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Gramática Aplicada da Língua Portuguesa 1: Por que nem todas os enunciados têm a mesma importância para a mesma exposição gramatical? • Por que apesar de tão variadas formas por que se apresentam os enunciados, há traços comuns que devem ser ressaltados [AL. 1,256 ]: • São mensagens completas e de acordo com a situação em que se acham falante e ouvinte. • São unidades sequenciais delimitadas por um silêncio precedente a ele e uma pausa final. • São proferidos com um contorno melódico particular. Esta curva de entonação é o significante ou expressão material que ecova a modalidade de intenção comunicativa do enunciado (significado ôntico) que o falante quer transmitir ao seu interlocutor. 2: Significados das orações e sua importância para a gramática. • Oração é um grupo de palavras estruturado cujo núcleo é o verbo. Uma Oração é uma Frase, mas uma Frase não é uma oração. Oração é a forma de organizar as palavras, expressando as ideias. O verbo é necessário na oração; pode estar elíptico, ou seja, não constar na oração. A ideia de verbo também pode ser indicada por uma locução adverbial. Oração é um segmento lingüístico caracterizado basicamente: 1. pela presença obrigatória do verbo (ou locução verbal), e 2. pela propriedade de se tornar, ela mesma, um objeto de análise sintática A maioria dos gramáticos da língua portuguesa costuma atribuir à oração uma qualidade discursiva bastante particular que é a de expressar um conteúdo informativo na forma de uma construção dotada de verbo. Independentemente de essa construção expressar um sentido acabado no discurso oral ou escrito, o verbo torna-se fundamental para caracterizar a oração; por isso, a determinação de que o verbo é o núcleo de uma oração. Oração – Tipos Absoluta – é a que forma um período simples Coordenada – mantém com outra uma relação sintática de independência Subordinada – é aquela que depende sintaticamente de outra oração (OP) Principal – é aquela da qual a oração subordinada depende Intercalada – é independente e de cunho esclarecedor (“Meu pai – Deus o guarde – mostrou-me o caminho do bem”). Tipos de orações coordenadas Aditivas – relacionam pensamentos similares – e e nem, a primeira une duas afirmações; a segunda (+e não), une duas negações (Não veio nem telefonou). Adversativas – relacionam pensamentos contrastantes – mas (adversativa por excelência), porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto (marcam uma espécie de concessão atenuada) (A estrada era perigosa, entretanto todos queriam visitá-la). Alternativa – relacionam pensamentos que se excluem – ou, ora … ora, quer … quer, já … já, seja … seja (Ora chama pela mãe, ora procura o pai) Conclusiva – relacionam pensamentos tais, que o segundo encerra a conclusão do enunciado do primeiro – logo, portanto, pois, por conseguinte, conseqüentemente etc. (Falta carne no mercado, portanto conheça a comida vegetariana). Explicativa – relacionam pensamentos em sequência justificativa, de tal forma que a segunda frase explica a razão de ser da primeira – que, pois, porque, porquanto (Vou sair, que aqui está muito abafado). Observações A conjunção aditiva e pode aparecer com valor adversativo (“É ferida que dói e não se sente.”) e conclusivo (Ele estudou muito e passou no concurso) Oração principal: é um tipo de oração que no período não exerce nenhuma função sintática e tem associada a si uma oração subordinada. Oração subordinada: é toda oração que se associa a uma oração principal e exerce uma função sintática (sujeito, objeto, adjunto adverbial etc.) em relação à oração principal. As orações subordinadas classificam-se, de acordo com seu valor ou função, em: Orações subordinadas substantivas Inicialmente, diga-se que são aquelas orações subordinadas que exercem as seguintes funções: sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, predicado nominal e aposto. As orações subordinadas substantivas podem ser de seis espécies: 1ª. Subjetivas: são aquelas que exercem a função de sujeito em relação a outra oração. 2ª. Objetivas diretas: são aquelas que exercem a função de objeto direto de outra oração. 3ª. Objetivas indiretas: são aquelas que exercem a função de objeto indireto de outra oração, isto é, ligam-se à oração principal mediante preposição. 4ª. Completivas nominais: são aquelas que completam o sentido de um substantivo, adjetivo ou advérbio. 