ejetada em relação a um referencial fixo (inercial) é υ – u. Após a ejeção de dm´, a massa do foguete passa a ser m – dm´ e a sua velocidade υ + d υ. 2.7 Movimento de foguetes O movimento de um foguete representa uma situação física interessante onde a segunda lei de Newton pode ser aplicada a um sistema de massa variável. u v 'dm Referencial inercial extF / 4 0W E− ≤ < 17 O produto das diferenciais dm´dυ é muito pequeno e pode ser desprezado. Assim, da segunda lei de Newton, podemos escrever ( ) ( ) ( )[ ] '' '' udmddmmd mudmddmmdp −−= −−++⋅−= υυ υυυυ dt dmu dt dm dt dpFext '−== υ Aqui é interessante fazer uma mudança de notação. Da forma que foi definida, dm´ é uma quantidade positiva. Por outro lado, a taxa de variação da massa do foguete é uma quantidade negativa dada por (o foguete está perdendo massa) dt dm dt dm '−= Assim podemos escrever dt dmu dt dmFext += υ Movimento na ausência de força externa. Como exemplo, considere o caso em que o foguete viaja no espaço livre da ação de forças externas. Nesse caso dt dmu dt dm −=υ e portanto m dmud −=υ Integrando temos Cmu +−= lnυ Supondo que no instante inicial tenhamos υ = υ0 e m = m0 , obtemos 0 0lnC u mυ= + de forma que a velocidade do foguete pode ser escrita em função da massa como 0 0 ln mu m υ υ ⎛ ⎞= + ⎜ ⎟⎝ ⎠ A variação do momento linear do sistema neste intervalo de tempo é dada por Foguete subindo sob influência da gravidade Considere agora um foguete subindo sob a influência da força gravitacional, por simplicidade suposta constante. A equação de movimento pode ser escrita como gm udmmdmgdt dt dmu dt dmmg +=− +=− υ υ Vamos supor também que a taxa de perda de massa seja constante, ou seja (2.127) αα dmdt dt dm −=⇒−= onde α é uma constante positiva. Assim a equação de movimento pode ser escrita em termos de υ e m como dm m ugd ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −= αυ Integrando, obtemos Cmumg +−= lnαυ Supondo que υ = 0 e m = m0 no instante inicial, temos 0 0ln gC m u mα= − + de forma que ( ) 00 ln mg m m u mυ α ⎛ ⎞= − + ⎜ ⎟⎝ ⎠ A massa do foguete pode ser expressa como função do tempo através da integração de (2.127). Assim teremos 0m m tα= − 18 de forma que a velocidade pode ser expressa em função do tempo como 0 0 ln mgt u m t υ α ⎛ ⎞= − + ⎜ ⎟−⎝ ⎠ 2. 8 Limitações da mecânica newtoniana Antes de encerrarmos este capítulo gostaríamos de fazer alguns comentários sobre o domínio de validade da Mecânica Newtoniana. Ela descreve corretamente os fenômenos em escala macros- cópica onde os corpos se movem com velocidades pequenas. No entanto, as leis de Newton deixam de ser válidas quando os problemas envolvem dimen- sões atômicas ou quando as velocidades de interes- se são da ordem da velocidade da luz (c = 3,0 × 108 m/s). Nesses casos as teorias adequadas são a Mecânica Quântica e a Mecânica Relativística. Além disso, existe outra limitação de ordem prática. Quando o número de partículas é muito grande torna-se impossível (na prática) obter as posições de todas elas como funções do tempo. Nesse caso as propriedades de interesse são obtidas como médias e a teoria adequada é a Mecânica Estatística. Não entraremos nos detalhes dessas teorias porque são assuntos de outros cursos. Problemas 1. Um projétil é atirado com uma velocidade inicial υo e um ângulo de elevação α sobre uma colina de inclinação β (β < α). (a) Quanto tempo depois do lançamento o projétil atinge o solo? (b) Qual o alcance? (c) Qual o valor de α para o qual o alcance é máximo? (d) Qual o valor do alcance máximo? βα Fr = – mkυ2. (a) Obtenha a posição da partícula como função da velocidade. (b) Obtenha uma expressão para a velocidade terminal da partícula. (c) Mostre que a partícula percorre uma distância ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ − − 2 2 2 1ln 2 1 υ υ kg kg k desde o ponto onde sua velocidade é υ1 até o ponto onde sua velocidade é υ2 . 