5ª. Predicativas: são aquelas que funcionam como predicativo do sujeito. 6ª. Apositivas: são aquelas que funcionam como aposto. Orações subordinadas adjetivas A oração que modifica um substantivo de outra oração é denominada oração subordinada adjetiva. Em geral, tais orações são introduzidas por pronome relativo. Exemplo: O garoto que era risonho tornou-se um garoto sisudo. Segundo a Nomenclatura Gramatical Brasileira, as orações subordinadas adjetivas exercem a função sintática de adjunto adnominal de um termo da oração principal. As orações subordinadas adjetivas são de duas espécies: explicativas e restritivas. As explicativas são aquelas que indicam qualidade inerente ao substantivo a que se referem. Justapõem-se a um substantivo já plenamente definido pelo contexto. Além disso, as orações adjetivas explicativas podem ser eliminadas sem prejuízo do sentido. Têm função meramente estilística. As orações subordinadas adverbiais são dos seguintes tipos: causais, comparativas, consecutivas, concessivas, condicionais, conformativas, finais, proporcionais e temporais. Termos da Oração Os termos da oração podem ser classificados em três tipos: Termos essenciais da oração São os termos necessários para a formação das orações. Confira quais são os termos essenciais: Sujeito: termo da oração no qual se enuncia alguma coisa; Predicado: termo da oração que se refere ao sujeito. Termos integrantes da oração Esses termos integram (completam) o significado dos termos essenciais (sujeito e predicado). Os três termos integrantes da oração são: Agente da passiva: indica quem praticou a ação de um verbo na voz passiva; Complemento nominal: completa o sentido do adjetivo, do advérbio ou do substantivo; Complemento verbal: completa o sentido dos verbos transitivos. Termos acessórios da oração Diferentemente dos termos essenciais, os termos acessórios são necessários em apenas alguns contextos. As funções desses termos são qualificar um ser, exprimir alguma circunstância e determinar os substantivos. A seguir listarei os termos acessórios: Adjunto Adnominal: termo que caracteriza, modifica, determina ou qualifica um substantivo; Adjunto Adverbial: termo que altera o sentido do verbo, do adjetivo ou do advérbio; Aposto: explica, resumi, enumera ou especifica um outro termo; Vocativo: utilizado para referir-se ao interlocutor. A ORAÇÃO Todo enunciado que apresenta verbo é uma oração. Logo, o verbo é o núcleo de qualquer estrutura oracional. Por conseguinte, a análise sintática de uma oração exige que partamos do verbo. Ora os verbos apresentam complementos verbais, ora não apresentam complementosverbais. São complementos verbais: objeto direto e objeto indireto. O estudo dos complementos verbais é chamado de predicação verbal. Os auditores analisaram os balancetes. O exemplo acima é uma oração, pois foi empregado o verbo analisar. É a expressão de uma ação. Está flexionado no pretérito perfeito simples do modo indicativo. Contextualiza-se, portanto, a prática de uma ação, o tempo em que essa ação ocorreu, o agente da ação e o referente passivo à ação executada pelo sujeito agente. O fiscal está apurando as denúncias. Temos também uma oração. Trata-se do verbo apurar na forma composta. está é o seu auxiliar. E apurando é o verbo principal no gerúndio. Trata-se de uma locução verbal. Os relatórios que foram analisados comprometem a candidatura de Luíza. Cada verbo é uma oração. Temos acima duas orações. Os termos grifados constituem a primeira oração, com um verbo na forma simples. O termo em negrito constitui a segunda oração. Nesta, o verbo analisar está na forma composta, ou seja, verbo auxiliar + verbo principal no particípio. A oração em negrito integra o sujeito do verbo comprometem. Oração – Estrutura Uma das dificuldades enfrentadas pelos que buscam entender a estrutura da oração com base nas gramáticas tradicionais é a forma pela qual se distribuem os chamados termos da oração. A clássica tripartição desses termos em essenciais,integrantes e acessórios não contribui para uma visão das relações entre os constituintes da oração, além de induzir o aluno a pensar que os chamados termos essenciais são mais importantes do que os demais. 3: Diferencie e exemplifique: (a) Sintaxe de concordância; • Sintaxe – O que é Significa,etimologicamente,ordenação, disposição,organização e tem sido entendida como o conjunto das propriedades das estruturas que estão subjacentes aos enunciados existentes (ou possíveis) numa dada língua particular e a descrição dessas estruturas. A sintaxe é a relação estabelecida entre os elementos linguísticos que atuam na formação dos enunciados. Assim, a constituição de frases, orações e períodos, considerando-se os diversos contextos em que se usa a língua, é o objeto de estudo dessa disciplina. De fato, por constituir-se enquanto fenômeno que ativa a relação entre os itens linguísticos, atuando na estruturação e organização dos textos, a sintaxe assume, entre as diversas correntes teóricas que se preocupam com o estudo da linguagem, uma grande importância A Sintaxe compreende estudos dos processos gerativos, combinatórios e formadores das frases nas diversas línguas naturais. Sua origem, enquanto ramo de estudo da linguagem, remonta aos gregos. Os reflexos da tradição fundada pelo filósofo Aristóteles podem ser apontados na divisão da frase em sujeito e predicado , concepção ainda hoje evidenciada nos estudos veiculados em gramáticas e livros didáticos de língua portuguesa. A Sintaxe de Concordância trata das relações de harmonia gramatical entre os termos da frase, relações essas que envolvem gênero e número. Quando essas relações se estabelecem entre o sujeito e o verbo, elas se referem à concordância verbal. Já as relações entre nomes (determinado e determinante) dizem respeito à concordância nominal. Às vezes, a Norma Culta aceita duas opções de concordância. Embora uma pequena minoria social e politicamente influente dite as regras do bom falar, a pressão da maioria dos falantes da Língua faz com que, ocasionalmente, essas regras sejam quebradas. Os escritores modernos também contribuíram no combate à radicalidade da Gramática Normativa, que agora chama essas transgressões gramaticais de concordância por atração. (b) Sintaxe de regência; • Sintaxe de Regência, que nada mais é do que o emprego (ou não) de preposição. De um lado, existe um termo REGENTE, ou seja, aquele que exige determinada preposição; de outro, o termo REGIDO. Na posição de termo regente, pode haver um substantivo, um adjetivo, um advérbio (casos de REGÊNCIA NOMINAL) ou um verbo (REGÊNCIA VERBAL). A depender do sentido, especialmente nos casos de regência verbal, essa preposição pode variar. É o que observamos com o verbo ASSISTIR. No sentido de "ver, presenciar", é transitivo indireto e rege a preposição "a" (Ele assiste ao jogo de futebol.). Já no sentido de "morar, residir", rege a preposição "em" (Ele assiste no município de Petrópolis.). Na acepção de "prestar assistência", pode ser transitivo direto (sem preposição) ou indireto, com a preposição "a" (para memorizar: se é para socorrer, não se preocupe com a preposição - de todo jeito estará certo!...rs...). Como puderam observar, esse assunto passa necessariamente pela análise da transitividade do verbo e também está ligado a "Crase". Basta pensar que, se no lado do "TERMO REGENTE", o elemento exigir a preposição "a" e, no lado do "TERMO REGIDO", houver outro "a" (que pode ser um artigo definido feminino, um pronome demonstrativo, um pronome relativo "a qual/as quais"), haverá o encontro de dois "as", ocorrendo o fenômeno de crase, que deve ser indicado com o emprego do acento grave (à).. (c) Sintaxe de colocação; • A Sintaxe de Colocação, também conhecida por Toponímia Pronominal, refere-se ao modo correto, segundo a Norma Culta, de posicionar as palavras na oração. Essa sintaxe trata mais especificamente da posição do pronome pessoal oblíquo e do pronome demonstrativo o com relação ao verbo. A definição tradicional menciona essa sintaxe como a parte da Gramática Normativa que trata da ordem dos termos na oração, e das orações no período. 4: Morfologia; A constituição das unidades. • Morfologia significa, com base nos seus elementos de origem, o estudo da forma. Mas o que tal definição nos diz acerca de o que vem a ser morfologia? Não muito, como veremos. Primeiramente, o termo forma pode ser tomado, num sentido amplo, como sinônimo de plano da expressão, em oposição a plano do conteúdo. Nesse caso, a forma compreende dois níveis de realização: os sons, destituídos de significado, mas que se combinam e formam unidades com significado; e as palavras, as quais por sua vez, têm regras próprias de combinação para a composição de unidades maiores. Mas a palavra não precisa ser interpretada, necessariamente, como a unidade fundamental para representar