5. Mostre explicitamente que a taxa de variação no tempo do momento angular de um projétil atirado da origem é igual ao torque que atua sobre ele, ou seja, que . Considere o momento angular e o torque em relação à origem e despreze a resistência do ar. 6. Uma partícula é lançada verticalmente para cima com velocidade inicial υ0. Mostre que se existir uma força de retardamento proporcional ao quadrado da velocidade, a velocidade da partícula quando ela retorna à posição inicial é onde υt é a velocidade terminal. 2. Considere um projétilatirado verticalmente para cima com uma velocidade inicial υo. Compare os tempos necessários para o projétil atingir a altura máxima no caso em que não há resistência do ar e no caso em que a força de resistência é proporcional à velocidade (Fr = – mkυ). Suponha que o efeito da resistência do ar seja pequeno. 3. Um projétil é atirado com um ângulo de lançamento α acima da horizontal. Qual o valor máximo de α para o qual a distância do projétil ao ponto de lançamento estaria sempre aumentando enquanto ele viaja? Despreze a resistência do ar. 4. Considere uma partícula em queda, a partir do repouso, em um campo gravitacional constante. Suponha que a força de resistência do ar seja proporcional ao quadrado da velocidade, ou seja, LN &= 0 2 2 0 t t υ υ υ υ+ 7. Um bloco de massa m desliza sem atrito sobre o trilho da figura abaixo. (a) Qual a força que o trilho exerce sobre o bloco no ponto A? (b) Com que velocidade o bloco deixa o trilho, no ponto B? (c) Qual a força que o trilho exerce sobre o bloco no 9. A velocidade de uma partícula de massa m varia com a distância x através da relação nxx −= )( αυ Supondo que x = 0 em t = 0, obtenha: (a) a força F(x) responsável pelo movimento; (b) x(t); (c) F(t). 10. Um barco é lançado sobre um lago com velocidade inicial υo. O barco é freado por uma força de resistência da água dada por υβαυ )( eF −= Obtenha: (a) υ(t); (b) o tempo e a distância percorrida pelo barco antes de parar. 11. Uma partícula move-se em uma órbita bidimensional definida por (a) Obtenha a aceleração tangencial at e a aceleração normal an como funções do tempo. (b) Determine o tempo para o qual an é máxima. 12. Um cubo de lado b está em equilíbrio no topo de um cilindro de raio R. As superfícies de contato são rugosas, de tal maneira que não há deslizamento. Sob que condições o equilíbrio é estável? 15. Considere uma partícula movendo-se na região x > 0 sob influência do potencial ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ += a x x aUxU o)( Esboce o gráfico do potencial, obtenha os pontos de equilíbrio e diga se o equilíbrio é estável ou instável. 16. Um foguete parte do repouso e viaja no espaço livre de forças externas. Para que fração da massa inicial do foguete o seu momento linear é máximo? 17. Considere um foguete subindo sob influência do campo gravitacional da Terra, suposto constan- te, com uma razão de perda de massa dm/dt = – α. Mostre que a altura atingida pelo foguete pode ser escrita como ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −−−= tm mu tm gtuty o oo αα α ln 2 1 2 18. Um foguete tem uma massa inicial m e uma razão de perda de massa dm/dt = – α. Qual a velo- cidade de exaustão mínima para que o foguete consiga decolar? 19 13. Uma partícula está sob a influência de uma força F = – kx + kx3/α2, onde k e α são constantes e k é positivo. Determine U(x), esboce o gráfico do potencial, obtenha os pontos de equilíbrio e diga se o equilíbrio é estável ou instável. 14. Um trem move-se ao longo de um trilho com uma velocidade constante u. Uma mulher dentro do trem atira uma bola de massa m, para frente, com uma velocidade υ em relação ao trem. (a) Qual a variação da energia cinética da bola medida pela mulher? (b) E por uma pessoa parada do lado de fora do trem? Qual o trabalho feito (c) pela mulher e (d) pelo trem sobre a bola? R b ponto B? (d) Quão longe do ponto A o bloco atinge o solo? h R A Bo45 8. Dois blocos de massas m e 2m são conectados por uma corda que passa por uma polia lisa. Se o coeficiente de atrito cinético for μk, qual é o ângulo de inclinação que permite às massas se moverem com velocidade constante? m 2m ( ) (2 sen ) ( ) (1 cos ) x t A t t y t A t α α α = − = −
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