a correlação entre o plano da expressão e o do conteúdo. Podemos atribuir esse papel ao morfema. Temos aqui, por conseguinte, duas unidades distintas como possíveis centros de interesse de nossos estudos de morfologia. • Morfologia – O que é No sentido exato seria o estudo da forma. Em português por exemplo, a parte de morfologia estuda a estrutura das palavras. Estuda também as classes gramaticais sem se preocupar com o sentido das palavras quando inseridas no contexto da frase (sintaxe). Mas como é estudo da forma, pode ser realizada em tudo que se refira a esta atividade (não só em português) em todas as áreas do conhecimento, como estudo da forma de minerais, etc… A Morfologia é o estudo da palavra dentro da nossa língua. Numa linguagem bem simples pode-se dizer que a Morfologia tem por objeto ou objetivo de estudo,as palavras dentro da nossa Língua, as quais são agrupadas em classes gramaticais ou classes de palavras. Elas são agrupadas em dez classes, denominadas classe de palavras ou classes gramaticais: 1:Substantivos: Substantivo provém da mesma família de “substância, substancial”, ou seja, algo necessário, fundamental. Os substantivos recebem classificações distintas, tendo em vista aspectos relacionados à formação e ao significado. Quanto à formação, um substantivo pode ser formado por composição ou por derivação. Quanto ao processo de composição, pode ser simples ou composto. Em relação ao processo de derivação, pode ser primitivo ou derivado. No que tange à significação, cada substantivo tem um aspecto de generalização e um aspecto deabstração. Quanto à generalização, pode ser comum (geral) ou próprio (específico). Em relação à abstração, pode serconcretos ou abstrato. Substantivos simples São aqueles que apresentam um único radical em sua estrutura. Substantivos compostos São representados por aqueles que possuem pelo menos dois radicais em sua estrutura. • Substantivos primitivos Classificam-se como aqueles que não derivam de outra palavra. Substantivos derivados São aqueles que provêm de outras palavras já existentes. Substantivos concretos Representam aqueles que possuem forma, seja real ou imaginária. Substantivos abstratos Representam aqueles que não possuem forma. Geralmente dão nome a estados, qualidades, sentimentos e ações. Substantivos comuns São aqueles que generalizam. Designam de modo geral seres, entidades e coisas diversas. Substantivos próprios São aqueles assim denominados pelo fato de designarem de forma particular seres, entidades e coisas diversas. São iniciados com letra maiúscula. 2: O artigo integra as dez classes gramaticais que conhecemos. É definindo como o termo que antepõe o substantivo para determinar o gênero(masculino/feminino) e o número (singular/plural), de modo definido ou indefinido. 3: Adjetivo é a classe de palavras variáveis que modificam um substantivo exprimindo as suas características. O adjetivo pode ser: Simples - possui apenas um radical, um só elemento. Composto – possui mais de um radical, mais de um elemento. Primitivo – é aquele que não deriva de outra palavra; servindo de base para a formação de outras palavras. Derivado – é aquele que deriva de outras palavras, geralmente de substantivos e de verbos. Grau do adjetivo: Grau comparativo: transmite a ideia de igualdade, superioridade ou inferioridade de um ser em relação a outro. Grau superlativo: pode ser relativo ou absoluto. 4: Numeral é uma das palavras que se relaciona diretamente ao substantivo, dando a ideia de número. 5: Pronome é classe de palavra (variável em gênero, número e pessoa) que acompanha ou representa o substantivo, serve para apontar uma das três pessoas do discurso e situá-lo no espaço e no tempo. O pronome pode funcionar como: 6: Verbo é a palavra que indica ação, praticada ou sofrida pelo sujeito, fato de que o sujeito participa ativamente,estado ou qualidade do sujeito, fenômeno da natureza. 7: Advérbio é a palavra que modifica o verbo. Advérbio é uma classificação que existe dentro da gramática normativa da língua portuguesa, usada para conceituar palavras que indicam circunstância de um fato, de alguma forma o intensifica, ou então estabelece um grau na qualidade de um adjetivo e até mesmo de outro advérbio. Em síntese, o advérbio é a palavra que modifica o verbo, podendo ser classificados de acordo com a circunstância em que é aplicado. 8: Preposição é uma palavra relacional, capaz de ligar duas outras palavras entre si, de modo que o sentido da primeira seja completado pelo da segunda. As principais preposições são: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por (per), sem, sob, sobre, trás. 9: Conjunções são palavras invariáveis que servem para conectar orações, estabelecendo entre elas uma relação de dependência ou de simples coordenação. Alguns exemplos de conjunções são: portanto, pois, como, mas, e, embora, porque, entretanto, nem, quando, ora, que, porém, todavia, quer, contudo, seja, conforme etc. 10: Interjeição ainda é considerada uma classe gramatical, apesar de alguns gramáticos discordarem, argumentando que a interjeição se dá muito mais pela semântica da palavra do que pela forma. 5: Ortoépia, prosódia e ortografia. • Ortoépia é a parte da gramática que trata da correta pronúncia dos fonemas. Preocupa-se não apenas com o conhecimento exato dos valores fonéticos dos fonemas que entram na estrutura dos vocábulos, considerados isoladamente ou ligados na enunciação da oração, mas ainda com o ritmo, a entoação e expressão convenientes à boa elocução. • Prosódia é a parte da fonética que trata da correta acentuação e entonação dos fonemas. A preocupação maior da prosódia é o conhecimento da sílaba predominante, chamada tônica. • Ortografia Nas línguas em que, ao lado da realidade oral, existe a representação escrita de um sistema convencional dessa oralidade chamado sistema gráfico ou ortografia, este sistema se regula, em geral, ora pela fonética, ora pela fonologia, o que conduz a uma primeira dificuldade para se chegar a um sistema ideal, que exigiria uma só unidade gráfica para um só valor fônico. Neste particular tornou-se necessário não se confundir letra com som da fala; letra é a representação gráfica com que se procura reproduzir na escrita o som, o que não significa identificá-los. O nosso sistema fonológico tem sete fonemas vocais orais tônicos para cuja representação temos apenas cinco letras (a – e – i – o – u). Costuma-se hoje chamar grafema à unidade gráfica (letra) da escrita 6: Lexemas e lexicologia. • Lexema é um conjunto de palavras que diferem apenas quanto a morfemas flexionais Lexicologia Outro domínio dos estudos gramaticais que, pela sua especificidade e extensão também constitui uma disciplina autônoma, é a lexicologia. É tarefa da lexicologia o estudo dos lexemas, suas estruturas e variedades e suas relações com os significantes. Entende-se por lexema a unidade linguística dotada de significado léxico, isto é, aquele significado que aponta para o que se apreende do mundo extralinguístico mediante a linguagem. Assim, em amor, amante, amar, amavelmente o significado léxico é comum a todas as palavras da série. Ou seja, parte da linguística que estuda o vocábulo quanto ao seu significado, constituição mórfica e variações flexionais, sua classificação formal ou semântica em relação a outros vocábulos da mesma língua, ou comparados com os de outra língua, em perspectiva sincrônica ou diacrônica; lexiologia [Seu objeto é desenvolver as teorias de que os lexicógrafos lançam mão na solução de seus problemas práticos. 7: Competência linguística. • Como toda atividade, o falar é uma atividade que revela um saber; assim a estes três níveis correspondem três planos ou tipos de saber linguístico: a) Ao falar em geral mediante cada língua corresponde o saber elocutivo, ou competência linguística geral, que não é saber falar uma língua particular, mas, ao falar com qualquer língua, fazê-lo segundo os princípios da congruência em relação aos padrões universais do pensamento e ao conhecimento geral que o homem tem do “mundo”, do mundo empírico. Na discutida frase “A mesa quadrada é redonda”, não há propriamente desconhecimento de língua, e sim de formulação do pensamentopor desconhecer a realidade do mundo empírico, uma vez que “ser quadrado” é diferente de “ser redondo”. b) Ao falar (em) uma língua particular corresponde o saber histórico denominado saber idiomático, ou competência linguística particular, que é falar (em) uma língua determinada de acordo com a tradição linguística historicamente determinada de uma comunidade. c) Ao falar individual e relacionado com a maneira de elaborar textos segundo situações determinadas corresponde o chamado saber expressivo ou competência textual; é um saber técnico (gr. téchnē), isto é, um saber que se manifesta no próprio fazer, um saber fazer gramatical que se manifesta numa língua particular e que pode ir além do já criado nessa língua. A competência ou saber não se manifesta igualmente em todos os planos do linguístico. Na língua particular ele ocorre com mais frequência; nos outros planos – no saber elocutivo e principalmente no saber expressivo – o domínio da competência só se alcança depois de cuidada educação linguística. Muitas vezes se diz que “alguém escreve mal o português”, quando, na realidade se quer fazer referência ao saber elocutivo ou ao expressivo, porque escreve sem congruência ou sem coerência, ou ainda com pouca clareza. Quando se diz que “o francês” é uma língua clara”, a rigor, não se quer fazer referência a características da língua francesa, mas à capacidade de estruturar o pensamento, o discurso ou o texto com clareza e logicidade mais do que o normal, em virtude de uma larga tradição do falar nessa comunidade, tradição que começa no ensino escolar francês, e que deveríamos cultivar entre nós. A língua portuguesa só atribui a com o significado de “copresença”; o que, na língua, mediante o seu sistema semântico, se procura expressar com esta preposição é que, na fórmula com + x, x está sempre presente no “estado de coisas” designado. Os significados ou sentidos contextuais, analisados pela nossa experiência de mundo e saber sobre as coisas (inclusive as coisas da língua, que constitui a nossa competência linguística) nos permitem dar um passo a mais na interpretação e depreender uma acepção secundária. 8: Propriedade dos estratos de estruturação gramatical. • O plano “transfrástico” e os advérbios – No estudo de certas unidades torna-se de capital importância não deixar de lado as diversas camadas ou estratos de estruturação gramatical. No que toca particularmente a certos advérbios, merece atenção a camada da antitaxe, que diz respeito à retomada ou substituição de uma unidade de um plano gramatical qualquer, já presente ou virtualmente presente ou previsto no discurso, poder ser retomada ou antecipada por outra unidade, num ponto do discurso individual ou dialogado [ECs.2, 38]. A substituição ou retomada já vinha sendo posta em evidência pela gramática tradicional no caso dos pronomes; mas a ação da antitaxe é mais ampla e vai desembocar no papel textual de alguns advérbios. 9: Hipertaxe, Hipotaxe, Parataxe, Antitaxe. • Hipertaxe é a propriedade pela qual uma unidade de um estrato inferior pode funcionar por si só – isto é, combinando-se com zero – em estratos superiores, podendo chegar até ao estrato do texto e aí opor-se a unidades próprias desse novo estrato. Assim, um monema pode, em princípio, funcionar como palavra; uma palavra como grupo de palavras, e assim sucessivamente. • Hipotaxe é a propriedade oposta à hipertaxe: consiste na possibilidade de uma unidade correspondente a um estrato superior poder funcionar num estrato inferior, ou em estratos inferiores. É o caso de uma oração passar a funcionar como “membro” de outra oração, particularidade muito conhecida em gramática. Consiste a parataxe na propriedade mediante a qual duas ou mais unidades de um mesmo estrato funcional podem combinar-se nesse mesmo nível para constituir, no mesmo estrato, uma nova unidade suscetível de contrair relações sintagmáticas próprias das unidades simples deste estrato. Portanto, o que caracteriza a parataxe é a circunstância de que unidades combinadas são equivalentes do ponto de vista gramatical, isto é, uma não determina a outra, de modo que a unidade resultante da combinação é também gramaticalmente equivalente às unidades combinadas. • Antitaxe é a propriedade mediante a qual uma unidade de qualquer estrato gramatical já presente ou virtualmente presente (“prevista”) na cadeia falada pode ser representada – retomada ou antecipada – por outra unidade de outro ponto da cadeia falada (quer no discurso individual, quer no diálogo), podendo a unidade que substitui ser parte da unidade substituída, com idêntica função ou mesmo zero. É o fenômeno muito conhecido no domínio dos pronomes que “substituem” (= “representam”) lexemas (palavras ou grupos de palavras), inclusive lexemas inexistentes como tais na língua, como é o caso dos pronomes “neutros” (isto, isso, aquilo), que podem referir-se a um fato, a uma circunstância ou a uma situação. O fenômeno da antitaxe, entretanto, é uma realidade de muito maior amplitude e diz respeito, em princípio, a todos os estratos gramaticais.